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PRÁTICA PROFISSIONAL: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS FILOSÓFICOS AULA 3 Prof. Wilson José Vieira 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo a mais uma aula da disciplina Práticas Profissionais: Leitura e Produção de Textos Filosóficos! O modelo historiográfico francês foi responsável, conforme já apontado, pela introdução da Filosofia no Brasil, principalmente a partir da criação do curso de Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Para o filósofo Paulo Eduardo Arantes (1994), a partir de 1935 ocorreu no Brasil a importação de um Departamento Francês de Filosofia e nessa perspectiva o ensino de Filosofia significava o esclarecimento, a redenção da oligarquia burguesa paulista. Nossos “heróis civilizadores” estabeleceram o início da Filosofia no Brasil e principalmente as diretrizes para o ensino de Filosofia, que a partir de então se caracterizou pelo aspecto histórico. Nas próximas aulas procuraremos conhecer os seguintes elementos ou aspectos relativos aos textos de Filosofia: o contexto dos textos da Filosofia Medieval, algumas chaves para leituras dos textos filosóficos da Patrística, certas chaves para leituras dos textos filosóficos da Escolástica e chaves para leituras dos textos filosóficos da Filosofia Árabe. Vamos a nossa aula! CONTEXTUALIZANDO O modelo historiográfico francês não considera o autor da obra e o contexto na leitura dos textos de Filosofia, pois o estudo dos textos considera apenas o entendimento da ordem interna dos textos filosóficos, ou seja, o texto é considerado em si mesmo. A ênfase na ordem interna do texto, embora se reconheça a importância, acabou por desconsiderar certos aspectos do fazer filosófico, principalmente o contexto e crítica e a reflexão. PROBLEMATIZANDO A metodologia trazida pelos professores franceses a partir da década de 40 constituiu a metodologia por excelência para o ensino de Filosofia no Brasil. O expoente do movimento foi Martial Gueroult e a proposta foi aceita de forma passiva e contou com a legitimação e divulgação de Victor Goldschmidt. Na perspectiva de leitura estruturalista dos textos filosóficos, o texto filosófico é 3 reduzido a uma abordagem filológica, puramente exegética. Assim, a obra filosófica é tratada como “um ser”, algo apartado do mundo, e o trabalho do leitor filósofo seria o de adentrar na obra pela análise textual. Tal perspectiva é muito presente em muitos cursos de Filosofia do Brasil por conta de sua constituição histórica. Denilson Soares Cordeiro apresentou em 2008 sua tese, cujo título era “A formação do discernimento: Jean Maugüe e a gênese de uma experiência filosófica no Brasil”, ao programa de Pós-graduação do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. Na introdução o autor faz referência a um momento inicial de sua formação em Filosofia na qual explicita a metodologia de ensino de Filosofia. Meu primeiro seminário no curso de Filosofia teve como base um texto de Rudolf Carnap, intitulado “A superação da metafísica pela análise lógica da linguagem”, como parte de uma discussão que se estabeleceria com o seminário sobre o texto “O que é metafísica?” de Heidegger. Nossa apresentação procurou refazer o caminho de argumentos e contra-argumentos filosóficos, mas não nos passava despercebido o registro das consequências políticas na divergência de princípios que levaria o Círculo de Viena de Carnap e Schilick para o exílio americano e o filósofo da Floresta Negra a deixar-se levar pelo canto da sereia da onda antisemita. Mas, como recomendavam e exigiam, não convinha tentar falar de História em se tratando de Filosofia (CORDEIRO, 2008, p. 11-12). Ao se referir a Paulo Arantes e aos procedimentos utilizados nas aulas no curso de Filosofia de seu orientador, Cordeiro (2008, p. 13) afirma que o curso começava com a seguinte afirmação: “[...] o que vamos estudar neste semestre vai, com sorte, nos ajudar a ler melhor os cadernos de cultura da imprensa. [...] Mas e os “clássicos”, perguntavam os fiéis do método? E os comentadores?” A compreensão dos limites e possibilidades do uso do texto de Filosofia é algo fundamental para o filosofar. Pesquise os principais limites e possibilidades do uso do texto de filosofia nas aulas de filosofia, as possíveis formas de aprendizado com os textos filosóficos, bem como as implicações do estruturalismo filosófico na formação dos professores e estudantes de filosofia. Sugestão de leitura HORN, G.B.; VALESE R. O sentido e o “lugar” do texto filosófico nas aulas de Filosofia no Ensino Médio. A Filosofia e seu ensino: 4 desafios emergentes. In: NOVAIS, J. L. C. Porto Alegre: Sulina, 2010. TEMA 1 - O CONTEXTO DOS TEXTOS MEDIEVAIS A Idade Média é denominada pejorativamente de “Idade das Trevas”, “Idade Obscura”, “Noite de Mil Anos”, existe um pré-conceito de que nesse período, que compreende o fim da Idade Antiga (476) e a chegada dos Europeus à América (1492), não ocorreram desenvolvimentos na Filosofia e na ciência em razão do poder da Igreja Católica. O pensamento cristão está fundamentado naquilo que se denomina verdade revelada. Talvez o questionamento central a ser lançado, muito embora não abarque toda a produção referente a este período, quando nos referimos a uma possível filosofia cristã é o fato de que o pensamento medieval não parte de problemas passíveis de especulação racional. O período medieval sofreu enorme influência da filosofia grega, em especial da filosofia de Platão e Aristóteles. Agostinho (354-430) foi o expoente da Patrística e buscou conciliar a filosofia de Platão com os dogmas cristãos, e Tomás de Aquino (1225-1274) foi o expoente da Escolástica que buscou conciliar o pensamento de Aristóteles com o cristianismo. Agostinho afirmava que a origem do mal não estava em Deus, que o mal em si não existia. O mal era uma privação, ausência de Deus. O filósofo africano procurou com isso responder a seguinte questão: se Deus criou o homem e todas as coisas que existem, qual a origem do mal? A saída encontrada por Agostinho foi a negação da existência do mal. (...) Portanto, todas as coisas que existem são boas, e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois, se fosse substância, seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível, e, nesse caso se não fosse boa, não se poderia corromper (Agostinho, p 187. 1999). Tomás de Aquino propôs conciliar o conflito entre fé e razão. Para ele a fé e a razão são formas diferentes de conhecer, pois a racionalidade aceita a verdade por meio da evidência, já a fé pela autoridade revelada de Deus. Não existe contradição entre Filosofia e teologia pois as duas possuem Deus como autor e, assim, elas não entram em contradição. 5 O Doutor Angélico, aristotelicamente, estabelece a ideia de que a realidade sensível é a realidade mesma das coisas e que pelos sentidos conhecemos as verdades naturais, porém a razão não pode penetrar nos mistérios de Deus. Os principais períodos da Filosofia |Medieval foram: 1. Padres apostólicos – séc. I e II: ■ Início do cristianismo; ■ Apóstolos: São Paulo (epístolas). 2. Padres apologistas – séc. III e IV: ■ Apologia do cristianismo contra a filosofia pagã; ■ Destaque: Orígenes, Justino e Tertuliano. 3. Patrística – meados do séc. IV ao séc. VIII: ■ Busca uma conciliação entre a razão e a fé; ■ Destaque: Santo Agostinho (Platão). 4. Escolástica – séc. IX a XVI: ■ Sistematização da filosofia cristã; ■ São Tomás de Aquino (Aristóteles). Atividade A partir das leituras realizadas dos filósofos gregos e medievais pode-se afirmar que o pensamento grego se impôs aos problemas cristãos ou o pensamento grego foi cristianizado? Troque suas ideias no fórum da disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem!Sugestão de leitura AGOSTINHO DE HIPONA. Confissões. 