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W BA 00 58 _V 3. 0 PROJETOS AVANÇADOS DE INVESTIMENTOS 2 Rodrigo Monteiro da Silva São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 PROJETOS AVANÇADOS DE INVESTIMENTOS 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Ana Carolina Gulelmo Staut Revisor Renan Henrique Luquini Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Silva, Rodrigo Monteiro da Projetos avançados de investimento / Rodrigo Monteiro da Silva. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-368-1 1. Viabilidade econômica e financeira. 2. Indicadores. 3. Mercado de capitais. I. Título. CDD 332 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O S586p © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Métodos de avaliação de projetos e viabilidade econômica _ 06 Retorno e risco: o que são e como mensurá-los em aplicações de ativos no mercado financeiro _____________________________ 18 Custo Médio Ponderado de Capital __________________________ 30 Derivativos: mercado a termo, futuro e opções ______________ 42 PROJETOS AVANÇADOS DE INVESTIMENTOS 5 Apresentação da disciplina Na presente disciplina você conhecerá os principais indicadores utilizados para análise de viabilidade econômica e financeira de projetos. Toda decisão de investimento tem consigo a perspectiva de ganhos futuros, mas, associado a isso, sempre há um risco. Dessa forma, possuir conhecimentos práticos para identificar um bom projeto é vital para o sucesso de um projeto. Na disciplina você conhecerá, ainda, as principais ferramentas da matemática financeira de auxílio no processo de tomada de decisão e, também, aprenderá a identificar o momento em que as mesmas poderão e deverão ser aplicadas. Além disso, conhecer a relação entre risco e retorno de um investimento é importante para investidores, bem como ter uma percepção avançada sobre teoria das carteiras para diversificar e reduzir os riscos. Um modelo importante para isso (e que você conhecerá) será o CAPM. Outro aspecto que será discorrido ao longo da disciplina será a estrutura de capital das empresas, visto que saber como anda sua composição entre dívida de capital próprio e de terceiro irá definir alguns de seus aspectos organizacionais e de planejamento no curto, médio e longo prazo. Para isso, você aprenderá a calcular o custo médio ponderado de capital. Por fim, para melhor compreensão sobre o mercado de capitais brasileiro, você será apresentado a alguns ativos negociados na bolsa de valores e que fazem parte dos mercados a termo, futuros e opções, além de um tópico avançado de projeções a partir de simulações de Monte Carlo. 6 Métodos de avaliação de projetos e viabilidade econômica Autoria: Rodrigo Monteiro da Silva Leitura crítica: Renan Luquini Objetivos • Mostrar as principais ferramentas da matemática financeira de auxílio no processo de tomada de decisão. • Orientar a forma correta de suas aplicações. • Fazer com que o aluno saiba identificar quando aplicá-las e sua utilidade na tomada de decisão de investimentos. • Aplicar tais ferramentas de forma prática. 7 1. Métodos de avaliação de projetos e viabilidade econômica No presente tema você compreenderá que em uma organização as decisões de investimento são fundamentais para sua permanência no mercado, visto que quanto menor o retorno obtido ou, quanto mais extensa for a expectativa de retorno da operação, normalmente maior é seu risco. Dessa forma, o fundamento das decisões em termos de avaliação de um projeto de investimento está em conhecer qual o potencial ganho, ou retorno, e o risco associado. Entender o valor que um ativo de interesse da empresa possui e como esse ativo é valorado é a base para uma boa decisão, seja em razão da escolha de qual tipo de investimento realizar, qual será a composição da carteira, a definição do preço a ser pago ou recebido no tempo como o valor do investimento no tempo, entre outros. O processo de identificar opções de investimentos de capital é chamado de orçamentação de capital. O valor de um projeto ou investimento vai depender dos fluxos de caixa futuros por ele gerado. Dessa forma, nessa Leitura Digital, você conhecerá algumas das metodologias mais aplicadas para se mensurar qual a rentabilidade de um projeto de investimento com outras possíveis alternativas. 1.1 Valor Presente Líquido (VPL) O Valor Presente Líquido, comumente chamado apenas de VPL, é empregado com o objetivo de obter o valor presente de um fluxo de caixa que vai representar os ganhos de um investimento (ROSS et al., 2022). Explicado de outra forma, imagine que você aplicou uma determinada quantidade de seu dinheiro e espera que tal aplicação vá lhe render a cada período, podendo ser meses ou anos, um determinado valor, ou seja, um fluxo de caixa. No entanto, o total de renda gerado por esse fluxo de caixa precisa ser comparado com o investimento inicial, para se saber se vale a pena ou não sua aplicação. 8 De acordo com Souza e Clemente (2008), a ideia por trás dessa metodologia é, como o nome indica, gerar um valor líquido do ganho, ou perda, do investimento a ser realizado. Caso não haja nenhum tipo de restrição de capital, o VPL é uma forma de se definir uma escolha ótima, visto que maximiza o valor da empresa. O VPL, segundo Samanez (2017), pode ser calculado a partir da seguinte fórmula. Em que: VPL : Valor Presente Líquido. 0CF : Fluxo de caixa no período 0. tCF : Fluxo de caixa no período t. i = Taxa de desconto, também chamada de taxa mínima de atratividade (TMA). t : t-ésimo período. O critério de decisão na aplicação do VPL é o seguinte: VPL < 0: projeto não viável. VPL = 0: indiferente. VPL > 0: projeto viável. Exemplo: imagine que uma empresa tenha interesse de fazer um investimento para aquisição de um novo equipamento. O investimento inicial é de R$ 10.000,00 que vai gerar um fluxo de R$ 4,000.00 durante quatro anos. A uma determinada taxa de 10% ao ano, o VPL será de: 9 Como o VPL foi maior que 0, então o investimento é viável, pois seu retorno é positivo. Por ser relativamente simples seu cálculo, é possível realizá-lo por meio de fórmulas matemáticas “a mão”. No entanto, para quem quer avançar nos estudos avançados sobre a disciplina, utilizar a HP-12C ou o software Excel pode auxiliar ser um excelente meio para isso. No Quadro 1 a seguir temos o passo a passo para a obtenção do VPL por meio da HP-12C. Quadro 1 – Obtenção do VPL na HP-12C Teclas Visor Observações f REG 0 Limpeza dos registros 10000 CHS g CFo -10000 Valor inicial 4000 g CFj 4000 Valor do fluxo 1 4000 g CFj 4000 Valor do fluxo 2 4000 g CFj 4000 Valor do fluxo 3 4000 g CFj 4000 Valor do fluxo 4 10 i 10 TMA f NPV 12679,46 Valor presente 10000 2679,46 VPL Fonte: adaptado de Puccini (2011).1.2 Taxa Interna de Retorno (TIR) O VPL é uma forma, como acima apresentado, de trazer a um valor presente uma determinada quantidade de dinheiro que se espera obter 10 em um determinado período. No entanto, toda aplicação de dinheiro precisa ter uma taxa de ganho, visto que sem ela não faz sentido, do ponto de vista econômico e financeiro, tal aplicação. Imagine que você tenha a opção de ter R$ 100,00 hoje ou R$ 100,00 daqui 1 ano, qual você prefere? Tirando exceções, a primeira opção será a escolhida, correto? Mas e se as alternativas forem R$ 100,00 hoje ou R$ 10.000,00 daqui um ano? Novamente tirando as exceções, nesse caso a segunda opção será a mais escolhida, certo? Essa mesma lógica se aplica quando se pensa em trazer um fluxo de dinheiro, doravante fluxo de caixa, a valores presentes, visto que é necessário descontar os ganhos de cada período medidos pelos juros recebidos. De acordo com Puccini (2011) a taxa interna de retorno (TIR) não é aplicada com o propósito de se mensurar a rentabilidade de um investimento, mas sim indicar qual a taxa que faz com que o VPL seja nulo. Em outras palavras, a TIR é uma taxa hipotética que vai fazer com que o fluxo de caixa a valores presentes seja igual a aplicação inicial (por isso VPL = 0). A seguir é apresentada a forma gráfica da TIR. Figura 1 – Representação gráfica da Taxa Interna de Retorno Fonte: elaborada pelo autor. 