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16/02 Introdução à Patologia Patologia é o ramo da ciência médica que estuda as alterações morfológicas e fisiológicas dos estados de saúde. A patologia geral é o estudo da reação de células ou tecidos à lesão, com enfoque nos mecanismos desta resposta. As respostas à lesão são classificadas como adaptações celulares (degenerativas, regeneradoras ou restauradoras), doenças vasculares, inflamação ou neoplasia. ▪ No corpo vivo, a lesão celular provoca diversas respostas vasculares, inflamatórias e imunomediadas, além de distúrbios do crescimento. I. Processo patológico ▪ Etiologia – refere-se às causas subjacentes e fatores responsáveis pelo início e progressão da doença. ▪ Patogenia – descreve o modo como uma doença se desenvolve. ▪ Alterações morfológicas – as alterações estruturais induzidas nas células e nos órgãos. ▪ Manifestações clínicas – as consequências funcionais das alterações morfológicas (sinais/sintomas). II. Tipos de diagnóstico ▪ Clínico – histórico + sinais + exame físico. ▪ Diferencial – doenças que poderiam apresentar os indícios ou lesões do caso. ▪ Clínico-patológico – alterações laboratoriais. ▪ Morfológico – alterações predominantes nos tecidos. Intensidade, duração, distribuição, localização, natureza. ▪ Etiológico – causa especifica. i. Tipos de diagnósticos macroscópico ▪ Morfológico – resumo da lesão. Ex.: enterite granulomatosa, difusa, acentuada. ▪ Etiológico – local e agente causador da lesão. Ex.: enterite micobacteriana. ▪ Etiologia – agente causador. Ex.: Mycobacterium paratuberculosis. ▪ Nome da doença/ condição – nome de uso comum. Ex.: doença de Johne. III. Descrição de lesões macroscópicas ▪ Distribuição. ▪ Cor. ▪ Forma. ▪ Tamanho. ▪ Consistência. ▪ Aspectos especiais – peso, som, presença de líquido e odor. IV. Diagnóstico morfológico Constitui-se de 3 componentes: órgão em questão, interpretação do processo e distribuição. i. Órgão ▪ Substantivo – ex.: pulmão – piogranulomas, multifocais, moderados. ▪ Adjetivo – ex.: piogranulomas pulmonares multifocais. ▪ Parte do próprio processo – ex.: pneumonia piogranulomatosa multifocal. ii. Distribuição ▪ Focal – apenas uma lesão (sobressai ao tecido normal). ▪ Multifocal – lesões múltiplas distribuídas pelo órgão, separadas por tecido não afetado. ▪ Coalescente – união de lesões multifocais. ▪ Miliares – focos numerosos e diminutos. ▪ Multifocais disseminadas – aparecem em todo o órgão ou sistema. ▪ Difusa – tudo ou quase tudo no campo de referência aparece afetado. Não há contraste com o normal. ▪ Disseminada ▪ Transmural – acomete as camadas da mucosa. ▪ Unilateral / bilateral / bilateralmente simétrica – simétricas quando a lesão se distribui ao longo de uma subunidade anatômica ou fisiológica. ▪ Segmentares – indicam que uma porção bem definida do órgão está anormal, geralmente definida por uma unidade vascular. ▪ Aleatória – não segue padrão anatômico e ocorrem sem referência a qualquer estrutura anatômica específica. V. Tipos de inflamação ▪ Purulenta / supurativa – quando o exsudato produzido é cremoso, amarelo-esverdeado, rico em células necróticas. ▪ Granulomatosa – formação de estruturas nodulares, aumento de volume. ▪ Hemorrágica – quando o exsudato é avermelhado e rico em hemácias. ▪ Necrosante – quando a necrose atinge grande parte do foco inflamatório. ▪ Proliferativa. ▪ Linfocítica / plasmocítica. ▪ Catarral – quando o exsudato produzido é viscoso, com alto teor de mucina, e cor e celularidade variável. ▪ Ulcerativa – degeneração, descamação epitelial e necrose profunda. ▪ Fibrinosa – quando o exsudato produzido é filamentoso, rico em fibrina, com celularidade variável. VI. Outros termos descritivos ▪ Relacionados à duração: o Aguda - dias a semanas. o Subaguda - de semanas a meses. o Crônica - de meses a anos. ▪ Intensidade: o Discreta – quando o tecido ou órgão afetado tem sua função levemente alterada, de modo a não comprometer seriamente o organismo como um todo. o Moderada – quando o tecido ou órgão afetado tem sua função alterada de modo a comprometer razoavelmente o organismo como um todo, ainda que não signifique por si risco de vida. o Acentuada – quando o tecido ou órgão afetado tem sua função muito alterada, comprometendo seriamente o organismo como um todo, inclusive ponde em risco a vida. ▪ “Cons” (com no plural) – resultado de mais de um evento. ▪ Exceções: o Neoplasias – nome da neoplasia + órgão onde se localiza. o Condições em que podem ser resumidas numa só palavra. Em caso de dúvida, diagnostico morfológico apropriado + nome da entidade. Ex.: endometrite supurativa difusa acentuada (piometra). VII. Coloração Lesões podem assumir coloração, lembrando que quanto maior a vascularização do órgão ou tecido a coloração tende a ser mais escura ao comparar órgãos e tecidos com uma vascularização menor. ▪ Vermelha – indica maior quantidade de sangue no tecido. Podem indicar: o Hiperemia – alteração na circulação sanguínea, que faz com que haja um aumento na quantidade de sangue circulando em determinado órgão ou região. o Congestão passiva – aumento da quantidade de sangue numa região por dificuldade de retorno venoso. o Hemorragia – perda de sangue devido ao rompimento de um vaso sanguíneo, veia ou artéria, alterando o fluxo normal da circulação. ▪ Amarela – pode indicar: o Inflamação (exsudato purulento ou caseoso) – é uma resposta à infecção ou lesão tecidual. o Icterícia – é a coloração amarelada decorrente da deposição de bilirrubina. o Acúmulo de gordura. o Queratina. o Fibrina – proteína fibrosa. o Edema – acúmulo de líquido nos espaços intercelulares dos tecidos, especialmente subcutâneo. ▪ Preta – pode indicar: o Melanose – armazenamento anormal de melanina, com acumulação desse pigmento dos tecidos. o Pseudomelanose – áreas focalmente extensas cinzas, esverdeadas ou azuladas, causadas pela decomposição do sangue por ação de bactérias. o Melanoma – câncer de pele. o Sangue digerido. o Antracose – lesão pulmonar definida como o acúmulo de poeira de carvão ou carbono nos pulmões e a reação tecidual à sua presença. ▪ Verde – parte do processo de Pseudomelanose e de exsudato eosinofílico. o Pseudomelanose. o Locais de injeção. o Deposição de biurato de amônia na bexiga. ▪ Translúcida – cistos ou transudatos o Edema cavitário. ▪ Branca – ausência de sangue. o Anemia. o Infiltrado de células inflamatória. o Necrose. o Queratinização. o Área de tecido de granulação. o Fibrose. o Acúmulo de gordura. o Mineralização de tecidos moles. o Áreas de deposição de fibrina ou neoplasia. ▪ Marrom – exsudato purulento + sangue e tecido necrótico. 23/02 VIII. Consistência Característica relacionada a: ▪ Homogeneidade. ▪ Coerência. ▪ Firmeza. ▪ Compacidade. ▪ Aderência entre as suas partes – resistência. ▪ Densidade. ▪ Viscosidade. IX. Forma Considerar aspectos ou característica geométricas da lesão. ▪ Elevada ou saliente – algo acrescentado ao tecido (edema, tumores, hematomas ou granulomas). ▪ Plana – mantém a mesma altura do tecido adjacente (lesão recente). ▪ Deprimida – algo foi retirado do tecido (lesão crônica; dissolução e retirada de tecido necrótico). ▪ Formas geométricas bem demarcadas – obstrução de unidade vascular. X. Tamanho ▪ Menor que o normal.▪ Assimetria. ▪ Rapidamente dinâmicos. ▪ Lentamente dinâmicos. ▪ Aspectos especiais – peso, som, presença de líquido e odor. XI. Significado clínico ▪ Extensão – porcentagem do tecido envolvido na lesão. Maior a extensão menor a função. ▪ Reversibilidade – determinado pelo diagnóstico morfológico. ▪ Vulnerabilidade do tecido – relacionada a redundância de sias unidades anatômicas, de sua reserva funcional e de sua capacidade de regeneração. Menor o pode de regeneração maior sua vulnerabilidade. Revisão da histologia do sistema urinário O parênquima renal é formado pelo corpúsculo mais uma sequência de túbulos (contorcido proximal, alça de Henle e contorcido distal). As principais funções são: ▪ Eliminação de resíduos do sangue. ▪ Mantém o equilíbrio hidroeletrolítico do corpo. ▪ Controla a quantidade de líquidos no organismo. ▪ Regula a pressão arterial e secreta hormônios. ▪ Produz a urina. O corpúsculo renal é formado pelo glomérulo (tufo de capilares fenestrados) e pela cápsula de Bowman (envolve o glomérulo). ▪ Espaço capsular – entre os folhetos visceral e parietal da cápsula de Bowman. É dividido em dois polos: ▪ Polo vascular – penetra a arteríola aferente e sai a arteríola eferente. ▪ Polo urinário – início do túbulo contorcido proximal. I. Folheto interno/visceral ▪ Podócitos – formadas por um corpo celular, prolongamento primário e prolongamento secundário. ▪ Células epiteliais altamente especializadas que exercem funções organizadoras e protetoras da estrutura e da função glomerular. ▪ Prolongamentos que recobrem os capilares. II. Células mesangiais São células contrateis receptoras para angiotensina II (diminuição do fluxo sanguíneo), receptoras para o fator natriurético atrial (aumenta o volume de sangue), garantem suporte estrutural ao glomérulo, fagocitose e digestão de substâncias anormais e patológicas retidas pela barreira de filtração. III. Túbulo contorcido proximal Se inicia a partir do polo urinário de um corpúsculo renal, prolongamento laterais que se interdigitam com os das células vizinhas. Seu ápice apresenta microvilos – orla em escova. IV. Alça de Henle Estrutura em forma de U. ▪ Néfrons justamedulares – retenção de água na medula. ▪ Urina hipertônica preservando água para o organismo. V. Túbulo contorcido distal Epitélio cúbico simples, sem orla em escova. São muito mais curtos do que os túbulos contorcidos proximais. Ao chegar no corpúsculo renal – cilíndricas altas, com núcleos alongados e próximos uns aos outros (mácula densa). VI. Aparelho justaglomerular Composto por: células das arteríolas aferentes, macula densa e células mesangiais extraglomerulares. Suas principais funções são: feedback túbulo-glomerular; sensível à pressão sanguínea e NaCl; regulação do fluxo sanguíneo renal e da filtração. ▪ Sistema renina-angiotensina- aldosterona: controla a hemodinâmica glomerular local, reabsorção de sódio e pressão arterial sistêmica. VII. Bexiga Armazena a urina formada pelos rins e conduz para o exterior pelas vias urinárias. Sua mucosa é formada por epitélio de transição. 02/03 Mecanismo de lesão celular A célula é como uma estrutura limitada por membranas e subdividida em unidades funcionais menores (organelas) por estas membranas. I. Componentes da célula i. Membranas celulares São bicamadas fluidas fosfolipídicas que circundam as células e suas organelas. As duas funções principais são: ▪ Atuar como barreiras seletivas. ▪ Formar a base estrutural das proteínas associadas a membranas (enzimas e receptores) que determinam a função celular. As proteínas transmembranas usadas como receptores de superfícies celulares são sintetizadas e montadas no reticulo endoplasmático rugoso inserido nas membranas do complexo de Golgi e se movem até a superfície celular. A membrana plasmática circunda toda a célula e, assim, é seu primeiro contato com substâncias ou agentes tóxicos e micróbios infecciosos. As proteínas transmembranas atuam em diversas funções estruturais essenciais, de transporte e enzimática. ii. Citosol ou citoplasma Citoplasma se refere à porção visível à microscopia óptica da célula que está no interior da membrana plasmática e fora do envelope nuclear. Citosol especifica a matriz citoplasmática, ou seja, a porção gelatinosa do citoplasma que cerca as organelas. iii. Núcleo Os animais são formados por células eucarióticas, o que indica que as células têm núcleos, exceto os eritrócitos. A cromatina não condensada é chamada eucromatina, está dispersa pelo núcleo e participa ativamente da produção de RNAm. A cromatina condensada é chamada de heterocromatina, se aglomera ao redor da membrana nuclear interna e está inativa. iv. Nucléolo É o lugar de transcrição e processamento do RNAr e da montagem de subunidades pré-ribossomais. v. Retículo endoplasmático rugoso (rER) É uma rede ligada à membrana de cisternas saculares achatadas. Sua membrana é continua à membrana nuclear externa. É responsável pela síntese proteica. vi. Ribossomos Sua função é traduzir as informações codificadas no RNAm em cadeias polipeptídicas de aminoácidos que formam as proteínas. Os ribossomos livres sintetizam proteínas que são liberadas no citosol e usadas pela célula. Os ribossomos fixos produzem proteínas que são inseridas na membrana celular, em seguida são transportadas até seus destinos finais. vii. Complexo de Golgi As proteínas feitas no rER são liberadas na face de entrada do complexo de Golgi por vesículas de transporte. Conforme as proteínas atravessam o complexo são processadas e embaladas em vesículas secretoras que são liberadas na face externa, no citosol. viii. Retículo endoplasmático liso Sua principal função é a síntese de lipídios, esteroides e carboidratos, assim como o metabolismo de substâncias exógenas, como fármacos ou toxinas. ix. Mitocôndria Sua principal função é a geração de energia como adenosina trifosfato (ATP) por meio da fosforilação oxidativa (fosforilação de ADP em ATP, utilizando energia liberada nas reações de oxidação-redução). Participam também da morte celular programada, sinalização, diferenciação celular e crescimento celular. x. Lisossomos e peroxissomos Os lisossomos são vesículas ligadas à membrana que contem enzimas que podem digerir a maioria das substâncias químicas. Os peroxissomos são vesículas ligadas à membrana que são especializadas na beta-oxidação de ácidos graxos e degradação, mediada por catalase, do peroxido de hidrogênio produzido. II. Causas da lesão celular A patogênese fundamental é a perturbação da homeostasia. A lesão celular começa em nível molecular e suas causas especificas são diversas e numerosas. Ela é resultante de diferentes mecanismos bioquímicos que agem em vários componentes celulares essenciais. A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de lesão, sua duração e sua gravidade. As células apresentam um repertório limitado de respostas à lesão, dependendo do tipo celular e da natureza da lesão. Essas respostas podem ser categorizadas como: ▪ Adaptação . ▪ Degeneração. ▪ Morte. A célula pode se adaptar ao estímulo ou lesão subletal de forma positiva, com aumento de eficiência ou produtividade, ou sofrer degeneração com redução da capacidade funcional. A lesão pode ser reversível com restauro final da estrutura e função celular normal ou quase normal, ou irreversível, com progressão da degeneração à morte da célula. i. Deficiência de oxigênio A hipóxia, uma reduçãodo suprimento de oxigênio, é umas causas mais comuns e importantes de lesão. Pode ser decorrente da oxigenação inadequada do sangue devido à insuficiência cardíaca ou respiratória, redução da perfusão vascular, menor transporte de O2 por eritrócitos ou inibição de enzimas respiratórias da célula. ii. Agentes físicos Incluem trauma mecânico, estremos de temperatura, radiação e choque elétrico. O trauma pode danificar as células de forma direta (esmagamento ou laceração) ou indireta, por alteração do suprimento de sangue para estas células e tecidos. iii. Agentes químicos e drogas O efeito terapêutico dos agentes farmacológicos é obtido por meio da perturbação da homeostasia de populações celulares selecionadas, de preferencia em limites toleráveis. São consideradas toxinas caso alterem a homeostasia de maneira danosa. Elas afetam as células por meio da: ▪ Interação com receptores. ▪ Inibição ou indução de enzimas ou outras alterações das vias metabólicas. ▪ Produção de radicais livres. ▪ Aumento da permeabilidade da membrana. ▪ Dano de cromossomos ou componentes estruturais da célula. iv. Agentes infecciosos Diferem de outros agentes lesivos, já que podem se replicar após chegarem às células ou tecidos. Os agentes variam de moléculas proteicas sem ácidos nucleicos (príons), a micróbios (vírus e bactérias) até parasitas macroscópicos e danificam as células de diversas formas. A lesão é exacerbada em muitas doenças infecciosas pelas respostas inflamatórias e imunológicas contra o micróbio infeccioso. v. Reações imunológicas Pode causar lesão celular tanto por ausência de resposta eficaz (imunodeficiência) aos micróbios infecciosos quanto por outros antígenos estranhos