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PRÁTICA PROFISSIONAL: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS FILOSÓFICOS AULA 4 Prof. Wilson José Vieira 2 CONVERSA INICIAL Olá, caro aluno! A Filosofia Moderna é caracterizada pelo racionalismo e pelo naturalismo e estes, por sua vez, se expressam no plano econômico pelo capitalismo, no religioso pelo protestantismo e no plano social a partir do individualismo burguês. Nesta aula procuraremos compreender os elementos constituintes da filosofia moderna, seu contexto e as chaves de leitura dos textos dos filósofos modernos. Buscaremos, também, apresentar alguns elementos que caracterizam os textos dos filósofos racionalistas e empiristas e do filósofo alemão Immanuel Kant. CONTEXTUALIZANDO A Filosofia Moderna se constituiu enquanto contraponto ao período anterior, a Filosofia Medieval. A perspectiva moderna apresentava a ideia de que pelo conhecimento humano, ou seja, pela racionalidade, em oposição a ignorância que caracterizaria o período medieval, seria possível a construção de uma sociedade justa e igualitária. O projeto iluminista buscava questionar a viabilidade da metafísica e apresentar uma nova forma de construção do mundo a partir do racionalismo do conhecimento científico. TEMA 1 - CONTEXTO DOS TEXTOS DA FILOSOFIA MODERNA A Filosofia Moderna (Séc. XVII – XVIII) caracteriza-se pelo antropocentrismo e pelo cosmocentrismo. As questões fundamentais para a reflexão filosófica passam a ser o mundo natural e o homem; Deus, portanto, é retirado do centro das atenções. Ao invés de ocorrer a pergunta acerca da Natureza e Deus, ocorre o questionamento acerca da capacidade do intelecto humano em conhecer e demonstrar a verdade. 3 Na Idade Moderna desenvolveu-se o modelo de homem burguês e esse homem era ambicioso, individualista, rebelde, prático e gastava suas energias na análise e transformação do mundo. Até a Idade Moderna, não se observava grandes intervenções, no sentido de transformação da natureza, ou seja, havia um poder muito limitado de exploração da natureza pelo homem. A partir do século XVII, com a Revolução Científica, ocorre a união entre teoria e prática, ciência e técnica – ao contrário do saber antigo e medieval, basicamente contemplativo e que via de forma negativa o trabalho manual e, portanto, a técnica. Ao contrário do saber medieval, que era contemplativo e que via de forma negativa o trabalho manual, a modernidade passa a utilizar a técnica. O homem buscou compreender o mundo para usufruir dele e transformá-lo em seu benefício – diferentemente dos antigos gregos que buscavam a harmonia da natureza e do medieval que buscava apenas observar e contemplar as ações de Deus no mundo. A Revolução Científica adquire as suas principais características na obra de Galileu e nas ideias de Bacon e Descartes. Sua máxima expressão se faz presente na imagem de universo concebido por Newton tal como uma máquina, isto é, como um relógio. Pode-se dizer que a ciência moderna teve início com o trabalho do matemático e físico inglês, considerado o criador da física moderna, Isaac Newton (1642-1727) na Inglaterra. Segundo Newton, o universo assemelha-se a um grande relógio. Neste, a aparência externa – o lento deslocar-se dos ponteiros – é o resultado do movimento de um mecanismo interno. Da mesma forma, todos os fenômenos naturais que observamos no mundo são resultantes de umas poucas leis naturais que operam sob a superfície das coisas. De um momento para outro, os cientistas viram o universo de um novo modo, ordenado e previsível como nunca. Com as 4 equações de Newton e a linguagem matemática, eles poderiam descrever e predizer o comportamento de todos os tipos de sistemas (Hazen, 2005, p. 28; p. 40). Galileu Galilei (1564-1642), italiano nascido em Pisa, foi um dos fundadores da ciência moderna. Para Galileu (2007), “O livro da natureza não pode ser lido até aprendermos sua linguagem e nos tornarmos familiares com os símbolos no qual está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática, suas letras são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem os quais é humanamente impossível compreender uma única palavra e há apenas um vagar perdido em um labirinto escuro” A partir desta perspectiva, com base no método experimental, é possível chegar a certezas sobre o universo, independentemente da fé e da filosofia. Observa-se, assim, o papel desempenhado pela matemática na descrição do mundo físico a partir da modernidade. Os filósofos Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes (1596-1650) privilegiam o poder operativo da ciência. O homem, segundo ambos, passou a ser mestre e possuidor da natureza. Descartes, no Discurso