Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Otorrinolaringologia: Perdas Auditivas Desenvolvimento das vias auditivas ● Pavilhão Auricular (Orelha Externa): Forma-se de 4 semanas a 3 meses. ● Conduto Auditivo Externo: De 4ª a 5ª semana até 21 semanas, quando assume forma de canal. ● Orelha Média: Na 3ª semana, onde surgem o martelo, bigorna e estribo (ossículos) , músculos e tendões. ● Martelo e Bigorna: Tamanho adulto na 15ª semana. ● Estribo: Tamanho adulto na 18ª semana. ● Cóclea: Começa em torno do 22º dia e completa-se na 20ª semana. ● Núcleos Cocleares: Formam-se por volta da 33ª semana. ● Córtex Auditivo: Desenvolve-se da 27ª semana até 15 meses após o nascimento. ● Percepção Auditiva no Feto: Começa por volta da 26ª semana de gestação. ○ A audição é o primeiro sentido desenvolvido em relação ao meio externo ao útero O desenvolvimento auditivo apresenta grande influência no desenvolvimento do SNC, isto é, quando há perdas, as limitações não se restringem ao ouvido de forma periférica, mas também ao córtex cerebral. Neuroplasticidade É a habilidade que um grupo de neurônios têm de se ajustarem a uma função de acordo com um estímulo – se os neurônios não forem estimulados, não desenvolvem funções. A única forma de desenvolver habilidades é através da experiência e repetição. A sinaptogênese atinge a sua capacidade máxima por volta de 3 anos e 6 meses, ou seja, é nessa faixa etária que a expansão neural/cortical está em seu máximo potencial de desenvolvimento; a partir daí, as sinapses começam a diminuir, com queda acentuada a partir dos 7 anos de idade – por isso é importante estimular as crianças precocemente. A partir do 7º ano, inicia-se o cross modal: recrutamento das áreas auditivas por outras modalidades sensitivas. Existem 2 vias auditivas: ● Via auditiva primária 1º neurônio (localizado no giro de Scarpa [dentro da cóclea]) se conecta na região pontina (onde ficam os núcleos cocleares). A partir daí, os núcleos cocleares fazem sinapse com o complexo olivar superior, que por sua vez se comunica com lemnisco medial, colículo inferior, corpo geniculado lateral e finalmente giro temporal. ● Via auditiva secundária A partir do núcleo coclear um ramo é emitido pelo corpo trapezóide, que se comunica diretamente com tálamo e, posteriormente, com córtex temporal. 2 É importante lembrar que na via secundária trafegam outras áreas do sentido, como tato e dor. O cross modal se refere a transferência sináptica das vias auditivas secundárias para outras vias sensitivas, o que empobrece e dificulta a transmissão auditiva – o que possui uma grande importância quando se pensa em implantes cocleares e adaptações aos aparelhos auditivos. O grande problema é que a partir de déficits nessa via não é possível reverter esse problema, pois se trata de SNC – não é possível reverter esse déficit. A única forma de evitar que isso aconteça é estimulando essas áreas do SNC antes da poda sináptica, isto é, antes dos 7 anos de idade. Por isso, se uma criança apresenta perdas auditivas precoces ou congênitas, a estimulação deve iniciar-se o mais cedo possível, para que não haja alterações centrais que são irreversíveis. Binauralidade É importante para comunicação e aprendizado. Os hemisférios cerebrais são semelhantes macroscopicamente, mas suas funções são distintas, portanto o estímulo de ambos é essencial. Quando um indivíduo apresenta estímulo de apenas um lado ocorre um desbalanço sináptico. A binauralidade significa que a audição vai trafegar para os dois hemisférios cerebrais na mesma proporção de estímulo. Epidemiologia A surdez é a doença ocupacional de maior prevalência do mundo; além disso, quando maior o IDH do país, menor o número de indivíduos surdos. Surdez entre 46 e 60 anos tem como principal causa a exposição ocupacional ao ruído e, após os 60, a presbiacusia – alteração no órgão auditivo e/ou vias auditivas decorrentes do processo de envelhecimento. Etiologia da surdez na infância – 40% dos casos não são diagnosticados ● Perdas genéticas não sindrômicas ● Baixo peso ao nascimento ● Hipóxia ● Prematuridade ● Rubéola ● Meningite ● Uso de medicação ototóxica ● TCE ● Citomegalovirose 3 Características físicas relacionadas a perda auditiva Ao observar um paciente, algumas características podem ser indicativos de que existe algum grau de perda auditiva. ● Anomalias craniofaciais, como implantação baixa das orelhas ● Malformações das orelhas, apêndices ou colobomas pré-auriculares ● Manchas café com leite ● Mechas brancas no cabelo ● Heterocromia, telecanto, miopia grave e retinopatias ● Cistos, fístulas branquiais e bócio Quando essas características estiverem