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TCC SARA FINAL

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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA – UNINTA 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
SARA SAMPAIO TEIXEIRA 
 
 
 
POLITICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA 
CONTRA A MULHER: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRAL – CE 
2018 
 
SARA SAMPAIO TEIXEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLITICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA 
CONTRA A MULHER: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado 
ao Centro Universitário – UNINTA, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduação em Bacharelado em Serviço Social, 
sob a orientação da Prof ª Me. Maria Isabele 
Duarte de Souza. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRAL-CE 
2018 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito necessário 
para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Qualquer citação 
atenderá as normas da ética científica. 
 
 
___________________________________ 
TCC aprovado em: __/__/____ 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Profª Me. Maria Isabele Duarte de Souza 
Orientadora 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Profª Me. Francisca Lopes de Souza 
Examinadora 1 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Profª Esp. Nayara Machado Melo Ponte 
Examinador 2 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Profª Esp. Nayara Machado Melo Ponte 
Coordenadora do Curso de Bacharelado em Serviço Social 
 
 
Centro Universitário Inta – UNINTA 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, por me conceder o dom da vida e está presente em todos os 
momentos me abençoando e encorajando para não desistir diante dos obstáculos 
que surgem no dia a dia, e também por me dar a oportunidade de concluir a primeira 
fase da minha carreira profissional. 
A minha mãe Maria Leonor Sampaio, pelo incentivo e apoio que me deu ao 
longo da caminhada, sempre se mostrando disposta a ajudar e apoiar durante os 
meus estudos. 
Ao meu irmão, avós, tios e primos, que desde o início torceram e 
acreditaram na minha capacidade. 
A minha tia Onetes, que me abrigou durante todo este período. 
Ao namorado, Valdir Lopes, pelo apoio que sempre me deu e por acreditar 
que eu seria capaz. 
A minha orientadora, Maria Isabele Duarte de Souza, pela paciência, 
empenho, dedicação e incentivo que teve ao longo desse trabalho. Sou 
imensamente grato por ter contribuído com esse momento de minha formação. 
Aos amigos, Francisco Fábio Damasceno, Gleiciane Eugenio, Jeânia 
Pessoa, Rosane Ferreira, Mariane Tomas, por todos os momentos convividos ao 
longo do curso e a amizade que firmamos, no qual fomos capazes de dividir não só 
um espaço físico de sala de aula, mas a própria vida, compartilhando experiências e 
conhecimentos. 
A amiga e quase pertencente à família, Elaine Linhares, pela confiança e 
apoio que me deu desde quando comecei a faculdade. 
As minhas amigas de quase uma década, Luana Araújo, Leiane Moreira, 
Cleiciane Araújo e Jocelene Valente por todos os momentos que tivemos desde 
quando nos conhecemos. Obrigado pelo companheirismo, confiança. 
A minha amiga Dávila por ajudar a me transportar durante o período 
estudantil, meus sinceros agradecimentos a ela. 
Enfim, a todos que acreditaram no meu potencial e me deram forças para 
não desanimar diante das dificuldades. A cada um, minha gratidão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Que todos os nossos esforços 
estejam sempre focados no desafio à 
impossibilidade. Todas as grandes 
conquistas humanas vieram daquilo 
que parecia impossível.” 
 Charles Chaplin 
 
SUMÁRIO 
1. Introdução ........................................................................................................ 09 
 
2. Contextualizando a Categoria Gênero ........................................................... 14 
 
2.1. Gênero: uma Questão de Poder e de Dominação ..................................... 14 
 
2.2. Um Estudo Sobre Desigualdade de Gênero .............................................. 21 
 
3. Violência Contra a Mulher ............................................................................... 26 
 
3.1. O Fenômeno de Violência Contra a mulher ............................................... 27 
 
3.2. As Diversas Concepções de Violência Contra a Mulher ............................ 31 
 
4. Políticas Públicas e Legislação no Enfrentamento a Violência Contra a 
Mulher ............................................................................................................... 38 
 
4.1. Iniciativas Legais no Combate a Violência Contra a mulher e os 
Movimentos Feministas ............................................................................. 38 
 
4.2. Os Desafios das Políticas Públicas no Enfrentamento a Violência Contra a 
mulher ....................................................................................................... 45 
 
5. Considerações Finais ...................................................................................... 51 
 
 
Referências............................................................................................................ 53 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
Esse estudo tem por objetivo analisar as Políticas Públicas no Enfrentamento a 
Violência Contra a Mulher. Para isso é necessário conhecer quais os desafios que 
essas políticas públicas enfrentam para combater a violência contra a mulher. Diante 
disso busca-se compreender a violência contra a mulher a partir da perspectiva de 
gênero, fazer um resgate histórico sobre a categoria gênero na perspectiva de poder 
e de dominação e as desigualdades que esta questão nos traz. Para fazer um 
estudo mais acentuado temos os principais objetivos específicos: identificar os 
desafios enfrentados pelas políticas públicas no enfrentamento a violência contra a 
mulher; conhecer o contexto histórico e atual da violência contra a mulher. De um 
modo geral, o trabalho irá pontuar os desafios enfrentados pelas políticas públicas 
em meio a uma sociedade machista, mesmo com tantos avanços e conquistas 
garantidas às mulheres. Finaliza-se o trabalho com uma reflexão sobre algumas 
políticas públicas existentes e como a Lei Maria da Penha as fortaleceu. Busca 
compreender a oferta de serviços públicos através das Delegacias Especializadas, 
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência 
Especializado de Assistência Social (CREAS), se de fato estes serviços propiciam 
atendimento de qualidade às mulheres em situação de violência. 
Palavras chaves: Violência Contra a Mulher, Políticas Públicas e Gênero. 
9 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
O principal objetivo deste estudo é analisar a atuação das políticas públicas 
no enfrentamento da violência contra a mulher a partir de uma pesquisa bibliográfica. 
Os objetivos específicos são: identificar os desafios enfrentados pelas políticas 
públicas no enfrentamento a violência contra a mulher e conhecer o contexto 
histórico e atual da violência contra a mulher. 
Sabemos que a violência contra a mulher é uma das formas de agressão 
ao ser humano, é consequência direta do aspecto cultural de nossa sociedade 
machista e patriarcal, ou seja, é uma relação de poder de dominação do homem e 
de submissão da mulher. Nesse sentido, é mais comum a mulher vítima de violência 
se calar diante da violência sofrida, esta ideia nega a complexidade do problema e 
atribui à violência um caráter individual. 
De modo geral, este trabalho irá abordar a atuação das políticas públicas no 
enfrentamento a violência contra a mulher, fazer um resgate histórico dessas 
políticas públicas no enfrentamento a essa questão. A escolha deste assunto partiu 
da curiosidade de como se dá atuação dessas políticas públicas ao enfrentamento 
deste tipo de violência e o resultado da observância e vivência de uma cena que 
chamou muito minhaatenção. 
Pude observar em uma terça-feira de carnaval na cidade de Granja por volta 
das 04h00min da manhã um casal começou uma discussão, poucos minutos depois 
um rapaz começou a agredir sua companheira com socos, chutes, palavrões, 
puxões de cabelos, todos olhavam aquela cena, mas ninguém fez nada até os 
policiais chegarem, quando o agressor foi levado para depor. Mas também razões 
que levaram a pesquisar sobre essa temática são de interesse pessoal, pois cresci 
em um meio familiar onde os homens tinham e tem atitudes machistas ao extremo, 
ouvia muito falar que lugar da mulher é em casa cuidando dos filhos e da casa, e 
ficava observando o comportamento machismo deles, isso me despertou 
curiosidades. A questão abordada nessa pesquisa será olhar de forma particular os 
desafios que as políticas públicas têm sobre o enfrentamento a violência contra a 
mulher. 
10 
 
Portanto esse estudo, propõe compreender como as políticas públicas atuam 
no enfrentamento da violência contra a mulher. De início o estudo fará um resgate 
sobre a categoria gênero, como se deu seu desenvolvimento na sociedade, em 
seguida abordará sobre o fenômeno da violência contra a mulher e por fim, versará 
sobre as políticas públicas que devem atuar no enfrentamento a este tipo de 
violência. 
A violência contra a mulher é uma das formas de agressão ao ser humano, 
tendo em vista que historicamente a mulher se submetia a um modelo de sociedade, 
nascendo, portanto, para obedecer ao homem. É possível reconhecer o quanto a 
violência contra a mulher é um problema social, cultural, ético e extremamente 
complexo, e pouco visível, em virtude do temor por parte das vítimas em 
denunciarem o agressor, tornando-se muitas vezes um segredo familiar. 
A Lei Maria da Penha (2006) fortaleceu a Política Nacional de Enfrentamento 
à Violência Contra as Mulheres (2003) traz consigo os órgãos e instituições que 
buscam garantir o enfrentamento desse tipo de violência, junto a esta política temos 
os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Centros de Referência 
Especializados de Assistência Social (CREAS), Casas-abrigo, Juizados de Violência 
Doméstica, Delegacias da Mulher, Central de Atendimento à Mulher, Ouvidorias, 
Defensorias da Mulher e os Serviços de Saúde. 
Este trabalho configura-se em uma pesquisa exploratória, qualitativa e 
bibliográfica. Nesta direção, as abordagens qualitativas e exploratórias não se 
opõem ou se excluem mutuamente como objeto de análise, pois a combinação entre 
ambas contribui para o enriquecimento e resolução do problema de pesquisa 
apresentado. 
 
Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado 
ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer 
julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a 
pesquisa. (GOLDEMBERD 1997, p. 34, apud SILVEIRA, 2009 p. 31 e 32). 
 
Os pesquisadores que utilizam o método qualitativo buscam explicar o 
porquê das coisas, revelar o que convém ser feito e os dados analisados não podem 
ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das 
relações sociais. 
 
11 
 
A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, 
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço 
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não 
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2001, 
apud SILVEIRA, CORDOVA 2009, p. 32). 
 
Este trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa, com investigação 
científica na busca de artigos científicos, livros, TCCs, focar no objeto de estudo 
tentando perceber as particularidades e experiências baseadas em outros autores, 
para assim, descrever, compreender e explicar o assunto abordado. 
A perspectiva do estudo exploratório busca conhecer com maior 
profundidade o assunto, de modo a torná-lo mais claro ou construir questões 
importantes para a condução da pesquisa. 
 
A pesquisa exploratória é desenvolvida no sentido de proporcionar uma 
visão geral acerca de determinado fato. Portanto, esse tipo de pesquisa é 
realizado, sobretudo, quando o tema escolhido é pouco exploratório e torna- 
se difícil formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. (GIL, 1999, p. 
80). 
 
Este trabalho consiste em uma pesquisa exploratória que nos dá a 
oportunidade de descobrir novas ideias, procura esclarecer e definir a natureza de 
um problema e absorver informações para desenvolver pesquisas conclusivas. Nos 
permite mais proximidade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito e 
passível de construir hipóteses. 
A pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2010, p.29-31), “é elaborada com 
base em material já publicado, [...], tradicionalmente esta modalidade de pesquisa 
inclui material impresso como livros, revistas, jornais, teses, dissertações anais e 
artigos científicos [...]”. Esta pesquisa será baseada em artigos científicos, livros, 
TCCs que já foram publicados e que falam sobre o tema abordado e autores como: 
Saffioti, Silveira, Goldemberd, Cordova, Gil, Benoit, Scott, Foucault, Araújo, Freire, 
Martinez, Martins, Arantes, Teles, Mello, Sorj, Brito, Schraiber, Ramos, Rangel, 
Hirigoyen, Mathieu, Minayo, Gomes. 
 
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao 
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do 
que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se 
particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados 
muito dispersos pelo espaço. Por exemplo, seria impossível a um 
pesquisador percorrer todo o território brasileiro em busca de dados sobre 
população ou renda per capita; todavia, se tem a sua disposição uma 
bibliografia adequada, não terá maiores obstáculos para contar com as 
12 
 
informações requeridas. A pesquisa bibliográfica também é 
indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra 
maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados 
bibliográficos. (GIL, 2010, p. 30). 
 
A vantagem da pesquisa bibliográfica é que nos dá a oportunidade de ler, 
investigar outros artigos que fale do mesmo tema que está sendo abordado, a partir 
do estudo de textos impressos ou digitais. Trata-se portanto de pesquisar em fontes 
diversas e nos livros e documentos escritos as informações necessárias para 
progredir no estudo de um tema de interesse. 
O presente trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro capítulo 
aborda a categoria gênero, faz um resgate histórico de como essa categoria se 
constrói na perspectiva de poder e de dominação e as desigualdades que constitui. 
Este trabalho irá buscar compreender o envolvimento de gênero na sociedade, 
fazendo um levantamento histórico. Ainda com base no conceito de gênero, segue 
com discussões sobre as relações de poder e dominação ainda presentes no 
cotidiano da sociedade. 
O capítulo dois traz a discussão sobre o conceito de violência contra a 
mulher com o intuito de compreender porque esse fenômeno é tão frequente na 
sociedade e que continua a ser um grave problema social apesar das lutas dos 
movimentos feministas existentes. Segundo Barstead (1998), os danos causados 
pela violência poderão ser vistos por muito tempo na vida das mulheres, devido a 
carência de atendimentos em serviços adequados para as mulheres que tomam 
coragem para denunciar o agressor, somando a falta de políticas públicas eficazes 
para o combate a essa violência. 
No último capítulo, o estudo volta-se para a legislação que combate a 
violência contra a mulher, bem como sobre como se dá a atuação das políticas 
públicas no contexto do combate à violência contra a mulher. 
Trazemos ainda as considerações finais sobre o conteúdo trabalhado, a 
partir de uma visão crítica sobre o funcionamento das políticas públicas no atual 
contexto histórico em que se encontra o país. Nesse aspecto, ressaltamos a 
necessidadeda sociedade também tomar conhecimento de estudos que discutem a 
violência contra a mulher, pois a medida em que a sociedade silencia as violências 
presenciadas, automaticamente ela se torna cúmplice dessas vivências e compactua 
13 
 
com o agressor, permitindo que as agressões avancem de forma cada vez mais 
grave. 
Este trabalho é de grande importância para a conclusão do curso de 
graduação em Serviço Social no Centro Universitário INTA – UNINTA. Podemos 
escolher um tema que despertava curiosidade dentre vários assuntos discutidos em 
sala de aula através das diversas disciplinas ao longo do curso. Todavia, a partir 
dessa escolha buscamos aprimorar os conhecimentos para obter uma boa formação 
profissional, com qualificação que o mercado de trabalho exige. 
 
 
 
14 
 
 
 
2. Contextualizando a Categoria Gênero 
 
 
Para as ciências sociais e humanas, o conceito de gênero refere-se a uma 
construção social do sexo anatômico. Com a criação para a distinção biológica da 
dimensão biológica, com base na dimensão social, o significado de gênero volta-se 
para que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da 
anatomia de seus corpos. 
Segundo Scott (1995) o conceito de gênero teve sua criação para opor-se a 
um determinismo biológico nas relações entre os sexos masculino e feminino para 
dá um caráter igualitário fundamental na sociedade. Para a autora, gênero vai ser 
um elemento constitutivo das relações sociais fundadas nas diferenças entre os 
sexos, fazendo com que gênero seja o primeiro a dar significado às relações de 
poder e dominação. As diferenças entre masculino e feminino têm fundamentos em 
símbolos culturalmente disponíveis que mostram representações simbólicas e mitos. 
Além disso, gênero também aborda questões de identidade subjetiva. 
A partir da conceituação de gênero percebemos que há uma organização 
concreta e simbólica da vida social e as ligações de poder nas relações entre os 
sexos. Gênero refere a preocupação com a construção das identidades do 
masculino e do feminino fazendo com o que homens e mulheres tenham seus 
limites, a qual a história deve se libertar. 
 
 
 
2.1. Gênero: Uma Questão de Poder e de Dominação 
 
 
Compreende-se por gênero o poder nas relações entre os sexos, que 
contribui para a violência contra a mulher, pois se trata de uma dominação 
masculina sobre a feminina, deste do início das sociedades contemporâneas as 
mulheres eram vistas apenas para servirem ao marido e aos seus filhos. Os homens 
15 
 
 
 
não nascem prontos, não nascem violentos, os homens se tornam assim por serem 
educados para serem os dominadores. 
O espaço específico em que se percebe a evolução sobre a discussão de 
gênero emergiu com força nos estudos sobre a questão da dominação do masculino 
sobre o feminino. Segundo Saffioti (2004) gênero está longe de ser um conceito 
neutro, ele carrega uma dose de ideologia, justamente a patriarcal, que causa uma 
desigualdade entre homens e mulheres. 
 
Assim, se gênero é um conceito útil, rico e vasto, sua ambiguidade deveria 
ser entendida como uma ferramenta para maquiar exatamente aquilo que 
interessa ao feminismo: o patriarcado, como um fato inegável para o qual 
não cabem as imensas críticas que surgiram (SAFFIOTI, 2004, p. 80). 
 
Gênero vai surgir como conceito cientifico a partir da ligação com os 
movimentos feministas, os quais vem relatando as condições das mulheres na 
sociedade ocidental deste o século XIX. No início da história sobre a categoria 
gênero, referia-se a participação das mulheres em poderem votar. Para 
compreendermos as relações de gênero foi preciso perpassar por várias 
conceituações e estudos sobre a construção dos papeis de masculinos e femininos; 
tendo como aprendizagem as formas de identidade dos sujeitos; sexualidade; e o 
enfoque maior trata sobre a violência contra a mulher, discussões essas voltadas 
para a masculinidade, até a situação em que conseguem relacionar gênero e poder, 
considerando que a subordinação feminina não é natural. 
Podemos perceber que as primeiras concepções sobre as relações de 
gênero tinham como enfoque o masculino e feminino, os dominantes e dominados, 
com base no sistema sexo/gênero, restringindo apenas na questão biológica. Ao 
tratar o poder de dominação era abordado o atributo único dos homens, pois muitas 
das vezes tratando gênero como um destino e vitimizando a mulher. 
No período de 1970-1980, gênero começa a ser discutido a partir de um 
movimento feminista que se articulava com a esquerda brasileira na luta contra a 
ditadura militar. Segundo Queiroz (2008), o primeiro estudioso a estudar sobre 
gênero em 1968 foi Stoller, porém o termo não foi adotado amplamente tendo mais 
destaque apenas em 1975. 
16 
 
 
 
Benoit (2000), fala que o surgimento das discussões sobre gênero se deram 
pelos estudos científicos sobre as mulheres. Em 1980 surge no Brasil e é legitimado 
no meio acadêmico, os chamados estudos de gênero que trouxe conceitos sobre as 
condições das mulheres na sociedade, fazendo com o que o movimento feminista 
repensasse as questões primordiais. 
 
