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E-book 4 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Fernanda Mendes Arantes Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS VOLTADAS À EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ��������������������������������������������������������������������4 A lei maior da educação sobre jovens e adultos ������������������22 Qualidade em eja: desafios e possibilidades ������������������������28 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������������� 35 SÍNTESE ��������������������������������������������������������������������37 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, traçaremos um panorama recente da legislação educacional que fundamenta a Educação de Jovens e Adultos. A partir da análise histórica das Constituições Federativas, buscamos compreender de que forma as políticas públicas implicam a EJA. Além das últimas Constituições, levantaremos ques- tões relevantes observadas na Lei de Diretrizes e Bases de 1961 e 1996, com as quais se estabelece- ram Diretrizes, Pareceres e Resoluções que versam sobre a Educação de Jovens e Adultos, desde seu acesso, passando pela formação de professores, formação do aluno de EJA e sua atuação na socie- dade e no mercado de trabalho. Para isso, recorreremos a artigos científicos recentes, visando a atualizar o debate que permeia a moda- lidade educacional� É claro que a discussão não se encerrará aqui, visto que muito ainda há de ser dito sobre como educar os jovens e adultos alunos de EJA, mas acreditamos que conhecer um pouco da nossa história seja o primeiro passo. Mãos à obra e boa leitura! 3 POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS VOLTADAS À EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS O termo “política”, em sua acepção primeira, diz respeito a tudo que se refere ao público e social. Observe, porém, que Na modernidade, o termo reporta-se, funda- mentalmente, à atividade ou ao conjunto de atividades que, de uma forma ou de outra, são imputadas ao Estado moderno capita- lista ou dele emanam. O conceito de política encadeou-se, assim, ao poder do Estado – ou sociedade política – em atuar, proibir, ordenar, planejar, legislar, intervir, com efeitos vincula- dores a um grupo social definido e ao exercí- cio do domínio exclusivo sobre um território e da defesa de suas fronteiras (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 9). O Estado diz respeito à entidade governamental dire- tamente ligada ao que está previsto nas leis do país. Assim, independentemente de quem seja o presiden- te, governador ou prefeito e seus partidos, o Estado é uma entidade permanente, que visa ao controle à execução das políticas públicas não temporárias (um mandato de quatro anos, por exemplo), mas 4 sim permanentes, até que novas políticas surjam e possam substituí-las. Assim, no tocante às políticas públicas que emanam do Estado, “[...] abrem-se as possibilidades para im- plementar sua face social, em um equilíbrio instável de compromissos, empenhos e responsabilidades” (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 8). As políticas públicas estão relacionadas às diversas áreas que compõem a sociedade, a saber: cultura, educação, saúde, economia, habitação, segurança nacional, dentre outras. Em outras palavras, quan- do falamos em políticas públicas, temos que nos perguntar: em qual área? A partir de qual vertente? Com qual objetivo? Em nosso caso, trataremos das políticas públicas em Educação, especialmente para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Devemos ter em mente que toda política pública é resultado da luta de classes sociais, pressões e con- flitos entre as áreas; portanto, não é a partir da be- nevolência de determinado grupo social governante que se estabelece uma política pública nos países, para que possamos alcançar nossos direitos. Assim, muitas lutas são travadas e, em geral, por muito tempo. As lutas sociais acontecem no cam- po social e, quando desagradam determinados gru- pos, tornam-se urgentes na sociedade e, por meio de projetos de lei, são debatidas nas instâncias do legislativo, executivo e judiciário. 5 Quando analisamos determinada política pública, temos que nos ater aos fatos que antecederam sua votação e aprovação, bem como aos fatos poste- riores à sua publicação. O contexto é demasiado importante quando tratamos de direitos sociais, pois “Compreender o sentido de uma política públi- ca reclamaria transcender sua esfera específica e entender o significado do projeto social do Estado como um todo e as contradições gerais do mo- mento histórico em questão” (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 11). Vamos nos ater às mais recentes políticas públicas educacionais direcionadas à EJA. O período histórico analisado compreende o final da Ditadura Militar em 1985 até 2020� Segundo Shiroma, Moraes e Evangelista (2011), o período seguinte ao fim oficial da ditadura, em que o presidente foi José Sarney, constituiu-se em um período em que a democracia, efetivamente, ainda