11 Veja que para uma taxa i inferior a TIR o VPL é positivo, ou seja, o fluxo de caixa é maior que o investimento inicial, o que indica, como você já aprendeu, ser um bom investimento. Conforme Puccini (2011), para valores de i acima da TIR, o VPL se torna negativo, de forma que o valor do fluxo de caixa é menor que o investimento inicial, indicando ser um projeto inviável do ponto de vista econômico e financeiro. No exemplo aplicado para o cálculo do VPL, a TIR seria o valor de no qual o fluxo de caixa fosse igual ao investimento inicial de R$ 10.000,00. Uma das formas para encontrar a TIR, assim como no VPL, é por meio da calculadora HP-12C, sendo mais usual a aplicação da calculadora, dado a dificuldade do procedimento matemático. Usando os dados do exemplo anterior, na HP-12C o procedimento para a TIR será: Quadro 2 – Obtenção da TIR na HP-12C Teclas Visor Observações f REG 0 Limpeza dos registros 10000 CHS g PV -10000 Valor inicial CFo 4000 g PMT 4000 Valor do fluxo 4 g FV 4 Repetindo os fluxos f IRR 21,86% TIR Fonte: adaptado de Puccini (2011). Ou seja, se os juros da aplicação fossem de 21,86% a.a ao invés de 10%, o VPL seria igual a zero. A importância da TIR é porque ela é uma medida de comparação para análise da viabilidade. Uma TIR maior que a TMA indica um bom investimento do ponto de vista econômico e financeiro; já uma TIR menor que uma TMA, um projeto inviável. Para uma TIR igual a TMA, é indiferente a decisão de se fazer ou não o investimento. Uma forma de pensar na TMA é nos juros pagos por outros investimentos, como títulos do tesouro ou outras aplicações. 12 1.3 Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM) A Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM), assim como a TIR, é aplicada para análise de viabilidade de um projeto de investimento que traz a valores presentes um fluxo de caixa. Esse indicador, segundo Puccini (2011), é diferente em relação à TIR porque considera o custo de capital associada ao investimento. Imagine que os recursos obtidos para se fazer um projeto de investimento vieram de um empréstimo, ou seja, há um custo de capital associado a esse investimento. Assim, com o passar de cada período do fluxo de caixa, o investimento inicial fica mais caro. No exemplo anterior, foi considerado apenas uma TMA de 10% a.a. Mas se houvesse, por exemplo, juros de empréstimo ou de reaplicação, a TIR calculada não levaria esse valor em conta na análise do projeto, o que é possível de ser feito com a TIRM (ROSS et al., 2015). Na TIR os fluxos de caixa obtidos pelo projeto são constantes (a própria TIR), o que não se verifica na prática em função da existência do custo de capital. Por meio da calculadora HP-12C, a obtenção da TIRM é similar à da TIR, mas, com algumas modificações. De acordo com Ross et al. (2015), primeiro, se calcula o valor presente dos fluxos do projeto utilizando a taxa de desconto de capital. Em seguida, leva-se esse valor presente dos fluxos para o último ano do projeto. Para finalizar, calcular a taxa que faz com que o investimento inicial se transforma nesse valor futuro dos fluxos do projeto no último ano. Essa última taxa obtida vai ser a TIRM. Na calculadora HP-12C: Quadro 3 – Obtenção da TIRM na HP-12C Teclas Visor Observações f REG 0 Limpeza dos registros 4000 g PMT 4000 Repetindo os fluxos 13 4000 g PMT 4000 Repetindo os fluxos 4000 g PMT 4000 Repetindo os fluxos 4000 g PMT 4000 Repetindo os fluxos 10 i 10 Taxa f PV 12679,46 Valor presente da aplicação a taxa de 10% CHS PV -12679,46 Levando o valor presente para o final do período 4 n 4 Períodos 10 i 10 Custo de capital FV FV 18564 Valor presente levado para o último período FV 18564 Fixando como valor presente 10000 CHS PV -10000 Para obter a taxa no qual o investimento inicial seja igual ao valor futuro da aplicação do valor presente RCL 4 4 Períodos i i 16,73 TIRM Fonte: adaptado de Puccini (2011). 1.4 Payback O termo payback vem da língua inglesa e significa, literalmente, retorno. O payback, conforme descreve Puccini (2011), é o tempo necessário para que o valor investido seja recuperado, ou seja, o tempo que decorre para os rendimentos do fluxo de caixa esperado ser igual ao investimento inicial realizado. Fica explícito na ideia por trás do payback a noção de fluxos de caixa, que, como visto, representam as parcelas que se esperam receber em função do investimento realizado. Um ponto que vale a pena destacar 14 é que se o fluxo de caixa não for corretamente realizado, o payback não será eficaz em sua análise. Utilizando os dados do exemplo anterior, você será apresentado ao payback simples de um investimento de R$ 10.000,00 que vai render um fluxo de caixa de R$ 4.000,00 em quatro períodos. Quadro 4 – Cálculo do payback simples Períodos Fluxo contínuo Fluxo descontínuo Saldo 0 -R$ 10.000,00 -R$ 10.000,00 -R$ 10.000,00 1 R$ 4.000,00 R$ 3.000,00 -R$ 7.000,00 2 R$ 4.000,00 R$ 2.500,00 -R$ 4.500,00 3 R$ 4.000,00 R$ 4.000,00 -R$ 500,00 4 R$ 4.000,00 R$ 3.500,00 R$ 3.000,00 Payback simples 2,5 3,166... Anos 2 3 Meses 6 2 Fonte: adaptado de Puccini (2011). Observe que dado um fluxo contínuo de R$ 4.000,00, basta dividir o valor investido pelo fluxo. Veja que do 2 para o 3 ano o dinheiro investido (R$ 10.000,00) é recuperado. Para encontrar a quantidade de meses basta multiplicar o valor decimal (0,5) por 12, que será igual a 6. Logo, no exemplo acima, o payback é de 2 anos e 6 meses. Mas e para o caso de um fluxo de caixa descontínuo, como apresentado na terceira coluna do Quadro 4? O procedimento é similar, porém, ao invés de dividir o investimento inicial pelo valor do fluxo, basta ir subtraindo de cada fluxo atual o valor passado (ex.: no período 1, basta subtrair R$ 3.000,00 de R$ -10.000,00, chegando no valor de R$ 7.000,00) (note que o valor inicial sempre é negativo, pois indica um desembolso). 15 Nesse caso, observe que o fluxo de caixa se torna positivo entre o terceiro e quarto ano. Assim, para encontrar o tempo de retorno, basta somar ao último período do saldo negativo, a divisão do último fluxo negativo com o primeiro fluxo positivo (3+500/300 = 3,166...). Multiplicando 0,166... por 12, para se obter os meses, o tempo de retorno será de 3 anos e 2 meses. 1.5 Payback descontado Assim como você aprendeu no cálculo da TIR e da TIRM, um ponto importante a ser considerado no cálculo dos indicadores de viabilidade é o fato de que existe um custo de capital envolvido nas transações financeiras. De acordo com Souza e Clemente (2008), no payback simples tal fato nãoé levado em consideração. O payback descontado, por definição, indica o tempo necessário para se recuperar o recurso aplicado em um investimento, mas considerando o valor do dinheiro no tempo, ou seja, fazendo os descontos dos saldos futuros do fluxo de caixa a uma determinada taxa, normalmente a TMA. D acordo com Puccini (2011), a diferença entre o payback simples para o descontado é apenas que no primeiro não se considera a taxa de desconto do fluxo de caixa no tempo. Dessa forma, considerando uma taxa de desconto (TMA) de 10%, o payback descontado pode ser obtido da seguinte forma: Quadro 5 – Cálculo do payback descontado Períodos Fluxo sem desconto Fluxo com desconto Saldo 0 -R$ 10.000,00 R$ 10.000,00 -R$ 10.000,00 1 R$ 4.000,00 R$ 3.636,36 -R$ 6.363,64 2 R$ 4.000,00 R$ 3.305,79 -R$ 3.057,85 3 R$ 4.000,00 R$ 3.005,26 -R$ 52,59 4 R$ 4.000,00 R$ 2.732,05 R$ 2.679,46 Descontado 3,0196278 16 Anos 3 Meses 0,24 Dias 7 Fonte: adaptado de Puccini (2011). Veja que agora, ao considerar o valor do recurso aplicado descontado pela TMA o tempo de retorno aumentou! Mas qual a razão disso? Simples, como no payback simples não se considerava o valor presente de cada fluxo de caixa, o valor de cada fluxo era maior. Ao se incorporar essa taxa de desconto, tem se o valor presente do recurso aplicado, sendo dessa forma um melhor critério de informação para a análise de viabilidade de um projeto. 1.6 ROI Por fim, mas não menos importante, o indicador utilizado para verificar o resultado financeiro de um investimento já realizado. Diferente dos demais indicadores apresentados, o ROI, sigla que vem do inglês e significa Return Over Investiment, ou Retorno Sobre o Investimento, vai indicar o percentual de ganho de um investimento já realizado, normalmente indicado para situações em que os valores das receitas e custos da operação sejam bem definidos (SAMANEZ, 2007; ROSS et al., 2022). O resultado obtido pelo ROI poderá ser positivo, negativo ou nulo e a forma de obtê-lo é, dos indicadores apresentados, o mais simples, visto que é calculado a partir da receita ou ganho obtido menos o custo da operação dividido (ou investimento inicial) dividido pelo custo da operação dividido (ou investimento inicial), como apresentado abaixo: 17 Dessa forma, supondo um ganho de R$ 12.679,46 e um custo inicial de R$ 10.000,00, o ROI desse investimento será de: Ou seja, retorno sobre o investimento é de 26,79%. No presente tema, você aprendeu a utilizar os principais indicadores de análise de viabilidade econômica e financeira, sendo agora capaz, por meio da utilização de fórmulas matemáticas e com auxílio de ferramentas como a calculadora HP-12C, a obter informações úteis para a tomada de decisão por parte do responsável por tais análises. Referências PUCCINI, Abelardo. Matemática financeira objetiva e aplicada. São Paulo: Elsevier Brasil, 2011. ROSS, Stephen et al. Fundamentos de administração financeira. Bookman Editora, 2013. SAMANEZ, C. P. Gestão de Investimentos e Geração de Valor. São Paulo: Pearson, 2007. SOUZA, A.; CLEMENTE, A. Decisões Financeiras e Análise de Investimentos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 18 Retorno e risco: o que são e como mensurá-los em aplicações de ativos no mercado financeiro Autoria: Rodrigo Monteiro da Silva Leitura crítica: Renan Luquini Objetivos • Mostrar as definições de retorno e risco. • Indicar metodologias aplicadas no setor financeiro para mensuração dos riscos e retornos de um investimento. • Analisar de forma aplicada essas metodologias. • Compreender a importância da diversificação de ativos. 