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Parto Normal de Grandes Animais Definições Parto normal ou eutócico é o processo de expulsão do feto e dos envoltórios fetais. O parto só termina quando há a expulsão de todos os envoltórios fetais, se isso não acontecer, é preciso intervir no trabalho de parto. As veias e artérias uterinas ficam grandes durante a prenhez, por isso os envoltórios fetais devem sair, pois se permanecerem pode haver toxemia. Vias fetais .Moles São as estruturas do sistema genital que são flácidas, sendo compostas por: Vulva, vestíbulo, vagina (cadela é a que tem a mais longa), cérvix, útero e ligamento sacro isquiático. .Duras (ósseas) São os ossos que constituem a pelve, que são: ílio, púbis, ísquio, sacro e vértebras caudais (C1, C2 e C3). Também há alguns ligamentos, que são o sacrotuberal e sacroilíaco. Essas estruturas possuem um leve movimento entre si, dependendo da quantidade de musculatura e do tipo de pelve da fêmea. Pelve .Articulações intrínsecas (mais internas) ↬Sacro-ilíaca; ↬Acetábulo; ↬Sínfise púbica; ↬Vértebras (S1 a S3). .Articulações Extrínsecas (mais externas) ↬Lombossacra; ↬Coxofemoral. .Ligamentos pélvicos Em equinos e suínos são inaparentes e o tecido adiposo é mais desenvolvido. Em ruminantes há flacidez ao redor do momento do parto. .Metragens importantes ↬Diâmetro conjugado verdadeiro; É a distância entre o sacro e a sínfise púbica. ↬Diâmetro bi-ilíaco ou médio; É a medida entre os íleos. ↬Diâmetro transversal da face caudal da pelve; ↬Diâmetro transversal da cavidade pélvica. Para a mensuração dessas medidas em vacas e éguas, existem alguns aparelhos que conseguem fazer essa metragem. São semelhantes a um compasso e introduzidos por via vaginal. Para as éguas de primeira parição, o ideal é que essas medidas sejam feitas. .Tipos de pelve Dolicopélvica ↬Diâmetro conjugado maior que o bi-ilíaco; ↬Assoalho côncavo e elevado na região caudal; ↬Ocorre em vaca, porca, ovelha e cabra. Mesatipélvica ↬O diâmetro conjugado é similar ao bi-ilíaco ↬Assoalho plano ↬A pelve é curta e inclinada, quase circular ↬Ocorre em éguas Parto Um dos pontos importantes é que quem determina a hora do nascimento é o produto (feto). .Periparto No período do periparto acontecem vários eventos, são eles: Maturação final do feto Dentro da maturação fetal há a maturação pulmonar e renal. A renal é desencadeada pela presença do ACTH, sendo possível realizar a avaliação dessa maturação pelo US. A variação de glicemia fetal está relacionada aos batimentos cardíacos. Maturação final feto-placentária Ligada, muitas vezes, com a secreção de alguns fatores de crescimento que promovem autólise dos placentomas ou da junção coriônica, para que ocorra o descolamento da placenta evitando, assim, quadros de retenção placentária, além de facilitar a liberação do feto. Qual hormônio está alto no momento do parto? (PROVA) A ocitocina e a prolactina promovem a contração e a ejeção do leite (associado à queda da progesterona e aumento do estrógeno). Preparação da glândula mamaria Ocorre de 4 às 6h antes do parto, ocorre deiscência do leite, liberação de ocitocina pela adenohipófise e aumento de prolactina. .Mecanismo de ação É o feto quem desencadeia o processo do parto, de forma que, com a maturação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, inicia a produção de corticoides fetais (principalmente o ACTH). O ACTH fetal é excretado e quando ganha a circulação periférica da mãe, estimula alguns hormônios placentários (principalmente estrógeno, progesterona e prostaglandina) que atuam na maturação da própria placenta para a preparação do parto. Com o aumento do tamanho do(s) feto(s) e, consequentemente, falta do tamanho uterino, ocorre o estresse fetal em que há aumento da produção desses