permaneceu adormecida. Sabe-se que o presidente eleito através de voto indi- reto foi Tancredo Neves, o qual não assumiu o cargo, pois veio a falecer antes mesmo da posse. Por esse motivo, assumiu o seu vice, José Sarney. No que diz respeito à educação, o governo de Sarney manteve nesse período o modelo herdado do regime militar, notadamente quanto ao financiamento (educacional). As políticas educacionais dessa época favoreceram o distanciamento entre as esferas federal, estadual e municipal, com isso, contribuíram substancialmen- 6 te para a pauperização das escolas municipais. É importante reforçar que estávamos em uma crise econômica também: desde o final da década de 1970, organismos internacionais haviam diminuído seus interesses e investimentos no Brasil. Os militares per- maneceram no governo Sarney, e a oposição lutava bravamente para uma verdadeira redemocratização brasileira� Foi nesse período que os movimentos lutaram por uma reestruturação no sistema educacional brasi- leiro, por isso, vamos recordar brevemente o que aconteceu na época da ditadura militar em termos de legislação educacional� A 5ª Constituição Federal (1946) foi promulgada logo após a queda do Estado Novo (1937-1945), buscando retornar aos valores liberais e reforçando a impor- tância da liberdade de expressão, eleições diretas para o executivo e legislativo, além da ampliação do voto feminino a todas as mulheres. Mas nem tudo foi perfeito, visto que alguns preceitos de Getúlio Vargas foram mantidos� A rigor, essa Constituição vigorou até 1967; no en- tanto, após o golpe militar de 1964, passou a ser desconsiderada pelos governantes militares brasi- leiros. O governo de Getúlio Vargas foi considerado contraditório e, apesar de ter inspiração fascista, batia de frente com regimes semelhantes na Europa. Em seu artigo 168, a Constituição afirma o seguinte: 7 Artigo 168. A legislação do ensino adotará os seguintes princípios: I - o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional; II - o ensino primário oficial é gratuito para to- dos; o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos (BRASIL, 1946, p. 46). Percebe-se que não está muito claro o dever do Estado quanto ao oferecimento do ensino gratuito� Ora, se a educação não aparece como um dever do Estado, este não se vê na obrigatoriedade de realizá- -lo; logo, esses pressupostos ficaram longe da práti- ca, limitando-se à teoria� O regime denominado Ditadura Militar instaurou-se no país de 1964 a 1985, portanto, a 6ª Constituição Federal foi elaborada em plena Ditadura. O Presidente em 1964 era João Goulart, que foi derrubado por um conjunto de políticos e militares que instauraram o regime militar� Inicialmente, a ditadura quis manter uma aparência de neutralidade e normalidade, assim, o Congresso permaneceu aberto por dois anos. O texto constitucional foi elaborado por juristas ligados ao governo militar; diante da pressão de outros partidos, o governo reabriuo Congresso no final de 1966 e começo de 1967. Sem alterações significativas, o texto foi aprovado, no entanto, há 8 uma divergência entre a promulgação ou não desta Constituição Federal� Alguns historiadores consideram que o texto foi ou- torgado mediante a situação mencionada; outros consideram que, se houve aprovação dos congres- sistas, é então um texto promulgado. No geral, podemos dizer que o texto constitucional centralizava o poder no governo militar e diminuía a autonomia individual e suspensão dos direitos e garantias constitucionais anteriores� Com relação à Educação, a Constituição previa a ma- nutenção da organização da estrutura da Educação Básica Brasileira; fortalecimento do ensino particular em detrimento ao ensino público. Trata-se da primeira constituição a fazer menção à faixa etária obrigatória (7 aos 14 anos de idade) para a Educação Básica Brasileira e também foi a primeira a estabelecer a Educação como um dever do Estado� A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi prevista pela primeira vez na Constituição Federal de 1946, mas só foi promulgada após a queda do Estado Novo. Em seu Artigo 5, a Constituição afirma que compete à União: XV - legislar sobre: [...] d) diretrizes e bases da educação nacional (BRASIL, 1946, p. 2). 9 A Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 4024 de 1961) demorou 13 anos para ser aprova- da, isso porque houve um longo embate entre dois grupos: [...] de um lado os conservadores, represen- tados principalmente pela ala católica e que defendiam a destinação de recursos públicos também para as instituições privadas e, por outro lado, a classe da burguesia, os liberais, que defendiam que os recursos públicos de- veriam ser destinados exclusivamente às es- colas públicas (ROMANELLI, 2001, p. 23). O desejo dos liberais relacionava-se à expansão da escolaridade obrigatória; em decorrência do perío- do de industrialização, sentia-se a necessidade de qualificar a mão de obra existente não só em termos técnicos, mas também em termos educacionais e culturais� Nesse sentido, podemos dizer que o