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RELIGIOSIDADES NA AMÉRICA LATINA AULA 2 Prof. Jefferson Zeferino 2 CONVERSA INICIAL Povos indígenas na América Latina e sua religiosidade Nesta aula vamos falar sobre os povos indígenas na América Latina, sua religiosidade e principais características. Queremos explorar a história do povoamento do continente e as características sociais e culturais dos povos originários, destacando aspectos das religiões ameríndias. Conforme adverte o arqueólogo argentino Juan Schobinger (1992, p. 35), a partir da década de 50 do século passado foi possível, pouco a pouco, por meio de avanços no estudo arqueológico e etno-histórico, superar teorias e especulações simplificadoras do continente e de seus povos originários. A complexidade e profundidade da alma pré-colombiana é uma descoberta recente, que abarca todo um continente com populações variadas. Portanto, evitaremos generalizações, e na impossibilidade de abarcar a totalidade, apresentaremos as principais culturas originárias do continente. TEMA 1 – CULTURAS PRÉ-COLOMBIANAS A história da América Latina não se inicia em 1492, com a chegada dos povos europeus, liderados pelo navegador Cristóvão Colombo (1451-1506). Como Nauroski e Rodrigues (2018, p. 23-24) relatam, as hipóteses mais aceitas afirmam que o povoamento do continente aconteceu por volta de 12 mil anos atrás, por meio do estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca, no norte, e o Oceano Pacífico, no sul do continente. Além disso, as hipóteses estimam que havia entre 57 e 80 milhões de habitantes antes de 1492, o que supõe uma enorme diversidade cultural. Entre povos nômades, plantadores, agricultores e urbanos, como afirma Enrique Dussel (1992, p. 7), “o [ser humano] americano [...] veio a ser, portanto, criador de altas culturas, produtor e civilizador original, de um mundo religioso prodigioso por sua riqueza e seu sentido”. Destaca-se o esplendor das culturas Tiahuanaco e Teotihuacán produzidas nas regiões dos lagos Titicaca (hoje, Bolívia) e Toxcoco (hoje, México), respectivamente, que desenvolveram o império dos incas nos Andes e dos astecas na Mesoamérica. 3 Figura 1 – As pirâmides de Teotihuacán, no México, são resquícios do desenvolvimento civilizacional na Mesoamérica Créditos: Leonid Andronov/Adobe Stock. 1.1 Tiahuanaco A alta cultura urbana desenvolvida a partir de Cuzco, “o umbigo do mundo”, como relata Schobinger (1992, p. 60-62), é herdeira de tradições andinas de mais de 3 mil anos de história da região de Tiahuanaco. Com uma estrutura social teocrática-militarista, bastante estratificada, tendo os sacerdotes lugar proeminente, o império inca era sustentado por uma extensa rede de intercâmbios e redistribuição, com uma intensa atividade agrícola. O desenvolvimento de tecnologias que potencializou a produção agrícola, sobretudo pela sofisticada engenharia de controle das águas, garantiu a expansão demográfica na região (Pinsky, 2010, p. 14). O império inca contava com aproximadamente 12 milhões de habitantes, dispersos por 4 mil quilômetros entre a costa do pacífico e os Andes, desde o que hoje é a Colômbia e chegando até o Chile (Probst, 2016, p. 65). A partir da sedentarização dos povos e os sincretismos culturais, as cidades andinas se tornaram centros econômicos e religiosos, tendo seu apogeu no século XV. Os sacerdotes-xamãs acumulavam prestígio social e poder militar, eram os sábios das comunidades, determinando o calendário dos ritos e outras atividades relacionadas à agricultura e à criação dos animais. “Eles ‘falavam’ com os cerros, os mananciais, as grotas e cavernas, e certamente também com 4 o Sol e a Lua, e em geral com as forças que presidem os fenômenos relacionados com a atividade produtiva. Somente eles podiam controlar as secas, as geleiras, as chuvas torrenciais e as inundações” (Schobinger, 1992, p. 58). A origem mítica dos incas está nas águas do lago Titicaca. Conforme Schobinger (1992, p. 60): Das águas do Titicaca surgiu primeiro o deus Com Ticsi Huira-Cocha. Este fez saírem o sol e a lua, e foi secando as pessoas que tinham existido na era anterior à atual, até transformá-las em pedras. Em Tiahuanaco criou os [seres humanos] atuais, dando-lhes vestes e nomes a cada nação. Logo lhes ordenou que se introduzissem na terra e que voltassem a sair em diferentes lugares, para, assim, povoar novamente o mundo. Entre aqueles homens (continua a lenda colhida por algum cronista) estavam os antepassados dos monarcas Incas, os quatro irmãos Ayar com suas esposas. A lenda “oficializada” dizia que tinham saído de um lugar localizado a uns 40 Km ao sudeste a cidade de Cuzco: o Tamputoco, a caverna “das Três Janelas”. Por ordem divina, um deles se estabeleceu num vale alto (3400 metros), fundou a cidade de Cuzco (= “umbigo” = centro do mundo) e se fez reconhecer como Filho do Sol. Dessa forma, com Manco Cápac tinha-se a iniciado a dinastia dos soberanos incas (Segundo alguns, pode ter sido um alto chefe aymara, saído de Tiahuanaco na época de seu despovoamento). 