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OPERACIONALIZAÇÃO DO TRÂNSITO NO ÂMBITO MUNICIPAL E ESTADUAL AULA 2 Prof.ª Luiza Simonelli CONVERSA INICIAL Uma vez que já se reconhecem as normas que disciplinam o trânsito e a mobilidade urbana no Brasil, faz-se necessário identificar como devem agir os gestores dos governos estaduais e dos municípios, conforme as molduras jurídicas permitem. São objetivos desta aula, para se aferir conhecimento: a. Reconhecer o Departamento Estadual de Trânsito – Detran como o órgão executivo estadual de trânsito, vinculado ao governo estadual. b. Identificar as principais funções do Detran, relativas aos documentos dos veículos e dos condutores, nos termos do CTB. c. Reconhecer o Órgão Executivo Municipal de Trânsito, como responsável pela parada, circulação e estacionamento, nos termos do CTB. d. Identificar as principais ações dos gestores públicos para garantir o trânsito efetivo e a mobilidade segura. TEMA 1 – OBRIGAÇÕES DOS ESTADOS PARA GARANTIR O TRÂNSITO EFICIENTE E MOBILIDADE SEGURA É essencial também a leitura dos contextos sociais das épocas em que os fatos se sucederam e como as obrigações dos entes da Federação foram sendo instituídas. Cada norma vigente foi trazida para o ordenamento pela demanda da época, como é o caso do primeiro decreto do governo brasileiro com o tema trânsito que atendia à demanda social do final do século XIX e início do século XX, vista a chegada do veículo automotor nas cidades. Era preciso disciplinar a condução dos veículos e a maneira como se dariam os deslocamentos em vias urbanas e estradas, daí a importante edição do Decreto 8.324, de 27 de outubro de 1910. Passados mais de cem anos da edição do referido decreto, o contexto social está bastante diferente, as demandas são outras, a sociedade vive na era da tecnologia, especialmente da tecnologia da informação, mas as obrigações dos gestores públicos em assegurar os deslocamentos e buscar a mobilidade segura permanecem. Ressalta-se que há conjugações de esforços de vários órgãos para que a sociedade seja atendida. 3 Notadamente, o nosso estudo dar-se- à sobre as obrigações dos órgãos em âmbito estadual e municipal, perpassando pelas obrigações da União, devido à presença da fiscalização da Polícia Rodoviária Federal em trechos urbanos e as demandas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). É dever do Estado manter a ordem pública, todavia, há que ser claros os direitos das pessoas e os conceitos coletivos de paz social. Essa parte do nosso estudo é dedicada às normas que legitimam as ações dos gestores públicos em executar ações para o trânsito eficiente, todavia, primando pela mobilidade segura, ressalvando os esforços conjuntos dos órgãos. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) de 1997 foi intitulado o “Código Cidadão” por tantos motivos destacados, mas especialmente por ter trazido em seus dispositivos o reconhecimento dos estados como partes integrantes do Sistema Nacional de Trânsito (SNT), com obrigações perante os demais entes, sobretudo pela aproximação com a população local. As funções atribuídas aos estados oportunizaram aos gestores estabelecer diálogos abertos e coletivos com a população sobre infraestrutura, fiscalização e educação para o trânsito, por meio dos Departamentos de Trânsito Estaduais – Detrans. TEMA 2 – DEPARTAMENTOS ESTADUAIS DE TRÂNSITO: DETRANS O CTB elegeu a figura do estado federado para elencar as obrigações dos Detrans, notadamente pelo fato de o órgão executivo de trânsito fazer parte do quadro dos governos estaduais. Os Detrans são instituídos em leis próprias, com corpo funcional efetivo para executar atividades próprias da administração, mas com possiblidades de contratação de serviços de terceiros. Dessa forma, vejamos as obrigações que recaíram sobre os Estados e o Distrito Federal com a consagração do CTB e do Sistema Nacional de Trânsito. Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição: I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições; II – realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores, expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para Dirigir e Carteira cris Highlight cris Highlight 4 Nacional de Habilitação, mediante delegação do órgão federal competente; III – vistoriar, inspecionar quanto às condições de segurança veicular, registrar, emplacar, selar a placa, e licenciar veículos, expedindo o Certificado de Registro e o Licenciamento Anual, mediante delegação do órgão federal competente; IV – estabelecer, em conjunto com as Polícias Militares, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito; V – executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis pelas infrações previstas neste Código, excetuadas aquelas relacionadas nos incisos VI e VIII do art. 24, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito; VI – aplicar as penalidades por infrações previstas neste Código, com exceção daquelas relacionadas nos incisos VII e VIII do art. 24, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; VII – arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos; VIII – comunicar ao órgão executivo de trânsito da União a suspensão e a cassação do direito de dirigir e o recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação; IX – coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre acidentes de trânsito e suas causas; X – credenciar órgãos ou entidades para a execução de atividades previstas na legislação de trânsito, na forma estabelecida em norma do CONTRAN; XI – implementar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; XII – promover e participar de projetos e programas de educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN; XIII – integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de veículos e de prontuários de condutores de uma para outra unidade da Federação; IVX – fornecer, aos órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos rodoviários municipais, os dados cadastrais dos veículos registrados e dos condutores habilitados, para fins de imposição e notificação de penalidades e de arrecadação de multas nas áreas de suas competências; XV – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio, quando solicitado, às ações específicas dos órgãos ambientais locais; XVI – articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo CETRAN. TEMA 3 – DEPARTAMENTOS EXECUTIVOS RODOVIÁRIOS: DNIT E DER Muitas autores não adentram com profundidade às questões que envolvem os órgãos executivos rodoviários, visto que o legislador, em um único artigo, definiu as atribuições do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), dos Departamentos de Estradas e Rodagem (DERs) dos estados, do Distrito Federal, assim como dos municípios, estes últimos dependendo das suas especificidades detalhadas em leis locais. 5 Para o nosso estudo, entende-se necessário discorrer sobre as funções dos já conhecidos órgãos rodoviários dos estados, do Distrito Federal, do Distrito Federal e da União. Vejamos os dispositivos dispostos no CTB sobre os referidos órgãos. Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições; Interessante ressalvar que os órgãos rodoviários atuam nas rodovias estaduais ou federais, mas muitas vezes em trechos urbanos, pois o desenvolvimento de muitas cidades se deu ao logo das margens de rodovias. Em que pese os policiais rodoviários desempenharem suas funções delimitados pelas suas circunscrições, nesses últimos tempos é comum a presença desses agentes nas cidades, como já dito, pelo fato de as pessoas estarem morando ou trabalhando próximo das rodovias. Curitiba, capital do estado do Paraná, é um exemplo da constante presença de policiais rodoviários federais na cidade, pois rodovias federais de importante fluxo adentram trechos urbanos, que levam para os estados do sul do Brasil ou à região Sudeste. A presença constante dos policiais rodoviários garante mais segurança aos condutores de veículos, entretanto, obras de grande porte em muitos trechos urbanos são essenciais para garantir a segurança, especialmente de pedestres e ciclistas. II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas; III – implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário; XIV – vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observados para a circulação desses veículos. Rizzardo (2010, p. 88) afirma que as funções trazidas nos incisos do art. 21 apresentam-se mais generalizadas, não se distanciando do planejamento e da projeção de encargos impostos a todos os órgãos do SNT. Há algumas décadas, as autoridades brasileiras entenderem por bem licitar trechos de rodovias federais e, assim, conceder aos interessados a manutenção e operacionalização dos sistemas de sinalização. 6 TEMA 4 – OBRIGAÇÕES DO MUNICÍPIO PARA GARANTIR O TRÂNSITO EFICIENTE E A MOBILIDADE SEGURA A obrigação mais relevante atribuída aos municípios quando da edição do CTB foi a criação dos seus órgãos executivos de trânsito, ou melhor dizendo, a obrigatoriedade de municipalizar suas competências e, dessa forma, implementar as estruturas, assumir o comando da fiscalização, da infraestrutura e da educação para o trânsito. Incumbiu o CTB aos municípios a obrigatoriedade na operacionalização na circulação, nas paradas e nos estacionamentos de veículos. A autoridade de trânsito local obrigou-se, a partir de 1997, a criar seu corpo técnico formado por engenheiros e especialistas, capazes de implantar a infraestrutura adequada, com vistas à segurança viária, mas também corpo técnico para fiscalizar as infrações cometidas e instituídas pela Lei 5.903/1997, como também estabelecer a política de educação para o trânsito. Primeiramente, é relevante trazer à luz do nosso estudo que, para além das obrigações atribuídas pelo CTB aos municípios, grande parte destes, no início dos anos 1990 não apresentavam condições de estruturar seus órgãos executivos de trânsito, visto rol de exigências para a chamada municipalização, e assim por dizer, integrar-se ao Sistema Nacional de Trânsito (SNT). Segundo Rizzardo (2010, p. 98), o tema teve grande discussão no Congresso Nacional, quando da votação do projeto de lei que instituía o CTB, visto que parte dos congressistas entendia que os estados federados deveriam manter as funções de cobrança de multas e fiscalizações. O autor afirma que a maioria dos municípios não possuía estrutura para assumir tais funções. Em que pese a legislação que determina a integração dos municípios ao SNT estar vigente há mais de 20 anos, menos de um terço das cidades cumpriu o disposto na lei. Conforme dados do site do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) de abril de 2019, dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 1.623 se integraram ao Sistema Nacional de Trânsito. O estado do Rio Grande do Sul registrou o maior número de cidades integradas. O Paraná tem poucas cidades integradas: apesar de contar com 399 em seu território, apenas 46 municipalizaram suas obrigações. 