presentes, devemos encaminhar o paciente para um especialista para uma avaliação mais minuciosa. Perdas auditivas – métodos de avaliação Uma das formas rudimentares de se avaliar as perdas auditivas é através do teste de Weber, que se positivo qualifica o teste de Rinne. ● Diapasão diretamente na calota craniana (via óssea do som): o som é transmitido diretamente para o ouvido interno. [Weber] ● Diapasão do lado da orelha (via aérea do som): o som é conduzido pelo ar até a membrana timpânica, movimentando o martelo, bigorna e estribo; a partir daí, o som caminha para o ouvido interno (cóclea). [Rinne] Se um paciente tem um defeito na bigorna, por exemplo, o indivíduo ouve pouco através da via aérea; porém, se o diapasão for encostado na calota craniana, o indivíduo ouve bem, afinal a via óssea não depende do bom funcionamento da bigorna. Se o problema for no ouvido interno, entretanto, o paciente ouvirá pouco em ambos os testes. ● Perda auditiva condutiva: problemas no ouvido externo e médio ● Perda auditiva neurossensorial: problemas no ouvido interno ou SNC 4 Ouvido externo ● Pavilhão Auricular: É a parte visível da orelha, que coleta as ondas sonoras do ambiente e direciona-as para o canal auditivo. ● Canal Auditivo (Meato Acústico Externo): É um tubo estreito revestido de cerume (cera) que conduz as ondas sonoras até a orelha média. ● Membrana Timpânica (Tímpano): É uma fina membrana que separa a orelha externa da orelha média. Ela vibra em resposta às ondas sonoras e transmite as vibrações para a orelha média. Ouvido médio ● Martelo: É um dos três ossículos da orelha média e está ligado à membrana timpânica. Ele transfere as vibrações da membrana timpânica para os ossículos seguintes. ● Bigorna: O segundo ossículo da orelha média, recebe as vibrações do martelo e as transmite para o estribo. ● Estribo: O último ossículo da orelha média, conecta-se à bigorna e transmite as vibrações para a orelha interna através da janela oval. ● Janela Oval: É uma abertura na orelha interna coberta pela base do estribo. As vibrações são transmitidas da orelha média para a orelha interna através desta janela. Ouvido interno (labirinto) ● Cóclea: A cóclea é a parte da orelha interna responsável pela conversão das vibrações sonoras em sinais elétricos que são transmitidos ao cérebro por meio do nervo vestibulococlear (NC VIII). Ela também é essencial para a percepção das frequências sonoras. ● Vestíbulo: O vestíbulo contém órgãos sensoriais responsáveis pelo equilíbrio e pela orientação espacial. ● Canais Semicirculares: São três canais preenchidos com líquido que detectam movimentos da cabeça e ajudam na manutenção do equilíbrio. Audiometria Os sons podem ser classificados em agudos, médios e graves. O audiograma é uma representação gráfica da audição que geralmente começa em 0 Decibéis (dB), que representa o limiar da audição, e vai até valores superiores, dependendo do equipamento utilizado (até 120 dB). As frequências auditivas normalmente estudadas variam de aproximadamente 20 Hertz (Hz) a 20.000 Hertz (Hz), abrangendo a faixa típica da audição humana. Frequências abaixo de 20 Hz são denominadas infra-sons, e frequências acima de 20.000 Hz são chamadas de ultra-sons. No entanto, a capacidade de perceber sons em ambos os extremos da faixa auditiva varia de pessoa para pessoa e pode diminuir com a idade.5 Quando um examinador utiliza um fone, está testando a via aérea do som. O teste se inicia com valores médios de 40 dB, que vão diminuindo até que o paciente não escute mais. Na audiometria tonal, avaliamos: ● Tipo da perda ● Grau da perda ● Configuração audiométrica ● Lateralidade Tipos de perda auditiva ● Perda auditiva condutiva (defeitos no ouvido externo/médio) ○ Gap aéreo-ósseo maior ou igual a 15 dB ● Linha de cima: via óssea ● Linha de baixo: via aérea ● Perda neurossensorial ou sensório neural (defeitos no ouvido interno [principalmente] ou SNC) ○ Gap aéreo- ósseo de até 10 dB ● As duas linhas “caem” em capacidade ● Perda auditiva mista ○ Gap aéreo-ósseo maior ou igual a 15 dB O Gap Aéreo-Ósseo é a diferença entre a capacidade auditiva do paciente através da condução aérea (quando os sons são transmitidos pelo ar e chegam ao ouvido externo) e a capacidade auditiva do paciente através da condução óssea (quando os sons são transmitidos diretamente para o ouvido interno através dos 6 ossos cranianos). Em outras palavras, é a diferença entre o que o paciente consegue ouvir quando os sons são transmitidos pelo ar e o que ele consegue ouvir quando os sons são transmitidos por vibrações nos ossos. O gap aéreo-ósseo é uma medida importante na audiometria e pode ajudar a