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AULA 4 - Filosofia Moderna - Racionalismo e Naturalismo

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PRÁTICA PROFISSIONAL: 
LEITURA E PRODUÇÃO DE 
TEXTOS FILOSÓFICOS 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Wilson José Vieira 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Olá, caro aluno! 
A Filosofia Moderna é caracterizada pelo racionalismo e 
pelo naturalismo e estes, por sua vez, se expressam no plano 
econômico pelo capitalismo, no religioso pelo protestantismo e no 
plano social a partir do individualismo burguês. 
Nesta aula procuraremos compreender os elementos 
constituintes da filosofia moderna, seu contexto e as chaves de 
leitura dos textos dos filósofos modernos. Buscaremos, também, 
apresentar alguns elementos que caracterizam os textos dos 
filósofos racionalistas e empiristas e do filósofo alemão Immanuel 
Kant. 
 
CONTEXTUALIZANDO 
A Filosofia Moderna se constituiu enquanto contraponto ao 
período anterior, a Filosofia Medieval. A perspectiva moderna 
apresentava a ideia de que pelo conhecimento humano, ou seja, 
pela racionalidade, em oposição a ignorância que caracterizaria o 
período medieval, seria possível a construção de uma sociedade 
justa e igualitária. 
O projeto iluminista buscava questionar a viabilidade da 
metafísica e apresentar uma nova forma de construção do mundo 
a partir do racionalismo do conhecimento científico. 
 
TEMA 1 - CONTEXTO DOS TEXTOS DA FILOSOFIA MODERNA 
A Filosofia Moderna (Séc. XVII – XVIII) caracteriza-se pelo 
antropocentrismo e pelo cosmocentrismo. As questões 
fundamentais para a reflexão filosófica passam a ser o mundo 
natural e o homem; Deus, portanto, é retirado do centro das 
atenções. 
Ao invés de ocorrer a pergunta acerca da Natureza e Deus, 
ocorre o questionamento acerca da capacidade do intelecto 
humano em conhecer e demonstrar a verdade. 
 
 
3 
Na Idade Moderna desenvolveu-se o modelo de homem 
burguês e esse homem era ambicioso, individualista, rebelde, 
prático e gastava suas energias na análise e transformação do 
mundo. 
Até a Idade Moderna, não se observava grandes 
intervenções, no sentido de transformação da natureza, ou seja, 
havia um poder muito limitado de exploração da natureza pelo 
homem. A partir do século XVII, com a Revolução Científica, 
ocorre a união entre teoria e prática, ciência e técnica – ao 
contrário do saber antigo e medieval, basicamente contemplativo 
e que via de forma negativa o trabalho manual e, portanto, a 
técnica. 
Ao contrário do saber medieval, que era contemplativo e 
que via de forma negativa o trabalho manual, a modernidade 
passa a utilizar a técnica. O homem buscou compreender o 
mundo para usufruir dele e transformá-lo em seu benefício – 
diferentemente dos antigos gregos que buscavam a harmonia da 
natureza e do medieval que buscava apenas observar e 
contemplar as ações de Deus no mundo. A Revolução Científica 
adquire as suas principais características na obra de Galileu e nas 
ideias de Bacon e Descartes. Sua máxima expressão se faz 
presente na imagem de universo concebido por Newton tal como 
uma máquina, isto é, como um relógio. 
Pode-se dizer que a ciência moderna teve início com o 
trabalho do matemático e físico inglês, considerado o criador da 
física moderna, Isaac Newton (1642-1727) na Inglaterra. Segundo 
Newton, o universo assemelha-se a um grande relógio. Neste, a 
aparência externa – o lento deslocar-se dos ponteiros – é o 
resultado do movimento de um mecanismo interno. Da mesma 
forma, todos os fenômenos naturais que observamos no mundo 
são resultantes de umas poucas leis naturais que operam sob a 
superfície das coisas. 
De um momento para outro, os cientistas viram o universo 
de um novo modo, ordenado e previsível como nunca. Com as 
 