As pesquisas acadêmicas sobre o assunto contribuíram para um avanço 
teórico dos temas trabalhados pelo movimento feminista de outrora. 
Passaram a utilizar teóricas como Joan Scott que trata a categoria gênero 
em seu aspecto relacional, analisando o caráter social das diferenças entre 
mulheres e homens. Considera-se, dessa maneira, de suma importância “a 
superação de um suposto reducionismo biológico que sobre determinava as 
diversas categorias da anterior reflexão feminista: conceitos como “luta 
entre os sexos”, “diferenças sexuais entre mulher – homem”, dentre outras. 
[...] O gênero enfatiza o aspecto relacional das definições normativas de 
feminidade”. (BENOIT 200, p.77). 
 
Entretanto, somente no final do século XX a categoria gênero vai ganhar 
repercussão como preocupação maior no meio teórico, pois se encontrava ausente 
em grande parte das teorias sociais, desde o século XVII até o início do século XX. A 
partir de então, gênero surge como um termo científico e é adotado pelas ciências 
sociais. Scott acredita ser uma atitude empreendida por algumas feministas da 
contemporaneidade que consideravam as desigualdades, existentes entre homens e 
mulheres, insuficientes para definir diferenças. Segundo a autora “gênero é um 
elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas 
entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de 
poder” (SCOTT, 1990 p. 14). 
A partir desse contexto a autora apresenta três elementos necessários para 
entendermos a categoria gênero: os símbolos culturais que remetem a 
representações simbólicas, como as figuras religiosas de Eva e Maria; os conceitos 
normativos encontrados na religião, na política, na educação e o sistema político; a 
identidade subjetiva que deve ser compreendida na sua construção histórica e 
relacionada com as atividades, organizações e representações sociais. A autora 
conceitua gênero como primeiro modo das relações de poder: 
 
[...] um primeiro campo no seio do qual ou por meio do qual, o poder é 
articulado. O gênero não é o único campo, mas ele parece ter constituído 
um meio persistente e recorrente de dar eficácia á significação do poder no 
17 
 
 
 
Ocidente, nas tradições judaicas cristãs e islâmicas. [...] O gênero é então 
um meio de codificar o sentido e de compreender as relações complexas 
entre diversas formas de interação humana. Quando as (os) historiadoras 
(es) buscam encontrar as maneiras pelas quais o conceito de gênero 
legitima e constrói as relações sociais, elas (eles) começam a compreender 
a natureza recíproca do gênero e da sociedade e as maneiras particulares e 
situadas dentro de contextos específicos, pelas quais a política constrói o 
gênero, e o gênero constrói apolítica (SCOTT,1990 p. 16-17). 
 
É uma das primeiras maneiras de significar as relações de poder e 
dominação, portanto, podemos compreender que faz parte da construção social do 
feminino e do masculino. Não se pode dizer que gênero é único quando se fala 
sobre poder e dominação, mas ele é o fundamento que possibilita o entendimento 
da organização da vida social. Dizer o que é ser homem e o que é ser mulher, seus 
papeis e funções diferentes, retratam nas identidades sociais de onde surgem as 
relações de poder e colocam essas categorias em situações opostas e desiguais. 
Entretanto gênero não é uma indagação que trata de diferença sexual, mas 
sim de uma relação social entre homens e mulheres, homem/homem; mulher/mulher 
entendendo como se constrói seres sociais. É uma categoria analítica, descritiva e 
também histórica. Tem como objetivo, dar conta da discussão de dominação da 
mulher, sua reprodução e as formas variadas que sustentam a masculinidade na 
sociedade, através das desigualdades de gênero. 
As relações de poder estão relacionadas às transformações sociais, 
políticas, econômicas e culturais de cada período histórico vivido pela sociedade. 
Essas modificações têm um propósito, elas não acontecem do nada, essas 
transformações ocorrem ao longo dos séculos. Percebemos que esse assunto 
ganha mais ênfase no século XIX, período em que cresce a grande industrialização 
na Inglaterra, em várias partes do mundo e no país. 
As relações de poder apresentam desigualdades e diferenças, as 
expressões de análise sobre a categoria gênero, classe social, sexualidade, 
raça/etnia, tem seu histórico demarcado por hierarquias, violências, discriminações e 
desigualdades, já que o poder vem se manifestando de forma errada, trazendo 
consequências para as mulheres através da violência. Foucault (1993) discute sobre 
o poder e apresenta suas dimensões micro e macro, para especificar as relações de 
18 
 
 
 
gênero, pois mesmo que as mulheres detenham um pequeno poder, os homens não 
deixam de exercer o poder: 
 
Lembremos a célebre frase de Foucault: “o poder se exerce, não se possui. 
Não se guarda numa caixinha”, ou em um armário. Ele produz verdades, 
disciplinas e ordem, mas também está sempre em perigo e ameaçado de 
perder-se. Por isso, não são suficientes leis e normas, ameaças cumpridas 
e castigos exemplares. As (os) dominadas (os) têm um campo de 
possibilidades de readequação de obediência aparente, mas desobediência 
real, resistência, manipulação da subordinação. Daí então é que os lugares 
de controle sobre as mulheres – em nossas sociedades- o desempenho dos 
papéis das mães-esposas-donas de casa – sejam também espaços de 
poder das mulheres: o reprodutivo, o acesso ao corpo e a sedução, a 
organização da vida doméstica. [...] Tornam-se então espaços contraditórios 
inseguros. Sempre em tensão. As mulheres podem, por exemplo, ter filhos 
que não sejam do marido, aparentar esterilidade ou se negar simplesmente 
a tê-los, engravidar em momentos inoportunos, se relacionar sexualmente 
com outras e outros, seduzir com diferentes objetivos, se negar a trabalhar 
no lar impedindo a sobrevivência de seus integrantes, incluindo-se aí as 
crianças recém- nascidas, etc (FOUCAULT, 1993, p. 12). 
 
Ao refletirmos sobre gênero, percebemos contradições e dilemas ao buscar 
entender que homens e mulheres vivem relações e experiências distintas, vendo que 
na sociedade não existe igualdade de gênero. O capitalismo é um dos grandes 
responsáveis pelas desigualdades de gênero, tendo em vista que os trabalhos eram 
divididos onde o poder maior ficaria ao homem por ser mais forte do que a mulher. 
A violência de gênero se reproduz na indagação da ordem patriarcal, que dá 
ao homem o direito de dominar e controlar suas esposas. A partir disso a ordem 
patriarcal é vista como principal fator para a produção da violência de gênero, tendo 
como legitimação as desigualdades e a dominação do masculino sobre o feminino. 
Segundo Bourdieu (1999) a dominação masculina, refere-se uma 
"dominação simbólica" sobre o social, mentes e corpos, práticas sociais e 
institucionais, causando a desigualdade de gênero. Para ele, a dominação 
masculina estrutura a percepção e a organização concreta e simbólica de toda a 
vida social. Essa teoria da opressão do masculino sobre o feminino vincula a 
sufocação das mulheres ao sistema patriarcal, esse assunto foi por muito tempo 
estudado por autores que tentaram entender essa violência. O poder de dominação 
do masculino sobre o feminino ainda existe não sendo tão frequente como em outras 
épocas. 
 
19 
 
 
 
Os homens e as mulheres reais nem sempre cumprem rigorosamente as 
prescrições de sua sociedade ou de suas categorias analíticas. Por isso, é 
preciso examinar as formas pelas quais as identidades generificadas são 
construídas e relacionar seus achados com toda uma série de atividades, 
organizações e representações sociais historicamente específicas. (SCOTT, 
1995, p.80). 
 
No Brasil, por exemplo, a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa 
Econômica (IPEA) nos mostra que entre 2001 a 2011, estima-se que ocorreram 
aproximadamente 50 mil feminicídios, ou seja, em média, 5.664 mortes de mulheres 
por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma morte a 
cada uma hora e trinta minutos. Entretanto, esses números são insuficientes para 
traçar um perfil real e global do fenômeno. Sabemos que o problema é muito maior 
do que aparecem nos registros ou que são denunciados, pois os inúmeros estudos 
sobre essa violência cresceram, mas é impossível dizer se a violência de gênero ou 
violência contra a mulher cresceu ou diminuiu. Muitas mulheres aceitam a 
dominação masculina como algo natural e não conseguem romper a violência e a 
opressão em que vivem. 
Diante do quadro preocupante, o IPEA recomenda “o reforço às ações 
previstas na Lei Maria da Penha, bem como a adoção de outras medidas voltadas 
ao enfrentamento à violência contra a mulher, à efetiva proteção das vítimas e à 
redução das desigualdades de gênero no Brasil”. 
Apesar da ideologia de gênero1 podemos perceber outros motivos que 
também se fazem presentes para a submissão da mulher ao homem, como os 
seguintes fatores: a dependência emocional e econômica, a valorização da família e 
idealização do amor e do casamento, a preocupação com os filhos, o medo da perda 
e do desamparo diante da necessidade de enfrentar a vida sozinha, principalmente 
quando a mulher não conta com nenhum apoio social e familiar. 
 
No caso da violência contra a mulher ou violência de gênero, pode-se dizer 
que embora a dominação masculina seja um privilégio que a sociedade 
patriarcal concede aos homens, nem todos a utilizam da mesma maneira, 
 
1 Ninguém nasce homem ou mulher, mas cada indivíduo deve construir sua própria identidade, isto é, seu 
gênero, ao longo da vida. “homem” e “mulher”, portanto seriam apenas papeis sociais flexíveis, que cada um 
representaria como e quando quisesse, independentemente das determinações biológicas como tendências 
masculinas e femininas. 
20 
 
 
 
assim como nem todas as mulheres se submetem igualmente a essa 
dominação. Se o poder se articula segundo o "campo de forças", e se 
homens e mulheres detêm parcelas de poder, embora de forma desigual, 
cada um lança mão das suas estratégias de poder, dominação e submissão 
(ARAÚJO, 2008, p. 60 apud SAFFIOT 2001, p. 71). 
 
