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63 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Unidade II 5 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA Com o objetivo de colocar em prática os princípios da Atenção Primária à Saúde, a PNAB vem se modificando constantemente e remodelando a prática assistencial com foco na família. Em 1991, houve a implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e, em 1994, a do Programa de Saúde da Família (PSF), que foi inserido como estratégia inovadora para reorganizar a atenção primaria no SUS aproximando a população e as equipes multiprofissionais. No ano de 2006, o PSF foi reconhecido como Estratégia Saúde da Família por meio da Portaria n. 648; esta passou por revisões e, em 21 de outubro de 2011, a Portaria n. 2.488, aprovou a PNAB, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a ESF e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Em 21 de setembro de 2017, a Portaria n. 2.436 aprovou a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica no âmbito do SUS (CORREIA, 2010). A ESF tem a intenção de ofertar uma assistência de saúde com atenção integral, equânime e contínua à população, sendo a porta de entrada ao SUS. Procura ainda promover a qualidade de vida da população e intervir nos fatores que colocam em risco a saúde, como sedentarismo, alimentação inadequada, tabagismo e etilismo, entre outros (PINTO, GIOVANELLA, 2018; BRASIL, 2017a). Para que as atividades da ESF tenham êxito, é necessária a aproximação entre o usuário e a equipe de Saúde Família, para que, assim, a pessoa, a família e a comunidade possam ser acompanhadas. Ao se gerar uma maior adesão do usuário aos tratamentos e ao monitoramento propostos pela equipe de saúde, mais problemas de saúde podem ser resolvidos na Atenção Básica, diminuindo, por sua vez, a procura por atendimento em unidades de média e alta complexidade (PINTO, GIOVANELLA, 2018; BRASIL, 2017a). Observação Cerca de 80% dos problemas de saúde da população podem ser resolvidos pela ESF que está associada à UBS. 5.1 Conceitos e atuação da equipe de Estratégia Saúde da Família A caracterização e a relação de serviços ofertados na Atenção Básica devem ser orientadas para sua organização nos municípios, seguindo os princípios e as diretrizes da PNAB (2017a) conforme descritos anteriormente. 64 Unidade II A vulnerabilidade social está associada ao contexto de atuação da ESF em uma região formada por famílias com condições sociais, econômicas e ambientais precárias e com igualmente precários acesso à informação, à educação, à assistência social, à saúde, à garantia de respeito aos direitos humanos e à situação sociopolítica e cultural (BACKES, 2012). Por ser a porta de entrada para o SUS, é considerada primordial para o fortalecimento da Atenção Básica. Apoiado no acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica demarcada, são realizadas ações de promoção de saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de condições de saúde mais frequentes (OLIVEIRA, 2011). É necessário o pensamento sistêmico a cada profissional de saúde que compõe a equipe intermediada pela multiplicidade de relações e interações, que interferem positivamente tanto na sua atuação quanto na dinâmica dos usuários/famílias, facilitando a compreensão do contexto social e singular em que cada usuário e família estão inseridos (BACKES, 2012). A atuação da equipe ESF em uma comunidade está relacionada às possibilidades interativas e dialógicas (com a perspectiva de fortalecer a autonomia dos diferentes atores envolvidos no processo de cuidado em saúde), à valorização das singularidades humanas e ao fortalecimento das redes interativas e associativas. Os profissionais têm a oportunidade de agir ativamente na realidade das famílias e comunidades, e, com a participação ativa e efetiva na realidade das famílias, eles conseguem observar como sua atuação pode transformar o desenvolvimento social e a ampliação das oportunidades dos seres humanos pela participação ativa e participativa no processo saúde-doença (BACKES, 2012). 5.2 Composição, territorialização e atividades básicas da equipe de Estratégia Saúde da Família A composição da equipe de ESF é multiprofissional, dispondo de, no mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). Existe também a equipe de Saúde Bucal, composta de cirurgião-dentista generalista ou especialista em saúde da família e auxiliar e/ou técnico em saúde bucal. A quantidade de ACS deve ser capaz de atender 100% da população cadastrada, com no máximo 750 pessoas por agente, sendo 12 ACS por equipe e não excedendo o limite recomendado de 3.500 pessoas atendidas por equipe (BRASIL, 2017a). Conforme a localização geográfica no país, existem as Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas e Fluviais, que são direcionadas ao atendimento da população ribeirinha da Amazônia Legal e do Pantanal Sul-Mato-Grossense, respectivamente (BRASIL, 2017a). Observando as especificidades locais, os municípios e as equipes de saúde da família podem ter dois arranjos organizacionais, seguindo os mesmos critérios das equipes de saúde da família (BRASIL, 2017a). 65 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Quadro 17 – Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas e Fluviais Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas (eSFR) Equipes de Saúde da Família Fluviais (eSFF) Desempenham a maior parte de suas funções em Unidades Básicas de Saúde (UBS) construídas/localizadas nas comunidades pertencentes a regiões à beira de rios e lagos cujo acesso se dá por meio fluvial. Desempenham suas funções em Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF). Fonte: Brasil (2017b). Saiba mais Para entender melhor a revisão de diretrizes na Política Nacional de Atenção Básica, acesse o documento indicado a seguir. BRASIL. Portaria n. 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2017/prt2436_22_09_2017.htmL>. Acesso em: 14 nov. 2019. A territorialização é um processo de reconhecimento das condições em que a população atendida vive. Esse reconhecimento tem o objetivo de assumir a responsabilidade pelos indivíduos e pelos espaços usados por essa população (WAGNER, 2015). Quadro 18 – Tipos de mapas na UBS para delimitação territorial Mapa de delimitação do território Mapa inteligente Tem objetivo de representar graficamente a área de responsabilidade da eSF, podendo apresentar a localização da UBS e dos equipamentos sociais (escolas, creches, centros comunitários, clubes e igrejas, entre outros) presentes em cada área. Construído a partir do mapa de delimitação de território e alimentado por informações geográficas, ambientais, sociais, demográficas e de saúde. Fonte: Brasil (2017b). A) B) Bairro Mundo Feliz Figura 18 – Imagem ilustrativa dos mapas de delimitação de território e inteligente 66 Unidade II Esse território deve ser um espaço vivo que possa gerar saúde e, para isso, deve passar por um diagnóstico epidemiológico com a finalidade de se identificar os fatores e as condições determinantes do processo saúde-doença (WAGNER, 2015; JUSTO et al., 2017). Para que isso seja possível, são necessárias algumas atividades básicas a serem desenvolvidas pela equipe de Saúde da Família: • conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis e identificar os problemas de saúde mais comuns e as situações de risco às quais a população está exposta; • executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica nos diversos ciclos da vida; •garantir a continuidade do tratamento pela adequada referência do caso; • prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda, buscando contatos com indivíduos sadios ou doentes, a fim de promover a saúde por meio da educação sanitária; • promover ações interssetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas; • discutir de forma permanente, com a equipe e a comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os legitimam; • incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde (BRASIL, 2000). Em 2011 foi instituída pela PNAB a estratégia Consultório na Rua, com o objetivo de ampliar o acesso aos serviços de saúde à população em situação de rua, oferecendo de forma mais apropriada atenção integral à saúde para essa população que se encontra em situação de vulnerabilidade (BRASIL, 2011d). As equipes que prestam assistência de saúde são multiprofissionais e de acordo com as necessidades da população atendida. As atividades são realizadas de forma itinerante, desenvolvendo ações na rua, em instalações específicas, na unidade móvel e também nas instalações de Unidades Básicas de Saúde do território onde está atuando (BRASIL, 2011a; BRASIL, 2017a). A responsabilidade pela assistência de saúde da população em situação de rua, como de qualquer outro cidadão, é de todo e qualquer profissional do SUS, mesmo se o profissional não for membro da equipe de Consultório na Rua (eCR). Em regiões onde não existam eCR, a assistência deve ser prestada pelas modalidades de equipes da Atenção Básica. Vale ressaltar que essa população deve receber os cuidados dos profissionais de saúde bucal, do Nasf, dos Centros de Atenção Psicossocial, da Rede de Urgência/Emergência e dos serviços e instituições componentes do Sistema Único de Assistência Social, entre outras instituições públicas e da sociedade civil do território onde estão situadas (BRASIL, 2017a; BRASIL, 2011a). 