19 1. Retorno e risco: o que são e como mensurá-los em aplicações de ativos no mercado financeiro Ao se pensar em um investimento, na realidade, a decisão de realizá-lo ou não, acontece em um cenário em que há, e muita, incerteza quanto aos seus rendimentos. Isso ocorre porque os resultados positivos esperados ocorrerão no futuro, motivo pelo qual a incerteza e o risco sempre estarão presentes. É justamente essa variável, o risco, que fomenta diversos estudos na área de mercado financeiro e de capitais. Sempre que o risco puder ser, de alguma forma, quantificado mediante a aplicação de algum modelo matemático ou estatístico, é comum empregar a expressão de que a decisão vai ser tomada sobre uma situação de risco, o que implica dizer que o risco é uma maneira de se medir a incerteza de uma escolha/decisão por meio do conhecimento das chances de ocorrência, ou não, de possíveis resultados. Na presente Leitura Digital, você aprenderá formas de dimensionar risco e retorno de ativos relacionados às decisões no mercado financeiro, como a teoria do portfólio, diversificação e modelo CAPM. 1.1 A relação entre risco e retorno Antes de iniciarmos nossa Leitura Digital, é importante que alguns conceitos fiquem bem claros para que você possa compreender todos os conteúdos desenvolvidos. O termo capital aqui é aplicado como algo que alguém (o investidor) possui e é possível negociar; já ativo é o capital próprio desse investidor e carteira nada mais é do que um conjunto de ativos. A relação entre risco e incerteza deve ser compreendida, também, a partir das definições aplicadas no mercado financeiro. Sempre que alguém está interessado em investir seus recursos financeiros ele espera ter um ganho, essa espera, ou expectativa, é 20 considerada como o retorno do investimento. Esse retorno, porém, como indicam Veiga e Cruz (2009) só se realizará no futuro quando houver o seu resgate (momento de retirar o recurso aplicado no investimento) de modo que o retorno obtido pode ser diferente do retorno esperado quando foi feito. Dessa forma, dado essa diferença entre retorno obtido e esperado há a incerteza. O risco, por definição, pode ser entendido como uma forma de mensurar a incerteza, ou em outras palavras, a probabilidade de o retorno obtido ser diferente do esperado. A partir das definições expostas, você já está apto a compreender o básico sobre o funcionamento do mercado financeiro em termos de risco e retorno. Mas a questão que fica é: Existe alguma relação entre ambos? Para melhor compreensão, imagine o seguinte cenário: dois ativos disponíveis no mercado que possuem o mesmo risco, mas um possuindo maior retorno que o outro. O que esperar dos investidores? Sem pensar muito, eles investiriam no ativo com maior rentabilidade, não é mesmo? O outro ativo seria escolhido apenas se elevasse sua rentabilidade. Na realidade, nos mercados, existem diferentes tipos de ativos, com diferentes rentabilidades e riscos, de forma que ativos com maior retorno potencial estão associados a um maior risco. Isso ocorre, pois, caso não oferecessem uma elevada rentabilidade, não seriam escolhidos (ROSS et al., 2022). Sempre que você quiser avaliar um ativo para investimento, esteja atento a relação entre risco e retorno, pois, sempre que um ativo é apresentado como tendo um retorno potencial muito alto, saiba também que o risco também o é! Um ponto importante a se salientar, de acordo com Ross et al. (2022), são os tipos de riscos existentes em operações financeiras. A seguir é listado os principais riscos que devem ser considerados ao se fazer um investimento em ativos financeiros: 21 a. Risco de mercado: esse risco diz respeito aos riscos relacionados a mudanças no cenário econômico no país onde o investimento foi realizado. Entre os fatores que podem afetar esse risco estão: inflação, taxa de juros da economia, mudanças na taxa de câmbio e qualquer outra variável relacionada a economia. Esse risco afeta diretamente a rentabilidade do investimento (imagine, por exemplo, que um aumento da inflação vai reduzir o retorno real investido). b. Risco de crédito: esse risco está associado à confiabilidade entre as partes envolvidas na negociação, pois, investimentos financeiros nada mais é do que um empréstimo a ser resgatado em algum momento no futuro com algum ganho (normalmente jurosou valorização do ativo). Pode ocorrer da contraparte não honrar suas obrigações. c. Risco de liquidez: este está associado ao fato de que talvez o ativo investido perca sua capacidade de ser facilmente transacionado por outros ativos, principalmente dinheiro. Um ativo que perde liquidez acaba perdendo sua atratividade, o que tende a reduzir seu valor (ninguém quer algo que não pode ser trocado). d. Risco operacional: risco relacionado a possíveis problemas de ordem tecnológica (sistema) ou humana. São falhas internas na gestão do ativo e que podem comprometer seu retorno. e. Risco legal: esse risco tem relação com as mudanças na legislação ou burocracia na negociação de um ativo. Podem ocorrer quando a empresa não está seguindo normas ou regulamentações estabelecidas por lei. Agora que você sabe sobre os tipos de riscos, vamos dar início a forma como eles são mensurados e calculados. No entanto, lembre-se, por ser a aplicação de ferramentas da estatística, as estimativas não são 100% garantidas, visto que existem diversos tipos de eventos que podem ocorrer ao longo da maturação do investimento. 22 Como aponta Assaf Neto (2018), dado as características do mercado de capitais, basicamente a possibilidade de previsão e a existência da incerteza, é imprescindível a aplicação da estatística, notoriamente a descritiva, visto que ela influenciou expressivamente a evolução nos estudos relacionados ao funcionamento no mercado financeiro. A estatística descritiva é um meio de compreender atributos de uma população e suas amostras, principalmente em termos de comportamento em torno da média, razão pela qual aprenderemos nessa leitura sobre médias simples e ponderada e medidas de dispersão, como desvio padrão e variância. 1.2 Média, desvio padrão, variância e suas aplicações A média na estatística faz parte do grupo dos indicadores das chamadas medidas de tendência central e podem ser de diversos tipos, como média aritmética simples e ponderada. Como descreve Assaf Neto (2018), a média aritmética simples é uma forma de indicar o valor médio de uma distribuição de valores de uma população ou amostra e é obtida ao se dividir os valores relacionados ao conjunto de valores pela quantidade de observações que o compõem. Matematicamente: Exemplificando: cinco diferentes ativos tiveram um retorno de 25%, 30%, 45%, 12% e 15%. A partir desse conjunto de valores, o retorno médio das cinco aplicações foi de: 23 Veja, no entanto, que a média simples é sensível aos valores considerados no cálculo, distorcendo o resultado na presença da uma observação com um valor extremo (como exercício, resolva a média acima para o terceiro ativo com uma rentabilidade de 99% e depois com uma rentabilidade de 1%, ao invés de 45%, e compare com o resultado da média de 25,4%). Para corrigir esse problema, usa-se a média ponderada, que atribui pesos diferentes para cada observação da amostra, diferente da média simples que considera que todas as observações tenham a mesma importância (peso) (VEIGA; CRUZ, 2009). A média ponderada pode ser representada pela seguinte fórmula: Utilizando os valores do exemplo da média simples, imagine que o rendimento daqueles ativos faz parte da sua carteira de investimentos, da seguinte forma: • Ações que rendem 25% e representam 20% de sua carteira. • Fundos de investimento que rendem 30% e representam 15% de sua carteira. • Títulos do tesouro com rendimento de 45% e representam 5% de sua carteira. • Títulos de renda fixa que rendem 12% e totalizam 35% da carteira. • Fundos imobiliários com rendimento de 15% e representam 25% da carteira. Nesse caso, a média ponderada dos rendimentos de seus ativos é de: 24 Veja que o resultado, ao se ponderar os valores das observações, difere da média simples. A variância e o desvio padrão, por sua vez, são medidas de dispersão, utilizados como uma forma de quantificar a incerteza em