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J U N H O D E 2 0 2 2 P R O F. A N A C L A U D I A S O U Z A E P R O F. M A R I N A AYA B E G O M E S D E M O R A E S PRÉ-NATAL Estratégia MED Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Pré-natal 2OBSTETRÍCIA PROF. ANA CLAUDIA SOUZA E PROF. MARINA AYABE GOMES DE MORAES APRESENTAÇÃO: @dra.marinamoraes @profa.anasouza Olá, Doc! Bem-vindo ao estudo dos mecanismos e fases clínicas do parto! Sou a professora Ana. E eu sou a professora Marina! Estamos aqui na missão de apresentar o tema da forma mais leve possível para você! Conte conosco! PARA COMEÇO DE CONVERSA https://www.instagram.com/dra.marinamoraes https://www.instagram.com/profa.anasouza Estratégia MED 3OBSTETRÍCIA Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Pré-natal Intercorrências obstétrica Obstetrícia fisiológica Medicina fetal Doenças associadas à gestação PARTO Puerpério Pré-natal 25% 4% 7% 11% 13% 15% 25% PARA COMEÇO DE CONVERSA Você está prestes a iniciar o estudo de um dos temas mais importantes para a prática da obstetrícia e para sua prova: a assistência pré-natal. Apesar de, à primeira vista, poder parecer um tema corriqueiro, minha sugestão é que você faça essa leitura de forma bastante cuidadosa, buscando solidificar esses conhecimentos relativamente simples, mas fundamentais para sua prova de obstetrícia. Uma consideração bastante importante a respeito desse tema é que, geralmente, as provas de Residência Médica baseiam-se no protocolo de cuidados para assistência pré-natal proposto pelo Ministério da Saúde, porém é essencial que você conheça o protocolo assumido pelo serviço onde você está realizando a prova. Particularidades de cada um desses serviços podem influenciar na escolha correta da questão. Durante esta leitura, chamaremos sua atenção para as condutas diferentes de alguns serviços sempre que necessário. IMPORTÂNCIA DO TEMA A engenharia reversa revela que cerca de 10% das questões de obstetrícia nas provas de Residência Médica são a respeito de assistência ao pré-natal, de acordo com o levantamento que a equipe de obstetrícia do Estratégia MED realizou das principais provas do país nos últimos anos. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal 4Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 SUMÁRIO 1.0 PRÉ-NATAL 7 1.1 DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO 8 2.0 ANAMNESE OBSTÉTRICA 10 2.1 CÁLCULO DA IDADE GESTACIONAL 10 2.2 DATA PROVÁVEL DO PARTO (DPP) 14 2.3 IDENTIFICAÇÃO 15 2.3.1 IDADE 15 2.3.2 ESCOLARIDADE 16 2.3.3 PROCEDÊNCIA 16 2.3.4 SITUAÇÃO CONJUGAL 16 2.3.5 OCUPAÇÃO 16 2.4 ANTECEDENTES FAMILIARES 17 2.5 ANTECEDENTES PESSOAIS 17 2.5.1 USO DE MEDICAÇÕES DURANTE A GRAVIDEZ 17 2.5.2 HÁBITOS E VÍCIOS DURANTE A GRAVIDEZ 22 2.5.3 ANTECEDENTES CIRÚRGICOS 23 2.6 ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS 24 2.7 ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS 24 2.7.1 CLASSIFICAÇÃO EM NÚMERO DE GESTAÇÕES, PARIDADE E ABORTOS ANTERIORES (G P A) 24 2.7.2 ORDEM CRONOLÓGICA DOS DESFECHOS E PARTICULARIDADES DAS GESTAÇÕES ANTERIORES 25 2.8 QUATRO PERGUNTAS-CHAVE PARA ANAMNESE OBSTÉTRICA 26 2.9 PRINCIPAIS SINTOMAS NA GESTAÇÃO 27 2.9.1 HIPERÊMESE GRAVÍDICA 27 Estratégia MED OBSTETRÍCIA 5 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 3.0 EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO 31 3.1 PRESSÃO ARTERIAL 31 3.2 PESO 32 3.2.1 CIRURGIA BARIÁTRICA: REPERCUSSÕES E CUIDADOS 33 3.3 MEMBROS INFERIORES 34 3.4 EXAME OBSTÉTRICO ABDOMINAL 35 3.4.1 INSPEÇÃO ABDOMINAL 35 3.4.2 MANOBRAS OBSTÉTRICAS 36 3.4.3 ALTURA UTERINA 39 3.4.4 AUSCULTA DOS BATIMENTOS CARDÍACOS FETAIS 42 4.0 EXAMES COMPLEMENTARES 45 4.1 EXAMES SÉRICOS GERAIS 46 4.1.1 HEMOGRAMA 46 4.1.2 TIPAGEM SANGUÍNEA E PESQUISA DE ANTICORPOS IRREGULARES/COOMBS INDIRETO 47 4.1.2.1 PROFILAXIA DA ALOIMUNIZAÇÃO E DA DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL 48 4.1.2.2 “PEGADINHAS” 49 4.1.3 GLICEMIA DE JEJUM 50 4.1.4 TSH 52 4.2 EXAMES SÉRICOS SOROLÓGICOS 53 4.2.1 SOROLOGIA PARA HIV 53 4.2.2 SOROLOGIA PARA SÍFILIS 55 4.2.3 SOROLOGIA PARA TOXOPLASMOSE 57 4.2.4 SOROLOGIA PARA RUBÉOLA 60 4.2.5 SOROLOGIA PARA HEPATITE B 60 4.2.6 SOROLOGIA PARA HEPATITE C 61 4.3 EXAMES NÃO SÉRICOS 61 4.3.1 URINA TIPO 1 E UROCULTURA 61 4.3.2 COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA 63 4.3.3 PARASITOLÓGICO DE FEZES 63 Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal 6Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 5.0 EXAMES COMPLEMENTARES NO SEGUIMENTO PRÉ-NATAL 65 5.1 TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE 75 G 65 5.2 SWAB ANAL E VAGINAL PARA PESQUISA DE ESTREPTOCOCO DO GRUPO B 67 6.0 ORIENTAÇÕES GERAIS 70 6.1 IMUNIZAÇÃO 70 6.2 NUTRIÇÃO DURANTE A GESTAÇÃO 73 6.2.1 ÁCIDO FÓLICO 73 6.2.2 SULFATO FERROSO 74 6.2.3 OUTRAS VITAMINAS E MINERAIS 75 6.2.4 POLIVITAMÍNICOS ASSOCIADOS 76 6.3 ATIVIDADE FÍSICA NA GESTAÇÃO 76 6.3.1 HIPERTERMIA 78 6.4 OUTRAS RECOMENDAÇÕES PARA A GESTANTE 78 6.4.1 VIAGENS AÉREAS 78 6.4.2 ATIVIDADE SEXUAL 78 6.4.3 PLANO DE PARTO 78 7.0 DETERMINAÇÃO DO RISCO GESTACIONAL 79 8.0 LISTA DE QUESTÕES 81 9.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82 10.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 83 Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 7 CAPÍTULO 1.0 PRÉ-NATAL Pré-natal, em sua essência, é o seguimento da gestante, desde o diagnóstico da gravidez até o parto. Objetiva evitar impactos na saúde do binômio materno-fetal e garantir que o recém-nascido e a mãe estejam saudáveis ao final do período gravídico, oferecendo cuidados clínicos, mas também psicossociais, preventivos e educacionais. É justamente sua facilidade de replicação que garante que os principais cuidados à gestante e ao feto sejam assegurados, independentemente das condições técnicas e econômicas das mais diversas realidades de um país continental como o Brasil. A assistência ao pré-natal realizada adequadamente é fundamental para a redução até mesmo da mortalidade materna e é um importante marcador da qualidade do cuidado materno, sendo um aspecto que merece toda a atenção das políticas de saúde. A anamnese e o exame físico realizados durante a consulta pré-natal permitem que o risco gestacional seja definido e guiam a decisão dos exames complementares a serem solicitados. É importante esclarecer que há exames complementares que serão solicitados rotineiramente para todas as grávidas. É uma “receitinha de bolo” que deve ser realizada por todas as gestantes, as de risco habitual ou não; e, diante de alguns fatores de risco ou de comorbidades identificadas, outros exames deverão ser solicitados. Uma vez que a assistência ao pré-natal é um atendimento muito bem estruturado, outra particularidade dela é que há intervalos mínimos preestabelecidos para que os retornos da gestante aconteçam. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a gestante passe, ao menos, por seis consultas de pré-natal para que a assistência seja considerada adequada. O intervalo entre as consultas de pré-natal em uma gestação de risco habitual obedece aos seguintes intervalos: A cada quatro semanas, até a 28ª semana de gestação. Excetuando-se o primeiro retorno, que deve ocorrer em até 15 dias para avaliação dos exames da rotina de pré-natal solicitados na primeira consulta. A cada 15 dias, entre a 28ª e a 36ª semana de gestação. Semanalmente, a partir do termo até o parto. Atenção! NÃO há alta do pré-natal! Estratégia MED OBSTETRÍCIA 8 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 1.1 DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO Um dos primeiros momentos tensos, no bom sentido, de uma gestante é o famoso "será mesmo que estou grávida?". Para isso, existem 3 formas de diagnóstico: o clínico, o laboratorial e por imagem, auxiliado pela ultrassonografia. Vamos avaliar cada um deles: Diagnóstico clínico A principal queixa encontrada pela mulher no inícioda gravidez é o atraso menstrual. Se o atraso for < 12 semanas, o diagnóstico será por meio do teste imunológico de gravidez (TIG). Mas, se o atraso for > 12 semanas, o diagnóstico poderá ser feito clinicamente. Diante do atraso menstrual, os principais sintomas iniciais são fadiga, mastalgia, náuseas ou vômitos matinais e aumento da frequência urinária. Portanto, existem sinais de presunção, de probabilidade e de certeza. Os sinais de presunção incluem manifestações sistêmicas e sinais mamários: Manifestações clínicas (atraso menstrual de até 14 dias, náuseas, vômitos, polaciúria, sonolência, alterações do apetite, sinal de Halban – lanugem –, linha nigra). Manifestações mamárias (hipersensibilidade dos mamilos, aumento do volume das mamas, sinal de Hunter – hiperpigmentação da aréola –, presença dos tubérculos de Montgomery, rede venosa de Haller, saída de colostro). Os sinais de probabilidade são sinais do trato genital: atraso menstrual maior do que 14 dias, aumento do volume uterino, amolecimento do colo uterino, alteração do muco cervical, sinal de Piskacek (formato assimétrico do útero onde se implantou o embrião), sinal de Hegar (amolecimento do istmo cervical), sinal de Nobile-Budin (ocupação dos fórnices laterais), sinal de Kluge (arroxeamento da vagina), sinal de Osiander (pulsação das artérias vaginais no fórnice lateral). E os 3 sinais de certeza: sinal de Puzos (rechaço fetal sentido ao empurrar-se o útero pelo fórnice anterior), palpação e percepção dos movimentos fetais e de partes fetais e ausculta dos batimentos cardíacos fetais. Veja, na tabela a seguir, um resumo com os principais sinais de presunção, probabilidade e certeza de gestação. SINAIS