1.2 Teotihuacán Um pouco mais ao norte do continente, na região em que hoje é o México, encontram-se os primeiros vestígios de cultivo do mundo, ao redor do VIII milênio antes de Cristo. A exploração agrícola do milho foi a principal agente de desenvolvimento cultural nas regiões mesoamericanas. As grandes cidades surgiram no planalto junto ao lago Tezcoco, a primeira foi Teotihuacán (Dussel, 1983, p. 138). A principal base da civilização maia, conforme Schobinger (1992, p. 50- 53), foi a cultura olmeca. Entre os anos 300 e 900, conhecido como Maia Clássico, as cidades viverão seu esplendor, sobretudo ao sul, na região de Chiapas e do Petén guatemalteco. Eram governadas pela elite sacerdotal, em sociedades fortemente estratificadas, lideradas hereditariamente pelo Halach Uinic (o verdadeiro homem) sob inspiração divina. O panteão maia era amplo e complexo, com rituais específicos para cada divindade, relacionados com os astros e fenômenos naturais. Os Maias conheciam a escrita e possuíam um calendário próprio, dominando a técnica agrícola e o estudo dos astros. Assim explica Dussel (1983, p. 141): 5 A vida maia era essencialmente urbana, junto aos templos, palácios, plataformas, canchas para o sagrado jogo de bola, patlôs. Parece que Uaxactún foi a mais antiga cidade do Velho Império (possuindo uma estela que data de 328 d.C.). Tikal deve ter sido contemporânea (com uma estela de 300 d.C.). Por sua vez, Copán foi chamada a “Alexandria do Novo Mundo”, já que deve ter sido um dos principais centros de peregrinação religiosa, e por isso de astrologia (sua antiguidade está assegurada desde 465 d.C). Não se pode esquecer Oxkintok, Tulum, Cobá, Palenque, Calakmul. Os Astecas são os principais herdeiros da cultura teotihuacana, já que, segundo Shobinger (1992, p. 54-56), quando os primeiros espanhóis chegaram, no século XVI, aos territórios Maias, foi impossível imaginar que ali existiu uma antiga e grande civilização. Restavam apenas camponeses, antigos senhores e sacerdotes, que conservavam alguns textos sagrados destruídos, posteriormente, pela intolerância religiosa e imperial espanhola. Os Astecas – ou Méxicas – foram um povo guerreiro, como nos conta Melissa Probst (2016, p. 41-51), cujo esplendor ocorreu entre os séculos XV e XVII, e que conseguiu subjugar outros povos e criar um “império” ao redor do Templo de Huitzilopochrli (o Sol), Deus do céu diurno e da guerra. Organizados primeiramente de forma livre e coletiva, a partir do crescimento de seu domínio e do contato com outros povos, o império se estratificou da seguinte forma: imperador, aristocracia (sacerdotes e militares), chefes, artesãos de elite, comerciantes, camponeses e escravos. Apesar de não dominarem o ferro, os astecas conheciam de astronomia, astrologia, matemática,escrita, cerâmica, escultura, pintura e arte cênica, desenvolvendo técnicas avançadas para época. TEMA 2 – OS POVOS ORIGINÁRIOS NO BRASIL Agora, vamos olhar um pouco mais em específico para o território brasileiro. Manuela Carneiro da Cunha (1992, p. 12) alerta para “o que é hoje o Brasil indígena são fragmentos de um tecido social cuja trama, muito mais complexa e abrangente, cobria, provavelmente o território como um todo”. Quais seriam suas origens? E como se organizavam? 6 Figura 2 – Pataxós, que vivem no sul da Bahia, com suas pinturas e ornamentos tradicionais Crédito: Brastock/Adobe Stock. 2.1 Povoamento do Brasil É bastante difícil afirmar a origem do povoamento na região, não obstante, como explica Guidon (1992, p. 41), há vestígios arqueológicos que atestam presença de grupos humanos caçadores-coletores no sudoeste do Piauí (60 mil anos), sul de Minas Gerais (30 mil anos) e sul do Brasil (15 mil anos), bem como, “todo o país já estava ocupado desde há 12 mil anos” (Guidon, 1992, p. 52), desenvolvendo agricultura entre 4 e 2 mil anos atrás. Por meio de estudos linguísticos comparativos, Greg Urban (1992) desenha os movimentos, adaptações e transformações que deram origem ao grande florescimento cultural na região, apontando para quatro grandes famílias linguísticas espalhadas por vastas áreas, bem como famílias menores e línguas isoladas. O que se vê mais claramente, e com um grau maior de certeza, atualmente, é um padrão de ocupação antiga no Brasil (4000-5000 a.C.) periférico ao curso principal do Amazonas, o que pode refletir uma adaptação a cabeceiras. E podem-se localizar três grandes troncos linguísticos (Jé, Tupi e Arawak), cada qual associado a um foco em cabeceiras e/ou periférico (planalto oriental do Brasil, região da chapada dos Parecis no oeste do Brasil e na Bolívia, e centro-norte do 7 Peru, respectivamente). Essas áreas geográficas são também os locais de aglomeração de línguas isoladas, sugerindo áreas de dispersão linguística muito antiga. Uma quarta área, os altiplanos guiano-venezuelanos, área das línguas Karib, parece ser um foco secundário de dispersão mais recente do que os outros três. As distribuições sugerem que a ocupação das terras baixas propriamente ditas se fez mais tarde, embora possa haver ocorrido incursões temporárias nessas zonas, com migrações regulares ou ocasionais de povos das cabeceiras e regiões periféricas. De acordo com esse quadro, a ocupação permanente das terras baixas é provavelmente posterior a 1000 a.C. (Urban, 1992, p. 102) Porém, com afirma Schüler (citado por Probst, 2016, p. 82), “não houve no Brasil pré-colombiano algo que lembre as monarquias do México e do Peru. Ao contrário do que se passava nos Andes e no sudoeste da América do Norte, os povos indígenas mantiveram a autonomia tribal”. Por questões didáticas, vamos nos limitar a apresentar os povos tupi- guarani, que ocuparam largamente a costa atlântica da América do Sul, mais especificamente, os tupinambás, entretanto, com isso não queremos olvidar a diversidade dos povos originários. Fiquemos com a informação que no estudo organizado por Manuela Carneiro da Cunha (1992, p. 7-6) há referência de 126 etnias. Apenas um estudo mais profundo e específico daria conta desta magnitude. 2.2 Tupi-Guarani Carlos Fausto (1992, p. 381-382) observa que o conhecimento que temos dos povos Tupi-Guarani tem como fonte primária o relato dos europeus, a partir do século XVI, não havendo consenso científico quanto a questões demográficas e expansão Tupi-Guarani. Além disso, por serem de tradição oral, carecemos de registros autóctones. Há notícia que estes povos habitavam desde a foz do rio Amazonas até o Prata. No Brasil: teríamos os Carijó (Guarani) entre Lagoa dos Patos e Cananéia; os Tupiniquins daí até Bertioga — incluindo o planalto paulista; os Tupinambá (também chamados, nessa região, Tamoio) do norte de São Paulo até Cabo Frio, dominando inclusive o vale do Paraíba; os Temomino, em áreas da baía de Guanabara. Entre o Espírito Santo e o sul da Bahia aparecem novamente os Tupiniquins; mais ao norte, os Tupinambá, que dominam o recôncavo baiano e se estendem daí até a foz do São Francisco — em cujo sertão vivem os Tupinaé. Daí até a Paraíba era território kaeté e os numerosos Potiguar espalhavam-se do ex- tremo nordeste da costa até o Ceará. (Fausto, 1992, p. 383) Os Tupi-Guarani dominavam a agricultura, sobrevivendo da caça, da pesca e da coleta, em contato direto com a natureza. Tinham como base 8 alimentar mandioca, feijão e cará, fumavam tabaco e bebiam um fermentado de mandioca, sendo excelentes caçadores e pescadores (Probst, 2016, p. 82-83). Fausto (1992, p. 384) relata que não possuíam um poder centralizado em um soberano, viviam em aldeias, com construções simples, quatro a oito malocas dispostas ao redor de um pátio, onde habitavam de 500 a 2 ou 3 mil pessoas. E, ainda, “a inimizade recíproca distinguia grupos de aldeias aliadas, que operavam segundo uma estrutura de tipo ‘rede’: as aldeias, unidas uma a uma, formavam um ‘conjunto multicomunitário’, capaz de se expandir e se contrair conforme os jogos da aliança e da guerra”. Fausto (1992, p. 390) nos relata que, “os Tupinambá eram muitos, suas aldeias eram grandes quando comparadas com o padrão amazônico atual, a fama de alguns de seus chefes espalha-se pela costa e pelo sertão, mas, no entanto, eles eram na essência semelhantes aos Tupi contemporâneos”. Daí a possibilidade de acessar essa cultura pelo confronto historiográfico e etnológico. Conforme Florestan Fernandes (1989), a organização social da sociedade Tupinambá é de natureza competitiva-cooperativa. A organização das atividades econômicas dos Tupinambás, no plano da exploração, da distribuição e do consumo dos recursos naturais, obedecia a princípios cooperativos. Tais princípios cooperativos explicam-se em função das vinculações que ligavam em si a organização ecológica e o sistema organizatório da sociedade Tupinambá. O sistema organizatório compunha-se, morfologicamente, de um conjunto ordenado de complexos de relações sociais, compostos por sua vez de estruturas e subestruturas sociais. A estrutura