avanço na edu- cação sempre caminhou pari passu ao avanço na economia. Essa lei foi aprovada em 1961, e o grupo vencedor foi o conservador, visto que a lei: “��� con- templou o repasse de recursos públicos para as insti- tuições privadas” (BOENO; GISI; FILIPAK, 2015, p. 4). A polêmica entre centralização e descentralização estendeu-se até 1959, sendo que a divisão dos dois lados tinha como representantes: 10 ● Favorável à centralização: Deputado Capanema (Ex-Ministro de Getúlio Vargas). ● Favorável à descentralização: Jornalista Carlos Lacerda, que apresentou um substitutivo cujo teor deslocou definitivamente o eixo da discussão, geran- do muita polêmica ao buscar introduzir o princípio da “liberdade de ensino”, que era entendido como a livre iniciativa na área educacional. Contra a aprovação do substitutivo Lacerda, no Legislativo Federal, surge a Campanha em Defesa da Escola Pública, que reivindicava que o Estado as- sumisse sua função educadora em prol da existência da escola pública. Esse Movimento ficou conhecido também como Movimento da Escola Nova, que culminou com a elaboração do Manifesto dos Pioneiros de 32 e, dentre outros fatores, defendia uma escola pública, laica e para todos. Seus representantes no Brasil eram Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando Azevedo etc� Podcast 1 No que diz respeito à educação, a LDB de 1961 in- corporou os princípios do direito à educação, da obri- gatoriedade e da escolaridade obrigatória� O ensino primário tornou-se obrigatório a partir dos 7 anos de idade, bem como sua matrícula feita por sua família, mas ainda existia a possibilidade de a educação ser ministrada em casa� 11 https://famonline.instructure.com/files/1053974/download?download_frd=1 Essa abertura pode ser analisada no artigo 30: Art. 30. Não poderá exercer função pública, nem ocupar emprego em sociedade de eco- nomia mista ou empresa concessionária de serviço público, o pai de família ou responsá- vel por criança em idade escolar sem fazer prova de matrícula desta, em estabelecimento de ensino, ou de que lhe está sendo ministrada educação no lar (BRASIL, 1961, p. 15). Na década de 1970, observa-se a promulgação da Lei n. 5692/1971, considerada equivocadamente por muitos como a segunda LDB. Por que equivo- cada? Ora, basta ler o que diz a Lei: “Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências”. Estamos nos referindo, portanto, aos 1º e 2º graus; sabe-se que a LDB versa sobre todo o sistema edu- cacional. Considera-se uma lei importante, que re- formou o 1º grau (Ensino Fundamental) e o 2º grau (Ensino Médio), mas que não contemplou outros níveis nem outras modalidades educacionais, como Educação Infantil, Ensino Superior, Pós-Graduação e Pesquisa, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, dentre outros. A Lei n. 5692 de 1971 instituiu a obrigatoriedade escolar, com oito anos de duração e ingresso aos 7 anos de idade. O Artigo 20 afirma que “o ensino de 1º grau será obrigatório dos 7 aos 14 anos, cabendo aos 12 Municípios promover, anualmente, o levantamento da população que alcance a idade escolar e proceder à sua chamada para matrícula” (BRASIL, 1971, p. 3). Entenda que, em 1971, o país se encontrava em pleno período ditatorial, e a educação reproduzia os interes- ses do setor privado, assim, podemos observar essa realidade por meio de leis, decretos e Constituições promulgadas: A reforma do ensino dos anos de 1960 e 1970 vinculou-se aos termos precisos do regime mi- litar. Desenvolvimento, ou seja, educação para a formação de capital humano, vínculo estrito entre educação e mercado de trabalho, moder- nização de hábitos de consumo, integração da política educacional aos planos gerais de de- senvolvimento e segurança nacional, defesa do Estado, repressão e controle político-ideológico da vida intelectual e artística do país (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 34). Diversos autores são categóricos em afirmar que, du- rante a Ditadura Militar, o Estado dominava as áreas econômica, educacional, os serviços públicos, social, dentre outros. O Estado era, portanto, responsável pelo bem-estar dos cidadãos. Em termos de legislação, o que aconteceu de impor- tante no período pós-ditadura? A primeira lei nacional elaborada e aprovada nes- se período foi a Constituição Federal de 1988, pro- 13 mulgada após o término da Ditadura, que se encer- rou em 1985; em 1986, convocaram a Assembleia Constituinte que realizou a elaboração dos traba- lhos para a nova Constituição Federal, denominada “Constituição Cidadã”. Fundamentada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a atual Constituição estabelece a educação como um di- reito social: Títu lo I I - Dos Di re i tos e Garant ias Fundamentais Capítulo II - Dos Direitos Sociais Art. 6. São direitos sociais a educação, a saú- de, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988, p. 18). Efetiva-se, nessa Constituição, a Educação como um direito social básico de toda a população. O Título VIII trata da Ordem Social, em seu capítulo 3, os temas são: Educação, Cultura e Desporto e, dentro desse capítulo, a Seção I é específica da Educação (artigos 204 a 215). Abordaremos especificadamente os ar- tigos 205, 206 e 208: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e in- centivada com a colaboração da sociedade, 14 visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 123). Esse artigo é de suma importância, pois estabelece que a Educação é um direito de todos e dever da família, ou seja, a família deve matricularo filho na escola e dar as condições necessárias para sua evo- lução nos estudos, tal qual o Estado deve oferecer vaga e condições de permanência na Escola. Quanto ao artigo 206, temos o seguinte: Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (EC no 19/98 e EC no 53/2006) I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabe- lecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por 15 concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade; VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. Parágrafo único. A lei disporá sobre as ca- tegorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequa- ção de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 1988, p. 123). Notamos uma vez mais que o artigo reforça a res- ponsabilidade do Estado na garantia de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, bem como a liberdade, tão exígua nos tempos da ditadura, e o pluralismo de ideias e concepções dos indivíduos e Instituições. Já o artigo 208 é crucial para o estabelecimento de como se dará o dever do Estado com a Educação: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (EC no 14/96, EC no 53/2006 e EC no 59/2009) 123 - Da Ordem Social: 16 I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na ida- de própria; II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencial- mente na rede regular de ensino; IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados do ensi- no, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequa- do às condições do educando; VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de pro- gramas suplementares de material didático- -escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1 O acesso ao ensino obrigatório e gratui- to é direito público subjetivo. § 2 O não-ofe- recimento do ensino obrigatório pelo Poder 17 Público, ou sua oferta irregular, importa res- ponsabilidade da autoridade competente. § 3 Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsá- veis, pela frequência à escola (BRASIL, 1988, p. 123-4). Nele, podemos destacar o item I, que trata da edu- cação básica obrigatória – novidade – desde a Educação Infantil (Pré-Escola) até o Ensino Médio. Trata-se da primeira Constituição que assume a res- ponsabilidade do Estado diante da sociedade com relação a Educação� Dito de outra forma, não é mais possível encontrar escolas sem vagas ou condições para a evolução nos estudos de nossas crianças. A Educação é um direito essencial, intrínseco à con- dição humana e necessário ao pleno desenvolvimen- to da personalidade humana e da cidadania. E por que se faz necessário tratar desses artigos, se eles não abordam a Educação de Jovens e Adultos mais detidamente? Em primeiro lugar, estabeleceu-se, a partir da Constituição de 1988, a necessidade da reformula- ção da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que aconteceu efetivamente em 1996. Nessa legislação, sim, pode- mos afirmar que houve um direcionamento específico para EJA. 18 Em segundo lugar, sabemos que, se não houver ga- rantia de acesso e permanência de crianças e jovens na Educação Básica, se constituirá efetivamente em mais um motivo para a evasão escolar, levando o grupo posteriormente à EJA. O sistema educacional está intrinsecamente ligado e tudo que acontece em determinada etapa educacional reverbera nas demais� Lembre-se que a LDB aprovada em 20 de dezem- bro de 1961 ficou vigente até 1996, quando tivemos a aprovação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n. 9394/1996. Vale reforçar que o período militar durou de 1964 a 1985, sendo a Constituição Federal promulgada em 1988, e sugeriu-se a atualização da LDB em vigor� De 1961 a 1996, a LDB n. 4024/1961 foi alterada por diversos artigos e emendas, sendo “atualizada em al- guns aspectos” pelas leis n. 5540/1968 e 5692/1971. Dessa maneira, [...] o ponto de partida se deu com a IV Conferência Brasileira de Educação em Goiânia em 1996, na qual discutiu-se a temá- tica “A Educação e a Constituinte”. Na ocasião, aprovou-se “A Carta de Goiânia (SAVIANI, 2008 apud BOENO et al., 2015, p. 5). Porém, a discussão sobre a LDB ocorria desde 1988 com a Constituição de grupos de trabalho, audiên- cias públicas e seminários temáticos, tendo diversos 19 especialistas nessa discussão, dentre eles Demerval Saviani� Desde o início desse processo de discus- são em 1989 e tramitação entre Câmara dos Deputados e Senado se passaram 07 anos até a aprovação da nova LDB em 1996. Destaca- se que em 1993 o projeto da nova LDB foi aprovado na Câmara, seguindo então para o Senado, sendo aprovado em 1994 como PL 