danosos ou pela resposta excessiva (hipersensibilidade) a um antígeno ou reação inadequada a autoantígenos (doença autoimune). vi. Distúrbios genéticos A reprodução seletiva de animais domésticos para um determinado fenótipo de conformação ou disposição, reduziu a diversidade genética em animais de raças puras e aumentou a prevalência de doenças congênitas, como: ▪ Anormalidades metabólicas. ▪ Neoplasias. ▪ Doenças autoimune. ▪ Maior suscetibilidade à infecção. vii. Desequilíbrios nutricionais Os animais podem se adaptar a deficiências dietéticas de curto prazo de proteínas ou calorias por meio da glicólise, da lipólise e do catabolismo das proteínas musculares; porém, em longo prazo, a desnutrição resulta na atrofia de células e tecidos. O excesso de calorias pode sobrecarregar as células com glicogênio e lipídios e causar obesidade e distúrbios metabólicos, o que predispõe o animal obeso a diversas doenças. Determinadas deficiências ou desequilíbrios dietéticos de aminoácidos essenciais, ácidos graxos, vitaminas ou minerais podem provocar enfraquecimento muscular, baixa estatura, maior suscetibilidade à infecção, distúrbios metabólicos. III. Lesão celular reversível A primeira resposta de célula à perturbação de hemostasia é o edema celular agudo. Se a lesão não for muito grave ou muito prolongada, a célula pode se recuperar e voltar à estrutura e função normal. i. Edema celular agudo Também conhecido como degeneração hidrópica, uma vez que é causado pelo influxo de água e íons de sódio em caso de disfunção das bombas iônicas de sódio-potássio, o que causa o edema. O edema celular agudo causa lise e a morte celular. Degeneração hidrópica é comumente usado quando a alteração ocorre em determinados tipos de células, como hepatócitos ou células epiteliais tubulares renais. Em outros tecidos o edema celular pelo influxo de água é chamado degeneração balonosa. No SNC o aumento de volume celular de células da glia, mais proeminente nos astrócitos é denominado edema citotóxico. Em células normais, as adenosinas trifosfatases de sódio-potássio atuam como bombas iônicas, especificamente como transportadores ativos de cátions pelas membranas celulares. Para cada molécula de ATP hidrolisada, a bomba iônica exporta três íons de Na e importa dois íons de K. ii. Lesão hipóxica A hipoxia é o resultado final da menor concentração de oxigênio em qualquer ponto de sua passagem do ar no trato respiratório até a incorporação na hemoglobina e o transporte vascular até as células. A isquemia é a diminuição local no suprimento sanguíneo ao tecido, que diminui a quantidade disponibilizada de oxigênio, glicose e outros nutrientes para a célula e também reduz a redução de subprodutos metabólicos. Em caso de depleção do oxigênio celular, a fosforilação oxidativa é interrompida e a célula passa a utilizar o metabolismo anaeróbico ou morrer. iii. Características celulares – lesão reversível ▪ Tumefação (aumento de volume) generalizada da célula e de suas organelas. ▪ Perda de vilosidades. ▪ Formação de bolhas na membrana plasmática. ▪ Desprendimento dos ribossomos do rético endoplasmático. ▪ Aglomeração de cromatina nuclear. iv. Sequência de eventos na tumefação celular aguda 1. Hipóxia – deficiência de O2. 2. Diminuição da fosforilação oxidativa e ATP. 3. Aumento da glicólise e lactato intracelular e depleção de estoques de glicogênio. 4. Falha na bomba de NAK (sódio- potássio). 5. Influxo de Na+, Ca2+, e H2O / efluxo de K+ e Mg2+. 6. Tumefação das mitocôndrias, retículo endoplasmático rugoso e liso, complexo de Golgi e membrana nuclear externa. 7. Desprendimento dos ribossomos, condensação de cromatina nuclear, perda de microvilosidades , vesiculação de retículo endoplasmático, formação de espirais de membrana. 8. Ruptura severa de membranas celulares, influxo de Ca2+ para o interior das mitocôndrias e citosol, dilatação celular generalizada e formação de espaços no citosol. 9. Lesão celular irreversível – morte celular (necrose). IV. Lesão celular irreversível e morte celular A resposta celular à lesão depende do tipo de célula danificada e sua suscetibilidade e/ou resistência à hipóxia e lesão direta da membrana e da natureza, gravidade e duração da lesão. Com a persistência do dano, a lesão trona-se irreversível e, com o tempo, a célula não pode se recuperar e morre pelo mecanismo de apoptose ou necrose. i. Alterações citomorfológicas da lesão irreversível ▪ Lesão da membrana plasmática. ▪ Influxo de cálcio na célula. ▪ Tumefação e vacuolização mitocondrial. ▪ Densidades amorfas (possivelmente cálcio) nas mitocôndrias. ▪ Tumefação lisossomal. ii. Mecanismos envolvidos na lesão ▪ Depleção do ATP Causada principalmente por hipóxia, a falta de ATP ativa a glicólise anaeróbica, que leva à diminuição do glicogênio, ao aumento da produção de ácido láctico, e redução do pH celular resultando na condensação da cromatina nuclear. A atividade da bomba de Na/K fica reduzida, levando ao influxo de sódio, cálcio e água causando uma tumefação celular, mitocondrial e no reticulo endoplasmático rugoso, levando à perda das microvilosidades, formação de bolhas na membrana e diminuição da síntese proteica. ❖ Anóxia – redução completa de O2. ▪ Lesão mitocondrial Suprimento diminuído de oxigênio, toxinas e radiação podem levar à disfunção mitocondrial, diminuindo a produção de ATP e aumentando a produção de espécies reativas de oxigênio, o que pode culminar na morte celular por necrose. Outros estímulos, como diminuição dos fatores de sobrevivência, danos no DNA e proteínas, podem aumentar a permeabilidade da membrana mitocondrial interna, liberando proteínas que levam à morte celular por apoptose. ▪ Influxo de cálcio para o citosol e perda da homeostase do cálcio O aumento intracelular de Ca2+, induzido por isquemia e toxinas, ativa várias enzimas que possuem efeitos celulares deletérios empotencial: ATPases (reduzindo os níveis de ATP), fosfolipases e proteases (produzindo danos nas membranas e citoesqueleto) e as endonucleases (gerando dano nuclear). O aumento de níveis intracelulares Ca2+ também causa um aumento na permeabilidade mitocondrial e induz a apoptose. ▪ Acúmulo de radicais livres derivados do oxigênio Radical livre é qualquer molécula que possui um elétron não pareado. São gerados como subproduto de metabolismo oxidativo normal ou pela exposição à radiação, gases tóxicos, substâncias químicas e drogas. Os efeitos das espécies reativas de oxigênio (EROs ou ROS), resultantes de interferências na atividade normal da mitocôndria, são amplos, com destaque à peroxidação lipídica na membrana, à modificação oxidativa das proteínas (levando ao seu mal dobramento ou sua desnaturação ), e a danos ao DNA. ▪ Defeitos na permeabilidade da membrana Danos na membrana mitocondrial diminui a produção de ATP. Danos na membrana plasmática leva a uma instabilidade da células, por perda do controle osmótico, íons e constituintes celular. Danos na membrana lisossômica leva ao extravasamento e ativação de enzimas que levam à digestão dos componentes celulares. Os defeitos nas membranas induzem à morte celular por necrose. As principais causas são por: falta de energia (isquemia) ou por lesão direta por toxinas, vírus, substâncias químicas, fragmentos do complemento, etc. Agentes físicos: o Traumas -ruptura direta e morte ou prejudicar o suprimento sanguíneo. o Calor extremo – desnatura enzimas celulares essenciais, pode aumentar a velocidade das reações metabólicas: substratos, água e pH em níveis letais, altera a condução de nervos e músculos. o Radiação ionizante – ionização da água celular. o Radiações no geral – podem danificar o material genético. Morte por apoptose, defeitos genéticos e neoplasias. o Frio extremo – prejudica o fluxo sanguíneo / cristais de gelo – ruptura das membranas celulares. Agentes infecciosos: o Vírus. o Bactérias. o Protozoários. o Fungos. Outras causas: o Desequilíbrios e deficiências nutricionais. o Anormalidades genéticas. o Desequilíbrio da carga de trabalho. o Substâncias químicas, drogas e toxinas. o Disfunção imunológica. o Envelhecimento. 09/03 Mecanismos de adaptação celular I. Células lábeis, estáveis e permanentes ▪ Células lábeis – aquelas que rotineiramente proliferam em circunstâncias normais – crescimento e renovação constantes. o Ex.: epiderme, epitélio intestinal e medula óssea. ▪ Células permanentes – células que deixaram o ciclo celular, sem poder sofrer mitose na via pós-natal. o Ex.: neurônios e miócitos cardíacos e esqueléticos. ▪ Células estáveis – baixo nível de replicação – capacidade de “recolocar” células. o Ex.: ossos, cartilagem e musculatura lisa i. Hipertrofia Se refere ao aumento de tamanho e volume do tecido ou órgão devido ao aumento do tamanho celular. O aumento de massa tecidual se deve ao aumento do tamanho das células parenquimatosas, e não de células do estroma ou leucócitos. É também uma resposta fisiológica do musculo estriado à maior carga de trabalho, como ocorre em cavalos treinados para corridas, mas também pode ser compensatória, por exemplo, mal funcionamento de um átrio ou ventrículo. ii. Hiperplasia Implica em um aumento no número de células principais do tecido ou órgão e ocorre somente na população celular capaz de sofrer mitose. Muitas células epiteliais (hepatócitos, epiderme e mucosa intestinal) rapidamente sofrem hiperplasia em resposta à estimulação hormonal, inflamação ou trauma físico. A hiperplasia é interrompida quando o estímulo é removido. Ela é considerada fisiológica quando é uma resposta à estimulação hormonal cíclica, como no desenvolvimento endometrial ou mamário. A hiperplasia da cicatrização de feriadas não é um evento normal, mas é uma resposta adequada e compensatória de fibroblasto e células endoteliais à lesão traumática. Por outro lado, a elevação inadequada de hormônios tróficos ou de fatores de crescimento pode resultar em hiperplasia persistente que pode ser precursora da transformação neoplásica. iii. Metaplasia É a alteração de um tipo celular diferenciado (maduro) a outro tipo celular diferenciado da mesma linhagem germinativa. Normalmente, o epitélio especializado é substituído por um epitélio menos especializado. A metaplasia escamosa é uma resposta: ▪ À inflamação crônica. ▪ Ao desequilíbrio hormonal. ▪ À deficiência de vitamina A. ▪ Ao trauma. A metaplasia escamosa do epitélio respiratório da traqueia ou dos brônquios é associada a perda de células ciliadas e células caliciformes, que são importantes na depuração mucociliar e na resistência a doenças pulmonares. iv. Atrofia Diminuição na massa do tecido ou órgão devido ao menor tamanho e/ou número de células após a obtenção do tamanho normal. O encolhimento do tecido atrofiado é causado pela redução do tamanho ou pela perda de suas células principais. As causas de atrofia celular ou tecidual incluem: ▪ Privação nutricional. ▪ Perda de estimulação hormonal. ▪ Menor carga de trabalho - desuso. ▪ Denervação. ▪ Compressão. ▪ Senilidade. Características: ▪ Macroscópicas – diminuição do peso e volume, podem apresentar membrana de revestimento solta, possui vasos sanguíneos tortuosos e muito grandes para o volume tecidual, e geralmente são mais firmes devido à fibrose ou condensação do colágeno restante. ▪ Microscópicas – células são menores e/ou em número reduzido, há menos mitocôndrias, reticulo endoplasmático e miofilamentos. v. Involução É a diminuição do tamanho de um tecido causada pela redução do número de células (normalmente por apoptose). Mecanismos de morte celular A morte de células é uma parte essencial, de “valor agregado” do desenvolvimento embrionário e maturação do feto e da homeostasia das populações de células somáticas adultas. Apoptose É uma forma de morte celular programada importante no desenvolvimento embrionário, na homeostasia e na involução de órgãos ou tecidos privados da estimulação por hormônios ou fatores de crescimento. É também uma forma regulada de morte celular determinada por vias de sinalização em resposta a certos tipos de lesão. A apoptose é uma via de morte celular na qual as células ativam enzimas que degradam o DNA nuclear das células, bem como as proteínas nucleares e citoplasmáticas. Porém, a morte celular também é uma resposta sem volta à lesão grave e é esta a forma patológica. A morte celular geralmente assume uma de duas formas morfológicas: necrose ou apoptose. O termo necrose evoluiu e hoje significa a morte por aumento de volume da célula que acaba com a ruptura das membranas celulares. Já a apoptose é determinada por cascatas de sinalização celular e tende a afetar células isoladas. ppA membrana plasmática da célula apoptótica permanece intacta, mas é alterada de tal forma que os fragmentos, chamados corpos apoptóticos, se tornam altamente “comestíveis”, levando ao seu rápido consumo por fagócitos. A célula morta e seus fragmentos são limpos com pouco extravasamento de conteúdo celular, de forma que a morte celular apoptótica não causa uma reação inflamatória. I. Características morfológicas 1. Retração celular. 2. Condensação da cromatina. 3. Fragmentação nuclear. 4. Membrana plasmáticaintacta. 5. Conteúdo celulares – corpos apoptóticos. II. Causas da apoptose Ocorre em muitas situações normais e serve para eliminar tanto as células potencialmente prejudiciais quanto aquelas que tenham sobrevivido mais do que sua utilidade. Ocorre também como evento patológico quando as células são danificadas, especialmente quando o dano afeta o DNA ou as proteínas celulares; assim, a célula irremediavelmente danificada é eliminada. i. Apoptose fisiológica Durante o desenvolvimento normal de um organismo, algumas células morrem e são substituídas por novas. Em organismos maduros, os tecidos altamente proliferativos e dependentes de hormônios sofrem ciclos de proliferação e perda celular, frequentemente determinados pelos níveis de fatores de crescimento. No sistema imune, a apoptose elimina o excesso de leucócitos deixados no fim das respostas imunes, bem como linfócitos que podem causar doenças autoimunes. As principais apoptoses fisiológicas são: ▪ Membranas interdigitais. ▪ Desenvolvimento da mucosa intestinal. ▪ Fusão do palato. ▪ Involução normal de tecidos hormônios dependentes – ciclo menstrual, menopausa, desmame, machos castrados. ▪ Atresia folicular ovariana. ▪ Leucócitos. ▪ Maturação linfoide e prevenção da autoimunidade. ▪ Citotoxicidade. ii. Apoptose em condições patológicas Elimina as células que estão danificadas que não podem ser reparadas. Isso é observado quando há lesão grave do DNA, por exemplo, após exposição à radiação e fármacos/drogas citotóxicas. O acúmulo de proteínas mal dobradas também desencadeia mor apoptótica. Determinados agentes infecciosos, particularmente alguns vírus, induzem morte apoptótica de células infectadas. Ex.: vírus da hepatite B, vírus da hepatite C, vírus da influenza. iii. Dobramento de proteínas As chaperonas são moléculas importantes na proteção contra o enovelamento incorreto das proteínas. O enovelamento é a obtenção da conformação espacial especifica de uma proteína e interfere na maneira como a mesma atua no corpo e se associa a outras proteínas. O enovelamento incorreto pode ocasionar em diversas doenças. 16/03 III. Mecanismo de apoptose A apoptose é regulada por veias bioquímicas que controlam o equilíbrio entre os sinais indutores de morte e sobrevivência, em última instância, a ativação de enzimas denominadas caspases. i. Caspases Foram assim nomeadas porque são cisteína proteases que clivam proteínas após resíduos de ácido aspártico. São classificadas em dois grupos: ▪ Caspases iniciadoras – 8 e 9. ▪ Caspases efetoras – 3 e 7. Duas vias distintas convergem para a ativação das caspases: a via mitocondrial e a via do receptor da morte. A função das chaperonas é auxiliar as proteínas no processo de enovelamento, garantindo que elas alcancem a estrutura espacial correta. Por consequência, essas guardiãs das proteínas cumprem um papel fundamental contra o surgimento de doenças. ii. Via mitocondrial ou intrínseca É responsável pela apoptose na maioria das situações fisiológicas e patológicas. Mitocôndrias contêm várias proteínas que são capazes de induzir apoptose, incluindo citocromo c. Quando as membranas mitocondriais se tornam permeáveis, o citocromo c escapa para o citoplasma, desencadeando a ativação da caspase e a morte apoptótica. Uma família de mais de 20 proteínas, cujo protótipo é a Bcl-2, controla a permeabilidade das mitocôndrias. ▪ Reguladores inibidores da apoptose – Bcl-2 e Bcl-XL. ▪ Reguladores promotores da apoptose – Bax e Bak. 1. Em células saudáveis, a Bcl-2 e a proteína Bcl-XL relacionada, que são produzidas em resposta ais fatores de crescimento e outros estímulos, mantêm a integridade das membranas mitocondriais, em grande parte “segurando” dois membros pró- apoptóticos da família Bax e Bak, sob controle. 