67 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM 5.3 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) O Nasf foi criado pelo Ministério da Saúde em 2008 e regulamentado pela Portaria n. 2.488, de 21 de outubro de 2011, com o objetivo de consolidar a atenção primária aumentando a cobertura das ações de saúde, bem como sua resolubilidade. Deve, ainda, contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do SUS (BRASIL, 2017a; BRASIL, 2011b). A composição é feita por uma equipe multiprofissional trabalhando em conjunto com as eSF, as equipes de atenção primária para populações específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais) e com o Programa Academia da Saúde (BRASIL, 2017a; BRASIL, 2011b). Com esse trabalho em conjunto é possível realizar a discussão de casos clínicos, possibilitando a construção de projetos terapêuticos, ampliando e qualificando as intervenções na saúde e no território, além de priorizar as ações de promoção e prevenção de saúde (BRASIL, 2017a; BRASIL, 2011b). Em 28 de dezembro de 2012 foi publicada a Portaria n. 3.124 (BRASIL, 2012b) criando a terceira modalidade do Nasf (desde que tenha ao menos uma eSF). Quadro 19 – Modalidades do Nasf Modalidades Número de equipes vinculadas Somatória das cargas horárias profissionais Nasf 1 5 a 9 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF) Mínimo de 200 horas semanais (cada ocupação deve ter no mínimo 20 horas e no máximo 80 horas de carga horária semanal). Nasf 2 3 a 4 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF) Mínimo de 120 horas semanais (cada ocupação deve ter no mínimo 20 horas e no máximo 40 horas de carga horária semanal). Nasf 3 1 a 2 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF) Mínimo de 80 horas semanais (cada ocupação deve ter no mínimo 20 horas e no máximo 40 horas de carga horária semanal). Fonte: Brasil (2011b). Vale ressaltar que nenhum profissional poderá ter carga horária de trabalho semanal menor que 20 horas, seja da eCR, eSFR e eSFF (BRASIL, 2017a; BRASIL, 2011b). Para compor os Nasf, os profissionais devem ter nível superior e nível técnico, sendo permitidas as ocupações do Código Brasileiro de Ocupações (CBO): médico acupunturista, assistente social, educador físico, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, ginecologista/obstetra, médico homeopata, nutricionista, pediatra, psicólogo, psiquiatra, terapeuta ocupacional, geriatra, clínico geral, médico do trabalho, veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista (profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas). Essa composição será definida pelos gestores municipais seguindo os critérios de prioridade a partir de dados epidemiológicos e de prioridades locais identificados previamente (BRASIL, 2017a; BRASIL, 2011b). 68 Unidade II Saiba mais Saiba como implantar o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) acessando o artigo indicado a seguir. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária. Como implantar o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), [s.d.]. Disponível em: http://aps.saude.gov.br/ape/nasf/implantar/. Acesso em: 20 nov. 2019. Para comemorar os dez anos do Nasf, no ano de 2018 foi criada uma lista com dez vídeos sobre ações do Nasf para assistir pesquise na internet por: #Nasf 10 anos e assista aos vídeos. 5.4 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) No ano de 1991, o Ministério da Saúde, em associação com as secretarias estaduais e municipais, iniciou o Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde (PNACS) – que se tornou posteriormente o Programa de Agentes Comunitários de Saúde – com a finalidade de reduzir os preocupantes indicadores de morbimortalidade infantil e materna, inicialmente no Nordeste do Brasil (BARROS, 2010). Em 1994 houve a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), com o propósito de apoiar uma prática com ações integrais na atenção primária ligada à comunidade. A partir da criação do PSF, surgiu o Agente Comunitário de Saúde (ACS) atuando na UBS e formando um elo entre os serviços de saúde e a comunidade (BARROS, 2010). No início, os ACS não tinham qualificação nem regulação profissional. No entanto, dada sua importância no fortalecimento da atenção primaria à saúde, houve a necessidade de capacitação desse profissional (BARROS, 2010). Atualmente, essa é uma das profissões mais estudadas por universidades, isso porque esses profissionais fazem a conexão entre a comunidade e o governo. Além disso, sua atuação é extremamente importante para a comunidade e permite a criação facilitada de vínculos entre equipe de saúde e população, algo essencial no acolhimento. As atribuições desse profissional estão disponíveis na PNAB (BRASIL, 2017a). 6 SAÚDE MENTAL A OMS destaca que os transtornos mentais e o uso e abuso de álcool e drogas são os principais motivos incapacitantes e as principais causas de morbidade na atualidade. Embora diante dessa impactante situação mundial, a maioria dos países não gasta mais que 2% dos recursos de saúde com saúde mental (SANTOS, 2018). 69 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Pesquisadores investigaram a taxa dos transtornos mentais mais comuns (depressão e ansiedade) e suas características sociodemográficas em 27 unidades de Saúde da Família em quatro capitais brasileiras. O resultado apontou as seguintes taxas de transtornos mentais nos usuários: 51,9% no Rio de Janeiro, 53,3% em São Paulo, 64,3% em Fortaleza e 57,7% em Porto Alegre. Também foi possível evidenciar que os problemas de saúde mental são especialmente frequentes em mulheres, desempregados e pessoas com baixa escolaridade e com baixa renda (GONCALVES, 2014). Os agravos em saúde mental tiveram início ainda na Idade Média: com a exclusão das pessoas consideradasloucas, criou-se a chamada Nau dos Loucos. Em outras palavras, pessoas consideradas loucas eram colocadas nos porões de barcos e lançadas ao mar em travessias transoceâncicas, sendo assim já considerada a institucionalização (BARBOSA, 2016). As políticas de saúde têm o objetivo de reduzir as desigualdades sociais, econômicas e de acesso aos serviços existentes. No Brasil, até o fim da década de 1970 a assistência psiquiátrica foi marcada pela exclusão social. Ao longo dos últimos anos, as políticas de saúde mental têm sido orientadas pela busca da cidadania, pelo resgate da autonomia e pela igualdade social do portador de transtorno mental. Sobre isso, cabe salientar que foi essencial o envolvimento de diversos profissionais de saúde no movimento pela Reforma Psiquiátrica Brasileira (PEREIRA, 2009). No ano de 1989, o então deputado Paulo Delgado apresentou ao Congresso Nacional um projeto de lei com um novo modelo de tratamento na assistência psiquiátrica, intensificando os debates sobre a polêmica questão antimanicomial, porém esse projeto foi engavetado. Em 2001, houve a aprovação da Lei Federal n. 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Essa lei redireciona o modelo assistencial em saúde mental e a instituição da Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), buscando transformar os modelos de atenção e de gestão das práticas em saúde mental, enaltecendo o cuidado aos portadores de transtorno mental, usuários de substâncias psicoativas e seus familiares por meio de ações integrais e interssetoriais, acompanhamento clínico e reabilitação psicossocial (PAULA, 2008; SANTOS, 2018). A cidadania do paciente psiquiátrico deve ser construída com base em seus direitos substanciais em termos afetivo, material, habitacional, produtivo e de relacionamentos, possibilitando, assim, sua reabilitação (PEREIRA, 2009). Com a regulamentação da Portaria n. 3.088 de 2011, instituiu-se a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) para pessoas com sofrimento, transtorno mental ou necessidades específicas decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no âmbito do SUS. A Raps é formada por dispositivos e serviços estratégicos, como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), o Ambulatório de Saúde Mental, o Programa de Volta para Casa (PVC), o Serviço Residencial Terapêutico (SRT), hospitais-dia e leitos psiquiátricos em hospitais gerais, entre outros. As atividades são desenvolvidas em equipe composta, na maioria das vezes, de enfermeiro, médico, assistente social, psicólogo e terapeuta ocupacional, entre outros, acolhendo e acompanhando os usuários de maneira individual e em grupos, além de prestar assistência aos familiares (SANTOS, 2018). 