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Linguagem e cultura 1

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Prévia do material em texto

Cultura e Linguagem
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Me. Natalia Mendonça Conti e Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Aline Gonçalves 
Cultura e Linguagem: Convite a uma Longa Viagem
Cultura e Linguagem: 
Convite a uma Longa Viagem
 
 
• Introduzir o debate acerca das categorias de Cultura e Linguagem, abordando conceitos ini-
ciais correlacionados e o contexto em que essa discussão precisa ser feita, como meio de 
abrir os trabalhos.
OBJETIVO DE APRENDIZADO 
• Introdução;
• Pontos de Partida para Pensar a Linguagem;
• O signo, a Semântica e o Discurso;
• Pontos de Partida para Pensar em Cultura;
• As Culturas, os Conhecimentos e a Modernidade.
UNIDADE Cultura e Linguagem: Convite a uma Longa Viagem
Introdução
Cultura e linguagem e a relação entre elas como objetivo de investigação são algo que 
podemos considerar uma grande empreitada. Tratam-se de questões fundamentais para 
todas as áreas das ciências humanas, servindo também de amparo e diálogo com outros 
campos do saber humano. Sendo assim, nós as apresentamos como convite a uma lon-
ga viagem. A imagem da viagem nos serve bem, porque em viagens costumamos estar 
abertos e curiosos, e nosso estado de atenção fica voltado a aspectos aos quais possivel-
mente não estaríamos em nosso cotidiano. E é de longa duração a viagem, por se tratar, 
também, de uma imersão sem destino certeiro. Um campo vasto e multideterminado. 
Poderíamos dar o conselho de que não se arrisque em definições fáceis. Sabe quando 
colocamos um conceito ou uma categoria em um buscador da internet para que ele nos 
dê a melhor resposta? Nesse caso, muitos caminhos poderiam ser escolhidos. 
Há muitas abordagens distintas para cada Cultura e Linguagem, o que nos sugere que 
trajetórias foram estabelecidas e que cada uma tem sua história, que nos ajuda a compre-
ender o momento atual das relações humanas, suas dimensões sociais, políticas e econô-
micas. Como existe um interesse em aplicar a relação entre Cultura e Linguagem a um 
campo específico das ciências humanas, é preciso alertar que o momento da aplicação 
nos pede um olhar atento e prévio aos modos como essas trajetórias foram estabeleci-
das. Como as teorias se desenvolveram em áreas como a Historiografia, Antropologia, 
Filosofia, Sociologia, Psicologia etc. Como circulam, são exercidas e exercem transfor-
mações na contemporaneidade. Nosso intuito não será o de constituir uma História das 
Ideias, mas de passar por uma revisão dessa natureza para então buscarmos entender, 
dentro de nosso campo de estudo e pesquisa, como Cultura e Linguagem – conceitos 
ou categorias complexos e multideterminados – são compreendidos e operados como 
ferramentas de análise da realidade de nosso tempo – e de outros, por que não?
Historicamente, veremos que estiveram fortemente entrelaçadas, sendo muito di-
fícil pensá-las de modo totalmente separado e autônomo, ainda que cientificamente 
isso aconteça. Em alguma esfera, mesmo que não abertamente revelada, elas se 
tocam. Isso acontece, como veremos mais detalhadamente, porque sua origem não 
é única, mas se relaciona sempre com aspectos fundamentais do que entendemos 
como ontologia dos seres humanos – características fundamentais que nos definem 
enquanto espécie. Estão diretamente ligados a aspectos fundantes também das gran-
des civilizações humanas, o trabalho e a linguagem. 
Você sabe o que significa Ontologia? Trata-se de um termo bastante usado na Filosofia, 
tendo sido introduzido pelo filósofo alemão Rudolph Goclenius, em 1613. Designa o estudo 
da metafísica do ser, “independente de suas determinações particulares e naquilo que cons-
titui sua inteligibilidade própria”, ou seja, o “ser enquanto ser”, sua essência. Pode aparecer 
também enquanto sinônimo de metafísica (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p. 206). 