A violência de gênero não é um fenômeno único e seus acontecimentos são 
diferenciados em cada situação, pode ter aspectos semelhantes, mas as diferenças 
acontecem de acordo com cada função e singularidade dos sujeitos envolvidos, 
mesmo que tenha presença de alguns fatores comuns das desigualdades de poder 
nas relações de gênero, cada situação tem seu problema relacionado com os 
contextos específicos e as histórias de vida de seus protagonistas.Para 
compreender a violência de gênero é importante levar em conta os aspectos 
culturais, universais e particulares de forma a apreender a diversidade do fenômeno. 
Portanto, o modelo de gênero apresentado neste capítulo procura 
fundamentar e compreender o seu desenvolvimento na sociedade, assim como 
também as diversas mudanças e acontecimentos que os estudiosos enfrentaram até 
chegar a uma reflexão sobre a violência de gênero na sociedade por consequência 
do patriarcalismo. O patriarcado é um sistema social no qual prevalece a dominação 
do homem, seja no âmbito institucional ou familiar. Sua origem está ligada a 
imigração dos povos do Norte, o começo da agricultura e a descoberta da 
participação masculina na fecundação. 
O regime patriarcal se sustenta em uma economia domesticamente 
organizada, sendo uma maneira de assegurar aos homens os meios necessários à 
produção diária e à reprodução da vida. Ele busca um pacto masculino para a 
garantia de opressão sobre as mulheres, de força de trabalho e de novas 
reprodutoras. É, por conseguinte, uma especificidade das relações de gênero, 
estabelecendo, a partir delas, um processo de dominação-subordinação. Este só 
pode, então, se configurar em uma relação social. 
Com base nisso, o próximo tópico irá aprofundar esse caráter, existente nas 
desigualdades de gênero contextualizando o seu surgimento do período neoliberal. 
 
 
 
21 
 
 
 
2.2. Um Estudo Sobre as Desigualdades de Gênero 
 
 
Ao analisar as desigualdades de gênero buscamos entender as diferentes 
relações entre homens e mulheres nos diversos espaços da sociedade. Segundo 
Smith (1999), gênero é conhecido como um sistema de praticas sociais surgidas em 
uma sociedade, que vai definir e constituir as pessoas como diferentes, trazendo um 
significado social e organiza as relações de desigualdade baseado nas diferenças. 
 
A identidade de gênero estrutura a experiência, o sentido dado ao mundo e 
as expectativas dos outros. As relações de gênero, no entanto, ao 
representarem desigualdades inscritas nas estruturas da sociedade, existem 
igualmente fora dos modos pelos quais as pessoas categorizam homem e 
mulher. Gênero é uma construção social usada para definir, explicar e 
justificar desigualdades (ABBOTT, 2000, p.78). 
 
A desigualdade de gênero trata de um fenômeno estrutural com raízes 
complexas culturalmente. Porém quando pensarmos em gênero encontramos um 
sistema disciplinário, que ver o papel da mulher na sociedade como no passado 
onde não tinha oportunidades na sociedade capitalista. As desigualdades de gênero 
também podem contribuir com a discriminação social e étnica-racial, apesar de todas 
as mudanças que vem ocorrendo na sociedade essas desigualdades são bem 
presentes principalmente na vida das mulheres. 
As análises sobre as desigualdades de gênero importam na compreensão 
como se constitui as relações entre homens e mulheres quando se fala em poder. O 
estudo de gênero na antropologia deu mais atenção às relações de parentescos 
identificando que o caso de desigualdade e de poder está no meio familiar. Ao 
levantar reflexões das relações de gênero na família, podemos perceber sua 
constituição como espaço de reprodução dos padrões estabelecidos pela sociedade 
que se configura como capitalista e patriarcal. 
Segundo Bruschini (2000), o papel da mulher dentro da família faz com que 
ela se insira em quatro diferentes esferas: produção, reprodução, sexualidade e 
socialização das crianças. Nesse sentido podemos observar que as mulheres têm na 
família um lugar de suas vivências e comunicação social, sendo responsabilizadas 
pela manutenção da ordem e pela organização da vida familiar. 
22 
 
 
 
 
As desigualdades de gênero entre homens e mulheres advêm de uma 
construção sociocultural que não encontra respaldo nas diferenças 
biológicas dadas pela natureza. Um sistema de dominação passa a 
considerar natural uma desigualdade socialmente construída, campo fértil 
para atos de discriminação e violência que se “naturalizam” e se incorporam 
ao cotidiano de milhares de mulheres. As relações e o espaço 
intrafamiliares foram historicamente interpretados como restritos e privados, 
proporcionando a complacência e a impunidade. (FREIRE, 2006, p. 227). 
 
A desigualdade de gênero no trabalho e na economia manifesta-se em todos 
os países do mundo praticamente. A diferença da renda entre homem e mulher 
ainda é grande, sendo que ambos fazem o mesmo trabalho. Segundo Albelda 
(1986), a discriminação no trabalho pode ser vista como um fenômeno dinâmico, 
tendo como influência os ciclos da economia e a disputa entre homens e mulheres 
por empregos dignos na sociedade. 
 
Emergem, particularmente na literatura mais recente, questionamentos 
acerca da representatividade das medidas sumárias da desigualdade de 
gênero, tais como o índice de segregação ocupacional de gênero e a 
diferença média de gênero de renda, por não refletirem as dimensões 
diferenciadas e mesmo conflitantes da desigualdade na atualidade 
(CHARLES, 2004, p. 75). 
 
A desigualdade de gênero pode causar na mulher uma grande opressão na 
medida em que ela sofre diferentes tipos de preconceitos e prejuízos aos padrões 
sociais que prevalecem entre homens e mulheres. Gênero não é tratado apenas 
como um dilema interpessoal, mas sim como arranjos macrossociais, tais como as 
leis do Estado, a estrutura do mercado de trabalho e divisão do trabalho, que vão 
afetar as relações de gênero. 
Na visão de Wright (1997), o estudo sobre desigualdade de gênero, 
representa ainda uma forma parcial da questão estrutural da desigualdade 
econômica, tendo como base as diferenças dos atributos de gênero das pessoas. 
A sociedade em que vivemos retrata muito bem essa desigualdade. Autores 
refletem sobre a desigualdade de gênero no mundo do trabalho, a economia é uma 
grande vilã para que o preconceito comece entre homens e mulheres. A 
desigualdade entre gênero no mercado de trabalho, através dos dados do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) é percebida quando as mulheres 
ganham 28% menos que os homens, exercendo as mesmas funções. Segundo 
23 
 
 
 
dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2004), o desemprego 
entre homens brancos são 5,3%, de mulheres negras é de 12,5%, que nos mostra a 
maior dificuldade em conseguir emprego e permanecer nele. Sendo que os 
princípios de igualdade impõem dois conceitos: 
 
Primeiro é de que a lei não pode fazer distinções entre pessoas que 
consideram iguais, deve tratar todos do mesmo modo; 2º o de que a lei 
pode, ou melhor, deve fazer distinções para buscar igualar a desigualdade 
real existente no meio social, o que ela faz, por exemplo, isentando certas 
pessoas de pagar tributos; protegendo idosos e menores de idade; criando 
regras de proteção ao consumidor por ser ele vulnerável diante do 
fornecedor. (MARTINEZ, 2014, p.1). 
 
Ao tratar da desigualdade de gênero no ambiente de trabalho, nota-se que as 
diferenças de gênero ainda têm possibilidade de aumentar ou reduzir o sucesso 
individual. A conquista do espaço público e o ingresso da mulher no mercado de 
trabalho foram fatores que contribuíram para a mulher ganhar espaço na sociedade. 
Pois o ingresso no mundo do trabalho, por si só, não foi suficiente para assegurar a 
emancipação feminina, porém foi necessário um avanço também em termos 
legislativos. Segundo Martins, no Brasil: 
 
A primeira norma que tratou do trabalho da mulher foi o Decreto nº 21.417-
A, de 17-5-1932. Tal mandamento legal proibia o trabalho da mulher à noite, 
das 22 às 5h, vedando a remoção de pesos. Já se nota a proibição da 
mulher em subterrâneos, em locais insalubres e perigosos, no período de 
quatro semanas antes e quatro semanas depois do parto. Concedia à 
mulher dois descansos diários de meia hora cada um para a amamentação 
dos filhos, durante os primeiros seis meses de vida daqueles.(MARTINS, 
2014, p.86). 
 