70 Unidade II Os Caps são unidades que prestam serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, formados por uma equipe multiprofissional que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza o atendimento, em sua área territorial, de pessoas em sofrimento ou com transtorno mental, inclusive pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. Quadro 20 – Modalidades existentes de Caps Caps I Atendimento de todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. Atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil habitantes. Caps II Atendimento de todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. Atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes. Capsi Atendimento de crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. Atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes. Caps ad Álcool e Drogas Atendimento de todas faixas etárias, especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas. Atende cidades e/ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes. Caps III Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação, válido para todas faixas etárias. Casos de transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. Atende cidades e/ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes. Caps ad III Álcool e Drogas Atendimento de 8 vagas a 12 vagas de acolhimento noturno e observação, com funcionamento 24 horas, válido para todas as faixas etárias. Casos de transtornos pelo uso de álcool e outras drogas. Atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes. Fonte: Brasil (2015a). Qualquer pessoa, de qualquer idade, pode sofrer em algum momento por algum problema de saúde mental ou de dependência química, de menor ou maior gravidade, porém algumas circunstâncias podem ser consideradas como gatilho para o desenvolvimento do problema, como: início de estudos, adolescência, separação dos pais, conflitos familiares, dificuldades financeiras, menopausa, envelhecimento, doenças crônicas, divórcio, perda de entes queridos, desemprego, fatores genéticos, fatores infecciosos e traumas. Pensando em prevenção de agravos em saúde mental, na página do site do Ministério da Saúde (BRASIL, [s.d.]b) há um artigo explicando a importância de se adotar hábitos saudáveis, em todas as áreas da vida, para se ter mais qualidade de vida. 71 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Figura 19 – Fatores prioritários para se ter mais qualidade de vida 6.1 Estratégia de redução de danos No Brasil, o desenvolvimento da Redução de Danos (RD) teve início no fim da década de 1980, nas cidades de Santos, Rio de Janeiro e Salvador, no entanto, só começou a ser compreendida como estratégia no SUS depois da implementação da Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas (PAIUAD) em 2003, recomendando ações de prevenção e de redução de danos, principalmente nos serviços da Raps, Caps e nos demais serviços de atenção primária (GOMES, VECCHIA, 2018). Em 2005, por meio da publicação da Portaria n. 1.028, determinou-se ações que visam à redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência (BRASIL, 2005). 72 Unidade II É importante citar que existem duas principais vertentes a respeito da RD: uma compreendida como uma estratégia para reduzir danos de HIV/DST em usuários de drogas, e outra, ampliada, concebida como conceito mais abrangente no campo da Saúde Pública/Saúde Coletiva (por abarcar ações e políticas públicas voltadas para a prevenção dos danos antes que eles aconteçam) (BRASIL, 2013d). As duas vertentes têm um fator em comum, que é a construção de ações de redução de danos. Como ponto principal, está a valorização do desejo e das possibilidades dos sujeitos aos quais as ações serão direcionadas, o sujeito é o centro das ações a serem desenvolvidas, sendo necessário o diálogo e a negociação entre equipe e usuário, evitando impor algo a partir da autoridade profissional. Atuar na RD na Atenção Básica implica a utilização de tecnologias centradas no acolhimento empático, no vínculo e na confiança como recursos estimulantes da adesão da pessoa (BRASIL, 2013d). Considerando os casos específicos de problemas com álcool e outras drogas, a estratégia de redução de danos objetiva reduzir as complicações que podem ser desenvolvidas pelo uso de drogas, seja tanto na área da saúde quanto na vida social e econômica do indivíduo e da família. Pensando em redução de danos, as intervenções podem ser o uso protegido, a redução do uso, a troca por outras substâncias que causem menos problemas ou a abstinência das drogas (BRASIL, 2013d). É necessário acolher e apoiar a família da pessoa que usa drogas, incluindo-a em atividades coletivas como grupos de terapia comunitária que podem ajudar a lidar com o sofrimento. Porque, na maioria dos casos, são os familiares quem procuram os serviços de saúde (BRASIL, 2013d). As práticas que direcionam a RD sãobaseadas em três princípios: • pragmatismo: é necessário entender que a cessação do uso muitas vezes é inalcançável, sendo necessários serviços para essas pessoas que não conseguem abandonar o uso de substâncias; • tolerância: evita o julgamento moral sobre os comportamentos de práticas sexuais e uso de substâncias, sem preconceitos e sem intervenções autoritárias; • compreensão da diversidade: visa à compreensão de que cada sujeito determina uma ligação única ao uso de substâncias, sendo o uso de abordagens prontas algo excludente e ineficaz. Observação O sucesso do tratamento não é avaliado apenas pelo critério de parar ou não de usar drogas (CRUZ, [s.d.]). O foco do tratamento é o cuidado ao usuário de maneira integral, e não à substância usada. O vínculo terapêutico estabelecido entre a pessoa e a equipe que presta assistência é fundamental para auxiliar em novos projetos de vida que possam motivar e, assim, promover a redução de danos (CRUZ, [s.d.]). 73 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Um ponto importante a se destacar com a estratégia de redução de danos é a não exclusão de pessoas que têm recaídas, que não querem ou não alcançam a abstinência em relação ao uso da substância (CRUZ, [s.d.]). Para implementação da RD, houve a distribuição de kits aos usuários de drogas com uma composição variada, conforme o público a quem eram destinados. No geral, a composição era feita com folhetos informativos, materiais para o tratamento de feridas, água destilada. Preservativos, lubrificantes, agulhas, seringas e cachimbos também eram inclusos em alguns kits (GOMES, VECCHIA, 2018). Em 11 de abril de 2019 houve a publicação do Decreto n. 9.761, que aprova a Política Nacional sobre Drogas (Pnad). Um dos objetivos desse decreto é: Buscar equilíbrio entre as diversas frentes que compõem de forma interssistêmica a Pnad, nas esferas da federação, classificadas, de forma não exaustiva, em políticas públicas de redução da demanda (prevenção, promoção e manutenção da abstinência, promoção à saúde, cuidado, tratamento, acolhimento, apoio, mútua ajuda, suporte social e redução dos riscos e danos sociais e à saúde, reinserção social) e redução de oferta (ações de segurança pública, de defesa, de inteligência, de regulação de substâncias precursoras, de substâncias controladas e de drogas lícitas, além de repressão da produção não autorizada, de combate ao tráfico de drogas, à lavagem de dinheiro e crimes conexos, inclusive por meio da recuperação de ativos que financiem atividades do Poder Público nas frentes de redução de oferta e redução de demanda) (BRASIL, 2019c). Paulo Amarante, pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde mental e Atenção Psicossocial (Laps) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), esclarece que a RD é usada com sucesso em vários países. Defende também que os resultados alcançados com ela são superiores às tentativas de abstinência e conclui que o decreto é um retrocesso nas conquistas da Reforma Psiquiátrica (Lei n. 10.216, de 2001), que estabeleceram a importância do respeito à dignidade humana das pessoas com transtornos mentais no Brasil (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019). 6.2 Síndrome de burnout O trabalho faz parte da nossa vida, e é atraves dele que, ao longo dos anos, as civilizações evoluíram e se desenvolveram até os dias atuais. Por um lado, o trabalho gera conhecimentos, desenvolvimento econômico e satisfação pessoal para diversas necessidades humanas, por outro, também pode ser fonte de adoecimento quando contém fatores de riscos para a saúde (MURTA; TROCCOLI, 2004). O estresse é um conjunto de reações físicas, psicológicas e sociais de adaptação do indivíduo diante de um estímulo que provoca excitação, tanto positivas como negativas (CALDERERO; MIASSO; CORRADI-WEBSTER, 2008); o estresse é um estado geral de tensão fisiológica e mantém relação direta com as demandas do ambiente. O estresse ocupacional, por sua vez, é mais frequente quando há muitas responsabilidades significativas, mas poucas possibilidades de tomada de decisão e de controle. 74 Unidade II Constitui-se em experiência extremamente desagradável, associada a sentimentos de hostilidade, tensão, ansiedade, frustração e depressão desencadeados por estressores localizados no ambiente de trabalho (ANGERAMI; CAMELO, 2008). A sindrome de burnout ou sindrome de esgotamento profissional é um fenômeno ocupacional cada vez mais comum. Seu início se dá após longos e excessivos níveis de estresse (tensão) no trabalho (TRIGO; TENG; HALLAK, 2007). Maslach e Jackson (1981) definiram burnout como uma reação à tensão emocional crônica por lidar excessivamente com pessoas. É um construto formado por três dimensões relacionadas, mas independentes, como mostrado a seguir. Quadro 21 – Dimensões do burnout Exaustão emocional Caracterizada pela falta ou carência de energia e entusiasmo, além do sentimento de esgotamento de recursos. É possível somarem-se sentimentos de frustração e tensão, pois os trabalhadores podem perceber que já não têm condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas, como faziam antes. Despersonalização Situação em que o profissional passa a tratar os clientes, colegas e a organização como objetos. Os trabalhadores podem desenvolver uma insensibilidade emocional. Diminuição da realização pessoal no trabalho É a baixa realização pessoal no trabalho, definida como uma tendência do trabalhador a se autoavaliar de forma negativa. As pessoas se sentem infelizes consigo mesmas e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional. Também experimentam um declínio do sentimento de competência e êxito, bem como de sua capacidade de interagir com os outros. Fonte: Brasil ([s.d.]d). Os sintomas surgem de forma leve e tendem a se agravar com o passar dos dias, sendo tidos, por quem sente, como algo passageiro. Sua evolução pode resultar em estado de depressão profunda, sendo, por esse fato, essencial a procura por ajuda profissional aos primeiros sintomas (BRASIL, [s.d.]d). Os principais sinais e sintomas que podem levar ao diagnóstico são: cansaço excessivo físico e mental, dor de cabeça frequente, alteração no apetite, insônia, dificuldade de concentração, sentimentos de fracasso e insegurança, sentimentos de derrota e desesperança, sentimento de incompetência, negatividade constante, alterações de humor, isolamento, pressão alta, dores musculares e problemas gastrointestinais (BRASIL, [s.d.]d). Os profissionais indicados para o diagnóstico e o acompanhamento dos casos são o psiquiatra e o psicólogo, para avaliação clínica do paciente. No SUS, a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) está preparada para entender e tratar de forma integral e gratuita desde o diagnóstico até o tratamento medicamentoso, sendo os Caps os mais indicados (BRASIL, [s.d.]d). O tratamento pode ser com psicoterapia e medicamentos (como ansiolíticos e/ou antidepressivos), com a duração do tratamento variando de acordo com cada caso. Mudanças nas condições de trabalho são relevantes, assim como mudanças de estilo de vida são essenciais, como a prática de atividade física e exercícios de relaxamento regular, além de atividades de lazer. 