101/93 e tendo como Relator Sid Saboia. Desse modo, inicia-se novamente todo um processo de discussão, sendo finalizada para ser votada em 1995. É nesse contexto que aparece mais um substitutivo, ou seja, o se- nador Darcy Ribeiro alega que há inconstitu- cionalidade no projeto de lei Sid Saboia, apre- sentando então o substitutivo Darcy Ribeiro e fazendo com que o antigo substitutivo retorne à Comissão de Constituição, Justiça e cida- dania e à Comissão de Educação do Senado (BOENO; GISI; FILIPAK, 2015, p. 7). O substitutivo de Darcy Ribeiro foi o vencedor, trans- formando-se na LDB n. 9394/1996, aprovada em de- zembro de 1996� Percebemos, então, que as diversas legislações no país refletem os interesses de deter- minados e, com base nisso, podemos afirmar que nenhuma lei é neutra. A atual LDB organiza a Educação em níveis e moda- lidades, a saber: 20 ● Níveis: Educação Básica (Educação Infantil: Pré- Escola, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio) e Ensino Superior. ● Modalidades: Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Profissional e Tecnológica, Educação Especial, Educação a Distância (EaD), Educação Escolar Indígena, Educação Básica do Campo e Educação Escolar Quilombola (as últimas foram incluídas pela Resolução do CNE/CEB n. 4 de 13 de julho de 2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica). Vamos conhecer agora a organização dos artigos propostos na atual LDB: ● Título I – Da Educação. ● Título II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional� ● Título III – Do Direito à Educação e do Dever de Educar� ● Título IV – Da Organização da Educação Nacional. ● Título V – Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino: ○ Capítulo I – Da Composição dos Níveis Escolares. ○ Capítulo II – Da Educação Básica: � Seção I – Das Disposições Gerais. � Seção II – Da Educação Infantil. � Seção III – Do Ensino Fundamental. � Seção IV – Do Ensino Médio. � Seção V – Da Educação de Jovens e Adultos. 21 ○ Capítulo III – Da Educação Profissional. ○ Capítulo IV – Da Educação Superior. ○ Capítulo V – Da Educação Especial. � Título VI – Dos Profissionais da Educação. � Título VII – Dos Recursos Financeiros.� Título VIII – Das Disposições Gerais. � Título IX – Das Disposições Transitórias. Dessa relação, vamos nos ater ao Capítulo II – da Educação Básica, Seção V – Educação de Jovens e Adultos� A lei maior da educação sobre jovens e adultos Vejamos o que afirma a LDB sobre a modalidade da educação de jovens e adultos: Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos funda- mental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendiza- gem ao longo da vida (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018). § 1 Os sistemas de ensino assegurarão gra- tuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, con- sideradas as características do alunado, seus 22 interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2 O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e comple- mentares entre si. § 3 A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a edu- cação profissional, na forma do regulamento (Incluído pela Lei n. 11.741/2008). Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cur- sos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitan- do ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1 Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - no nível de conclusão do ensino fundamen- tal, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2 Os conhecimentos e habilidades adquiri- dos pelos educandos por meios informais se- rão aferidos e reconhecidos mediante exames. Diversos autores debatem as proposições na LDB sobre EJA e seus reflexos na sociedade. Entre eles, temos, por exemplo: 23 Os registros e análises históricas sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no con- texto da educação brasileira permitem inferir que ela tem sido conduzida, durante déca- das, sob uma visão compensatória, utilita- rista, emergencial e descontínua, construída (JULIÃO; BEIRAL; FERRARI, 2017, p. 2). Sabe-se da existência de diversas campanhas e mo- vimentos “preocupados” com a formação do traba- lhador, mas que em seu âmago buscam tão-somente alfabetizá-lo e capacitar a mão de obra para que pos- sa cumprir seu dever na sociedade. Podcast 2 A LDB de 1996, ao estabelecer a EJA como uma mo- dalidade, confere uma dimensão menos transitória e mais formativa aos brasileiros� Tal qual a Educação Básica, a EJA aparece na LDB como uma responsa- bilidade do Estado� Agora, propomos um desafio: volte ao começo da disciplina e verifique quando ou em qual Constituição Federal esta informação aparece. Nem é preciso. Adianto a resposta: em nenhuma. Convidamos a conhecer as demais Constituições Federais desde a primeira, que foi outorgada em 1824. Para Julião, Beiral e Ferrari (2017), a LDB foi um im- portante marco legal no que tange ao início de uma percepção escolar diferenciada para os sujeitos tão 24 https://famonline.instructure.com/files/1053976/download?download_frd=1 diversos e com histórias de vida