6. ed. Tradução de Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 1995. GILSON, E. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 2006. NOVAES, M. A Razão em exercício: estudos sobre a filosofia de Agostinho. São Paulo: Discurso, 2007. 6 TEMA 2 - CHAVES DE LEITURA DOS TEXTOS DA PATRÍSTICA A Patrística pode ser caracterizada como sendo o esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros padres da Igreja que buscavam conciliar a nova religião, no caso o Cristianismo, com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. O objetivo central da Patrística era a evangelização e a defesa da religião cristã dos ataques teóricos e morais recebidos dos antigos. Os mais importantes padres da Igreja foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio. A Patrística foi obrigada a tratar de ideias desconhecidas dos filósofos gregos e romanos, principalmente a ideia de criação do mundo, pecado original, Deus como trindade una, encarnação e morte de Deus, juízo final ou fim dos tempos e ressurreição dos mortos. Outra questão importante que necessitou de melhor fundamentação foi a questão do mal: “Como o mal pode existir no mundo, se tudo foi criado por Deus, que é pura bondade e perfeição?” Diante disso foi introduzida a ideia de homem interior, que possui consciência moral e livre, e que torna o homem responsável pela existência do mal no mundo. Uma das questões mais presentes no período medieval e que foi inaugurado pela Patrística foi o que se denominou conflito entre fé e razão. A razão, o conhecimento, a filosofia seria uma preparação para a fé ou a fé era independente da filosofia e não precisava ser justificada. Os pensadores estabeleceram a distinção entre verdades reveladas e de fé (dogmas – irrefutáveis e inquestionáveis) e verdades da razão, naturais ou humanas. O conhecimento recebido segundo a graça de Deus era superior ao conhecimento racional. Assim, o grande tema de toda Patrística foi a possibilidade ou não de se conciliar razão e fé. Para isso foram apresentadas três posições: 1) Fé e razão são irreconciliáveis e a fé é superior à razão (creio porque absurdo); 2) Fé e razão são conciliáveis e a razão está subordinada à fé (creio para compreender); 3) Fé e razão são irreconciliáveis, porém cada uma tem sua especificidade e não devem se misturar. A razão trataria da vida 7 temporal, da vida dos homens no mundo e a fé da salvação da alma, da vida eterna futura. TEMA 3 - CHAVES DE LEITURA DOS TEXTOS DA ESCOLÁSTICA Durante a Idade Média a Igreja Católica foi a única instituição estável e a responsável pela cultura e educação na Europa. A Igreja ungia e coroava reis, organizava as expedições ou cruzadas para a terra santa e era responsável pelas universidades e escolas. Nas bibliotecas dos mosteiros estavam as principais obras da antiguidade greco-romana. A Filosofia Medieval é conhecida por Escolástica (séc. IX – XIV), pois era ensinada nas escolas e designa de forma genérica aqueles que se vinculam a uma determinada escola de pensamento ou de ensino. A Escolástica foi constituída na Idade Média, nas escolas da Igreja Católica e nas universidades. Caracterizava-se essencialmente pela síntese da filosofia grega, principalmente Platão e Aristóteles, com os princípios do cristianismo. Utilizava-se da lógica aristotélica enquanto ferramenta do pensar, com tendências dogmáticas e possuía um caráter formal, repetitivo e verbalista. Os principais temas ou questões tratadas pela Escolástica foram: as provas da existência de Deus e da alma; diferença e separação do infinito e finito (Deus – mundo); diferença entre razão e fé, corpo e