do Método, (p. 101-102), assim expressa essa opinião: [...] em vez da filosofia especulativa ensinada nas escolas, pode-se encontrar uma outra, prática, pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente quanto conhecemos os diversos ofícios, e assim nos tornarmos como que mestres e possuidores da natureza. Francis Bacon, no começo do século XVII, afirmava que a atuação da ciência deveria ter em vista o bem-estar do homem e produzir, em última análise, descobertas que facilitassem a vida humana na terra. Para o inglês, saber é poder. Em Nova Atlântida, ao criar uma cidade ideal, imagina um paraíso da técnica, onde seriam levadas a efeito as invenções e as descobertas de todo o mundo. Bacon foi um dos filósofos preferidos pela época industrial, 5 pois sua grande preocupação estava relacionada a eficácia e influência das descobertas científicas sobre a vida humana. Assim, pode-se apontar que duas foram orientações ou perspectivas quanto ao alcance e obtenção do conhecimento na filosofia moderna: Racionalismo Idealista: o conhecimento apenas é possível pelo intelecto, ou seja, mediante a apreensão do próprio pensamento. Racionalismo Empirista: o conhecimento se dá a partir das impressões sensíveis. TEMA 2 - CHAVES DE LEITURA DE TEXTOS DO RACIONALISMO Conforme apontado anteriormente, durante a Idade Moderna a busca central foi garantir uma forma de se chegar a um conhecimento seguro e verdadeiro a respeito de tudo o que existe. Com o desmoronamento das bases teológicas medievais, como garantir a verdade? Qual o caminho, qual o critério, qual a base, qual o fundamento seguro para garantir a certeza? Esse período é marcado pela busca de um caminho que forneça a verdade para toda e qualquer ciência. A reflexão filosófica passa a tratar de sua real capacidade de conhecer, do sujeito do conhecimento. Qual a capacidade do intelecto humano em conhecer e demonstrar a verdade do conhecimento? A questão central tratada pela filosofia na Idade Moderna foi a questão do método (caminho) e encontrar o caminho, a maneira correta de se chegar a verdade foi o elemento central desse período denominado também de grande racionalismo clássico. O inaugurador dessa busca foi o filósofo francês René Descartes. René Descartes (também conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius) nasceu em 1536, em La Haye, na França. Era 6 de origem nobre e realizou seus estudos no importante colégio jesuíta de La Flèche. Recebeu nesse colégio uma sólida formação filosófica e científica. Descartes se mostrou com o tempo muito insatisfeito com o tipo de ensino ministrado nesse colégio e em 1612 o abandonou. Fez na Universidade de Poitiers o curso de Direito e, posteriormente, se alistou em diferentes exércitos com o objetivo de viajar e conhecer o mundo. No ano de 1625, mudou-se para a Holanda, pois queria viver longe das distrações de Paris e para evitar problemas com a Inquisição. Em 1649, foi morar na Suécia a convite da rainha, Cristina; porém, encontrou um clima desfavorável a sua saúde que era muito delicada e, em fevereiro de 1650, acabou morrendo de pneumonia. Suas principais obras foram: O discurso do método, As meditações metafísicas, Os princípios de filosofia, O tratado do homem e O tratado do mundo, Regras para a direção do espírito. O objetivo central de Descartes era o de reformar a ciência e encontrar a verdade e para isso buscava se apoiar unicamente na razão. Procurar o verdadeiro método para se chegar ao verdadeiro conhecimento de todas as coisas. Ele foi responsável por uma transformação profunda na filosofia, pois alterou o fundamento do saber. Se na Idade Média a base do saber estava em Deus e no Ser, a partir de Descartes o saber passa a ser centralizado no homem e na racionalidade humana. Para ele o não desenvolvimento científico e filosófico se devia ao emprego de métodos pouco produtivos, estéreis. Era necessário encontrar “regras certas e fáceis, que sendo observadas exatamente por quem quer que seja, tornem impossível tomar o falso por verdadeiro e, sem qualquer esforço mental inútil, mas aumentando sempre gradualmente a ciência, levem ao conhecimento verdadeiro de tudo o que se é capaz de conhecer”. Descartes elaborou quatro regras para se chegar com maior facilidade ao conhecimento das coisas e de maneira segura. As regras são as seguintes: 7 Regra da evidência Não aceitar no pensamento, em meus juízos nada além daquilo que se apresenta à minha inteligência tão clara e distintamente que exclua qualquer possibilidade de dúvida. Regra da divisão ou análise É necessário dividir cada problema que se estuda em tantas partes menores quantas for possível e necessário para melhor resolvê-lo. Regra da ordem Conduzir