2. Quando as células são privadas de fatores de crescimento e sinais de sobrevivência, ou são expostas a agente que danificam o DNA, ou acumulam quantidade inaceitáveis de proteínas mal dobradas, vários sensores são ativados. 3. Os sensores deslocam esse equilíbrio delicado, sustentando a vida em favor Bak e Bax pró-apoptóticas. 4. Como resultado, Bak e Bax se dimerizam, se inserem na membrana mitocondrial e formam canais através dos quais o citocromo c e outras proteínas mitocondriais extravasam para o citosol. 5. Depois que o citocromo c se encontra no citosol, juntamente com certos cofatores, ativa a caspase-9 (iniciadora). 6. O resultado final é a ativação de uma cascata de caspases que desencadeia a fragmentação nuclear e leva à formação de corpos apoptóticos. iii. Via do receptor de morte ou extrínseca Muitas células expressam moléculas de superfície, chamadas receptores de morte, que desencadeiam a apoptose. A maioria dessas moléculas faz parte de uma família do receptor do fator de necrose tumoral (TNF), que contém em suas regiões citoplasmáticas um domínio de morte. Os receptores de morte pró-apoptóticos são o receptor de TNF tipo I e Fas. 1. O ligante de Fas (FasL) é uma proteína de membrana que expressa principalmente linfócitos T ativados. 2. Quando essas células T reconhecem alvos que expressão Fas, as moléculas Fas são ligadas em reação cruzada pelo Fas Ligante e se ligam a proteínas adaptadoras através do domínio de morte. 3. Estas, então, recrutam e ativam a caspase-8 (iniciadora), que, por sua vez, ativa caspases a jusante. 4. As caspases efetoras formam canais na mitocôndria, que leva ao extravasamento de citocromo c, que desencadeia a apoptose. 5. O resultado final é a fragmentação celular. IV. Eliminação de células apoptóticas Células apoptóticas e seus fragmentos atraem os fagócitos produzindo uma serie de sinais de “coma-me”. Um exemplo é a fosfatidilserina que está presente no folheto interno da membrana plasmática, mas em células apoptóticas desloca-se para o folículo externo, em que é reconhecido por macrófagos teciduais, levando à fagocitose das células apoptóticas. A fagocitose das células apoptóticas é tão eficiente que as células mortas desaparecem sem deixar vestígios e a inflamação está praticamente ausente. Necrose É uma forma de morte celular, na qual as membranas celulares se desintegram e as enzimas celulares extravasam e, por fim, digerem a célula. É sempre patológica e ocorre em tecido vivo. A necrose provoca uma reação local do hospedeiro, chamada inflamação, que é induzida por substâncias liberadas das células mortas e que serve para eliminar os debris celulares e iniciar o processo de reparo subsequente. É frequentemente o ponto culminante da lesão celular reversível que não pode ser corrigida. Os mecanismos bioquímicos incluem: ▪ Falha na geração de energia na forma de ATP devido à redução do fornecimento de oxigênio ou lesão mitocondrial. ▪ Danos às membranas celulares, incluindo a membrana plasmática e as membranas lisossômicas, o que resulta em extravasamento de conteúdo celular incluindo enzimas. ▪ Danos irreversíveis aos lipídios celulares, proteínas e ácidos nucleicos, que podem ser causados por espécies reativas de oxigênio. I. Características morfológicas A necrose é caracterizada por alterações no citoplasma e no núcleo das células lesionadas. i. Alterações citoplasmáticas ▪ As células necróticas exibem aumento da eosinofilia (ficam coradas de rosa). ▪ A célula pode exibir aparência homogênea mais vítrea, por causa da perda de partículas de glicogênio. ▪ Quando as enzimas já digeriram as organelas citoplasmáticas, o citoplasma se torna vacuolado e parece “roído por traças”. ▪ À microscopia eletrônica: o Descontinuidade da membrana plasmática.o Tumefação mitocondrial com a presença de densidades amorfas. o Figuras de mielina. ii. Alterações nucleares ▪ Picnose – caracterizada por retração nuclear e aumento da basofilia. O DNA se condensa em uma massa retraída escura. ▪ Cariorrexe – o núcleo vai se fragmentando. Rompe a membrana do núcleo picnótico e o núcleo fragmenta-se. ▪ Cariólise – a basofilia desaparece por causa da digestão do DNA pela atividade da desoxirribonuclease (DNase). Ou seja, há a digestão do núcleo. Entre 1 a 2 dias, o núcleo de uma célula morta pode desaparecer completamente. II. Tipos de necrose i. Necrose de coagulação A arquitetura básica dos tecidos permanece preservada por alguns dias após a morte celular. Os tecidos afetados adquirem textura firme. A lesão desnatura não apenas as proteínas estruturais, como também as enzimas, bloqueando assim a proteólise das células mortas; como resultado, células anucleadas e eosinofílicas persistem por dias ou semanas. Os leucócitos são recrutados e suas enzimas lisossômicas digerem as células mortas. Os restos celulares são removidos por fagocitose. A necrose de coagulação é característica de: ▪ Infartos – exceto no cérebro. ▪ Queimaduras e lesões por ácidos e bases fortes. ▪ Intoxicação aguda. Macroscópicamente – área amarelo pálida, textura firme, sem brilho, de limites precisos, dependendo do tipo de circulação do órgão. Microscopicamente – perda do núcleo, mas com preservação da forma celular básica, permitindo o reconhecimento dos contornos células e da arquitetura do tecido. ii. Necrose liquefativa É observada em infecções bacterianas focais ou, ocasionalmente, nas infecções fúngicas, porque os microrganismos estimulam o rápido acumulo de células inflamatórias e as enzimas dos leucócitos digerem o tecido. ▪ A morte por hipóxia no SNC é por necrose liquefativa. As células mortas são completamente digeridas, transformando o tecido em uma massa viscosa liquida que eventualmente é removida por fagócitos. Se o processo for iniciado por inflamação aguda, como na infecção bacteriana, o material apresenta-se com aspecto amarelo cremoso chamado de pus. Macroscópicamente – perda da arquitetura do tecido que é substituída por massa pastosa ou liquida. Microscopicamente – substituição das células por uma massa rósea amorfa. iii. Necrose gangrenosa Aplica-se a um membro, normalmente a perna, que perdeu seu suprimento sanguíneo e sofreu necrose de coagulação, envolvendo varias camadas de tecido. Quando a infecção bacteriana se sobrepõe, a aparência morfológica muda para necrose liquefativa devido ao conteúdo destrutivo das bactérias e dos leucócitos atraídos. ▪ Gangrena úmida – necrose + fermentação bacteriana. ▪ Gangrena gasosa – contaminação por bactérias do gênero Clostridium septicum, C. perfrigens, etc. ▪ Gangrena seca 0 necrose de coagulação isquêmica de extremidade. iv. Necrose caseosa É encontrada mais frequentemente em focos de infecção tuberculosa. Caseoso (semelhante a queijo) refere-se à aparência friável branco-amarelada da área de necrose no exame macroscópico. A arquitetura do tecido está completamente destruída, e os contornos celulares não podem ser distinguidos. A área de necrose está circundada por macrófagos e outras células inflamatórias, essa aparência é característica de uma lesão nodular inflamatória denominada granuloma. v. Necrose gordurosa Refere-se a áreas focais de destruição gordurosa, em geral resultante da liberação de lipases pancreáticas ativadas na substância do pâncreas e na cavidade peritoneal. As enzimas pancreáticas que extravasam e dos ductos que liquefazem as membranas dos adipócitos no peritônio, e as lipases “quebram” os ésteres de triglicerídeos contidos nessas células. Os ácidos graxos liberados combinam-se ao cálcio, produzindo áreas brancas acinzentadas visíveis. ▪ Ex.: pancreatite aguda. vi. Necrose fibrinoide Geralmente ocorre em reações imunes em que complexos de antígenos e anticorpos são depositados nas paredes dos vasos sanguíneos, mas também pode ocorrer na hipertensão grave. Os imunocomplexos depositados, combinados às proteínas plasmáticas que extravasam da parede dos vasos danificados, produzem uma aparência amorfa róseo-brilhante. O extravasamento de proteínas intracelulares através da membrana celular e, por fim, para a circulação proporciona meios de detectar a necrose tecido-específica utilizando amostras de sangue ou soro. 29/03 Acúmulos intracelulares As células podem acumular quantidades anormais de várias substâncias, que podem ser inofensivas ou causar vários graus de lesão. A substância pode estar localizada no citoplasma, dentro de organelas ou no núcleo, e pode ser sintetizada pelas células afetadas ou pode ser produzida em outra parte. As principais vias de acúmulo intracelular anormal são a remoção e degradação inadequada ou produção excessiva de uma substância endógena (produtos da síntese ou metabolismo normal), ou deposição de um material exógeno (mineral ou produtos de agentes infecciosos). I. Tipos de anormalidades ▪ Uma substância endógena normal é produzida a uma taxa normal ou aumentada, mas a taxa de metabolismo é inadequada para removê-la. ▪ Uma substância endógena normal ou anormal acumula-se devido a defeitos genéticos ou adquiridos no metabolismo, processamento, transporte ou secreção dessas substâncias. ▪ Uma substância exógena anormal deposita-se e acumula-se porque a célula não tem nem a maquinaria enzimática para degradar a substância nem a capacidade de transportá-la para outros locais. II. Tipos de acúmulos i. Lipidose hepática – também chamada de fígado gorduroso, alteração gordurosa, esteatose hepática. Lipidose refere-se a qualquer acúmulo de triglicerídeos e outros metabólitos lipídicos (gorduras neutras e colesterol) dentro das células parenquimatosas. É mais comumente observada no fígado, pois este é o principal órgão envolvido no metabolismo da gordura. Pode ser causada por toxinas, desnutrição proteica, diabetes melito, obesidade ou anóxia. As principais causas são a exposição do animal a condições que causam aumento da mobilização dos estoques de gordura corporal, isto é, demanda aumentada de energia durante um período curto. Desequilíbrios nutricionais. Aspecto macroscópico: ▪ Órgão aumentado, amarelado, macio, flexível, e os bordos dos lobos são arredondados e largos. ▪ Ao corte – parênquima macia, fiável e com textura untuosa (gordurosa) lipídios dentro dos hepatócitos. ▪ Pode flutuar no formal, pois a densidade é baixa devido a presença de lipídios no interior dos hepatócitos. Aspecto microscópico: ▪ Hepatócitos vacuolizados com núcleo periférico. ▪ No início – poucos vacúolos pequenos e claros, apresentam bordos nitidamente delineados. ▪ Quando severo – núcleo pode ser deslocado para a periferia e a célula parecer um adipócito. ▪ Para confirmar realizar a coloração de oil red, pois colore a gordura de vermelho. ii. Glicogênio Depósitos intracelulares excessivos de glicogênio estão associados a anormalidades no metabolismo da glicose ou do glicogênio. Os hepatócitos e miócitos armazenam glicogênio. Diabetes melito, distúrbios genéticos (doenças de armazenamento de glicogênio) e em animais que receberam quantidades excessivas de corticosteroides há o acúmulo de glicogênio nos hepatócitos. É muito parecido com a esteatose, com uma diferença em que o núcleo permanece no centro e a coloração para conformar é realizada a reação de PAS. Aspecto macroscópico: ▪ Fígado pode ficar aumentado e pálido. Aspectomicroscópico: ▪ Glicogênio aparece como vacúolos claros no citoplasma da célula, forma espaços claros e irregulares com contornos pouco definidos. Núcleo permanece localizado no centro. iii. Proteínas Os acúmulos de proteína morfologicamente visíveis são muito menos comuns que os acúmulos lipídicos; podem ocorrer quando excessos são apresentados às células ou se às células sintetizam quantidades excessivas. Alteração hialina – aspecto homogêneo, eosinofílico e vítreo (translúcido). Substância hialinas podem ser intracelulares ou extracelulares. Proteína hialina intracelular: ▪ Gotículas citoplasmáticas hialinas róseas – reabsorção maior de proteínas no filtro glomerular e as vesículas que contêm essa proteína se acumulam causando essa aparência. ▪ Produção excessiva de proteína normal – acúmulo de imunoglobulinas recentemente sintetizadas, que pode ocorrer, formando os corpúsculos de Russel, redondos e eosinofílicos. iv. Defeitos no dobramento de proteína Após a síntese ribossomal, as novas proteínas são levadas para o retículo endoplasmático para dobramento, logo são levadas para embalagem e secreção pelo complexo de Golgi. A homeostasia da proteína é auxiliada por chaperonas, que acompanham as proteínas a seu local de ação, auxiliam o dobramento da proteína, marcam peptídeos mal-dobrados para redobramento ou degradação. v. Corpúsculo de inclusão viral Alguns tipos de vírus produzem corpúsculos de inclusão viral intranuclear ou citoplasmática característicos. Contêm acúmulos de proteína viral. Hepatócitos, plasmócitos, células das ilhotas pancreáticas e outras células secretoras “profissionais” possuem um sistema sofisticado que responde à presença de proteínas não dobradas. As doenças relacionadas ao dobramento de proteínas se desenvolvem quando estas células respondem de forma ineficaz às proteínas não dobradas, que podem causar “doenças com perda de função” e geralmente são resolvidas por degradação no proteassomo. Entretanto, determinadas doenças do dobramento causam acúmulo intracelular ou deposição extracelular de proteínas relativamente insolúveis, das quais algumas, como o amiloide Acúmulos extracelulares I. Substâncias hialinas As proteínas são responsáveis pela aparência “hialina” em cortes corados com HE. Hialina é usada para substâncias proteináceas intracelulares ou extracelulares que incorporam o corante eosina de forma homogênea, sendo então eosinofílicas. i. Amiloide É uma das doenças do mal-dobramento de proteínas. As proteínas mal-dobradas e agregadas tem estrutura fibrilar característica, altamente organizada, embora sua sequência de aminoácidos seja variável. A amiloidose é um grupo de doenças bioquimicamente diversas que tem uma patogênese comum e aspecto morfológico genérico. Os mecanismos de amiloidose incluem: ▪ Propagação das proteínas mal- dobradas, que servem como modelos para a autorreplicação. ▪ Acúmulo de proteínas precursoras mal-dobradas devido a erros em sua degradação. ▪ Mutações genéticas que promovem o mal-dobramento de proteínas precursoras. ▪ Produção excessiva de proteínas devido a uma anomalia ou a proliferação das células sintetizadoras. ▪ Perda de moléculas chaperonas ou outros componentes essenciais do processo de montagem da proteína. Ocorre extracelularmente e comprime as células parenquimais adjacentes, causando atrofia ou morte pro compressão e/ou isquemia. Macroscopicamente, o amiloide é observado como depósitos nodulares coalescentes ou amorfos amarelos céreos. À microscopia óptica, o amiloide é homogêneo e caracteristicamente fibrilar e eosinofílico pálido. Com a coloração de vermelho Congo, o amiloide assume tonalidade mais vermelha alaranjada. O amiloide apresenta birrefringência característica de cor verde-maçã à luz polarizada, principalmente coma coloração de vermelho Congo. II. Tipos de amiloidose O amiloide pode ser classificado pela identidade bioquímica de seu peptídeo precursor ou proteína. i. Amiloide AL Composto por cadeias leves de imunoglobulinas derivadas de plasmócitos. Plasmócitos anormais secretam fragmentos de cadeia leve na circulação e o amiloide pode se depositar em quase qualquer lugar do corpo. Pode ser sistêmica, mas em alguns plasmocitomas extramedulares, a deposição de amiloide é limitada ao estroma da neoplasia. ii. Amiloide AA Amiloidose sistêmica associada à inflamação crônica e, assim, classificada como secundaria, a proteína sérica amiloide A (AA) é clivada em fragmentos que são depositados como fibrilas de amiloide em diversos tecidos, em especial o rim, o fígado e na polpa branca do baço. iii. Amiloidose hereditária Em cães Shar-Pei e gatos abissínios, os depósitos de AA de amiloide geralmente são mais abundantes no interstício medular renal, e não nos glomérulos dos rins. iv. β-amiloide É um exemplo de amiloidose localizada, ocorre o cúmulo de Aβ no córtex cerebral de cães idosos com doença cognitiva e em seres humanos com mal de Alzheimer. 