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Agentes antibacterianos Alvos para ação dos fármacos ● Um fármaco é uma substância química que, quando aplicada a um sistema fisiológico, afeta seu funcionamento de modo específico. Com poucas exceções, os fármacos agem sobre as proteínas-alvo, a saber: Receptores; enzimas; carregadores; canais iônicos. ● O termo receptor é empregado de diferentes modos. Em farmacologia, descreve as moléculas proteicas cuja função é reconhecer os sinais químicos endógenos e respondes a eles. Outras macromoléculas com que os fármacos interagem para produzir seus efeitos são conhecidas como alvos farmacológicos. ● A especificidade é recíproca: classes individuais de fármacos ligam-se apenas a certos alvos, e alvos individuais só reconhecem determinadas classes de fármacos. ● Nenhum fármaco é completamente específico em sua ação. Em muitos casos, ao aumentar a dose de um fármaco, a substância pode afetar outros alvos além de seu alvo principal, e esse fato pode levar ao aparecimento de efeitos colaterais. Especificidade dos fármacos Para que um fármaco seja útil como instrumento terapêutico ou científico, precisa agir de modo seletivo sobre as células e tecidos específicos. Em outras palavras, precisa exibir alto grau de especificidade pelo ponto de ligação, De modo inverso, as proteínas que funcionam como alvos de fármacos costumam mostrar alto grau de especificidade pelo ligante; elas se ligam apenas às moléculas de um tipo específico. Dessensibilização e tolerância Com frequência, o efeito de um fármaco diminui gradualmente quando é administrado de maneira contínua ou repetida. Dessensibilização e taquifilaxia são termos sinônimos utilizados para descrever esse fenômeno, que, muitas vezes, se desenvolve em poucos minutos. Já o termo tolerância é convencionalmente empregado para descrever uma diminuição mais gradual da responsividade a um fármaco, que leva horas, dias ou semanas para se desenvolver, porém a distinção entre esses termos não é muito precisa. Resistência a um fármaco é uma expressão utilizada para descrever a perda de eficácia dos fármacos antimicrobianos ou anti neoplásicos. Muitos mecanismos diferentes podem dar origem a esse tipo de fenômeno. Eles englobam: ● Alteração em receptors ● translocação de receptores ● depleção de mediadores ● aumento da degradação metabólica do fármaco ● adaptação fisiológica ● extrusão ativa do fármaco das células (relevante principalmente na quimioterapia antineoplásica) Técnica de gram e a estrutura da parede celular bacteriana A maioria das bactérias pode ser classificada como Gram-positivas ou Gram-negativas, dependendo de mudarem ou não coloração quando sujeitas à técnica de Gram. Essa coloração reflete as diferenças fundamentais na estrutura da parede celular das bactérias e tem implicações importantes para a ação dos antibióticos. A parede celular dos organismos Gram-positivos é uma estrutura relativamente simples. A camada fortemente polarizada presente na sua estrutura influencia a penetração de moléculas ionizadas e favorece a penetração, na célula, de compostos com carga positiva como a estreptomicina. A parede celular de organismos Gram-negativos é muito mais complexa. Assim, a dificuldade em penetrar essa membrana exterior complexa explica o porquê de alguns antibióticos serem menos ativos contra bactérias Gram-negativas do que em bactérias Gram-positivas. É também uma razão para a extraordinária resistência aos antibióticos, demonstrada pela Pseudomonas aeruginosa. Os lipopolissacarídeos da membrana externa constituem uma barreira importante para alguns antibióticos, incluindo benzilpenicilina, meticilina, macrolídeos, rifampicina, ácido fusídico e vancomicina. Agentes antibacterianos que interferem na síntese ou na ação do ácido fólico Sulfonamidas Os únicos fármacos sulfonamidas ainda correntemente utilizados como antibacterianos sistêmicos são o sulfametoxazol (em geral, combinado com trimetoprima, como cotrimoxazol), sulfasalazina (mal absorbida no trato gastrointestinal,utilizada para tratar colite ulcerosa e a doença de Crohn). A sulfanilamida é um análogo do ácido p-aminobenzóico, que é um precursor essencial na síntese do ácido fólico, necessário para a síntese de DNA e RNA nas bactérias. As sulfonamidas são inibidores competitivos da enzima diidropteroato sintetase, e os efeitos da sulfonamida podem ser sobrepostos, adicionando PABA suplementar. Por essa razão, alguns anestésicos locais, que são ésteres PABA (tal como a procaína), podem antagonizar o efeito antibacteriano desses agentes. Obs: Os antibióticos que interferem na síntese da parede celular de bactérias ou que inibem enzimas importantes normalmente matam as bactérias, são bactericidas. Os que inibem a síntese das proteínas, como, por exemplo as tetraciclinas, tendem a ser bacteriostáticos, ou seja, previnem o crescimento e a replicação. As sulfonamidas pertencem ao segundo grupo. A ação das sulfonamidas é inibida pela presença de pus e de produtos de destruição tecidual. A maioria das sulfonamidas é administrada oralmente, exceto a sulfassalazina, são bem absorvidas e distribuídas pelo corpo. Há risco de sensibilização ou de reações alérgicas quando são aplicadas topicamente. os fármacos passam para exsudados inflamatórios e atravessam tanto a barreira placentária como a barreira hematoencefálica. São essencialmente metabolizados no fígado, e o principal produto é um derivado acetilado sem ação antibacteriana. Os efeitos adversos graves que implicam a descontinuação do tratamento incluem hepatite, reações de hipersensibilidade (eritemas, abrangendo síndrome de Stevens Johnson e necrólise epidérmica tóxica, febre, reações anafiláticas), insuficiência da medula óssea e insuficiência renal aguda decorrente de nefrite tubulointersticial ou cristalúria. Essa última é provocada pela presença de metabólitos acetilados na urina. Também pode ocorrer cianose provocada por metemoglobinemia, mas essa é uma reação menos preocupante do que aparente ser. Os efeitos adversos menos graves incluem náuseas e vômitos, dores de cabeça e depressão. Trimetoprima A trimetoprima está quimicamente relacionada com o fármaco antimalárico pirimetamina, sendo ambos antagonistas do ácido fólico. A trimetoprima, também é um bacteriostático, atua contra as bactérias mais comuns e os protozoários, sendo utilizada no tratamento de infecções urinárias, pulmonares e outras. Pelo fato de as sulfonamidas inibirem diferentes etapas no mesmo metabolismo