Os dicionários podem ser companheiros valiosos de viagem, e não só os que estamos mais 
habituados, mas os etimológicos, de Filosofia, Sociologia etc. 
8
9
Figura 1
Fonte: smartrecovery.org
Se consideramos que todo o nosso desenvolvimento enquanto espécie esteve ligado 
ao convívio social, às interações com o meio espacial e outros seres vivos, poderemos 
depreender que parte importante do que nos fez chegar até aqui tem a ver com a 
capacidade de interação, relação, formulação de entendimentos comuns e de possibi-
lidades de reproduzir a vida materialmente (caçar, pescar, plantar, cozinhar, produzir 
tecnologia). A capacidade humana de desenvolver linguagem de modo complexo nos 
possibilitou a sistematização de experiências que se condensaram e se transformaram 
no tempo, produzindo tecnologia e meios de produção da vida – não só material, mas 
também simbolicamente. E o mais interessante é que, dentro disso que podemos cha-
mar aqui de experiência humana, constituída em sua história de espécie, não possui 
um caráter unívoco. No pensamento contemporâneo da linguagem e da cultura, vere-
mos como diferentes experiências constituem essa experiência maior, com origem em 
muitos pontos do planeta, em diferentes povos e formações linguístico-culturais.
Depois de trabalharmos em torno da origem e primeiro contato com Cultura e Lin-
guagem, veremos como estão ligadas às questões nacionais, territoriais e de formação e 
relação dos e entre os povos, além da formulação de nossas memórias sociais. Outra coi-
sa importante com a qual ter atenção são os pontos de contato insurgentes entre Cultura 
e Linguagem, sendo ferramenta e canal um do outro para sua fluência e acontecimento.
Pareceu um bom convite? 
Pontos de Partida para Pensar a Linguagem
Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces se-
cretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre 
ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade
9
UNIDADE Cultura e Linguagem: Convite a uma Longa Viagem
Definida genericamente, a linguagem é um sistema de signos convencionados 
a fim de representar a realidade, usado na comunicação humana. Genericamente 
porque, como veremos, poderíamos passar anos de nossas vidas estudando apenas 
o que significa Linguagem, nas diferentes abordagens e campos do saber em que foi 
e é pensada, analisada e desenvolvida. O entendimento do que seja Linguagem pode 
ser bastante distinto entre teorias e campos do saber, com ênfases em diferentes 
aspectos. Por exemplo, alguns consideram o aspecto comunicacional como funda-
mental em sua definição, outros focam no entendimento do mecanismo de mediação 
entre o real e a sua representação em signos. Pode ser compreendida também como 
um espaço de entendimento e trânsito do sujeito como ser histórico e social.
Na era moderna foi que seu estudo de modo sistemático ganhou espaço e 
vigor, tendo sido criada inclusive uma disciplina específica para investigação de 
suas particularidades, conhecida como Linguística. Torna-se, a Linguagem, uma 
categoria de importância filosófica, na medida em que passa a ser considerada um 
aspecto fundamental da relação entre os seres humanos e o real. E essa é uma 
discussão que se desdobra em tantas outras e abre tantos caminhos de investigação, 
e dificilmente conseguimos apontar aspectos conclusivos na(s) ciência(s) que 
investiga(m) a Linguagem. Existe, sim, um debate filosófico em aberto. A partir 
dessa nova localização e importância no pensamento filosófico moderno, passa-
se a afirmar a “natureza intrinsecamente linguística do pensamento”, definição em 
aberto, ou, ainda, que “toda teoria tem necessariamente uma formulação linguística 
e se constrói linguisticamente”, sendo o problema da natureza da linguagem e do 
significado chave fundamental para as ciências que as pensam.
Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons
Dentro do escopo científico de uma abordagem ainda genérica sobre linguagem, 
parece-me importante tocar em três aspectos de sua conformação e manifestação: o 
signo, a semântica e o discurso, que nos ajudarão posteriormente a compreender 
as escolas de pensamento, suas ideiase desenvolvimentos. O intuito de abordar es-
sas partículas de nossa discussão é buscar estabelecer um ponto de partida comum, 
como marcas importantes, em nosso mapa de viagem. Pode parecer muito específi-
co, mas faz sentido enquanto processo de construção desses saberes.
10
11
O signo, a Semântica e o Discurso
O Signo
Em um primeiro olhar, podemos compreender signo como um elemento que 
indica ou designa outro, representa-o. Esse é o sentido denotativo, e veremos que 
há perguntas que se desdobram desse entendimento e nos apresentam questões im-
portantes. É possível que um signo seja natural? Por exemplo, é natural que fumaça 
seja signo/designe de fogo? Ou essa delimitação, esse movimento de ser levado a um 
entendimento é convencionado, próprio de símbolos constituídos histórica e cultural-
mente, e de modos distintos, em diferentes sociedades? 
A Semiótica, campo de investigação da Linguística, discute se existem signos 
naturais ou se todo signo é convencionado. Toda ciência da linguagem terá o signo 
como sua noção básica, o que torna o seu entendimento bastante complexo. Existem 
diversas teorias do signo, e entre as mais modernas, também estão englobados os 
signos não verbais. Seria, então, o signo algo que evoca outra coisa, como sugere 
uma das primeiras teorias do signo – a de Santo Agostinho, como o que nos leva a 
pensar em algo? Ou seria algo que substitui uma coisa, como um referente?
Bem, considerando que existe um vasto campo de discussão a respeito do que 
seja signo, vamos defini-lo com cautela, com base no que sugerem Ducrot e Todorov 
(2007, p. 102):
(...) o signo como uma entidade, que 1) pode tornar-se sensível, e 2) para 
um grupo definido de usuários, assinala uma falta nela mesma. A par-
te do signo que pode tornar-se sensível denomina-se, desde Saussure, 
SIGNIFICANTE, a parte ausente, SIGNIFICADO, e a relação mantida 
por ambos, SIGNIFICAÇÃO. 
O que os autores nos dizem é que um signo tem sua existência imperceptível, 
sendo, no entanto, possível a sua percepção, sendo sempre circunscrito a um gru-
po delimitado de “usuários”, o que lhe confere uma particularidade interessante no 
campo da linguagem. O signo não é universal no tempo e no espaço; com caráter 
institucional, constitui-se e manifesta-se histórica e culturalmente, inscrito em suas 
realidades particulares. O referido grupo pode ser de uma só pessoa, ou formado 
por cidadãos de uma nação, concernentes a uma cultura nacional. Fora de uma so-
ciedade, os signos não têm existência (ibidem). 
Um dos aspectos mais discutidos em torno dessas questões diz respeito à “na-
tureza do significado”, que, de acordo com o que definiram os autores citados, não 
poderia ser pensado, de modo algum, separadamente do significante. 
Um significante desprovido de significado é simplesmente um objeto; ele 
é, mas não significa; um significado desprovido de significante é o indizí-
vel, o impensável, o inexistente mesmo. A relação de significação é, em 
certo sentido, contrária à identidade a si; o signo é, simultaneamente, 
marca e falta: originalmente duplo. (ibidem)
11
UNIDADE Cultura e Linguagem: Convite a uma Longa Viagem
Encontraremos nos estudos linguísticos, frequentemente, essas duas denomina-
ções, significante e significado. Se estabelecêssemos um paralelo com a estética, o 
significante poderia ser definido como a forma do significado. Como se o significado 
chegasse a nós por meio de uma forma, a que chamamos significante. Mas, assim 
como na estética, essa separação só funciona a título de análise, visto que significado 
e significante existem juntos, realizam-se conjuntamente. 