DE PRESUNÇÃO SINAIS DE PROBABILIDADE SINAIS DE CERTEZA Atraso menstrual até 14 dias Atraso menstrual maior que 14 dias Sinal de Puzos Náuseas e vômitos Aumento do volume uterino Palpação e percepção de movimentos fetais ou de partes fetais Congestão mamária Amolecimento do colo uterino Ausculta de batimentos cardíacos fetais Rede de Haller Alterações do muco cervical Sinal de Hunter Sinal de Piskacek Tubérculos de Montgomery Sinal de Hegar Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 9 Polaciúria Sinal de Nobile-Budin Ausculta de batimentos cardíacos fetais Cloasma gravídico Sinal de Jacquemier-Chadwick Linha nigra Sinal de Kluge Sinal de Halban Sinal de Osiander Trato genitalSistêmicos e mamários Sinto/escuto Figura 1. Sinais de presunção, probabilidade e certeza de gestação. Diagnóstico laboratorial É realizado por meio da dosagem de gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG) para o diagnóstico precoce da gestação, quando o atraso menstrual é menor do que 14 dias. O teste imunológico de gravidez (TIG) é sensível e confiável, porém é considerado caro e deverá ser solicitado após atraso menstrual de 15 dias. Os testes urinários (beta-hCG qualitativo) têm baixos resultados falso-positivos, porém podem apresentar resultado falso-negativo, levando ao atraso no início do pré-natal. O beta-hCG quantitativo é detectado por meio do sangue periférico, 8 a 11 dias após a concepção. A maioria dos testes apresenta um corte de 25 a 30 mUI/mL, com resultados indeterminados e falso-positivos entre 2 e 25 mUI/mL. São considerados negativos valores menores do que 5 mUI/mL, e, acima de 25 mUI/mL, são considerados positivos. Diagnóstico por imagem O diagnóstico de uma gestação intrauterina pela ultrassonografia obstétrica inicial pode ser realizado a partir de 4,5 a 5 semanas por meio da visualização do saco gestacional. Já o embrião pode ser visualizado a partir de 5,5 a 6 semanas, e os batimentos cardíacos fetais devem estar presentes quando o embrião apresenta o comprimento cabeça-nádega (CCN) maior ou igual a 7 mm. O exame ultrassonográfico oferece à gestante a oportunidade de confirmação da idade gestacional, de detecção precoce de gestações múltiplas ou de malformações fetais. Porém, os benefícios da ultrassonografia ainda são incertos, já que sua omissão não diminui a qualidade do pré-natal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). A datação da gestação em idade gestacional < 15 semanas é realizada por meio do comprimento cabeça-nádega (CCN). A medida do comprimento cabeça-nádega é o método mais preciso para avaliar a idade gestacional com um erro de 5 dias quando medido antes de 9 semanas e de 7 dias entre 9 e 14 semanas. Após 15 semanas, a datação é calculada pela medida do diâmetro biparietal, do fêmur e da circunferência abdominal. Se você quer estudar mais detalhes sobre a avaliação ultrassonográfica para a datação da gestação, aproveite a oportunidade e já complemente a leitura no livro de ULTRASSONOGRAFIA. Mas não se esqueça de terminar os estudos por aqui. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 10 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 CAPÍTULO 2.0 ANAMNESE OBSTÉTRICA 2.1 CÁLCULO DA IDADE GESTACIONAL Neste capítulo, analisaremos as três principais maneiras de determinar a idade gestacional: • Pela data da última menstruação (DUM). • Pela ultrassonografia (USG). • Pela altura uterina (AU). Pela data da última menstruação (DUM) Provavelmente, a primeira ideia que lhe vem à cabeça quando pensa em determinar a idade gestacional é calculá-la a partir da data da última menstruação, frequentemente conhecida, na prática clínica e nas provas, por "DUM". E você está certíssimo! Um conceito essencial que você precisa sempre ter em mente para determinar a idade gestacional a partir da data da última menstruação (DUM) é saber que ela representa o primeiro dia do último ciclo menstrual. É comum o examinador apresentar a você o primeiro e o último dia do ciclo menstrual no enunciado da questão e solicitar que você determine a idade gestacional. Você é Coruja e não cairá nessa “pegadinha”, combinado?! Data da última menstruação (DUM) É o PRIMEIRO dia da menstruação do último ciclo menstrual. Aqui, entram suas habilidades matemáticas e seu conhecimento de quantos dias tem cada mês, uma vez que a determinação da idade gestacional (IG) será feita pelo número de dias entre a data da última menstruação e o dia da consulta médica dividido por sete, para ter-se o resultado em semanas. Perceba, portanto, que o enunciado precisará fornecer as duas datas. Que tal um exemplo para ajudar a esclarecer esse conceito? Suponha que a data da última menstruação seja 6 de fevereiro de 2022 e que se deseje conhecer a idade gestacional em 12 de abril de 2022. Observe a figura a seguir, que exemplifica os cálculos envolvidos na determinação de que, nesse caso, a idade gestacional será de 9 semanas e 2 dias na data de 12 de abril de 2022. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 11 Cálculo da Idade Gestacional pela DUM IG = 9 semanas e 2 dias 65 63 Dias Semanas 7 9 2 DUM = 06/02/2022 Data da consulta pré-natal = 12/04/2022 Fevereiro - 22 dias (28 dias - 06 dias da DUM) Março - 31 dias Abril – 12 dias 22 + 31 + 12 = 65 dias de gestação Figura 2. Exemplo de cálculo da idade gestacional a partir da DUM. É importante ter em mente que a fidedignidade do cálculo da idade gestacional a partir da DUM se relaciona, por exemplo, à regularidade do ciclo menstrual da mulher, ao fato de ela lembrar a data corretamente e à possibilidade de ela ter estado ou não em uso de contraceptivos. Pela ultrassonografia Outra forma de calcular a idade gestacional é a partir da ultrassonografia. Sendo que a estimativa da IG pelo ultrassom é fundamental nos casos em que há dúvidas a respeito de quão fidedigna é a data da última menstruação ou quando ela é desconhecida. O raciocínio do cálculo é bastante semelhante ao usado para o cálculo a partir da DUM. O quemuda é que você deverá considerar a data de realização da ultrassonografia como se fosse a DUM e, ao final do cálculo, adicionar, à idade gestacional encontrada, a idade gestacional que constava na ultrassonografia. +IG (USG) = IG (em semanas) Soma dos dias entre a data do USG e a data em que se deseja saber a IG 7 )( Acompanhe, a seguir, um novo exemplo, dessa vez para o cálculo da idade gestacional a partir da ultrassonografia. Suponha a mesma data de consulta, isto é, 12 de abril de 2022; suponha que a gestante lhe apresenta uma ultrassonografia realizada no dia 18 de março de 2022 e que, nessa ultrassonografia, a idade gestacional estimada era de 10 semanas de gestação. Observe que, de acordo com a ultrassonografia, a idade gestacional seria de 13 semanas e 6 dias nessa data. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 12 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Cálculo da Idade Gestacional pelo USG IG= 13 semanas e 6 dias 1º USG 18/03/2022 - 10 sem 25 21 Dias Semanas 7 3 6 Data da consulta 12/04/2022 Março - 13 dias (31 dias - 18 dias data do USG) Abril - 12 dias 13 + 12= 25 dias de gestação Somar 10 semanas do resultado do USG Figura 3. Exemplo de cálculo da idade gestacional a partir do USG. Nesse momento, você deve estar se perguntando: “mas, e aí? Que idade gestacional devo considerar correta: a calculada a partir da DUM ou a partir do USG?” E a resposta é "depende"! Depende de quão diferentes são as idades gestacionais calculadas a partir da DUM e do USG e de quando a ultrassonografia foi realizada. Sabendo-se que a idade gestacional é estimada a partir do tamanho do embrião ou do feto à ultrassonografia, quanto mais precocemente for realizado o ultrassom, mais fidedigna será a determinação da idade gestacional. Isso acontece porque quanto menor a idade gestacional, menores os efeitos genéticos e de possíveis comorbidades maternas sobre o crescimento fetal, por exemplo. Devemos, então, comparar as idades gestacionais calculadas a partir da DUM e do USG e decidir qual delas será mais adequada. Diferenças menores de dias do que os citados a seguir indicam que a idade gestacional estimada pela DUM é a mais correta. Quando a diferença for maior do que os dias indicados, devemos considerar a IG do USG. Isso é chamado de erro de data, ou seja, a DUM não deve ser levada em consideração para a estimativa da IG. Ultrassonografias realizadas: • Antes de 9 semanas apresentam erro de até 5 dias; • Entre 9 e 14 semanas apresentam erro de até 7 dias; • Entre 14 e 21 6/7 semanas apresentam erro entre 7 e 10 dias; • Entre 22 e 27 6/7 semanas apresentam erro de 14 dias; • A partir de 28 semanas apresentam erro de 21 dias. DICA DE PROVA Decorar todos esses intervalos não é fácil. Embora não seja tão fidedigna, uma dica para ajudá-lo a responder às questões sobre esse assunto é que o trimestre em que o ultrassom foi realizado representa o número de semanas consideradas para o erro, isto é: Ultrassonografias de: 1º trimestre – apresentam erro de 1 semana (7 dias); 2º trimestre – apresentam erro de 2 semanas (14 dias); 3º trimestre – apresentam erro de 3 semanas (21 dias). Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 13 A datação da gestação realizada no primeiro trimestre não se altera. Lembre-se de que, durante o terceiro trimestre, tamanhos fetais incompatíveis com a IG devem levar à investigação de causas para um crescimento fetal acelerado ou retardado. Pela altura uterina Conforme já estudamos no capítulo de exame físico obstétrico, há correlação entre a altura uterina e a idade gestacional, embora a altura uterina possa ser influenciada por fatores como presença de miomas, número de fetos, tamanho fetal, biotipo materno, quantidade de líquido amniótico, entre outros fatores que fazem com que a estimativa da idade gestacional não seja tão fidedigna a partir da altura uterina quando comparada à realizada a partir da DUM ou do USG. No entanto, esse pode ser um parâmetro importante em situações em que a datação da gestação é importante e em que não se têm outros meios, como, por exemplo, em um atendimento de urgência de uma gestante sem cartão de pré-natal ou quando não se sabe o quanto é possível confiar na DUM, entre diversas outras situações que podem se apresentar. Alguns marcos da avaliação da altura uterina são importantes de serem conhecidos. A figura a seguir auxilia sua memorização: • Na 12ª semana, o útero é palpável na sínfise púbica; • Na 16ª semana, o fundo uterino é palpável entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical; • Na 20ª semana, a altura uterina é palpável na altura da cicatriz umbilical; • A partir da 20ª semana, observa-se relação direta entre a medida da altura uterina e as semanas de gestação, sendo menos fidedigna após a 30ª semana de gestação. Figura 4. Relação entre a altura uterina e a idade gestacional. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 14 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Há, ainda, outra forma de utilizar a altura uterina para estimar a idade gestacional: o uso da regra de McDonald em gestantes entre 28 e 34 semanas. Seu uso não é frequente nas provas nem na prática clínica, porém despenca nas provas do SES-PE, por isso, se você pretende concorrer nessa prova, é fundamental que memorize que, por essa regra, a idade gestacional é estimada multiplicando- se a altura uterina por 8 e dividindo-a por 7. REGRA DE MCDONALD Altura uterina x 8 7 Idade gestacional (Semanas) = Figura 5. Cálculo da idade gestacional pela regra de McDonald. 2.2 DATA PROVÁVEL DO PARTO (DPP) A data provável do parto (DPP) refere-se a quando se completam 40 semanas de gestação segundo a DUM, e não necessariamente à data em que de fato ocorrerá o parto. A DPP é calculada, segundo a regra de Naegele, somando-se 7 ao número de dias da DUM e subtraindo-se 3 dos meses da DUM. Esteja sempre atento para realizar os ajustes necessários para ser uma data fidedigna quanto a dia, mês e ano. REGRA DE NAEGELE = somar 7 aos dias e subtrair 3 dos meses da DUM = DPP. Observe o exemplo a seguir, considerando-se uma DUM de 27 de agosto de 2021. DUM = 27/08/2021 ≥ 27(dia) + 7 = 34; 08 (mês) -3 = 05, portanto, DPP = 34/05/2021 DPP = 03/06/2022 Mês de maio tem 31 dias Ajustar o ano para o seguinte Figura 6. Exemplo de cálculo da DPP a partir da regra de Naegele. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 15 2.3 IDENTIFICAÇÃO Muitas vezes, ao realizar a identificação de um paciente, avaliamos mecanicamente as informações que obtemos; porém, ao realizar a identificação da gestante, é fundamental estar atento a diversos fatores de risco para gravidez que podem ser conhecidos já a partir das informações coletadas durante sua identificação. 2.3.1 IDADE O primeiro item da identificação que precisamos lembrar é a idade da gestante. Os extremos de idade deverão chamar sua atenção pelo aumento potencial de risco gestacional que representam. Durante a gestação, consideramos extremos de idade as gestantes adolescentes, ou seja, aquelas menores de 18 anos, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde, e as grávidas com 35 anos ou mais, que podem ser chamadas de gestantes idosas ou com idade materna avançada. ASPECTOS ÉTICOS DO PRÉ-NATAL DA GESTANTE ADOLESCENTE Não é raro que as provas apresentem a você questões envolvendo o atendimento de adolescentes e, dessa forma, avaliem seus conhecimentos a respeito do sigilo médico. Então, aproveite este tópico para relembrar pontos importantes a esse respeito. Internacionalmente, há consenso de que adolescentes entre 12 e 18 anos devem ter sua privacidade garantida, especialmente sejá tiverem 14 anos e 11 meses ou mais, consideradas maduras para entender e cumprir o que lhes for orientado. O documento “Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades básicas de saúde” (Brasília – DF, 2013), do Ministério da Saúde, lista os seguintes direitos dos adolescentes: - Privacidade no momento da consulta. - Garantia de confidencialidade e sigilo. - Consentimento ou recusa de atendimento. - Atendimento à saúde sem autorização e sem acompanhamento dos pais. - Informação sobre seu estado de saúde. Saiba que, conforme previsto no capítulo IX do Código de Ética Médica (CEM), o Conselho Federal de Medicina (CFM) também garante o direito do adolescente à privacidade. É vedado ao médico: [...] Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente criança ou adolescente, desde que estes tenham capacidade de discernimento, inclusive a seus pais ou representantes legais, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente. O Parecer do CFM nº 25, de 2013, estipula o seguinte acerca do mesmo tema: [...] Com relação aos pacientes adolescentes há o consenso internacional, reconhecido pela lei brasileira, de que entre os 12 e 18 anos estes já têm sua privacidade garantida, principalmente se com mais de 14 anos e 11 meses, considerados maduros quanto ao entendimento e cumprimento das orientações recebidas [...]. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 16 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Quanto às gestantes mais velhas, isto é, com 35 anos ou mais, o aumento de risco relaciona-se especialmente à maior probabilidade de apresentarem cromossomopatias e comorbidades, como hipertensão arterial ou diabetes mellitus, por exemplo. 2.3.2 ESCOLARIDADE Outro ponto importante a ser conhecido é o nível de escolaridade da gestante, o que permitirá escolher a linguagem mais adequada a ser empregada durante a comunicação com ela. Lembre- se de que, independentemente da especialidade, a escolaridade influencia na maior dificuldade ou facilidade do paciente em entender as orientações fornecidas. Portanto, influenciará na adesão da grávida ao pré-natal e, consequentemente, aos cuidados propostos a ela. 2.3.3 PROCEDÊNCIA A gestante pode morar e ser natural da localidade onde está sendo atendida, mas pode também ser de outra cidade, estado ou país. Perceba que conhecer a procedência da grávida pode o 2.3.4 SITUAÇÃO CONJUGAL Assim como a procedência, conhecer a situação conjugal da gestante também é uma informação que ajuda a entender o apoio e a aceitação dessa mulher diante da gravidez. A lista de situações de fragilidade emocional é extensa. Veja alguns exemplos de dificuldades de aceitação de uma gestação: mulher abandonada pelo parceiro quando este soube da gravidez; mulher que engravidou em uma relação esporádica ou que não tem certeza de quem é o pai do filho; parceiro que pressiona a gestante para interromper a gestação por não ter sido planejada. Consegue compreender o apoio psicológico que talvez seja necessário solicitar nesses casos? 2.3.5 OCUPAÇÃO O trabalho exercido pela gestante pode impactar bastante a evolução da gestação, abrangendo desde riscos teratogênicos ao feto (por exemplo, em razão de funções que envolvam o contato com produtos químicos, como no caso de mulheres frentistas ou de médicas anestesistas ao utilizarem anestésicos inalatórios) até riscos biológicos (como professoras de educação infantil ao entrarem em contato com crianças com doenças exantemáticas ou profissionais auxiliar a pensar em doenças mais prevalentes em determinada região de onde essa grávida é procedente. de saúde ao atenderem pacientes com doenças infectocontagiosas). O trabalho da gestante pode também aumentar os riscos de algumas intercorrências obstétricas, por exemplo, o trabalho de parto prematuro em mulheres que exercem funções fisicamente extenuantes, como profissionais de limpeza, ou agravar quadros de distúrbios hipertensivos, especialmente em funções relacionadas a bastante estresse. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 17 2.4 ANTECEDENTES FAMILIARES Os antecedentes familiares podem levantar hipóteses diagnósticas ou percepção de riscos aumentados que a grávida pode apresentar. Tenha especial atenção para informações relativas à mãe e às irmãs da gestante, principalmente se o histórico delas for positivo para trombose, distúrbios hipertensivos, prematuridade ou outras intercorrências obstétricas. Atenção para uma possível “pegadinha” relacionada a esse tópico. A família do pai do feto não representa histórico familiar relevante para a gestação, exceto por histórico de gemelaridade ou de malformações congênitas. Comorbidades que a sogra ou sogro tenham, como diabetes e hipertensão, não interferem na avaliação de risco da grávida. Lembre-se de que eles não apresentam consanguinidade com a gestante, portanto não interferirão em seu risco gestacional. 