As relações de gênero são consequências de um processo pedagógico que 
se inicia no nascimento e continua ao longo da vida de cada um, trazendo sempre a 
questão da desigualdade entre homens e mulheres, principalmente em torno de 
quatro eixos: a sexualidade, a reprodução, a divisão sexual do trabalho e o âmbito 
público/cidadania. Nos últimos tempos a situação da mulher na sociedade tem 
mudado e o número de mulheres no mercado tem aumentado, sendo que as 
desigualdades ainda sejam tão presentes no cotidiano da mulher trabalhadora. 
Diferentes estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) têm 
24 
 
 
 
mostrado que as mulheres ganham menos do que os homens em diversos campos 
de trabalho, e que as mulheres têm menos chances de ocupar um cargo melhor 
remunerado. A divisão sexual do trabalho tem formas conjunturais e históricas sendo 
construída como prática social, conservando tradições que diferenciam tarefas 
masculinas e femininas na indústria. 
A submissão de gênero, a divisão do trabalho feminino e masculino tem se 
manifestado não somente na divisão de tarefas, mas na qualificação dessas tarefas, 
nos salários e na disciplina do trabalho. Patrícia Connelly e Michelle Barrett (1980) 
argumentam que as divisões no trabalho advindas das relações desiguais entre os 
gêneros procedem com o surgimento do capitalismo, porém adotou o uso da divisão 
entre homens e mulheres, assim a divisão sexual do trabalho imbricou na 
subordinação da mulher, mostra o capital como elemento crucial mesmo que não 
seja essencial, além de buscar manter a mulher na domesticidade. 
 
De um lado, baseando-se na noção de que a mulher é a parte dependente 
do casal, o capital tem se beneficiado da exploração direta do trabalho 
feminino na produção, pagando-lhe salários inferiores ao trabalho 
masculino, o que contribui para a desvalorização da força de trabalho como 
um todo. De outro lado, o capital se serve da exploração indireta do trabalho 
feminino, beneficiando-se das atividades desempenhadas “de graça” pela 
mulher no âmbito doméstico para os membros da família. Pode assim pagar 
salários menores ao trabalhador, já que o trabalho da mulher/mãe/esposa 
atende (pelo menos em parte) às necessidades de reposição física do 
trabalhador e, em última instância, à reprodução da mercadoria “força de 
trabalho” (SARDENBERG, 2001, p.20). 
 
A definição dos papeis da mulher e do homem na sociedade não se limita à 
considerações de características anatômicas, mas são frutos, da produção cultural. 
Tem uma ligação entre a constituição biológica da mulher e seu papel submisso. A 
partir de então a discriminação da mulher no mercado de trabalho é um reflexo das 
relações de gêneros que insiste na separação e distribuição de atividades de acordo 
com o sexo, fazendo com que a imagem feminina se situe no mundo doméstico, 
privado. Tânia Maria Fonseca (2000) afirma que a divisão sexual do trabalho não 
apenas diferencia, mas causa uma subordinação e desiguala a mulher em relação 
ao homem. Ao fazer isso a mulher é excluída e é vista como um sistema simbólico 
colocada sempre em oposição ao homem, causando o preconceito desfavorável. 
25 
 
 
 
A participação feminina no mundo do trabalho, embora tenha se intensificado 
de forma indiscutível, ainda tem uma grande marca de baixos salários, muito 
inferiores aos homens em iguais funções, tendo grandes dificuldades de chegar a 
cargos de direção, como mostra a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Dieese. Essas pesquisas mostram ainda que 
no tempo de crise as mulheres são as primeiras a serem dispensadas, dificultando a 
sua recolocação. Como salienta Melo: 
 
Conquistas não significaram mudanças substanciais na estrutura social, que 
continuou condicionada pelos paradigmas do patriarcalismo e 
androcentrismo. Tal paradoxo trouxe para o discurso jurídico, tanto o 
desafio de redimensionar os seus fundamentos, colocando-os em sintonia 
com o real alcance e significado da igualdade constitucional preconizada 
entre mulheres e homens, bem como o esforço da efetivação dos direitos 
humanos, notadamente, o da igualdade, já que a incorporação formal não 
representou, na prática social, a adoção de medidas equalizadoras entre os 
gêneros. Isso implicou numa outra atuação, principalmente das mulheres e 
suas várias expressões de organização social, no que se referiu a adoção 
de um cotidiano monitoramento dos organismos, instrumentos e sujeitos 
sociais para a incorporação, no plano prático, da nova situação jurídica, 
exatamente porque, mesmo sob a vigência da Constituição Federal, muitas 
pessoas não conseguiram assimilar seu alcance, impondo resistências aos 
novos significados. (MELO, 2003, p.90). 
 
Com base nas desigualdades podemos dizer que elas não são naturais e sim 
produzidas, são consequências culturais. As mulheres são maiorias em termos de 
ganharem até meio salário mínimo, os homens nos outros níveis salariais têm 
participação maior, fazendo com o que a força salarial cresça cada vez mais para 
eles. Ao assumir formas conjunturais e históricas, a divisão sexual do trabalho tem 
se construído como prática social, conservando assim tradições que ordenam 
tarefas masculinas e femininas diferentes uma da outra no campo da indústria. 
As relações de gênero, são relações de poder, não são fixas e sim fluídas e 
mutáveis, podendo variar de sociedade para sociedade dependendo do espaço e 
tempo em que homens e mulheres integram. 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
3. Violência Contra a Mulher 
 
 
O conceito “violência contra a mulher” é frequentemente utilizado como 
sinônimo de violência doméstica e violência de gênero. Mas apesar da sobreposição 
existente entre esses conceitos, há especificidades enquanto categorias analíticas. 
O termo violência contra a mulher começou a ser usado no Brasil a partir da década 
de 70 e teve avanço rapidamente através das mobilizações feministas contra o 
assassinato de mulheres e impunidade dos agressores. Segundo Azevedo (1985), 
nos anos 80 ocorreram grandes mobilizações que se estenderam as denúncias e 
espancamentos e maus tratos, surgiu o nome de violência contra a mulher. 
No Brasil a violência contra a mulher continua sendo um grave problema 
social, apesar de todas as lutas dos movimentos feministas. Com o estudo de 
gênero a partir de 1990, alguns autores como Saffiot, Melo e Teles passaram a 
utilizar violência de gênero como um conceito mais amplo do que violência contra a 
mulher (SAFFIOT e ALMEIDA, 1995). Esse conceito de forma geral não abrange 
somente as mulheres, mas sim crianças e adolescentes, sendo objetos da violência 
em geral, que no Brasil se dá por conta da constituição das relações de gênero. 
Pode-se relatar que a violência contra a mulher não é apenas um fenômeno 
único e não acontece da mesma forma, pode ter aspectos semelhantes, porém, 
diferentes contextos em relação aos indivíduos envolvidos tendo em vista que cada 
situação retrata uma dinâmica diferente. Por isso requer muita atenção na análise e 
compreensão da violência contra a mulher, levando em consideração os fenômenos 
universais e particulares de cada indivíduo envolvido na violência. 
A violência contra a mulher é expressa ao longo da história como um 
instrumento de dominação e exploração. Ferreira (2012) relata “que por serem 
mulheres em uma sociedade patriarcal estão sujeitas a violência, em suas diversas 
dimensões.” A sociedade patriarcal atribuiu ao homem o privilégio do poder seja ele 
marido/companheiro ou pai. Mesmo a mulher sendo considerada a “rainha do lar” ela 
tem limites e está submissa ao homem. 
 
 
27 
 
 
 
3.1 O Fenômeno de Violência Contra a Mulher 
 
 
Nos últimos tempos o termo violência contra a mulher vem chamando muita 
atenção dos pesquisadores,tornando-se alvo de pesquisas científicas e 
acadêmicas. Antes a violência contra a mulher era um termo oculto e tornou-se 
público e os crimes não ficando mais impunes. Novas leis, políticas públicas e redes 
de apoio foram criadas para combater este tipo de crime, buscando assegurar os 
direitos das mulheres. 
Nas últimas três décadas as mulheres vêm ganhando espaço na sociedade, 
onde conquistou a independência financeira, reconhecimento no mercado de 
trabalho e um papel social diferenciado, diferente do que papel que tinha na 
sociedade patriarcal. Porém os inúmeros casos de violência contra a mulheres ainda 
ocorrem, porque “[...], a sociedade humana, na qual ainda prevalece à ideologia 
patriarcal, impede o pleno desenvolvimento das mulheres, discriminando-as de 
diferentes maneiras”. (TELES; MELLO, 2002, p.17). 
Segundo Lasch (1999), as mulheres foram vítimas de violência dentro da 
própria família, em diferentes momentos culturais e manifestações ao longo da 
história da humanidade. No contexto familiar a violência sempre foi justificada por 
fatores históricos, culturais e de gênero. Podemos dizer que a violência contra a 
mulher é um fenômeno recorrente e vivenciado por muitas mulheres ainda no mundo 
inteiro e acontecem independente de raça, idade e classe social. 
Em 1980 se deu o início ao combate a violência contra a mulher no Brasil, 
com a criação das Delegacias Especializadas em Atendimento para as mulheres 
(DEAMs). A partir dos anos 90 os crimes contra a mulher foram reconhecidos pela 
Lei dos Juizados Especiais (9099/95 de 26 de setembro de 1995), sendo 
classificados e julgados como um crime de menor potencial ofensivo. Nos anos 90 
tivemos ainda um acordo internacional assinado pelo Brasil para combater a 
violência contra a mulher, porém ainda era insuficiente para o combate deste 
fenômeno. Só no fim dos anos 2000 tivemos visibilidade expressiva como resultado 
de uma lei especifica, implantação de políticas públicas e acompanhamentos para os 
casos de violência. 
28 
 
 
 
Os processos de socialização construídos em bases patriarcais, podem 
incorrer em casos de violência contra a mulher, o homem como detentor do poder 
como premissa do uso da violência. As mulheres são subjugadas através da 
violência cometida pelo os homens, tornar uma posição inferior a eles em toda vida 
social. Com base nesse pensamento podemos chegar a uma indicação de que o 
patriarcado só pode ser desenvolvido através da violência contra a mulher. 
Para possíveis explicações de violência contra a mulher ser tão forte no Brasil 
e no mundo é a questão de gênero. Segundo Sorj, 
 
[...] gênero é um produto social aprendido, representado, institucionalizado e 
transmitido ao longo das gerações. Envolve a noção de que o poder é 
distribuído de maneira desigual entre os sexos, cabendo às mulheres uma 
posição inferior historicamente e socialmente. (SORJ, 1992 apud BRITO, 
2002, p. 120) 
 
A partir de então temos a noção de que o poder tem uma distribuição desigual 
entre os sexos, tornando as mulheres inferiores aos homens. 
 