20/04 Calcificação patológica A calcificação patológica constitui uma deposição anormal de sais de cálcio, juntamente com pequenas quantias de ferro, magnésio e outros minerais, em tecidos mortos, que estão morrendo ou normais. As formas menos comuns são: ▪ Idiopática – ocorre na ausência de lesão tecidual ou anormalidades no metabolismo de cálcio e fósforo. ▪ Iatrogênica – via ingestão de sais de cálcio de soluções de degelo de cloreto de cálcio. I. CALCIFICAÇÃO DISTRÓFICA O metabolismo do cálcio está normal, mas ele se deposita em tecidos lesionados ou mortos, como em qualquer tipo de área de necrose. Embora a calcificação distrófica seja um achado incidental insignificante de lesão celular antiga, ela pode ser a causa da disfunção de um órgão. Ela é iniciada pela deposição extracelular de fosfato de cálcio em vesículas ligadas à membrana, que podem ser derivadas de células lesionadas, ou da deposição intracelular de cálcio nas mitocôndrias de células mortas ou em processo de morte. Os locais comuns são: miocárdio, musculatura esquelética, granulomas. As células mortas ou que estão em processo de morte não tem capacidade de regular influxo de cálcio para o interior de seu citoplasma e o cálcio acumula-se nas mitocôndrias. i. Aspectos morfológicos ▪ Macroscopicamente – as áreas do tecido afetadas são esbranquiçadas e, quando incisadas, dão uma sensação de material arenoso. Range ao corte. ▪ Microscopicamente – sais de cálcio coram-se azulados com HE e aparecem como grânulos amorfos bem definidos ou agregados, que podem ser intracelulares ou extracelulares. o Extensão total da calcificação não pode ser evidente em cortes corados com HE. o Corante von Kossa – não é específico para o cálcio, mas cora fosfatos e carbonatos (substâncias que quase sempre formam complexos com o cálcio). II. CALCIFICAÇÃO METASTÁTICA Está associada a hipercalcemia e pode ocorrer em tecidos normais. As principais causas de hipercalcemia são: ▪ Aumento da secreção de paratormônio – devido a tumores primários das paratireoides ou pela produção de proteína relacionada com o paratormônio por outros tumores malignos. ▪ Destruição do osso – devido aos efeitos da renovação aceleradas, imobilização ou tumores ósseo associado ao mieloma múltiplo, leucemia ou metástases esqueléticas difusas. ▪ Distúrbios relacionados com a vitamina D – insuficiência renal, na qual a retenção de fosfato desencadeia o hiperparatireoidismo secundário. i. HiperparatireoidismoA paratireoide, em condições normais, libera o paratormônio que atua no osteoclasto que, por sua vez, reabsorve o osso e libera cálcio na corrente sanguínea, provocando um aumento na concentração de cálcio. A calcitonina um outro hormônio da paratireoide inibe a liberação de cálcio pelo osso, provocando uma diminuição da concentração de cálcio no sangue. No hiperparatireoidismo, há uma alta concentração de paratormônio aumentando, então, a concentração sérica de cálcio que se acumula no tecido. ii. Hiperparatireoidismo primário A origem é causada pela paratireoide devido a um tumor ou hiperplasia das paratireoides. Há o aumento da secreção de PTH (paratormônio), que aumenta a reabsorção óssea, aumentando a concentração de cálcio e fosforo, tendo como resultado a deposição do fosfato de cálcio nos tecidos. iii. Hiperparatireoidismo secundário renal Ocorre similar ao hiperparatireoidismo primário, contudo uma lesão no rim que irá afetar a paratireoide, por meio da retenção de fosfato e a paratireoide libera cálcio para equilibrar os níveis dessas substâncias. iv. Hiperparatireoidismo secundário nutricional Similar aos outros dois tipos já mencionados, porém o excesso de fosforo advindo da alimentação, tem como consequência o aumento do cálcio para equilibrar os valores. III. OSSFICAÇÃO HETEROTÓPICA É a formação de tecido ósseo em um local extraesquelético. Há deposição de matriz óssea por osteoblastos e remodelamento e mineralização para formação de osso. À análise macroscópica, a ossificação heterotópica é observada como espículas ou nódulos endurecidos. Pequenas espículas ósseas são comumente observadas como achados incidentais no interstício pulmonar de cães idosos. IV. METAPLASIA ÓSSEA É formado a partir de outro tipo de tecido conjuntivo. Fibroblastos diferenciam-se em osteoblastos que formam osteoide- calcificado como o osso normal. Pigmentos Os pigmentos são substâncias coloridas exógenas, sejam originadas fora do corpo, ou endógenas, sintetizadas dentro do próprio corpo. Pigmentos exógenos I. CARBONO – ANTRACOSE As partículas de carbono no pulmão são responsáveis pela coloração preta observada na antracose. Muitos casos, principalmente com a menor exposição em pessoas ou animais que vivem em ambientes urbanos e respiram ar poluído, não são associados à doença clínica, mas fazem com que o pulmão apresente um discreto pontilhado de cor cinza a preta. As partículas de carbono depositadas nos espaços alveolares são fagocitadas por macrófagos e, então, transportadas para o tecido linfoide brônquico associado e para os linfonodos traqueobrônquicos. ▪ M – pulmões com pontos enegrecidos subpleurais de 1 a 2 mm de diâmetro. A medula dos linfonodos traqueobrônquicos pode ficar enegrecida. ▪ µ - grânulos enegrecidos bem definidos, extracelular ou intracelular (dentro de macrófagos). Pode estra dentro das paredes alveolares ou como um foco peribronquiolar ou peribronquial. II. TATUAGENS É utilizada em animais como método de identificação. Os pigmentos são introduzidos no interior da derme e com ajuda de fibroblastos e da proteína colágeno ficam fixados, como uma cicatriz. Alguns são fagocitados por macrófagos, o restante permanece livre na derme por tempo indefinido. Não provoca nenhuma reação inflamatória. ▪ M ▪ µ III. POEIRA A poeira inalada e retida no pulmão é denominada pneumoconiose. Silicose refere-se a inalação de sílica. As partículas minúsculas entram nos pulmões, escapando dos mecanismos de defesa mucociliares da cavidade nasal e do sistema respiratório superior, e se depositam nos alvéolos pulmonares. Eles podem estimular reação fibrosa e causar nódulos ▪ µ - minerais são vistos como cristais birrefringentes quando submetidos à luz polarizada. IV. PIGMENTOS CAROTENOIDES Os pigmentos carotenoides, como o β- caroteno (vitamina A), são abundantes em plantas de folhas verdes e conferem a coloração amarela do plasma, do tecido adiposo e de outras células ricas em lipídios. A cor amarela intensa do tecido adiposo de herbívoros com pastagens verdes pode ser notável, principalmente em equinos e bovinos de raças que produzem leite com altas quantidade de gordura, como Jersey. Os carotenoides são lipossolúveis e por isso são removidos dos cortes histológicos pelos solventes usados no processamento. ▪ M – ocorrem normalmente em vários tecidos (células corticais adrenais, CLs, células de Kupffer, células testiculares, plasma/soro e gordura de equinos e gado Jersey). o Descoloram a gordura amarelada em laranja- amarelado. ▪ µ - não são observados na rotina (cortes fixados por formol e incluídos em parafina); álcoois e agentes diafanizadores removem os pigmentos lipossolúveis. V. TETRACICLINA O antibiótico à base de tetraciclina se liga ao fosfato de cálcio em dentes e ossos. Caso administrada durante o desenvolvimento dentário, se deposita na dentina, no esmalte e no cemento em mineralização; pigmentando os dentes ou porções deles com uma coloração amarelada ou acastanhada. Pigmentos endógenos I. MELANINA A melanina é o pigmento responsável pela cor dos pelos, da pele e da íris. Também colore as leptomeninges de ovinos e bovinos de face pigmentada, e pode estar presente de forma multifocal na mucosa oral em diversas espécies. Os depósitos localizados de melanina (melanose) são comuns na intima da aorta de ruminantes com pelame pigmentado e nos pulmões de suínos de cor vermelha ou preta. Os depósitos localizados da melanose congênita são meramente uma alteração de cor e não uma lesão, já que não são uma resposta à lesão e não tem efeito deletério sobre o animal. ▪ Pontos acastanhados a enegrecidos com diâmetro de até alguns centímetros. i. Formação da melanina A melanina é formada nos melanócitos a partir da tirosina e transportada por eles para os queratinócito. Os queratinócitos com melanina dão a cor na pele. O número de melanócitos nos indivíduos de cor de pele diferentes é basicamente o mesmo, o que diferencia a coloração de cada m é a quantidade de melanina produzida e seus subtipos. Os animais albinos tem um deficiência parcial ou total da enzima tirosinase. II. LIPOFUSCINA E CEROIDE A lipofuscina é uma lipoproteína de coloração castanho-amarelada que se acumula como corpos residuais em lisossomos secundários, principalmente em células pós-mitóticas de vida longa, como neurônios e cardiomiócitos. É conhecida como um pigmento de envelhecimento de “desgaste” e acredita-se ter pouco ou nenhum efeito deletério sobre a célula. Devido a seu conteúdo lipídico, a lipofuscina reage com colorações de gordura, como Sudan black B ou Oil red. ▪ µ - acumulo perinuclear. O ceroide é um pigmento similar à lipofuscina encontrado na respostas à desnutrição severa. Ele se acumula em doenças como a ceroide-lipofuscinose neuronal, caquexia, deficiência de vitamina E ou outros tipos de estresse oxidativo. Exerce efeito deletério sobre a célula. ▪ Pode ocorrer nas células de Kupffer e em menor extensão nos hepatócitos, miócitos de musculatura esquelética e lisa. Pigmentos hematógenos I. HEMOGLOBINA A molécula hemoglobina é composta por 4 subunidades proteicas globulares, cada uma dobrada e fortemente associada a um grupo heme central, não proteico e que contém ferro. A oxiemoglobina, formada quando o oxigênio se liga ao grupo heme, dá ao sangue oxigenado (arterial) sua cor vermelha e confere uma tonalidade rosada aos tecidos bem-perfundidos e bem-oxigenados.A hemoglobina desoxigenada explica a matriz azulada do sangue venoso e é responsável pela coloração azul a roxa, conhecida como cianose, dos tecidos hipóxicos. ▪ Cianose – sangue não oxigenado adequadamente. Tecidos da pata esquerda apresentam-se azulados. i. Monóxido de carbono O monóxido de carbono é liberado a partir da queima de combustíveis fósseis. A hemoglobina tem afinidade muito maior por CO do que por oxigênio, de modo que uma pequena quantidade de CO reduz a capacidade de transporte de oxigênio. Quando a hemoglobina se liga ao CO, forma Carboxiemoglobina, que confere a cor vermelho-cereja brilhante ao sangue e rosa brilhante aos tecidos até mesmo nos casos de intoxicação fatal por CO. ii. Hemólise intravascular – hemoglobinúria Se os eritrócitos forem lisados no interior dos vasos (hemólise intravascular), a hemoglobina liberada confere uma tonalidade rosada transparente ao plasma ou soro. Nos rins, a hemoglobina intravascular passa pelos capilares glomerulares no filtrado urinário, com a formação de “cilindros” de hemoglobina nos túbulos renais e coloração avermelhada da urina. A hemoglobinúria faz com que o parênquima renal fique vermelho-escuro a azul-acinzentado metálico. II. HEMATINA Pigmento preto-acastanhado, que contém Fe+3 formado pela oxidação da hemoglobina. i. Hematina ácida A hematina ácida se forma nos tecidos fixados em formol. Sua presença é uma alteração post- mortem e, assim, não é uma lesão, mas sim um indicador de que a solução de formalina não foi adequadamente tamponada. Mais vista em órgãos ou tecidos em que há grande acúmulo de glóbulos vermelhos. ▪ µ - amarronzado a quase enegrecido, bem definido, granular e pode apresentar espículas birrefringentes. ii. Hematina parasitária Os parasitas que infectam ou consomem eritrócitos liberam o heme durante a proteólise da hemoglobina. Fascioloides magna – presença de traçados enegrecidos por todo o fígado como um rastro parasitário. ▪ µ - pigmento preto acumula-se adjacente às áreas de migração do parasita e é fagocitado por macrófagos. Pneumonyssus simicola – produz um pigmento nos pulmões amarronzado a enegrecido. Advindo do metabolismo da hemoglobina pelo parasita. 27/04 III. HEMOSSIDERINA O ferro livre é tóxico para as células porque catalisa a formação de ROS. Porém, a ferritina, uma proteína globular de armazenamento de ferro, presente em todos os tecidos e, principalmente no fígado, no baço e na medula óssea, se liga ao ferro livre e o armazena em uma forma não tóxica para ser usado pela célula. A ferritina é uma proteína principalmente intracelular, mas as concentrações séricas são correlacionadas com os depósitos de ferro. Os acúmulos de ferritina ligado ao ferro, em especial em macrófagos, são convertidos em grânulos castanho-dourados de hemossiderina. A reação de azul da Prússia detecta o ferro na hemossiderina. A hemossiderina é um complexo de armazenamento intracelular de ferro, bastante comum em macrófagos e menos comum em hepatócitos e células epiteliais tubulares dos rins. Os depósitos de ferro são mais conspícuos no baço e são excessivos (hemossiderose) quando há uma maior taxa de destruição de eritrócitos. A presença de macrófagos ricos em hemossiderina também pode ser um indicador de congestão passiva crônica. Se abundante, a hemossiderina confere uma coloração acastanhada aos tecidos, que deveriam ser rosados. ▪ µ - goticulas amarelo-douradas a marrom douradas. Na imagem abaixo são macrofagos contendo hemossiderina na coloração azul de Prússia. IV. BILIRRUBINA A bilirrubina normalmente é encontrada em baixas quantidades no plasma como um produto de degradação dos eritrócitos. Os eritrócitos exauridos são fagocitados e lisados por macrófagos. Os componentes da proteína globular da hemoglobina são degradados em aminoácido e o ferro é removido. Após a remoção do ferro, o restante do heme é convertido pela heme oxigenase em biliverdina e, então, pela biliverdina redutase, em bilirrubina que ao ser conjugada e processada pela microbiota vai se transformar em urobilinogênio. A bilirrubina não conjugada é liberada no sangue para ser transportada como um complexo albumina-bilirrubina para o fígado, onde é conjugada com o ácido glucurônico e secretada nos canalículos biliares, passando a ser um componente da bile. Caso a elevação sérica ou plasmática de bilirrubina (hiperbilirrubinemia) seja suficiente, os tecidos passarão a apresentar coloração amarela, chamada icterícia. De modo geral, a icterícia é patologicamente classificada como: ▪ Pré-hepática – causada pela hemólise ou qualquer processo que aumente o turnover de eritrócitos e libere mais bilirrubina não conjugada que o fígado pode acomodar. ▪ Hepática – é decorrente da lesão hepatocelular que diminui a incorporação, a conjugação ou a secreção de bilirrubina. ▪ Pós-hepática – a saída da bile do fígado para o intestino, através do sistema biliar, é reduzida por uma obstrução. ▪ M – tecidos ictéricos apresentam coloração amarelada distribuída sistemicamente. Omento, mesentério e tecido adiposo (exceto em bovinos da raça Jersey, equino e primatas não humanos), camada intima dos grandes vasos. ▪ µ - não é detectada, mas quantidades excessivas de bilirrubina podem ser vistas nos ductos e canalículos biliares na icterícia obstrutiva. V. PORFIRIA As porfirias são doenças da síntese de heme que causam deposição dos pigmentos de porfiria nos tecidos. É uma alteração metabólica hereditária na produção do grupo heme. Os dentes, os ossos e a urina dos animais acometidos têm cor castanho- avermelhada e fluorescem em vermelho à luz ultravioleta. ▪ M – dentes e osso de animais jovens ficam avermelhados (dente róseo) e os adultos ficam acastanhados escuros. Distúrbios hemodinâmicos O sistema circulatório consiste em sangue, uma bomba central (coração), uma rede de distribuição (arterial) e coleta (venosa) de sangue e uma sistema para troca de nutriente e produtos da excreção entre o sangue e o tecido extravascular. Uma rede de vasos linfáticos paralela às veias também contribui para a circulação através da drenagem do fluido dos espaços extravasculares para o sistema vascular sanguíneo. I. CAPILARES Os capilares são os locais