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8902 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 Contemporânea Contemporary Journal 3(7): 8902-8917, 2023 ISSN: 2447-0961 Artigo O ENSINO MÉDIO INTEGRADO E SUAS FORMAS: CONCEITOS E QUESTIONAMENTOS INTEGRATED HIGH SCHOOL AND ITS FORMS: CONCEPTS AND QUESTIONS DOI: 10.56083/RCV3N7-080 Recebimento do original: 19/06/2023 Aceitação para publicação: 19/07/2023 José Claudio dos Santos Silva Mestrando em Educação Profissional e Tecnológico pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica, Instituto Federal de Alagoas (PROFEPT-IFAL) Instituição: Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Rio Largo Endereço: Rodovia Br 104, Km 91, s/n, Professor Antonio Lins Souza, Rio Largo – AL, CEP: 57100-000 E-mail: claudiosantosarq@gmail.com Edel Alexandre Silva Pontes Doutor em Ciências da Educação pela Universidad Tecnológica Intercontinental (UTIC) Instituição: Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Rio Largo Endereço: Rodovia Br 104, Km 91, s/n, Professor Antonio Lins Souza, Rio Largo – AL, CEP: 57100-000 E-mail: edel.pontes@ifal.edu.br RESUMO: Inúmeros pesquisadores e educadores vêm discutindo fortemente a importância da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) na formação plena de um indivíduo. O Ensino Médio, última etapa da Educação Básica, necessita ser estruturado em acordo com as características sociais, culturais e cognitivas do indivíduo referencial: adolescentes, jovens e adultos. Este trabalho de pesquisa objetivou compreender as relações entre o Ensino Médio e a EPT, buscando entender como a educação é tratada, no intuito de formar o indivíduo como ser habilitado tanto para o trabalho como para a vida. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, por meio do levantamento de referências publicadas em livros e artigos científicos que abordam sobre o tema Ensino Médio e a EPT. Espera-se que este trabalho possa contribuir com pesquisadores e profissionais da educação da 8903 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 importância dos cursos técnicos integrados de nível médio da EPT na inserção de alunos no mercado de trabalho e na formação de sua cidadania. PALAVRAS-CHAVE: Ensino Médio, Ensino Integrado, Educação Profissional, Educação Politécnica, Omnilateralidade. ABSTRACT: Numerous researchers and educators present the importance of Vocational and Technological Education (VET) in an individual's life. High School, the last stage of Basic Education, needs to be structured according to the social, cultural and cognitive characteristics of the referential individual: adolescents, youth and adults. This research work aimed to understand the relationship between high school and EFA, trying to understand how education is treated, with the purpose of forming the individual as a being qualified both for work and for life. Methodologically, this is a bibliographic research, through a survey of references published in books and scientific articles that address the issue of High School and EFA. It is hoped that this work can contribute to researchers and education professionals about the importance of integrated technical high school courses for the insertion of students in the labor market and in the formation of their citizenship. KEYWORDS: High School, Integrated Education, Professional Education, Polytechnic Education, Omnilateralism. 1. Introdução Diversos educadores e pesquisadores tratam da importância da educação profissional na vida de um indivíduo. A educação profissional é uma modalidade de ensino imprescindível para o desenvolvimento de um país e para a criação de melhores oportunidades de emprego. A qualificação técnica apropriada é essencial quando as empresas precisam se transformar para se adequar à quarta revolução industrial. “[...] queremos que a educação geral se torne inseparável da Educação Profissional em todos os campos onde se dá a preparação para o trabalho” (CIAVATTA, 2005, p. 84). 8904 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 É inadmissível que as ações educativas sejam pautadas sobre as pretensões capitalistas de formação para o trabalho, desconsiderando a contemplação de uma formação humana geral, que coloque o sujeito em contato com o mundo da cultura, da ciência, da tecnologia e da arte. Neste sentido, almeja-se uma formação omnilateral, isto é, desenvolvimento amplo do indivíduo, permitindo-lhe alcançar autonomia e a superação do dualismo entre corpo e mente/prática e teoria (DOS SANTOS; PONTES & MORAES, 2022, p.1421). Moura (2013) afirma que diante da realidade socioeconômica e educacional brasileira, especialmente os filhos das classes populares, que precisam trabalhar para contribuir com as despesas da casa, os cursos técnicos integrados de nível médio são primordiais para se obter uma sociedade mais justa de forma pública e igualitária e sob a responsabilidade do estado. “Desde os primórdios, o trabalho assume papel central para a existência e o desenvolvimento humano” (DOS SANTOS; PONTES & MORAES, 2021, p.5). No processo formativo educacional, o