bacteriano, são capazes de potencializar a ação da trimetoprima. A trimetoprima é bem absorvida oralmente e distribuída através dos tecidos e fluidos corporais. Atinge altas concentrações nos pulmões e rins, além de concentrações consideravelmente elevadas no líquido cefalorraquidiano (LCR). Quando administrada em conjunto com sulfametoxazol, cerca de metade da dose de cada um é excretada em 24 horas. Como a trimetoprima é uma base fraca, sua eliminação pelos rins aumenta na proporção inversa do pH da urina A deficiência de ácido fólico - e consequente anemia megaloblástica - é um dos riscos da administração em longo prazo de trimetoprima. Outros efeitos adversos incluem náuseas, vômitos, alterações hematológicas e eritemas. Antibióticos betalactâmicos Penicilinas As penicilinas, frequentemente combinadas com outros antibióticos, mantêm importância crucial na quimioterapia antibacteriana, mas podem ser destruídas por enzimas amidases e beta-lactamases. Isso representa a base de um dos principais tipos de resistência aos antibióticos. Todos os antibióticos beta-lactâmicos interferem na síntese do peptidoglicano. Depois de se fixarem às proteínas de ligação à penicilina nas bactérias, inibem as transpeptidases que cruzam as cadeias peptídicas ligadas à estrutura do peptidoglicano. As penicilinas são administradas pela boca ou, no caso de infecções mais graves, por via intravenosa e, com frequência, combinadas com outros antibióticos. A ação bactericida final é a inativação de um inibidor de enzimas autolíticas na parede celular, provocando alise da bactéria. Alguns organismos, referenciados como “tolerantes”, possuem enzimas autolíticas deficientes, razão pela qual não ocorre a lise em resposta ao fármaco. A resistência à penicilina pode derivar de inúmeras causas. Tipos de penicilina e atividade antimicrobiana As primeiras penicilinas foram a benzilpenicilina (Penicilina G) e congêneres, incluindo a fenoximetilpenicilina (penicilina V). A benzilpenicilina é ativa em uma grande variedade de organismos, representando o fármaco de eleição em muitas infecções. As principais desvantagens são a má absorção através do trato gastrointestinal (o que significa que tem de ser injetada) e a sua suscetibilidade às beta-lactamases. As penicilinas semissintéticas, com diferentes cadeias ligadas ao núcleo de penicilina, incluem penicilinas resistentes às beta-lactamases (meticilina, flucloxacilina, temocilina) e penicilinas de largo espectro (ampicilina, amoxicilina). As penicilinas de largo espectro (ticarcilina, piperacilina) e antipseudomonas conseguiram superar o problema causado por infecções graves decorrentes de P. aeruginosa. A amoxicilina e a ticarcilina são, por vezes, combinadas com o ácido clavulânico, um inibidor das beta-lactamases (co-amoxiclav). Pivmecilinam é um pró-fármaco de mecilinam, que também apresenta um amplo espectro de ação. A absorção oral das penicilinas varia, dependendo de sua estabilidade em meio ácido e de sua adsorção às partículas alimentares no intestino. As penicilinas também podem ser administradas através de injeção intravenosa. Também existem compostos para injeções intramusculares, incluindo compostos de ação prolongada como a benzilpenicilina benzatínica, que se revela útil no tratamento de sífilis, uma vez que a Treponema pallidum é um organismo de desenvolvimento muito lento. Não se administra mais benzilpenicilina por injeção via intratecal (historicamente usada para tratar meningite) , uma vez que pode causar convulsões. As penicilinas são amplamente distribuídas pelo corpo, penetrando nas articulações; mas cavidades pleural e pericárdica, na ílis, saliva e leite; e através da placenta. Pelo fato de serem lipossolúveis, não penetram nas células de mamíferos e apenas atravessam a barreira hematoencefálica se as meninges estiverem inflamadas; nesse caso, podem atingir concentrações terapêuticas efetivas no líquido cefalorraquidiano. A eliminação da maior parte das penicilinas ocorre rápida e majoritariamente nos rins, sendo 90% através da secreção tubular. A meia-vida plasmática relativamente curta é um problema no uso clínico da benzilpenicilina, mas, como a penicilina funciona ao impedir a síntese da parede celular em organismos, a exposição intermitente e não contínua pode ser uma vantagem. As penicilinas estão relativamente isentas de efeitos tóxicos diretos (exceto as convulsões quando administradas por via intratecal). Os efeitos adversos principais são hipersensibilidade causada pelos compostos degradáveis da penicilina, que se combinam com as proteínas do hospedeiro e se tornam antigênicos. Erupções cutâneas e febre são comuns; um tipo tardio de doença do soro ocorre raramente. Muito mais grave é o choque anafilático agudo, que pode, embora raro, ser fatal. Quando as penicilinas são administradas oralmente, em especial as de amplo espectro, alteram a flora bacteriana do intestino. Isso pode estar associado a distúrbios gastrointestinais e , em alguns casos, a superinfecções através de outros microrganismos resistentes à penicilina, provocando problemas como a colite pseudomembranosa. Cefalosporinas e cefamicinas As cefalosporinas e as cefamicinas são antibióticos beta-lactâmicos, inicialmente isoladas a partir de fungos. Apresentam o mesmo mecanismo de ação das penicilinas. As cefalosporinas semi sintéticas de amplo espectro foram produzidas por meio da adição de diferentes cadeias laterais em R1 e/ou R2 ao núcleo cefalosporina. Esses agentes são hidrossolúveis e relativamente estáveis em meio ácido; variam em sua suscetibilidade às beta-lactamases. A resistência a esse grupo de fármacos tem aumentado devido às beta-lactamases codificadas por plasmídeos ou cromossomos. Esse último está presente em quase todas as bactérias Gram-negativas e é muito mais ativo nas cefalosporinas hidrolisadas do que nas penicilinas. Algumas cefalosporinas podem ser administradas oralmente, porém a maioria é administrada por via parenteral, intramuscular ou intravenosa. Após absorção, são amplamente distribuídas no corpo e algumas, como cefotaxima, cefotaxima e ceftriaxona, atravessam o líquido cefalorraquidiano. A excreção é feita majoritariamente pelos rins, principalmente por secreção tubular, mas 40% da ceftriaxona é eliminada na bile. Podem ocorrer reações de hipersensibilidade muito semelhantes às que ocorrem com as penicilinas, e pode haver alguma sensibilidade cruzada; cerca de 10% dos indivíduos sensíveis à penicilina apresentaram reação alérgica às