75 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Como forma de prevenção, o Ministério da Saúde (BRASIL, [s.d.]d) recomenda o equilíbrio entre trabalho, lazer, vida social, atividades físicas e família. Também é essencial manter hábitos saudáveis como fazer atividades físicas, evitar o consumo de bebida alcoólica e tabaco, desenvolver estratégias que reduzam o estresse e a tensão do trabalho, ter um sono reparador (com ao menos 8 horas diárias) e dispor de atividades que fujam da rotina do dia a dia. O termo fenômeno ocupacional para síndrome de burnout foi definido em 28 de maio de 2019 na 11ª Revisão de Classificação Internacional de Doenças (CID-11), sendo associado a fatores que influenciam o estado de saúde ou o contatocom os serviços de saúde. Sua definição na CID-11 é síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É caracterizada por três dimensões: sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; aumento do distanciamento mental do próprio trabalho (ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho); e redução da eficácia profissional. Somente sendo relacionada ao contexto ocupacional (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, [s.d.]a). 6.3 Suicídio e depressão na contemporaneidade A depressão é considerada pela OMS o mal do século. Trata-se de uma doença psiquiátrica que afeta o emocional da pessoa, que passa a apresentar tristeza profunda, falta de apetite, de ânimo, pessimismo e baixa autoestima frequentemente. Como em todos os transtornos de saúde mental, é indispensável o acompanhamento médico, seja para o diagnóstico como para o tratamento correto (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2019). Durante o quadro depressivo, o paciente não sente prazer em atividades que antes o faziam se sentir bem, apresenta oscilação de humor, alteração no sono, perda ou aumento do apetite e do peso, irritabilidade, ansiedade, angústia, desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as coisas, diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer, desinteresse, falta de motivação, apatia, sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo, pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, sensação de inutilidade, ruína e fracasso, interpretação distorcida e negativa da realidade, dificuldade de concentração, raciocínio mais lento, esquecimento, diminuição do desempenho sexual, dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas médicos. A depressão pode levar a alterações fisiológicas que são desencadeantes para outras doenças. Sabe-se também que pacientes depressivos apresentam baixa imunidade e mais episódios de problemas inflamatórios e infecciosos (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2019). O tratamento é medicamentoso, estando disponíveis mais de 30 tipos de antidepressivos cujo uso deve ser feito sempre com acompanhamento terapêutico e escolhido de acordo com cada caso. A psicoterapia com psicólogo também pode ser associada ao tratamento medicamentoso, pois ajuda o paciente em sua reestruturação psicológica e na mediação de conflitos com fatores estressantes. O SUS oferece na Atenção Básica e nos Caps o tratamento. Nos Caps, o usuário recebe atendimento próximo da família com assistência multiprofissional e cuidado terapêutico de acordo com a necessidade, sendo também disponibilizados alguns medicamentos conforme prescrição médica, gratuitamente. O suicídio pode se tornar um agravo da depressão não tratada (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2019). 76 Unidade II O suicídio é definido como o ato deliberado de uma pessoa se matar. A tentativa de suicídio se refere a qualquer comportamento suicida não fatal, como intoxicação autoprovocada, lesão ou dano autoprovocado intencionalmente (BRASIL, 2017b). No dia 14 de agosto de 2006 foi publicada a Portaria n. 1.876 que instituiu as diretrizes nacionais para prevenção do suicídio para implantação em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2019). O suicídio é um problema de saúde pública mundial, e a estimativa é que mais de 800 mil pessoas morram por suicídio todos os anos. Para cada adulto que se suicida, ao menos 20 cometem a tentativa de suicídio anualmente (BRASIL, 2017b). A Organização Mundial da Saúde estima que o suicídio representa 1,4% das mortes em todo o mundo. Em 2012 foi a décima quinta causa de mortalidade na população geral e a segunda entre jovens de 15 a 29 anos. O gráfico a seguir mostra o número de notificações por lesão autoprovocada no Brasil, segundo sexo e ano, entre 2011 a 2016 (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2017b). 2011 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 9.696 13.898 16.670 19.910 25.926 30.013 15.455 13.538 9.797 8.798 7.266 5.244 2013 20152012 Feminino Masculino 2014 2016 Figura 20 Pode-se observar que houve um aumento entre 2011 e 2016 dos casos notificados de lesão autoprovocada tanto no sexo feminino quanto no masculino, com valores de 209,5% e 194,7%, respectivamente. Por causa desse aumento, o Brasil recebeu destaque na proposta de adequação das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) na prevenção do suicídio (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2019). Os transtornos mentais são associados como causa do suicídio em mais de 90% dos casos, destacando-se entre eles a depressão. Outros transtornos, como transtornos bipolares do humor, abuso de álcool, esquizofrenia e transtornos de personalidade, também são associados (BARBOSA; MACEDO; SILVEIRA, 2011). 77 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Diante do sofrimento aparentemente sem fim de um quadro de depressão, a ideia de suicídio pode parecer, para a pessoa afetada, o único desfecho possível. Infelizmente, a compreensão e a abordagem de pessoas nessa situação enfrentam dificuldades: seja na detecção de sinais de desesperança ou dos pedidos de ajuda, verbais e não verbais, frente ao desejo de morte (BARBOSA; MACEDO; SILVEIRA, 2011). Faltam aos familiares, e mesmos aos profissionais, informações e esclarecimentos sobre os riscos de comportamentos autodestrutivos, fato que dificulta a identificação da ideação suicida por parte das pessoas de convívio, identificação a qual aumentaria as possibilidades de prevenção ao suicídio (BARBOSA; MACEDO; SILVEIRA, 2011). O isolamento social, as alterações de comportamento, as ideias de autopunição, as verbalizações pessimistas, de desistência da vida e comportamentos de risco sinalizam pedido de ajuda. A detecção e o tratamento adequado da depressão reduzem a taxa de suicídio (BARBOSA; MACEDO; SILVEIRA, 2011). Todas as pessoas que tentam o suicídio e são socorridas aos serviços de saúde devem ser encaminhadas aos serviços de atenção em saúde mental para tratamento e orientação aos familiares. Deve-se ressaltar que, aproximadamente, de 15% a 25% das pessoas que tentam suicídio tentarão contra a própria vida novamente em um ano, e 10% conseguem se matar em 10 anos (BARBOSA; MACEDO; SILVEIRA, 2011). Observação A tentativa de suicídio é de notificação compulsória em até 24 horas. Para prevenção do suicídio, são necessárias a coordenação e a colaboração entre os diversos setores da sociedade, como educação, saúde, trabalho, agricultura, negócios, justiça, lei, defesa, política e mídia. Esses esforços devem ser integrados devido à complexidade do assunto (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, [s.d.]b). O enfermeiro tem em suas mãos a possibilidade de detecção de sinais e sintomas de depressão que podem ser investigados na consulta de enfermagem por meio de histórico cuidadoso. Podem ainda ser utilizados instrumentos de rastreamento para depressão e risco de suicídio (BARBOSA; MACEDO; SILVEIRA, 2011). A OMS estabeleceu o Plano de Ação em Saúde Mental 2013-2020 que tem como meta global a redução do índice de óbitos por suicídio em 10%. Em setembro de 2017, o Ministério da Saúde lançou a agenda estratégica de prevenção ao suicídio – vale lembrar que setembro é o mês de conscientização de prevenção ao suicídio. Essa agenda é composta de três eixos de atuação e ações estratégicas (BRASIL, 2017b): • vigilância e qualificação da informação com ações estratégicas e atividades do eixo vigilância e informação; 78 Unidade II • prevenção do suicídio e promoção da saúde com ações estratégicas e atividades do eixo prevenção do suicídio e promoção da saúde; • gestão e cuidado com ações estratégicas e atividades do eixo gestão e cuidado. Entre as ações de prevenção, foi criado um panfleto educativo, com o título Entendendo o Suicídio, para os profissionais e para a