trabalho se insere basilarmente, pois, por meio da compreensão de sua estrutura constitutiva na transposição de saberes, percebe-se o percurso histórico do conhecimento. No discernimento acerca dos modos de produção e de suas relações de poder é que o sujeito se desenvolve e compreende o trabalho (CARVALHO & DE SOUSA CAVALCANTI, 2020, p.3). Este artigo objetivou compreender as relações entre o Ensino Médio e a Educação Profissional e Tecnológica (EPT), buscando entender como a educação é tratada - desde educação básica até educação profissional - no intuito de formar o indivíduo como ser habilitado tanto para o trabalho como para a vida. A EPT é definida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. º 9.394/96) (BRASIL, 1996), atualizada pela Lei n. º 11.741/2008,1 no artigo 39. Segundo De Carvalho Pena (2016, p.80), a EPT, “integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia”. Metodologicamente, este trabalho é uma pesquisa bibliográfica documental, realizada nas plataformas Google Acadêmico e SciELO, por meio 8905 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 do levantamento de referências de produções acadêmico-científicas publicadas, especialmente, em livros e artigos científicos que abordam sobre o tema Ensino Médio e a EPT. Segundo o Programa Educa Mais Brasil, o Ensino Médio é a última etapa da educação básica brasileira, o qual tem duração de três anos e seu principal objetivo é aprimorar os conhecimentos obtidos pelos estudantes no ensino fundamental I e II, além de prepará-los para o mercado de trabalho. Neste sentido, o Ensino Médio já é sabido que, não capacita nem prepara o indivíduo para o mercado de trabalho, então, é preciso uma formação mais ampla e que contemplem os saberes mais aprofundados e completos na formação do ser. Diante desse entendimento é que o ensino integrado é um meio da articulação entre a formação geral e uma educação profissional, estimulando o Ensino Médio integrado (EMI) à educação profissional, denominada de “Educação Profissional Técnica de Nível Médio”, que foi proposto pelo Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, quando este esteve ativo, já que foi descontinuado. Com isso, criar um tipo de Ensino Médio que garanta uma base unitária para todos, e uma formação humana integral, omnilateral ou politécnica, é de um todo importante e necessária. “[...] o que se espera é garantir que as novas gerações sejam formadas com a necessária capacidade de compreender o mundo e as contradições que lhe são intrínsecas” (DÁLIA & FRAZÃO, 2017, p.10). Pensando por este caminho, é de se concordar com Frigotto, Ciavattae Ramos (2005), quando fazem menção a profissionalização no Ensino Médio brasileiro. Para eles: Se a preparação profissional no Ensino Médio é uma imposição da realidade, admitir legalmente essa necessidade e é um problema ético. Não obstante, se o que se persegue não é somente atender a essa necessidade, mas mudar as condições em que ela se constitui, é também uma obrigação ética e política, garantir que o Ensino Médio se desenvolva sobre uma base unitária para todos. Portanto, o Ensino Médio integrado ao ensino técnico, sob uma base unitária de 8906 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 formação geral, é uma condição necessária para se fazer a “travessia” para uma nova realidade (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005a, p.43). Fica claro, que os autores pensam nessa necessidade real de travessia do ensino integrado ao ensino técnico fazendo uma ponte para uma nova realidade na busca de garantir que o Ensino Médio se desenvolva sobre uma base unitária para todos, além de ter a necessidade de atender as condições em que ela se constitui, é também uma obrigação ética e política essa garantia de um ensino digno e completo tendo em vista a realidade socioeconômica e educacional brasileira. De acordo com LDB1, o Ensino Médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, tem previsto de que o aluno adquira competências e habilidades básicas para consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores, contudo, ainda ela prever: Aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. Compreensão dos fundamentos científico- tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (Lei Federal nº 9.394/96 – LDB, p. 24-25). Mesmo com as finalidades apontadas na LDB, o sistema educacional brasileiro não é tão eficiente como previsto, pois o aluno termina o Ensino Médio com grandes dificuldades de aprendizagem que não foram sanadas durante este período, sem falar da autonomia intelectual e do pensamento crítico, que muitas vezes a instituição de ensino não desenvolve no aluno, e ainda, a capacidade de compreensão dos fundamentos científico- 1 A atualização na LDB, foi feita pela Lei Federal 13.796, de 03 de setembro de 2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm 8907 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 tecnológicos de processos produtivos, estes são de grande importância para se inserir no mercado de trabalho. Vistas a isso que é criado o EMI como uma forma de preparar o jovem