corticoides, seja por aumento de pressão, por início de hipóxia (estase sanguínea, que pode ser pelo próprio tamanho do feto), seja pela variação da glicemia fetal (sangue não chega tão rápido quanto chegava antes, isso pelo próprio tamanho do feto). Em outras palavras, o feto começa a crescer bastante e isso pressiona vasos como artérias e veias uterinas e umbilicais, levando a uma falta de oxigênio e de nutrientes no geral. Esse processo é estressante para o feto, o que acelera o processo de maturação fetal para o desencadeamento do parto. O estresse materno, dependendo da gravidade, também pode desencadear o parto, mas nesse caso geralmente resulta em abortamento. Os corticoides fetais, pela perfusão da placenta, chegam à mãe e cessam o bloqueio da progesterona, o que leva a um processo de esteroidogênese, levando a um aumento de estrógenos, o que sensibiliza mais os tecidos reprodutivos para que ocorra a contração dos tecidos uterinos. O estrógeno é responsável pela contração do miométrio, próximo ao parto. O cortisol fetal age em três enzimas diferentes: 17a-hidroxilase I, 17a-hidroxilase II e aromatase, dando origem ao estrógeno por meio da degradação da progesterona. No meio da gestação. Alguns ruminantes e éguas podem apresentar cio e esse cio é decorrente da ativação o eixo hipotálamo- hipófise-gonadal do feto (macho ou fêmea), que pode resultar em aumento de produção de estrógeno no terço médio da gestação, e isso é chamado de "cio do encabelamento", a fêmea não pode ser coberta nesse cio, porque pode resultar em abortamento. .Dinâmica hormonal Além da queda da progesterona, há o aumento dos níveis de relaxina, de estrógeno (proveniente da degradação da progesterona), de PFG2α e de ocitocina. Relaxina Quem produz: produzida pelo corpo lúteo, placenta e folículos pré-ovulatórios Ação: é mais efetiva quando o estrógeno está em alta concentração ("sinergismo") e é responsável por promover o relaxamento da sínfise púbica, dos ligamentos e da própria cérvix. E2, PFG2α e Ocitocina Ação: Atuam em conjunto para promover a contração muscular, tanto do miométrio quanto da musculatura abdominal e diafragmática. Ainda, o estrógeno endógeno promove o aumento da responsividade à ocitocina nos receptores e, dessa forma, as contrações são tônico-clônicas (organizadas e rítmicas). Em éguas, essas contrações são muito vigorosas. Após a ligação da ocitocina aos seus receptores uterinos, o próprio útero começa a produzir prostaglandinas, que têm as seguintes funções: ↬PGE ➜ relaxamento ↬PGI ➜ vasodilatação, importante para que cheguem ou saiam mais hormônios ↬PFG2α ➜ luteólise e contração da musculatura lisa (organizada) Momentos antes do parto ocorre o aumento dos níveis de prolactina, o que faz com que a fêmea comece a apresentar, como sinal clínico, ejeção de leite. O parto é um processo estressante para a mãe e, portanto, os níveis de cortisol materno também se elevam. .Particularidades Suínas Nas suínas, o aumento de estrógeno leva a liberação de prostaglandinas, sendo o sulfato de estrona importante para o reconhecimento materno. Esse aumento de PGF aumenta a força de contração mio-endometrial, por esse motivo é um parto vigoroso, forte e rápido. O restante do parto é similar a outras espécies domésticas. A relaxina produzida no CL, folículos pré-ovulatórios e placenta faz o relaxamento da sínfise púbica, ligamentos e cérvix. O estrógeno causa um aumento da receptividade de todos os receptores em seus devidos locais de ação. Éguas Nas éguas a queda da progesterona ocorre no terço final da gestação e é decorrente da apoptose das células lúteas. Nas demais espécies, essa queda da progesterona no periparto é uma consequência apenas da ação dos corticoides fetais. .Reflexo de Ferguson O reflexo de Fergusson