relação a um ativo, pois irá indicar a sua variação em relação a sua média, ou seja, vai mostrar as perdas ou os ganhos (ROSS et al., 2022). É amplamente utilizado, pois, se calculado para valores discretos, o desvio padrão é um indicativo de risco, já para uma série de dados temporais indicará a volatilidade. Normalmente, o desvio padrão é representado pela letra grega sigma (σ) quando é calculado para a população e por um (s) quando obtido por meio de uma amostra. Para calcular a variância e o desvio padrão, deve-se saber calcular o retorno esperado de um ativo, dado pelo somatório do produto dos rendimentos esperados por suas respectivas probabilidades de ocorrência, utilizando a seguinte fórmula: A partir do retorno esperado (que da forma como foi apresentado é similar à média ponderada), obtém-se a variância e o desvio padrão, esse último sendo a raiz quadrada da variância. E o desvio padrão: 25 Onde: Pri :probabilidade de retorno; R i : retorno do ativo na carteira; E(R) : retorno esperado. Vamos aplicar em um exemplo: imagine duas carteiras de investimentos que apresentam o seguinte retorno e probabilidade para cada ativo: Tabela 1 – Retorno e probabilidades dos ativos das carteiras X e Y Ativo X Ativo Y Retorno Probabilidade Retorno Probabilidade 5% 20% 50% 10% 15% 30% 10% 30% 14% 30% 20% 40% 20% 20% 30% 20% Fonte: adaptado de Assaf Neto (2018). Aplicando as fórmulas de retorno esperado e variância, obtemos o desvio padrão: Ativo X Ativo Y Retorno Probabilidade (R-ER)2 Pr.(R-ER)2 Retorno Probabilidade (R-ER)2 Pr.(R-ER)2 0,05 0,2 0,007569 0,00151 0,5 0,1 0,0784 0,00784 0,15 0,3 0,000169 0,00005 0,1 0,3 0,0144 0,00432 0,14 0,3 0,000001 0,00000 0,2 0,4 0,0004 0,00016 0,2 0,2 0,003969 0,00079 0,3 0,2 0,0064 0,00128 E(R)=13,7% Variância 0,23% E(R)=22% Variância 1,36% Desvio Padrão 4,85% Desvio Padrão 11,66% Fonte: adaptada de Assaf Neto (2018). Quanto maior a variância e o desvio padrão, maior será a dispersão dos valores (rendimento) de cada observação (ativo). No caso das carteiras X e Y, a X apresentou menor variância e desvio padrão que a Y, ainda que a Y tenha um maior retorno esperado. 26 1.3 Teoria das carteiras Ao se tratar sobre mercado financeiro e sobre as formas de se analisar os riscos e o potencial retorno de um investimento, existem algumas teorias que surgiram, entre elas a Teoria das Carteiras, também conhecidas como teoria de Portfólios. Essa teoria trata sobre como os investidores que são avessos ao risco, ou seja, aquele tipo de investidor que não está disposto a arriscar seu capital para ter elevados retorno, podem montar suas carteiras de forma a maximizar o retorno esperado, e isso se baseando nível determinado de risco de mercado (ASSAF NETO, 2018; VEIGA; CRUZ, 2009). Essa teoria foi criada por Harry Markowitz, ganhador do prêmio Nobel em Economia, e propõe que o risco de uma carteira pode ser verificado a partir da variância (que você já aprendeu a calcular) dos retornos, de forma que um ativo com elevada variância em seu retorno é tido como de alto risco, de forma que os potenciais investidores irão preferir ativos com um retorno maior e risco menor. A partir da teoria das carteiras, segundo Assaf Neto (2018), é possível definir um limite, ou fronteira, eficiente, que indicará as melhores combinações de ativos com maiores retornos, dado um nível de risco determinado. A teoria, que propõe a quantificação de um risco para um conjunto de potenciais retornos de ativos, é um dos fundamentos do que é chamado hoje de estudos avançados na área das finanças e estabelece que um investidor vai assumir mais riscos somente se desejar mais retorno, mas por ser avesso ao riscos, não irá adquirir ativos mais arriscados caso não haja à espera de um maior retorno esperado, e esse retorno é baseado nos retornos passados adaptados a técnicas como análise técnicas e ou fundamentalistas (VEIGA; CRUZ, 2018). Uma forma simples de se pensar essa teoria é assumir que os ganhos dos últimos x anos vão se manter no futuro, a partir do valormédio de rendimento verificado, ajustados a partir de alguma metodologia supramencionada. 27 Um recurso aplicado na teoria das carteiras é a fronteira eficiente de Markowitz, que indica as combinações possíveis de ativos em um gráfico que relaciona retorno esperado com risco, mostrando a escolha mais eficiente em termos de risco e retorno, como na Figura 1 a seguir: Figura 1 – Fronteira eficiente Fonte: adaptada de Assaf Neto (2018). Note que, como você já aprendeu, quanto maior o desvio padrão, maior o risco. O conjunto representado pela área sombreada indica diferentes possibilidades de carteiras e, o segmento MW, é a chamado de fronteira eficiente, pois qualquer escolha sobre ele indica um maior retorno associado a um menor risco (por exemplo, a carteira A é mais eficiente que a carteira representada pelo ponto 6, visto que garante o mesmo retorno esperado com um risco menor). 1.4 O modelo de precificação de ativos de capital (CAPM) O modelo Capital Asset Price Model (CAPM) foi criado por William Sharpe e tem como objetivo indicar o retorno de um ativo baseado no seu risco, chamado de risco não diversificável, e é baseado na teoria das carteiras 28 acima apresentado. Em outras palavras, é um modelo de precificação que vai auxiliar na estimação do custo de capital próprio, que nada mais é do que o retorno mínimo esperado pelo investidor ao investir (ROSS et al., 2022). A fórmula padrão do CAPM é dada por: Onde: E(Ri) Retorno esperado mínimo do investimento (custo de capital). Rf: taxa de retorno livre de risco, que representa a taxa de retorno mais segura do mercado, no Brasil normalmente mensurada pelos títulos públicos. βi: Beta do ativo, que é uma forma de mensurar a sensibilidade do preço de um ativo frente à variação do mercado. Quando o βi é maior que 1 o ativo é mais arriscado que o mercado (varia mais). Exemplo, para um βi de 2,5, se o mercado subir um 1%, o valor da ativo vai se elevar em 2,5%. [E(R ) R ]m f− : Prêmio de risco do mercado. O termo E(Rm) indica a taxa de retorno de todo o mercado (usualmente aproximada pela B3 no Brasil). De acordo com Assa Neto (2018), o Beta do ativo é um elemento muito importante na estimativa do modelo CAPM, pois é ele que vai indicar o prêmio de risco. Como já aprendemos, quanto maior o retorno esperado, maior tende a ser o risco, e quanto menor o risco, menor o retorno esperado. Vamos adotar o seguinte exemplo: Dado um Rf de 13,75% (valor da Selic no início do 2° semestre de 2022), um beta de 0,9 e um Rm de 21,78% (o esperado para a B3 no primeiro trimestre de 2022). O retorno esperado mínimo do investimento seria: 29 Ou seja, se o retorno do mercado é de 21,78%, com uma taxa livre de risco de 13,75% (que seriam os ganhos do título público) e um beta de 0,9 vai fazer com que o investidor exija um retorno de no mínimo 20,97%. Note que como é um ativo com menor risco do que o mercado (Beta<1), o retorno vai ser menor do que o de mercado (lembre-se, quanto maior o retorno desejado, é necessário assumir um risco maior). Se o Beta for maior do que um, o risco do ativo vai ser maior que o risco do mercado, mas o retorno vai ser maior (como exercício de fixação, refaça o cálculo anterior utilizando um B de 1,5 e veja o resultado. Referências ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. São Paulo: Atlas, 2018. ROSS, S. et al. Fundamentos de administração financeira. Rio de Janeiro: Bookman Editora, 2022. VEIGA, A. L. B; CRUZ, M. A. Fundamentos de Finanças. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 30 Custo Médio Ponderado de Capital Autoria: Rodrigo Monteiro da Silva Leitura crítica: Renan Luquini Objetivos • Entender o que é ativo e passivo. • Compreender sobre estrutura de capital e seus riscos. • Aprender a analisar a estrutura de capital de uma empresa. • Analisar o retorno mínimo para o investimento de uma empresa por meio do Custo Médio Ponderado de Capital. 31 1. Custos: capital próprio e de terceiros e sua relação com os investidores Um aspecto fundamental para a manutenção das atividades de uma empresa: sua fonte de recursos. Assim como pessoas físicas que para viverem precisam de dinheiro para poder atender suas necessidades, empresas também demandam recursos para conseguir se financiar. As fontes desses recursos podem ser de seus sócios e proprietários como também por meio de endividamento com terceiros. A forma como a empresa financia suas atividades entre dinheiro próprio ou de terceiro é importante, pois dirá a quão endividada ela está indicando quanto de seus custos é de capital próprio ou de terceiros e, assim, o seu grau de alavancagem. Na presente leitura você aprenderá conceitos da contabilidade além de estimar o Custo Médio Ponderado de Capital da empresa 1.1 A organização contábil de uma empresa: passivo e o ativo Você deve ter notado que um aspecto importante para o investidor é, de alguma forma, mensurar o risco associado a um investimento. As pesquisas na área das finanças desenvolveram ao longo das décadas metodologias diversas que hoje são amplamente utilizadas e continuamente aperfeiçoadas. Dentre essas metodologias, nessa Leitura Digital, para que você possa compreender a metodologia de Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ou Weighted Average Cost of Capital (WACC) é de extrema importância que saiba o que o custo representa para uma empresa, especialmente o chamado custo de capital próprio e o custo de capital de terceiros. 