social básica, ou nuclear, consistia no sistema de parentesco que interferia sobre e era suplementado pelas demais estruturas e complexos de relações sociais. Todavia, a estrutura social básica estava completamente penetrada de valores religiosos, pois o sistema religioso tribal repercutia ativamente sobre toda a organização social. Em consequência, os padrões religiosos insinuavam-se no comportamento dos indivíduos, e sendo encarados como valores centrais da cultura, motivavam atitudes e atividades competitivas. (Fernandes, 1989, p. 299) A chefia Tupinambá não era hereditária, nem consistia em uma sociedade estratificada, porém, como explica Fausto (1992, p. 390), os laços consanguíneos, valores guerreiros e habilidades como orador garantiam a liderança, autoridade e prestígio para fazer alianças, comandar rituais e cerimônias, organizar expedições guerreiras e defender o território. Ao fim e ao cabo, importava quantos sogros você tinha e quantos inimigos você vingou/matou. Viveiros de Castro (citado por Fausto, 1992, p. 392) afirma que a guerra produz a sociedade Tupinambá. 9 TEMA 3 – A RELIGIÃO DOS TUPINAMBÁ Nesta seção trataremos da religião dos Tupinambá. Como afirmou Florestan Fernandes (1989, p. 299), “a estrutura social básica estava completamente penetrada de valores religiosos”. Evidentemente os Tupinambás tinham seus mitos, festas e rituais, a seguir conheceremos as origens míticas, características e práticas religiosas deste povo. Figura 3 – Pataxós com suas maracás, instrumentos sagrados, principal representação para os Espíritos Crédito: Celio Messias Silva/Shutterstock. 3.1 Origens míticas dos Tupinambá Segundorelata Métraux (1979, p. 17), entre os povos Tupi-Guarani, há a crença comum em um ser criador de tudo que existe e pai da humanidade, que revelou a cultura da Mandioca. “Após lutar contra aqueles a quem cobrira de benefícios, retirou-se para uma espécie de paraíso terrestre, estância dos mortos e de alguns vivos favorecidos”. Ali, criou outras criaturas secundárias a partir de suas transformações. Além disso, ele deve destruir o mundo, como já fizera antes. As principais personagens da mitologia Tupinambá eram quatro. Monan significa velho, ancião. Ele é o criador, o pai da humanidade, seu atributo é fogo. 10 Foi ele o artífice e destruidor do mundo. Irin-Magé é o sucessor de seu pai, de quem rouba os atributos, assumindo o nome de Mair-Munhã, torna-se o transformador. Ele obteve a chuva e restaura a vida na terra, instituindo a agricultura. Sumé é filho de Mair-Munhã. Identificado como Tupã. Foi ele quem ensinou os Tupinambá a cultivar a terra, os entregou os alimentos e vivia em lugares ermos, afastado. Alguns cristãos viam na narrativa de Sumé a presença do aposto de Jesus de Nazaré, Tomé, nas Américas. Maire-Pochy é a última das personagens míticas. Puxi significa feio, como conotação ética, mau. Seu atributo é o peixe (Métraux, 1979, p. 17-18). Além desses, há ainda os gêmeos Tamendonare e Aricoute, que nascidos de Sumé ou Maira-atá, foram antagônicos e sua contenda provocou um grande dilúvio. Eles e suas mulheres se salvaram e repovoaram o mundo. Os Tupinambá descendem de Tamendonare. Métraux (1979, p. 21) explica que a função dessa narrativa, que é muito mais complexa e inclui outros episódios, “é a de rematar a obra [do herói-civilizador] e de ocorrer em ajuda da humanidade”. 3.2 Xamanismo e profetismo O xamanismo, conforme Juan Schobinger (1992, p. 37-38), é uma prática antiga entre os povos, como “tentativa de, mediante técnicas mais ou menos artificiais, recuperar o contato íntimo com o mundo e suas forças imanentes, que se tenha dado naturalmente nas etapas mais antigas da humanidade”. O xamanismo acompanha o desenvolvimento dos povos, e a partir do neolítico, “começa-se a recorrer, dentro do processo de iniciação xamânica, as substâncias vegetais de propriedades psicotrópicas (ou “alucinógenas”) (Schobinger, 1992, p. 39). Conta-se que os povos da América conheciam 80 substâncias com propriedades psicotrópicas retiradas de vegetais, ao passo que europeus conheciam entre seis ou sete. Entre os Tupinambá, diz Métraux (1979, p. 65), havia homens, mas também mulheres, que, por inspiração, em relação com os espíritos – os Tupinambá viviam rodeados por uma multidão de espírito bons e maus – dominavam técnicas de curas e previsão dos acontecimentos, conduzindo tratamentos, danças e cerimônias/ rituais e contribuindo com empresas coletivas e individuais, como fertilidade agrícola ou vitória nas batalhas. Em uma aldeia poderia haver mais de um xamã, muitos eram andarilhos e circulavam pelas aldeias, tendo a capacidade em se converter em