 
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equações de Newton e a linguagem matemática, eles poderiam 
descrever e predizer o comportamento de todos os tipos de 
sistemas (Hazen, 2005, p. 28; p. 40). 
Galileu Galilei (1564-1642), italiano nascido em Pisa, foi um 
dos fundadores da ciência moderna. Para Galileu (2007), 
“O livro da natureza não pode ser lido até 
aprendermos sua linguagem e nos tornarmos 
familiares com os símbolos no qual está escrito. Ele 
está escrito em linguagem matemática, suas letras 
são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, 
sem os quais é humanamente impossível 
compreender uma única palavra e há apenas um 
vagar perdido em um labirinto escuro” 
 
A partir desta perspectiva, com base no método 
experimental, é possível chegar a certezas sobre o universo, 
independentemente da fé e da filosofia. Observa-se, assim, o 
papel desempenhado pela matemática na descrição do mundo 
físico a partir da modernidade. 
Os filósofos Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes 
(1596-1650) privilegiam o poder operativo da ciência. O homem, 
segundo ambos, passou a ser mestre e possuidor da natureza. 
Descartes, no Discurso do Método, (p. 101-102), assim expressa 
essa opinião: 
[...] em vez da filosofia especulativa ensinada nas 
escolas, pode-se encontrar uma outra, prática, pela 
qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da 
água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros 
corpos que nos cercam, tão distintamente quanto 
conhecemos os diversos ofícios, e assim nos 
tornarmos como que mestres e possuidores da 
natureza. 
 
Francis Bacon, no começo do século XVII, afirmava que a 
atuação da ciência deveria ter em vista o bem-estar do homem e 
produzir, em última análise, descobertas que facilitassem a vida 
humana na terra. Para o inglês, saber é poder. Em Nova Atlântida, 
ao criar uma cidade ideal, imagina um paraíso da técnica, onde 
seriam levadas a efeito as invenções e as descobertas de todo o 
mundo. Bacon foi um dos filósofos preferidos pela época industrial, 
 
 
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pois sua grande preocupação estava relacionada a eficácia e 
influência das descobertas científicas sobre a vida humana. 
Assim, pode-se apontar que duas foram orientações ou 
perspectivas quanto ao alcance e obtenção do conhecimento na 
filosofia moderna: 
 Racionalismo Idealista: o conhecimento apenas é 
possível pelo intelecto, ou seja, mediante a apreensão 
do próprio pensamento. 
 Racionalismo Empirista: o conhecimento se dá a partir 
das impressões sensíveis. 
 
TEMA 2 - CHAVES DE LEITURA DE TEXTOS DO 
RACIONALISMO 
Conforme apontado anteriormente, durante a Idade 
Moderna a busca central foi garantir uma forma de se chegar a um 
conhecimento seguro e verdadeiro a respeito de tudo o que existe. 
Com o desmoronamento das bases teológicas medievais, como 
garantir a verdade? Qual o caminho, qual o critério, qual a base, 
qual o fundamento seguro para garantir a certeza? 
Esse período é marcado pela busca de um caminho que 
forneça a verdade para toda e qualquer ciência. A reflexão 
filosófica passa a tratar de sua real capacidade de conhecer, do 
sujeito do conhecimento. Qual a capacidade do intelecto humano 
em conhecer e demonstrar a verdade do conhecimento? 
 
A questão central tratada pela filosofia na Idade Moderna 
foi a questão do método (caminho) e encontrar o caminho, a 
maneira correta de se chegar a verdade foi o elemento central 
desse período denominado também de grande racionalismo 
clássico. O inaugurador dessa busca foi o filósofo francês René 
Descartes. 
René Descartes (também conhecido por seu nome latino 
Renatus Cartesius) nasceu em 1536, em La Haye, na França. Era 
 