tão desconsideradas pelos direitos já previstos na Constituição. É a partir da LDB que o Brasil passa a discutir, legal- mente, a Educação de Jovens e Adultos� Esse movi- mento vai convergir, em 2000, com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB n� 01/2000 – BRASIL, 2000), que já estudamos anteriormente. Em 2010, foram instituídas as Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB n. 03/2010 – BRASIL, 2010), que trata da idade mínima, duração dos cursos e certificação nos exames de EJA� Vamos conhecê-la um pouco melhor, a partir de seu artigo 2: Art. 2 Para o melhor desenvolvimento da EJA, cabe a institucionalização de um sistema edu- cacional público de Educação Básica de jovens e adultos, como política pública de Estado e não apenas de governo, assumindo a gestão democrática, contemplando a diversidade de sujeitos aprendizes, proporcionando a conju- gação de políticas públicas setoriais e fortale- cendo sua vocação como instrumento para a educação ao longo da vida (BRASIL, 2010, p. 1). Ou seja, foi somente em 2010 que se instituiu em lei a necessidade da institucionalização de um sistema educacional público para EJA como política perma- 25 nente. A legislação também estabelece que, para ingresso no Ensino Fundamental em EJA, o aluno deve ter no mínimo 15 anos de idade e, para EJA no Ensino Médio, a idade muda para 18 anos. Voltando um pouco no tempo, em 2002, foi instituído o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), com o principal objetivo de construção de uma referência nacional de EJA por meio da avaliação de competências, ha- bilidades e saberes adquiridos no processo escolar ou nos processos formativos que se desenvolvem na vida cotidiana� Assim, Com a instituição do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a partir de 2009, o ENCCEJA passou a ser realizado visando à certificação apenas do Ensino Fundamental, pois a certificação do Ensino Médio passou a ser realizada com os resultados do Enem. Conforme previsto pelo governo Temer, a partir de 2017, o Enem deixa de conferir certificados para conclusão do Ensino Médio, retornando para o ENCCEJA a sua responsabilidade inicial (JULIÃO; BEIRAL; FERRARI, 2017, p. 47). Em 2005, foi estabelecido o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) e também o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Educação, Qualificação e Ação Comunitária (Projovem), cujos objetivos eram: 26 ● Projovem: dentro do Ensino Fundamental em EJA, proporcionar a sua conclusão e certificação aliada à formação profissional para jovens e adultos de 18 a 29 anos de idade� ● Proeja: inserir o jovem a partir de 18 anos de idade para a conclusão do Ensino Fundamental ou Médio em EJA, juntamente com uma qualificação profis- sional em nível técnico. O Proeja foi exitoso, no entanto, enfrenta problemas de acesso à formação dos professores, passando pela evasão sobre a qual discutimos. Sobre os desa- fios enfrentados na Educação de Jovens e Adultos, temos que Estes desafios foram agravados pela estag- nação do Governo Federal que, desde 2011, interrompeu o investimento de recursos de or- dem técnica e financeira, colocando em risco a continuidade desta política, sendo substituída gradativamente (...) pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) – Lei n. 12.513/2011 (JULIÃO; BEIRAL; FERRARI, 2017, p. 50). Para além da legislação estabelecida para a moda- lidade, devemos nos atentar também à questão da qualidade do ensino ministrado, pois é um debate amplo que será brevemente resumido no próximo item� 27 Qualidade em EJA: desafios e possibilidades Outro documento importante que cabe ser mencio- nado é a Resolução n. 4 de 13 de julho de 2010, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. Em seu título IV, destaca: Art. 8 A garantia de padrão de qualidade, com pleno acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da reten- ção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da educação, que é uma conquista coletiva de todos os sujeitos do processo educativo. Art. 9 A escola de qualidade social adota como centralidade o estudante e a aprendi- zagem, o que pressupõe atendimento aos seguintes requisitos: I - revisão das referências conceituais quanto aos diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais na escola e fora dela; II - consideração sobre a inclusão, a valoriza- ção das diferenças e o atendimento à plura-lidade e à diversidade cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de cada comunidade (BRASIL, 2010, p. 4). 