Chegamos ao significado a partir do signo, e o sentido “não é uma substância 
qualquer que se poderia examinar independentemente dos signos em que ele é apre-
endido”, só existindo a partir e nas relações de que participa. 
Uma pergunta que poderíamos nos fazer, filosoficamente, é se, considerando nosso 
contexto histórico, social e econômico de globalização profunda, o que, sem dúvida, 
engloba a dimensão da linguagem, é possível pensar em signos que sejam universais à 
humanidade desse tempo/espaço. Fica a questão como proposta de reflexão.
A Semântica
Do grego semantikós, semântica é a teoria do significado, sendo parte das ciên-
cias da linguagem e tendo como campo a relação entre os signos e o real, os objetos 
e suas significações. Se em um momento anterior analisamos o signo de forma re-
lativamente abstrata, ainda deslocado do loco de sua vigência, ao pensar semântica, 
observamos a relação entre significante e significado em movimento. A relação é o 
que guarda sua maior importância.
Seus conceitos centrais são o próprio significado, a referência: a relação 
entre o signo e o objeto, e a verdade: a correspondência efetiva entre o 
signo e o objeto nessa relação. (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p. 249)
É possível interpretar de diferentes modos as relações de significação, a partir de 
correntes teóricas da linguística e da filosofia da linguagem, como veremos adiante. 
Cada uma dessas correntes busca definir e explicar o modo como se dá a “referên-
cia de um signo a um objeto e em que condições se pode definir essa relação como 
verdadeira” (ibidem).
O Discurso
A palavra discurso pode nos remeter inicialmente a uma figura importante que, em 
circunstância pública, tira do bolso um maço de papéis e lê um texto preparado a res-
peito de algum tema de interesse comum. Uma sequência de palavras que serve a um 
fim de comunicação. Esse é o uso corrente, cotidiano de discurso, e há outros, sobre os 
quais se erguerão correntes de pensamento na Filosofia e nos estudos da linguagem. 
Do latim discursus, significa conversação. Nos campos do pensamento os quais 
nos propomos conhecer e investigar, trata-se de um modo de pensamento organizado, 
articulado, diferente de uma operação intuitiva. É comum que se denomine enquanto 
“pensamento discursivo”, e se constitui em um percurso – sendo o percurso já discurso 
12
13
– para atingir o conhecimento e sua formulação. No pensamento contemporâneo, o 
discurso ganhará um lugar de destaque, sendo valorizado e reconhecido não apenas 
enquanto texto, mas como “o próprio campo de constituição do significado em que se 
estabelece a rede de relações semânticas com a visão de mundo que pressupõe”.
É a partir dessas relações – da constituição e difusão de diferentes signos, da for-
mação de significações e discursos que dão conta de promover diferentes e coexis-
tentes visões de mundo, ou “pluriversos”, como gosta de tratar o pensador contem-
porâneo Ailton Krenak, em jogo com a palavra “universo”, tão usada na fundação 
do pensamento moderno, que podemos estabelecer os ladrilhos para a nossa cami-
nhada, introduzindo, nesse momento, não só a definição de Cultura e Linguagem, 
mas a sua relação entre si. 
Figura 3
Fonte: rebelion.org
Pontos de Partida para Pensar em Cultura
Segundo Williams (2007), cultura é uma das palavras mais difíceis, mais delica-
das, de serem definidas. Essa dificuldade se explica, em grande parte, pela trans-
formação histórica dos usos da palavra, gerando sentidos diversos e, às vezes, até 
contraditórios entre si. Esse processo tende, portanto, a dilatar o conceito de cultura, 
aumentando seu campo semântico. Essa ampliação tende a um movimento pendular 
interessante: por um lado, o conceito se esvazia de sentido devido a sua precariedade 
de contorno, sua explosão de sentidos que carece de definições mais precisas; ao 
mesmo tempo, essa variedade semântica abre espaço para novos usos da palavra, 
trazendo ao conceito uma conexão forte com o tempo e suas mutações, trazendo 
dinâmica à produção conceitual e aproximando-a da torrencial vida social. 