população. Nesse panfleto há informações sobre como entender o problema, pedidos de ajuda, alguns sinaisde alerta, além de orientações, diante de uma pessoa sob risco de cometer esse ato, sobre o que se deve fazer ou não, além de onde buscar ajuda e algumas verdades e mitos sobre o suicídio, os quais são descritos a seguir (BRASIL, 2017b). Quadro 22 – Verdades e mitos sobre o suicídio Verdades Mitos Em geral, os suicídios são premeditados, e as pessoas dão sinais de suas intenções. A pessoa que tem a intenção de tirar a própria vida não avisa. Reconhecer os sinais de alerta e oferecer apoio ajudam a prevenir o suicídio. O suicídio não pode ser prevenido. A expressão do desejo suicida nunca deve ser interpretada como simples ameaça ou chantagem emocional. Pessoas que falam sobre suicídio só querem chamar a atenção. Perguntar sobre a intenção de suicídio não aumenta nas pessoas o desejo de cometer o suicídio. A pessoa que supera uma crise de suicídio ou sobrevive a uma tentativa está fora de perigo. Nem todos os suicídios estão associados a outros casos de suicídio na família. Falar sobre suicídio pode estimular sua realização. O suicídio é hereditário. Fonte: Brasil (2017b). Os serviços de ajuda às pessoas com ideação suicida são: serviços de saúde Caps e Unidades Básicas, Centro de Valorização da Vida (CVV) – por meio do telefone 188, válido para todo o território nacional e 24 horas por dia, todos os dias e de forma gratuita, ou ainda por chat, e-mail, carta ou uma conversa pessoal com um voluntário do CVV em horário comercial. Em caso de emergência, pode-se contatar também Samu (192), UPA, pronto-socorro e hospitais. Saiba mais Para saber mais s obre o CVV, sua história e possibilidades de atendimento, acesse o link indicado a seguir. https://www.cvv.org.br 79 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM 7 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE A Constituição Federal de 1988 menciona em seu artigo 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). Esse direito também é reconhecido a partir da criação do SUS, através dos seus princípios doutrinários de universalidade, integralidade e equidade, conforme a Lei 8.080 de 1990, garantindo que todos os cidadãos tenham acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência de forma integral e de acordo com a complexidade de cada caso, sem privilégios e diminuindo as desigualdades (BRASIL, 1990). É importante salientar a importância da elaboração de políticas de saúde para que esses direitos sejam respeitados integralmente, além da necessidade de orientar os profissionais em suas ações de assistência à saúde, tanto do setor público quanto do setor privado, levando em consideração as especificidades de cada indivíduo e com a devida atenção biopsicossocial (CIANCIARULLO, 2015). A atenção biopsicossocial tem por objetivo compreender o ser humano na sua totalidade, ou seja, saúde e doença são condições que estão em equilíbrio dinâmico; estão codeterminadas por variáveis biológicas, psicológicas e sociais, todas em constante interação. Assim, estudo, diagnóstico, prevenção e tratamento de várias doenças devem considerar as contribuições especiais e diferenciadas dessas três variáveis citadas. Cada indivíduo tem sua história, suas necessidades e dificuldades que deverão ser levadas em consideração durante o atendimento nos serviços de saúde (PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011). É importante que a assistência às pessoas que estão doentes seja realizada de forma integrada, através de uma equipe de saúde composta de profissionais especializados em cada uma das três áreas (CIANCIARULLO, 2015). 7.1 Política nacional de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista 7.1.1 Histórico O médico Leo Kanner, chefe do serviço de psiquiatria infantil do hospital Johns Hopkins, em Baltimore, publicou em 1943 o artigo: “Os distúrbios autísticos do contato afetivo”, tornando-se um dos primeiros estudiosos a descrever o que hoje é nomeado de autismo infantil ou transtorno autista. Kanner ([s.d.]) descreveu 11 crianças cujo distúrbio patognomônico seria a inabilidade para se relacionar com pessoas e situações normalmente, desde o princípio de suas vidas. Mencionava também o isolamento autístico extremo que as levava a negligenciar, ignorar ou recusar o contato com o ambiente, comportamento que podia estar presente desde os primeiros meses de vida. Algumas crianças não apresentavam atitude postural antecipatória ou alterações faciais quando os pais se aproximavam 80 Unidade II e falavam com elas, desenvolvendo também problemas na fala (esse último, um dos primeiros sinais surgidos precocemente). Foi percebido também que existia uma ótima capacidade de memorização decorada, mostrando que a linguagem havia sido desviada, de forma substancial, para se converter em um exercício de memória autossuficiente, sem utilidade conversacional e semântica, ou bastante distorcido. As crianças tinham boa relação com objetos, mas as relações com pessoas geralmente eram perturbadoras, levando Kanner a concluir que um profundo isolamento domina todo o comportamento (BRASIL, 2015b). Após a publicação do estudo de Kanner, um médico psiquiatra e pesquisador austríaco, Hans Asperger, escreveu o artigo “Psicopatia autística na infância” sobre o transtorno no relacionamento com o ambiente ao seu redor, por vezes compensado pelo alto nível de originalidade no pensamento e nas atitudes. Tais indivíduos apresentavam, a partir do segundo ano de vida, pobreza de expressões gestuais e faciais e, quando inquietos, sua movimentação se tornava estereotipada e sem objetivo, podendo haver movimentos rítmicos repetitivos. Eram comuns falas artificiais com uso de palavras incomuns e neologismos, além de extremo egocentrismo e falta de senso de humor (BRASIL, 2015b). A partir de Kanner e Asperger, vários outros pesquisadores deram suas contribuições sobre o autismo, como Margareth Mahler, Bruno Bettelheim, Frances Tustin e Donald Meltzer (BRASIL, 2015b). No Brasil, a partir dos anos 1980, o autismo começou a ter mais evidência com o surgimento da primeira Associação de Amigos de Autistas do Brasil, a AMA-SP, tendo como principal mentor o doutor Raymond Rosemberg. Em 1989, a Associação Brasileira do Autismo (Abra) promoveu o I Congresso Brasileiro de Autismo, cuja segunda edição aconteceria em 1991 (BRASIL, 2015b). Em relação à parte assistencial, as crianças com autismo eram cuidadas principalmente em redes filantrópicas, como a APAE e a Sociedade Pestalozzi, além da rede educacional. Somente algumas tinham acesso aos serviços públicos na área da saúde mental, mesmo assim, não existia um tratamento específico para esse transtorno (BRASIL, 2015b). Somente a partir de 1991 é que surgiram alguns centros voltados a tais pacientes: o Núcleo de Atenção Intensiva à Criança Autista e Psicótica (Naicap), no Instituto Philippe Pinel, no Rio de Janeiro (RJ), o Centro de Referência à Saúde Mental Infanto-juvenil (Cersami), inaugurado em 1994 em Betim (MG) e os Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CapsI) Pequeno Hans e Eliza Santa Roza, surgidos no Rio de Janeiro (RJ), respectivamente, em 1998 e 2001 (BRASIL, 2015b). Os transtornos do espectro do autismo (TEA) estão incluídos entre os transtornos mentais de início na infância. Segundo a Associação Psiquiátrica Americana, os transtornos mentais são síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente importantes que ocorrem num indivíduo e que estão associados com sofrimento (sintoma doloroso), incapacitação (como o prejuízo em uma ou mais áreas importantes do funcionamento) ou com risco significativamente aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda importante de liberdade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2003). Por apresentar uma acelerada transformação da criança com TEA, é extremamente importantea detecção precoce dos primeiros sinais. A detecção precoce para o risco de TEA é um dever do Estado, 81 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM pois, segundo os princípios da Atenção Básica, visa à prevenção de agravos, à promoção e à proteção à saúde, propiciando a atenção integral, o que causa impacto na qualidade de vida das pessoas (BRASIL, 2015b). Quadro 23 – Características clínicas de crianças com risco para TEA De 6 a 8 meses De 12 a 14 meses Por volta de 18 meses Não apresentam iniciativa em começar, provocar e sustentar interações com os adultos próximos (por exemplo: ausência da relação olho a olho). Não respondem claramente quando são chamadas pelo nome. Não se interessam por jogos de faz-de-conta. Não se interessam pelo prazer que podem provocar no outro. Não demonstram atenção compartilhada. Ausência da fala ou fala sem intenção comunicativa. Silenciamento de suas manifestações vocais, ausência do balbucio, principalmente em resposta ao outro. Ausência do apontar protodeclarativo, na intenção de mostrar algo a alguém. Desinteresse por outras crianças: preferem ficar sozinhas e, se ficam sozinhas, não incomodam ninguém. Ausência de movimentos antecipatórios em relação ao outro. Não há ainda as primeiras palavras ou os primeiros esboços são de palavras estranhas. Caso tenha tido o desenvolvimento da fala e interação, podem começar a perder essas aquisições. Não se viram na direção da fala humana a partir dos quatro primeiros meses de vida. Não imitam pequenos gestos ou brincadeiras. Já podem ser observados comportamentos repetitivos e interesses restritos e estranhos (por exemplo: por ventiladores, rodas de carrinhos, portas de elevadores). Não estranham quem não é da família mais próxima, como se não notassem a diferença. Não se interessam em chamar a atenção das pessoas conhecidas e nem em lhes provocar gracinhas. Pode aumentar seu isolamento. Fonte: Brasil (2015b). 