para uma possível profissão. Da Silva Santos et al. (2023) complementam que o mercado de trabalho, a todo momento, busca sujeitos criativos capazes de tomar decisões decorrentes das particularidades do mundo contemporâneo. Perante a isto, o texto sugere traçar um paralelo entre o Ensino Médio e o ensino integrado, e como esse caminho foi percorrido por um processo longo, e ainda, se pretende tratar de termo abordados por Marx e Engels e a escola unitária defendida por Gramsci, entre eles: ensino integrado, politecnia e educação omnilateral. Estes autores defendia uma forma de ensino, onde o educando deveria ter uma formação omnilateral, condição necessária para que todos tenham desenvolvimento humano por igual. Uma formação omnilateral tem como pressuposto a possibilidade do indivíduo em sua formação, nas experiências formativas, possa descobrir suas potencialidades que possam ser utilizadas posteriormente, permitindo- o compreender a multiciplidade de conhecimentos e de recursos que foram produzidos em toda evolução humana (RAMOS, 2014). 2. Ensino Médio Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei 9394-96), o Ensino Médio é a parte final da Educação Básica, definindo-se como a conclusão de uma etapa escolar de caráter geral. A lei define que essa etapa da escolarização tem por finalidade maior o desenvolvimento do aluno, garantindo a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecendo-lhe os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (Art. 22). Entre as finalidades específicas incluem-se “a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando”, estas estão no currículo escolar que faz destaque a educação tecnológica básica, https://www.infoescola.com/educacao/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao/ https://www.infoescola.com/educacao/ensino-medio/ 8908 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 compreendendo as ciências e contribuindo para a vida real no processo histórico de transformação da sociedade e da cultura pelo acesso ao conhecimento. O Currículo tem o propósito de que seja percebido muito mais como um documento orientador e de reflexão, bem como um documento norteador que favoreça as ações para o processo de ensino e aprendizagem, para a melhoria dos indicadores educacionais. Para tanto, seguem alguns objetivos que especificam a organização para o trabalho pedagógico: Melhorar as condições pedagógicas por meio da reorganização do tempo/espaço do cotidiano escolar, reduzir os índices de reprovação e evasão escolares, tornar mais efetiva a relação professor-estudante, qualificar a avaliação, incluindo o processo contínuo de recuperação (VASCONCELOS & FERREIRA, 2021, p.37). O Art. 26. da LDB diz que, o Ensino Médio deve ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos, LDB (Lei 9394-96). Ou seja, a lei direciona que o Ensino Médio deve ter uma base comum, mas deixa a critério do estabelecimento de ensino escolar uma parte destinada a especificações que atenda alguns requisitos regionais e locais relativos à cultura, economia entre outros. O Ensino Médio, na concepção do MEC, última etapa da Educação Básica, necessita ser estruturado em acordo com as características sociais, culturais e cognitivas do indivíduo referencial: adolescentes, jovens e adultos. Cada sujeito aprendiz tem um tempo de vida, tem a sua particularidade, como síntese do desenvolvimento biológico e da experiência social instruída sob o enfoque histórico. Por outra perspectiva, se a constituição do conhecimento é um processo sócio-histórico, do ponto de vista cultural, científico e tecnológico, o Ensino Médio caracteriza-se como uma oportunidade em que inúmeros conhecimentos correlacionam-se com os saberes sistemáticos, de maneira recíproca, produzindo aprendizagens socialmente significativas para cada 8909 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 indivíduo. Em um modelo educativo, centrado no sujeito aprendiz, o Ensino Médio deve alcançar todas as dimensões da vida, viabilizando na formação do aprendiz o pleno desenvolvimento pleno de suas potencialidades (MEC, 2009). Existe uma dicotomia entre ciência e técnica, a ideia de tecnologia como aplicação da ciência tem que ser suplantada, de modo que a escola incorpore a cultura geral e a cultura técnica na formação do sujeito, produzindo continuamente conhecimento e saberes. As relações nas escolas exprimem uma divergência entre o que a sociedade conserva e moderniza. Essas relações não podem ser desconsideradas, devem ser continuadamente reproduzidas, a começar das novas relações e de construções coletivas, no contexto do movimento socioeconômico e político da sociedade (MEC, 2009). Sendo assim, pode-sepropor a discussão da possibilidade de apresentar o Ensino Médio na perspectiva interdisciplinar, considerando que cada escola faça seu papel, no sentido de incorporar sua própria cultura, identificando dimensões da realidade motivadoras de uma proposta curricular acessível com os interesses e as necessidades de seus educandos (MEC 2009). O processo de ensino e aprendizagem está diretamente associado a função da escola, as relações professor-aluno, a metodologia e aos conteúdos a serem trabalhados. Assim, faz-se necessário compreender as concepções deste processo, a partir das teorias educacionais que direcionam as práticas educativas (MONTEIRO & DE LIMA, 2022, p.2). Assim, a escola de Ensino Médio, que esperamos, deve envolver-se de maneira consistente com seus projetos, comprometida com a dimensão local, atuante para uma formação completa e mais unificada, integrando a um projeto social comprometida na melhoria da qualidade de vida do sujeito. Além disso, Pontes (2021) afirma que a relação professor-aluno deve se manter em consonância e respeito mútuo de maneira a interagir fortemente em busca de um processo educativo pleno e eficiente“. 