32 Conforme Assaf Neto (2018), abordando esse tema de uma forma geral, as empresas, especialmente as de capital aberto, adotam por exigência de lei o controle de seus recursos, especificamente as suas origens e seu destino. Para isso, emprega-se o chamado Balanço Patrimonial, ou simplesmente BP, que mostra a relação entre origem e destino de todos os recursos da empresa. Por origem, entenda como sendo de onde o recurso veio para ser aplicado e, como destino, onde ele foi aplicado. Por definição, como indicado por Martins, Diniz e Miranda (2020), essa relação entre origem e destino também é chamada de passivo e ativo, respectivamente. O passivo indica de onde o recurso veio e indica uma obrigação da empresa, enquanto o ativo mostra a aplicação e representa um bem ou direito. O BP é subdivido entre três grandes contas: ativo; passivo; e patrimônio líquido, estando o ativo no lado esquerdo e passivo e patrimônio líquido no direito, como apresentado a seguir: Quadro 1 – Estrutura básica de um Balanço Patrimonial Ativo Passivo (capital de terceiros) Capital próprio (patrimônio líquido) Fonte: adaptado de Martins, Diniz e Miranda (2020). O passivo, como já mencionado, indica a origem e também uma obrigação, pois é ele que mostra quem injetou dinheiro na empresa, ou seja, se a fonte de financiamento das atividades da empresa é de seus sócios (capital próprio) ou se foi obtida por terceiros. De uma forma geral, o capital próprio e capital de terceiros indicam o passivo de uma empresa (MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2020). O capital próprio, também chamado de patrimônio líquido, indica o conjunto de contas que mostram os recursos da empresa que foram obtidas pelo(s) proprietário(s). Nesse aspecto, esse tipo de capital também pode ser dos chamados acionistas, ou seja, de quem adquiriu 33 ações daquela empresa. Nessa conta está o capital que de fato foi inserido na empresa pelos sócios (na contabilidade a expressão utilizada é capita integralizado) mais os lucros e prejuízos acumulados. O capital de terceiros, por sua vez, e como o próprio nome indica, é todo recurso aplicado na empresa que foi obtido por pessoas ou empresas que não são sócios ou proprietários. Assim, segundo Assaf Neto (2018), qualquer capital financeiro aplicado na empresa que não seja de um sócio é chamado capital de terceiros. Pelo Quadro 1 fica evidente que está representado na conta passivo, que também possui duas grandes divisões: i) passivo circulante: dívidas da empresa que são liquidadas em um curto prazo(normalmente um ano), e; ii) passivo não circulante: dívidas de longo prazo. Essas definições são importantes pois, dentro do assunto de nossa disciplina, quando se pensa em investir em uma empresa, ou seja, comprar suas ações, é fundamental compreender sua estrutura de custos (ROSS et al., 2013). As empresas possuem diversos tipos de custos, desde custos que variam com a produção (como água, eletricidade etc.) como custos que não variam com a produção (aluguel, serviços de segurança). Outro tipo de custo muito comum que as empresas possuem são empréstimos e financiamentos que são utilizados para manutenção de suas atividades. De uma forma específica, nos estudos sobre mercado financeiro e investimentos, o capital de terceiros, indica dívidas da empresa com banco, financiamentos ou debêntures (títulos que representam dívidas que a empresa negocia com pessoas físicas ou jurídicas), e o custo de capital de terceiros são os juros que serão pagos (MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2020). Um ponto que vale ser destacado é: qual capital tem maior custo, o próprio ou o de terceiros? Talvez você tenha imaginado que o de terceiros é maior porque paga juros, enquanto o próprio não, certo? Errado! Ao pensar no capital próprio como o dinheiro de acionistas, dado o que você já aprendeu ao longo da disciplina, o acionista (investidor) quer ter um ganho ao realizar um investimento. Esse retorno sobre 34 o investimento normalmente tende a ser maior que os juros de um empréstimo, pois caso não fosse, o investidor iria realizar empréstimos, não adquirir ações, ou seja, quem investe em uma empresa (com maior risco) se não esperasse um retorno maior do que o de uma renda fixa (com menor risco) (ROSS et al., 2013). Isso é importante pois, para que uma empresa consiga atrair investidores, ela deve preocupar-se em dar um bom retorno para seus sócios. A questão que fica é: uma empresa com elevado passivo, ou seja, com muito capital de terceiros como fonte de financiamento, vai ter que arcar com os juros indistintamente se apresentar um mal resultado, como esse tipo de empresa vai ser atrativa para investimentos nessa situação? De outra forma, como um potencial investidor pode definir se vale a pena ou não a compra de ações de uma empresa que apresenta esse tipo de estrutura em seu passivo? 1.2 O conceito de alavancagem e sua relação com riscos e retorno Já vimos que uma empresa tem suas obrigações representadas pelo lado direito de seu Balanço Patrimonial, tendo que remunerar tanto seus sócios como os não sócios. Em termos de remuneração dos sócios, a empresa o faz ou quando ocorre uma valorização do valor de suas ações, o que representa um ganho para o acionista, como pela distribuição de seus lucros. Já o capital de terceiros, como mencionado, pode ser representado pelos juros pagos aos empréstimos aos bancos os as debêntures emitidas. Por um lado, em termos dos custos de capital de terceiros, esse custo é mais arriscado para a empresa, porque, nesse caso, ela terá que honrar com sua dívida mesmo em um momento de dificuldade financeira (com poucas exceções). Dessa forma, para quem possui esse crédito com a empresa acaba tendo um menor risco, visto que maiores são as garantias de receber, e, como visto, quanto menor o 35 risco, menor o retorno potencial para esse investidor – quem comprou a debênture, ou debenturista. Por outro lado, quando ela (empresa) obtém recursos por meio de ações, as pessoas que as adquirem se tornam proprietárias, não tendo nenhuma garantia (como no caso do capital de terceiros) de ganho. Nesse caso, o risco para a empresa diminui, porém, aumenta para os acionistas e, por consequência, o retorno esperado é maior. Por esse motivo, pesquisas mostram que o custo de capital próprio é maior que o custo de capital de terceiros. Veja como é complexa a análise em termos de estrutura de custos tanto para a empresa como para o investidor. Para a empresa, o risco com capital de terceiros é maior, porém, o retorno é menor (ainda que tenha que ser pago mesmo em momentos de crise financeira) enquanto para o investidor (debenturista) o risco e retorno são menores. Como apontam Assaf Neto (2018) e Martins, Diniz, Miranda (2020), se a empresa tem a possibilidade de ter a maior parte de seu capital como próprio, então, seu risco é menor, porém, o risco do investidor é maior, logo, o retorno também deve ser. Em termos de estrutura de custos, quando a empresa possui muito de seu capital sendo de terceiros, se diz que ela está alavancada, ou seja, está muito endividada, o que pode ser negativo para a empresa, pois, mesmo com o custo desse capital sendo menor do que o custo de capital próprio, ela tem que arcar com eles, independentemente de seu resultado e, caso ela esteja em uma situação frágil, tal custo é um grande problema. Uma forma de representar matematicamente a alavancagem é: 36 Veja que o denominador representa o capital total da empresa, de forma que quanto maior o capital de terceiros, maior é o grau de alavancagem da empresa (ROSS et al., 2013). 