é importante para saber se a fêmea é responsiva a fármacos. Se não houver reflexo o partodeve ser encaminhado para cesariana. Com o aumento da pressão sobre o canal cervical pelo feto, há maior liberação de ocitocina, estimulando a contração uterina. Se positivo, indica que o endométrio ainda possui receptores para ocitocina, ou seja, é responsivo a fármacos. Modificações anatômicas antes do parto ↬Vulva e vagina ➜ edema, úmida e hiperêmica; ↬Útero ➜assimétrico, com aumento do fluxo ↬Pelve ➜ relaxamento, abdômen pendular ↬Mamas edemaciadas, com aumento de TºC local e descida do colostro. ↬Feto em posição fisiológica para o parto Modificações Comportamentais ↬Isolamento; ↬Formação de ninho; ↬Inquietação (cavar, demonstrar inquietude, olhar ou até mesmo mordiscar o flanco) ↬Ansiedade; ↬Desconforto abdominal; ↬Aumento das glândulas mamárias. Fases do parto . Fase prodrômica ou de preparação para o parto Vaca ↬Presença de secreção mamária; ↬Relaxamento articulações e pelve (2 semanas antes); ↬Edema de vulva e vagina; ↬Liberação do tampão mucoso. Égua ↬Relaxamento dos ligamentos sacro- isquiáticos ↬Inquietação e sudorese ↬Descida do colostro (2 a 3 dias antes) ↬Dosagem do cálcio no leite (também de pode dosar potássio e sódio) A égua sempre vai parir na hora mais fria do dia. Porca Aumento de 1ºC na temperatura corporal (entre 12 a 24 horas antes do parto que permanece durante toda a lactação). . Estágio I É a fase de dilatação da via fetal. Durante essa fase de dilatação já há o inicio das contrações uterinas. O feto, nessa fase, ainda vai se insinuar mais perto da cérvix (ainda não está completamente encaixado). O alantoide começa a se pronunciar em direção à vagina. Na maioria das espécies ocorre a ruptura tanto do cório quanto do alantoide, a ruptura dessas duas estruturas não causam prejuízos (isso se durante o parto), mas se ocorrer ruptura de estruturas como âmnio e o cordão umbilical, é preciso fazer intervenção, porque o feto pode sofrer asfixia e vir a óbito. Nessa fase as contrações uterinas ainda estão iniciando, mas são mais brandas, ainda não iniciaram as contrações mais vigorosas nem do miométrio e nem da musculatura abdominal. A ocitocina causa uma despolarização das membranas celulares miometriais com a queda da progesterona e essas contrações são, inicialmente, irregulares e, depois, elas passam a ser rítmicas e sinérgicas (organizadas) e essas contrações iniciais ocorrem a cada 15 minutos aproximadamente. Durante a expulsão do feto, ocorre uma contração a cada 2-3 minutos, durando de 60 a 90 segundos cada uma. Ocorre dilatação a cada 15-20 segundos. Sinais clínicos dessa fase ↬Dor abdominal ↬Inquietação ↬Aumento da FC e FR ↬Inicia da queda da temperatura . Estágio II É a fase de expulsão do feto. Essa fase é caracterizada pela passagem do feto pela vagina e vestíbulo. Nessa fase, além das contrações uterinas também há contrações abdominais vigorosas (principalmente na égua). O âmnio se pronuncia na vagina e a presença do feto (cabeça, escápula e pelve fetais) na região da cérvix e canal vaginal desencadeia o reflexo de Ferguson. Em algumas espécies, como os suínos e alguns bovinos, pode ocorrer a ruptura o âmnio. O rompimento das bolsas fetais ocorre próximo à expulsão completa do feto, então é preciso se atentar se a membrana amniótica está integra ou se já se rompeu no fundo vaginal. Após a expulsão do feto, o mais recomendado é deixar a mãe romper o âmnio (se não estiver rompido) e o cordão umbilical, além de fazer toda a estimulação do neonato (quanto menos intervenção humana, melhor), mas caso seja uma mãe inexperiente, é possível fazer esses procedimentos. . Estágio III É a fase de expulsão da placenta. A expulsão da placenta também usa o mecanismo do reflexo de Ferguson e, ainda, como