cefalosporinas. Foi reportada nefrotoxicidade (especialmente com cefadrina), uma vez que existe intolerância ao álcool induzida pelo fármaco. A diarreia também é comum e pode ser causada pela C. difficile. Outros antibióticos beta-lactâmicos Carbapanemos O imipenem, um carbapanemo, atua da mesma forma que outros beta-lactâmicos. Tem um espectro muito amplo de atividade antimicrobiana e é ativo em muitos organismos Gram-positivos e Gram-negativos aeróbios e anaeróbios. No entanto, muitos dos estafilococos “resistentes à meticilina” mostram-se menos suscetíveis, com o surgimento de espécies resistentes de P, aeruginosa durante o tratamento. É administrado em conjunto com a cilastatina, que inibe sua inativação pelas enzimas renais. O meropenem é semelhante mas não é metabolizado pelos rins. O ertapenem tem amplo espectro de ações antibacterianas, mas está autorizado a um número limitado de indicações. A maioria dos carbapenemos não é oralmente ativa, sendo utilizada apenas em situações específicas. Os efeitos adversos são normalmente semelhantes aos de outros beta-lactâmicos, e os mais frequentes são náuseas e vômitos. Pode ocorrer neurotoxicidade em concentrações plasmáticas elevadas. Monobactâmicos O monobactâmico principal é o aztreonam, que é resistente à maioria das beta-lactamases. É administrado através de injeção e tem uma meia vida plasmática de duas horas. O aztreonam tem um espectro de atividade incomum e é efetivo apenas contra bacilos Gram-negativos aeróbios, como as espécies de pseudomonas Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae. Não tem ação contra organismos Gram-positivos ou anaeróbios. Os efeitos adversos são, de forma geral, semelhantes aos de outros antibióticos beta-lactâmicos, porém esse agente não apresenta necessariamente reação imunológica cruzada com a penicilina e seus subprodutos e, assim, não prova, normalmente, reação alérgica em indivíduos sensíveis à penicilina. Glicopeptídeos A vancomicina é um antibiótico glicopeptídeo, e a teicoplanina é semelhante, embora com maior duração de ação. A vancomicina inibe a síntese da parede celular. É principalmente efetiva contra as bactérias Gram-positivas. A vancomicina não é absorvida no intestino e é administrada apenas por via oral no tratamento de infecções gastrointestinais por C. difficile. No caso de uso sistêmico, é administrada por via intravenosa e tem uma meia-vida plasmática de cerca de oito horas. O principal uso clínico da vancomicina é no tratamento de MRSA e em outras infecções graves. Também é indicado no tratamento de infecções graves por estafilococos em pacientes alérgicos, tanto às penicilinas quanto às cefalosporinas. Os efeitos adversos incluem febre, erupções cutâneas e flebite no local da injeção. Também pode ocorrer ototoxicidade e nefrotoxicidade e, por vezes, reações de hipersensibilidade. A daptomicina é um novo antibacteriano lipopeptídeo com um espectro de ação semelhante ao da vancomicina. É normalmente utilizada, em combinação com outros fármacos, no tratamento de MRSA. Resumo antibióticos beta-lactâmicos São bactericidas porqueinibem a síntese do peptidoglicano Penicilinas ● A primeira escolha em muitas infecções ● Benzilpenicilina: Administrada em injeções, meia-vida curta e é destruída pelas beta-lactamases; Espectro; cocos Gram-positivos e Gram-negativos e algumas bactérias Gram-negativas; Atualmente, muitos estafilococos são resistentes. ● Penicilinas resistentes às beta-lactamases (ex, flucloxacilina): administradas por via oral; espectro: o mesmo da benzilpenicilina; Atualmente, muitos estafilococos são resistentes. ● Penicilinas de amplo espectro (ex, amoxicilina): administradas por via oral; são destruídas pelas beta-lactamases; espectro: o mesmo da benzilpenicilina (embora menos potente); também são ativas nas bactérias Gram-negativas ● Penicilinas de espectro ampliado (ex, ticarcilina): Administradas por via oral; são suscetíveis às beta-lactamases; espectro: tal como ocorre nas penicilinas de espectro amplo; também são ativas nas pseudomonas. ● Efeitos adversos das penicilinas: majoritariamente, hipersensibilidade. ● Uma combinação de ácido clavulâncio e amoxicilina ou tiraciclina é efetiva em muitos microrganismos produtores de beta-lactamases. Cefalosporinas e cefamicinas ● Segunda escolha para muitas infecções. ● Os fármacos orais (ex, cefaclor) são usados nas infecções urinárias. ● Fármacos parentéricos (ex, cefuroxima, que é ativa em S. aureus, H. influenzae, Enterobacteriaceae). ● Efeitos adversos: majoritariamente, hipersensibilidade. Carbapenemos ● Imipenem é um antibiótico de amplo espectro. ● O imipenem é combinado com a cilastina, que previne sua decomposição nos rins. Monobactâmicos ● Aztreonam: é ativo apenas nas bactérias aeróbias Gram-negativas e resistente à maioria das beta-lactamases. Agentes antimicrobianos que afetam a síntese das proteínas bacterianas Tetraciclinas As tetraciclinas são antibióticos de largo espectro. Esse grupo inclui tetraciclina, oxitetraciclina, demeclociclina, limeciclina, doxiciclina, minociclina e tigeciclina. Depois de serem absorvidas por organismos suscetíveis através de transporte ativo, as tetraciclinas atuam inibindo a síntese proteica. As tetraciclinas são consideradas bacteriostáticas e não bactericidas. O espectro de ação antimicrobiana das tetraciclinas é muito amplo e inclui bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, Mycoplasma, Rickettsia, Chlamydia spp., espiroquetas e alguns protozoários (ex, ameba). A minociclina também é efetiva contra N. meningitidis e tem sido utilizada para eliminar esse microrganismos da nasofaringe de indivíduos portadores. A resistência é transmitida principalmente por plasmídeos e, como os genes que controlam a resistência às tetraciclinas estão intimamente relacionados com os genes de resistência a outros antibióticos, os microrganismos podem desenvolver simultaneamente resistência a muitos fármacos. A utilização das tetraciclinas diminuiu devido à resistência generalizada ao fármaco, mas tem voltado a ser empregado nas infecções respiratórias, uma vez que a resistência tem retrocedido em virtude de sua utilização reduzida. Boa parte dessa classe é microbiologicamente semelhante, a doxiciclina é administrada uma vez por dia e pode ser utilizada em muitos pacientes com deficiência renal. Em geral, as tetraciclinas são administradas oralmente, mas também é possível usar a via parentérica. A minociclina e a doxiciclina são bem absorvidas oralmente. A