7.1.2 Lei n. 12.764 A Lei n. 12.764 (BRASIL, 2012c) entrou em vigor em 27 de dezembro de 2012 garantindo os direitos à pessoa com transtorno do espectro autista. Para os efeitos dessa lei, é considerada pessoa com transtorno do espectro autista aquela portadora de síndrome clínica caracterizada por: • deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; • padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos. 82 Unidade II Quadro 24 – Diretrizes da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista I. A interssetorialidade no desenvolvimento das ações e das políticas e no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista. II. A participação da comunidade na formulação de políticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno do espectro autista e o controle social da sua implantação, acompanhamento e avaliação. III. A atenção integral às necessidades de saúde da pessoa com transtorno do espectro autista objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a medicamentos e nutrientes. V. O estímulo à inserção da pessoa com transtorno do espectro autista no mercado de trabalho, observadas as peculiaridades da deficiência e as disposições da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). VI. A responsabilidade do poder público quanto à informação pública relativa ao transtorno e suas implicações. VII. O incentivo à formação e à capacitação de profissionais especializados no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista, bem como a pais e responsáveis. VIII. O estímulo à pesquisa científica, com prioridade para estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar a magnitude e as características do problema relativo ao transtorno do espectro autista no país. Fonte: Brasil (2012c). São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: I – A vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II – A proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III – O acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento (BRASIL, 2012c). Além do acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante; b) à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social (BRASIL, 2012c). 83 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Caso a pessoa com espectro autista seja incluída nas classes comuns de ensino regular, poderá dispor de acompanhante conforme necessidade comprovada. O gestor escolar, ou a autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de três a 20 (vinte) salários-mínimos. Deve-se destacar ainda que nenhuma pessoa com transtorno do espectro autista deve ser submetida a tratamento desumano ou degradante, privada de sua liberdade ou do convívio familiar ou sofrer discriminação por motivo da deficiência (BRASIL, 2012c). 7.2 Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa A partir da década de 1970 houve uma transformação no perfil demográfico da população brasileira: de famílias compostas de vários filhos e com risco de morte na infância passou-se para uma família com menos filhos. Essa transição demográfica teve início com a redução da mortalidade infantil e, posteriormente, foi influenciada pela queda da taxa de natalidade. Antes, tínhamos uma população predominantemente jovem, algo bastante diferente do que se dá nos dias atuais, quando há um maior número de pessoas com 60 anos ou mais de idade (MIRANDA; MENDES; SILVA; 2016). As pesquisas indicam que em 2050 teremos 253 milhões de habitantes, a quinta maior população do planeta, atrás apenas de Índia, China, Estados Unidos e Indonésia (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016). O envelhecimento populacional é definido como a mudança na estrutura etária da população, o que produz um aumento do peso relativo de pessoas acima de determinada idade, considerada como definidora do início da velhice. No Brasil, é definida como idosa a pessoa que tem 60 anos ou mais (BRASIL, 2006). Um fator determinante para o aumento da população idosa são as novas tecnologias diagnósticas e de tratamento, além do acesso a serviços de saúde mais eficientes (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016). Apesar de o envelhecimento ser um processo natural que ocorre gradativamente durante a vida do indivíduo, os governantes vêm buscando entender melhor esse processo para que se consiga preservar a autonomia e a independência funcional do idoso. Isso pode ser feito por meio de ações que possibilitem uma melhor qualidade de vida, pois o envelhecimento traz problemas de saúde que são desafiadores para os sistemas de saúde. Por esse motivo, são elaboradas e implementadas políticas públicas e ações de prevenção e cuidado direcionado à população idosa (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016). A promoção do envelhecimento ativo é reconhecidamente a meta de toda ação de saúde. Ela permeia todas as ações, desde o pré-natal até a fase da velhice. A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos das pessoas idosas e nos princípios de independência, participação, dignidade, assistência e autorrealizaçãodeterminados pela Organização das Nações Unidas (ONU). É preciso que os profissionais de saúde e a comunidade entendam que a prevenção e a promoção de saúde não devem ser um privilégio apenas dos jovens: a promoção não termina quando se faz 60 anos e as ações de prevenção, sejam elas em todos os níveis de atenção, devem estar disponíveis para todas as idades (BRASIL, 2006; MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016). 84 Unidade II O envelhecimento bem-sucedido pode ser entendido a partir de três componentes: (a) menor probabilidade de doença; (b) alta capacidade funcional física e mental; e (c) engajamento social ativo com a vida (BRASIL, 2006). O relatório Healthy People 2000, da OMS, enfatiza em seus objetivos: aumentar os anos de vida saudável, reduzir disparidades na saúde entre diferentes grupos populacionais e assegurar o acesso a serviços preventivos de saúde. Além disso, é preciso incentivar e equilibrar a responsabilidade pessoal (cuidado consigo mesmo), ambientes amistosos para a faixa etária e solidariedade entre gerações. As famílias e os indivíduos devem se preparar para a velhice esforçando-se para adotar uma postura de práticas saudáveis em todas as fases da vida (BRASIL, 2006). A principal finalidade da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa é recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim e em consonância com os princípios e diretrizes do SUS, sendo o foco dessa política todo cidadão brasileiro com 60 anos ou mais de idade (BRASIL, 2006). A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa leva em consideração o contínuo e intenso processo de envelhecimento populacional brasileiro, os avanços políticos e técnicos no campo da gestão da saúde e o avanço da ciência. Assim, o conceito de saúde para o indivíduo idoso está mais relacionado à condição de autonomia e independência que à presença ou ausência de doença orgânica (BRASIL, 2006). Há um compromisso brasileiro com a Assembleia Mundial para o Envelhecimento de 2002, cujo plano resultante, o Plano de Madri, está baseado nas diretrizes destacadas a seguir: • participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento e na luta contra a pobreza; • fomento à saúde e ao bem-estar na velhice e promoção do envelhecimento saudável; • criação de um entorno propício e favorável ao envelhecimento. Percebe-se também a escassez de recursos socioeducativos e de saúde direcionados ao atendimento ao idoso. Há uma necessidade de enfrentamento de desafios como a escassez de estruturas de cuidado intermediário a esse paciente no SUS, ou seja, serviços qualificados para idosos e seus familiares destinados a promover assistência segura desde a alta hospitalar e a ida para o domicílio. Também se percebe a escassez das equipes multiprofissionais e interdisciplinares com conhecimento em envelhecimento e saúde da pessoa idosa (BRASIL, 2006). O envelhecimento é um processo natural que ocorre durante a vida do ser humano. A existência do preconceito contra a velhice e a negação da sociedade quanto a esse fenômeno colaboram para a dificuldade de se pensar políticas específicas para esse grupo. As diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa descritas servem para nortear o trabalho de implementação e implantação dos gestores em suas áreas de atuação (BRASIL, 2006). 85 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Quadro 25 – As diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa Promoção do envelhecimento ativo e saudável. Atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa. Estímulo às ações interssetoriais, visando à integralidade da atenção. Provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa. Estímulo à participação e ao fortalecimento do controle social. Formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa. Divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS. Promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa. Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas. Fonte: Brasil (2006). O cidadão idoso hoje não é mais considerado um indivíduo passivo, mas um agente das ações a eles direcionadas, numa abordagem baseada em direitos que valorizam os aspectos da vida em comunidade, identificando o potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida (BRASIL, 2006). Segundo a Portaria n. 2.528 (BRASIL, 2006), é importante aproveitar todas as oportunidades para: • desenvolver e valorizar o atendimento acolhedor e resolutivo à pessoa idosa, baseado em critérios de risco; • dar todas as informações sobre seus direitos; • valorizar e respeitar a velhice; • estimular a solidariedade para com esse grupo etário; • desenvolver ações buscando a prevenção de acidentes no domicílio e nas vias públicas (como quedas e atropelamentos); • realizar ações integradas de combate à violência doméstica e institucional contra idosos; • incentivar a participação das pessoas idosas em equipamentos sociais, grupos de terceira idade, atividades físicas, conselhos de saúde locais e conselhos comunitários em que ele possa ser ouvido e possa apresentar suas demandas e prioridades; • articular ações e ampliar a integração entre as secretarias municipais e estaduais de saúde e os programas locais desenvolvidos para a difusão da atividade física e o combate ao sedentarismo; 86 Unidade II • promover a participação nos grupos operativos e nos grupos de convivência com ações de promoção, valorização de experiências positivas e difusão dessas na rede, norteando e captando experiências; • informar e estimular a prática de nutrição balanceada, sexo seguro, imunização e hábitos de vida saudáveis; • realizar ações motivadoras ao abandono do uso de álcool, tabagismo e sedentarismo, em todos os níveis de atenção; • promover ações grupais integradoras com inserção de avaliação, diagnóstico e tratamento da saúde mental da pessoa idosa; • reconhecer e incorporar as crenças e modelos culturais dos usuários em seus planos de cuidado como forma de favorecer a adesão e a eficiência dos recursos e tratamentos disponíveis; • promover a saúde por meio de serviços preventivos primários, como a vacinação da população idosa, em conformidade com a Política Nacional de Imunização; • estimular programas de prevenção de agravos de doenças crônicas não transmissíveis em indivíduos idosos; • implementar ações que contraponham atitudes preconceituosas e sejam esclarecedoras de que o envelhecimento não é sinônimo de doença; • disseminar informação adequada sobre o envelhecimento para os profissionais de saúde e para toda a população, em especial para a população idosa; • implementar ações para reduzir hospitalizações e aumentar habilidades para o autocuidado dos usuários do SUS; • incluir ações de reabilitação para a pessoa idosa na atenção primária de modo a intervir no processo que origina a dependência funcional; • investir na promoção da saúde em todas as idades; • articular as ações do SUS com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa deverá ser estruturada de acordo com uma linha de cuidados focando no usuário e levando em consideração seus direitos, suas necessidades, suas preferências e suas habilidades, além do estabelecimento de fluxos bidirecionais funcionantes, aumentando e facilitando o acesso a todos os níveis de atenção providos de condições essenciais (infraestrutura física adequada, insumos e pessoal qualificado para a boa qualidade técnica) (BRASIL, 2006). 87 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Instrumentos gerenciais analisando e fazendo o levantamento de dados sobre a capacidade funcional (inventários funcionais) e dados sociofamiliares da pessoa idosa deverão ser implementados pelos gestoresmunicipais e estaduais do SUS para que haja a participação de profissionais de saúde e usuários na elaboração de planos locais de ações para enfrentamento das dificuldades inerentes à complexidade de saúde da pessoa idosa (BRASIL, 2006). Deve-se destacar a importância da incorporação, na Atenção Básica, de mecanismos que promovam a melhoria da qualidade e o aumento da resolutividade da atenção à pessoa idosa, com envolvimento dos profissionais da atenção básica e das equipes do Saúde da Família, incluindo a atenção domiciliar e ambulatorial, com incentivo à utilização de instrumentos técnicos validados, como de avaliação funcional e psicossocial (BRASIL, 2006). Também é vital a incorporação, na atenção especializada, de mecanismos que fortaleçam a atenção à pessoa idosa: reestruturação e implementação das Redes Estaduais de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa visando à integração efetiva com a Atenção Básica e os demais níveis de atenção, garantindo a integralidade da atenção por meio do estabelecimento de fluxos de referência e contrarreferência. Cabe ainda fazer a implementação de forma efetiva de modalidades de atendimento que correspondam às necessidades da população idosa, com abordagem multiprofissional e interdisciplinar, sempre que possível, contemplando também fluxos de retaguarda para a rede hospitalar e demais especialidades, disponíveis no SUS (BRASIL, 2006). A prática de cuidados à pessoa idosa exige uma abordagem global, interdisciplinar e multidimensional que leve em conta a grande interação entre os fatores físicos, psicológicos e sociais que influenciam a saúde dos idosos e a importância do ambiente no qual o indivíduo está inserido (BRASIL, 2006). É fato que uma abordagem preventiva e uma intervenção precoce são sempre preferíveis às intervenções curativas tardias. Para tanto, é necessária a vigilância de todos os membros da equipe de saúde, a aplicação de instrumentos de avaliação e de testes de triagem para detecção de distúrbios cognitivos, visuais, de mobilidade, de audição, de depressão e do comprometimento precoce da funcionalidade, entre outros (BRASIL, 2006). É importante também a implementação de instrumentos de avaliação funcional individual e coletiva. A avaliação funcional coletiva identifica os riscos da população assistida pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de cada município. Através da identificação desses riscos funcionais, é possível perceber a proporção de idosos que apresenta alguma incapacidade funcional para as atividades da vida diária (AVD), como tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, transferir-se da cama para a cadeira, ser continente e alimentar-se com a própria mão, ou seja, qual a proporção de idosos independentes. Considera-se idoso independente aquele que consegue realizar as AVD citadas anteriormente (BRASIL, 2006). Indivíduos idosos, mesmo sendo independentes, mas que apresentem alguma dificuldade nas atividades instrumentais de vida diária (AIVD), como preparar refeições, controlar a própria medicação, fazer compras, controlar o próprio dinheiro, usar o telefone, fazer pequenas tarefas e reparos domésticos ou sair de casa sozinho utilizando uma condução coletiva, são considerados idosos com potencial para 88 Unidade II desenvolver fragilidade e, por isso, merecerão atenção específica por parte dos profissionais de saúde, devendo ser acompanhados com maior frequência (BRASIL, 2006). Considera-se idoso frágil ou em situação de fragilidade aquele que: vive em instituições de longa permanência para idosos (ILPI), encontra-se acamado, esteve hospitalizado recentemente por qualquer razão, apresente doenças sabidamente causadoras de incapacidade funcional (acidente vascular encefálico, síndromes demenciais e outras doenças neurodegenerativas, etilismo, neoplasia terminal, amputações de membros etc.), encontra-se com pelo menos uma incapacidade funcional básica ou viva situações de violência doméstica. Por critério etário, a literatura estabelece que também é frágil o idoso com 75 anos ou mais de idade. Deve-se salientar que outros critérios podem ser acrescidos ou modificados de acordo com as realidades locais (BRASIL, 2006). Uma vez conhecida a condição de fragilidade, será necessário avaliar os recursos locais disponíveis para lidar com ela, de modo a facilitar o cuidado domiciliar, incluir a pessoa que cuida no ambiente familiar como um parceiro da equipe de cuidados, fomentar uma rede de solidariedade para com o idoso frágil e sua família, bem como promover a reinserção da parcela idosa frágil na comunidade (BRASIL, 2006). De acordo com a condição funcional da pessoa idosa serão estabelecidas ações de atenção primária, de prevenção (primária, secundária e terciária), de reabilitação para a recuperação da máxima autonomia funcional, prevenção do declínio funcional e recuperação da saúde. Estarão incluídas nessas ações o controle e a prevenção de agravos de doenças crônicas não transmissíveis (BRASIL, 2006). Todo profissional deve procurar promover a qualidade de vida da pessoa idosa quando chamado a atendê-la. É importante viver muito, mas é fundamental viver bem; por isso, preservar a autonomia e a independência funcional das pessoas idosas deve ser a meta em todos os níveis de atenção (BRASIL, 2006). Foram estabelecidos, portanto, os dois grandes eixos norteadores para a integralidade de ações: o enfrentamento de fragilidades (da pessoa idosa, da família e do sistema de saúde) e a promoção da saúde e da integração social, em todos os níveis de atenção (BRASIL, 2006). A prática da interssetorialidade pressupõe o reconhecimento de parceiros e de órgãos governamentais e não governamentais que trabalham com a população idosa. A organização do cuidado interssetorial a essa população evita duplicidade de ações, corrige distorções e potencializa a rede de solidariedade. As ações interssetoriais visando à integralidade da atenção à saúde da pessoa idosa devem ser promovidas e implementadas, considerando as características e as necessidades locais (BRASIL, 2006). Deverão ser definidas e pactuadas com os estados, o Distrito Federal e os municípios as formas de financiamento que ainda não foram regulamentadas, para aprimoramento da qualidade técnica da atenção à saúde prestada à pessoa idosa. Os mecanismos e os fluxos de financiamento devem ter por base as programações ascendentes de estratégias que possibilitem