7 A estrutura a que se refere Rizzardo, e a qual o município necessita para trazer para si as obrigações do trânsito local, permeia estruturas para quatro grandes áreas: a infraestrutura ou a engenharia, a fiscalização, a educação para o trânsito e o corpo administrativo interno para o processamento das ações que se desdobram das demais três áreas. É importante destacar as obrigações do município com vistas à operacionalização do trânsito local, atribuições trazidas pelo Código de 1997 e que inovaram o ordenamento jurídico. Façamos a leitura das obrigações atribuídas aos municípios. I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições; II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas; III – implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário; IV – coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre os acidentes de trânsito e suas causas; V – estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia ostensiva de trânsito, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito; VI – executar a fiscalização de trânsito em vias terrestres, edificações de uso público e edificações privadas de uso coletivo, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis e as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular do poder de polícia de trânsito, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar, exercendo iguais atribuições no âmbito de edificações privadas de uso coletivo, somente para infrações de uso de vagas reservadas em estacionamentos; VII – aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; VIII – fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar; IX – fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas; X - implantar, manter e operar sistema de estacionamento rotativo pago nas vias; XI – arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas superdimensionadas ou perigosas; XII – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de veículos, escolta e transporte de carga indivisível; XIII – integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de veículos e de prontuários dos condutores de uma para outra unidade da Federação; XIV – implantar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; 8 XV – promover e participar de projetos e programas de educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN. TEMA 5 – AÇÕES DOS GESTORES PÚBLICOS PARA GARANTIR O TRÂNSITO EFETIVO E A MOBILIDADE SEGURA Com a visão holística para a cidade, pode o gestor público contemplar o planejamento urbano integrando a mobilidade segura, sustentável, destacando a saúde das pessoas como fator primeiro ao planejar. Ainda que o gestor público não se convença de que o planejamento urbano, especialmentecom foco na mobilidade, pode trazer felicidade, deve ter para si bastante claro que a não adoção de medidas pode trazer infelicidade e mortes. Todos os anos, no Brasil, morrem mais de 50 mil pessoas e mais de 300 mil ficam sequeladas, inchando os leitos de hospitais e o Sistema Público de Saúde e, por consequência, a conta também fica para o sistema previdenciário. Para que se o gestor público se proponha a reduzir mortes no trânsito, é preciso promover a mobilidade segura coletiva e sustentável, mas de maneira objetiva, é preciso definição de metas, liderança e engajamento da comunidade, que podem redundar nas seguintes ações. Desenvolvimento do Conselho Municipal de Trânsito (Comutran). Implantação da Escola Pública de Trânsito (Eptran). Instituição da Política Municipal de Educação para o Trânsito. Redução de velocidade em trechos urbanos. Implantação das Vias Calmas e Área Calmas. Priorização do tempo de semáforos para pessoa com mobilidade reduzida. NA PRÁTICA Estude os passos para se municipalizar o trânsito local. FINALIZANDO Vejamos, a seguir, as principais funções do Detran, do DNIT, do DER e do Órgão Executivo Municipal de Trânsito para garantir trânsito efetivo e mobilidade segura. 9 a. Detran: órgão executivo estadual responsável por emitir documentos dos veículos, assim como a vistoria; responsável pelos procedimentos que concedem a CNH ao condutor e pela aplicação de penalidades de suspensão e cassação do direito de dirigir e o recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação. b. DNIT: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, responsável por acompanhar obras viárias em trechos de rodovias federais. c. DER: Órgãos Executivos Rodoviários Estaduais, nas rodovias estaduais ou federais, mas muitas vezes em trechos urbanos, pois o desenvolvimento de muitas cidades se deu ao logo das margens de rodovias. d. Órgão Executivo Municipal de Trânsito: responsável pela parada, circulação e estacionamento, contemplando a fiscalização, a engenharia e a educação para o trânsito. 10 REFERÊNCIAS RIZZARDO, A. A reparação nos acidentes de trânsito. 13 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. _____. Comentários ao código de trânsito brasileiro. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
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