absorção da maior parte das outras tetraciclinas é irregular e incompleta, mas é melhorada na ausência de alimentos. Como as tetraciclinas são quelantes de íons metálicos (cálcio, magnésio, ferro e alumínio) que formam compostos não absorvíveis, a absorção é diminuída na presença de leite, alguns antiácidos e preparações com ferro. Os efeitos adversos mais comuns são distúrbios gastrointestinais causados inicialmente pela irritação direta e, após, pela modificação da flora intestinal. Podem ocorrer deficiência de vitaminas do complexo B e superinfecção. Como as tetraciclinas absorvem Ca2+, são depositadas no ossos e dentes em crescimento, provando manchas e, por vezes, hipoplasia dentária e deformidades ósseas, não devendo ser administrada em crianças, mulheres grávidas ou em período de amamentação. Outro efeito nas mulheres grávidas é a hepatotoxicidade. Também pode ocorrer fototoxicidade principalmente com a demeclociclina. A minociclina pode produzir distúrbios vestibulares (tonturas e náuseas). Doses elevadas de tetraciclinas podem reduzir a síntese proteica nas células do hospedeiro, um efeito antianabólico que, eventualmente, resulta em lesão renal. o tratamento prolongado pode provocar distúrbios da medula óssea. Cloranfenicol O cloranfenicol inibe a síntese das proteínas bacterianas ao se ligar à subunidade 50S do ribossomo bacteriano. O cloranfenicol tem largo espectro de ação antimicrobiana e é ativo contra microrganismos Gram-negativos, Gram-positivos e rickettsiae. É um bacteriostático para a maioria dos microrganismos, mas elimina H. influenzae. A forma de resistência, provocada por uma acetiltransferase, é mediada por plasmídeos. O uso sistêmico deve ser reservado a infecções graves, em que o benefício do fármaco se sobrepõe à sua toxicidade hematológica incomum, mas grave. A utilização tópica é igualmente segura e eficaz nas conjuntivites bacterianas. Administrado oralmente, é absorvido rápida e completamente, atingindo concentração máxima no plasma após duas horas. Pode ser administrado via parenteral. O fármaco é largamente distribuído pelos tecidos e fluidos corporais, tendo meia-vida de cerca de duas horas. Cerca de 10% do cloranfenicol é excretado, inalterado, pela urina, e o restante é inativado no fígado. O principal efeito adverso do fármaco é a depressão medular grave idiossincrática, que resulta em pancitopenia (diminuição global dos elementos celulares do sangue)- um efeito que, embora raro, pode ocorrer mesmo com dosagens baixas em alguns pacientes. O cloranfenicol deve ser utilizado com muito cuidado em recém-nascidos, uma vez que a inativação ou excreção inadequadas do fármaco podem resultar na síndrome cinzenta- vômitos, diarreia, flacidez, baixa temperatura e cor acinzentada- , resultando em uma taxa de 40% de mortalidade. Podem surgir reações de hipersensibilidade, bem como distúrbios gastrointestinais, na sequência da alteração da flora microbiana intestinal. Aminoglicosídeos Grupo de antibióticos com uma estrutura química complexa; são semelhantes entre si na atividade antimicrobiana, nas características farmacocinéticas e na toxicidade. Os agentes principais são gentamicina, estreptomicina, amicacina, tobramicina e neomicina. Inibem a síntese das proteínas bacterianas. Existem vários locais de ação, A penetração da membrana celular da bactéria depende parcialmente do transporte ativo, dependente de oxigênio, por um sistema transportador de poliaminas, que é bloqueado pelo cloranfenicol, tendo ação mínima contra microrganismos anaeróbios. Tem efeito bactericida, sendo realçado por agentes que interferem na síntese da parede celular. A resistência aos aminoglicosídeos vem-se tornando um problema. A resistência ocorre através de diferentes mecanismos, mas o mais importante é a inativação por enzimas microbianas, das quais se conhecem nove ou mais. A resistência como resultado da falta de penetração pode ser largamente ultrapassada pelo uso concomitante de penicilina e/ou vancomicina, a custo do risco de aumento de efeitos adversos graves. Esse grupo de fármacos mostra-se efetivo contra muitos microrganismos Gram-negativos e alguns Gram-positivos. São amplamente usados contra microrganismos entéricos Gram-negativos e septicemia. Podem ser combinados com uma penicilina nas infecções causadas por estreptococos, por Listeria spp. e P. aeruginosa. A gentamicina é um aminoglicosídeo mais utilizado. A amicacina tem um espectro antimicrobiano mais amplo e pode ser eficaz em infecções por microrganismos resistentes à gentamicina e à tobramicina. Devido à sua carga positiva, os aminoglicosídeos são altamente polarizados.Não são absorvidos pelo trato gastrointestinal e, em geral, são administrados via intramuscular ou via intravenosa. Atravessam a placenta, mas não a barreira hematoencefálica, embora seja possível atingir elevadas concentrações nos fluidos articulares e pleurais, A meia-vida plasmática é de duas a três horas. A eliminação ocorre totalmente através da filtração glomerular nos rins, sendo que 50 a 60% é excretada inalterada após 24 horas. Caso a função renal esteja comprometida, a acumulação ocorre rapidamente, aumentando os efeitos tóxicos. Podem ocorrer efeitos tóxicos graves e relacionados com a dosagem, à medida que o tratamento for avançando. Os maiores riscos são ototoxicidade e nefrotoxicidade. A ototoxicidade envolve lesões progressivas, e até mesmo destruição, das células sensoriais da cóclea e no órgão vestibular do ouvido. Os resultados, normalmente, irreversíveis, podem incluir vertigens, ataxia e perda do equilíbrio no caso de lesões vestibulares, e distúrbios auditivos ou surdez no caso de lesões na cóclea. A nefrotoxicidade consiste em lesões nos túbulos renais e pode ser necessária a realização de diálise, embora a função renal seja recuperada depois de cessar a administração. É mais provável que a nefrotoxicidade ocorra em pacientes com doenças renais preexistentes ou em condições em que o volume de urina esteja diminuído e o uso concomitante de outros agentes nefrotóxicos aumente o risco. Macrolídeos Os macrolídeos principais e os antibióticos relacionados são eritromicina, claritromicina e azitromicina. A espiramicina e a telitromicina tem pouca utilidade. Os macrolídeos inibem a síntese das proteínas bacterianas através do efeito na translocação ribossômica. Os fármacos ligam-se à subunidade 50S do ribossomo bacteriano tal como o cloranfenicol e a clindamicina. Qualquer um desses fármacos pode competir se administrados ao