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TOXICOLOGIA NA MINHA MESA: UMA ANÁLISE DOS ALIMENTOS COTIDIANOS 1. INTRODUÇÃO Levando em consideração o conceito básico de toxicologia: “Todas as substâncias são venenos; não há nenhuma que não seja um veneno. A dose certa é que distingue o veneno do remédio.” (Paracelso 1493- 1541) Foi tido como necessário e essencial a criação e consolidação da legislação como também de órgãos reguladores e fiscalizadores do uso de toxinas, criando assim normas e limites para essas toxinas por meio de estudos e ensaios clínicos assim como avaliando a segurança e risco na utilização de substâncias químicas; realizando o gerenciamento de risco e controle regulatório de substancias químicas no alimento, no ambiente, nos locais de trabalho, em estudos de carcinogenicidade, mutagenicidade, teratogenicidade, visando garantir a segurança, tanto para o meio ambiente como para a população, dos riscos e efeitos adversos que esses agentes tóxicos possam vir a causar sobre os organismos vivos. Com relação aos alimentos, muitos destes apresentam agentes químicos de origem natural – inibidores de tripsina, glicosídeos, cianogênios, nitrato - e/ou contaminantes – aditivos e substâncias resultantes do processamento de alimentos, medicamentos de uso veterinário, praguicidas, migrantes de embalagens e entre outros - que podem vir a causar toxicidade nos indivíduos que o consomem, dependendo do tempo e frequência de exposição, da disposição cinética, da sensibilidade individual, da natureza e concentração do agente tóxico presente no alimento e da via de introdução no organismo. Com a globalização e o ritmo de trabalho das pessoas na atualidade, há um aumento na busca por alimentos industrializados, por fast food e por alimentos ultraprocessados e processados - pois são tidos como comidas “práticas”. Além disso, as pessoas, muitas vezes, não encontram tempo para irem a feiras orgânicas ou hortas e acabam comprando frutas e hortaliças com agrotóxicos, as vezes já descascados em embalagens de plásticos e que acabam contaminando o alimento e consequentemente a longo prazo podem vir a causar toxicidade. Todos esses alimentos apresentam em certa quantidade presença de compostos químicos - como conservantes, corantes, estabilizantes, micotoxinas, nitrato e nitrito, fatores antinutricionais entre outros – que consumidos ao longo prazo e mesmo que estejam dentro dos valores máximos de IDA e segundo a legislação, causam sintomas nocivos ao organismo, desencadeadores de modificações genéticas por exemplo, afetando consequentemente a qualidade de vida e saúde do indivíduo. Assim, é importante atentar a respeito da presença de toxinas alimentares presentes nos alimentos do cotidiano – como amendoim, batata frita, refrigerante diet, suco de maça e salame - e o seu controle por órgãos responsáveis como também sobre a ingestão diária máxima de um alimento de acordo com os valores de IDA e os valores de limites máximos aceitáveis segundo a legislação. Contudo, o objetivo desse trabalho foi discutir os possíveis agentes tóxicos presentes em alimentos consumidos diariamente por muitos indivíduos. Como também comparar a quantidade de conservantes, aditivos, etc. presentes nesses alimentos com os limites máximos aceitáveis segundo a legislação. 2. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS 2.1 MATERIAIS Rótulos de: 10 · · Amendoim · Batata frita · Refrigerante diet · Suco de maça · Salame 2.2 PROCEDIMENTOS O Quadro 1 apresenta a análise dos rótulos dos alimentos obtidos através de uma busca bibliográfica e a classificação dos possíveis componentes tóxicos presentes. Quadro 1. Alimentos analisados e seus ingredientes e possíveis componentes tóxicos presentes. Alimento Ingredientes AT naturalmente presentes AT gerados no processamento Aditivos Contaminantes Amendoim Amendoim, farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, açúcar, molho de soja, sal, amido, fermento químico bicarbonato de sódio e realçador de sabor glutamato monossódico. ALÉRGICOS: CONTÉM DERIVADOS DE TRIGO, DERIVADOS DE SOJA E AMENDOIM. PODE CONTER CENTEIO, CEVADA E AVEIA. CONTÉM GLÚTEN. Lectinas, nitrato, aflatoxina B1. Aflatoxinas Farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, açúcar, molho de soja, sal, amido, fermento químico bicarbonato de sódio e realçador de sabor glutamato monossódico. Aflatoxinas, ocratoxina, CPA, tremorgênicos, citrinina, alternariol, metil éter alternariol, ácido tenuazônico, tricotecenos, DON. Batata frita Batatas, óleo de girassol (3,9%), dextrose, estabilizador (E450). Glicosialcaloides (solanina) Acroleína Óleo de girassol (3,9%), dextrose, estabilizador (E450) – estabilizante pirofosfato dissódico. – Refrigerante diet Água gaseificada, extrato de guaraná, acidulante ácido cítrico, edulcorantes, aspartame (3,4mg/100ml) e acesulfame de potássio (9,0mg/100ml), conservador benzoato de sódio, aromatizante e corante caramelo IV – NÃO CONTÉM GLÚTEN – CONTÉM FENILALANINA. – Pode haver contaminação com o ferro da embalagem se for amassada. Acidulante ácido cítrico, edulcorantes aspartame e acessulfame de potássio, benzoato de sódio, aromatizante e corante caramelo IV. – Suco de maça Água, açúcar, suco concentrado de maça, proteína isolada de soja, mineral cálcio, vitamina C, estabilizante pectina, carboximetilcelulose e citrato de sódio, aromatizantes, acidulante ácido cítrico, antiespumante polidimetilsiloxano e edulcorante artificial sucralose. NÃO CONTÉM GLÚTEN. Glicosídeos cianogênicos (semente de maça), nitrato. – Estabilizante pectina, carboximetilcelulose e citrato de sódio, aromatizantes, acidulante ácido cítrico, antiespumante polidimetilsiloxano e sucralose. Patulina Salame Carne suína, gordura suína, leite em pó, toucinho, sal, água, fibra de colágeno, vinho branco, pimentas: preta e branca, açúcar, condimentos, extrato de alecrim, acidulante glucona-delta-lactona (INS 575), realçador de sabor glutamato monossódico (INS 621), romãs: de fumaça e natural, estabilizantes: pirofosfato dissódico (INS 450i), tripolifosfato de sódio (INS 451i) e polifosfato de sódio (INS 452i), antioxidante eritorbato de sódio (INS 316) e conservador nitrato de sódio (INS 251). NÃO CONTÉM GLÚTEN. Microrganismos como bactérias lácticas que produzem o ácido láctico. Ácido láctico, histamina, tiramina, feniletilamina, fungos filamentosos, aflatoxinas. Bisfenol A (se aquecido) Acidulante glucona-delta-lactona (INS 575), realçador de sabor glutamato monossódico (INS 621), romãs: de fumaça e natural, estabilizantes: pirofosfato dissódico (INS 450i), tripolifosfato de sódio (INS 451i) e polifosfato de sódio (INS 452i), antioxidante eritorbato de sódio (INS 316) e conservador nitrato de sódio (INS 251). – 3. RESULTADOS Os quadros 2 e 3, mostram os limites para 100ml e a Ingestão Diária Aceitável (IDA) para os edulcorantes e conservante presentes no refrigerante diet sabor guaraná. Quadro 2. Limites em 100ml e Ingestão Diária Aceitável (IDA) para os edulcorantes presentes no guaraná diet. Edulcorantes Concentração mg/100ml Limite máximo em 100ml IDA (mg/kg pc) Aspartame 34,8 75 40 Acessulfame de potássio 9,0 35 15 Quadro 3. Limites em 100ml e Ingestão Diária Aceitável (IDA) para o conservante presente no guaraná zero. Conservante Concentração mg/100ml Limite máximo em 100ml IDA (mg/kg pc) Benzoato de sódio Não especificado no rótulo 0,05 5 Os valores encontrados em mg de aditivos e conservante para um adulto de 70kg e uma criança de 20kg ao consumir uma lata de 350ml de guaraná podem ser observados a seguir: CÁLCULOS – Determinar a quantidade (em ml) em refrigerante diet que um