2.5 ANTECEDENTES PESSOAIS Independentemente do momento do diagnóstico, fato é que grande parte das doenças pode interferir bastante na evolução da gestação, muitas vezes sendo responsável, inclusive, pela gravidez passar a ser considerada de alto risco. Portanto, é fundamental que essas doenças sejam diagnosticadas corretamente. Mulheres previamente hipertensas, diabéticas, portadoras de trombofilias, com tireoidopatias, epilépticas, migranosas etc. (a gama de possibilidades estende-se por todos os diagnósticos médicos das diferentes especialidades) precisam ser identificadas, e os riscos, maiores ou menores, de tais comorbidades para a gestação precisam ser conhecidos; dessa forma, um plano de cuidados é estabelecido, visando prevenir complicações associadas a tais comorbidades. Conhecer as comorbidades da gestante é importante também para complementar os exames de rotina solicitados durante a primeira consulta de pré-natal e que visam auxiliar no seguimento e no tratamento de tais doenças durante a gestação. Como já citado, reafirmo que essas particularidades são abordadas detalhadamente nos respectivos livros digitais de cada doença, por exemplo: "DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS DA GESTAÇÃO" e "DIABETES NA GESTAÇÃO". Conhecer o histórico de doenças já tratadas, ainda que curadas no momento da gestação, também pode ser uma informação bastante relevante. Um exemplo disso, como veremos adiante neste estudo, é o conhecimento de tratamento anterior para sífilis, que pode influenciar na interpretação da sorologia para sífilis e na necessidade de tratamento da infecção. 2.5.1 USO DE MEDICAÇÕES DURANTE A GRAVIDEZ Este é um item de bastante “decoreba” e que pode causar um pouco de confusão. Então, vamos juntos, e coragem! Classicamente, os fármacos eram classificados em cinco categorias, conforme o risco que representavam para a gestação, e as cinco categorias de risco eram representadas por letras: A, B, C, D e X. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 18 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Observe a tabela a seguir, que descreve o que significa cada uma das cinco categorias da classificação clássica do risco de substâncias durante a gestação pelo Food and Drug Administration (FDA). Classificacão das drogas quanto ao risco durante a gestação de acordo com o FDA Estudos adequados e controlados em humanos não demonstraram risco para o feto. Estudos em animais não demonstraram risco para o feto. Estudos adequados em gestações humanas não demonstraram risco fetal. RISCO NÃO DESCARTADO. Estudos em animais demonstraram efeitos adversos e não existem estudos adequados em gestações humanas. O benefício pode justificar o risco potencial. EVIDÊNCIA DE RISCO. Estudos controlados em humanos demonstraram risco para o feto; entretantoo benefício em potencial pode superar o risco. CONTRAINDICADO NA GESTANTE. Estudos controlados em animais ou humanos demonstraram risco fetal que supera claramente qualquer beneficio à paciente. Categoria A Categoria B Categoria C Categoria D Categoria X Figura 7. Classificação para o uso de fármacos e substâncias proposta pela Food and Drug Administration (FDA), 1980. Segurança da utilização de drogas na LACTAÇÃO (Weiner et al). S = SEGURA NS = NÃO SEGURA U = SEM ESTUDOS S? = ESTUDOS CONFLITANTES OU NÃO PERMITEM CONCLUSÃO Além disso, você pode encontrar uma outra classificação para segurança na utilização de drogas na lactação, orientada por Weiner et al. Figura 8. Segurança da utilização de drogas na lactação orientada por Weiner et al. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 19 Ainda sobre o uso de medicações durante a gestação, além de saber o que significa cada categoria da classificação clássica em cinco categorias de letras, o examinador espera, algumas vezes, que você também saiba como o uso de algumas medicações durante a gestação é classificado. Como você deve imaginar, a lista de medicações classificadas pela FDA é imensa e seria pouco didático apresentá-la em detalhes aqui para você. Vou, então, apresentar a seguir algumas medicações que a engenharia reversa mostrou serem as que mais apareceram nas provas de Residência Médica nos últimos anos. Observe a tabela a seguir e retorne a ela em sua revisão, na véspera da prova, para relembrá-la. CLASSIFICAÇÃO MEDICAÇÃO IMPLICAÇÃO DO USO DURANTE A GRAVIDEZ X Talidomida (imunomodulador) Redução de membros, atresia esofágica ou duodenal, hemangioma facial, malformações geniturinárias e cardiovasculares. X Isotretinoína (tratamento de acne) Relaciona-se a abortamento e malformação fetal quando utilizada durante o primeiro trimestre. X Ribavirina (antiviral) Teratogênica relacionada a malformações, como hidrocefalia e de extremidades. X Metotrexato (antineoplásico) Síndrome do metotrexato-aminopterina fetal (restrição do crescimento fetal, malformações craniofaciais, retardo mental), quando usado no primeiro trimestre, e toxicidade e óbito fetal, quando usado no segundo ou no terceiro trimestre. D/X Varfarina (anticoagulante oral) Durante o primeiro trimestre, é contraindicada por ser teratogênica. Nos demais trimestres, deve ser evitada por associar-se a malformações fetais, a não ser que o benefício materno justifique seu uso. D Fenitoína (anticonvulsivante) Síndrome da fenitoína fetal (restrição de crescimento fetal, atraso do desenvolvimento, alterações cardíacas e craniofaciais). D Ácido valproico (anticonvulsivante) Associa-se a defeitos de fechamento do tubo neural, alterações cardíacas, craniofaciais, geniturinárias e esqueléticas. D Tetraciclinas (antibiótico) O uso no segundo e terceiro trimestres relaciona-se à descoloração marrom-amarelada dos dentes fetais e à redução do crescimento dos ossos longos. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 20 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 D Carbonato de lítio (antipsicótico, usado no tratamento de episódios de mania do transtorno afetivo bipolar) Risco de malformações cardiovasculares (doença de Ebstein), polidrâmnio, bócio e espinha bífida, quando a exposição fetal ocorre no primeiro trimestre, e risco de toxicidade neonatal, se ocorrer exposição no terceiro trimestre. D Atenolol (betabloqueador) (anti-hipertensivo, antiarrítmico) Restrição do crescimento fetal e hipoglicemia neonatal. C/D Betabloqueadores (ex.: propranolol, metoprolol) (anti- hipertensivos, antiarrítmicos) Restrição de crescimento fetal, quando usados no segundo e no terceiro trimestre (categoria C no segundo trimestre), e hipoglicemia neonatal (no terceiro trimestre). C/D Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA – ex.: captopril, enalapril) e bloqueador dos receptores da angiotensina II (BRA – ex.: losartana, valsartana) (anti- hipertensivos) Restrição do crescimento fetal, malformações renais, hipoperfusão renal, oligoâmnio, hipoplasia pulmonar quando utilizado no segundo e terceiro trimestres (categoria D). Categoria C no primeiro trimestre. C / D Ácido acetilsalicílico (AAS) Seu uso parece ser seguro durante os dois primeiros trimestres (categoria C) e associa-se ao aumento do sangramento materno e fetal e ao fechamento do ducto arterioso, quando utilizado em dose plena no terceiro trimestre (categoria D). C Sulfonamidas (sulfametoxazol) (antibiótico) Quando utilizadas próximo do termo da gestação, podem provocar hiperbilirrubinemia fetal. Não utilizar próximo do parto. Evitar uso do trimetoprim no primeiro trimestre por risco de malformação do tubo neural, cardiovascular e geniturinário. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 21 C Heparina (anticoagulante) Não é teratogênico, não atravessa a barreira placentária. C Hidralazina (anti- hipertensivo) Segura quando utilizada por períodos curtos. É utilizada especialmente nas emergências hipertensivas. C Omeprazol (inibidor das bombas de prótons (antiácidos) Não há evidências de malformações fetais associadas ao uso. C Levomepromazina (fenotiazina) (antipsicótico, sedativo) Considerada relativamente segura durante a gestação pelo amplo uso na prática clínica. Comumente utilizada no tratamento de formas graves de pré-eclâmpsia. B Hidroclorotiazida (diurético) Diuréticos não são recomendados durante a gestação, porém hipertensas crônicas podem beneficiar-se de seu uso. B Antagonistas dos receptores de H2 (ex.: ranitidina) Não há evidências de malformações fetais associadas ao uso. B Enoxaparina (anticoagulante) Não é teratogênico, não atravessa a barreira placentária. B Dimenidrinato (dramin), metoclopramida (plasil), ondansetrona (vonau), meclizina (meclin) (antieméticos) Não são teratogênicos. B Metildopa (anti- hipertensivo antiadrenérgico) Seu uso há anos em gestantes não demonstra prejuízos na saúde materno-fetal, sendo o mais utilizado no tratamento dos distúrbios hipertensivos durante a gestação. B Insulina (ex.: NPH e regular) Uso seguro durante a gestação, não atravessa a barreira placentária. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 22 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 B Metformina (hipoglicemiante oral) Não há evidências de teratogenicidade. Mas não há estudos de efeitos a longo prazo na criança. Seu uso deve ser evitado. B Paracetamol (acetaminofeno) (analgésico) Uso seguro durante a gestação. B Antibacterianos (penicilinas, cefalosporinas, azitromicina) Não se associam a malformações fetais. B Anti-inflamatórios não hormonais (AINEs) (ex.: cetoprofeno, ibuprofeno, naproxeno) Não são teratogênicos, mas podem causar o fechamento precoce do ducto arterioso no terceiro trimestre. Tabela 1. Categorização do uso durante a gestação das medicações mais abordadas nas provas, segundo a classificação anterior da FDA. DICA PARA PROVA Memorize as drogas categoria X na gestação. 2.5.2 HÁBITOS E VÍCIOS DURANTE A GRAVIDEZ O uso de bebidas alcoólicas e de tabaco é o mais frequente entre as drogas lícitas, enquanto maconha e cocaína, incluindo o crack, são os mais comuns entre as drogas ilícitas. O uso de qualquer uma delas deve ser desencorajado durante a gravidez, e seus potenciais malefícios, orientados a toda mulher em idade fértil. Observe, na tabela a seguir, as principais associações do uso de tabaco e álcool durante a gravidez. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 23 DROGA IMPLICAÇÃO DO USO DURANTE AGRAVIDEZ Tabaco Contém mais de três mil substâncias, sendo a nicotina e o monóxido de carbono os que oferecem maior risco fetal – a quantidade de cigarros consumidos interfere no impacto fetal. Associa-se a gestação ectópica, abortamento, restrição do crescimento fetal, prematuridade, placenta prévia e descolamento prematuro de placenta. Álcool É teratogênico e não há dose segura estabelecida para uso seguro durante a gravidez. Exposição do feto ao álcool relaciona-se à síndrome fetal do alcoolismo materno ou à síndrome alcoólica fetal, caracterizada por restrição do crescimento fetal, alterações no sistema nervoso central e fácies características. Maconha Relaciona-se à redução da perfusão uteroplacentária e à restrição do crescimento fetal e aumenta o risco de defeito do septo interventricular. Prejudica o neurodesenvolvimento, com repercussões inclusive na infância e na adolescência. Potencializa o efeito do álcool. Cocaína Seu uso associa-se à restrição de crescimento fetal, malformações cardíacas, geniturinárias e do sistema nervoso central. Aumenta ainda o risco de descolamento prematuro de placenta e prematuridade. Tabela 2. Principais implicações do uso de álcool, tabaco, maconha e cocaína durante a gravidez. 2.5.3 ANTECEDENTES CIRÚRGICOS Assim como o histórico de doenças e drogas em uso pode impactar a evolução da gestação, o histórico de cirurgias já realizadas pela gestante também pode interferir tanto em cuidados necessários durante a gravidez quanto em possíveis interferências no momento do parto. Outro aspecto a ser avaliado a respeito do histórico cirúrgico é que cirurgias abdominais e pélvicas se associam ao aumento do risco cirúrgico do parto cesáreo, mesmo tratando-se de uma primigesta. A presença de possíveis aderências e alterações anatômicas aumenta o risco cirúrgico durante a abertura da cavidade para extração fetal no parto via alta. Quanto às cirurgias ginecológicas anteriormente realizadas pela gestante, algumas delas poderão influenciar nos cuidados oferecidos à gestante, tanto durante a gravidez quanto no parto. Por exemplo, na presença de cicatrizes uterinas, como no caso de mulheres que realizaram miomectomia, ou seja, cirurgia para retirada de mioma uterino, com abertura do endométrio, é desaconselhado o parto via baixa, em razão de aumento do risco de rotura uterina, devendo ser feito encaminhamento para planejamento do parto cesáreo eletivo no momento oportuno. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 24 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 2.6 ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS A investigação dos antecedentes ginecológicos permite que o pré-natalista conheça características da saúde do sistema reprodutor da gestante. DICA DA CORUJA: neste momento, lembre-se de investigar basicamente 5 características: 1) Menarca 2) Data da última menstruação (DUM) 3) Característica do ciclo menstrual 4) Uso de contraceptivos 5) Parceiros sexuais fixos ou eventuais 2.7 ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS Quando investigamos os antecedentes obstétricos, é essencial investigar: • Paridade. • Ordem cronológica dos desfechos das gestações. • Particularidades do(s) abortamento(s) que ocorreu(ram). • Particularidades do(s) parto(s) que ocorreu(ram). 2.7.1 CLASSIFICAÇÃO EM NÚMERO DE GESTAÇÕES, PARIDADE E ABORTOS ANTERIORES (G P A) Classicamente, essa informação é apresentada por números que antecedem letras. Podem ser usados números romanos ou arábicos na descrição. A primeira letra refere-se ao número de gestações e simboliza o gesta (G). A segunda representa o número de partos e simboliza a palavra "para" (P). A última letra representa as gestações que culminaram em outros desfechos que não um parto, mais comumente em um abortamento (A). Perceba que o número de gestações demonstra quantas vezes essa mulher concebeu, independentemente de o desfecho ter sido um parto ou um abortamento. Muitas vezes, as mulheres respondem à pergunta de quantas vezes ficaram grávidas contabilizando apenas as gestações que culminaram em partos de filhos vivos. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 25 Paridade refere-se a quantas vezes a gestante engravidou, quantos partos e/ou abortamentos já teve. Quanto ao número de partos, para (P), lembre-se de que eles se referem ao número de nascimentos, independentemente de tratar-se de um nascido vivo ou de um natimorto. Aqui, o conceito importante para não ter dúvida se contabilizará o natimorto como Abortamento refere-se ao produto conceptual eliminado ainda antes de 20 semanas com menos de 500 gramas. Outro ponto que pode gerar dúvidas na determinação da paridade de uma gestante é diante do relato de gestações múltiplas. A maioria dos autores e, consequentemente, as questões das provas observadas pela engenharia reversa consideram que a contabilização seja de um único evento, independentemente de quantos fetos foram concebidos e nasceram. Aqueles que não são classificados como partos são definidos como abortamento (A). Lembre-se de que, pelo Ministério da Saúde, é definido como abortamento a expulsão ou extração do feto de 20 semanas ou com menos de 500 g. Além disso, não se esqueça de que estão incluídas as gestações ectópicas e molares. parto ou abortamento, ao determinar a paridade da gestante, é ter clareza sobre a definição de abortamento. 2.7.2 ORDEM CRONOLÓGICA DOS DESFECHOS E PARTICULARIDADES DAS GESTAÇÕES ANTERIORES Além de conhecer a paridade de uma grávida, é importante que o pré-natalista saiba também as particularidades do que ocorreu em cada uma das gestações anteriores, porque algumas delas podem repetir-se e demandar cuidados específicos nessa gestação. Outro aspecto a ser observado é referente a procedimentos operatórios relacionados aos desfechos gestacionais. Note que o histórico de partos cesáreos ou de curetagens uterinas acarreta aumento de riscos como acretismo placentário, que não estará presente em gestantes de mesma paridade, mas que apresentam histórico obstétrico de partos via baixa e abortamentos em que não foi realizada a curetagem para esvaziamento uterino. Os fatores de risco e as demais particularidades relacionadas ao acretismo placentário podem ser estudados no livro digital "SANGRAMENTO DA SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO". O conhecimento do sexo do recém-nascido e de possíveis malformações ou desfechos desfavoráveis fetais pode alertar para investigação de heranças genéticas ligadas ao sexo ou de alterações maternas que impactaram o desenvolvimento fetal, por exemplo, diante do histórico de infecções congênitas. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 26 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 O peso ao nascer dos filhos anteriores auxilia o raciocínio diagnóstico quanto a causas que levam à restrição de crescimento fetal, pensadas especialmente diante de recém-nascidos com menos de 2.500 g ao nascer, ou, ao contrário, doença materna que acarretou crescimento fetal acelerado. Deve-se pensar na possibilidade de diabetes gestacional quando houver relato de recém-nascido macrossômico, isto é, com 4.000 g ou mais ao nascer. Outro exemplo é que uma grávida com histórico de partos prematuros deverá receber cuidados específicos na gestação atual para que nova prematuridade seja evitada, uma vez que o maior fator de risco para o trabalho de parto prematuro (TPP) é o antecedente de um TPP na gestação anterior, tema que você pode estudar detalhadamente no livro digital "TPP – PREMATURIDADE E TRABALHO DE PARTO PREMATURO". Muito bem! Até aqui, exploramos detalhadamente como as particularidades da identificação e dos antecedentes da gestante podem ser relevantes para seu raciocínio diagnóstico. A partir de agora, estudaremos como a história atual deve ser abordada em sua anamnese. 2.8QUATRO PERGUNTAS-CHAVE PARA ANAMNESE OBSTÉTRICA Ao atender uma gestante, é importante ter quatro perguntas sempre em mente. Caso elas não sejam respondidas pelas queixas ativas da gestante, deverão ser abordadas durante a anamnese. Isso é importante porque essas quatro respostas ajudarão você a não deixar passar informações que a gestante pode não ter valorizado inicialmente, mas que podem estar associadas a intercorrências obstétricas. As quatro perguntas estão descritas na tabela a seguir, assim como exemplos de intercorrências obstétricas que você deve investigar diante de resposta positiva para cada uma delas. Sangramento? Perda de líquido? Dor? Contrações? Movimentação fetal? Investigar causas dos sangramentos da primeira ou da segunda metade da gestação. Investigar rotura prematura de membranas ou presença de vulvovaginites. Investigar presença de dinâmica uterina, alteração do tônus uterino, infecções, como as urinárias, entre outras afecções que podem culminar em dor durante a gestação. Avaliar vitalidade fetal diante do relato de redução da movimentação fetal. Figura 9. Quatro perguntas fundamentais para a anamnese obstétrica. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 27 2.9 PRINCIPAIS SINTOMAS NA GESTAÇÃO A principal e mais comum queixa na primeira metade da gestação são as náuseas e vômitos. Devido à alta incidência, em torno de 70 a 80% das gestações, estão considerando-a até como sintoma fisiológico na gestação. Por ser a queixa mais comum, ela é a mais cobrada pelas bancas de provas e a que vou descrever primeiro e com mais detalhes. 