mesmo tempo. O espectro antimicrobiano da eritromicina é muito semelhante ao da penicilina e é uma alternativa segura e eficiente para pacientes sensíveis à penicilina. A eritromicina é efetiva contra bactérias e espiroquetas Gram-positivas, mas não contra microrganismos Gram-negativos,exceto no caso de N, gonorrhoeae e, em menor escala, H. influenzae. Pode ocorrer resistência controlada por plasmídeos de ligação da eritromicina no ribossomo bacteriano. A azitromicina é menos ativas que a eritromicina contra bactérias Gram-positivas, porém é consideravelmente mais eficaz contra H. Influenzae e pode ser mais ativa contra Legionella. A Claritromicina é tão ativa quanto a eritromicina. Os macrolídeos são administrados oralmente ou por via parenteral, embora as injeções intravenosas possam provocar tromboflebites locais. Difundem-se rapidamente na maioria dos tecidos, mas não atravessam a barreira hematoencefálica, havendo fraca penetração no líquido sinovial. A meia-vida plasmática da eritromicina é de cerca de noventa minutos; a da claritromicina é três vezes mais longa; e a da azitromicina é oito a 16 vezes maior. Os macrolídeos entram e, de fato, estão concentrados nos fagócitos – as concentrações de azitromicina nos lisossomos dos fagócitos podem ser superiores em quarenta vezes às apresentadas no sangue – e podem aumentar a eliminação intracelular das bactérias pelos fagócitos. A eritromicina é parcialmente inativada no fígado; a azitromicina é mais resistente à inativação, enquanto a claritromicina é convertida num metabólito ativo. A inibição do sistema do citocromo P450 por esses agentes pode afetar a biodisponibilidade de outros fármacos, conduzindo a interações clinicamente importantes, como, por exemplo, com a teofilina. A principal via de eliminação é através da bílis. Os distúrbios gastrointestinais são comuns e desagradáveis, mas não são graves. Também foram relatados os seguintes, com o uso da eritromicina: reações de hipersensibilidade como erupções cutâneas e febre, distúrbios temporários de audição e raramente, em tratamentos superiores a duas semanas, icterícia colestática. Podem ocorrer infecções esporádicas do trato gastrointestinal ou da vagina. Agentes antimicrobianos que afetam a topoisomerase Resumo Agentes microbianos que alteram a síntese proteica bacteriana • Tetraciclinas (p. ex., minociclina). Estes são antibióticos de largo espectro, ativos por via oral, bacteriostáticos. A resistência tem aumentado. Os distúrbios gastrointestinais são comuns. Também alteram o cálcio e depositam-se nos ossos em crescimento. Estão contraindicados em crianças e mulheres grávidas. • Cloranfenicol. Trata-se de um antibiótico de largo espectro ativo por via oral e bacteriostático. São possíveis os efeitos adversos graves, incluindo insuficiência da medula óssea e “síndrome cinzenta”. Deve ser reservado a infecções fatais. • Aminoglicosídeos (p. ex., gentamicina). Estes são administrados por injeção. São antibióticos de largo espectro e bactericidas (embora pouco ativos nos anaeróbios, estreptococos e pneumococos). A resistência tem aumentado. Os principais efeitos adversos estão relacionados com a nefrotoxicidade e ototoxicidade dependente da dosagem. Também devem ser vigiados os níveis séricos. (A estreptomicina é um antituberculoso aminoglicosídeo.) • Macrolídeos (p. ex., eritromicina). Podem ser administrados por via oral e parenteral. São bactericidas/bacteriostáticos. O espectro antibacteriano é o mesmo da penicilina. A eritromicina pode causar icterícia. Os novos agentes são claritromicina e azitromicina. • Lincosamidas (p. ex., clindamicina). Podem ser administradas por via oral e parenteral. Podem causar colite pseudomembranosa. • Estreptograminas (p. ex., quinupristin/dalfopristin). Podem ser administradas em combinação, através de injeção. São consideravelmente menos ativas quando administradas em separado. São ativas em várias espécies de bactérias resistentes aos fármacos. • Ácido fusídico. Trata-se de um antibiótico de pequeno espectro que atua através da inibição da síntese proteica. Penetra nos ossos. Os efeitos adversos incluem distúrbios gastrointestinais. • Linezolida. Administrado por via oral ou injeção intravenosa. É ativo em várias espécies de bactérias resistentes a fármacos. Agentes antimicrobianos que afetam a topoisomerase Quinolonas As quinolonas incluem agentes de largo espectro, como ciprofloxacina, levofloxacina, ofloxacina, norfloxacina e moxifloxacina, bem como ácido nalidíxico, um fármaco de pequeno espectro utilizado nas infecções do trato urinário. A maioria é fluorada (fluoroquinolonas). Esses agentes inibem a topoisomerase II (uma DNA girase bacteriana), a enzima que produz a super-helicoidização negativa do DNA e que permite, desse modo, a transcrição ou replicação. Desse grupo, a ciprofloxacina é a mais utilizada. Tem largo espectro antibiótico efetivo, tanto contra microrganismos Gram-positivos quanto contra os Gram-negativos, incluindo Enterobacteriaceae (bacilos Gram-negativos entéricos), muitos microrganismos resistentes à penicilina, cefalosporinas e aminoglicosídeos e também contra H. influenzae, N. gonorrhoeae produtoras de penicilinases, Campylobacter spp. e pseudomonas. No caso dos microrganismos Gram-positivos, os estreptococos e os pneumococos são apenas inibidos de forma fraca, havendo grande incidência de resistência aos estafilococos. A ciprofloxacina deve ser evitada nas infecções por MRSA. Clinicamente, as fluoroquinolonas são mais aconselhadas no caso de infecções por bacilos e cocos Gram Negativos aeróbios. 