adulto de 70kg e uma criança de 20kg podem consumir por dia, considerando os valores de IDA dos edulcorantes e conservantes presentes. · Aspartame - Quantidade de aspartame segundo o rótulo: - Quantidade limite para um adulto de 70kg: - Quantidade de ml de refrigerante que pode ser ingerida em um dia por um adulto de 70kg: - Quantidade limite para uma criançade 20kg: - Quantidade de ml de refrigerante que pode ser ingerida em um dia por uma criança de 20kg: · Acessulfame de potássio - Quantidade de acessulfame de potássio segundo o rótulo: - Quantidade máxima que pode ser colocada na lata de refrigerante zero: - Quantidade limite para um adulto de 70kg: - Quantidade de ml de refrigerante que pode ser ingerida em um dia por um adulto de 70kg: - Quantidade limite para uma criança de 20kg: - Quantidade de ml de refrigerante que pode ser ingerida em um dia por uma criança de 20kg: · Ácido benzoico e seus sais (Benzoato de sódio) - Concentração máxima permitida em uma lata de refrigerante: - Quantidade limite para um adulto de 70kg: - Quantidade limite para uma criança de 20kg: – Determinar a quantidade (em g) máxima de amendoim que um adulto de 70kg e uma criança de 20kg podem consumir por dia, considerar que existia 50% da quantidade máxima permitida por lei de micotoxinas. · Aflatoxina - Quantidade de aflatoxina na porção do rótulo: - Quantidade de aflatoxina no pacote todo segundo o rótulo: 4. DISCUSSÃO De acordo com os resultados encontrados podemos determinar a quantidade (em ml) em refrigerante diet que um adulto de 70kg e uma criança de 20kg podem consumir por dia, considerando os valores de IDA dos edulcorantes e conservantes presentes. Com relação a quantidade de aspartame segundo o rótulo foi observada a presença de 121,8mg de aspartame em 350ml (uma lata) o que apresentou estar dentro da quantidade máxima permitida que é de 265,5 mg em uma lata de refrigerante diet, levando em consideração o limite máximo em 100 ml é 75mg. Tendo em vista que esse tipo de alimento é consumido por pessoas de todas as faixas etárias, a quantidade para a IDA de um adulto com 70kg é de 2800mg de aspartame, que corresponde a 3.691ml de refrigerante para conseguir atingir a IDA, essa pessoa teria que consumir aproximadamente 11 latinhas de refrigerante guaraná zero. Já para crianças pesando 20kg a IDA é de 800mg de aspartame, que correspondem a 1055ml de refrigerante para atingir a IDA, que é aproximadamente 3 latas do refrigerante guaraná zero. Esse refrigerante apresentou os valores recomendados para o uso de aspartame, uma pessoa teria que consumir muito refrigerante para conseguir atingir a IDA em um dia. Para o uso de acessulfame de potássio, a quantidade apresentada máxima que pode ser adicionada aos refrigerantes diets é de 35mg em 100ml de refrigerante, então a quantidade máxima em uma lata de 350ml corresponde a 122,5mg de acessulfame, o guaraná zero apresentou 31,5mg de acessulfame de potássio em sua composição de 350mlm estando dentro dos valores permitidos. Os valores da IDA para um adulto de 70kg é de 1050mg de acessulfame por dia, e relacionando esse valor com o a quantidade ingerida de refrigerante seria necessário ingerir 11.666ml de refrigerante o que equivale a 33 latas de refrigerante guaraná zero para atingir a IDA. A IDA para uma criança de 20kg é de 300mg e seria necessário tomar 3.333ml de refrigerante, ou seja, 9 latas de guaraná zero para atingir o valor de 300mg de acessulfame de potássio. Os resultados referentes ao guaraná zero apresentaram dentro dos limites permitidos pela legislação. O ácido benzoico é o aditivo com a menor concentração permitida, com 0,05mg em 100ml de refrigerantes diets, na lata com 350ml é permitido 0,175mg desse ácido. No rótulo não foi informado a concentrada de ácido benzoico usada pelo fabricando, por