2.9.1 HIPERÊMESE GRAVÍDICA O momento das náuseas e dos vômitos gera dúvidas e ansiedades para muitas mulheres que pensam em engravidar. As náuseas, acompanhadas ou não de vômitos, ocorrem em 70 a 80% das gestações. Elas iniciam entre a 5a e a 6a semana de gestação, com pico na 9a semana, e diminuem por volta da 16a a 18a semana em 90% dos casos. A hiperêmese gravídica caracteriza-se pela persistência dos vômitos, acompanhada de perda de peso maior do que 5% da massa corporal pré-gravídica e cetonúria, excluídas outras causas. A hiperêmese afeta de 0,3 a 3% das gestantes e é umas das indicações mais comuns de hospitalização durante a gravidez. A gestante apresenta vômitos incoercíveis, o que pode levar a quadros de desidratação e distúrbios hidreletrolíticos, perda de peso e, em outros casos, alterações da função hepática e renal, hemorragia retiniana e até distúrbios neurológicos (encefalopatia de Wernicke), ocasionando risco para a vida materna e fetal. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 28 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Etiologia A etiologia parece ser multifatorial. Existe uma maior associação com o aumento do hCG, além da progesterona, do estrogênio, do hormônio estimulante da tireoide (TSH), do córtex da adrenal, das infecções pelo H. pylori e das deficiências nutricionais ou causas psicológicas. Aqui, deixo o aviso de que devemos nos lembrar da ocorrência de náuseas e vômitos, com maior frequência, em gestações múltiplas e na doença trofoblástica gestacional. HIPERÊMESE GRAVÍDICA hCG PROGESTERONA ESTROGÊNIOS CÓRTEX DA ADRENAL (Produção insuficiente de ACTH) INFECÇÃO POR H. PYLORI DEFICIÊNCIA DE VITAMINA CAUSAS PSICOLÓGICAS TSH Figura 10. Etiologia da hiperêmese gravídica. Quadro clínico A hiperêmese é caracterizada por vômitos incoercíveis que podem gerar distúrbio hidreletrolítico e ácido-básico, além de desidratação e perda de peso (maior do que 5% da massa corporal pré-gravídica). Em alguns quadros, podem ocorrer alterações de enzimas hepáticas e renais, além de hemorragia retiniana e distúrbios neurológicos. A síndrome Korsakoff ocorre em quadro Tratamento grave de fases avançadas, com sintomas de psicose, alucinações com desenvolvimento de doença crônica neuropsiquiátrica com perda de memória (amnésia retrógrada) e de aprendizado (amnésia anterógrada). E a síndrome de Wernicke é caracterizada pela tríade confusão mental, ataxia e alterações oculares e, sem tratamento adequado, pode evoluir para coma e óbito. A internação hospitalar é OBRIGATÓRIA, e deve ser mantido o JEJUM por 24 a 48 horas. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 29 A hidratação deve ser feita de forma intravenosa, com adição de vitaminas e de ácido ascórbico para eventuais reposições. O controle da hidratação deve ser realizado por meio da diurese clara, preferencialmente por solução glicofisiológica entre 2.000 e 4.000 mL em 24 horas. Além disso, deve ser corrigido o distúrbio hidreletrolítico e ácido-básico. Com a ocorrência dos vômitos incoercíveis, existe perda de ácido clorídrico, cloreto de sódio e cloreto de potássio, levando a uma alcalose metabólica hipoclorêmica. Logo, a reposição deve incluir o cloro, o sódio e o potássio até que seus níveis sejam normalizados. Terapêutica medicamentosa As medicações antieméticas são classificadas como categoria B. O uso de vitaminas como a piridoxina (vitamina B6), na dose de 25 mg, a cada 8 horas, ou a ingestão de gengibre, 250 mg, a cada 6 horas, podem ser úteis. A metoclopramida não aumenta o risco de abortamento nem de malformações fetais e tem maior efetividade quando associada à piridoxina. A clorpromazina, um antipsicótico, também é uma alternativa para náuseas e vômitos. Geralmente, a ondansetrona é uma escolha em casos graves e refratários à terapêutica inicial. É uma medicação classificada como categoria B pela FDA, porém é evitada durante o primeiro trimestre da gestação. Além disso, nos casos graves refratários, pode ser associado o uso de benzodiazepínicos (diazepam), apesar de serem classificados como classe D, e de corticosteroides (metilprednisolona). Além disso, a escolha do anti-histamínico (dimenidrinato, meclizina, prometazina) é uma alternativa terapêutica no tratamento de náuseas e vômitos, e não foi verificado risco de teratogenicidade. Além das náuseas e dos vômitos, relembre, pela tabela a seguir, outros sintomas que também podem estar presentes durante a gestação. LOMBALGIA Piora de intensidade com o evoluir da gestação. Ocorre em 70% dos casos. SONOLÊNCIA Comum no início da gestação devido ao efeito da progesterona sobre o sistema nervoso central. CEFALEIA Mais comum no início da gestação, regride a partir da metade da gestação, mas pode estar associada a outras patologias (sinusite, enxaquecas, erros de refração). VARIZES Relacionadas à posição supina prolongada, à genética e à idade avançada. Para tratamento, é indicado repouso com membros inferiores elevados e meia elástica. OBSTIPAÇÃO A piora dos sintomas é maior com o progredir da gestação. DOENÇA HEMORROIDÁRIA Ocorre por aumento da pressão das veias retais pela compressão uterina. Pode manifestar-se pela primeira vez na gestação e ser agravada com o evoluir da gestação. O tratamento é por meio de sintomáticos tópicos, correção da obstipação e compressa morna. SIALORREIA Ocorre devido à estimulação das glândulas salivares na ingesta de amido e de componente psicossomático. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 30 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 PIROSE Ocorre pela compressão uterina sobre o estômago e relaxamento do esfíncter esofágico com refluxo do conteúdo gástrico. Geralmente, os sintomas são leves, e o tratamento indicado é o fracionamento da dieta, o uso de antiácidos e a evitação de alimentos gordurosos e com cafeína. PICA A pica pode ocorrer com desejos estranhos de comer, por exemplo, terra, gelo, arroz cru. LEUCORREIA As gestantes apresentam um aumento fisiológico do fluxo vaginal devido ao aumentoda secreção de muco pelas glândulas endocervicais pelo aumento do estrogênio. Porém, é necessário o exame ginecológico para afastar outras causas. Tabela 3. Principais sintomas na gestação. Ok! Terminamos o interrogatório da gestante. Agora, vamos partir para o exame físico obstétrico, alvo de muitas questões de provas. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 31 CAPÍTULO 3.0 EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO O exame físico realizado durante a primeira consulta de pré-natal deve ser completo, isto é, a avaliação de todos os aparelhos deve ser realizada, e não apenas dos aspectos obstétricos. Outro aspecto fundamental a ser considerado ao examinar uma gestante é que seu corpo está passando por diversas modificações fisiológicas relacionadas à gestação e que, portanto, deverão ser levadas em consideração na avaliação do exame físico. Considerando-se o exame físico geral da gestante, três parâmetros devem sempre ser investigados em todas as consultas: • Pressão arterial. • Peso. • Membros inferiores. Vamos avaliar as particularidades de cada um deles? 3.1 PRESSÃO ARTERIAL A avaliação da pressão arterial da gestante deve sempre ser realizada em repouso, sentada e com o membro superior na altura do coração. Lembre-se de que uma redução fisiológica dos níveis pressóricos é esperada no período gravídico, associada à redução da resistência vascular periférica. Medidas de pressão arterial sistólica maiores ou iguais a 140 mmHg e/ou pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg devem sempre chamar a atenção do examinador para a possibilidade de pré-eclâmpsia, especialmente se associadas a ganho ponderal e/ou edema. Figura 11. Aferição da pressão arterial da gestante. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 32 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Alterações pressóricas devem ser confirmadas em, ao menos, duas medidas e motivar investigação, conforme detalhado no livro digital "DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO E HIPERTENSÃO CRÔNICA". 3.2 PESO A avaliação do ganho de peso materno é um dado bastante relevante na evolução da gestação. O peso materno pode influenciar o peso do recém-nascido ao nascer e ser um sinal de alerta para distúrbios hipertensivos, por exemplo. A medida padronizada para avaliação ponderal da gestante é a do índice de massa corpórea (IMC) segundo a curva de Atalah, assumida pelo Ministério da Saúde. IMC = peso (kg)/altura (m2) Figura 12. Gráfico para monitoramento da evolução ponderal em gestantes. Fonte: Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao pré-natal de baixo risco, Ministério da Saúde, 2012. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 33 De um modo geral, espera-se que o ganho ponderal médio da gestante que inicia a gestação com o IMC normal seja de 12,5 kg, e esse ganho deve variar para mais ou para menos de acordo com o IMC apresentado por ela no início da gestação. Além disso, é importante que você saiba que o ganho de peso não é uniforme no decorrer da gestação, devendo, idealmente, ocorrer primordialmente no segundo e no terceiro trimestre. Para gestantes que são classificadas dentro do peso normal, o esperado é um ganho de cerca de 400 g por semana na segunda metade da gestação. IMC pré-gravídico IMC (kg/m2) Ganho de peso ideal durante a gestação Semanal no 2° e 3° tri TOTAL < 18,5 500g/sem 12,5 a 18 kg 18,5 a 24,9 400g/sem 11,5 a 16 kg 25 a 29,9 300g/sem 7 a 11,5 kg ≥ 30 200g/sem 5 a 9 kg Figura 13. Ganho ponderal de peso durante a gravidez, de acordo com o índice de massa corpórea (IMC) (fonte: Ministério da saúde, 2012). 