 
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de origem nobre e realizou seus estudos no importante colégio 
jesuíta de La Flèche. Recebeu nesse colégio uma sólida formação 
filosófica e científica. Descartes se mostrou com o tempo muito 
insatisfeito com o tipo de ensino ministrado nesse colégio e em 
1612 o abandonou. Fez na Universidade de Poitiers o curso de 
Direito e, posteriormente, se alistou em diferentes exércitos com o 
objetivo de viajar e conhecer o mundo. 
No ano de 1625, mudou-se para a Holanda, pois queria 
viver longe das distrações de Paris e para evitar problemas com a 
Inquisição. Em 1649, foi morar na Suécia a convite da rainha, 
Cristina; porém,
encontrou um clima desfavorável a sua saúde que 
era muito delicada e, em fevereiro de 1650, acabou morrendo de 
pneumonia. Suas principais obras foram: O discurso do método, 
As meditações metafísicas, Os princípios de filosofia, O tratado do 
homem e O tratado do mundo, Regras para a direção do espírito. 
O objetivo central de Descartes era o de reformar a ciência 
e encontrar a verdade e para isso buscava se apoiar unicamente 
na razão. Procurar o verdadeiro método para se chegar ao 
verdadeiro conhecimento de todas as coisas. Ele foi responsável 
por uma transformação profunda na filosofia, pois alterou o 
fundamento do saber. Se na Idade Média a base do saber estava 
em Deus e no Ser, a partir de Descartes o saber passa a ser 
centralizado no homem e na racionalidade humana. Para ele o não 
desenvolvimento científico e filosófico se devia ao emprego de 
métodos pouco produtivos, estéreis. 
Era necessário encontrar “regras certas e fáceis, que sendo 
observadas exatamente por quem quer que seja, tornem 
impossível tomar o falso por verdadeiro e, sem qualquer esforço 
mental inútil, mas aumentando sempre gradualmente a ciência, 
levem ao conhecimento verdadeiro de tudo o que se é capaz de 
conhecer”. 
Descartes elaborou quatro regras para se chegar com 
maior facilidade ao conhecimento das coisas e de maneira segura. 
As regras são as seguintes: 
 
 
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Regra da evidência 
Não aceitar no pensamento, em meus juízos nada além 
daquilo que se apresenta à minha inteligência tão clara e 
distintamente que exclua qualquer possibilidade de dúvida. 
 
Regra da divisão ou análise 
É necessário dividir cada problema que se estuda em tantas 
partes menores quantas for possível e necessário para melhor 
resolvê-lo. 
 
Regra da ordem 
Conduzir os pensamentos em ordem, iniciando dos objetos 
mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir aos poucos, 
como por degraus, ao conhecimento dos mais complexos, e 
supondo uma ordem também entre aqueles dos quais uns não 
procedem naturalmente dos outros. 
 
Regra da enumeração 
Para impedir qualquer precipitação, mãe de todos os erros, 
é preciso verificar cada uma das regras anteriores. Realizar 
sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais a ponto 
de se ficar seguro de não ter omitido nada. 
Descartes procurou desenvolver sua filosofia tendo como 
princípio a busca de uma verdade primeira, um elemento básico 
fundante e que não pudesse ser colocado em dúvida. Assim, 
utilizou as regras de seu método para atingir algo que fosse 
verdadeiro. A questão era: como chegar a essa verdade primeira? 
A saída encontrada pelo filósofo francês utilizar a dúvida como 
método – uma dúvida que pudesse levar à verdade. Qual seria a 
verdade não sujeita à dúvida? Existiria uma verdade fonte de 
todas as outras verdades? 
Também observou que ao utilizar as regras ao saber obtido 
por ele na escola, ao saber tradicional, não encontrou nada de 
positivo, verdade alguma. Para ele o saber tradicional estava 
 
 
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fundamentado nos sentidos e não se deve confiar nos sentidos. O 
mesmo observou quanto ao saber matemático. O conhecimento 
matemático parece indubitável, pois válido em qualquer 
circunstância (2+2=4) mas, o que nos impede de pensar que 
exista um “gênio maligno” enganador que nos leva a considerar 
coisas falsas como sendo verdadeiras? 
“Suponho que todas as coisas que vejo sejam falsas. 
Fixo-me bem na mente que nada existiu de tudo 
aquilo que minha memória, cheia de mentiras, me 
representa; penso não ter sentido algum; creio que o 
corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar não 
são nada mais do que invenções do meu espírito. 
Então o que poderá ser reputado verdadeiro? Talvez 
nada mais além do fato de que não há nada certo no 
mundo”. 
DESCARTES, René. Discurso do método. São 
Paulo, Ed. Nova Cultural, 1999. 
 