A violência é um fenômeno extremamente complexo, com raízes profundas 
nas relações de poder baseadas no gênero, na sexualidade, na auto-
identidade e nas instituições sociais e que em muitas sociedades, o direito 
(masculino) a dominar a mulher é considerado a essência da masculinidade 
(HEISE, 1994, p. 47-48). 
 
Segundo Teles e Melo (2002), pensar em violência contra a mulher é pensar 
sobre a violência de gênero, entendida como uma relação de poder do homem sobre 
a mulher, reforçado historicamente pelo patriarcado e sua ideologia. Os papeis 
sociais impostos às mulheres e aos homens indicam que a prática deste tipo de 
violência não é fruto da natureza e sim do processo de socialização. 
É importante lembrar que Saffioti (2004) tem contribuído para a discussão de 
violência de gênero como categoria mais geral dos tipos de violência, que podem 
ocorrer dentro do contexto familiar, pois a partir dessa violência as demais surgem e 
se manifestam na sociedade. Gênero pode ser interpretado como um conjunto de 
normas construídas que diferencia o poder entre os sexos. 
Descrever o perfil de um agressor de violência contra a mulher é um grande 
desafio, tendo em vista que estudos sobre isso são recentes no meio científico. Ano 
após ano, as estatísticas tentam mostrar que o principal responsável pelas 
29 
 
 
 
agressões envolvendo mulheres são os próprios companheiros ou ex-companheiros 
ou alguém que já tiveram uma relação. 
 
A desigualdade, longe de ser natural, é posta pela tradição cultural, pelas 
estruturas de poder, pelos agentes envolvidos na trama de relações sociais. 
Nas relações entre homens e mulheres, a desigualdade de gênero, não é 
dada, mas pode ser construída, e com frequência (SAFFIOTI, 2004, p.71). 
 
Para a explicação de alguns casos de violência contra a mulher, os 
comportamentos de homens envolvidos estão sujeitos ao uso do álcool para 
justificar a violência, as questões de gênero que geram dominação e o uso do poder 
na relação, pobreza, baixa escolaridade e também dificuldade de comunicação. 
 
Como consequência, a incapacidade de comunicação leva a situações 
conjugais em que os homens procuram resolver seus problemas familiares 
pela violência, por não saberem resolver por maneiras mais assertivas as 
situações de conflito. (AGUIAR, 2009, p.44). 
 
Com base nas leituras em artigos, livros, TCCs, pode-se entender que o perfil 
dos homens que cometem violência contra a mulher são jovens que não apresentam 
nenhum tipo de envolvimento com a justiça. Ramos (2009) relata que “[...] os casos 
de violência conjugal ocorrem independente da classe social e muitas vezes, um 
fator presente nos episódios de violência é o uso do álcool ou de substâncias 
ilícitas.” Nos casos de violência, a grande maioria desses homens atribui a culpa a 
mulher. 
Schraiber afirma 
 
[...] que a violência presente no comportamento dos homens é devida a uma 
valorização cultural e social, exercida em várias partes do mundo como uma 
forma de afirmação da masculinidade, a construção social aprendida 
permite que os homens sejam violentos, inclusive na relação conjugal. 
(SCHRAIBER, 2005, p. 67). 
 
Ao agredirem suas companheiras os homens relatam que ao cometerem a 
violência perderam o controle da cabeça. Na maioria dos casos a violência é 
permitida principalmente no caso de infidelidade e negligência doméstica, trazendo 
para a linguagem popular e senso comum. 
A violência passa por um processo chamado de ciclo da violência, constituído 
por três fases. Na primeira fase há o aumento da tensão, o agressor mostra-se tenso 
30 
 
 
 
irritado por coisas simples, chegando a ter acessos de raiva. Ele humilha a vítima, 
faz ameaças e destrói objetos. Já na fase dois ocorre o ato da violência que 
corresponde a explosão do agressor, ou seja, a falta de controle chega no limite e 
leva ao ato violento. Toda a tensão acumulada na fase um se materializa em 
violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial. Por fim a fase três, quando 
surge o arrependimento e comportamento carinhoso para a reconciliação. 
Schraiber explica que a violência tem três fases cíclicas: 
 
A fase de tensão em que as brigas frequentes criam um clima de 
insegurança, seguidas pela fase do episódio agudo de violência, e a terceira 
e última fase é marcada pelo arrependimento do agressor, muitas vezes o 
casal retoma a relação com a esperança e promessa que os episódios não 
voltaram a se repetir. O casal passa por uma fase de “lua de mel”, até que a 
tensão volta a permear a relação. (SCHRAIBER, 2005, p.67). 
 
Segundo Bruschi (2006), a mulher violentada não procura a rede de proteção, 
logo após a primeira violência sofrida. Os motivos que bloqueiam a denúncia podem 
ser a vergonha de se expor ou medo de uma nova ameaça. A partir de leituras sobre 
a violência contra asmulheres se pode perceber que se trata de um assunto 
complexo, quando buscamos entender seu enfrentamento. Quando se trata da 
denúncia, as mulheres demonstram uma confiança nas leis e buscam medidas 
protetivas, algumas vezes manter a denúncia é a parte mais complicada, pois 
acreditam que seus parceiros possam mudar de comportamento e acabam retirando 
a queixa dada em algum órgão de proteção a mulher. 
Para o enfrentamento do fenômeno da violência contra a mulher são 
necessárias formulações de estratégias de prevenção e intervenção efetivas. A 
violência contra a mulher é problema social e saúde pública e para o seu 
enfrentamento é preciso um olhar mais amplo dos gestores públicos, dos 
profissionais de saúde, de educação, segurança pública e assistência social que tem 
atuação direta sobre este problema. 
A violência contra a mulher tem uma identificação na sociedade sendo um 
fenômeno que atinge uma grande parcela das mulheres, sendo vitimizada não 
somente a mulher, mas sim toda a família de forma direta ou indiretamente. A 
diferença de gênero é a discriminação mais praticada em todo o mundo, tendo 
origem histórica e cultural de dominação e submissão do gênero feminino. 
31 
 
 
 
 
Estamos em pleno século XXI, e não é mais admitido pela maioria das 
sociedades que a mulher ainda seja tratada de forma discriminatória, “a 
violência de gênero tem sua origem na discriminação histórica contra as 
mulheres”, hoje a mulher tem lutado por espaços sociais, e vem ocupando 
cargos, que até pouco tempo eram ocupados somente por homens. 
(TELES e MELO, 2003, p. 120). 
 
Segundo o Portal Ministério da Saúde, a violência contra a mulher desde a 
década de 50 é referida de diversas formas, a desigualdade sociocultural existe 
entre homens e mulheres e é a causa da discriminação masculina que coloca o sexo 
feminino em uma posição inferior na sociedade. 
Ao partimos para a discussão de gênero demonstramos que os papeis 
atribuídos ao sexo masculino e feminino são reforçados pela ideologia machista e 
consolidados ao longo do tempo, considerando que as relações entre os sexos não 
são naturais, mas é o resultado do processo de socialização entre as pessoas. A 
violência cometida contra as mulheres é, portanto um meio de coação do sexo 
masculino sobre o feminino, essa dominação do homem sobre a mulher constitui 
uma das dificuldades maiores para que elas consigam sair da situação de violência 
em que se encontram. 
 
O ministério da saúde, em sua recente publicação sobre o tema descreve 
que as manifestações clínicas da violência podem ser crônicas ou agudas, 
sociais, mentais ou físicas. As desagregações psicológicas e fatores 
psicossomáticos, entre eles, os pesadelos, a insônia, a falta de 
concentração e irritabilidade, podendo ser considerados como 
manifestações de estresse pós-traumático. (BRASIL, 2001, p.190). 
 
 
 
 
 
3.2. As Diversas Concepções de Violência Contra a Mulher 
 
 
Ao longo da história da humanidade a violência é um dos fatores que vem 
acompanhando-a. No sentido mais usual, violência significa empregar a força física 
sobre alguém, intimidar, subjugar, constranger, obrigar alguém a fazer algo que não 
queira, violência psicológica, sexual, violação dos direitos. Pode-se perceber que a 
violência está relacionada a pessoa de várias formas ou também ao seu patrimônio. 
32 
 
 
 
A subordinação da mulher está presente em todo processo histórico da 
humanidade, a partir de uma cultura que determinou papeis sociais aos homens e 
mulheres, criou a ideia que a mulher seja inferior ao homem e que deu origem a 
violência contra a mulher e proibindo trazer seus sofrimentos à tona porque não 
encontrava adesão. Isso tudo é decorrente da história dos papeis que foram 
atribuídos a mulher como, por exemplo: tarefas domésticas, a maternidade, o 
cuidado com os filhos, a fragilidade, a docilidade, a meiguice, a ternura, enfim o 
confinamento ao espaço doméstico e a subordinação ao homem. Fazendo com o 
que o homem se tornasse o dono da verdade, o chefe da família por ter força maior 
do que a mulher. 
A partir de então os papeis foram culturalmente construídos, coube ao homem 
o poder da força e da dominação, resta apenas para a mulher a subjugação, a 
obediência, opressão, o cuidado com a família, com o lar. 
 Pode-se observar que em muitas sociedades a violência era vista como 
forma de punição, para a resolução de conflitos, fazendo com que a mulher fosse 
criada com a função de ser apenas dona de casa e ser a responsável para a 
educação dos filhos. Essa violência tem papel principal na esfera doméstica. Temos 
assim uma criação lamentável: a violência contra a mulher, principalmente aquelas 
efetuadas pelos seus parceiros ou esposos, estando presente ao longo da história 
da humanidade, perpassando por todas as camadas sociais, idades, etnia, raça, 
religiões e nacionalidades. A violência contra a mulher tem sido considerada 
geradora de grandes problemas para as famílias e até mesmo para a própria 
sociedade, o que fez com que esse tema ganhasse discussões até em países 
internacionais. 
Para Teles e Melo (2002, p. 28), “esta violência pode ser entendida como 
violência de gênero, na qual ocorre uma relação de poder: de dominação do homem 
e de submissão da mulher”. 
 