3.2.1 CIRURGIA BARIÁTRICA: REPERCUSSÕES E CUIDADOS A gestação após a cirurgia bariátrica é considerada segura, mas requer cuidados pré-concepção, durante a gestação e no puerpério. Além disso, há redução de complicações como hipertensão arterial, pré-eclâmpsia, diabetes e macrossomia fetal. Quando a técnica escolhida para a paciente é a técnica de Capella, que consiste na realização da gastroplastia e derivação em Y de Roux ou biliopancreática, existe uma maior perda de folato, ferro, vitamina B12, vitamina D, cálcio e tiamina do que em outras cirurgias. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 34 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Assim, quais são os cuidados que devemos tomar para programar e acompanhar uma gestação após uma cirurgia bariátrica? Pré-concepção: deve-se evitar engravidar no 1o ano após a cirurgia, especialmente por um período de 12 a 18 meses, já que é o ano de maior perda ponderal, e o potencial de perda de peso pode não ocorrer adequadamente após o parto. Além disso, deve- se atentar à menor quantidade de alimentos e ao aumento do risco de desnutrição. Outro ponto importante que não pode ser esquecido é que as mulheres obesas são consideradas como de maior risco para defeitos do tubo neural, já que o ácido fólico participa da fase inicial da embriogênese. Assim, a recomendação é que as doses de ácido fólico devem ser 10 vezes maiores do que as doses habituais (4 mg/ dia), com início 30 a 90 dias antes da concepção e com manutenção até a 12a semana de gestação. Gestação: manter o seguimento tanto do obstetra quanto do cirurgião bariátrico. Deve-se realizar controle ultrassonográfico rigoroso do crescimento fetal e manter suplementação durante a pré-concepção, a gestação e o puerpério: vitamina B12, vitamina D, cálcio, ferro, tiamina, além da suplementação adicional recomendada para a gestante. Puerpério: está indicado o uso de meias de compressão graduadas, hidratação e deambulação precoce para evitar o tromboembolismo venoso. Atenção especial está no risco de anemia, por isso o controle de hemoglobina materna durante a gestação deve ser rigoroso e realizado por meio da suplementação de ferro e de outras vitaminas e minerais. Referência bibliográfica: Manual de Assistência Pré-Natal, FEBRASGO, 2014. 3.3 MEMBROS INFERIORES A compressão dos vasos em razão do aumento do volume uterino no decorrer da gestação, normalmente, acarreta edema em membros inferiores, especialmente no final da gestação. Apesar disso, é muito importante que a possibilidade de edema patológico seja sempre cogitada quando se avalia a gestante, especialmente quando o edema de membros inferiores está associado ao edema de mãos e face, sendo a hipótese diagnóstica de pré-eclâmpsia um importante diagnóstico diferencial a ser feito nesses casos. Figura 14. Exemplos de membros inferiores com edema, varizes e trombose. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 35 3.4 EXAME OBSTÉTRICO ABDOMINAL 3.4.1 INSPEÇÃO ABDOMINAL A inspeção abdominal de uma gestante pode apresentar diferentes aspectos, dependendo do trimestre em que ela se encontra. As principais alterações observadas serão quanto ao formato e ao tamanho do abdômen, além de alterações cutâneas, como da coloração ou relativas ao aparecimento de estrias. A hiperpigmentação da linha alba recebe o nome de linha nigra durante a gestação e é observada com frequência na prática clínica durante a avaliação física da gestante. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 36 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Outra alteração comum de ser observada no abdômen gravídico é o surgimento de estrias, especialmente no final da gestação, associadas à distensão cutânea e ao hipercortisolismo. Observe que é importante que o pré-natalista esteja preparado para orientar a gestante sobre essas alterações, que, em geral, causam bastante preocupação na grávida, que vê seu corpo mudar tãoexpressivamente. A avaliação da presença de cicatrizes prévias é um importante passo durante a inspeção abdominal da gestante. É o momento oportuno para descobrir procedimentos cirúrgicos que a gestante possa ter eventualmente esquecido de mencionar durante a anamnese, assim como avaliar a cicatriz de partos cesáreos prévios. Lembre-se de que a técnica mais utilizada para a realização da cesariana é a de Pfannenstiel e de que cicatrizes longitudinais no abdômen referentes a partos cesáreos, em geral, relacionam-se a urgências obstétricas. 3.4.2 MANOBRAS OBSTÉTRICAS As manobras obstétricas são manobras de palpação abdominal divididas em quatro tempos e que têm o intuito de definir parâmetros da estática fetal. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 37 Figura 15. Manobras obstétricas. A primeira manobra, ou primeiro tempo, caracteriza-se pela palpação do fundo uterino com as bordas cubitais das duas mãos procurando perceber com as faces palmares qual é a porção fetal que ocupa essa região. O polo cefálico é mais irredutível ao toque em comparação com o polo pélvico, assim como tende a ser menor do que ele. A segunda manobra, ou segundo tempo, também chamada de manobra de Budin, é realizada deslizando-se as mãos para as laterais do útero na intenção de perceber para que lado materno o dorso fetal está voltado. A porção referente ao dorso do feto será sentida à palpação como uma superfície mais contínua e densa, enquanto, na porção contralateral, que contém as partes e os membros fetais, a sensação será oposta. A terceira manobra, ou terceiro tempo, é também chamada de manobra de Leopold e dedica-se a investigar se o polo fetal que se apresenta ao estreito superior da pelve materna está móvel ou não. É realizada apreendendo-se o polo fetal presente na porção inferior do útero com a mão em formato de “C”, isto é, entre o dedo médio e o polegar da mão direita, e realizando movimentos de lateralização que tentam movimentar de um lado para o outro o polo cefálico apreendido. Caso o polo fetal realize o movimento, isso demonstra que ainda não penetrou na pelve materna, o que denominamos, na prática clínica, de “estar alto e móvel”. A quarta e última manobra, ou quarto tempo, tem o intuito de avaliar a escava. Nesse momento, é necessário que o examinador fique de costas para a gestante e posicione cada uma de suas mãos nas fossas ilíacas, projetando-as em direção ao hipogástrio da grávida, na tentativa de penetrar na pelve materna. A percepção de polo fetal liso e irredutível revela tratar- se de apresentação cefálica; já a percepção de polo fetal irregular e deprimível caracteriza o polo pélvico. Note que é intuitivo pensar que, se a escava estiver vazia, o feto estará em situação transversal ou apresentação córmica, uma vez que seus diâmetros são incompatíveis com sua insinuação. Por outro lado, o polo cefálico, por ser irredutível, não permitirá a progressão da mão do examinador, caracterizando a escava completamente ocupada, enquanto a apresentação pélvica permitirá uma penetração maior da mão que examina a escava, relacionando-se à escava parcialmente ocupada. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 38 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Observe a imagem a seguir, que demonstra exemplos das três apresentações fetais citadas. Apresentação cefálica Apresentação pélvica Apresentação córmica Figura 16. Variedades de apresentação fetal. • Escava vazia – apresentação córmica. • Escava parcialmente ocupada – apresentação pélvica. • Escava completamente ocupada – apresentação cefálica. Primeiro tempo – situação fetal, isto é, ao perceber qual é a porção fetal que ocupa o fundo uterino, é possível definir a relação entre os maiores eixos do feto e do útero entre si. Lembre-se de que a situação pode ser longitudinal, oblíqua ou transversal (figura 17). Figura 17. Variedades da situação fetal. Segundo tempo – posição fetal, ou seja, ao perceber para que lado do corpo materno o dorso fetal está voltado, define-se a posição fetal caracterizada por ser a relação do dorso fetal com o corpo materno. Pode ser esquerda, direita, anterior ou posterior (figura 15). DIREITA ESQUERDA ANTERIOR POSTERIOR Figura 18. Variedades de posição fetal. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 39 Terceiro tempo – apresentação fetal, isto é, ao apreender o polo cefálico que está próximo da pelve materna, é possível determinar qual é a porção fetal que se relaciona com o estreito superior da bacia materna e que nele vai se insinuar. Conforme demonstrado na figura 16, o feto pode estar em apresentação cefálica, pélvica ou córmica. Quarto tempo – insinuação fetal, que, embora seja uma avaliação relacionada ao toque vaginal, quando se percebe o feto ocupando a escava materna, infere-se que esteja insinuado, isto é, que seu maior diâmetro transverso da apresentação atravessou o estreito superior da pelve materna. Figura 19. Planos da bacia obstétrica. Além das manobras obstétricas para avaliação do conteúdo uterino, a palpação obstétrica deve avaliar também a consistência do útero, classicamente denominada de tônus uterino, e a presença de contrações, chamada de avaliação da dinâmica uterina. O examinador deve espalmar sua mão no fundo do útero e avaliar por 10 minutos qual é o número de contrações e a duração de cada uma. Nesse momento, também deve-se acompanhar a ausculta do batimento cardíaco fetal, se há ou não desacelerações. A percepção da presença da movimentação fetal também pode ocorrer nesse momento. Lembre-se de que, em geral, a gestante passará a notar os movimentos fetais por volta da 19ª ou 20ª semana de gestação. 