alma, etc. Tais ideias eram expostas segundo um método denominado disputa que consistia na apresentação de uma tese e a mesma deveria ser refutada ou defendida a partir de argumentos retirados da Bíblia, da filosofia de Aristóteles ou dos Padres da Igreja. Constata-se que o pensamento medieval estava subordinado ao princípio da autoridade (argumento da autoridade), ou seja, uma ideia apenas era considerada verdadeira quando baseada ou fundamentada no argumento de uma autoridade reconhecida pela Igreja. Os mais importantes pensadores medievais foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto Erígena, Santo Anselmo, São Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockam, Roger Bacon, São Boaventura. A partir das traduções realizadas do árabe para o latim dos textos de Aristóteles ocorreu uma intensa influência do naturalismo aristotélico e contraposição ao idealismo platônico. São Tomás de Aquino foi responsável pela 8 grandiosa síntese e tornou-se o principal filósofo do período. O tomismo buscou harmonizar o cristianismo com a ontologia aristotélica e a partir de então passou a ser a base filosófica da teologia cristã católica. TEMA 4 - CHAVES DE LEITURA DOS TEXTOS ÁRABES O conhecimento das obras de Aristóteles na Europa ocorreu inicialmente por conta das traduções realizadas pelos filósofos árabes. Avicena (980-1037) e Averróis (1126-1198) foram os responsáveis pelas primeiras traduções e comentários do filósofo grego. Segundo Iskandar (2005), o surgimento da filosofia em terras do Islã ocorreu em razão da hermenêutica alcorânica, ou seja, o interesse em interpretar o Alcorão e conciliar fé e razão desenvolveu nos muçulmanos elementos que possibilitaram o filosofar. Observa-se que no ocidente ocorreu historicamente um dualismo entre ciência e religião, razão e fé, porém tal perspectiva não se faz presente na filosofia árabe-muçulmana. Em filosofia, para Avicena, nada é contrário ao Islã. Avicena ou Ibn Sina (980 – 1037) é considerado o mais importante filósofo árabe, pois em suas obras possibilitou a ligação entre conhecimentos práticos (Medicina) e especulativos (Filosofia). Para ele, a Filosofia era o aperfeiçoamento da alma humana. Sua obra recebeu a influência de pensadores gregos, principalmente de Platão, Aristóteles e Neoplatônicos e influenciou profundamente os pensadores medievais, principalmente Tomás de Aquino, São Boa Ventura e João Duns Escoto. Sugestão de leitura ATTIE FILHO, M. Falsafa: a filosofia entre os árabes. São Paulo: Palas Athena, 2002. ATTIE FILHO, M. O intelecto em Ibn Sina (Avicena). São Paulo: Ateliê Editorial, 2007. ISKANDAR, J. I. A origem e o retorno (Avicena). São Paulo: Martins Fontes, 2005. 9 ISKANDAR, J. I. A Cura do medo da morte. In: PEREZ, D. O. (Org.). Filósofos e terapeutas: em torno da questão da cura. São Paulo: Escuta, 2007. PEREIRA. R. H. de S. Avicena: a viagem da alma. São Paulo: Perspectiva, 2002. TROCANDO IDEIAS Observe as imagens e a seguir caracterize as formas de ensino empregadas durante a Escolástica. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem e compartilhe suas ideias no fórum da disciplina. Disponível em: <http://www.arteguias.com/imagenes4/escolastica.jpg> Acesso em 15/08/2016. Disponível em: <http://oratoiredulouvre.fr/bulletin/774/enluminure-disputatio.jpg> Acesso em 15/08/2016. Comentário As formas de ensino eram duas: lectio, que consistia no comentário de um texto, e disputatio, que consistia no exame de um problema através da discussão dos argumentos favoráveis e contrários. http://www.arteguias.com/imagenes4/escolastica.jpg http://oratoiredulouvre.fr/bulletin/774/enluminure-disputatio.jpg 10 NA PRÁTICA Os textos abaixo apresentam duas concepções diferentes de mundo, porém foram responsáveis pela formação do mundo ocidental. Faça a leitura dos textos e em