de troca de nutrientes e produtos do metabolismo entre o sangue e os tecidos. A velocidade do volume sanguíneo através dos capilares é muito baixa, e os glóbulos vermelhos geralmente circulam pelo capilares em fila indiana para facilitar ainda mais a difusão de nutrientes e resíduos originários do metabolismo. Nas junções entre as camadas endoteliais dos capilares encontram-se os poros interendoteliais, que tornam os capilares semipermeáveis para facilitar a difusão de nutrientes e produtos do metabolismo entre o sangue e os tecidos. Existem 3 tipos de capilares: ▪ Contínuos. ▪ Fenestrados. ▪ Descontínuos. Edema As alterações na distribuição de fluido entre o plasma e o interstício manifestam-se mais comumente como edema, que consiste em uma cúmulo de excesso de fluido intersticial. O fluido extravascular também pode se acumular em cavidades corporais e tais acúmulos frequentemente são denominados coletivamente efusões. Exemplos: ▪ Cavidade pleural – hidrotórax. ▪ Cavidade pericárdica – hidropericárdio. ▪ Cavidade peritoneal – hidroperitônio ou ascite. ▪ Anasarca – edema grave, generalizado, caracterizado por grande tumefação dos tecidos subcutâneos e acúmulo de fluido nas cavidades corporais. O edema ocorre através de 4 mecanismos principais:▪ Aumento da permeabilidade microvascular – estímulos inflamatórios ou imunológicos. ▪ Aumento da pressão hidrostática intravascular – aumento do volume de sangue na microvasculatura. ▪ Redução da pressão osmótica intravascular – redução da concentração de proteínas plasmáticas. ▪ Diminuição da drenagem linfática – compressão dos vasos linfáticos por inchaço inflamatório ou neoplásico. Constrição de vaso linfático (fibrose) ou bloqueio de um vaso linfático (trombo). ▪ M – fluido transparente a levemente amarelo que geralmente contém pequena quantidade de proteína (transudato), que aumenta e expande o interstício afetado. ▪ µ - amorfo, com fluido eosinofílico pálido (coloração HE) em função do conteúdo proteico. Hiperemia e congestão I. HIPEREMIA A hiperemia é um ingurgitamento ativo dos leitos capilares com um efluxo reduzido de sangue, isto é é o aumento do fluxo sanguíneo. Isso ocorre por conta do aumento da atividade metabólica dos tecidos, que resulta no aumento localizado das concentrações de CO2, ácido e outros metabólitos, produzindo um estímulo local para a vasodilatação e aumento do fluxo. Pode ocorrer como um mecanismo fisiológico existente na pele para dissipar calor, podendo ocorrer também em função de uma maior demanda, como um aumento do fluxo sanguíneo para o trato gastrintestinal após uma refeição. É também uma das primeiras alterações vasculares a ocorrer em resposta a um estímulo inflamatório. Os tecidos com vasos hiperêmicos são vermelho0brilhantes e quentes, e há um ingurgitamento das arteríolas e capilares. II. CONGESTÃO A congestão é o ingurgitamento passivo de um leito vascular geralmente causado por um efluxo reduzido de sangue e um influxo normal ou aumentado. A congestão passiva pode ocorrer de forma aguda ou crônica. A forma aguda pode ocorrer no fígado e nos pulmões em resposta a uma insuficiência cárdica aguda, após a eutanásia ou em órgãos nos quais o relaxamento dos músculos lisos pela anestesia/eutanásia resulta na dilatação da vasculatura. A maioria das congestões é reconhecida como congestão passiva crônica e pode ocorrer localmente por causa da obstrução do efluxo venoso causado por uma massa neoplásica ou inflamatória, por deslocamento de um órgão ou por fibrose resultante de lesão cicatrizada. A congestão passiva generalizada ocorre em razão da redução da passagem de sangue pelo coração ou pelos pulmões. ▪ Congestão passiva crônica – é de longa duração. Pode ocorrer degeneração celular ou morte, pela estase do sangue pouco oxigenado. Além da ruptura celular nesses locais podem causar focos de hemorragia, com agrupamentos de macrófagos contendo hemossiderina. ▪ Congestão pulmonar crônica – septos espessos e fibróticos, e os espaços alveolares podem conter macrófagos carregados de hemossiderina. ▪ Congestão passiva crônica do fígado – regiões centrais dos lóbulos hepáticos marrom-avermelhadas e levemente deprimidas com zonas circulantes do fígado na cor castanho não congestionado. 04/05 Hemorragia A hemorragia ocorre por causa da função ou integridade anormal de um ou mais dos principais fatores que influenciam a hemostasia – o endotélio e os vasos sanguíneos, as plaquetas ou os fatores de coagulação. O trauma pode romper fisicamente um vaso e causar hemorragia. A hemorragia por ruptura pode ocorrer também após erosão vascular causada por reações inflamatórias ou neoplasias invasivas. Determinados fungos costumam invadir e danificar os vasos sanguíneos, causando extensa hemorragia local. Mais comum, ainda, é a ocorrência de pequenos defeitos nos vasos sanguíneos intactos que permitem que um pequeno número de eritrócitos escape por diapedese. A aparência da hemorragia depende de sua localização e severidade. A hemorragia no interior do tecido geralmente é caracterizada com base no tamanho. ▪ Petéquias – é uma hemorragia puntiforme (1 a 2 mm) atribuída principalmente à diapedese associada a pequenas lesões vasculares. ▪ Púrpura – hemorragia com múltiplos focos de sangramento (≥3 mm). ▪ Equimose – hemorragia maior (2 a 3 cm) em pequenos focos, decorrente de lesões vasculares mais extensas. ▪ Sufusões – hemorragia plana, difusa e extensa nas mucosas e serosas. Afeta áreas contiguas de tecido maiores. ▪ Hematoma – hemorragia circunscrita formando coleção volumosa (aspecto tumoral do hematoma). A hemorragia para o interior das cavidades corporais resulta no acúmulo de sangue coagulado ou não coagulado na cavidade é classificada por termos como: ▪ Hemoperitônio – sangue na cavidade peritoneal. ▪ Hemotórax – sangue na cavidade torácica. ▪ Hemopercárdio – sangue no saco pericárdico. Infarto Um infarto é uma área de necrose isquêmica causada por oclusão do suprimento vascular para o tecido afetado. A trombose arterial ou embolia arterial apresenta-se subjacente à grande maioria dos infartos. Os infartos são classificados com base na sua coloração e a presença ou a ausência de infecção microbiana. ▪ Infartos vermelhos – ocorrem como resultado de oclusões venosas; em tecidos frouxos onde o sangue pode se acumular nas zonas infartadas; em tecidos com circulação dupla, como pulmão e intestino; em tecidos previamente congestos ; quando o fluxo é reestabelecido após ocorrer o infarto. ▪ Infarto branco – ocorrem nas oclusões arteriais em órgãos sólidos com circulações terminais e onde a densidade tecidual limita a infiltração do sangue de leitos vasculares patentes adjacentes. Tendem a ser cuneiformes, quando a base é uma superfície serosa, geralmente há um exsudato fibrinoso sobrejacente. Hemostasia e trombose I. HEMOSTASIA A hemostasia é um processo precisamente orquestrado envolvendo as plaquetas, os fatores de coagulação e o endotélio, que ocorre no local de lesão vascular e culmina na formação de um tampão fibrinoplaquetário, que serve para evitar ou limitar a extensão do sangramento. A sequência geral das etapas são: 1. Vasoconstrição arteriolar Ocorre imediatamente e reduz intensamente o fluxo sanguíneo para a área lesionada. 2. Hemostasia primária – formação do tampão plaquetário A ativação plaquetária pela exposição do fator de von Willebrand e o colágeno subendotelial, resulta em uma alteração importante de sua forma, bem como na liberação de grânulos de secreção. Dentro de minutos, os produtos secretados recrutam mais plaquetas, que sofrem agregação e formam um tampão hemostático primário. 3. Hemostasia secundária – deposição de fibrina A lesão vascular também expõe o fator tecidual no local da lesão. O fator tecidual é uma glicoproteína pró- coagulante envolta por membrana. O fator tecidual liga-se e ativa o fator VII que desencadeia a cascata de reações que culminam na geração de trombina. A trombina cliva o fibrinogênio circulante formando fibrina insolúvel, o que gera uma malha de fibrina e também é um potente ativador de plaquetas, que servem para potencializar o tampão hemostático. 4. Estabilização e reabsorção do tampão hemostático A fibrina polimerizada e as plaquetas agregadas sofrem contração para formar um tampão sólido e permanente que impede ainda mais a hemorragia. i. Plaquetas São formadas a partir de células-tronco pluripotentes hematocitopoiéticas, presentes na medula óssea vermelha. Elas podem atuar como um dos mecanismos da hemostasia, que previne a perda de sangue, por meio da formação de tampão plaquetário (fusão de plaquetas às células endoteliais). Na membrana plasmática das plaquetas, há glicoproteínas que, em contato com o endotélionormal, impedem a aderência; no entanto, quando este encontra-se lesado há exposição de colágeno e a aderência é favorecida. ii. Fibrina É a proteína que atua como uma primeira resposta sempre que o corpo está ferido. Tem um papel importante no processo de coagulação do sangue. Em forma de fios longos, cada molécula de fibrina se entrelaça para formar uma fina malha ao redor da lesão. Esta malha estanca o sangue capturando hemácias, leucócitos e plaquetas, gerando um coagulo e formando uma espécie de tampão no local lesionado. Permite uma série de interações celulares e fornece uma matriz provisória na qual as células podem proliferar, organizar e desempenhar suas funções, principalmente em locais que sofreram lesão ou inflamação. II. TROMBOSE Trombose é o termo usado para definir os mecanismo envolvidos na formação de um trombo em uma vaso sanguíneo lesionado. Um trombo é um agregado de plaquetas, fibrina e outros elementos do sangue formado em uma parede vascular. As anormalidade básicas que levam à trombose são: ▪ Lesão endotelial. ▪ Estase ou fluxo sanguíneo turbulento. ▪ Hipercoagulabilidade do sangue – que compreendem a tríade de Virchow. i. Lesão endotelial A lesão endotelial que causa ativação plaquetária quase inevitavelmente leva à formação de trombos subjacentes no coração e na circulação arterial, onde a lata velocidade do fluxo sanguíneo impede a formação de coágulos. ii. Fluxo sanguíneo anormal A turbulência contribui para trombose arterial cardíaca por causar lesão ou disfunção endotelial, e também por geral fluxos de contracorrentes e bolsas de estases locais. A estase é o principal fator no desenvolvimento de trombos venosos. iii. Hipercoagulabilidade Refere-se a uma tendencia anormal do sangue em coagular, e normalmente é causada por alterações nos fatores de coagulação. Embolia Um êmbolo é uma massa intravascular solta, seja de natureza sólida, líquida ou gasosa que é transportada pelo sangue para um local distante de seu ponto de origem, onde pode causar disfunção tecidual e infarto. Tromboembolia é resultante da embolização de fragmentos de trombo. Inevitavelmente, os êmbolos se alojam em vasos pequenos para permitir sua passagem, resultando em oclusão vascular parcial ou completa; dependendo do local de origem, os êmbolos podem se alojar em qualquer parte da árvore vascular. Os tipos de êmbolos são: ▪ Gotículas de gordura. ▪ Bolhas de ar ou nitrogênio. ▪ Debris ateroscleróticos (êmbolos de colesterol). ▪ Fragmentos tumorais. ▪ Fragmentos de medula óssea. ▪ Líquido amniótico. A consequência primária da embolização sistêmica é a necrose isquêmica (infarto) dos tecidos, enquanto a embolização na circulação pulmonar leva a hipoxia, hipotensão e insuficiência cardíaca direta. Processo inflamatório A inflamação é uma resposta dos tecidos vascularizados às infecções e aos danos teciduais que recrutam células e moléculas do sistema de defesa do hospedeiro da circulação para os locais onde são necessários, a fim de eliminar os agentes agressores. É uma resposta protetora essencial para a sobrevivência. A sua função é livrar o hospedeiro tanto da causa inicial da lesão como das consequências dessa lesão. A reação inflamatória típica desenvolve- se por meio de uma série de etapas sequenciais: 1. O agente agressor, localizado nos tecidos extravasculares, é reconhecido pelas células e moléculas do hospedeiro. 2. Leucócitos e proteínas plasmáticas são recrutados da circulação para o local onde o agente agressor está localizado. 3. Leucócitos e proteínas são ativados e trabalham em conjunto para destruir e eliminar o agente lesivo. 4. A reação é controlada. 5. O tecido danificado é reparado. Os tipos de exsudato inflamatório agudo podem ser: purulento, hemorrágico, fibrinoso, mucoso, seroso ou misto. Há também a participação dos sistemas nervoso e endócrino na regulação do processo e o aparecimento de manifestações gerais como: febre, leucocitose, taquicardia, fibrinólise, alterações na bioquímica do sangue. I. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ▪ Com a hiperemia (aumento do fluxo sanguíneo), ocorre o primeiro sinal flogístico, o rubor, que é caracterizado pela vermelhidão. ▪ Como o fluxo sanguíneo aumentou e o sangue contém uma certa temperatura, acontece o segundo sinal, o calor, ocasionando o aumento da temperatura do local. ▪ O aumento da permeabilidade e do fluxo sanguíneo, consiste na saída de plasma para o interstício, causando o edema. ▪ Esse edema vai comprimir as terminações nervosas, juntamente com a prostaglandina que vai irritar essa terminações, ocasionando outro sinal flogístico que é a dor. ▪ A perda de função vai ser o último sinal, pois essa inflamação pode ocasionar o impedimento da função fisiológica do local lesionado. II. TIPOS DE INFLAMAÇÃO A inflamação aguda é uma reação progressiva do tecido vivo vascularizado à lesão ao longo do tempo. Tem curta duração, indo de poucas horas a alguns dias, e suas principais características são a exsudação de eletrólitos, fluido e proteínas plasmáticas e a migração leucocitária, principalmente de neutrófilos da microvasculatura, seguidas pelo rápido reparo e pela cicatrização. Por conveniência, é dividida em três fases sequenciais: fluida, celular e reparadora. A inflamação crônica é aquela de duração prolongada, geralmente de semanas a meses ou mesmos anos, em que a resposta é caracterizada predominantemente por linfócitos, macrófagos e necrose tecidual, sendo acompanhada por reparo tissular, como cicatrização, fibrose e formação de tecido de granulação, que podem ocorrer de forma simultânea. Pode ser uma sequela da inflamação aguda em caso de falha na eliminação do agente ou da substância que incita o processo. III. ASPECTOS BENÉFICOS DA INFLAMAÇÃO ▪ Diluição e/ou inativação de toxinas biológicas e químicas. ▪ Morte ou sequestro de micróbios, material estranho, tecido necrótico e células neoplásicas. ▪ Degradação de materiais estranhos. ▪ Fornecimento de fatores necessários à cicatrização de feridas em superfícies ulceradas e tecidos traumatizados. ▪ Restrição da movimentação de membros e articulações, dando tempo para a ocorrência da cicatrização e do reparo. ▪ Aumento da temperatura corpórea ou local para indução de vasodilatação e inibição da replicação de alguns agentes microbianos. 