os pensamentos em ordem, iniciando dos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, ao conhecimento dos mais complexos, e supondo uma ordem também entre aqueles dos quais uns não procedem naturalmente dos outros. Regra da enumeração Para impedir qualquer precipitação, mãe de todos os erros, é preciso verificar cada uma das regras anteriores. Realizar sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais a ponto de se ficar seguro de não ter omitido nada. Descartes procurou desenvolver sua filosofia tendo como princípio a busca de uma verdade primeira, um elemento básico fundante e que não pudesse ser colocado em dúvida. Assim, utilizou as regras de seu método para atingir algo que fosse verdadeiro. A questão era: como chegar a essa verdade primeira? A saída encontrada pelo filósofo francês utilizar a dúvida como método – uma dúvida que pudesse levar à verdade. Qual seria a verdade não sujeita à dúvida? Existiria uma verdade fonte de todas as outras verdades? Também observou que ao utilizar as regras ao saber obtido por ele na escola, ao saber tradicional, não encontrou nada de positivo, verdade alguma. Para ele o saber tradicional estava 8 fundamentado nos sentidos e não se deve confiar nos sentidos. O mesmo observou quanto ao saber matemático. O conhecimento matemático parece indubitável, pois válido em qualquer circunstância (2+2=4) mas, o que nos impede de pensar que exista um “gênio maligno” enganador que nos leva a considerar coisas falsas como sendo verdadeiras? “Suponho que todas as coisas que vejo sejam falsas. Fixo-me bem na mente que nada existiu de tudo aquilo que minha memória, cheia de mentiras, me representa; penso não ter sentido algum; creio que o corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar não são nada mais do que invenções do meu espírito. Então o que poderá ser reputado verdadeiro? Talvez nada mais além do fato de que não há nada certo no mundo”. DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo, Ed. Nova Cultural, 1999. TEMA 3 - CHAVES DE LEITURA DOS TEXTOS DO EMPIRISMO O filósofo inglês Francis Bacon (1561 – 1626), é considerado o primeiro dos filósofos modernos e o último dos antigos, também o inventor do método experimental e o fundador da ciência moderna e do empirismo. A frase mais conhecida ou máxima da filosofia de Bacon é “Saber é poder”. Bacon era contrário à filosofia de Aristóteles, pois para ele tal filosofia era estéril quanto ao método. Era uma filosofia apropriada para disputas e contendas; porém, infrutífera para a produção de obras que beneficiassem a existência humana. Os filósofos escolásticos, segundo Bacon, possuíam inteligências fortes e agudas, mas estavam fechados nas celas dos mosteiros e universidades e mais emperravam as ciências que as desenvolviam. Os escolásticos eram os platônicos de todas as épocas e eram comparados pelo autor a aranhas que tecem suas teias maravilhosas, mas permanecem alheios à realidade. A principal obra de Bacon foi o Novum Organum (1627). Nessa obra desenvolveu o novo método científico e a defesa da lógica indutiva, também expressou entusiasmo pela técnica, afirmando que as descobertas da pólvora, da imprensa e da 9 bússola mudariam o desenvolvimento das coisas em todo o mundo. Bacon propôs uma reforma do conhecimento humano tendo em vista aquilo que servisse ao uso da vida. Na sua obra mais famosa, Novum Organum, o filósofo inglês pretende dar instruções verdadeiras para interpretar a natureza, pois para ele todo conhecimento humano é derivado da experiência. Nessa época, a Inglaterra começava a se transformar em potência política e econômica; Bacon compreendeu tais mudanças e propôs diretivas para realizá-las com um novo método, revolucionário. É preciso ser escravo e intérprete da natureza; quer dizer, a natureza nos ensina tudo o que há para ser aprendido de fato e pelo pensamento. Essa submissão aos fatos não se dá pela pura atividade intelectual, mas pelo trabalho prático. Conhecimento é poder: chegar às causas dos acontecimentos pelos efeitos produzidos significa obedecer às leis da natureza para obter resultados. Para Bacon, todo erro nos juízos formulados pela razão humana são gerados por erros psicológicos e pela não existência de um método que guie o intelecto, por isso, deve-se criar um método rigoroso que impeça esses erros de raciocínio. O desenvolvimento da ciência pode ocorrer mediante o uso do método experimental com a utilização de um método rigoroso. Para estudar o calor seria necessário elaborar uma tabela com a descrição minuciosa das várias circunstâncias em que ele se verifica (raios do Sol, o sangue nos corpos, no ferro exposto ao fogo etc.). Além dessa tabela, seria necessário também analisar onde não ocorre o fenômeno do calor (raios da lua, sangue dos cadáveres, madeira etc.). Após observar e analisar os fenômenos deve-se comparar os casos de ocorrência e não ocorrência do fenômeno, para se estabelecer as relações possíveis entre as duas tabelas, verificando em que casos o calor acontece e como acontece. O exame minucioso de vários casos particulares e da relação entre eles permite a formulação de uma conclusão geral. 