seguida escreva um textocom as semelhanças e diferenças. "7 Quando o Senhor teu Deus te tiver introduzido na terra, de que vais tomar posse, e tiver exterminado diante de ti muitas nações o Heteue o Gergeseu e o Amorreu, e o Cananeu e o Ferezeu, e o Heveu, e o Jebuseu, sete nações muito mais numerosas e mais fortes do que tu, e o Senhor teu Deus tas tiver entregado, tu as combaterás até ao extermínio. Não farás aliança com elas nem as tratarás com compaixão, nem contratarás com elas matrimônios. Não darás tua filha a seu filho, nem tomaras sua filha para teu filho; porque ela seduzirá o teu filho para que me não siga, mas sirva antes a deuses estranhos, e o furor do Senhor se acenderá, e te destruirá logo. Mas antes ao contrário fareis assim: Deitai abaixo os seus altares e quebrai as estátuas, e cortai os bosques, e queimai as esculturas. Porque tu és um povo consagrado no Senhor teu Deus. O Senhor teu Deus te escolheu para seres um povo particular, entre todos os povos que há na terra. Não (foi) porque excedêsseis em número todas a nações que o Senhor se uniu a vós, e vos escolheu, sendo vós menos em número do que todos os outros povos, mais foi porque o Senhor vos amou e guardou o juramento que tinha feito a vossos pais; por isso vos tirou com mão poderosa, e vos resgatou da casa da escravidão, do poder de Faraó, rei do Egito. E saberás que o Senhor teu Deus é o Deus forte e fiel que guarda o seu pacto e a sua misericórdia até mil gerações com aqueles que o amam e observam os seus preceitos, e que castiga prontamente os que o aborrecem de modo a exterminá- los e a não diferir por mais tempo, dando-lhes imediatamente o que merecem. [...] 8 Tem muito cuidado em observar todos os preceitos que eu hoje prescrevo para que possais viver, e multiplicar-vos, e, tendo entrado, possuais a terra pela qual o Senhor jurou a vossos pais. E recordar-te-ás de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu pelo deserto durante quarenta anos, para te castigar, e para te provar, e para que tomasse manifesto o que estava dentro de teu coração, se guardarás ou não os seus mandamentos. Afligiu-te com a fome, e deu-te por sustento o maná, que tu desconhecias e teus pais, para te mostrar 11 que o homem não vive só do pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. O teu vestido, com que te cobrias, não chegou a gastar-se com a velhice, e o teu pé não foi magoado, e este é o quadragésimo ano. Para que reconheças no teu coração, que do mesmo modo que um homem instrui seu filho, assim o Senhor teu Deus te instruiu a ti, para que guardes os mandamentos do Senhor teu Deus, e andes nos seus caminhos e o temas." (Deuteronômio, 7-8, Bíblia sagrada. 9ª ed. São Paulo, Paulinas, 1955, p. 207- 208. Trad. Pe. Matos Soares.) "11 — Em cada coisa, há uma porção de cada coisa, exceto no Espírito; em algumas, contudo, também há Espírito. 12 — Todas as outras coisas participam de todas as coisas; o Espírito, contudo, é ilimitado e autônomo, com nada misturado, mas só, por si e para si. Pois se não fosse para si mesmo e se estivesse misturado com qualquer outra coisa, participaria de todas as coisas, desde que estivesse misturado a qualquer uma delas. Porque em todas as coisas há uma parte de todas as coisas, como foi dito por mim no que precede; e o que lhe estaria misturado impediria qualquer poder sobre toda coisa, assim como tem agora sendo só para si. Pois é a mais fina de todas as coisas e a mais pura e tem todo conhecimento de todas as coisas e a maior força. E o Espírito tem poder sobre todas as coisas que têm alma, tanto as maiores como as menores. Também sobre toda a revolução tem o Espírito poder, e foi ele quem deu o impulso a esta revolução. E esta revolução moveu- se em um pequeno começo; agora estende-se mais e estender-se-á ainda mais. E todas as coisas