TEMA 3 - CHAVES DE LEITURA DOS TEXTOS DO EMPIRISMO 
O filósofo inglês Francis Bacon (1561 – 1626), é 
considerado o primeiro dos filósofos modernos e o último dos 
antigos, também o inventor do método experimental e o fundador 
da ciência moderna e do empirismo. A frase mais conhecida ou 
máxima da filosofia de Bacon é “Saber é poder”. 
Bacon era contrário à filosofia de Aristóteles, pois para ele 
tal filosofia era estéril quanto ao método. Era uma filosofia 
apropriada para disputas e contendas; porém, infrutífera para a 
produção de obras que beneficiassem a existência humana. Os 
filósofos escolásticos, segundo Bacon, possuíam inteligências 
fortes e agudas, mas estavam fechados nas celas dos mosteiros 
e universidades e mais emperravam as ciências que as 
desenvolviam. Os escolásticos eram os platônicos de todas as 
épocas e eram comparados pelo autor a aranhas que tecem suas 
teias maravilhosas, mas permanecem alheios à realidade. 
A principal obra de Bacon foi o Novum Organum (1627). 
Nessa obra desenvolveu o novo método científico e a defesa da 
lógica indutiva, também expressou entusiasmo pela técnica, 
afirmando que as descobertas da pólvora, da imprensa e da 
 
 
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bússola mudariam o desenvolvimento das coisas em todo o 
mundo. Bacon propôs uma reforma do conhecimento humano 
tendo em vista aquilo que servisse ao uso da vida. 
Na sua obra mais famosa, Novum Organum, o filósofo 
inglês pretende dar instruções verdadeiras para interpretar a 
natureza, pois para ele todo conhecimento humano é derivado da 
experiência. Nessa época, a Inglaterra começava a se transformar 
em potência política e econômica; Bacon compreendeu tais 
mudanças e propôs diretivas para realizá-las com um novo 
método, revolucionário. 
É preciso ser escravo e intérprete da natureza; quer dizer, 
a natureza nos ensina tudo o que há para ser aprendido de fato e 
pelo pensamento. Essa submissão aos fatos não se dá pela pura 
atividade intelectual, mas pelo trabalho prático. 
Conhecimento é poder: chegar às causas dos 
acontecimentos pelos efeitos produzidos significa obedecer 
às leis da natureza para obter resultados. 
Para Bacon, todo erro nos juízos formulados pela razão 
humana são gerados por erros psicológicos e pela não existência 
de um método que guie o intelecto, por isso, deve-se criar um 
método rigoroso que impeça esses erros de raciocínio. O 
desenvolvimento da ciência pode ocorrer mediante o uso do 
método experimental com a utilização de um método rigoroso. 
Para estudar o calor seria necessário elaborar uma tabela 
com a descrição minuciosa das várias circunstâncias em que ele 
se verifica (raios do Sol, o sangue nos corpos, no ferro exposto ao 
fogo etc.). Além dessa tabela, seria necessário também analisar 
onde não ocorre o fenômeno do calor (raios da lua, sangue dos 
cadáveres, madeira etc.). Após observar e analisar os fenômenos 
deve-se comparar os casos de ocorrência e não ocorrência do 
fenômeno, para se estabelecer as relações possíveis entre as 
duas tabelas, verificando em que casos o calor acontece e como 
acontece. O exame minucioso de vários casos particulares e da 
relação entre eles permite a formulação de uma conclusão geral. 
 
 
10 
Por exemplo: o calor aquece o ferro, o alumínio e o cobre. Ferro, 
alumínio e cobre têm em comum serem metais, logo, todos os 
metais são bons condutores de calor. Essa conclusão geral 
denomina-se indução. Esse método substitui o método dedutivo 
da lógica aristotélica, na construção de raciocínios sobre as leis 
que regem os fenômenos naturais. 
 