animais. Seu prestígio e 11 autoridade correspondiam à quantidade de comprovação de seus conhecimentos, por exemplo, se ministrasse uma cura e o índio recuperasse a saúde, ou os fatos coincidissem com suas previsões. Assim, sua ação também era profética. Fausto (1992, p. 388) observa que a atividade dos xamãs-profetas não era oposta à dos chefes tribais. Às vezes uma mesma pessoa reunia os atributos e prestígios para exercer as duas funções, mas esta não era a regra entre os Tupinambás. Principais e pajés, morubixaba e caraíba, não se opunham como uma força centrípeta e outra centrífuga — ambas estavam voltadas para o exterior, para o gerenciamento da relação com a alteridade: a "função chefe" operava no plano físico, a "função xamã" no metafísico. A palavra dos profetas não era, portanto, a negação da autoridade dos chefes; muito pelo contrário, ao enfatizar a predação canibal, falavam sobre aquilo que será condição do exercício da chefia. Como sugerem Carneiro da Cunha e Viveiros de Castro, os caraíba eram antes fundamentalistas contestatários que revolucionários, pois sua prédica destacava aqueles que eram os nexos fundantes da sociedade tupi: guerra e vingança (1985:196). (Fausto, 1992, p. 388) Além disso, conforme Métraux (1979, p. 60-62), o relacionamento com os espíritos, apesar de eles habitarem por todo o cosmo favorecendo ou atrapalhando as ações dos vivos, manifestando-se em animais estranhos e aves, dava-se sobretudo pelo instrumento sagrado: o maracá. Espécie de chocalho, em formato redondo com um pau, remetia a uma cabeça, principal representação Tupinambá para os Espíritos. Inicialmente era apenas um receptáculo dos espíritos, mas, ao longo do tempo, tornou-se sua própria configuração material. Assim relata Métraux (1979, p. 62): Antes de partirem para a guerra, os tupinambás dançavam com os chocalhos, rogando-lhes auxiliá-los na captura dos inimigos. Os guerreiros levavam-nos consigo, na campanha, dançando e manejando os maracás todas as vezes que pretendiam auscultar o futuro, ou, mais exatamente, a disposição das forças místicas envolventes. O bom êxito de qualquer expedição era atribuído aos maracás. Os índios davam-lhes graças, entoando cânticos ou executando danças em honra deles. 3.3 Antropofagia e o culto aos antepassados Como dissemos acima, os Tupinambá eram guerreiros. Métraux (1979, p. 114) afirma que o combate era, sobretudo, para captura de prisioneiros, aumentando seu prestígio e fama. Os Tupinambás eram antropofágicos. Aqueles mortos em combate tinham seus corpos desmembrados e assados para 12 consumo ritual de vingança. Os vivos eram levados para a aldeia e celebrados com grande festa. Eram feitos escravos pelo responsável pela captura, incluídos no cotidiano da tribo como membro, chegando a possuir esposas, até a fixação de sua execução, que poderia variar entre dias até 20 anos. O sacrifício do ritual era uma festa com a presença de amigos e parentes dos povos aliados com duração de cinco dias, cominando na morte do inimigo, o preparo e a comilança de sua carne. Assim, Métraux (1979, p. 138) explica que, “servindo-se da carne dos inimigos, não somente os tupinambás se apropriavam de sua substância, mas, também manifestam a superioridade dos mesmos sobre o adversário”. Conforme registrou Pigafetta (citado por Méatraux, 1979, p. 138), os Tupinambás explicam a antropofagia por meio do seguinte mito: Certa velha tinha um filho único, morto pelos inimigos. Tempos depois, em prosseguimento da guerra, o assassino foi feito prisioneiro e conduzido à presença da velha. Esta, por vingança, atirou-se ao mesmo, mordendo-lhe as espáduas qual se for um cão enfurecido. Porém o homem conseguiu fugir e, ao retornar a casa, mostrou a carne rota e contou como os seus inimigos tinham tentado devorá-lo vivo. Desde então os índios se puseram a comer uns aos outros, os indígenas caídos prisioneiros. Porém, não apenas os inimigos humanos são comidos ritualmente. Métraux (1979, p. 138) nos diz que o segundo inimigo dos Tupinambás era o jaguar. Quando capturado, era morto e preparado e consumido, adotando do mesmo método aplicado para evitar a vingança da fera. Florestan Fernandes (p. 164-167) observa que entre os Tupinambás os mortos eram importantes na vida dos vivos. Os funerais eram realizados pelos parentes e amigos, feitos dentro da maloca do falecido, sendo enterrado junto a alimentos e objetos necessários para uma segura travessia, para além das montanhas, o Guajupiá. Os vivos ficavam obrigados de guardar o luto, ao cuidado da sepultura, ofertas rituais e, sobretudo, se o seu parente fosse morto em batalha, vingá-lo. Os Tupinambás mantinham uma relação íntima com seus parentes falecidos, com formas de intercomunicações por meio de seres animados, como pássaros, e os pajés em ritos religiosos, crendo firmemente napossibilidade de reestabelecer a comunhão com seus antepassados. Os vivos, portanto, obedeciam a um padrão moral que lhe permitisse chegar a Guajupiá. 