o neonato já nasceu, o próprio reflexo de sucção também estimula a liberação de mais ocitocina pela mãe. No caso das espécies de múltiplos fetos, a expulsão da placenta é logo após a expulsão de cada feto (expulsão do feto, expulsão da placenta, assim sucessivamente). Lembrando que as placentas são individualizadas (cada feto tem a sua). É esperado também que a placenta seja expulsa logo após o feto em espécies como ruminantes e equinos. No caso dos ruminantes, a presença do sangue estimula a separação (por apoptose) entre as carúnculas e cotilédones. É normal que a fêmea faça placentofagia. OBS: égua tem 30min para expulsar a placenta, se não é considerado retenção. No caso das fêmeas multíparas, se houver aumento do tempo entre a expulsão dos fetos, já se pode classifica-lo como um parto distócico. Quando devemos intervir ↬Contrações sem expulsão do produto; ↬Alteração da estática fetal; ↬Torção uterina; ↬Secreções fétidas, sanguinolentas (sangue vivo) ou purulentas; ↬Comprometimento da vida da fêmea; ↬Fetos gigantes; ↬Atonia uterina; ↬Pouca dilatação das vias fetais; ↬Partos muito longos. Puerpério fisiológico É o período de involução uterina (reparação tecidual, expulsão dos anexos placentários para que se prepare para uma nova gestação). É variável entre as espécies domésticas e depende do tipo de alimentação que ele apresenta, sendo que as biotécnicas não influenciam no puerpério. Cesarianas, fetotomia, lavagem ou infusão intrauterina pode influenciar, sendo que quanto mais inflamação após o parto maior o período puerperal. Com o passar do tempo, depois da eliminação dos lóquios, o útero vai diminuindo a capacidade de contração, ou seja, vai perdendo a capacidade de liberar placentomas que possam ter ficado aderidos. Por isso, d existem bactérias saprófitas (lembrando que o parto não é um processo estéril), que auxiliam no descolamento de resquícios no útero e aumento da contração (pela própria inflamação), facilitando o processo de eliminação de resquícios de lócus. Para éguas, esse retorno ocorre dentro de 5 a 9 dias, isso porque essa espécie tem um puerpério (involução uterina) mais rápido dentre todas as espécies domésticas. As vacas zebuínas têm um puerpério mais longo em comparação com as taurinas, isso varia também de acordo com fatores: primeiro parto, produtividade (vacas de alta produção tendem a ter puerpério mais longo), retenção de placenta ou não. O desmame forçado diminui a produção de prolactina, fazendo com que as vacas retornem ao cio em 2-3 dias. Existem alguns eventos concomitantes: lactação, involução uterina, retorno a ciclicidade (luteólise intensa, aumento de GnRH, FSH e LH) e retorno à anatomia normal. . Fases da involução uterina Contrações miometriais ↬São contrações mais tênues e no sentido dos cornos para o corpo uterino ↬Podem ocorrer de 4 a 5 dias após o parto ↬Se houver algum tipo de problema é possível adm. prostaglandina e estrógeno, para acelerar o processo de luteólise, mas naturalmente essas substâncias já aumentam suas concentrações séricas no pós-parto. Eliminação bacteriana ↬Há o aumento da produção leucocitária ↬Se possível, o indicado é fazer um hemograma e leucograma para avaliar, principalmente se ocorreu quadro de metrite. Eliminação dos lóquios placentários ↬Varia sua apresentação, podendo ser muco, sangue, resquícios de placenta e/ou líquidos fetais ↬A presença de sangue pode ser considerada normal (em pouca quantidade), dependendo do tipo de placenta. Regeneração endometrial ↬Ocorre a produção de fatores de crescimento, para a reorganização da estrutura do útero. PROVA: vaca em cetoacidose, quadro de retenção de placenta, como tratar? PROVA: que fármacos utilizar para eliminação dos lóquios?
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