10 Por exemplo: o calor aquece o ferro, o alumínio e o cobre. Ferro, alumínio e cobre têm em comum serem metais, logo, todos os metais são bons condutores de calor. Essa conclusão geral denomina-se indução. Esse método substitui o método dedutivo da lógica aristotélica, na construção de raciocínios sobre as leis que regem os fenômenos naturais. Calor é uma energia térmica que se propaga de um corpo com maior temperatura para um de menor temperatura. Essa propagação ocorre de três maneiras: condução, convecção e irradiação. Bacon aponta que essas experiências cuidadosas não existem apenas para aprimorar o conhecimento, mas representam a possibilidade de o homem conhecer e utilizar as forças da natureza. Nesse sentido, a ciência deixa de ser apenas uma especulação contemplativa e passa a ser de grande utilidade para o homem, já que é mediante o conhecimento que o homem passa a conhecer e a dominar a natureza, bem como a colocá-la a seu serviço. Conhecer cientificamente passa a ser conhecer a possibilidade da manipulação dos fenômenos. Conhecer passa a ser poder. Para Bacon conhecer é poder. Sua intenção 11 era construir um método científico rigoroso, útil e real para o homem, e não uma contemplação utópica, claramente uma crítica aos escolásticos. Com a Revolução Industrial no século XVIII, as teorias científicas e técnicas passaram a estreitar as relações de dependência mútua. A técnica passa a ter um poder enorme sobre a realidade que chega ao ponto de se pensar em mecanismos de controle para pesquisas científicas. Os gregos, com efeito, possuem o que é próprio das crianças: estão sempre prontos para tagarelar, mas são incapazes de gerar, pois, a sua sabedoria é farta em palavras, mas estéril de obras. Aí está por que não se mostram favoráveis os signos que se observam na gente e na fonte de que provém a filosofia ora em uso. BACON, Francis. Coleção Os Pensadores. Ed. Nova Cultural, 1999, São Paulo, p. 33-98. TEMA 4 - CHAVES DE LEITURA TEXTOS DE KANT No ano de 1770 Kant escreveu uma dissertação intitulada Acerca da Forma e dos Princípios do Mundo Sensível e Inteligível. Kant tinha à época 46 anos. Já era conhecido do público alemão pelos escritos filosóficos que tinha publicado. Com a dissertação ele ganhou o posto de professor de Lógica e Metafísica da Universidade de Königsberg. Nessa obra ele postula uma diferença entre dois tipos de conhecimento: Conhecimento sensível O sujeito recebe “impressões” dos objetos. Nessa forma de conhecimento o sujeito lida com as aparências dos objetos ou com o que Kant chama de “fenômenos”. Exemplo disso são os conceitos que temos de “calor” ou “frio”. São todos obtidos pela experiência, mas há dimensões desses conceitos que nunca experimentamos. Por exemplo, existe uma quantidade de calor no Sol cuja temperatura somos incapazes de experimentar, existem dimensões no espaço cósmico que jamais veremos etc. Eis porque pode-se dizer que os dados que temos sobre calor, frio, espaço etc. são fenômenos, aparências que captamos pela 12 experiência: todo fenômeno é uma experiência sensível limitada ao sujeito que percebe. Conhecimento Inteligível É a capacidade que o sujeito tem de “representar” as coisas conceitualmente, isto é, representar os dados que não podem ser captados pelos sentidos. Exemplo: se você definir um quadrado como “objeto que possui quatro lados”, a propriedade “quatro lados” é claramente obtida por sua experiência no contato com objetos dessa dimensão. Mas o mesmo não ocorre com o conceito “possibilidade”. Você não encontra no mundo nada que possa ser identificado com esse conceito. Trata-se de um conceito abstrato, inteligível, cuja propriedade é definida inteiramente pelo pensamento (PARANÁ, 2007, p. 59). A posição crítica foi desenvolvida pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) e apresenta-se como uma tentativa de solucionar o impasse entre dogmatismo e ceticismo. O criticismo, tal como no dogmatismo, aponta para a possibilidade de conhecimento, porém pergunta-se pelas condições, circunstancias, fatores deste conhecimento: “o que é conhecer?”