13 TEMA 4 – TERRA SEM MALES Você sabe que o contato entre os povos originários e europeus significou uma catástrofe para os primeiros. Portugueses e espanhóis, bem como franceses e holandeses, trouxeram para o Novo Mundo, como o chamaram, poder bélico, enfermidades e uma nova cultura que provocaram um grande morticínio. Olhemos, então, como o fenômeno religioso foi um elemento para a sobrevivência dos povos. Figura 4 – Os Mbya-Guarani resistem há muito tempo aos avanços do mundo branco, conservando suas culturas e identidade Crédito: Andre Lucas/Shutterstock. 4.1 Invasão e violência europeia Florestan Fernandes (1989, p. 32-53) relata que, entre o século XVII e início do XVIII, são poucas as notícias nos documentos oficiais sobre os Tupinambás, no Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão, Pará e na Ilha dos Tupinambaranas, regiões densamente povoadas no século anterior. Cunha (1992, p. 12) diz que “motivos mesquinhos [...] conseguiram esse resultado espantoso de reduzir uma população que estava na casa dos milhões em 1500 aos parcos 200 mil índios que hoje habitam o Brasil”. 14 Aqueles que não morreram nas guerras contra os colonizadores, ou pereceram pelas novas epidemias, foram para missões jesuíticas e foram integrados ao mundo dos brancos, que seria uma forma de morrer. Os que permaneceram vivos devem ter participado das grandes migrações rumo ao interior distante da costa e dos portugueses. As motivações podem ser explicadas de diversas maneiras, entretanto, o dado religioso é central. Como explica Fausto (1992, p. 387), a crise da colonização reativou o discurso mítico- profético da “terra sem males”: Em um século os Tupi foram expulsos do litoral — um rico nicho ecológico que haviam conquistado progressivamente nos cinco séculos anteriores — pela violência, pela fome e pelas doenças. Eram inúmeros os movimentos migratórios forçados e/ou voluntários para o interior — os Tupi fugiam das epidemias, da escravização, buscavam novos territórios. Esse era, não há dúvida, um contexto propício à atualização do discurso profético, e deve ter favorecido esse aspecto da cosmologia e do xamanismo tupinambá. 4.2 Em busca da Ywy mara-ey Pierre Clastres (1979, p. 155-164), que estudou os Mbyá-Guarani, no Paraguai, uma das poucas tribos que mantêm a tradição de seus antepassados, conservando sua identidade tribal, sua essência, honra e ética, contra as assanhas de missionários e conquistadores, pelo menos há quatro séculos, descreve a Ywy mara-ey, a Terra sem Mal: [...] onde a infelicidade é abolida, o milho cresce sozinho, a flecha traz a caça àqueles que não têm mais necessidades de caçar, o fluxo regrado dos casamentos é desconhecido, os homens, eternamente jovens, vivem eternamente. Um habitante da Terra sem Mal não pode ser qualificado univocamente: ele é um homem, sem dúvida, mas também o outro do homem, um deus. O Mal é o Um. O Bem não é o múltiplo, mas o dois, ao mesmo tempo o um e o seu outro, o dois que designa verdadeiramente os seres completos. Ywy mara-ey, destinação dos Últimos Homens, não abriga mais homens, não abriga mais deuses: somente iguais, deuses- homens, homens-deuses, tais que nenhum dentre eles se diz segundo o Um. (Clastres, 1979, p. 157) Fausto (1992, p. 385-386) enfatiza que a “terra sem mal” é este “[...] lugar de abundância, de ausência de labuta, da imortalidade, mas sobretudo da guerra e do canibalismo [...]” em sentido mítico e temporal. Como você viu acima, havia entre os Tupinambás a crença de um mundo pós-morte para os indivíduos de prestígio, porém, a Ywy mara-ey “[...] era também um ‘paraíso terreal’ inscrito no espaço, em algum lugar a oeste ou a leste, que podia ser coletivamente alcançado em vida”. 15 Assim, a busca deste paraíso terreno, animada pelas palavras dos pajés, ajuda-nos a entender os movimentos migratórios dos povos e a sobrevivência dessas culturas até os nossos dias. Enquanto não acham a terra, os Guaranis cultivam o gosto pela palavra, que é sua salvação. Clastres (1979, p. 160-164) descreve que ao amanhecer o pai se coloca em prece, pedindo as belas palavras originais para que os deuses reconhecendo seus esforços falem a Palavra que abre o caminho para Ywy mara-ey. TEMA 5 – BEM VIVER (SUMAK KAWSAY) Para finalizar queremos apresentar o Bem Viver como expressão contemporânea da cosmovisão ameríndia. Ainda que abordemos bastante uma perspectiva histórica e sociológica dos povos indígenas da América Latina, em hipótese alguma podemos tomá-los de modo fixo. Enquanto expressão cultural, os povos estão em movimentos internos e externos a suas comunidades, e resistem para manter sua identidade e modo de vida no século XXI. Figura 5 – A bandeira Wiphala, de origem andina, às margens do Lago Titicaca, no Peru, é a expressão da cosmovisão do Sumak Kawsay Crédito: simonmayer/Adobe Stock. 