1.3 Custo total o ponderado de capital, o modelo CMPC Como acima mencionado, a empresa possui dois tipos de custos, o relacionado ao capital próprio e o do capital de terceiros. O custo de capital de terceiros é normalmente representado pela soma do que é pago em termos de juros pagos nos empréstimos, debêntures e financiamentos enquanto o custo de capital próprio é mensurado pelo retorno esperado dos acionistas (sócios). Uma empresa pode ter elevado retorno, mas esse resultado pode ser por estar muito alavancada (muito custo com capital de terceiros), de forma que retorno não é sustentável, pois maior parte dele vai ser redirecionado a cobrir sua dívida com terceiros. Por essa razão, existem alguns indicadores de endividamento, como a relação dívida bruta e patrimônio líquido e endividamento geral. Compreender a estrutura de custo é importante tanto para a empresa como para o investidor, pois para a empresa, seu objetivo é ter o menor custo de capital (dado pela soma do custo de capital próprio e de terceiros) possível, e para o investidor, para saber de fato a real situação da empresa para poder dimensionar o retorno esperado e o risco associado. Uma boa estrutura de capital é aquela que é capaz de combinar o nível de alavancagem com as expectativas de retorno dos investidores (ASSAF NETO, 2018; MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2020). Uma forma de se avaliar a estrutura de custos da empresa é ponderar o quanto de seus recursos é de origem própria e o quanto é de terceiros, para saber sua condição de alavancagem. Para isso, analistas desenvolveram o chamado Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC). 37 Esse indicador vem do inglês Weighted Average Cost of Capital (WACC) e possui diversas aplicações (ROSS et al., 2020). Mas como saber o “peso” de cada capital? Para isso, basta dividir o capital próprio e de terceiros pelo capital total da empresa. Uma forma de aproximar o capital próprio é verificar o valor de mercado do patrimônio líquido da empresa, para isso, basta multiplicar o número de ações por seu preço. Já o capital de terceiros pode ser medido pelo valor de mercado da dívida que a empresa possui multiplicando o preço do título da dívida por sua quantidade (para vários títulos, basta fazer isso para cada tipo e ao final somar tudo) (ROSS et al., 2013). O capital total é dado pela soma desses dois elementos. Vamos usar a letra E para representar o patrimônio líquido da empresa (capital próprio) e a letra D para a dívida da empresa (capital de terceiros). Ao somar esses dois termos teremos o capital total da empresa, dado por V. Ao dividir os dois lados da equação por V, tem-se o percentual do capital total que é próprio e de terceiros. Cada um dos percentuais E/V e D/V indicam o peso de cada capital na estrutura de custos da empresa. Como já mencionado, o custo de capital próprio é maior que o custo de capital de terceiros, de formaque, quanto maior for a participação daquele capital, maior tende a ser o valor do CMPC. Imagine, por exemplo, que uma empresa tenha um total de 100 mil ações em circulação, cada uma valendo R$ 20,00 e que o valor de sua dívida é de R$ 750.000,00. 38 Para encontrar o total de capital próprio basta multiplicar cem mil ações por R$ 20,00 e, somando aos R$ 750.000,00 de dívida, obtém-se a estrutura de capital. Assim: e Esses resultados indicam que 72,72% do financiamento da empresa é de capital próprio e 27,28% de terceiros. Dois aspectos que devem ficar claros para se calcular o CMPC da empresa é o fato de que existem os impostos, que são dedutíveis para fins fiscais (ou seja, parte do custo com juros é abatido) e que o custo de capital próprio indica o percentual de retorno mínimo esperado pelo acionista, que você já sabe como obter (dica: CAPM!). Um exemplo numérico talvez ajude a compreender a relação dos impostos sobre os juros da dívida da empresa. Suponha que uma empresa faça um empréstimo no valor de R$ 600 mil devendo pagar juros de 20% e possua uma alíquota de tributação no valor de 25%. Nesse cenário, qual será o a taxa de juros paga após a dedução do imposto? Os juros pagos pelo empréstimo serão de R$ 120 mil, que por ser dedutível de impostos reduziram para R$ 90 mil. Dessa forma, os juros pagos serão de 15% (R$ 90 mil dividido por R$ 600 mil). Veja que é possível obter o mesmo valor para os juros após impostos ao subtrair da 39 alíquota e multiplicar pelos juros. Utilizando a letra T para representar o imposto como i (que como aprendemos significa o custo de capital de terceiros, teremos: Utilizando os valores do exemplo acima: 1.4 Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) A partir de tudo o que vimos nas seções anteriores, vamos calcular o CMPC, ou WACC. A fórmula padrão é dada por: Em que RE representa o custo de capital próprio (obtido por meio do modelo CAPM), RD o custo de capital de terceiros e T os impostos. Uma forma de se entender o CMPC é de forma aplicada, então vamos lá. Imagine que a empresa Anonimos. LTDA possua 100 mil ações em circulação, cada uma delas com valor de R$ 20,00; uma dívida com valor total de face R$ 750 mil cotada em 80% com retorno de 12%. Para a ação da empresa, existe uma taxa livre de risco de 13,75%, uma taxa de risco de mercado de 16% e um beta de 0,9 e ela paga uma alíquota de 30%. Qual o valor do seu CMPC? Inicialmente, vamos obter o custo de capital próprio RE , que será o CAPM: 40 Veja que como o beta do ativo é menor que 1, seu risco é menor do que o de mercado, de forma que o retorno também. Com uma dívida de R$ 750 mil cotada em 80%, então o valor do capital próprio é de R$ 600 mil, com um custo (juros) de 10% que abate 30% de tributos. Assim, calculando o CMPC: Ou seja, o custo médio ponderado de capital da empresa Anônimo. Ltda é de 14,07%. Mas, o que esse resultado significa? Objetivamente, esse é seu custo de capital. Para a empresa, se optar por fazer um novo investimento, esse valor vai indicar a taxa mínima de atratividade, ou seja, o retorno esperado da empresa tem que ser maior que o seu CMPC. Para o investidor, esse é o valor mínimo que espera receber ao investir em ações da empresa, sendo um critério de decisão para realizar, ou não, o investimento. De forma aplicada, imagine que uma empresa realize um investimento e que, considerando o CMPC como a TMA do projeto, o valor fluxo de caixa descontado (VPL) seja positivo. Isso indicará que vale a pena o investimento pois o ganho obtido é maior que o custo de capital. Em outras palavras, se a empresa possui um retorno de 20% com um CMPC de 15%, isso indica que ela está gerando um ganho de 5% sobre o valor investido. 41 Dois pontos merecem destaques ao seu utilizar o CMPC. O primeiro é que ele é uma forma de se mensurar a estrutura de capital com o objetivo de verificar o quão alavancado a empresa está, pois, como indicado por Ross et al. (2013), bons resultados de uma empresa podem ser em razão de um elevado investimento obtido a custos de capital de terceiros, o que comprometerá seus fluxos de caixa futuro. Outro é que seu cálculo vai depender muito de como está a situação do patrimônio líquido e do passivo da empresa, principalmente esse segundo, visto que a apuração dos cálculos normalmente é feita, como visto na leitura, considerando os valores a mercado dos custos, sendo possível também por meio da apuração contábil, o que não é recomendado por estudiosos, como apontam Martins, Diniz e Miranda (2020). Referências ASSAF NETO, A. Matemática Financeira e suas aplicações. São Paulo: Atlas, 2012. ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MARTINS, E; DINIZ, J. A; MIRANDA, G. J. Análise avançada das demonstrações contábeis: Uma abordagem crítica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2020. ROSS, S. et al. Fundamentos de administração financeira. Rio de Janeiro: Bookman Editora, 2013. 42 Derivativos: mercado a termo, futuro e opções Autoria: Rodrigo Monteiro da Silva Leitura crítica: Renan Luquini Objetivos • Compreender o que é um mercado derivativo. • Entender como funciona operações no mercado a termo. • Estudar o mercado futuro e quais suas principais características. • Aprender sobre o mercado de opções e noções gerais sobre o que é uma simulação de Monte Carlo. 43 1. Mercado de derivativos: como funcionam e como investir O mercado financeiro atual apresenta diversas possibilidades de investimento para indivíduos, pessoas físicas ou jurídicas, que querem ganhar dinheiro comprando e vendendo, especulando sobre a valorização ou desvalorização de ativos como também se proteger de oscilações nos preços. Nesses dois últimos aspectos, especulação e proteção de ativos, o mercado de derivativos se mostra uma opção interessante, pois, por meio dos mercados a termo, futuro e opções, ambos são possíveis. Se um produtor quer garantir um preço mínimo para sua mercadoria a ser vendida em um prazo futuro, ele pode entrar no mercado de derivativos e fazer contratos que garantirão para ele esse preço. Se um investidor quer ter ganhos por meio da especulação, ele também pode investir nesse mesmo mercado do produtor para poder ter um ganho (mas que as vezes podem ser percas). Na presente Leitura Digital, você aprenderá sobre o mercado de derivativos e os principais tipos de operações que nele são realizadas, a saber: a termo; futuro; e opções. 