28 Perceba que o artigo 8 trata da qualidade relaciona- da ao acesso e à permanência, tão debatidos nas legislações educacionais vigentes, acrescentando elementos referentes à evasão, bem como à relação/ distorção idade/ano/série que compreende clara- mente a modalidade de EJA� Já o artigo 9 chama a atenção para a abrangência aos diferentes espaços educativos e à valorização das diferenças, bem como da pluralidade e diver- sidade cultural tão presentes nas salas de aula de EJA� Vale acrescentar que a Constituição Federal de 1988 já tratava da questão da qualidade de ensino em seu artigo 214� Entendemos que algo foi feito em relação à efeti- vação de uma política educacional nacional a favor da Educação dos Jovens e Adultos; porém, muito ainda há de ser feito. Entre 2003 e 2006, o governo sinalizou algumas das mudanças necessárias, no entanto, é uma pequena parte perto do que ainda se mostra necessário para a modalidade educacional. Sobre o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), cria- do no período supracitado, Diniz, Machado e Moura (2014, p. 3) afirmam que O Programa Brasil Alfabetizado (...) voltado para a alfabetização de jovens, adultos e ido- sos, principalmente em municípios com ta- xas de analfabetismo superiores a 25%, cuja quase totalidade, cerca de 90%, encontra-se localizada na região Nordeste do país. Dentre 29 os estados da região Nordeste, o Ceará se destaca entre aqueles com maior taxa de anal- fabetismo: 17,19%, segundo dados do MEC (2012). O PBA acontece a partir de verbas disponibili- zadas pelo MEC, isto é, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e os volun- tários alfabetizadores, coordenadores e intérpretes de Libras recebem uma bolsa como retribuição ao serviço voluntário prestado. É importante ressaltar, porém, que cabe aos municípios e estados a respon- sabilização pelo financiamento e oferta de EJA. Além desse programa, foram estabelecidos o Projovem e Proeja já discutidos. Devemos reforçar que as Nações Unidas declararam o decênio 2002 a 2013 como a década da alfabeti- zação. Sobre esse ponto, temos que, ao longo do tempo, os esforços são para se certificar o direito dos indivíduos a desfrutar da cultura letrada, melhorando suas condições de vida, tendo uma comunicação efetiva juntamente à sociedade. Para análogo, é pre- ciso que tenha a chance de realizar jus ao direito à educação, que precisa ser para todos. A Unesco tem debatido exaustivamente como o di- reito à alfabetização é urgente e necessário a todos os seres humanos, independentemente do país onde se localizam� Sobre as taxas de analfabetismo no Brasil, a taxa entre a população com 15 anos ou mais diminuiu quatro pontos percentuais entre 2000 e 30 2010, de 13,6% para 9,6%, segundo os Indicadores Sociais Municipais do Censo Demográfico de 2010. Com isso, podemos nos perguntar: quais seriam os desafios para a década de 2020 a 2030 e para as próximas no que diz respeito à Educação de Jovens e Adultos no Brasil? Em primeiro lugar, acreditamos que seja essencial que o Estado brasileiro possa entender-se como res- ponsável pela educação dos jovens e adultos que não conseguiram concluir a escolarização básica no tempo previsto. O país chegou ao século 21 apresentando, ainda, elevadas taxas de analfabetismo, o que comprova que as inúmeras campanhas e programas, os quais sempre tiveram como meta a “erradicação” do anal- fabetismo, não atingiram os objetivos propalados e o problema persiste, agora agravado com o analfa- betismo funcional� A sociedade vem demandando habilidades e com- petências cada vez mais específicas do cidadão, que ultrapassam o domínio simples da codificação e decodificação dos símbolos alfabéticos, para que este possa continuar a interagir nessa sociedade, não só como consumidor, mas também como produtor de conhecimento. A partir do conteúdo estabelecido no documen- to Alfabetização de jovens e adultos no Brasil, da Unesco, lições de prática, hoje, o aluno de EJA não pode e não deve buscar a simples decodificação 31 das palavras, pois o mundo, através da tecnologia, exige mais. O ser humano agora não está restrito a decifrar letras e números, a partir dessa atitude, poder produzir conteúdo e conhecimento. Falamos do que a sociedade oferece à escola, mas você já parou para pensar o que a escola oferece para sociedade? A seguir, elencamos quatro contribuições mínimas, porém, existem diversas outras contribuições que dependem do quanto a escola está preocupada efe- tivamente com seu papel em nossa sociedade: a) Melhoria do nível cultural da população: desde que a escola esteja efetivamente engajada e preo- cupada com seu papel transformador. b) Aperfeiçoamento individual: educadores formam cidadãos e esses cidadãos constituem a sociedade, transformando-a� c) Formação de Recursos Humanos, Capital Humano: implica a qualificação técnica, educacio- nal e cultural (formando o ser social). d) Inovações Científicas e Tecnológicas: a escola, ao se preocupar com a formação do aluno, abre fron- teiras do pensamento científico e cultural, podendo ser um exemplo nas inovações produzidas pelos alunos e contribuindo para a evolução da sociedade. Trata-se de apenas alguns elementos, pois entende- mos que você, ao ler os itens, deve ter se lembrado de outras contribuições da escola� São essas contri- buições que farão com que determinada sociedade 32 evolua ou não, em todos os aspectos, inclusive na questão das Políticas Educacionais. Quando falamos do aluno de EJA, saiba que, assim como os demais, esse aluno busca seu lugar na so- ciedade para que possa atuar como cidadão crítico, ciente