que com ela se misturaram, se separaram e se distinguiram, são conhecidas pelo Espírito. E o Espírito ordenou todas as coisas, como deveriam ser e como eram e agora não são, e as que são e como serão; e também a esta revolução na qual se movem agora as estrelas e o Sol e a Lua e o ar e o éter, que estão separados. E esta mesma revolução operou a separação. E do ralo separou-se o denso, o quente do frio, o luminoso do escuro, o seco do úmido. E há muitas partes de muitas coisas. Mas nenhuma coisa é completamente separada ou distinta de nenhuma outra coisa, exceto o Espírito. O Espírito é sempre o mesmo, tanto o maior como o menor. Ao passo que nenhuma outra coisa é semelhante a outra coisa, mas cada coisa singular é e era manifestamente aquilo que mais contém. 12 13 — E quando o Espírito começou o movimento, separou-se de tudo o que era posto em movimento; e tudo o que o Espírito pôs em movimento foi separado. E quando as coisas foram postas em movimento e separadas, a revolução separou-as ainda mais umas das outras. 14 — O Espírito, que é eterno, é certamente também agora, lá, onde é toda outra coisa, na massa circundante, e naquilo que foi por separação unido a ela, e no separado." (Fragmentos 11-14. In: Gerd A. Bornheim (org.). Os filósofos pré-socráticos. 3. ed. São Paulo, Cultrix, 1977, p. 95-96. Trad.. Gerd A. Bornheim.) SÍNTESE Esta aula apresentou o contexto dos textos da filosofia medieval, das chaves de leitura dos textos da Patrística e da Escolástica e de elementos fundamentais para a compreensão dos textos da filosofia árabe. REFERÊNCIAS ARANTES, P. E. Um departamento francês de Ultramar: estudos sobre a formação da cultura filosófica uspiana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. CALVINO, Í. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. CARTOLANO, M. T. P. Filosofia no ensino de 2º Grau. São Paulo: Cortez / Autores Associados, 1985. COSSUTA, F. Elementos para a leitura dos textos filosóficos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. CUNHA, J. A. Iniciação à investigação filosófica: um convite ao filosofar. Campinas: Alínea, 2009. CORDEIRO, D.S. A formação do discernimento: Jean Maugüé e a gênese de uma experiência filosófica no Brasil. Tese de doutorado realizado pela USP. São Paulo, 2008. FOLSCHEID, D.; WUNENBURGER, J.J. Metodologia Filosófica. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 13 HORN, G.B.; Valese R. O sentido e o “lugar” do texto filosófico nas aulas de Filosofia no Ensino Médio. A Filosofia e seu Ensino: Desafios Emergentes. In: NOVAIS, J. L. C. Porto Alegre: Sulina, 2010. p. 27-40. GOMES, R. Crítica da Razão Tupiniquim. 14. Ed. Curitiba: Criar Edições, 2008 PARANÁ. Diretriz Curricular de Filosofia para a Educação Básica, Curitiba. 2008. PARANÁ. SEED. Antologia de Textos Filosóficos. Curitiba, 2009. PORTA, M. A. G. A filosofia a partir de seus problemas. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2007. REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo, 1990. Vol. 1 SANTO AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999. Col. Os pensadores). SEVERINO A. J. O ensino da Filosofia: entre a estrutura e o evento. In: GALLO; S., DANELON; M., CORNELLI, G., (Org.). Ensino de Filosofia: teoria e prática. Ijuí: Unijuí, 2004, p. 101-112. SEVERINO, A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 2007 SEVERINO, A. J. Como ler um texto de filosofia. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2009. VIEIRA, W. J. Retrato atual do ensino de filosofía e o uso do texto clássico nas escolas públicas do Paraná. Revista Dialogia, São Paulo, Vol. 13, 2011, p. 73- 98. ZILLES, Urbano. Fé e razão no pensamento medieval. Porto Alegre: Edipucrs, 1993. ______Teoria do Conhecimento. Porto alegre: Edipucrs, 1995.
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