16 Como nos conta Dillenburg (2016, p. 53-54), em 1992, enquanto os estados nacionais se preparavam para celebrar o “Encontro dos Mundos”, organizações indígenas, camponesas e populares se uniam, em protesto, para celebrar 500 anos de resistência. Essas e outras iniciativas tinham um conteúdo político, colocando-se frontalmente contra o capitalismo neoliberal e suas crenças no progresso e desenvolvimento, que fragmentam, individualizam e destroem memórias coletivas. Assim, no final da década de 1990, a partir da cosmovisão dos kichwas na Amazônia equatorial, buscou-se “sistematizar uma proposta para organizar seu plano de vida e a gestão de seu território” e se expressou como Suma Qamaña, em aymara, e Sumak Kawsay, em kichwa. Traduzido, geralmente, por Bem Viver. O Bem Viver não se restringe à região andina. Há cosmovisões correlatas em diversos povos da ameríndia. Consiste em considerar a vida boa, não a partir do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) ou PIB (Produto Interno Bruto), mas pela harmonia, equilíbrio, cuidado, respeito, proteção e convivência com tudo o que existe, energias vitais, território, ancestrais, espíritos, seres da natureza e seres humanos (Dillenburg, 2016, p. 56). Para Célio Turino (2016, p. 15), equilíbrio, harmonia e convivência são afirmações do Bem Viver, O Bem Viver recupera esta sabedoria ancestral, rompendo com o alienante processo de acumulação capitalista que transforma tudo e todos em coisa. Para nossos irmãos indígenas do Xingu, o mundo é povoado por muitas espécies de seres, não somente dos reinos animal e vegetal, mas também os minerais, a água, o ar e a própria Terra, que contam com espírito e inteligência próprios – ou ajayu em aymara, no Altiplano boliviano. Todos os seres são dotados de consciência, e cada espécie vê a si mesma, e às outras espécies, a partir de sua perspectiva. Com esta sabedoria somos levados a compreender que a relação entre todos os seres do planeta deve ser encarada como uma relação social, em que cultura e natureza se fundem em Cultura Viva. Em suma, como aponta Dillenburg (2016, p. 117), trata-se de uma convivência recíproca entre comunidades, baseada, concretamente, na produção “daquilo que é suficiente para todas as pessoas, respeitando a natureza e as necessidade das futuras gerações, anulando, com isso, o mito [em sentido de falseamento] do progresso ilimitado”. NA PRÁTICA 17 Nessa aula, falamos um pouco sobre o povo Tupinambá, que, no século XVI, na época da invasão europeia, eram muitos e se estendiam por quase todo o litoral brasileiro. Atualmente, segundo o Censo 2010 (IBGE, 2012), há cerca de 5800 Tupinambás que vivem no interior da Bahia, na região de Ilhéus. Leia a seguir um trecho da entrevista concedida ao portal IHU-Online pelo professor Casé Angatu Xukuru Tupinambá. Tente destacar elementosda religiosidade dos Tupinambás presentes no texto. [...] IHU On-Line – Por que as lutas pela demarcação dos territórios indígenas são lutas que vão muito além da questão da terra? Casé Angatu Xukuru Tupinambá – Porque o território é sagrado. Nós não somos donos da terra, nós somos a terra. O direito congênito, natural e originário é anterior ao direito da propriedade privada. Não estamos lutando por reforma agrária. Pelo fato de nós sermos a terra, temos o direito de estarmos na terra e o direito de proteger o que chamamos de sagrado, a natureza, é ela que nos nutre e nós a nutrimos à medida que a protegemos. Fazemos isso para proteger o nosso sagrado, e a natureza e a terra são sagradas. Trata-se de uma luta por um direito natural. IHU On-Line – Nas cosmologias ameríndias parece haver uma harmonia maior entre o que é da ordem da política e o que é da ordem das formas de vida. Como as lutas indígenas tendem a se transformar em lutas por um modo de existência? Casé Angatu Xukuru Tupinambá – Como sou professor universitário, eu me deparo com as teorias decoloniais, das ideologias marxistas de esquerda, anarquistas etc. Nós somos tudo isso antes das teorias existirem. Nós somos decoloniais em nossa forma de ser, na nossa cosmovisão, cosmologia. Nós enxergamos a natureza não como algo a ser explorado, mas algo a ser