11/05 Inflamação aguda A resposta inflamatória aguda pode ser iniciada por diversas substâncias exógenas e endógenas que provocam lesões nos tecidos vascularizados e afetam as atividades de depuração fluida das bombas de sódio/potássio e adenosina trifosfatases. A resposta à lesão começa como hiperemia ativa, caracterizada por um aumento do fluxo de sangue ao tecido lesionado secundário à dilatação de arteríolas e capilares (vasodilatação) e é esta resposta que é responsável pelo rubor e pelo calor. Tal resposta é facilitada por mediadores químicos, como prostaglandinas, endotelina e óxido nítrico. Com a vasodilatação, a velocidade do fluxo vascular diminui (congestão vascular), dando tempo para o extravasamento de fluidos resultante das alterações sofridas pelos complexos juncionais das células endoteliais, I. TRANSUDATO As proteínas plasmáticas e o fluido que, a princípio, se acumulam no espaço extracelular em resposta à lesão são classificados como transudato. Um transudato é um fluido com pouca quantidade de proteína e elementos celulares (< 1500 leucócitos/mL) e é essencialmente uma solução eletrolítica similar ao plasma.Durante os primeiros estágios da resposta inflamatória aguda, há formação de fendas intercelulares entre as células endoteliais devido à sua concentração. As fendas são muito pequenas e permitem a passagem de água e eletrólitos. que são induzidas por aminas vasoativas, componentes C3 e C5 do sistema complemento, bradicinina, leucotrienos, prostaglandinas e fator ativador de plaquetas; assim, há extravasamento do plasma e proteínas plasmáticas no espaço extracelular. Caso haja formação persistente e alargamento destas fendas ou lesão de células endoteliais, neutrófilos e outras proteínas podem adentar as áreas danificadas, resultando a formação de um exsudato. II. EXSUDATO Um exsudato é um fluido opaco e geralmente viscoso que contém mais do que 3g de proteína/dL e mais de 1500 leucócitos/mL. III. FIBRINOGÊNIO É uma importante proteína plasmática encontrada em exsudatos, que se polimeriza nos tecidos extravasculares, formando fibrina. O plasma dilui os efeitos do estímulo incitante, enquanto a fibrina polimerizada confina o estímulo a uma área isolada, impedindo, assim, sua movimentação para o tecido adjacente. Este confinamento dá aos leucócitos um alvo bem-definido para sua migração durante a fase celular da resposta inflamatória aguda. IV. NEUTRÓFILOS Os neutrófilos são os primeiros leucócitos a entrar no exsudato e seu acúmulo neste fluido após sua liquefação é chamado pus. Eles apresentam diversos grânulos dentre os quais encontramos as mieloperoxidases que possuem ação antimicrobiana. Os neutrófilos matam patógenos e degradam material estranho por dois mecanismos: ▪ Fagocitose e fusão com lisossomos primários e secundários. ▪ Secreção do conteúdo de grânulos no exsudato. Por liberarem enzimas, estas células podem participar da formação da lesão tissular. Os neutrófilos e demais leucócitos deixam os capilares e as vênulas e migram para os exsudatos teciduais em resposta às moléculas quimiotáticas liberadas pelas células do hospedeiro e por micróbios, substâncias estranhas e algumas células neoplásicas. Como esperado, a maior concentração de quimiotáticos é encontrada nas áreas próximas aos micróbios ou à substância estranha, e tal concentração diminui de forma gradual com o aumento da distancia da fonte. Isto forma uma “gradiente quimiotático”, que essencialmente cria uma via a ser seguida pelos leucócitos até o local de lesão tissular. Os quimiotáticos ativam receptores e moléculas presentes nos neutrófilos, fazendo com que estas células se dirijam à superfície luminal de capilares e vênulas e se fixem a elas; migrem através das junções intercelulares formadas pelas fendas entre as células endoteliais e migrem para o interior do exsudato até o gradiente de concentração da fonte de lesão. Esse processo de transmigração é denominado cascata de adesão leucocitária. i. Cascata de adesão leucocitária A movimentação de leucócitos do lúmen dos capilares e das vênulas pós-capilares para o tecido conjuntivo intersticial ocorre através de um processo denominado cascata de adesão leucocitária. Quimiocinas, citocinas e outros mediadores inflamatórios influenciam este processo, modulando a expressão e/ou a avidez de moléculas de adesão na superfície das células endoteliais e dos leucócitos. ▪ Marginação – com a vasodilatação e a redução da pressão hidrostática e do fluxo sanguíneo, os leucócitos saem da região central do lúmen vascular e se movem até a periferia, se aproximando da superfície da célula endotelial. ▪ Rolamento – o primeiro contato entre os leucócitos e as células endoteliais ocorre por meio de interações transientes e fracas entre moléculas de adesão da família da selectina e seus receptores. Durante o rolamento, leucócitos se ligam temporariamente ao endotélio e, então, são liberados, o que os aproxima da superfície da célula endotelial e reduz sua velocidade de trânsito. ▪ Adesão estável – a adesão firme dos leucócitos ao endotélio é mediada por uma família de proteínas as superfície dos leucócitos chamada integrinas. ▪ Transmigração pela célula endotelial – após a adesão à superfície endotelial, os leucócitos migram através da parede do vaso, espremendo-se entre as junções intercelulares das células. Este extravasamento de leucócitos, chamado de transmigração, ocorre principalmente em vênulas pós- capilares, local em que há retração máxima das células endoteliais. V. CÉLULAS DO PROCESSO INFLAMATÓRIO ▪ Neutrófilos – são granulócitos típicos de fenômenos agudos da inflamação. Presentes em maior quantidade devido ao seu alto potencial de diapedese e rápida velocidade de migração. Tem ação fagocítica e, se mortos, podem provocar necrose tecidual devido a liberação de suas enzimas lisossômicas para o interstício. ▪ Eosinófilos – encontrados nas inflamações subagudas ou relativas a fenômenos alérgicos e em alguns processos neoplásicos. Também tem capacidade de fagocitose, mas menor que os neutrófilos. VI. TIPOS DE EXSUDATO As lesões histopatológicas da inflamação agudam são mais comumente agrupadas em cinco categorias: serosa, catarral, fibrinosa, supurativa ou purulenta e hemorrágica, ou ainda combinações destas categoriais, como fibrinossupurativa. i. Inflamação serosa A resposta tecidual consiste no extravasamento ou acúmulo de fluido com baixa concentração de proteína plasmática e baixos números ou ausência de leucócitos. Este material aquoso é liberado de pequenas fendas entre as células endoteliais e pela hipersecreção de glândulas serosas inflamadas. Esta resposta é essencialmente um transudato e é observada em casos de: ▪ Lesão térmica cutânea, como em queimaduras e fotossensibilizações, em que podem ser observadas bolhas preenchidas por fluido. ▪ Respostas alérgicas agudas caracterizadas por lacrimejamento e rinorreia, com transudato transparente incolor. ▪ M – quantidade excessiva de fluido claro a ligeiramente amarelado, que extravasa de cortes do tecido. Vesículas protuberantes e preenchidas por liquido acima da superfície da membrana mucosa da cavidade nasal (rinite serosa) ou da pele. ▪ µ - fibras do tecido conjuntivo são separadas, geralmente por grandes espaços. Capilares e vênulas pós- capilares dilatados e contem eritrócitos (hiperemia ativa). Revestimento de células endoteliais desses vasos pode ser achatado ou hipertrofiado. ii. Inflamação catarral A resposta tecidual é composta por secreção ou acúmulo de um fluido gelatinoso espesso, contendo muco abundante e mucinas de membranas mucosas. Esta resposta é mais comumente observada em células caliciformes e glândulas de muco. ▪ M – a superfície ou a superfície de corte do tecido acometido pode ser recoberta ou conter fluido ligeiramente opaco e espesso. ▪ µ - lesão pode apresentar hiperplasia das células epiteliais de glândulas de muco e células caliciformes, assim como fibras de tecido conjuntivo separado por mucinas. iii. Inflamação fibrinosa A resposta tecidual é composta pelo acúmulo de fluido com alta concentração de proteínas plasmáticas e baixos números ou ausência de leucócitos. Esta resposta é um exsudato. É observada em lesões mais graves de células endoteliais que permitem o extravasamento de proteínas de grande peso molecular, como o fibrinogênio. Ele transborda de capilares e vênulas pós- capilares fora dos vasos, em fibrina, uma proteína homogênea e de coloração eosinofílica.Esta lesão é mais comumente causada por micróbios infecciosos e é observada nas membranas serosas das cavidades corpóreas, como aquelas revestidas por pleura, pericárdio, peritônio, membranas sinoviais articulares e meninges. ▪ M – as superfícies do tecido acometido apresentam coloração vermelha (hiperemia ativa) e são recobertas por um exsudato espesso, que forma cordoes, elástico e de coloração branco-acinzentado a amarelo que pode ser removido. ▪ µ - capilares e vênulas pós-capilares são dilatados e apresentam eritrócitos (hiperemia ativa) e reatividade (hipertrofia) das células endoteliais. Estroma do tecido conjuntivo ou das superfícies mesoteliais do órgão afetado contém ou é recoberto por camadas de coloração vermelha de fibrina, albumina e outras proteínas plasmáticas coaguladas e/ou polimerizadas. iv. Inflamação supurativa A resposta tecidual é composta pelo acúmulo de fluido com alta concentração de proteínas plasmáticas e altos números de leucócitos, predominantemente neutrófilos. Este material é um exsudato comumente conhecido como pus. Ele pode ser um liquido cremoso, mas, se desidratado, tem a possibilidade de ser mais caseoso e apresentar consistência firme e, ocasionalmente, é laminado. Uma coleção de pus circunscrita por uma cápsula fibrosa que é macroscopicamente visível é denominada abcesso; se visível apenas à microscopia, é denominada microabscesso. A inflamação supurativa não resolvida pode progredir à inflamação crônica. ▪ M – as superfícies e/ou tecidos conjuntivos dos órgãos afetados são hiperêmicos e recobertos por, respectivamente, pus espesso de coloração branco-acinzentada a amarela. ▪ µ - tecidos acometidos apresentam grande número de neutrófilos; muitos são degenerados e geralmente combinados a debris de células necróticas, bactérias, proteínas plasmáticas e fibrina. VII. MEDIADORES QUÍMICOS São substâncias endógenas ou exógenas que uma vez ativadas participam, desencadeando, mantendo e amplificando os diversos processos envolvidos na resposta inflamatória. As condições para enquadramento como mediador da inflamação: ▪ Serem isolados do foco inflamatório. ▪ Se injetados, provocarem reação inflamatória. ▪ Se bloqueados, impedirem o fenômeno inflamatório. Podem ser de origem celular ou plasmática. As moléculas pré-formadas são, transcritas, traduzidas, processadas e armazenadas, geralmente em grânulos ou vacúolos, no interior das células inflamatórias. Estas moléculas podem ser liberadas imediatamente após a ativação celular e são, portanto, ativas em segundos. Outras moléculas, como a maioria das citocinas, das moléculas de adesão das prostaglandinas, são sintetizadas, em grande parte, após a ativação ou lesão de uma célula inflamatória. Os mediadores inflamatórios, sejam pré- formados, sintetizados ou derivados do plasma, de modo geral se ligam a receptores em células-alvo e as ativam ou fazem com que secretem outros mediadores inflamatórios. Os mediadores químicos são: ▪ Histamina – aumenta a permeabilidade vascular e vasodilatação. ▪ Bradicinina – função hipotensora. ▪ Neuropeptídeos – aumenta a permeabilidade capilar, transmissão de sinais de dor, liberação de histamina, contração da musculatura lisa, secreção de muco. ▪ Metabólitos do ácido araquidônico – prostaglandinas e leucotrienos. ▪ PAF – fator ativação plaquetas (ativação e agregação plaquetária, quimiotaxia, aumenta a permeabilidade vascular e vasodilatação). ▪ Óxido nítrico – vasodilatação, aumenta a permeabilidade vascular, aumenta a produção de prostaglandinas. ▪ Citocinas – destruição por macrófagos de patógenos intracelulares. i. Metabólitos do ácido araquidônico Quando a inflamação ou os mediadores inflamatórios danificam as células, os lipídios da membrana celular são rapidamente rearranjados, criando diversos mediadores lipídicos biologicamente ativos derivados de ácido araquidônico. Os metabolitos desse ácido são mediadores inflamatórios autacoides derivados de lipídios que atuam como sinais intracelulares e extracelulares, influenciando a cascata de coagulação e mediando quase todas as etapas da resposta inflamatória aguda. Dente os metabolitos, incluem-se as prostaglandinas, os leucotrienos e as lipoxinas, que são produzidos pelas vias das enzimas cicloxigenases e lipoxigenase. VIII. RESULTADOS DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA AGUDA Os 4 principais resultados da inflamação aguda são os seguintes: ▪ Resolução – o retorno à estrutura e função normal. ▪ Cicatrização por fibrose. ▪ Formação de abcessos. ▪ Progressão à inflamação crônica. A fase reparadora começa cedo e termina após o processo ou a substâncias causadora da lesão ser removida. As células necróticas e tecidos são substituídos por diferenciação e regeneração de células tronco mais preenchimento do defeito com tecido conjuntivo e ao recobrimento de superfícies desnudas com membrana e repitelização. Se completada na sequência adequada com a remoção do estimulo causador há o fim da inflamação. A não remoção do estimulo acarreta a lesão persistente, que caso não resolvida passa a ser crônica e pode formar tecido de granulação ou fibrose. A resolução ocorre se: ▪ A resposta inflamatória aguda for completada na sequência correta. ▪ Os macrófagos e os vasos linfáticos removerem o exsudato. ▪ O agente ou a substância incitante for eliminado. ▪ O estroma (tecido conjuntivo) do tecido acometido estiver intacto e puder sustentar a regeneração das células epiteliais. ▪ As células epiteliais ulceradas ou necróticas forem substituídas por regeneração das células epiteliais adjacentes, localizadas em membrana basal intacta. A progressão à inflamação crônica/granulomatosa ocorre quando a inflamação aguda não é capaz de eliminar o agente ou a substância. ▪ Persistência do estimulo por longos períodos (semanas a meses). ▪ Lesão tissular e necrose extensa (queimadura de 3º grau). ▪ Desvio dos elementos celulares da resposta inflamatória de neutrófilos a linfócitos, macrófagos e ocasionalmente células gigantes multinucleadas. ▪ Reorganização extensa do tecido conjuntivo seguido por fibrose (fibroplasia). 15/05 Inflamação crônica É aquela de duração prolongada (semanas, meses, anos) que ocorre: ▪ Depois de repetidos episódios de inflamação aguda. ▪ Quando a resposta inflamatória aguda não consegue eliminar o estimulo incitante. ▪ Em resposta a características bioquímicas únicas e/ou fatores de virulência presentes no estimulo incitante ou no micróbio. A resposta inflamatória crônica é mantida por citocinas, quimiocinas e outros mediadores inflamatórios que são liberados e incitam: ▪ A inflamação contínua mediada por infiltração e ativação de linfócitos, macrófagos, plasmócitos. ▪ A destruição tecidual (necrose). ▪ A proliferação de fibroblastos e a deposição de colágeno (desmoplasia e/ou fibroplasia). ▪ A angiogênese e a neovascularização. ▪ O início da cicatrização de feridas. Os mecanismos biológicos que provocam a inflamação crônica são: ▪ Persistência/resistência. ▪ Isolamento. ▪ Não responsividade. ▪ Autoimunidade e defeitos leucocitários. ▪ Mecanismos não identificados. I. MECANISMOS CELULARES DAS RESPOSTAS INFLAMATÓRIAS CRÔNICAS i. Macrófagos É a figura central da inflamação crônica. Produz inúmeros mediadores celulares como os da destruição tecidual e os da destruiçãovascular. Além de induzirem à proliferação de fibroblastos e à deposição de colágeno. Estas células rapidamente percebem o início da atividade inflamatória, migram na resposta a quimiotáticos, removem e matam agentes microbianos por fagocitose, removem e degradam material particulado por fagocitose, processam antígenos e os apresentam às células efetoras da resposta imunológica adaptativa e facilitam a angiogênese e remodelamento da matriz extracelular. Com o tempo, os macrófagos ativados podem se diferenciar em gigantócito tipo Langhans que geralmente se formam na resposta a corpos estranhos ou patógenos intracelulares persistentes. ii. Linfócitos Os linfócitos desempenham um importante papel na maioria das lesões inflamatórias crônicas, especialmente nas doenças autoimunes e naquelas em que há persistência do antígeno. Eles entram em áreas de inflamação aguda não resolvida em 24 a 48 horas, sendo atraídos por quimiocinas, citocinas e outros estímulos. Tendem a estar agregados ao redor de vasos sanguíneos e granulomas, ou distribuem-se de forma aleatória no tecido lesionado. iii. Plasmócitos Sob a estimulação adequada, como na presença de intensa estimulação antigênica e apresentação de antígenos por linfócitos B, estes linfócitos se diferenciam em plasmócitos que podem secretam imunoglobulinas; estas moléculas, por sua vez, se ligam a antígenos, opsonizando-os e facilitando a fagocitose. iv. Eosinófilos São característicos das reações imunes e das infecções parasitárias. Seus grânulos contém uma proteína tóxica para os parasitos e que também pode levar a lise de células. II. LESÕES MACROSCÓPICAS E MICROSCÓPICAS O termo inflamação crônica implica dois processos subjacentes e geralmente simultâneos: a fibroplasia e a infiltração celular. A fibroplasia, é a formação de tecido conjuntivo fibroso, inclui qualquer estágio deste processo, do tecido “imaturo”, com vasos sanguíneos recém- formados, ao “maduro”, que é bem- colagenizado