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Osteomielite é definida como uma infecção óssea. Pode advir de infecção direta, contiguidade ou por via hematogênica. Classificação de Waldvogel - Osteomielite hematogenica aguda - Osteomielite crônica - Osteomielite por contiguidade - Osteomielite da coluna vertebral Tempo de evolução Aguda: até 2 semanas; Subaguda: entre 2 semanas e 3 meses; Cronica: mais que 3 meses. Estadiamento de Cierny e Mader Grau de comprometimento anatômico Tipo I - Medular Tipo II- Superficial Tipo III - Localizado Tipo IV - Difuso Grau de comprometimento fisiológico A – Saudável B - Comprometido BL Comprometimento Localizado BS Comprometimento Sistemico BLS Comprometimento Localizado e sistemico C - Incurável Etiologia A etiologia mais frequente independente da idade é a infecção pelo S. aureus. Nos neonatos: pensar em estreptococos grupo B (agalactie) e e. coli. Nos lactentes: pensar em estreptococos grupo A (pyogenes) e haemophilus influenzae. Em pacientes com anemia falciforme deve-se pensar em Salmonella. Quadro clínico Em geral o quadro clínico típico é uma criança, anoréxica, prostrada, com incapacitação funcional em osso longo. Associada a edema, dor, calor, rubor e disfunção funcional principalmente em metáfise de fêmur e tíbia. Patogênese Na metáfise dos ossos, há uma trama de capilares sinusoidas calibrosos, onde embolos sépticos podem se depositar, além de uma região de baixa pressão de O2, permitindo uma maior manifestação de infecções e a supressão de fagócitos. Isso tudo corrobora para a formação de uma zona de infecção que evolui para a formação de exsudato, aumentando a pressão intramedular e gerando necrose. Com essa necrose, um abcesso ósseo é formado. O pus atinge os canais de Havers e Volkmann e chega até a região subperiosteal, onde formará um abcesso subperiosteal. Com o tempo o abcesso periosteal evolui, e a necrose óssea interna desprende um fragmento ósseo. É o chamado sequestro ósseo. Na articulação coxofemoral, glenoumeral e talotarsal essa metáfise fica intra-articular, o que gera um extravasamento purulento para dentro da articulação, podendo gerar artrite séptica. As epífises dos outros ossos com região cartilagínea e a capsula articular protegem a progressão da infecção para dentro da articulação. Todo o processo dura cerca de dias ou semanas, mas o processo de necrose acontece em torno de 48h e é isso que queremos evitar, uma transição de aguda para crônica. Exames complementares Hemograma: leucocitose com desvio a esquerda (leucócitos > 10.000 células/mm³ com aparecimento de segmentados, bastões, metamielócitos, mielócitos, pró-mielócitos ou mieloblastos). VHS: aumentado (> 15 mm/h para homens e > 20 mm/h para mulheres). PROTEINA-C reativa: indica processo infeccioso ou inflamatório. Sendo que os seus parâmetros variam > 10mg/dl já pode indicar um processo infeccioso. Cultura e antibiograma: deve ser feito antes do inicio do antibiótico empírico, para identificar o patógeno e a sensibilidade. Bacterioscopia: pode ser pedida, em caso de identificação de GRAM+ ou GRAM-, e sai antes da cultura, norteando o tratamento. Radiografia: nos primeiros 5-7 dias não dá para se identificar alterações ósseas significativas. Mas com a evolução, pode-se verificar o descolamento do periósteo e neoformação óssea, evidenciando periostite no raio-x. Cintilografia óssea: pode auxiliar a detectar o contraste em regiões de maior hiperemia, usando alguns contrastes típicos para infecção com o gadolíneo. Tratamento O primeiro passo é a punção em ambiente cirúrgico da região subperiosteal e/ou intra-ossea, sob anestesia local, geral ou sedação. A punção deve ser levada para bacterioscopia, cultura e antibiograma. Em caso de punção com pus ou material suspeito, deve ser feita a drenagem cirúrgica imediata e a