. Kant distingue o que se pode do que não se pode conhecer. O criticismo reconhece a possibilidade do conhecimento, porém define o que pode e o que não pode ser conhecido, ou seja, estabelece os limites para o conhecimento humano. A proposta fundamental do criticismo é o exame das condições necessárias, da extensão e dos limites do conhecimento. A perspectiva crítica parte da suposição de que o conhecimento se inicia com a impressão sensível, porém, existem condições elementares, básicas para adquirir o conhecimento. Quando, por exemplo, se observa que a luz solar aquece uma rocha a primeira experiência que temos é a visual, e experiência. A produção do entendimento, a compreensão intelectual da coisa, do acontecimento é a união da experiência com a observação do sujeito. Todo conhecimento inicia com a experiência, mas que a experiência somente não nos dá o 13 conhecimento. É preciso a ação do sujeito para colocar em ordem os elementos da experiência. KANT – CRÍTICA DA RAZÃO PURA Introdução “Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência; do contrário, por meio do que a faculdade do conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através de objetos que toquem nossos sentidos e em parte produzem por si próprios representações, em parte põem em movimento a atividade do nosso entendimento para compará-las, conectá-las, ou separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo o conhecimento começa com ela. Mas embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência” (CRP, p. 23). 1ª Parte “Seja qual for o modo e sejam quais forem os meios pelos quais um conhecimento possa referir-se a objetos, a intuição é o modo como se refere imediatamente aos mesmos e ao qual tende como um meio todo o pensamento. Contudo, essa intuição só acontece na medida em que o objeto nos for dado; a nós homens pelo menos, isto só é por sua vez possível pelo fato do objeto afetar a mente de certa maneira. A capacidade (receptividade) de obter representações mediante o modo como somos afetados por objetos denomina-se sensibilidade. Portanto, pela sensibilidade nos são dados objetos e apenas ela nos fornece intuições; pelo entendimento, ao invés, os objetos são pensados e dele se originam conceitos” (CRP, p. 39). 14 2ª Parte “Denominamos sensibilidade a receptividade de nossa mente receber representações na medida em que é afetada de algum modo; em contrapartida, denominamos entendimento ou espontaneidade do conhecimento a faculdade do próprio entendimento produzir representações. A nossa natureza é constituída de um modo tal que a intuição não pode ser senão sensível, isto é, contém somente o modo como somos afetados por objetos. Frente a isto, o entendimento é a faculdade de pensar o objeto da intuição sensível. Nenhuma dessas propriedades deve ser preferida à outra. Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas. Portanto, tanto é necessário tornar os conhecimentos sensíveis (isto é, acrescentar-lhes o objeto na intuição) quanto tornar as suas intuições compreensíveis (isto é, pô-las sob conceitos). Estas duas faculdades ou capacidades também não podem trocar as suas funções. O entendimento nada pode intuir e os sentidos nada pensar. O conhecimento só pode surgir da sua reunião” (CRP, p. 57). TROCANDO IDEIAS Qual a real capacidade do intelecto humano em conhecer e apresentar evidências da verdade do conhecimento? Como o intelecto conhece ou pode conhecer aquilo que é diferente dele? Qual a real capacidade do intelecto humano em conhecer o mundo? Junte-se a seus colegas no fórum desta disciplina (disponível no AVA) e busque responder a essas perguntas! 15 NA PRÁTICA As preocupações centrais da filosofia antiga e medieval eram de ordem ontológica e as preocupações da filosofia moderna eram de ordem epistemológica. A partir da frase acima, elabore um texto com as principais diferenças entre a filosofia antiga e medieval da filosofia moderna! REFERÊNCIAS ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ALVES, R. Filosofia da Ciência. Introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1981. AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna: volume único. São Paulo: Moderna, 2006. ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Introdução à Filosofia. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2009. ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando – Introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. BACON, F. Novum organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. Nova Atlântida. Tradução e notas de José Reis de Andrade. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os pensadores). BIZZO, N. Novas bases da biologia: ensino médio. Volume 1. São Paulo: Ática, 2010. CASINI, P. As filosofias da natureza. Lisboa: NASCIMENTO, C. A. R. Para ler Galileu Galilei. 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