a valorização do cuidado humanizado ao indivíduo idoso. A seguir são apresentados os itens prioritários para a pactuação (BRASIL, 2006): • provimento de insumos e de suporte em todos os níveis de atenção, prioritariamente na atenção domiciliar (inclusive medicamentos); 89 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM • provimento de recursos para adequação de estrutura física dos serviços próprios do SUS; • provimento de recursos para ações de qualificação e de capacitação de recursos humanos e incremento da qualidade técnica dos profissionais de saúde do SUS na atenção à pessoa idosa; • produção de material de divulgação e informativos sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, normas técnicas e operacionais, protocolos e manuais de atenção para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS; • implementação de procedimento ambulatorial específico para a avaliação global do idoso; • determinação de critérios mínimos de estrutura, processo e resultados a fim de melhorar o atendimento à população idosa, aplicáveis às unidades de saúde do SUS, de modo que a adequação a esses critérios seja incentivada e mereça reconhecimento. Deve-se estimular a inclusão nas Conferências Municipais e Estaduais de Saúde de temas relacionados à atenção à população idosa, incluindo o estímulo à participação de cidadãos e cidadãs idosos na formulação e no controle social das ações deliberadas nessas conferências (BRASIL, 2006). Devem ser estimulados e implementados os vínculos dos serviços de saúde com os seus usuários, privilegiando os núcleos familiares e comunitários,criando-se, assim, condições para uma efetiva participação e controle social da parcela idosa da população (BRASIL, 2006). A divulgação e a informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS tem por fim incluir a tal política na agenda de atividades de comunicação social do SUS, produzir material de divulgação e promover ações de informação e divulgação da atenção à saúde da pessoa idosa, respeitando as diferenças regionais e culturais do país e direcionadas a trabalhadores, gestores e conselheiros de saúde, bem como a docentes e discentes da área de saúde e a comunidade em geral. Também objetiva apoiar e fortalecer ações inovadoras de informação e divulgação sobre a atenção à saúde da pessoa idosa em diferentes linguagens culturais, identificando, articulando e apoiando experiências de educação popular, informação e comunicação em atenção à saúde da pessoa idosa e provendo apoio técnico e/ou financeiro a projetos de qualificação de profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família e no Programa de Agentes Comunitários de Saúde, para atuação na área de informação, comunicação e educação popular em atenção à saúde da pessoa idosa (BRASIL, 2006). Devem-se fomentar medidas que visem à promoção de cooperação nacional e internacional das experiências bem-sucedidas na área do envelhecimento e no que diz respeito à atenção à saúde da pessoa idosa, à formação técnica, à educação em saúde e às pesquisas (BRASIL, 2006). Deve-se incentivar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que avaliem a qualidade e aprimorem a atenção de saúde à pessoa idosa. Segundo a Portaria n. 2.528 (BRASIL, 2006), cabe, ainda, identificar e estabelecer redes de apoio com instituições formadoras, associativas e representativas, universidades, faculdades e órgãos públicos nas três esferas, a fim de: 90 Unidade II • fomentar pesquisas sobre envelhecimento e saúde da pessoa idosa; • identificar e apoiar estudos/pesquisas relativos ao envelhecimento e à saúde da pessoa idosa existentes no Brasil com o objetivo de socializar, divulgar e embasar novas investigações; • criar banco de dados de pesquisadores e pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa realizadas no Brasil, interligando-o com outros bancos de abrangência internacional; • identificar e divulgar as potenciais linhas de financiamento (Ministério da Ciência e Tecnologia, fundações estaduais de amparo à pesquisa, terceiro setor e outros) para a pesquisa sobre envelhecimento e saúde da pessoa idosa; • apoiar a realização de estudos sobre representações sociais com usuários e profissionais de saúde sobre a saúde da pessoa idosa; • priorizar as linhas de pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa a serem implementadas pelo SUS visando ao aprimoramento e à consolidação da atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; • implementar um banco nacional de dados com resultados de avaliação funcional da população idosa brasileira. Concerne aos gestores do SUS, em todos os níveis, de forma articulada e conforme suas competências específicas, desenvolver meios e atuar de forma a viabilizar o alcance do propósito da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006). Segundo a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006), compete ao gestor federal: • elaborar normas técnicas referentes à atenção à saúde da pessoa idosa no SUS; • definir recursos orçamentários e financeiros para a implementação dessa política considerando que o financiamento do SUS é de competência das três esferas de governo; • estabelecer diretrizes para a qualificação e a educação permanente em saúde da pessoa idosa; • manter articulação com os estados e municípios para apoio à implantação e supervisão das ações; • promover articulação interssetorial para a efetivação dessa política nacional; • estabelecer instrumentos e indicadores para o acompanhamento e a avaliação do impacto da implantação/implementação dessa política; • divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; 91 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM • estimular pesquisas nas áreas de interesse do envelhecimento e da atenção à saúde da pessoa idosa nos moldes do propósito e das diretrizes dessa política. Segundo a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006), cabe ao gestor estadual: • elaborar normas técnicas referentes à Atenção à Saúde da Pessoa Idosa no SUS; • definir recursos orçamentários e financeiros para a implementação dessa política considerando que o financiamento do SUS e é de competência das três esferas de governo; • discutir e pactuar na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) as estratégias e metas a serem alcançadas a cada ano por essa política; • promover articulação interssetorial para a efetivação da política; • implementar as diretrizes da educação permanente e qualificação em consonância com a realidade loco-regional; • estabelecer instrumentos e indicadores para o acompanhamento e a avaliação do impacto da implantação/implementação dessa política; • manter articulação com municípios para apoio à implantação e supervisão das ações; • divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; • exercer a vigilância sanitária no tocante à Saúde da Pessoa Idosa e a ações decorrentes no seu âmbito; • apresentar e aprovar proposta de inclusão da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa no Conselho Estadual de Saúde. Segundo a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006), é responsabilidade do gestor municipal: • elaborar normas técnicas referentes à Atenção à Saúde da Pessoa Idosa no SUS; • definir recursos orçamentários e financeiros para a implementação dessa política considerando que o financiamento do SUS é de competência das três esferas de governo; • discutir e pactuar na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) as estratégias e metas a serem alcançadas a cada ano por essa política; • promover articulação interssetorial para a efetivação dessa política; 92 Unidade II • estabelecer mecanismos para a qualificação dos profissionais do sistema local de saúde; • estabelecer instrumentos de gestão e indicadores para o acompanhamento e a avaliação do impacto da implantação/implementação dessa política; • divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; • apresentar e aprovar proposta de inclusão da Política de Saúde da Pessoa Idosa no Conselho Municipal de Saúde. As diretrizes definidas direcionam para o desenvolvimento de um conjunto de ações que demanda o compartilhamento de responsabilidades com outros setores, consequentemente os gestores do SUS deverão estabelecer em suas áreas de abrangência uma articulação permanente, estabelecendo parcerias e a integração entre as instituições para a consolidação de compromissos efetivos (BRASIL, 2006). Em relação à educação, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa requer a inclusão de disciplinas que abordem o processo do envelhecimento, o entendimento da senescência e da senilidade valorizando a pessoa idosa e divulgando as medidas de promoção e prevenção de doenças em todas as faixas etárias. É importante que haja adequada formação de profissionais na área da saúde, visando ao atendimento das diretrizes traçadas por essa política (BRASIL, 2006). Tal política busca, ainda, incentivar a criação de Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia nas instituições de ensino superior que possam atuar de forma integrada com o SUS, desenvolvendo ações e serviços para o atendimento integral dos indivíduos idosos e para a capacitação de equipes multiprofissionais e interdisciplinares, buscando à qualificação contínua do pessoal de saúde nas áreas de gerência, planejamento, pesquisa e assistência à pessoa idosa. Cabe também incentivar a realização de pesquisas com foco na epidemiologia para identificar as doenças e os agravos que mais acometem essa faixa etária e os seus impactos no indivíduo, na família, na coletividade, na previdência social e no setor
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