antibioticoterapia empirica. Em caso de punção sem aspecto supurativo, o material deve ser enviado para bacterioscopia, cultura e antibiograma, e avaliado se positivo ou negativo. Em caso de positividade, deve ser feita a antibioticoterapia empírica e avaliar a evolução, e em caso de piora após 48h do inicio do tratamento clinico, deve ser feita a drenagem cirúrgica e a antibioticoterapia com base na cultura. Se negativo, deve ser avaliado diagnósticos diferencial e evolução. A drenagem cirúrgica é feita com trepanação de 1 a 2 cm em região cortical de metáfise, com sucção de todo material necrótico e purulento, sob soro fisiológico, de 24h às 48h. Antibioticoterapia Deve ser instituída de maneira empírica, logo após a punção para a cultura e antibiograma. O antibiótico de escolha depende da clinica e idade do paciente. Neonatos: oxacilina + aminoglicosídeo (gentamicina, amicacina). Crianças e adultos: oxacilina + cefalosporina de terceira geração (ceftriaxone, ceftazidima). Pacientes com anemia falciforme: devemos pensar em Salmonella e instituir oxacilina + cefalosporina de terceira geração. Em casos de S. aureus resistente a meticilina, substituímos a oxacilina por vancomicina ou clindamicina. O tempo de tratamento vai de 4-6 semanas, sendo que após melhora clinica e laboratorial em 10 dias, pode- se optar por antibioticoterapia via oral em ambiente ambulatorial. A melhora clinica depende da clinica, do VHS e da proteína C reativa. Artrite Séptica A artrite séptica é uma infecção que aflige a articulação. Existem 3 vias principais de infecção: hematogênica, por contiguidade e direta. A artrite séptica pode se originar de uma osteomielite hematogênica aguda, ou pode originar uma osteomielite aguda, dependendo da articulação afetada (coxofemoral, glenoumeral e talotarsal). Fisiopatologia Os capilares da capsula articular não possuem membrana basal, sendo susceptível a infecção pela via hematogenica daqueles patógenos mais virulentos. Após a entrada das bactérias, há a produção de toxinas condrolíticas que começam um processo de degeneração da cartilagem articular. Com o tempo, exsudato é produzido e isso provoca uma expansão da cavidade articular, que compromete a vasculatura da membrana sinovial, promovendo necrose e diminuição do suprimento nutricional da cartilagem articular. Esses fatores corroboram para uma articulação infuncional. Com o tempo isso pode levar ao acometimento da epífise, gerando deformidades e encurtamentos, não raro abcessos subcondrais, e o pannus que é o espessamento da membrana sinovial. Em torno de 48h já há degradação da cartilagem articular. Microbiologia Depende da faixa etária e dos fatores de risco Conforme faixa etária Neonatos: bacilos gram-negativos (E. coli), estreptococo do grupo B, S. aureus Crianças: S. aureus, estreptococo do grupo A (pyogenes), Kingella kingae. Adultos: gonocócicas (neisseria gonorrhoeae), não-gonocócica (S. aureus, bacilos gram-negativos, estreptococo). Idosos: importante pensar no estreptococo Conforme fator de risco Cirurgias: S. aureus Próteses: Estafilococo coagulase- negativo (Staphylococco epidermidis) Ulcera de decúbito: anaeróbios Mordedura humana: Eikenella corrodens Mordedura/arranhadura de animais: Pasteurella/Bartonella Lesão penetrante do pé: Pseudomonas Artrite gonocócica É causada pelo Neisseria gonorrhoeae, e é comum em indíviduos em idade sexualmente ativa, sendo uma doença de difusão hematogênica, chamada de infecção gonocócica disseminada. Menstruação, gravidez e deficiência do complemento, anemia falciforme são fatores de risco. Etiologia O Neisseria gorrhoeae é um diplococo gram-negativo que está presenta em mucosas, incluindo uretra, cérvice vaginal e reto, mas pode contaminar a conjuntiva do bebê por contaminação cervicovaginal. Clinica A clínica surge em dois estágios: Uma fase bateriêmica e uma fase de artrite supurativa. - Fase bacteriêmica:é uma fase que dura em torno de 48h à 72h e é caracterizada por uma tríade – Febre, poliartrite e politenossinovite aditiva ou migratória, dermatite. - Artrite supurativa: é uma fase de monoartrite que acomete, sobretudo, joelho, quadril, tornozelo ou punho. Exames complementares Hemograma - Leucocitose > 10.000 à custa de polimorfonucleares com desvio a esquerda. - VHS aumentado > 20 mm/h - Proteina C reativa aumentada > 10 mg/dl Hemocultura Positiva apenas em 50% dos casos Punção sinovial Deve ser realizada a punção para análise de celularidade, cultura, antibiograma e bacterioscopia. - Celularidade: aumentada em leocócitos, entre 10.000 e 100.000 células/mm³. - Cultura: Em caso de suspeita de IGD, deve-se pedir ao laboratório cultura específica com ágar chocolate (Thayer-Martin), para especificar o N. gonorrhoeae. - Bacterioscopia: pode identificar o diplococo gram-negativo. Diagnóstico É feito com base na identificação do patógeno em cultura do sangue, do líquido sinovial ou de amostra da lesão cutânea. Porém, em caso de negatividade, mas clinica compatível, faz-se swab em mucosas para identificar o patógeno. Se mesmo assim a microbiologia der negativo, mas a clinica cooperar, e não houver alternativas, pode ser feito o diagnóstico presuntivo com base na resposa a antibioticoterapia. Conduta Antibióticoterapia empírica: Ceftriaxone 1g IV de 24/24h + azitromicina VO 1g em dose única. Azitromicina pode ser substituído por doxiciclina 100mg VO 12/12h por 7 dias. Em melhora dramática em 24- 48h pode ser substituído o ceftriaxone IV por amoxicilina ou ciprofloxacina VO. Em caso de artrite supurativa, o tratamento deve ser feito de 7-14 dias + drenagem articular por artroscopia ou artrotomia. Em caso de síndrome artrite- dermatite o tratamento exige apenas a antibioticoterapia por 7 dias. Parceiros sexuais de até 2 meses antes dos sintomas é recomendado uso de ceftriaxone 250mg IM + azitromicina 1g VO dose única. Artrite não-gonocócica É causada por outros patógenos não Neisseria gonorrhoeae. Os fatores de risco incluem: - Artrite reumatoide: S. aureus - Uso de glicocorticoide: S. aureus, BGN - Diabetes Mellitus: S. aureus, BGN - Hemodiálise: S. aureus, BGN - Câncer avançado: S. aureus, BGN - Álcool, imunodeficiência, anemia falciforme: pneumococo - HIV: Salmonella, hemófilo, pneumococo. - Drogas IV: Pseudomonas, S. aureus Clínica Apresenta-se quase sempre como uma monoartrite febril aguda. Acomete principalmente joelho, quadril, tornozelo e punho. - Edema, eritema, disfunção funcional, febre. Exames complementares Hemograma - Leucocitose > 10.000 à custa de polimorfonucleares com desvio a esquerda. - VHS aumentado > 20 mm/h - Proteina C reativa aumentada > 10 mg/dl Hemocultura Positiva em 60%-70% dos casos para S. aureus. Punção sinovial Deve ser realizada a punção para análise de celularidade, cultura, antibiograma e bacterioscopia. - Celularidade: aumentada em leocócitos, entre 10.000 e 100.000 células/mm³. - Cultura: Positiva na maioria dos casos - Bacterioscopia: pode identificar por meio da identificação do tipo do patógeno, como os cachos e gram+ do s. aureus. - Cristais devem ser pesquisados, mas podem coexistir com artrite por cristais. Conduta Antibiótico terapia empírica: O antibiótico deve cobrir os gram e os fatores de risco do paciente. S/fator de risco e s/germe no gram: ceftriaxone Coco Gram+: oxacilina Coco Gram+ MRSA: vancomicina Uso de drogas IV: vancomicina + antipseudomonas (ceftazidima). Gram-: ceftriaxone A terapia deve permanecer de 2 a 4 semanas, com progressão para via oral em caso de melhora com no mínimo 2 semanas por via parenteral. A drenagem cirúrgica deve ser feita por artrotomia e lavagem.
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