Calor é uma energia térmica que se propaga de um corpo 
com maior temperatura para um de menor temperatura. Essa 
propagação ocorre de três maneiras: condução, convecção e 
irradiação. 
Bacon aponta que essas experiências cuidadosas não 
existem apenas para aprimorar o conhecimento, mas representam 
a possibilidade de o homem conhecer e utilizar as forças da 
natureza. Nesse sentido, a ciência deixa de ser apenas uma 
especulação contemplativa e passa a ser de grande utilidade para 
o homem,
já que é mediante o conhecimento que o homem passa 
a conhecer e a dominar a natureza, bem como a colocá-la a seu 
serviço. Conhecer cientificamente passa a ser conhecer a 
possibilidade da manipulação dos fenômenos. Conhecer 
passa a ser poder. Para Bacon conhecer é poder. Sua intenção 
 
 
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era construir um método científico rigoroso, útil e real para o 
homem, e não uma contemplação utópica, claramente uma crítica 
aos escolásticos. 
Com a Revolução Industrial no século XVIII, as teorias 
científicas e técnicas passaram a estreitar as relações de 
dependência mútua. A técnica passa a ter um poder enorme sobre 
a realidade que chega ao ponto de se pensar em mecanismos de 
controle para pesquisas científicas. 
Os gregos, com efeito, possuem o que é próprio das 
crianças: estão sempre prontos para tagarelar, mas 
são incapazes de gerar, pois, a sua sabedoria é farta 
em palavras, mas estéril de obras. Aí está por que não 
se mostram favoráveis os signos que se observam na 
gente e na fonte de que provém a filosofia ora em uso. 
BACON, Francis. Coleção Os Pensadores. Ed. 
Nova Cultural, 1999, São Paulo, p. 33-98. 
 
TEMA 4 - CHAVES DE LEITURA TEXTOS DE KANT 
No ano de 1770 Kant escreveu uma dissertação intitulada 
Acerca da Forma e dos Princípios do Mundo Sensível e Inteligível. 
Kant tinha à época 46 anos. Já era conhecido do público alemão 
pelos escritos filosóficos que tinha publicado. Com a dissertação 
ele ganhou o posto de professor de Lógica e Metafísica da 
Universidade de Königsberg. Nessa obra ele postula uma 
diferença entre dois tipos de conhecimento: 
 Conhecimento sensível 
O sujeito recebe “impressões” dos objetos. Nessa forma de 
conhecimento o sujeito lida com as aparências dos objetos ou com 
o que Kant chama de “fenômenos”. Exemplo disso são os 
conceitos que temos de “calor” ou “frio”. São todos obtidos pela 
experiência, mas há dimensões desses conceitos que nunca 
experimentamos. Por exemplo, existe uma quantidade de calor no 
Sol cuja temperatura somos incapazes de experimentar, existem 
dimensões no espaço cósmico que jamais veremos etc. Eis 
porque pode-se dizer que os dados que temos sobre calor, frio, 
espaço etc. são fenômenos, aparências que captamos pela 
 
 
12 
experiência: todo fenômeno é uma experiência sensível limitada 
ao sujeito que percebe. 
 Conhecimento Inteligível 
É a capacidade que o sujeito tem de “representar” as coisas 
conceitualmente, isto é, representar os dados que não podem ser 
captados pelos sentidos. Exemplo: se você definir um quadrado 
como “objeto que possui quatro lados”, a propriedade “quatro 
lados” é claramente obtida por sua experiência no contato com 
objetos dessa dimensão. Mas o mesmo não ocorre com o conceito 
“possibilidade”. Você não encontra no mundo nada que possa ser 
identificado com esse conceito. Trata-se de um conceito abstrato, 
inteligível, cuja propriedade é definida inteiramente pelo 
pensamento (PARANÁ, 2007, p. 59). 
A posição crítica foi desenvolvida pelo filósofo alemão 
Immanuel Kant (1724-1804) e apresenta-se como uma tentativa 
de solucionar o impasse entre dogmatismo e ceticismo. O 
criticismo, tal como no dogmatismo, aponta para a possibilidade 
de conhecimento, porém pergunta-se pelas condições, 
circunstancias, fatores deste conhecimento: “o que é conhecer?”. 
Kant distingue o que se pode do que não se pode conhecer. 
O criticismo reconhece a possibilidade do conhecimento, porém 
define o que pode e o que não pode ser conhecido, ou seja, 
estabelece os limites para o conhecimento humano. A proposta 
fundamental do criticismo é o exame das condições necessárias, 
da extensão e dos limites do conhecimento. 
A perspectiva crítica parte da suposição de que o 
conhecimento se inicia com a impressão sensível, porém, existem 
condições elementares, básicas para adquirir o conhecimento. 
Quando, por exemplo, se observa que a luz solar aquece uma 
rocha a primeira experiência que temos é a visual, e experiência. 
A produção do entendimento, a compreensão intelectual da 
coisa, do acontecimento é a união da experiência com a 
observação do sujeito. Todo conhecimento inicia com a 
experiência, mas que a experiência somente não nos dá o 
 
 
13 
conhecimento. É preciso a ação do sujeito para colocar em ordem 
os elementos da experiência. 
 