de seus direitos e deveres� Conforme tem sido observado nos últimos anos, o trabalho que era essencialmente mecânico, agora é intelectual; o simples fato de saber operar uma máquina não trará benefícios ao operador, no caso, o aluno. Esse aluno deve ir além, pois precisa dominar mini- mamente a tecnologia, internet, smartphones, com- putadores etc. Esse conhecimento será o diferencial, por exemplo, ao concorrer a um determinado posto de trabalho. Essa situação nos remete aos tópicos em que estu- damos que o professor em EJA está desatualizado e, muitas vezes, descontente em atuar nessa moda- lidade. Logo, a mudança passa por diferentes aspec- tos e setores da sociedade, visto que não basta ter parcas legislações que regulamentam a modalidade, é necessário cumprir-se o mínimo já estabelecido, buscar outras possibilidades e formar professores. A formação mínima exigida seria a Licenciatura, mas o professor em EJA precisa ir além. Necessita co- nhecer seu aluno, interessar-se por sua história de vida, motivá-lo a estudar, utilizando a seu favor as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação). 33 O mundo mudou; logo, a sociedade também mudou, a tecnologia invadiu a sala de aula, por isso, o aluno de EJA não pode ficar à parte da realidade. Caso você tenha interesse em lecionar em EJA, saiba que é uma das áreas da Educação mais desafiadoras, porém, das mais gratificantes também. Quando o professor acompanha a evolução de seu aluno, pode considerar que sua missão foi cumprida. 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, fizemos um levantamento histórico sobre as Constituições Federais, bem como sobre as duas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para que, a partir delas, pudéssemos traçar as políticas públicas recentes no campo da Educação de Jovens e Adultos� É urgente que novas políticas surjam e que sejam adaptadas ao perfil do aluno de EJA do século 21, visto que decodificar letras já não é mais suficiente para a sobrevivência na sociedade tecnológica atual. O que temos acompanhado em nossos estudos é que existe uma metodologia com toda uma abordagem pedagógica que a embasa, bem como que muitas vezes não é utilizada na escola, vistoque o mínimo previsto em lei não se cumpre. Pense, portanto, em quantas pessoas não alfabetizadas você conhece. Podemos dizer que o Brasil está de acordo com o que se preconiza tanto nas leis quanto nos documentos internacionais? É claro que não. Muito ainda há de ser feito, e essa reforma necessita acontecer desde a base, ou seja, se ainda temos um contingente enor- me de pessoas fora da escola na Educação Básica, como podemos imaginar que a Educação de Jovens e Adultos possa suprir essa demanda? Ainda não temos o suficiente, é fato, no tocante a políticas públicas, financiamento, formação de pro- fessores, infraestrutura, dentre outros aspectos. 35 O mercado do trabalho mudou, mas as formas de acessá-lo pela escolarização não. Se pretendemos que o aluno de EJA possa transformar-se em um cidadão crítico e tecnológico, temos que prover as ferramentas necessárias para essa transformação, que parte de nós, os professores. Então, mãos à obra! 36 SÍNTESE POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA EJA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A partir dessa análise histórica, buscamos compreender de que forma as políticas públicas implicam a EJA� Assim, notamos que é urgente que novas políticas surjam e que sejam adaptadas ao perfil do aluno de EJA do século 21, visto que decodificar letras não é mais suficiente para sobreviver numa sociedade tecnológica� Observamos, ainda, que muito ainda há de ser feito, e essa reforma necessita acontecer desde a base, ou seja, se temos um contingente enorme de pessoas fora da escola na Educação Básica, como podemos imaginar que a Educação de Jovens e Adultos possa suprir essa demanda? É fato que ainda não temos o suficiente quanto às políticas públicas, ao financiamento, à formação de professores, à infraestrutura, ou seja, relatamos carência em vários aspectos da Educação� Além das últimas Constituições, levantamos questões pertinentes que foram observadas na LDB de 1961 e 1996, com as quais se estabeleceram Diretrizes, Pareceres e Resoluções que versam sobre a EJA, desde seu acesso, passando pela formação de professores, formação do aluno de EJA e sua atuação na sociedade e no mercado de trabalho� Neste módulo, traçamos um panorama da legislação educacional que fundamenta a Educação de Jovens e Adultos (EJA), ou seja, realizamos um levantamento histórico sobre as Constituições Federais, bem como sobre as duas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)� O que temos acompanhado é que existe uma metodologia com toda uma abordagem pedagógica que a embasa, bem como que muitas vezes não é utilizada na escola, visto que o mínimo previsto em lei não se cumpre� Referências Bibliográficas & Consultadas BARCELOS, V�; DANTAS, T� R� Políticas e práti- cas na educação de jovens e adultos. 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