1.1 Noções básicas sobre derivativos: o que são e como operar Ao chegar nessa etapa da disciplina, você já possui conhecimentos sobre diversos conceitos teóricos e práticos sobre a análise de investimento e viabilidade de projetos. Precisamos, agora, dar um passo em direção a uma outra área na qual diversos investidores aplicam seus recursos, os mercados de derivativos, a termo e futuros. De uma forma geral, os derivativos, como o próprio nome indica, servem como uma espécie de instrumento no qual seu valor enquanto ativo 44 financeiro depende e está atrelado a um outro ativo, ou seja, seu valor deriva de outro (por isso o nome derivativos). Ou seja, existem dois tipos de derivativos, os chamados financeiros e os não financeiros (CVM, 2015). Os financeiros são aqueles que tem relação direta com moeda/dinheiro, como é o caso das moedas nacionais (real, dólar, euro etc.), índices (associados, por exemplo, a bolsas de valores pelo mundo), ações de empresas e taxas de juros. Já os derivativos não financeiros são aqueles relacionados a ativos reais, mercadorias de fato, como commodities, ouro, gás, créditos de carbono, entre outros. Assim, é a natureza do derivativo que indica se ele é financeiro ou não. Essas definições são importantes porque, conforme Assaf Neto (2018), definirão os mercados que serão negociados, como mercado a termo, futuros e opções. É preciso estar claro que nos derivativos, não é o ativo em si que é negociado, mas sim contratos que representam as expectativas de compradores e vendedorespara preços futuros. É importante registrar que os derivativos financeiros tendem a ter riscos mais elevados, razão pela qual não é recomendado para investidores que são avessos ao risco. Segundo Assaf Neto (2018), as vantagens desse mercado são diversas, como: atração de capital; criação de mecanismo de defesa contra variações negativas no preço (isso ficará mais claro quando estudarmos mercados futuros); aumento da liquidez de ativos reais e possibilidade de um maior gerenciamento de risco. Para que possamos dar continuidade na leitura, alguns conceitos são importantes pois eles explicam em grande parte o porquê da existência dos derivativos, mercado a termo, opção e futuros. O primeiro é o termo hedge, amplamente utilizado nas operações desses mercados e significa uma espécie de garantia, ou âncora, de preço, evitando perdas caso haja grandes oscilações negativas. Imagine que um produtor de soja, no início do ciclo do produto (investimentos iniciais para o plantio), tema que no futuro o preço da saca desvalorize a ponto de, no momento da venda, não conseguir pagar os custos. Ele pode fazer uma operação 45 de hedge no qual há um contrato (que pode ser negociado no mercado a termo ou futuro) em que ele assume a posição vendedora, fixando o preço de venda da saca em determinado valor. O comprador se compromete a pagar por esse valor, em troca da mercadoria (sacas de soja) (BRASIL, BOLSA E BALCÃO, 2011). Por um lado, o vendedor se protegeu contra a queda do seu produto, ainda que se caso tenha errado em sua previsão e o valor da saca valorizar, esse retorno positivo será de quem assumiu a posição de comprador. O contrato de hedge é uma operação de derivativo, pois o valor do contrato está baseado na promessa de entrega do produto final (CVM, 2015). A Figura 1 a seguir ilustra a relação de hedge no mercado de derivativos. Figura 1 – Esquema analítico de um contrato de hedge Fonte: adaptada de Assaf Neto (2018). Outro termo importante para a presente leitura é a especulação. De acordo com Assaf Neto (2018), observe que, no exemplo acima, o produtor se precaveu de um risco de desvalorização do seu produto, mas, por outro lado, quem entrou como comprador assumiu tal risco (esperando retornos elevados). O especulador, além de assumir o risco das operações de derivativos em função da possibilidade de variação negativa no preço, também aumenta a liquidez do mercado. O especulador atua esperando (especulando) retornos positivos por meio da sobrevalorização do preço de um ativo que possua em carteira. 46 Por fim, principalmente ao se falar no mercado a termo e futuro, é importante que você saiba que o objeto de negociação representa o ativo que está sendo negociado, a unidade de negociação indica o tamanho do contrato e a cotação indica o valor das unidades do ativo (por exemplo, ao se negociar commodities como soja, trigo, a cotação será moeda – real, dólar – por sacas). Agora que você já sabe o que são derivativos e conceitos fundamentais como hedge e especulação, vamos aprofundar nosso conhecimento nos principais mercados que eles são transacionados. 1.2 Mercado a termo Iniciando como mercado a termo, nesses contratos os negociadores envolvidos adotam uma postura de compromisso de compra e de venda de algum ativo que seja real, uma mercadoria (derivativo não financeiro). No mercado a termo são negociados, por exemplo, entre compradores e vendedores, x toneladas de alguma comoditie, como soja, ou y arrobas de boi. Assim, as duas partes da negociação possuem um vínculo contratual que se estende até sua liquidação, de forma que o comprador pago pelo produto adquirido apenas no final do contrato, enquanto o vendedor, ao final do contrato, deve entregar ao comprador o ativo/mercadoria (CVM, 2015). Veja que, nesse caso, se estabelece uma espécie de compromisso entre as partes, na qual a vendedora se compromete a entregar a mercadoria no fim do contrato enquanto a compradora, ao pagar no momento da liquidação o valor estabelecido, espera receber tal mercadoria. O que deve ter ficado claro é que esse tipo de operação permite que a movimentação financeira ocorra apenas na liquidação do contrato, o que, por sua vez, aumenta o risco de crédito. Neste momento, baseados em Assaf Neto (2018), vamos apresentar um exemplo prático de como o hedge ocorre no mercado a termo. 47 Imagine novamente nosso produtor de soja, que plantou seu cereal e a colheita ocorrerá em noventa dias e, por meio de seus analistas, espera- se que ocorra uma desvalorização no preço do seu produto. Para se proteger, recorre a uma operação a termo na bolsa de valores brasileira, a B3, procurando um investidor (comprador) que tenha uma previsão contrária à sua, ou seja, que espera que o preço vá subir. Ao encontrá- lo (lembre se dá importância do especulador), ambos estabelecem em um contrato a termo a quantidade e um valor que garanta ao vendedor a cobertura dos seus custos e alguma margem de lucro e para o comprador a possibilidade de especular e ganhar com variações positivas futuras, que será liquidado no prazo de noventa dias. Passados os 90 dias, três cenários são possíveis: i) o preço da saca de fato desvalorizou: nesse caso, o vendedor teve um lucro igual a diferença entre o preço acordado e preço final na data de liquidação; ii) o preço da saca foi igual ao acordado: não houve ganhos em nenhuma das partes, e; iii) o preço da saca valorizou: o comprador vai ter um lucro igual a diferença entre o preço acordado e preço final na data de liquidação. Operações a termos de um limite mínimo e máximo de dias a serem realizadas, sendo 16 dias úteis o mínimo e 999 dias corridos o máximo, e podem ser negociados tanto das bolsas de valores, como a B3, ou em balcões organizado, como a Sociedade Operadora do Mercado de Ativos (BRASIL, BOLSA E BALCÃO, 2011). 1.3 Mercado futuro O mercado futuro é considerado uma variação do a termo, razão pelo qual este foi apresentado primeiro, mas, uma variação melhorada, pois, ainda que a principal característica seja mantida, ou seja, um contrato de compra e venda com liquidação futura, o processo de variação no preço e liquidação são diferentes. 