KANT – CRÍTICA DA RAZÃO PURA 
Introdução 
“Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa 
com a experiência; do contrário, por meio do que a faculdade do 
conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão 
através de objetos que toquem nossos sentidos e em parte 
produzem por si próprios representações, em parte põem em 
movimento a atividade do nosso entendimento para compará-las, 
conectá-las, ou separá-las e, desse modo, assimilar a matéria 
bruta das impressões sensíveis a um conhecimento dos objetos 
que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum 
conhecimento em nós precede a experiência, e todo o 
conhecimento começa com ela. 
Mas embora todo o nosso conhecimento comece com a 
experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da 
experiência” (CRP, p. 23). 
1ª Parte 
“Seja qual for o modo e sejam quais forem os meios pelos 
quais um conhecimento possa referir-se a objetos, a intuição é o 
modo como se refere imediatamente aos mesmos e ao qual tende 
como um meio todo o pensamento. Contudo, essa intuição só 
acontece na medida em que o objeto nos for dado; a nós homens 
pelo menos, isto só é por sua vez possível pelo fato do objeto 
afetar a mente de certa maneira. A capacidade (receptividade) de 
obter representações mediante o modo como somos afetados por 
objetos denomina-se sensibilidade. Portanto, pela sensibilidade 
nos são dados objetos e apenas ela nos fornece intuições; pelo 
entendimento, ao invés, os objetos são pensados e dele se 
originam conceitos” (CRP, p. 39). 
 
 
14 
2ª Parte 
“Denominamos sensibilidade a receptividade de nossa 
mente receber representações na medida em que é afetada de 
algum modo; em contrapartida, denominamos entendimento ou 
espontaneidade do conhecimento a faculdade do próprio 
entendimento produzir representações. A nossa natureza é 
constituída de um modo tal que a intuição não pode ser senão 
sensível, isto é, contém somente o modo como somos afetados 
por objetos. Frente a isto, o entendimento é a faculdade de pensar 
o objeto da intuição sensível. Nenhuma dessas propriedades deve 
ser preferida à outra. Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria 
dado, e sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos 
sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas. 
Portanto, tanto é necessário tornar os conhecimentos sensíveis 
(isto é, acrescentar-lhes o objeto na intuição) quanto tornar as 
suas intuições compreensíveis (isto é, pô-las sob conceitos). Estas 
duas faculdades ou capacidades também não podem trocar as 
suas funções. O entendimento nada pode intuir e os sentidos nada 
pensar. O conhecimento só pode surgir da sua reunião” (CRP, p. 
57). 
 
TROCANDO IDEIAS 
Qual a real capacidade do intelecto humano em conhecer e 
apresentar evidências da verdade do conhecimento? 
Como o intelecto conhece ou pode conhecer aquilo que é 
diferente dele? 
Qual a real capacidade do intelecto humano em conhecer o 
mundo? 
Junte-se a seus colegas no fórum desta disciplina 
(disponível no AVA) e busque responder a essas perguntas! 
 
 
 
 
 
15 
NA PRÁTICA 
As preocupações centrais da filosofia antiga e medieval 
eram de ordem ontológica e as preocupações da filosofia 
moderna eram de ordem epistemológica. 
A partir da frase acima, elabore um texto com as principais 
diferenças entre a filosofia antiga e medieval da filosofia moderna! 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: 
Martins Fontes, 1998. 
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J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia 
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ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Introdução à 
Filosofia. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2009. 
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando – 
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BACON, F. Novum organum ou verdadeiras indicações 
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1988. (Os pensadores). 
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NASCIMENTO, C. A. R. Para ler Galileu Galilei. São Paulo: Nova 
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