6 Surgiram espécies resistentes de Staphylococcus aureus e P. aeruginosa. As fluoroquinolonas são bem absorvidas por via oral. Os fármacos acumulam-se em vários tecidos, principalmente nos rins, próstata e pulmões. Todas as quinolonas estão concentradas em fagócitos; a maioria não atravessa a barreira hematoencefálica, mas a ofloxacina sim. Os antiácidos de alumínio e magnésio interferem na absorção das quinolonas. A eliminação da ciprofloxacina e da norfloxacina é parcialmente feita através do metabolismo hepático pelas enzimas P450 (as quais podem inibir e, assim, provocarinterações com outros fármacos) e parcialmente através de excreção renal. A ofoxacina é excretada na urina. Nos hospitais, podem surgir infecções por C. difficile, mas, para além disso, os efeitos adversos são pouco frequentes, normalmente ligeiros e reversíveis. As manifestações mais frequentes são distúrbios gastrointestinais e erupções cutâneas. Além de artropatia em pacientes jovens, também foram observados sintomas do sistema nervoso central – dor de cabeça e tonturas – e, com menos frequência, convulsões associadas a patologias do sistema nervoso central ou ao uso prolongado de teofilina ou fármacos antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) Agentes antimicrobianos que alteram a DNA topoisomerase II • As quinolonas interferem com o superespiralamento do DNA. • A ciprofloxacina tem um espectro antibacteriano alargado, sendo especialmente ativa em microrganismos coliformes entéricos Gram-negativos, incluindo muitos microrganismos resistentes a penicilinas, cefalosporinas e aminoglicosídeos; também é efetiva contra H. influenzae, N. gonorrhoeae produtora de penicilinases, várias espécies de Campylobacter e pseudomonas. Há uma grande incidência de resistência aos estafilococos. • Os efeitos adversos incluem alterações do trato gastrointestinal. Reações de hipersensibilidade e, raramente, distúrbios do sistema nervoso central. Outros agentes antibacterianos menos comuns Metronidazol O metronidazol foi apresentado como um agente anti protozoário,mas também é ativo nas bactérias anaeróbias como Bacteroides, Clostridia spp e alguns estreptococos. É eficaz na terapia da Pseudomembranous colitis e importante no tratamento de infecções anaeróbias graves (p. ex., septicemia provocada por doenças intestinais). Tem ação semelhante à do dissulfiram, razão pela qual os pacientes devem evitar bebidas alcoólicas enquanto estiverem sendo tratados com metronidazol. Estreptograminas A quinupristina e a dalfopristina são peptídeos cíclicos que inibem a síntese proteica das bactérias ao se ligarem à subunidade 50S do ribossomo bacteriano. A dalfopristina modifica a estrutura do ribossomo, de modo a promover a ligação de quinupristina. Individualmente, apresentam atividade bacteriana muito modesta, mas, quando combinadas entre si, sob a forma de injeção intravenosa, são ativas em muitas bactérias Gram-positivas. Essa combinação é utilizada para tratar infecções graves, geralmente quando não são aconselhados outros antibacterianos. Por exemplo, a combinação se mostra efetiva nos casos de MRSA e Enterococcus faecium resistente à vancomicina. Na atualidade, não são utilizados no Reino Unido. Ambos os fármacos são sujeitos inicialmente a metabolismo hepático e, por isso, devem ser administrados sob a forma de injeção intravenosa. A meia-vida de cada composto é de 1-2 horas. Os efeitos adversos incluem inflamação e dor no local da infusão, artralgia, mialgia e náuseas, vômitos e diarreia. Até o momento, a resistência à quinupristina e à dalfopristina não apresentou grandes problemas. Clindamicina A clindamicina é ativa em cocos Gram-positivos, incluindo muitos estafilococos resistentes à penicilina e muitas bactérias anaeróbias como Bacteroides spp. Atua da mesma forma que os macrolídeos e o cloranfenicol. Para além da utilização nas infecções causadas por organismos Bacteroides, é empregada no tratamento de infecções dos ossos e articulações por estafilococos. Também é administrada topicamente, sob a forma de gotas oculares, nas conjuntivites por estafilococos e como fármaco anti protozoário. Os efeitos adversos consistem majoritariamente em distúrbios gastrintestinais, de diarreia a colite pseudomembranosa, causada por uma C. difficile produtora de toxinas. Oxazolidinonas De início denominadas de “verdadeiramente a primeira classe de agentes antibacterianos a chegar ao mercado em várias décadas” , as oxazolidinonas inibem a síntese proteica das bactérias por meio de um mecanismo inovador: a inibição da ligação de N-formil-metionina-RNAt ao ribossomo 70S. A linezolida foi o primeiro fármaco desse grupo a ser apresentado. É ativa em uma grande variedade de bactérias Gram-positivas, como MRSA, Streptococcus pneumoniae resistente à penicilina e enterococos resistentes à vancomicina. A linezolida também é efetiva em alguns anaeróbios como o C. difficile. Os microrganismos Gram-negativos mais comuns não são suscetíveis a esse fármaco. A linezolida pode ser utilizada no tratamento da pneumonia, septicemia e infecções da pele e dos tecidos moles. Seu emprego tem sido restrito a infecções bacterianas graves em que outros antibióticos tenham falhado e, até o momento, são poucos os casos de resistência. Os efeitos adversos incluem trombocitopenia, diarreia, náuseas e, raramente, erupções cutâneas e tonturas. A linezolida é um inibidor não seletivo da monoamino-oxidase e é preciso tomar as devidas precauções. Ácido fusídico O ácido fusídico é um antibiótico esteróide de espectro limitado, majoritariamente ativo nas bactérias Gram-positivas. Atua inibindo a síntese proteica bacteriana . Tal como ocorre com o sal de sódio, o fármaco é bem absorvido no intestino e amplamente distribuído nos tecidos. Uma parte é excretada na bílis, enquanto a outra é metabolizada. É utilizado em conjunto com outros agentes anti estafilococos na septicemia por estafilococos e largamente empregado em sua forma tópica nas infecções por estafilococos (p. ex., em gotas ou creme oftalmológico). Os efeitos adversos, como os distúrbios gastrointestinais, são bastante comuns. Podem ocorrer erupções cutâneas e icterícia. A resistência ocorre se utilizado de forma sistêmica como agente único, razão pela qual sempre é combinado com outros fármacos antibacterianos, quando usado continuamente. Nitrofurantoína A nitrofurantoína é um composto ativo numa variedade de microrganismos Gram Positivos e Gram-negativos. O desenvolvimento da resistência em organismos suscetíveis é rara e não existe resistência cruzada. É provável que seu mecanismo de ação esteja relacionado à sua capacidade de danificar o DNA bacteriano. É administrada oralmente é rapidamente absorvida no trato gastrointestinal e também rapidamente excretada pelos rins. Está limitada ao tratamento das infecções do trato urinário. Os efeitos adversos, como, por exemplo, os distúrbios gastrointestinais, são relativamente comuns e podem ocorrer reações de hipersensibilidade da pele e da medula óssea (p. ex., leucopenia). Também foram relatadas hepatotoxicidade e neuropatia periférica. A metenamina tem aplicação clínica semelhante à da nitrofurantoína e apresenta alguns efeitos adversos similares. Converte-se em formaldeído na presença de urina ácida. Polimixinas Polimixinas As polimixinas atualmente utilizadas são a polimixina B e o colistimetato. Apresentam propriedades detergentes catiônicas e alteram a