identificar possíveis problemas auditivos, como perda de audição condutiva (quando a condução óssea é melhor do que a condução aérea) ou perda de audição sensorioneural (quando a condução aérea e óssea têm resultados semelhantes, mas ambos são reduzidos). Graus de Perda Auditiva ● Normal: menor ou igual 25 dB ● Perda leve: 26 a 40 dB ● Perda moderada: 41 a 70 dB ● Perda severa: 71 a 90 dB ● Perda profunda: 91 a 119 dB ● Anacusia/cofose: acima de 120 dB Avaliações subjetivas da audição – dependem da resposta do paciente ● Teste de diapasão ● Audiometria tonal (ouve ou não ouve) ● Audiometria vocal (entende o que ouve ou não entende; trata-se do reconhecimento de fala) ● Audiometria de observação comportamental ● Audiometria de reforço visual ● Testes para diagnóstico de alteração do processamento auditivo Avaliações objetivas da audição – não dependem da resposta do paciente ● Emissões otoacústicas ○ Transientes ○ Produtos de distorção ● Respostas auditivas de tronco encefálico ○ Potenciais evocados auditivos por cliques ○ Potenciais evocados auditivos por frequência específica ○ Potencial evocado auditivo por via óssea ○ Respostas auditivas de estado estável Formas de reabilitação auditiva Os aparelhos são constituídos por: ● Microfone ● Chip eletrônico ● Amplificador ● Bateria ● Receptor 7 Cirurgias de Reabilitação Auditiva Meios passivos de reabilitação auditivas: são meios que não gastam energia, isto é, utilizam o próprio corpo do paciente para que sejam feitas correções, como interposição ossículos na cadeia ossicular. Além disso também existem as próteses sintéticas: ● Prótese de Reconstrução Total (PROT) ● Prótese de Reconstrução Parcial (PROP) Também existe a opção de se fazer prótese de estapedotomia/estapedectomia. Indicação de Próteses auditivas ancoradas no osso temporal São considerados quando os Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASI) convencionais e com CROS são ineficientes (o paciente ouve do lado direito com o ouvido esquerdo, e do lado esquerdo com o ouvido direito). Todos os pacientes devem testá-la, podendo mantê-las se houver boa adaptação. Tipos de próteses auditivas de condução óssea ● Bone-anchored Hearing Aid (BAHA): não usadas no Brasil; o calor pode inflamar a pele, afetando o funcionamento do aparelho. ● Ponto: não usadas (semelhantes a BAHA). ● Bonebridge: não usadas. ● Sophono: não usada. ● Soundbite: não usada. ● Maxum: não usada. ● Esteem: não usada. ● Carina: não usada. ● Vibrant Soundbridge: possibilidade para pacientes que não se adaptam aos aparelhos auditivos. Implantes cocleares Os implantes cocleares utilizam a tecnologia atual para estimular diretamente as células nervosas no primeiro neurônio, conhecido como Giro de Scarpa – permitindo a detecção precisa de sons, incluindo notas musicais e a compreensão de vozes. É importante dizer que esses implantes podem ser implantados até os 4 anos de idade. Isso ocorre porque até os 3 anos e 6 meses, que é o período de máxima plasticidade do sistema auditivo central, a criança está em seu período crítico para o desenvolvimento e estimulação auditiva. A plasticidade nessa fase permite que o sistema auditivo se adapte de maneira mais eficaz. No entanto, após os 7 anos de idade, a plasticidade auditiva diminui significativamente. Se a criança não recebeu estimulação auditiva adequada durante esse período crítico e não desenvolveu um código linguístico mínimo, as chances de um desenvolvimento bem-sucedido diminuem consideravelmente. Isso ocorre porque ocorre uma poda sináptica, levando à falta de desenvolvimento das estruturas auditivas após o nervo auditivo, resultando na perda da via auditiva. 8 Em resumo, é crucial que a estimulação auditiva seja iniciada o mais cedo possível, idealmente até os 4 anos de idade, para maximizar as chances de desenvolvimento auditivo adequado. Após os 7 anos de idade, as oportunidades de recuperação são limitadas devido à diminuição da plasticidade auditiva. Implante de Tronco Encefálico Está indicado em todos os casos nos quais não está ou não é possível realizar implante coclear, porém não apresenta a mesma qualidade que do implante coclear, isto é, limita-se a detecção de sons. Outros método de restauração da audição ● Corticoides: usados em casos de perdas auditivas subidas, sendo injetados dentro da orelha média (normalmente melhora-se em torno de 20 a 30 dB; de anacusia, o paciente passa conseguir usar um aparelho auditivo) ○ A ação do corticóide não é a ação anti-inflamatória, mas anti-apoptótico ● JNK: inibe diverso alvos pro-apoptóticos ● Inibidores da Caspase 3: anti-apoptóticos ● Antioxidantes, como N-acetilcisteína
Compartilhar