Cultura [Culture] é uma das duas ou três palavras mais complicadas da 
língua inglesa. Isso ocorre em parte por causa de seu intrincado desen-
volvimento histórico em línguas europeias, mas principalmente porque 
passou a ser usada para referir-se a conceitos importantes em diversas 
disciplinas intelectuaisdistintas e em diversos sistemas de pensamento 
distintos e incompatíveis. (WILLIAMS, 2007, p. 117)
13
UNIDADE Cultura e Linguagem: Convite a uma Longa Viagem
Diante desse cenário de múltiplos horizontes, a palavra cultura se apresenta como 
um problema. Problema esse que poderia gerar uma paralisia frente a sua comple-
xidade conceitual, contudo o caminho pode ser outro, tratando o problema como 
incentivo à investigação diversa, à pesquisa múltipla e a uma possibilidade de apren-
dizado que leva em conta a combinação de seus espaços de incompletude e suas 
certezas sempre dispostas a serem revistas e modificadas. Um problema que nos 
convida a refletir sobre a cultura como alguma coisa em constante movimento. 
Para começar os estudos sobre cultura, nessa perspectiva múltipla, seria impor-
tante, então, diagnosticar suas raízes modernas, período em que o debate sobre a 
cultura ganhou força e formas substanciais. Vislumbrando as constituintes históricas, 
é possível entrever as camadas do conceito, sua permanência e seus limites, sobretu-
do por seu contorno majoritariamente europeu. 
As Culturas, os Conhecimentos 
e a Modernidade 
A chamada era moderna da humanidade tem alguns eventos históricos, destacados 
aqui especialmente os da parte ocidental, que transformariam radicalmente os modos 
de vida e a própria percepção que a humanidade tem de si e de seu desenvolvimento. 
A Revolução Francesa, que durou aproximadamente dez anos, entre 1789 e 1799, 
notabilizou-se pela derrubada do longevo regime monárquico francês. Em seu lugar, 
foi estabelecida a república democrática burguesa, que conseguiu se estabelecer como 
regime político em conexão direta e indissolúvel dos modos de produção capitalista, 
ambos ainda em vigor e hegemonizando as formas de vida social contemporânea. 
Esse protagonismo da burguesia, como classe dominante, não se restringiu ape-
nas às plataformas políticas que determinam as leis, as formas do estado, as nor-
mas das instituições etc. Tampouco ela se perfaz apenas nas estruturas econômicas 
capitalistas que determinam os modos de produção, a circulação das mercadorias 
e as formas de trabalho. A hegemonia burguesa consolidou uma maneira de ver o 
mundo, de ler as coisas, de produzir pensamento, da humanidade se enxergar como 
tal e refletir sobre a variedade de seus processos culturais. 
Essa hegemonia elege o indivíduo, entendido em sua instância particular, como 
centro do universo. No centro, ao indivíduo é conferida a potência de produção da 
vida e, consequentemente, a responsabilidade pelo sucesso e pelo fracasso de seu 
desenvolvimento. Nessa perspectiva, o que somos, o que pensamos, o que produzi-
mos culturalmente emana dos indivíduos, sendo eles o princípio, meio e fim desses 
processos, em um ciclo hermético, que tende a se autorreferenciar constantemente. 
A primeira contradição desse processo autorreferente é a sua pretensão univer-
salizante. A eleição do indivíduo, ao contrário do que aparenta, se sustenta por 
modelos de representação, ou seja, a definição do indivíduo, portanto, do centro 
14
15
do universo, do produtor da vida social, se dá a partir de um contorno específico: 
o indivíduo burguês europeu. Essa imagem se esforça para ser a representação do 
mundo, autoproclama-se como imagem da humanidade, mas, ao mesmo tempo, 
essa mesma imagem se consolida como um dos pilares de dominação sociossimbóli-
ca, relegando à margem as culturas não identificadas com esse modelo.