vivenciado e protegido. Isso, em si, já antimercadológico, anticapitalista e, de certa forma, antiestatal, porque os Estados pregam um desenvolvimentismo que vai para cima de nossos territórios. IHU On-Line – Qual a importância de se reconhecerem os saberes ancestrais indígenas como conhecimentos da ordem da Ciência? A sabedoria é algo ligado à natureza, é algo ancestral. Digo mais, não é só uma questão dos povos indígenas, todos os povos têm uma sabedoria ancestral - Casé Tupinambá Casé Angatu Xukuru Tupinambá – Não tem importância nenhuma. A sabedoria é anterior ao conhecimento. A sabedoria é algo ligado à natureza, é algo ancestral. Digo mais, não é só uma questão dos povos indígenas, todos os povos têm uma sabedoria ancestral. Se respeitarmos a sabedoria ancestral, seja a do indígena, do negro, do europeu, do asiático, não importa, com certeza esta sabedoria será voltada para o respeito à natureza. Então o que tentamos fazer é que o universo político acadêmico perceba que o natural é o respeito à sabedoria ancestral. O desenvolvimentismo é destrutivo, vai por cima da sabedoria ancestral, porque ele é mercadológico. O sistema desenvolvimentista- capitalista, em si, detona as sabedorias ancestrais. Por isso falamos em “decolonização”, para que as pessoas nas universidades descolonizem seu conhecimento, no sentido de perceber como ele pode servir às sabedorias ancestrais. IHU On-Line – De que forma as cosmologias ameríndias oferecem uma alternativa de relação com o universo para além do paradigma do extrativismo ambiental e humano? 18 Casé Angatu Xukuru Tupinambá – Por meio do convívio. O convívio com a natureza. Eu não estou pregando ou falando que alguém que vive em uma cidade urbanizada como Porto Alegre, São Paulo ou Rio de Janeiro volte a morar em uma oca, volte a morar no meio da natureza. O que estou dizendo é que essas pessoas precisam respeitar quem vive na floresta por um desejo de preservar a natureza. O respeito aos povos da mata, aos caiçaras, aos povos da terra, aos ribeirinhos, aos marisqueiros, aos pescadores, isto é, aqueles que querem viver da terra sem explorá-la é algo necessário. Para quem vive em um centro urbano, o respeito a estas pessoas e a tentativa de barrar, por exemplo, Belo Monte, já é uma grande contribuição. Onde tem índio, onde tem povo tradicional, como os quilombolas, há e haverá natureza preservada. Quando não mais tiver natureza preservada, estaremos diante do fim do mundo. [...] (Machado, 2019) FINALIZANDO Nesta aula, aprendemos: 1. Antes da chega dos europeus, em 1492, outros povos já ocupavam a América, pelo menos há 12 mil anos, chegando a desenvolver culturas complexas com escrita, comércio, construções e tecnologias. As mais conhecidas são Tiahuanaco e Teotihuacán, base para os impérios Inca, no Peru, e Asteca, no México, respectivamente. 2. No território brasileiro há vestígios de ocupação humana por toda sua extensão, chegando a desenvolver agricultura, a pelo menos, entre 4 e 2 mil anos atrás. Os Tupi-Guarani, ocupavam quase todo o litoral brasileiro quando os portugueses chegaram. Viviam da caça, pesca e agricultura, sem um poder centralizado e ausente de hierarquia hereditária, organizavam-se socialmente de modo cooperativo e competitivo, como profundos valores guerreiros e religiosos. 3. A origem mítica dos Tupinambás afirma que este povo descende de Tamendonare, gêmeo rival de Aricoute. Sua religião está baseada no xamanismo e profetismo, e no contato imediato com seres espirituais que se expressam materialmente. São povos antropofágicos. Os antepassados são centrais na condução moral dos indivíduos para acessar o além. 4. A terra sem males, enquanto expressão religiosa, é ao mesmo tempo um lugar mítico e histórico, e explica as grandes migrações dos povos da costa rumo ao interior, mantendo vivas as culturas, como elementos de resistência e afirmação da identidade. 19 5. O Bem Viver é a sistematização da cosmovisão Andina, presente também em outras culturas ameríndias, em oposição ao projeto econômico de progresso e desenvolvimento ilimitados. Afirma-se como equilíbrio, harmonia e convivência entre os seres. REFERÊNCIAS CUNHA, M. C. da. Introdução a uma história indígena. In: CUNHA, M. C. da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 9- 25. CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado. Porto: Afrontamento, 1979. DILLENBURG, S. (Re)construindo o (des)envolvimento: a perspectiva andina do bem viver e suas contribuições ao ethos sócio-comunitário-religioso no contexto latino-americano. (Mestrado em Teologia). São Leopoldo: EST/PPG, 2016. DUSSEL, E. 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