8910 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 3. Ensino Integrado Data-se na historicamente que a partir da década de 1980, mais precisamente com a promulgação da Constituição de 1988 foi que o ensino começou a ser pensado com outra visão, principalmente marcado por reinvindicações, debates e discussões em torno do modo como a educação, até então, estava sendo ofertada à sociedade. A educação representava condição fundamental para a democratização da sociedade brasileira. A importância atribuída à educação na construção da sociedade requeria um planejamento educacional criterioso, que se norteasse fundamentalmente pela garantia de idênticas oportunidades de ingresso, permanência e aproveitamento das diferentes camadas e segmentos do povo brasileiro no sistema educacional (RODRIGUES, 2009, p. 140). Nota-se o desejo por buscar uma escola integradora que diferente do modelo já conhecido. Antônio Gramsci já relatava em seus escritos que esse modelo presente na sociedade capitalista e em seus meios de produção não era o ideal e menos ainda integrador, por isso que ele defendia a escola unitária baseada em: Escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre equanimemente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual. Deste tipo de escola única, através de repetidas experiências de orientação profissional, passar-se-á a uma das escolas especializadas ou ao trabalho produtivo (GRAMSCI, 1991, p. 118). Sendo assim, com a insatisfação pelo modelo de educação imposto no início do século XX, foi que Gramsci propôs2 o projeto educacional chamado, escola unitária. 2 Assim se expressa Gramsci (2006): “Por isso, na escola unitária, a última fase deve ser concebida e organizada como a fase decisiva, na qual se tende a criar os valores fundamentais do ‘humanismo’, a autodisciplina intelectual e a autonomia moral necessárias a uma posterior especialização, seja ela de caráter científico (estudos universitários), seja de caráter imediatamente prático-produtivo (indústria, burocracia, comércio etc.). O estudo 8911 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 Assumimos o ensino integrado como proposta não apenas para o ensino profissional. O ensino integrado é um projeto que traz um conteúdo político-pedagógico engajado, comprometido com o desenvolvimento de ações formativas integradoras (em oposição às práticas fragmentadoras do saber), capazes de promover a autonomia e ampliar os horizontes (a liberdade) dos sujeitos das práticas pedagógicas, professores e alunos, principalmente (DE LIMA ARAUJO; FRIGOTTO, 2015, p.63). Percebe-se que no modelo tradicional de ensino, a transmissão de conhecimento do professor para seus alunos acontece, muitas vezes, por intermédio de aulas expositivas, devido às diretrizes curriculares obrigatórias. Pontes (2023, p.2) afirma que o professor, “não está familiarizado com as teorias de ensino e aprendizagem que o certifique para desempenhar à docência de forma integral, vinculando as concepções teóricas com a prática peculiares dessa modalidade de ensino”. Essa proposta vem se apresentando menos relacionada às novas gerações, devido a não promover uma prática hábil com qualidade estabelecida pelo mundo científico e tecnológico. Caetano, Fonseca e Basso (2023) questionam que a escola de Educação Básica se limita ao conflito entre formação geral e formação profissional. De maneira, que os currículos não beneficiam o mundo do trabalho como conteúdo imprescindível para a formação do educando. No modelo EMI os educandos frequentam as disciplinas do Ensino Médio tradicional e também aulas das matérias técnicas, levando o aprendiz a se aproximar de seu cotidiano, de forma a permitir uma educação mais aparelhada e pujante para os desafios que o indivíduo afrontará no mercado de trabalho. Ao observar as práticas educativas e as variáveis que influem no ensino médio integrado, percebemos que elas possuem e o aprendizado dos métodos criativos na ciência e na vida devem começar nesta última fase da escola, não devendo mais ser um monopólio da universidade ou ser deixado ao acaso da vida prática: esta fase escolar já deve contribuir para desenvolver o elemento da responsabilidade autônoma dos indivíduos, deve ser uma escola criadora” (p.39). 