Uma manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre 
mulheres e homens, que causaram a dominação da mulher pelo homem, a 
discriminação contra a mulher e a interposição de obstáculos contra seu 
pleno desenvolvimento. Trata-se de um dos dispositivos sociais estratégicos 
de manutenção da subordinação da mulher em relação ao homem. 
(RANGEL, 1999, p.30). 
 
33 
 
 
 
A violência realizada no seio familiar ou doméstico é considerada como 
violência doméstica ou intrafamiliar. Para melhor entendermos a violência contra a 
mulher, recorremos a Silva (2005). 
 
Aquela violência que ocorre no âmbito familiar entre pessoas com vínculo 
consanguíneo ou não, como no caso de pais e filhos, entre irmãos, primos, 
padrastos e enteados (as). E se fora dele, por pessoas que possuam ou já 
possuíram relações afetivas sexuais entre si, como no caso dos namorados, 
amantes, amásios, maridos, companheiros ou ex. (SILVA, 2005, p. 69). 
 
O conceito de violência intrafamiliar não se refere apenas ao espaço físico 
onde ocorre a violência, mas também pelas relações em se que constrói e efetua. A 
Conferência Regional Latino-americana define que essa violência é uma ação ou 
omissão que pode prejudicar o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a 
liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de membro da família, é 
representada pelas ações de indivíduos ou grupos e causa danos físicos, 
emocionais, morais e até mesmo espirituais. Existem quatros tipos de violência 
intrafamiliar: negligência, psicológica, física e sexual. 
A negligência se refere a omissão de responsabilidades de um ou mais 
membros da família em relação a outro, sobretudo para com aqueles que precisam 
de ajuda em virtude da idade ou alguma condição especifica, permanente ou 
temporária. 
A violência psicológica é a ação ou omissão que causa dano à autoestima, à 
identidade, ou o desenvolvimento da pessoa, pode se manifestar através de 
ameaças, humilhações, agressões, chantagem. A violência psicológica contra a 
mulher dificilmente vai ser vista, a não ser que seja notada por algumas sequelas no 
corpo. Perpassa por intimidações e ameaças que impedem ou prejudicam a 
autodeterminação e o desenvolvimento pessoal, porém esse tipo de violência é 
raramente notada. 
 
A violência psicológica é negada pelo agressor, bem como pelas 
testemunhas, que nada veem o que faz a própria vítima duvidar daquilo que 
a magoa tão profundamente. Nada vem lhe dar provas da realidade do que 
ela sofre. É uma realidade “limpa”. Nesse estágio, nada é visível. Ao passo 
que, quando há violência física, elementos exteriores (exames médicos,testemunhas oculares, inquéritos policias) dão testemunho da veracidade 
da violência (HIRIGOYEN, 1990 p. 42-43). 
 
34 
 
 
 
A violência física ocorre quando alguém causa ou tenta causar por meio da 
força física, através de arma ou instrumentos que possam acarretar lesões físicas, 
dependendo da gravidade, a agressão pode trazer danos temporários, permanentes, 
ou até mesmo a morte. Esse tipo de violência é a mais notada entre as mulheres, 
quando cometida deixa traumas e abala emocionalmente a vítima, geralmente vem 
acompanhada da violência psicológica e é considerada a mais fácil de ser 
denunciada por deixar marcas visíveis no corpo. 
 
Nos casos de violência física, agressão contra a mulher, em sua maioria, 
não é feita a ocorrência, por pressão familiar, para evitar escândalos, para a 
acomodação do conflito, especialmente nas brigas de casais, principalmente 
quando não é a primeira briga. Em um próximo acontecimento, começa a se 
imputar responsabilidades sobre a mulher, como se ela tivesse merecido ser 
agredida; o momento de revolta é sempre por parte da família da mulher, 
pois não é aceitável ver a mãe, filha ou irmã sendo agredida, e quando o 
fato para a mulher já está implícito em seu convívio, ela mesma acoberta 
dizendo que "ele é assim mesmo, foi criado 16 assim", ou "pior seria sem 
ele"; em alguns casos ele, "o marido" é quem traz o sustento para casa, o 
que a faz passar de vítima a reprodutora da violência. (BARROS, 1999 
p.266-269). 
 
 No que se refere à violência sexual, é toda ação na qual a pessoa em 
situação de poder, obriga uma outra a realização de práticas sexuais, contra 
vontade, por meio da força física, por meio de armas ou até mesmo sob o efeito de 
drogas, caracterizada também como violência sexual o ato de carícias não 
consentidas e exposições de materiais pornográficos. Esse tipo de violência pode 
ser classificada de duas maneiras: estrupo e assédio sexual. O estrupo é um ato de 
constranger alguém a ter relações sexuais, sem consentimento da outra pessoa e a 
ameaça é o caminho que o agressor encontra para satisfazer a sua vontade sexual, 
manifestando o sentimento de poder, vingança e de dominação sobre a vitima. Esse 
tipo de violência quando realizada pelo parceiro ou esposo, não é vista como 
violência contra a mulher, sendo que a violência sexual conjugal nunca acontece 
sozinha sempre vem acompanhada da violência física e psicológica ou da duas ao 
mesmo tempo. 
 
A violência contra a mulher tem sido amplamente debatida a nível nacional, 
porém, seguidamente está se dá em um viés onde a mulher é apontada e 
estereotipada como vítima, fraca, passiva, ou ainda, como cúmplice da 
relação violenta. Nestas relações, as mulheres são “detentoras de parcelas 
35 
 
 
 
infinitamente menores de poder que os homens, as mulheres só podem 
ceder, não consentir” (MATHIEU, 1985 apud SAFFIOTI 1999, p. 86). 
 
Esses tipos de violências: física, psicológica, sexual, patrimonial, econômica 
ou financeira e a violência moral, na maioria das vezes são praticadas por seus 
parceiros íntimos, percebidas por elas como uma situação indesejável que não 
poderia ocorrer, porém não significa que as mulheres se considerem vitimas a todo 
momento. 
Saffioti (2004, p.71), relata “que as mulheres não são cúmplices das 
agressões de seus parceiros íntimos, pois, para tanto, precisariam desfrutar de 
poder igual ao que detêm os homens”. A violência realizada contra a mulher, 
praticada por seus parceiros íntimos, se caracteriza como um fenômeno que em 
algumas culturas é considerado comum, reproduzindo assim o poder entre homens 
e mulheres, sendo discutido não somente a questão de gênero na sociedade, mas, 
também a violação dos direitos humanos e das mulheres. 
As mulheres que sofrem violência são consideradas pessoas que tem o 
estigma violentado•. Goffam (2004) trouxe o conceito de estigma para a sociedade, 
define que “o individuo estigmatizado é aquele que assume características diferentes 
que a sociedade avalia como positivas”. O estigma é considerado uma situação de 
depressão, se transformando não apenas em uma qualidade pessoal, mas também 
uma forma de significação social, uma marca que exclui o indivíduo do ciclo em que 
vive. Na perspectiva de Oliveira (2007 p. 102), o estigma da violência contra a 
mulher, é imposto pela sociedade e pela própria família, é a vivência de muitas 
mulheres que sofrem sob a forma de maus-tratos praticados pelos seus parceiros 
íntimos. 
As mulheres violentadas têm dificuldades de denunciarem seus parceiros, 
pois são vários fatores que dificultam a denúncia, um dos fatores mais clássico 
refere-se ao medo das dificuldades materiais, em razão da dependência econômica 
e a responsabilidade com os filhos. Muitas das vezes por não estarem engajadas no 
mercado de trabalho e por não possuírem moradia própria, se sentem imobilizadas e 
 
. Uma cicatriz provocada no corpo por uma ferida ou machucada. 
36 
 
 
 
não tem coragem de denunciarem, e sobretudo não conhecem a rede de proteção 
que tem para elas. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência contra a 
mulher é a décima causa de morte de mulheres em todo o mundo. Essa questão é 
um dado que somado ao fato de que a violência é uma causa de morte evitável, que 
aponta para a necessidade de estudos para o enfrentamento a esse tipo de 
violência. Tem-se uma estimativa que a violência está matando mais do que o 
câncer, a malária, os acidentes de trânsito, sendo que a média por idade das 
mulheres vítimas de violência é entre os 15 a 44 anos. 
 
A vitimização da mulher no espaço conjugal foi um dos maiores alvos da 
atuação do movimento feminista, que, nos últimos 50 anos, vêm 
denunciando os abusos, os maus-tratos e as expressões de opressão. 
Problemas que permaneciam silenciados, guardados como segredos do 
âmbito privado passaram a ter visibilidade social. (MINAYO, 2004 p. 80). 
 