membrana da parede celular bacteriana . Têm ação bactericida seletiva e rápida nos bacilos Gram Negativos, principalmente nas pseudomonas e nos microrganismos coliformes. Não são absorvidas no trato gastrointestinal. O uso clínico desses fármacos é limitado por sua toxicidade e está majoritariamente reservado à esterilização do intestino e ao tratamento tópico dos ouvidos, olhos ou infecções de pele causadas por microrganismos suscetíveis. Os efeitos adversos podem ser graves e incluem neurotoxicidade e nefrotoxicidade. Agentes antimicobacterianos Os tratamentos são liderados pelos fármacos de primeira linha: isoniazida, rifampicina, rifabutina, etambutol e pirazinamida. Os fármacos de segunda linha incluem capreomicina, cicloserina, estreptomicina (raramente usada no Reino Unido), claritromicina e ciprofloxacina. Esses são utilizados para tratar infecções provavelmente resistentes aos fármacos de primeira linha ou quando os agentes de primeira linha não podem ser usados devido a reações adversas. Para diminuir a probabilidade de surgimento de microrganismos resistentes, com frequência recorre-se ao tratamento combinado de fármacos, o qual, em geral, envolve: • fase inicial (cercade dois meses) com uma combinação de isoniazida, rifampicina e pirazinamida (mais etambutol, no caso de suspeita de se tratar de um microrganismo resistente); • Segunda fase (cerca de quatro meses) de tratamento com isoniazida e rifampicina; são necessários tratamentos mais prolongados em pacientes com meningite, problemas nas articulações, ósseos ou infecção resistente. Isoniazida A atividade antibacteriana da isoniazida está limitada às micobactérias. Ela interrompe o crescimento dos microrganismos em repouso (ou seja, bacteriostáticos), mas pode eliminar as bactérias que se dividem. A isoniazida penetra livremente nas células dos mamíferos e, por isso, revela-se eficaz contra microrganismos intracelulares. A isoniazida é um pró-fármaco que deve ser ativado pelas enzimas bacterianas antes de poder exercer sua atividade inibitória na síntese dos ácidos micólicos, constituintes importantes da parede celular específica das micobactérias. Pode ocorrer resistência ao fármaco, pela penetração reduzida na micobactéria, mas não se verifica resistência cruzada com outros fármacos tuberculostáticos. A isoniazida é rapidamente absorvida no trato gastrointestinal e largamente distribuída através dos tecidos e fluidos corporais, incluindo o LCR. Um ponto importante é a boa penetração nas lesões tuberculosas “caseosas” (ou seja, nas lesões necróticas com uma consistência tipo queijo). O metabolismo, que envolve acetilação, depende de fatores genéticos que determinam se uma pessoa é um acetilador lento ou rápido do fármaco; os inativadores lentos apresentam uma resposta terapêutica melhor. A meia-vida nos inativadores lentos é de três horas, e de uma hora nos inativadores rápidos. A isoniazida é excretada na urina – uma parte inalterada e outra sob a forma acetilada ou outra forma inativa. Os efeitos adversos dependem da dosagem e ocorrem em cerca de 5% dos pacientes, sendo o mais comum as reações alérgicas cutâneas. Foram reportados outros efeitos adversos, incluindo febre, hepatotoxicidade, alterações hematológicas, artroses e vasculite. Efeitos adversos que envolvem o sistema nervoso central ou periférico resultam, majoritariamente, da deficiência em piridoxina e são comuns em pacientes subnutridos, exceto se essa substância for administrada como forma de prevenção. A isoniazida pode causar anemia hemolítica em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase e diminui o metabolismo de agentes antiepilépticos como fenitoína, etosuximida e carbamazepina, resultando em aumento da concentração no plasma e toxicidade destes fármacos. Rifampicina A rifampicina (também denominada rifampicina) atua através da ligação e da inibição de RNA polimerase DNA-dependente nas células procarióticas, mas não nas eucarióticas . Trata-se de um dos antituberculosos conhecidos mais ativos e também é ativo na lepra e em grande parte das bactérias Gram-positivas, bem como em muitas espécies Gram-negativas. Penetra nas células fagocitárias e pode, desse modo, eliminar microrganismos intracelulares, incluindo o bacilo da tuberculose. A resistência pode desenvolver-se rapidamente num processo único em que uma mutação cromossômica modifica o alvo na RNA polimerase DNA-dependente . A rifampicina é administrada oralmente e largamente distribuída nos tecidos e fluidos corporais (incluindo o LCR), conferindo uma tonalidade laranja à saliva, expectoração, lágrimas e suor. É parcialmente excretada na urina e parcialmente na bílis, uma parte da qual entra no ciclo êntero-hepático. O metabólito retém a atividade antibacteriana, mas é mal absorvido pelo trato gastrointestinal. A meia-vida é de 1-5 horas, e torna-se inferior durante o tratamento devido à indução de enzimas microssômicas hepáticas. Os efeitos adversos são relativamente pouco frequentes. Os mais comuns são erupções cutâneas, febre e distúrbios gastrointestinais. Foram reportados danos no fígado acompanhados por icterícia, que, numa proporção muito pequena de pacientes, revelaram-se fatais; a função hepática deve ser avaliada antes de iniciar o tratamento. A rifampicina pode acelerar o metabolismo das células hepáticas , resultando em aumento da degradação de varfarina, glicocorticóides, analgésicos narcóticos, fármacos orais antidiabéticos, dapsona e estrógenos (razão pela qual se desaconselha o uso de contraceptivos orais). Etambutol O etambutol afeta apenas as micobactérias. É captado por estas e exerce efeito bacteriostático 24 horas após, provavelmente pela inibição da síntese micobacteriana da parede celular. A resistência surge rapidamente se for utilizado de forma isolada. O etambutol é administrado por via oral e é bem absorvido; pode atingir concentrações terapêuticas no LCR, no caso da meningite tuberculosa. No sangue, é captado pelos eritrócitos e libertado lentamente. O etambutol é parcialmente metabolizado e excretado na urina. Os efeitos adversos são pouco comuns, e o mais significativo é a neurite óptica, relacionada com a dosagem; há maior probabilidade no caso de função hepática diminuída. Isso resulta em distúrbios visuais que se manifestam inicialmente por alteração das cores, em particular do vermelho e do verde, ocorrendo decréscimo progressivo da acuidade visual. Aconselha-se a vigilância da visão das cores antes e durante os tratamentos prolongados. Pirazinamida