48 Essas, inclusive, são as principais diferenças entre esses dois tipos de operações. Nos contratos a termos, a liquidação e a movimentação financeira ocorrem apenas no final do prazo definido, enquanto no contrato futuro não, o valor do compromisso do comprador é ajustado todo dia. Em outras palavras, no mercado futuro é permitido, e possível, a parte comprada vender sua obrigação em qualquer momento, inclusive em um mesmo dia (as chamadas operações de day trade) (BRASIL, BOLSA E BALCÃO, 2011). Aqui, o mesmo exemplo do produtor de soja pode ser mantido. Mas, vamos mudar um pouco o cenário: imagine agora que um produtor de soja tenha uma determinada quantidade x de sacas para ser exportada, e percebe que sua produção não será suficiente. Ele pode ir à bolsa de valores buscar um contrato de compra (hedge de compra) para garantir, a um determinado valor e em uma data futura, que terá a quantidade necessária para honrar seu compromisso de exportação. Então, novamente, é uma forma de se precaver, seja na compra ou na venda, conforme a CVM (2015). No entanto, como já indicado, após o contrato estabelecido entre as partes, com data para liquidação, o valor desse contrato é ajustado diariamente (o preço da saca da soja), de forma que outros agentes possam entrar no mercado futuro para especular. Nesse caso, os especuladores não querem se proteger, apenas conseguir lucrar em cima de valorizações, ainda que em parcelas percentualmente pequenas, que podem vir a ocorrer diariamente, novamente aqui entra as operações de day trade, contratos de compra e venda que se encerram em menos de um dia (dependendo da liquidez do ativo, podem ocorrer em segundos!). Contratos futuros normalmente seguem um padrão definido por bolsas de valores. Esse padrão, conformeAssaf Neto (2018), se estabelece a partir de quantidade, o tipo de unidade considerada, o prazo para liquidação e o tipo de cotação, o que garante maior transparência na 49 hora da negociação. Um ponto importante é que para esses contratos é estabelecido uma banda diária para valores mínimos e máximos, de forma que, se em algum momento do dia o valor do contrato “tocar” nesses limites, a bolsa encerra as operações desse contrato. Os contratos futuros são negociados apenas em bolsas de valores e por elas são padronizados em termos de quantidades de negociação, unidade de negociação (lote-padrão), data de vencimento e forma de cotação. Essa prática tem por objetivo viabilizar a transferência dos contratos entre os investidores. Para concluirmos o tema sobre mercado futuros, devemos ter em mente que cada contrato de mercadorias que são negociados diariamente (day trade) se encerram sempre com uma operação (posição) contrária. Caso um investidor esteja em uma posição comprada, isso indica que ele ainda possui um contrato futuro em sua posse, a ser liquidado em uma data a um preço definido. Se você virtualmente adquiriu 100 contratos de, por exemplo, sacas de soja, e vendeu 60, sua posição na bolsa é comprada em 40 sacas. Já a posição vendida é o contrário. A Tabela 1 a seguir indica as diferenças entre operações de mercado a termo e futuro. Tabela 1 – Resumo das principais diferenças entre mercado a termo e futuro Contrato Termo Futuro Tipo de contrato Personalizado Padronizado Negociação Particular Pública Grau de regulação Pouca Elevada Onde é negociado Mercado de Balcão Bolsa de Valores Grau de liquidez Baixa Alta Risco de Crédito Baixo Difícil (Inexistente) Encerramento da Operação Financeira com entrega física Posição Contrária Fonte: adaptada de Assaf Neto (2018). 50 1.4 Mercado de opções O mercado de opções, assim como os demais mercados apresentados, é uma forma de alguns agentes de se precaverem do risco de mercado, ou seja, de variações negativas no preço de suas mercadorias. Nesse mercado, o que é negociado é o direito de venda ou de compra de uma mercadoria por um dado preço pré-definido no futuro. Em um contrato de opções, aquele que possuir o direito de compra sobre a mercadoria tem que pagar ao vendedor uma remuneração que representa o montante pago para se obter a opção de comprar ou vender tal mercadoria. Esse direito de compra, no entanto, não se configura como uma obrigação, pois ele pode, ou não, realizar a operação. Como é um tipo de derivativo, seu valor está vinculado a outro ativo, que podem ser físicos ou financeiros, sendo esses últimos amplamente negociados na bolsa de valores brasileira, como ações, índices e moeda. Para Assaf Neto (2018), quem vende uma opção pode ser intitulado como lançador. Aqui, novamente alguns conceitos são importantes: o prêmio da operação indica o preço que um comprador ou vendedor desembolsa, ou recebe, para poder ter o direito de compra ou venda do ativo. Uma semelhança entre esse mercado com o futuro é que, até o prazo de liquidação do contrato, o comprador pode negociar no mercado (para especuladores) esse direito, mas sempre realizando a operação contrária a que iniciou na opção (BRASIL, BOLSA E BALCÃO, 2011). Mas, como isso funciona na prática? De acordo com Assaf Neto (2018), em uma operação de compra, também chamada operação de call, o investidor espera que haja uma valorização do ativo, e seu ganho não é sobre a valorização do ativo (mesmo podendo exercer seu direito ou não) mas na expectativa de valorização do contrato de compra. Vamos a um exemplo. Imagine que nosso produtor de soja acredite que haverá uma valorização dessa comoditie, mas não tem como 51 aumentar sua produção e não tem recursos o suficiente para comprar de seu vizinho, que também produz soja. O que ele pode fazer, se ambos aceitarem um contrato de opção? O nosso produtor, que vamos chamar de senhor A, acredita que a saca de soja, que está (valores aproximados da realidade) precificada em R$ 190,00 vai valorizar. O outro produtor, senhor B, também acredita nessa valorização. Então o senhor A e senhor B fazem um contrato de compra (call) de forma que o senhor A se compromete a pagar um prêmio de R$ 10,00 por saca de soja para ter o direito de comprar, em seis meses, o período do contrato, a saca de soja do senhor B a R$ 100,00 (strike). O senhor A faz isso pois espera que daqui há 6 meses a saca esteja valendo R$ 120,00. Se sua expectativa se confirmar, na data estabelecida, ele exerce seu direito de compra e paga R$ 100,00 pela saca do produtor B mais o prêmio de R$ 10,00, pagando R$ 110,00 por saca que está precificada a R$ 120,00. Mas, e se essa expectativa não se cumprir? Então, o senhor A não exerce seu direito de compra e terá apenas que pagar o prêmio de R$ 10,00. Veja que nesse caso, o comprador não necessariamente vai reivindicar o direito de compra do ativo. Imagine o mesmo cenário, mas agora em vez de ser nosso produtor A, você acredita que ocorrerá a valorização de uma moeda (pense em qual quiser). Caso não tenha recursos suficientes para adquiri-la, você pode fazer uma operação de opção e, após um prazo e valor de prêmio definido, você pode ter o direito de compra. Se estiver certo, e estabeleceu um strike em um valor inferior ao preço de mercado mais o prêmio, sua operação foi lucrativa. Exemplo: se você estabeleceu um strike de US$ de 5,00 esperando uma valorização para US$ 5,15 e um prêmio de US$ 0,05, você terá ganhado US$ por unidade do ativo moeda em seu contrato. Veja que não é necessário desembolsar nada caso esteja correto, pois, na hora de sair da operação, você pode vender seu direito para outra pessoa (uma nova operação). Mas, se errar em sua previsão, então seu prejuízo será de US$ 0,05 por unidade do ativo de direito adquirido. 52 1.5 Noções gerais sobre Simulação de Monte Carlo Para encerrar nossa lição, é importante que você saiba que existem, além da estatística descritiva, formas mais avançadas de se mensurar os riscos de um ativo. Entre essas ferramentas está a Simulação de Monte Carlo, que é uma forma matemática de se estimar as possibilidades de um evento probabilísticos. Teve sua origem durante a 2ª Grande Guerra Mundial com objetivo de melhorar o processo de tomada de decisão em um ambiente de incerteza. Desse modo, tais simulações eram utilizadas para análise de risco, e hoje é comum serem aplicadas para precificação, viabilidade de projetos de investimento, entre outros. Essa metodologia, ao utilizar a matemática e a estatística, define uma função de probabilidade que indicará possíveis resultados a partir de variáveis pré-determinadas. Em outras palavras, ela indicará o risco de um ativo em um cenário pré-definido, de forma que, ao apontar um grau de incerteza, é atribuído a ele um valor que aleatório, obtido e empregado em diversas simulações para a variável (ativo) em questão. Após concluídas tais simulações, uma estimativa do risco é obtida. É importante que você saiba que existem ferramentas avançadas para análise de risco, haja visto que ao longo de nossa disciplina o tema principal foi sobre como lidar com o risco de investimentos, sejam eles ativos financeiros ou projetos de investimento. Referências ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2018. BRASIL, BOLSA E BALCÃO – B3. Por dentro da B3: guia prático de uma das maiores bolsas de valores e derivativos do mundo. 2011. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS–CVM. Mercado de Derivativos no Brasil: Conceitos, produtos e operações. Rio de Janeiro: BM&FBOVESPA-CVM, 2015. 53 Sumário Apresentação da disciplina Métodos de avaliação de projetos e viabilidade econômica Objetivos 1. Métodos de avaliação de projetos e viabilidade econômica Referências Retorno e risco: o que são e como mensurá-los em aplicações de ativos no mercado financeiro Objetivos 1. Retorno e risco: o que são e como mensurá-los em aplicações de ativos no mercadofinanceiro Referências Custo Médio Ponderado de Capital Objetivos 1. Custos: capital próprio e de terceiros e sua relação com os investidores Referências Derivativos: mercado a termo, futuro e opções Objetivos 1. Mercado de derivativos: como funcionam e como investir Referências
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