As mulheres que sofrem violência adoecem mais, faltam ao trabalho, se 
isolam do meio social por dor ou simplesmente por medo de aparecerem feias nas 
ruas e as pessoas julgá-las. As agressões causam vários efeitos nas mulheres, não 
se sentem envergonhada apenas pelas condições da saúde física e mental, mas 
também nas relações interpessoais, instituições sociais, na sociedade como um 
todo, tendo em vista que os efeitos físicos e psicológicos da violência influenciam na 
capacidade criativa e produtiva da vida das mesmas. 
As mulheres têm medo da situação vivida e da não aceitação, quando 
estigmatizada chega a evitar contatos e se isola por vergonha e pela culpa que 
carregam perante a violência sofrida pelos seus parceiros íntimos. Quando decidem 
ir embora, a saúde mental e psicológica dessas mulheres já estão em um estado 
lamentável por isso buscam a libertação dessa violência, sendo necessário um 
tempo para se recuperar de todo o trauma vivido durante a relação. 
 
Pessoas agredidas dentro da família tendem minimizar o problema, 
desejando acreditar que o marido/companheiro, pai ou irmão não é tão 
violento como parece. Ainda sentem vergonha, culpa e baixa autoestima por 
viverem esse tipo de situação, além do medo de ficarem sozinhas. 
(SANTOS, 2015, p. 352) 
 
37 
 
 
 
Considerando o contexto de vida, essas vítimas se consideram seres 
humanos sem direitos, minando as possibilidades de voltarem a ter uma saúde 
mental melhor e ser uma pessoa comum no meio da sociedade em que vivem. Pois 
os olhares para as mulheres que sofrem violência ainda são muito críticos, apesar 
de muitas lutas a mulher é vista como um ser frágil e insignificante em alguns locais, 
principalmente no mercado de trabalho. Os vários tipos de violência contra a mulher 
acarretam problemas de saúde, causam alterações psíquicas e geraram dificuldades 
no relacionamento com os filhos por se sentirem depressivas, ansiosas e sem 
condiçõesde expressar os cuidados e afetos que eles precisam. As mulheres 
violentadas sempre vêm acompanhadas por sentimentos de culpa, de vergonha e 
principalmente pelo estigma, estes parecem ser os grandes obstáculos para a não 
denúncia da violência que acaba sendo perpetuada por parceiros íntimos contra as 
mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
4. Políticas Públicas e Legislação no Enfrentamento a Violência 
Contra a Mulher 
 
 
No Brasil, a violência contra a mulher é vista como um problema social onde 
há diversos dispositivos legais em vigência, como leis ordinárias, decretos, 
disposições constitucionais e tratados internacionais. No âmbito internacional, 
abrangem cartas, convenções, pactos como as principais fontes de obrigação no 
combate a violência contra a mulher. 
Os tópicos que seguem, buscam explanar algumas informações sobre as 
demandas de políticas públicas para as mulheres em situação de violência, 
buscando contribuir para o debate sobre a necessidade de criar e programar as 
políticas públicas, através de discussões que contribuem para a formação dessas 
políticas, com o foco nas mulheres em situação de violência e que podem 
contemplar a perspectiva de gênero. 
O presente capítulo está dividido em dois tópicos: o tópico um trata das 
iniciativas legais no enfrentamento à violência contra a mulher, bem como sobre os 
movimentos feministas, trazendo as discussões dadas às iniciativas no 
enfrentamento a violência contra a mulher e o segundo tópico traz a discussão sobre 
as políticas públicas no contexto do enfrentamento a violência contra a mulher. 
 
 
 
4.1. Iniciativas Legais no Combate a Violência Contra a Mulher e os 
Movimentos Feministas 
 
 
Na década de 80 os movimentos feministas junto ao Estado tiveram as 
primeiras conquistas para a implementação de políticas públicas voltadas ao 
combate à violência contra a mulher. Em 1985, justamente na culminância da 
39 
 
 
 
década da Mulher2 declarada pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), é 
inaugurada a primeira Delegacia de Defesa da Mulher em São Paulo e criado o 
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), através da Lei nº 7353/85. No 
ano seguinte, em 1986, no Estado de São Paulo, foi criada pela Secretaria de 
Segurança Pública a primeira Casa-Abrigo do país para mulheres em situação de 
risco de morte (SILVEIRA, 2006). Essas três importantes conquistas da luta 
feminista brasileira são as principais balizas das ações do Estado voltadas para a 
promoção dos direitos das mulheres no combate à violência. 
Segundo Jardim Pinto (2003), o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher é 
um órgão de caráter deliberativo e consultivo da sociedade civil junto ao governo, 
com vinculação ao Ministério da Justiça, foi criado com o objetivo de promover 
políticas para assegurar condições de igualdade às mulheres. Ele é responsável 
pelo monitoramento das políticas públicas de combate a violência contra a mulher, 
bem como pela manutenção de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher 
e Casas de Abrigo. 
A partir do ano de 1985 a 2002, a criação de DEAMs e de Casas de Abrigo 
tornou-se o principal eixo da política de combate à violência contra a mulher, com 
ênfase na segurança pública e na assistência social. A partir de então esse foco 
constituiu também a base do Programa Nacional de Combate a Violência Contra a 
Mulher (SEDIM), criado em 2002 e vinculado ao Ministério da Justiça. Em 1998 deu-
se uma pequena ampliação da política, com elaboração da Norma Técnica do 
Ministério da Saúde para a prevenção e tratamento dos agravos resultantes da 
violência sexual. Após cinco anos a promulgação da Lei nº 10.778/0 instituiu um 
novo avanço: a notificação compulsória dos casos de violência contra a mulher 
atendida nos serviços de saúde públicos ou privados. 
As delegacias foram criadas para o primeiro acesso das mulheres nas redes 
de serviços, tem como objetivo investigar, apurar e tipificar os crimes de violência 
contra as mulheres. Os sistemas de seguranças públicos, estaduais estão 
 
2 Foi o resultado mais visível do grande congresso mundial que reuniu na cidade do México a milhares e 
milhares de pessoas, para celebrar o Ano Internacional da Mulher, proclamado pela Organização das Nações 
Unidas (ONU), em 1975. 
40 
 
 
 
vinculados as ADMs e essa ação tem parceria com a Secretaria Nacional de 
Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça. Tem como objetivo maior as 
instruções de inquéritos policiais que levam ao judiciário crimes para serem julgados. 
Os atendimentos às mulheres violentadas segundo a Lei Maria da Penha se 
dá seguinte forma: 
 
1. Prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial 
para os casos de violência contra a mulher. 2. Permite a autoridade policial 
prender o agressor em flagrante sempre que houver qualquer das formas de 
violência contra a mulher. 3. Registra o boletim de ocorrência e instaura o 
inquérito policial (composto pelos depoimentos da vitima, do agressor das 
testemunhas e de provas documentais e periciais). 4. Remete o inquérito 
policial ao Ministério Público. 5. Pode requerer ao juiz, em 48h, que sejam 
concedidas diversas medidas protetivas de urgência para a mulher em 
situação de violência. 6. Solicita ao Juiz, a decretação da prisão preventiva 
com base na nova lei que altera o código de processo penal. 
 
As DEAMs têm como finalidade dar atendimento e orientações às mulheres 
vítimas de violência com o intuito de receber queixas e averiguar os crimes de lesão 
corporal, ameaça, estupro, atentado violento ao pudor, maus-tratos, abandono de 
incapaz, constrangimento ilegal, sequestro e cárcere privado, sedução, entre outros. 
Em 2003 foi criada a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM), a 
partir de então as ações de enfrentamento à violência contra a mulher passam a ter 
um maior investimento e a política é ampliada no sentido de promover a criação de 
novos serviços, como o Centro de Referência de Atendimento à Mulher Vítima de 
Violência e as Defensorias da Mulher, visando a construção de redes de 
atendimento para a assistência às mulheres em situação de violência. 
 
A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres está vinculada à 
Presidência da República, possui status de ministério e tem por 
competência assessorar direta e imediatamente o Presidente da República 
na formulação, coordenação e articulação de políticas para as mulheres. 
(BRASIL, 2004). 
 
Em 2004 foi realizada a I Conferência Nacional de Políticas para Mulheres (I 
CNPM) e a construção coletiva do Plano Nacional de Políticas para Mulheres, que 
se consolida como eixo de Enfrentamento a Violência Contra as Mulheres, com o 
tempo estimado para as previsões de ações na área para o período de 2004 a 2007. 
A partir do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) as ações de 
41 
 
 
 
enfrentamento à violência contra as mulheres não mais se restringem às áreas da 
segurança e assistência social, mas buscam envolver diferentes setores do Estado, 
no sentido de garantir os direitos das mulheres a uma vida sem violência. 
 
A SPM realizou ainda a I Conferência Nacional de Políticas para Mulheres (I 
CNPM), em julho de 2004, a qual reuniu cerca de 120 mil mulheres, que 
após debates, apresentaram as propostas para a elaboração do Plano 
Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). Ressalva-se que as 
conferências são importantes para a inclusão política das mulheres, visto 
que são elas que debatem os temas nas conferências e decidem a melhor 
forma de elaboração das políticas. Um estudo realizado em Belo Horizonte, 
porém, afirma que as resoluções decididas nas conferências não têm 
afetado de forma sistemática as políticas públicas (BRASIL, 2015). 
 
Segundo o relatório anual da Secretaria Municipal de Políticas para as

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