isso não podemos relacionar e ver se os valores estão adequados. Mas o valor de IDA para um adulto de 70kg e uma criança de 20kg correspondem respectivamente a 350mg e 100mg de ácido benzoico. As aflatoxinas são formadas a partir de metabólitos tóxicos produzidos pelo fungo Aspergillus flavus que se desenvolvia sobre o amendoim após a colheita, infelizmente a maioria do amendoim que ingerimos no Brasil está contaminado com essa toxina, dessa forma pudemos observar que a quantidade máxima permitida por lei é 20µg/kg do alimento, e foi considerado que exista 50% da quantidade máxima permitida por lei de micotoxina, ou seja, 10µg/kg do alimento, na porção do alimento que é de 15g apresentou então 0,15µg de aflatoxina, mas levando em consideração que o consumo de amendoim não é apenas a porção de 15g e sim muitas vezes é consumido o pacote todo de 150g, a quantidade de aflatoxinas ingerida é de 1,5µg. REFERÊNCIAS BRASI. Resolução de Diretoria Colegiada - RDC nº18, de 24 de Março de 2008. Regulamento Técnico que autoriza o uso de aditivos edulcorantes em alimentos, com seus respectivos limites máximos. Diário Oficial da União. Brasília, 25 de Março de 2008. IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Pesquisa do Idec constata: adoçantes e bebidas light desrespeitam o Código de Defesa do Consumidor. [s.I.]: Idec notícias, 2006. Disponível em: <http://www.idec.org.br/emacao.asp?id=1153.> Acesso em: 23 de maio de 2018. FDA, 1981. Sulfanilamide Disaster. <http://www.fda.gov/aboutfda/whatwedo/history/productregulation/sulfanilamidedisaster/default.htm.> Acesso em 21/01/2015. KLAASSEN, C.D.; WATKINS III, J.B. Fundamentos em toxicologia de Casarett e Doull. 2.ed. Porto alegre: AMGH Editora, 2012. 460p. MIDIO, A.F.; MARTINS, D.I. Toxicologia de Alimentos. São Paulo: Livraria Varela, 2000. 295p. OGA, S.; CAMARGO, M.M.A.; BATISTUZZO, J.A.O. Fundamentos de toxicologia. São Paulo: Atheneu, 2008. SAUNDERS, C.; PADILHA, P.C.; LIMA, H.T.; OLIVEIRA, L.M.; BESSA, T.C.D. Atualidades sobre a recomendação de edulcorantes no caso de diabetes na gestação. FEMINA, São Paulo, v.38, nº4. Abril. 2010. SHIBAMOTO, T.; BJELDANES, L.F. Introdução à toxicologia dos Alimentos. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. 320 p. Disponível em: <https://foodsafetybrazil.org/contaminantes-quimicos-se-nao-podemos-eliminar-vamos-gerenciar/> Acesso em: 23 de maio de 2018. Disponível em: <http://bdm.unb.br/bitstream/10483/177/1/2007_BelimarCleydeSilvaBorges.pdf> Acesso em: 23 de maio de 2018. Disponível em: <http://sbrt.ibict.br/dossie-tecnico/downloadsDT/Mjk> Acesso em: 23 de maio de 2018. ANEXOS Imagem 1. Rótulo da Batata Frita Continente. Fonte: https://www.continente.pt/stores/continente/pt-pt/public/Pages/ProductDetail.aspx?ProductId=5724654(eCsf_RetekProductCatalog_MegastoreContinenteOnline_Continente) Imagem 2. Informação nutricional do suco de maça Soyos. Fonte: https://kitchenfordummies.com/tag/suco-de-maca/ Imagem 3. Rótulo do salame Sadia. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=salame+r%C3%B3tulo&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=oVJMOEN0qLkHpM%253A%252CoLYHOTOFz_xa9M%252C_&usg=__4sqhSiYA1vV6vPEj1adGteFAz0U%3D&sa=X&ved=2ahUKEwjK7Yqw64_bAhWMjZAKHZanAOsQ9QEwAXoECAEQMg#imgrc=oVJMOEN0qLkHpM: Imagem 4. Rótulo do refrigerante guaraná antarctica zero. Fonte: https://www.google.com.br/search?biw=1600&bih=794&tbm=isch&sa=1&ei=Lhj_Wo6dOsX6wQTtxLDYDg&q=GUARANA+ZERO+INGREDIENTES&oq=GUARANA+ZERO+INGREDIENTES&gs_l=img.3..0i24k1.14767.17444.0.17592.13.2.0.11.11.0.144.278.0j2.2.0....0...1c.1.64.img..0.13.326...0j0i30k1j0i8i30k1.0.2hunnemA_r4#imgrc=LCJaIDVTsSbzdM: Imagem 5. Rótulo do amendoim japonês da marca Dr. Oetker. Fonte: https://www.oetker.com.br/snacks/amendoim-frito-salgado.html
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