A pirazinamida é inativada em pH neutro, mas tuberculostática em pH ácido. É eficaz contra os microrganismos intracelulares nos macrófagos porque, após a fagocitose, os microrganismos ficam contidos em fagolisossomos, onde o pH é baixo. O fármaco provavelmente inibe a síntese de ácidos graxos. A resistência desenvolve-se rapidamente, mas a resistência cruzada não ocorre com isoniazida. O fármaco é bem absorvido após administração oral e largamente distribuído, penetrando nas meninges. É excretado através dos rins, principalmente por filtração glomerular. Os efeitos adversos incluem gota, associada às altas concentrações de uratos no plasma. Também foram reportados transtornos gastrointestinais, mal-estar e febre. Os danos graves, em nível hepático, decorrentes das elevadas dosagens, constituíram outrora um problema, mas são menos prováveis devido aos tratamentos com baixas dosagens/períodos curtos que agora são utilizados; no entanto, a função hepática deve ser avaliada antes do tratamento. Capreomicina A capreomicina é um antibiótico peptídico administrado através de injeção intramuscular. Os efeitos adversos incluem lesões nos rins e no nervo auditivo, com consequentes surdez e ataxia. O fármaco não deve ser administrado em combinação com estreptomicina ou outros fármacos que possam causar surdez. Cicloserina A cicloserina é um antibiótico de largo espectro que inibe o crescimento de muitas bactérias, incluindo coliformes e micobactérias. É hidrossolúvel e destruída em pH ácido. Atua através da inibição competitiva da síntese da parede celular bacteriana; isso acontece ao prevenir a formação da D-alanina e do dipeptídeo D-Ala-D-Ala, o qual é adicionado à cadeia lateral inicial do tripeptídeo no ácido N-acetilmurâmico, ou seja, impede a finalização da construção do bloco principal de peptidoglicano. A cicloserina é absorvida oralmente e distribuída através dos tecidos e fluidos corporais, incluindo LCR. A maior parte do fármaco é eliminada sob a forma ativa na urina, mas cerca de 35% dela é metabolizada. A cicloserina tem efeitos adversos majoritariamente no sistema nervoso central. Podem ocorrer vários distúrbios, de dores de cabeça e irritabilidade a depressão, convulsões e estados psicóticos. Seu uso é limitado à tuberculose resistente a outros fármacos. Fármacos antituberculosos Para evitar o surgimento de microrganismos resistentes, empregam-se tratamentos combinados (p. ex., três fármacos inicialmente e, em seguida, um regime de dois fármacos). Fármacos de primeira linha • A isoniazida elimina as micobactérias que se reproduzem ativamente nas células do hospedeiro. Administrada por via oral, penetra nas lesões necróticas e também no líquido cefalorraquidiano(LCR). Os “acetiladores lentos” apresentam boa resposta. Baixa toxicidade. A deficiência de piridoxina acentua o risco de neurotoxicidade. Não existe resistência cruzada com outros agentes. • A rifampicina é um fármaco potente, administrado por via oral, que inibe a RNA polimerase bacteriana. Penetra no LCR. Os efeitos adversos são pouco frequentes (mas podem ocorrer lesões graves no fígado). Induz as enzimas hepáticas metabolizadoras dos fármacos. A resistência pode desenvolver-se rapidamente. • Etambutol inibe o crescimento das micobactérias. É administrado por via oral e penetração no LCR. Os efeitos adversos não são comuns, mas pode ocorrer neurite oftalmológica. A resistência pode desenvolver-se rapidamente. • A pirazinamida é uma tuberculostática nas micobactérias intracelulares. Administrada oralmente, penetra no LCR. A resistência pode desenvolver-se rapidamente. Os efeitos adversos incluem aumento dos uratos plasmáticos e toxicidade hepática em dosagens elevadas. Fármacos de segunda linha • A capreomicina é administrada por via intramuscular. Os efeitos adversos incluem danos nos rins e no nervo auditivo. • A cicloserina é um agente de largo espectro. Inibe a síntese do peptidoglicano numa fase inicial. Administrada oralmente, penetra no LCR. Os efeitos adversos alteram principalmente o sistema nervoso central. • A estreptomicina , um antibiótico aminoglicosídeo, atua através da inibição da síntese proteica bacteriana. É administrada por via intramuscular. Os efeitos adversos são ototoxicidade (principalmente vestibular) e nefrotoxicidade. Fármacos utilizados para tratar lepra Dapsona A dapsona está quimicamente relacionada com as sulfonamidas e, como sua ação é antagonizada pelo PABA, atua provavelmente através da inibição da síntese do folato bacteriano. A resistência ao fármaco tem aumentado de forma consistente desde a sua introdução e, atualmente, recomenda-se o tratamento combinado com outros fármacos. A dapsona é administrada por via oral; é bem absorvida e amplamente distribuída através da água corporal por todos os tecidos. A meia-vida plasmática é de 24-48 horas, mas parte do fármaco permanece no fígado, nos rins (e, de certo modo, na pele e nos músculos) por períodos mais longos. Existe uma circulação êntero-hepática do fármaco, mas parte é acetilada e excretada na urina. A dapsona também é empregada no tratamento da dermatite herpetiforme, uma dermatose crônica pruriginosa associada à doença celíaca. Os efeitos adversos ocorrem com bastante frequência e incluem hemólise dos glóbulos vermelhos (em geral, sem gravidade suficiente para levar a uma anemia grave), metemoglobinemia, anorexia, náuseas e vômitos, febre, dermatite alérgica e neuropatia. Podem ocorrer reações lepromatosas (exacerbação das lesões lepromatosas) e, vez ou outra, uma síndrome potencialmente fatal semelhante à mononucleose infecciosa. Clofazimina A clofazimina é um corante com estrutura complexa. Seu mecanismo de ação contra o bacilo da lepra pode envolver alterações no DNA. Também tem ação anti-inflamatória e é útil em pacientes em que a dapsona causa efeitos secundários inflamatórios. A clofazimina é administrada por via oral e acumula-se no corpo, sendo capturada pelo sistema mononuclear fagocitário. A meia-vida plasmática pode prolongar-se até oito semanas. O efeito antileprótico é lento e só se torna evidente a partir de seis a sete semanas. Os efeitos adversos podem estar relacionados com o fato de a clofazimina ser um corante. A pele e a urina podem desenvolver uma coloração avermelhada, e as lesões, uma descoloração negro-azulada. Também podem ocorrer distúrbios relacionados com a dosagem, como náuseas, tonturas, cefaleias e de natureza gastrointestinal.
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