8912 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 particularidades, principalmente, se considerarmos sua função social de natureza abrangente e com o fito de desenvolver em suas práticas pedagógicas, as múltiplas perspectivas, a prática de um currículo integrado objetivado para formar um cidadão crítico, ativo, criativo e não somente um técnico, isto é, preconiza a formação integral (SANTOS et al., 2018, p.188). Perante a formação integrada, do Ensino Médio e o ensino profissional, de natureza dialética entre trabalho e educação, efetivando a partir da promulgação da Lei n. 9.394/1996 (LDB – Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional). Descritas nos artigos 35 e 36 com as finalidades e a organização curricular do Ensino Médio. Nela trata do trabalho como princípio educativo. Segundo a LBD, no inciso II do art. 35 tem como umas das finalidades nessa modalidade de ensino “a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores” (BRASIL, 1996, p. 15). No art. 36, cita ainda: O currículo do Ensino Médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino. [...] § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação com ênfase técnica e profissional considerará: I – a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissional (BRASIL, 1996, p. 15-16). Com a intenção e a necessidade de integração na produção do conhecimento com as forças produtivas e fazer a mediação entre ciência trabalho, em suas vertentes históricas, material e existencial do ser humano, é que o princípio educativo e prática social se efetiva para contribuir com o projeto de educaçãobaseado na escola unitária que Gramsci defendia. A educação politécnica possui, com o entrelaçamento da criatividade e tecnologias educacionais, uma possibilidade de relacionar possibilidades vivenciadas pelos estudantes do EMI, a fim de que possam avançar socialmente, relacionando a ciência, a cultura e o 8913 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 trabalho como eixos principais desta educação politécnica (DE ALBUQUERQUE & DE AZEVEDO NETO, 2023, p.15). A concepção do trabalho como base para a construção de uma escola unitária no Ensino Médio se torna necessário. O princípio educativo, exige superar uma exploração de uns pelos outros, levando os educandos a entenderem que somos seres de cultura, de conhecimento e de trabalho, exercitando plenamente essas potencialidades (RAMOS, 2008). 4. Considerações Finais Diante de toda uma transformação do mundo contemporâneo, por meio das novas metodologias de ensino, da ciência transformando a sociedade e da velocidade dos recursos tecnológicos, se faz necessário uma reflexão sobre a verdadeira formação de um indivíduo de nível médio. A escola tem uma obrigação primordial em formar o cidadão para desempenhar suas funções de acordo com a evolução cientifica e tecnológica do mundo moderno. A escola, quando bem organizada, age significativamente nesse meio, pois pode promover a aprendizagem, assim como o consequente desenvolvimento do indivíduo. Esse crescimento não se dá automaticamente, não é inato, mas compõe um processo que é social, que ocorre nas relações com as outras pessoas, em uma realidade histórica e cultural. [...]. Em suma, a escola é lócus do saber historicamente sistematizado, espaço privilegiado para a socialização desse saber. É a instituição social que deve prezar pelo ensino de conhecimentos que incidam sobre o desenvolvimento dos indivíduos e sobre as contradições sociais por eles enfrentadas, ou melhor, ela necessita posicionar-se a favor da plena formação humana (DE SOUZA CHISTÉ, 2017, p.130). A Educação não é a solução para todos os problemas existentes no país, mas através dela pode acontecer algumas mudanças sociais, culturais e econômicas que uma sociedade almeja, visando uma significativa transformação nos indicadores de um país. A inserção da população mais 8914 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 jovem no mercado de trabalho funciona, plenamente, quando se propõe um projeto de qualificar esses aprendizes através de cursos integrados. Essa proposta busca consentir uma demanda estabelecida pelo mercado de trabalho, que tem uma deficiência de profissionais técnicos dispostos para as novas tecnologias que as carreiras demandam. Diante do exposto, espera-se que este trabalho possa contribuir para alertar novos pesquisadores, educadores e profissionais da educação da importância do EMI na inserção de alunos no mercado de trabalho, fortalecendo, assim, a economia e transformando a vida de muitas famílias brasileiras. Desse modo, o sentido de formação integrada ou EMI sob uma base unitária de formação geral é uma condição necessária para se fazer a passagem para a educação politécnica e omnilateral realizada pela escola unitária. 8915 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 Referências BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 5.692, de 11 agosto de 1971. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5692.htm >. BRASIL/MEC. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: 20 de dezembro de 1996. CAETANO, Maria Raquel; FONSECA, Nei; BASSO, Lais. 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