e contém tecido de granulação remodelado. Os infiltrados celulares são compostos predominantemente por macrófagos, linfócitos e plasmócitos, dependendo do agente/substância incitante e da duração do processo inflamatório. ▪ M – apresentam coloração cinza a branca e são firmes, com superfície nodular no caso dos granulomas ou superfície irregular ou pontilhada no caso da fibrose. A cor acinzentada ou esbranquiçada é, em grande parte, resultante da infiltração de macrófagos e linfócitos, da proliferação de fibroblastos e da deposição de tecido conjuntivo fibroso e à consolidação dos leucócitos no exsudato. O formato irregular se deve ao acúmulo aleatório de leucócitos, à fibrose/cicatrização e à contração da lesão por miofibroblastos presentes no tecido conjuntivo fibroso. ▪ µ - são classificadas em categorias baseadas no tipo e na distribuição de células inflamatórias no exsudato. i. Inflamação crônica inespecífica É um reação inflamatório crônica não granulomatosa. Caracteriza-se por infiltrado constituído por linfócitos, plasmócitos, eosinófilos, monócitos, macrófagos, mastócitos, etc. Células mononucleares associadas s outros tipos celulares. É caracteristicamente observado nos primeiros estágios na resposta a micróbios específicos e em superfícies mucosas, em resposta à estimulação antigênica. ii. Inflamação crônica produtiva Tem predomínio de grande quantidade de fibras colágenas e de células. Há um aumento de volume no local além da presença de uma massa tecidual evidente. iii. Inflamação crônica exsudativa Observa-se a presença de pus. Ocorre em tecido não adequado para o desenvolvimento de uma inflamação aguda. Ao ser agredido, manifesta imediatamente componentes teciduais de inflamação crônica, apesar de ter ainda um tempo de duração da inflamação aguda. Isto é, o estimulo incitante não foi removido do exsudato na resposta inflamatória crônica e continua a provocar uma resposta inflamatória aguda. III. FORMAÇÃO DE ABCESSOS A formação de abcessos ocorre quando a resposta inflamatória aguda não é capaz de rapidamente eliminar o estimulo incitante e as enzimas e os mediadores inflamatórios dos neutrófilos presentes no exsudato liquefazem o tecido acometido e os neutrófilos, gerando pus. A enzima mieloperoxidase dos neutrófilos atua na necrose e liquefação desta células. A presença de mieloperoxidase é um fenômeno evolutivo; repteis e aves não possuem, portanto seu exsudato é caseoso. Os abscessos sépticos são os mais comumente originários de infecções bacterianas, enquanto os abcessos estéreis são provocados por corpos estranhos incompletamente degredados ou por falhas na absorção de medicamentos administrados de forma injetável. ▪ µ - cavidade neoformada devido a necrose liquefativa e pus (exsudato purulento). Presença de membrana piogênica; o local acometido pode estar revestido por tecido conjuntivo fibroso. i. Inflamação crônica granulomatosa Possui um exsudato celular básico compostos, predominantemente, por macrófagos ativados e, em alguns casos, também macrófagos epiteloides, células gigante multinucleada e números menores de linfócitos e plasmócitos. Pode ser disposta de forma difusa ou aleatória. A inflamação é considerada granulomatosa quando há agregados de macrófagos, que começam a substituir partes do estroma normal. Os granulomas são um tipo distinto de resposta inflamatória granulomatosa e observados na presença de infiltração macrofágica em uma área bem definida, formando, assim, uma massa distinta de macrófagos agregados ao exame macroscópico; pode ser caseoso ou não. VI. CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS i. Cicatrização por regeneração Resulta em total ou quase total retorno à normalidade estrutural e funcional do tecido. A regeneração das células e tecidos lesados envolve proliferação celular, que é dirigida pelos fatores de crescimento e é criticamente dependente da integridade do estroma e da capacidade regenerativa das células parenquimais. ii. Cicatrização por substituição Se o reparo não puder ser realizado somente por regeneração, ele ocorre pela substituição das células lesadas por tecido conjuntivo, levando à formação de uma cicatriz, ou por uma combinação de regeneração de algumas células residuais e formação de cicatriz. Ocorre a hemorragia da vasculatura danificada e retração e constrição dos vasos sanguíneos. Na área da ferida há deposição de fibrina, extravasamento de proteínas plasmáticas, formação de coagulo, agregação plaquetária e infiltração neutrofílica. IV. FASES DA INFLAMAÇÃO/CICATRIZAÇÃO i. Fase inflamatória Inicia imediatamente após a lesão e é caracterizada pela presença de exsudato (secreção), que dura de 1 a 4 dias, dependendo da extensão e natureza da lesão. Nesse período ocorre a ativação do sistema de coagulação sanguínea e a liberação de mediadores químicos, podendo haver edema, vermelhidão e dor. ii. Fase proliferativa É a fase da regeneração, que pode durar de 5 a 20 dias. É constituída por quatro etapas fundamentais: ▪ Epitelização, angiogênese, formação de tecido de granulação e deposição de colágeno. Nela ocorre a proliferação de fibroblastos, que dão origem ao processo chamado “fibroplasia”. Nesse período, as células endoteliais se proliferam, resultando em rica vascularização e infiltração de macrófagos. Esse conjunto forma o tecido de granulação. ▪ Tecido de granulação – em algunscasos o tecido conjuntivo fibrosos pode formar tecido de granulação. Fibroblastos em proliferação são dispostos perpendicularmente a novos capilares e os eixos longos dos novos capilares são dispostos perpendicularmente à superfície da pele. Vale ressaltar que a força tensora do tecido de granulação é menor e as lesões podem ser laceradas. iii. Fase de maturação ou remodelamento É a última fase e pode durar meses. A característica mais importante é a deposição de colágena de maneira organizada. A densidade celular e a vascularização são diminuídas, resultando na remodelação do tecido cicatricial. As fibras são realinhadas para aumentar a resistência do tecido e melhorar o aspecto da cicatriz. Nessa fase, a cicatriz altera progressivamente sua tonalidade, passando do vermelho escuro a um tom rosa claro. iv. Cicatrização de feridas por 1ª intenção Ocorre em 2 a 3 dias na pele, caso as bordas de corte de uma ferida não séptica sejam corretamente posicionadas por suturas ou bandagens. Durante este tempo, a hemorragia, as proteínas plasmáticas e os debris celulares no interior da ferida são fagocitados e removidos por macrófagos, novos vasos sanguíneos brotam e crescem na lesão e a MEC é sintetizada, preenchendo a fenda entre as bordas teciduais justapostas. Este tipo de reparo deixa pouco vestígio da ferida. v. Cicatrização de feridas por 2ª intenção Ocorre quando as bordas de corte da pele, por exemplo, não são suficientemente aproximadas para a cicatrização. O tecido conjuntivo é sintetizado e disposto de forma aleatória e o processo cicatricial apresenta pouca ou nenhuma organização; no entanto, o tecido conjuntivo fibroso preenche o defeito na derme superficial e profunda. O local pode permanecer ulcerado, não apresentar pelos e, em alguns casos, o tecido conjuntivo fibroso pode sofrer proliferação contínua e protruir da superfície cutânea como uma cicatriz hiperplásica. vi. Cicatrização de feridas por 3ª intenção É usada para feridas profundas que não foram suturadas inicialmente ou se romperam e são reesuturadas posteriormente, aproximando assim as duas superfícies de granulação. 25/05 Neoplasias É um processo de “novo crescimento” no qual células normais sofrem alterações genéticas irreversíveis, que as tornam não responsivas aos controles ordinários do crescimento exercidos a partir de células “transformadas” ou por células circundantes “normais”. Com a continua proliferação as células se expandem além dos seus limites anatômicos normais, criando uma neoplasia macroscopicamente ou microscopicamente detectada. Outros termos comuns para neoplasias tais como tumor (inchaço) ou câncer, descrevem o aspecto clínico ou o comportamento infiltrativo desses crescimentos anormais. Embora os termos “neoplasia” e “tumor” possam se referir a crescimentos benignos ou malignos, o termo “câncer” sempre denota um crescimento malignos. É importante observar que uma lesão maciça descrita clinicamente como um “tumor” ou uma “massa” pode ser uma neoplasia ou uma lesão não neoplásica como um granuloma. Tumores benignos não invadem o tecido circundante ou se disseminam para novas localizações anatômicas no interior do corpo; por conseguinte, esse tumores geralmente são curáveis e raramente são responsáveis pela morte do animal. Tumores malignos, se deixados sem tratamento, invadem localmente, se disseminam através de metástases e, finalmente, matam o animais ao interferirem com funções corporais fundamentais. I. ALTERAÇÕES PRÉ- NEOPLÁSICAS Essas alterações frequentemente indicam uma aumento do risco ou da probabilidade de progressão para uma neoplasia no tecido afetado. ▪ Hiperplasia – constitui um aumento do número de células em um tecido através da divisão mitótica, isto é, através de proliferação celular. o Ex.: hiperplasia endometrial devido a estimulação estrogênica sem oposição de progesterona é um fator de risco para o carcinoma endometrial. ▪ Hipertrofia – é um aumento do tamanho da célula individual através da adição de citoplasma (citosol) e organelas associadas. ▪ Metaplasia – é a transformação de um tipo celular diferenciado em outro, é mais comumente observada em tecidos epiteliais. Por exemplo, em várias espécies animais, a deficiência da vitamina A se caracteriza pela transformação dos epitélios coluna ou cuboidal respiratório e digestivo em epitélio escamoso. ▪ Displasia – é um padrão anormal de crescimento tecidual e geralmente se refere a um arranjo desordenado de células dentro do tecido. As alterações pré-neoplásicas são reversíveis. Elas podem surgir em resposta a demanda fisiológicas, lesões, ou da irritação, mas frequentemente se resolvem com a remoção do fator incitante. ▪ Anaplasia – é o termo usado para descrever a perda da diferenciação celular e a reversão para características morfológicas celulares mais primitivas; a anaplasia frequentemente indica uma progressão irreversível para a neoplasia. II. NOMENCLATURA i. Tumores benignos Em geral, os tumores benignos são designados pelo acréscimo do sufixo oma ao tipo celular do qual eles se originam. ▪ Ex.: tumor benignos que surge no tecido conjuntivo fibroso é um fibroma. ▪ Ex.: um tumor benigno cartilaginoso é um condroma. A nomenclatura aplicada aos tumores benignos epiteliais, o termo adenoma é aplicado não somente às neoplasias epiteliais benignas que produzem estruturas semelhantes a glândulas, mas também às neoplasias benignas que são derivadas de glândulas, mas que perderam seu padrão se crescimento glandular. Ex.: uma neoplasia epitelial benigna que se origina a partir de das células tubulares renais e cresce em padrões do tipo glandular é denomina adenoma, assim como também é uma massa de células epiteliais benignas que não produz padrões glandulares, mas tem sua origem no córtex suprarrenal. Os papilomas são neoplasias epiteliais benignas, que crescem em qualquer superfície, produzem protusões micro ou macroscópicas “digitiformes”. Um pólipo é uma massa que se projeta acima de uma superfície mucosa, como no intestino, para forma uma estrutura macroscopicamente visível. ii. Tumores malignos Neoplasia malignas que se originam de tecidos mesenquimais sólidos ou seus derivados são chamados sarcomas, enquanto aquelas originados a partir de células mesenquimais sanguíneas são chamadas leucemias ou linfomas. ▪ Ex.: uma neoplasia maligna composta por células semelhantes aos adipócitos é um lipossarcoma. ▪ Ex.: uma neoplasia maligna composta por células semelhantes a condrócitos é um condrossarcoma. As neoplasias malignas das células epiteliais são chamadas carcinomas, independentemente do tecido de origem. ▪ Ex.: uma neoplasia maligna que surge no epitélio do revestimento intestinal é considerada carcinoma. Os carcinomas que crescem em padrão glandular são chamados adenocarcinomas, enquanto aqueles que produzem células escamosas são chamados carcinomas de células escamosas. III. CARACTERÍSTICAS TUMORAIS Os tumores benignos geralmente são expansivos e podem comprimir o tecido adjacente, enquanto os tumores malignos geralmente são invasivos. Para que as células malignas invadam e, finalmente metastizem, estas deverão se tornar completamente independentes dos controles regulatórios de crescimento local e adquirir um suprimento sanguíneo independente. As características tumorais incluem: ▪ Perda da diferenciação conforme o indicado pela variabilidade morfológica nas células tumoraispela arquitetura tecidual anormal e pela perda de função celular especializada. ▪ Potencial proliferativo ilimitado devido à divisão celular contínua e à resistência à morte celular. Tanto os tumores benignos quanto os malignos são compostos por células em proliferação, mas os tumores malignos possuem um potencial essencialmente ilimitado de replicação. Os tumores malignos são relativamente independentes das moléculas exógenas estimulatórias do crescimento e são insensíveis aos sinais inibitórios do crescimento provenientes do seu ambiente. As células malignas são mais capazes do que as células benignas para evadir da morte celular por apoptose. Os tumores malignos estimulam uma acentuada angiogênese, o que assegura uma nutrição tumoral adequada e promove a invasão tumoral e as metástases. Todavia, devido à rápida taxa de crescimento de muitos tumores malignos, as áreas de necrose são frequentemente encontradas no interior desses tumores. Ciclo celular e crescimento de tecidos I. CÉLULAS LÁBEIS, ESTÁVEIS E PERMANENTES ▪ Células lábeis – são quelas que rotineiramente proliferam em circunstâncias normais de crescimento e renovação constantes. Células maduras derivadas de célula- tronco. o Ex.: epiderme, epitélio intestinal e medula óssea. ▪ Células permanentes – são as células que deixaram o ciclo celular, sem poder sofrer mitose na vida pós-natal. o Ex.: neurônios e miócitos cardíacos e esqueléticos. ▪ Células estáveis – possuem baixo nível de replicação, mas possuem capacidade de recolocar células. Podem sofrer divisão rápida em resposta a estímulos; do estágio G0 do ciclo celular são estimuladas a entrar em G1. o Ex.: fígado, rins, osso, cartilagem e musculatura lisa. II. ETAPAS DO CICLO CELULAR O ciclo celular consiste nas fases de: ▪ G1 – pré-síntese. ▪ S – síntese de DNA. ▪ G2 – pré-mitótico. ▪ M – mitótico As células quiescentes estão em uma condição fisiológica denominada G0. No tecido adulto, muitas células permanecem em G0 e são incapazes de entrar no ciclo celular ou de fazê-lo quando estimuladas através de fatores extrínsecos. Em resposta à lesão do DNA, mesmo as células normais em divisão ativa sofrem parada do ciclo, geralmente em um dos vários pontos de verificação do ciclo celular. A parada do ciclo celular é iniciada pelo produto do gene supressor funcional multifuncional p53 e dá à célula tempo para reparar o DNA. III. CRESCIMENTO DOS TECIDOS NORMAIS i. Proliferação A população celular é controlada por sinais (solúveis ou dependentes de contato) podem estimular como inibir a proliferação celular. Os mecanismos mais importante de crescimento é a conversão das células em repouso ou quiescentes em celular proliferativas que entram no ciclo celular. Para que isso ocorras, os sinais estimuladores devem ser maiores que os sinais de bloqueio fisiológicos normais. A proliferação pode ser estimulada em condições fisiológicas e patológicas. ii. Diferenciação A diferenciação também impacta o tamanho da população celular e seu potencial proliferativo. ▪ Miócitos e neurônios – são células terminalmente diferenciadas. ▪ Fígados e rins – são células diferenciadas, geralmente quiescentes, mas capazes de proliferar quando necessário. ▪ Medula óssea e o epitélio da pele e intestino – são células maduras terminalmente diferenciadas, com vida curta e incapazes de replicação, mas podem ser substituídas por novas células que se originam de células-tronco, com equilíbrio homeostático entre a proliferação de células-tronco, sua diferenciação e a morte de células completamente diferenciadas. iii. Morte celular Existem uma variedade