3.4.3 ALTURA UTERINA A altura uterina é determinada posicionando-se o zero da fita métrica na borda superior da sínfise púbica e estendendo-a medialmente, passando pela cicatriz umbilical, utilizando-se a borda cubital da mão, até o fundo uterino. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 40 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Figura 20. Aferição da altura uterina. A respeito do crescimento uterino, é importante que você conheça alguns marcos importantes e que os examinadores gostam de apresentar nas provas. O útero: • Deixa de ser um órgão pélvico por volta da oitava semana de gestação; • Atinge a altura da cicatriz umbilical por volta da 20ª semana; e • A partir da 20ª semana, cresce cerca de 1 cm por semana, correlacionando-se com a idade gestacional até próximo do termo. O preenchimento do gráfico referente à altura uterina é uma importante ferramenta para identificar alturas uterinas que estão abaixo do percentil 10 ou acima do percentil 90, segundo o esperado para a idade gestacional, assim como para que mudanças na curva de crescimento, para mais ou para menos, sejam prontamente notadas e investigadas. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 41 Figura 21. Gráfico de evolução da altura uterina durante a gestação. Adaptado de Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao pré-natal de baixo risco, Ministério da Saúde, 2013. Lembre-se de que pontos abaixo da curva relativa ao percentil 10 devem fazê-lo cogitar a hipótese de restrição do crescimento fetal, assim como pontos registrados acima da curva que descreve o percentil 90 de crescimento uterino devem Embora a altura uterina seja muito importante para o seguimento do crescimento fetal, ela pode ser influenciada por diversos outros fatores além do tamanho do feto, por isso a incompatibilidade entre altura uterina e idade gestacional precisa ser mais bem avaliadapela ultrassonografia obstétrica, já que é um método mais fidedigno para a avaliação do tamanho fetal. Observe, na tabela a seguir, possíveis causas relacionadas à altura uterina incompatível com a idade gestacional. Lembre-se sempre de considerar a possibilidade de erro de medida ou erro no cálculo da idade gestacional nesses casos. motivar a investigação de causas relacionadas ao crescimento fetal acelerado e à macrossomia fetal, como o diabetes gestacional, gestações múltiplas e aumento do líquido amniótico (polidrâmnio). Estratégia MED OBSTETRÍCIA 42 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Tabela 4. Fatores relacionados à altura uterina incompatível com idade gestacional. Fatores relacionados à altura uterina Maior do que o esperado para IG Menor do que o esperado para IG Macrossomia fetal Restrição de crescimento fetal OligoâmnioPolidrâmnio Gestação múltipla Situação transversal Miomatose uterina Mola hidatiforme Obesidade materna Erro técnico na aferição da altura uterina Erro no cálculo da idade gestacional 3.4.4 AUSCULTA DOS BATIMENTOS CARDÍACOS FETAIS A ausculta dos batimentos cardíacos fetais é muito importante na avaliação obstétrica porque permite analisar a vitalidade fetal, primordialmente identificando se o feto está vivo e, quando realizada de forma mais prolongada e em idades gestacionais mais avançadas, ainda permite identificar sinais de sofrimento fetal. Os batimentos cardíacos fetais (BCF) são considerados normais no intervalo de variação entre 110 e 160 bpm. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 43 Batimentos cardíacos fetais mantidos acima de 160 bpm caracterizam taquicardia fetal; quando mantidos abaixo de 110 bpm, caracterizam feto bradicárdico, um sinal importante de sofrimento fetal agudo. Tanto na ausculta com o sonar Doppler quanto na com o estetoscópio de Pinard, os batimentos do feto são audíveis com mais facilidade onde se percebeu o dorso fetal durante a palpação obstétrica. A ultrassonografia modo M é o método que permite identificar mais precocemente os batimentos cardíacos do embrião, que podem ser visualizados por volta da quinta semana de gestação. A ultrassonografia obstétrica será o método de escolha quando os batimentos cardíacos do feto não forem identificados pelos outros métodos de ausculta. Por volta da 9ª e da 12ª semana de gestação, a ausculta dos batimentos cardíacos fetais passa a ser possível utilizando-se o sonar Doppler, método mais amplamente utilizado na prática clínica atual. Figura 22. Sonar Doppler. Porém, vale lembrar que há também o estetoscópio de Pinard, que permite a ausculta dos batimentos cardíacos do feto por volta da 16ª-20ª semana de gestação. Figura 23. Estetoscópio de Pinard. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 44 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Simplificando: a partir da segunda metade da gestação, quando o feto estiver em apresentação cefálica, o ponto mais fácil de ausculta fetal será na região central do quadrante inferior do abdômen, compatível com o lado para o qual o feto está voltado. Caso a apresentação seja pélvica, há maiores chances de a ausculta fetal ser facilitada nos quadrantes superiores do abdômen materno na lateralidade compatível com a posição fetal. Figura 24. Apresentação fetal e sua correlação com os quadrantes. Por fim, a cardiotocografia também permite que os batimentos cardíacos fetais sejam auscultados, mas é essencial que você se lembre de que, muito mais do que auscultar o BCF, a cardiotocografia é uma importante ferramenta para avaliação da vitalidade fetal, conforme você pode estudar no livro digital "VITALIDADE FETAL". Figura 25. Cardiotocografia. Antes de terminarmos este tópico, observe a tabela a seguir e memorize os conceitos. Método de ausculta Idade gestacional mínima para ausculta cardíaca Ultrassonografia modo M 5 semanas Sonar Doppler 9-12 semanas Estetoscópio de Pinard 16-20 semanas Tabela 5. Correlação entre método de ausculta fetal e idade gestacional mínima para ausculta dos batimentos cardíacos do concepto. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 45 CAPÍTULO 4.0 EXAMES COMPLEMENTARES Rotina da primeira consulta de pré-natal Se eu precisasse escolher apenas um capítulo deste livro para orientar seus estudos, não teria dúvidas sobre ser este o tema escolhido. Embora tudo que estudamos até aqui seja, sim, muito relevante para que você esteja apto para realizar a avaliação adequada da gestante nos mais diversos cenários obstétricos, anamnese e exame físico obstétricos são conceitos que, em geral, aparecem como pano de fundo das questões de obstetrícia. A primeira coisa a ser destacada neste nosso estudo é que, neste livro, serão apresentados a você os exames complementares propostos como a rotina pré-natal para gestantes de risco habitual. Os exames que complementam essa lista de acordo com a condição clínica ou obstétrica apresentada por uma gestante de alto risco estão particularizados nos livros digitais relativos a cada uma delas. Segundo o Ministério da Saúde, em seus Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco de 2013, os exames que devem ser solicitados para toda gestante, em sua primeira consulta de pré-natal, são: • Hemograma. • Tipagem sanguínea e fator Rh Coombs indireto se o Rh for negativo. • Glicemia em jejum. • Teste rápido de triagem para sífilis e/ou VDRL/RPR. • Teste rápido diagnóstico anti-HIV ou sorologia anti-HIV. • Sorologia para toxoplasmose IgM e IgG. • Sorologia para hepatite B, preconizada apenas a pesquisa do HBsAg. • Urina tipo I, também chamada de sumário de urina. • Citopatológico de colo de útero, se necessário. • Exame da secreção vaginal, se identificada a indicação clínica durante a anamnese. • Parasitológico de fezes, se houver indicação clínica. • Ultrassonografia obstétrica. Estudaremos cada um dos exames citados acima e mais alguns que não fazem parte dos preconizados como obrigatórios pelo Ministério da Saúde, sendo que, para facilitar sua memorização, proponho que você pense sobre eles divididos basicamente em três trios de exames: Exames séricos gerais – hemograma, tipagem sanguínea e Coombs, glicemia de jejum. Exames séricos sorológicos – sífilis e HIV, toxoplasmose e hepatite B. Exames não séricos – urina I, urocultura e citopatológico de colo uterino. Estratégia MED OBSTETRÍCIA 46 Pré-natal Prof. Ana Claudia Souza e Prof. Marina Ayabe Gomes de Moraes | Resumo Estratégico | Junho 2022 Então, vamos lá! O primeiro grupo de exames que detalharemos será o de exames séricos gerais. Esteja atento aos marcadores diferentes no decorrer do texto. Eles serão usados para chamar sua atenção para exames que fazem parte de protocolos de rotina de pré-natal diferentes do proposto pelo Ministério da Saúde. 4.1 EXAMES SÉRICOS GERAIS Os exames que você precisa lembrar dentro desse primeiro grupo são: • Hemograma. • Tipagem sanguínea e fator Rh Coombs indireto se o Rh for negativo. • Glicemia em jejum. 4.1.1 HEMOGRAMA A avaliação do hemograma da gestante deve sempre considerar as modificações hematológicas que ocorrem fisiologicamente durante o período gravídico. Lembre-se de que, devido à hemodiluição gravídica, apesar do aumento absoluto do número de eritrócitos, os níveis de hemoglobina tendem a ser mais baixos durante a gestação, não devendo motivar o diagnóstico de anemia a partir dos valores de referência utilizados em mulheres não grávidas. Portanto, é essencial que você esteja preparado para identificar quando se trata de hemodiluição gravídica fisiológica e quando a anemia deve ser tratada na gestante. Segundo o Royal College
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