de mecanismos que eliminam irreversivelmente as células danificadas ou estéreis para manter a homeostase do tecido normal. Em resposta à lesão do DNA, do estresse oxidativo e do encurtamento telomérico, as células proliferativas podem sofrer uma parada permanente na fase G1 do ciclo celular denominada senescência celular. Essa parada do crescimento limita a expectativa de vida das células neoplásicas e impede a proliferação tumoral ilimitada. A senescência é mediada pela ativação das vias do p53. A apoptose é uma forma de “morte celular programada” que pode ocorrer em respostas à retirada da sobrevivência ou de fatores de crescimento a partir do ambiente celular ou da ligação a fatores de morte. A hipóxia celular e a ausência de nutrientes essenciais, além da lesão do DNA, podem terminar em apoptose. Crescimento tumoral Um potencial proliferativo essencialmente ilimitado é uma característica da neoplasia, especialmente das neoplasia malignas. Ao contrario das células normais, muitas células tumorais são imortais. Em geral, as células neoplásicas escapam dos limites normais da divisão celular, se tornam independentes do crescimento externo estimulatório e de fatores inibitórios, perdendo sua susceptibilidade aos sinais apoptóticos. Essas características resultam em um desequilíbrio entre a produção celular e a perda celular e em um aumento líquido do tamanho tumoral. i. Proliferação Muitas células neoplásicas não mais respondem aos sinais extrínsecos ou intrínsecos dirigidos a elas na fase G0 não expressando mais um p53 funcional. Desse modo, as células transitam continuamente através do ciclo celular. Além disso, uma vez que as células tumorais não sofrem parada do ciclo celular após a lesão do DNA, elas progressivamente acumulam lesões potencialmente mutagênicas do DNA. O resultado final é que as células tumorais não são mais responsivas às necessidades do organismo como um todo e desenvolvem a capacidade de dirigir a sua própria replicação. ii. Diferenciação A maior parte das células tumorais geralmente são menos diferenciadas do que as células normais. iii. Morte celular Uma vez que o maquinário de replicação do DNA é incapaz de duplicar as extremidades distais dos moldes de DNA, os telômeros que se formam nas pontas dos cromossomos são encurtados a cada divisão. Telômeros muito curtos são incompatíveis coma a continuação da divisão celular e ativam as vias do p53 de parada do ciclo celular. No entanto, muitas células neoplásicas recuperam a capacidade de produzir telomerase e, portanto, de replicar seus telômeros. A reexpressão da telomerase parece desempenhar um importante papel no escape das células tumorais da senescência e na sua consequente imortalidade. Muitas células cancerosas adquirem resistência à apoptose. Isto é, muitos tipos tumorais contornam a apoptose através da inativação funcional do gene p53, removendo, assim, uma molécula pró-apoptótica essencial. Adicionalmente, as células tumorais podem ativar constitutivamente vias de sinalização da sobrevivência, tornando as células independentes de fatores de sobrevivência exógenos. Por fim, as células tumorais podem desenvolver mecanismos para a inativação das vias de sinalização do fator de morte. Evolução tumoral I. INICIAÇÃO A primeira etapa da carcinogênese é a inicialização, a introdução de uma alteração genética irreversível nas células normais através da ação de um agente iniciante ou iniciador. Os iniciadores são carcinógenos químicos ou físicos que danificam o DNA. A indução da mutação exige não apenas a introdução de uma lesão no DNA, mas também o pareamento defeituoso da lesão do DNA durante a subsequente replicação deste DNA, produzindo um filamento de DNA completamente alterado. Pelo menos um único ciclo de replicação do DNA é necessário para que a alteração genética se tornepermanente. As células iniciadoras podem ter um aspecto morfologicamente normal, podendo permanecer quiescentes por anos. II. PROMOÇÃO Os segundo estágio para o desenvolvimento tumoral é a promoção, o crescimento das células iniciadas em resposta a estímulos seletivos. A maior parte desses estímulos seletivos, denominados agentes de promoção ou promotores, resulta em proliferação. Os promotores não são mutagênicos; ao invés disso, eles podem criam um ambiente proliferativo no qual as células iniciadas possuem uma vantagem de crescimento. Por não serem mutagênicos seus efeitos geralmente são reversíveis. III. PROGRESSÃO Na progressão, o estágio final do desenvolvimento tumoral, um tumor benigno evolui em um tumor progressivamente maligno em um processo denominado transformação maligna. Os tumores malignos podem finalmente se tornar metastáticos. A transformação maligna representa uma alteração irreversível na natureza do tumor em desenvolvimento. A progressão é um processo complexo e mal-compreendido que envolve tanto alterações genéticas quanto epigenéticas nas células tumorais, assim como as alterações no ambiente tumoral que seleciona clones progressivamente mais malignos. Heterogeneidade tumoral e seleção clonal Acredita-se que a maior parte dos tumores seja de origem clonal, ou seja, que sejam oriundos de uma punica célula transformada. A heterogeneidade das células tumorais é gerada durante o curso do crescimento tumoral através do acúmulo progressivo de alterações hereditárias nas células tumorais. A cada nova alteração genética, a progênie de uma única célula tumoral com esta nova mutação constituirá um subclone de células tumorais. Os subclones bem-sucedidos são: ▪ Aqueles que apresenta uma elevada taxa proliferativa. ▪ São capazes de escapar a resposta imune do animal. ▪ Podem estimular o desenvolvimento de um suprimento sanguíneo independente. ▪ Se tornam independentes de fatores de crescimento exógenos. Vale ressaltar que a maior parte dos tumores é composta por células que carecem de características morfológicas, funcionais e comportamentais plenamente diferenciadas. Além disso, muitas células neoplásicas adquirem características semelhantes às de células embrionárias que dão origem ao tecido maduro do qual o tumor se originou. 01/06 Disseminação do tumor Os tumores malignos podem ser altamente invasivos. Eles não respeitam os limites anatômicos e se infiltram no tecido normal adjacente. As metástases ocorrem quando colônias de células tumorais instalam-se à distancia do tumor primário. É a característica mais confiável malignidade. As metástases vão espalhando células neoplásicas nas cavidades corporais e superfícies (disseminação transcelômica), por disseminação linfática ou hematógena. I. DISSEMINAÇÃO TRANSCELÔMICA Quando os canceres surgem sobre a superfície de um estrutura abdominal ou torácica, eles encontram poucas barreiras anatômicas à sua disseminação. Por conseguinte, os mesoteliomas podem ficar confinados às cavidades peritoneal, pericárdica, ou pleural, mas células tumorais no interior dessas cavidades facilmente se disseminam recobrindo as superfícies visceral e parietal. ▪ Ex.: os adenocarcinomas ovarianos e pancreáticos se disseminam preferencialmente por via transcelômica, resultando em múltiplas massas tumorais por todo o abdômen. II. DISSEMINAÇÃO LINFÁTICA A maioria dos carcinomas e alguns sarcomas metastizam através do sistema linfático. O padrão de envolvimento nodal geralmente é ditado por vias preexistentes de drenagem linfática normal. Os linfonodos mais próximos do tumor geralmente são afetados primeiramente e desenvolvem as maiores massas metastáticas tumorais; estes são chamados linfonodos sentinela. III. DISSEMINAÇÃO HEMATÓGENA Uma vez que os vasos linfáticos se conectam ao sistema vascular, a distinção entre disseminação linfática e hematógena é bastante artificial. Os sarcomas tendem a usar da via hematógena para sua disseminação mais frequentemente do que os carcinomas. Os tumores geralmente invadem as veias ao invés das artérias uma vez que as paredes venosas são muito mais finas e fáceis de penetras do que as paredes arteriais. As células tumorais que penetram nas veias acabam por alcançar a veia cava, passam pelo coração e se alojam nos leitos capilares, particularmente o pulmonar. Os tumores que invadem os vasos portais tendem a se alojar no fígado. IV. MECANISMOS DE INVASÃO E METÁSTASE i. Adesão Como o primeiro evento na invasão e metástase, as células tumorais devem se desprender da massa tumoral principal, penetrar a membrana basal e adentras a MEC. Para que as células se separem uma das outras, as estruturas de adesão, incluindo desmossomos e as junções de adesão, devem ser desfeitas. Em muitas células tumorais de origem epitelial, este processo é devido à perda de caderinas, moléculas que são elementos estruturais essenciais das junções intercelulares. Ao mesmo tempo em que as células tumorais se destacam uma das outras, elas também, devem estabelecer contatos com elementos da MEC no interior do estroma tumoral. As integrinas e outros receptores específicos nas membranas celulares tumorais identificam e se ligam a uma variedade de componentes da MEC tais como a fibronectina, a laminina, o colágeno e a vitronectina D. Durante a invasão e a metástases, as células carcinomatosas frequentemente redistribui tais receptores para cobrir toda a membrana celular. ii. Invasão As células epiteliais normalmente repousam sobre uma estrutura extracelular denominada membrana basal, à qual elas estão firmemente fixadas através de hemidesmossomos. Nos tumores epiteliais benignos, a membrana basal permanece intacta. Em contrapartida, as células epiteliais neoplásicas dos tumores malignos degradam ativamente a membrana basal e os componentes da MEC através do aumento da atividade da cascata de proteases na sua vizinhança. Isso lhes permite penetrar na membrana basal e invadir o tecido circundante. As proteases implicadas na promoção metástases tumorais incluem metaloproteinases da matriz como, por exemplo, a colagenase do tipo IV e a uroquinase, uma protease serínica. iii. Migração Em muitos pontos durante a invasão e a metástase, as células tumorais migram ativamente. Esta migração é mediada por alterações do citoesqueleto e das estruturas de adesão células às quais os componentes do citoesqueleto estão ancorados. A migração das células tumorais é estimulada por fatores de crescimento autócrinos. iv. Êmbolos tumorais Uma vez nos interior de um vase linfático ou sanguíneo, as células tumorais tendem a se aglomerar e a formar pequenos êmbolos que se mantêm juntos através de um compartimento e moléculas de adesão. Quando nos vasos, as células tumorais podem ser reconhecidas pelos linfócitos do hospedeiro ou podem ser envolvidas por plaquetas. É interessante observar que as plaquetas podem, de fato, proteger os êmbolos tumorais da destruição mediada pelo sistema imune, aumentando, assim, o potencial para a metástase. Locais metastáticos devem prover um microambiente adequado para o crescimento da célula tumoral. V. SUPRESSÃO DA METÁSTASE A expressão de alguns produtos genéticos nas células tumorais parece suprimir as metástases. Por exemplo, a manutenção da expressão da E-caderina, uma proteína transmembranar que forma parte dasjunções de adesão, conserva a aderência entre as células tumorais e as impede de se dissociarem para invadirem os tecidos circundantes e os vasos linfáticos. Estroma do tumor Um tumor é constituído pelas células tumorais próprias, denominadas parênquima, e por uma estrutura de suporte não neoplásica denominada estroma. O estroma é em grande parte composto por tecido conjuntivo extracelular e consiste de proteínas e glicoproteínas, como, por exemplo, o colágeno embebido em uma matriz complexa de proteoglicanos. Também contém os vasos sanguíneos que suprem os nutrientes para o tumor, fibroblastos que sintetizam colágeno e outros componente da MEC, assim como uma variedade de células inflamatórias imunes. A quantidade de estroma associado ao tumor varia consideravelmente. I. INTERAÇÕES TUMOR- ESTROMA As células tumorais interagem com o seu estroma de um modo complexo, permutando uma ampla variedade de moléculas sinalizadoras, incluindo fatores de crescimento, citocinas, hormônios e mediadores inflamatórios. Essas trocas modulam a taxa de crescimento, o estado de diferenciação e o comportamento tanto das células estromais quanto das células tumorais. II. ANGIOGÊNESE O crescimento contínuo dos tumores sólidos depende absolutamente de um suprimento sanguíneo adequado para proporcionar oxigênio e nutrientes para as células tumorais. Em algum ponto durante o desenvolvimento tumoral, ocorre uma ativação angiogênica que permite que as células tumorais induzam e mantenham uma vasculatura tumoral nova. A angiogênese é um processo complexo que envolve: ▪ Recrutamento de células endoteliais a partir de vasos sanguíneos preexistentes. ▪ Proliferação de células endoteliais. ▪ Migração direta de células endoteliais através da MEC. ▪ Maturação e diferenciação do broto capilar. A angiogênese é controlada por um equilíbrio entre uma pletora de fatores estimulantes e inibidores da angiogênese. Os tumores iniciam a angiogênese produzindo fatores angiogênicos como, por exemplo, o fator de crescimento endotelial (VEGF), ou através da regulação descendente da produção de fatores antiangiogênicos, tais como a tromboplastina. Os vasos sanguíneos tumorais que se desenvolvem em resposta aos sinais angiogênicos geralmente são mais dilatados, mais sinuosos e mais permeáveis do que os vasos sanguíneos normais. Etiologia do câncer As alterações genéticas que contribuem para o desenvolvimento do câncer incluem: ▪ Alterações herdadas nas sequencias das linhagens germinativas presentes em todas as células dentro de um organismo. o Lesões genéticas hereditárias. ▪ Alterações somáticas que se acumulam nas células e tecidos individuais do corpo ao longo do tempo. o Ocorrem nas células somáticas e são restritas às células individuais e sua progênie. o São provocadas tanto por agentes extrínsecos como intrínsecos. o Acumulam-se ao acaso com o tempo. I. FATORES INTRÍNSECOS Como um subproduto do metabolismo celular usual, uma variedade de metabólitos lesivos ao DNA, como, por exemplo, as espécies reativas do oxigênio e ácidos orgânicos são produzidas. Adicionalmente, no curso de muito ciclos de replicação, as alterações do DNA são introduzidas como resultado de erros de copias feitas pelas DNA polimerases. Uma recombinação ilegítima e a adição de nucleotídeos inapropriada realizadas por enzimas celulares normais, também pode acarretar alterações do DNA. As anomalias cromossômicas surgem como resultado da redução do comprimento dos telômeros, da alteração da atividade das telomerases e de erros na segregação cromossômica. II. FATORES EXTRÍNSECOS Os fatores extrínsecos que interagem com o DNA para provocar câncer incluem agentes ambientais físicos e químicos, assim como vírus oncogênicos. Os agente mutagênicos criam danos ao DNA que dão origem a mutações, enquanto os carcinógenos são agentes que causam câncer. Muitos agentes mutagênicos também são carcinógenos, entretanto carcinógenos podem ou não ser mutagênicos. i. Agentes químicos Carcinógenos químicos são disseminados no ambiente, logo os animais são expostos a baixos níveis de carcinógenos no ar, água, alimento e medicamentos. Uma causa química notável de câncer em animais é a planta samambaia, ela possui uma toxina que causa câncer de bexiga em bovinos. Outra possibilidade é a exposição a potenciais carcinógenos voluntariamente. Ex.: fumaça do tabaco. ii. Radiação A radiação está presente em fontes naturais como a luz solar e em procedimentos médicos (radiografias para diagnóstico e a radioterapia). A radiação UV geralmente não é um importante carcinógeno veterinário, pois a pelagem serve como proteção. Contudo carcinoma de células escamosas das orelhas em gatos brancos e o carcinoma de células escamosas oculares nos bovinos/equinos com pálpebras não pigmentas podem ocorrer. iii. Agentes infecciosos Tumores induzidos por vírus frequentemente afetam um número relativamente grande de animais em um rebanho ou granja. Existe uma variedade de vírus oncogênicos que induzem o câncer por uma variedade de mecanismos. ▪ Ex.: leucose aviaria, leucemia felina, leucose bovina, papilomavirus, hepadnavírus, herpesvírus, linfomas e leucemias. ▪ Espécies da bactéria Helicobacter desempenham papel no carcinoma gástrico.