Figura 4 – Gustave Corbert, Le Désespéré
Fonte: Wikimedia Commons
Contudo, se por um lado a modernidade desenvolve o individualismo, por outro 
ela também carrega em seu bojo a consolidação das classes e suas disputas por espa-
ço no tecido social. A burguesia entra em choque frontal com a classe trabalhadora 
e seus interesses. Além da exploração que advém das relações de trabalho, onde o 
lucro não é dividido por todos aqueles que produzem as riquezas, o conflito entre 
classes também se estabelece na subjetividade. A representação do burguês como 
sujeito universal e, portanto, como portador do sentido de indivíduo passa ao largo 
das formações sociais que constituem a classe trabalhadora e suas múltiplas culturas. 
Desse modo, as estruturas de conhecimento na modernidade são atravessadas ine-
vitavelmente pelas tensões entre as classes, pelas disputas no interior da sociedade. 
Essas lutas fazem o conhecimento e a cultura terem uma parcela política fundamen-
tal, na qual os critérios de validação e valorização não podem ser destituídos de suas 
posições sociais.
Outro marco da modernidade é a Revolução Industrial, que se caracteriza como 
um processo histórico de desenvolvimento amplo de tecnologias, meios e modos de 
produção. Essas transformações agilizaram a produção e a circulação de mercado-
rias, bem como a movimentação das pessoas, impactando na conformação das po-
pulações do campo e da cidade. Com a circulação cada vez mais rápida de pessoas 
e produtos, as cidades passaram a ter uma concentração populacional cada vez mais 
intensa. Além desse funil humano, as informações encurtam seu tempo e espaço 
para se disseminarem. Podemos assistir, então, a uma transformação significativa na 
produção cultural, posto que os conteúdos e as formas fluam de maneira mais rápida 
e intensa, alcançando um contingente cada vez maior de pessoas. 
15
UNIDADE Cultura e Linguagem: Convite a uma Longa Viagem
Essa aceleração, por um lado, facilita a circulação; por outro, tende à dispersão, 
como ressalta David Harvey: 
Para começar, a modernidade não pode respeitar sequer o seu próprio 
passado, para não falar de qualquer ordem social pré-moderna. A tran-
sitoriedade das coisas dificulta a preservação de todo sentido de conti-
nuidade histórica. Se há algum sentido na história, há que descobri-lo e 
defini-lo a partir de dentro do turbilhão da mudança, um turbilhão que 
afeta tanto os termos da discussão como o que está sendo discutido. 
A modernidade, por conseguinte, não apenas envolve uma implacável 
ruptura com todas e quaisquer condições históricas precedentes, como é 
caracterizada por um interminável processo de rupturas e fragmentações 
internas inerentes. (HARVEY, 2008, p. 22)
Essas rupturas e fragmentações fazem os espaços do pensamento e da produção 
cultural tenderem à instabilidade, à dificuldade da consolidação e da perenidade. 
Então, se por um lado o ideário burguês edifica sua subjetividade a partir do seu pa-
drão de indivíduo, por outro, os conflitos e as fragmentações tendem a despedaçar 
esse projeto de indivíduo, tratando o sujeito, o conhecimento e a cultura como uma 
espécie de dispersão de cacos. Essa dispersão, aliada à rápida circulação, produz 
outro fenômeno de extrema importância para a produção subjetiva moderna, que 
é a compressão do espaço e do tempo. As distâncias se reduzem com a rapidez da 
transposição de suas fronteiras, quer seja de ordem material, quer seja de ordem ima-
ginada. Sendo assim, a própria produção e afirmação do conhecimento e da cultura 
entram em crise, porque os critérios que justificam as pretensas verdades passam a 
vacilar, a desmanchar no ar, dada sua fluidez e fragmentação. 
Figura 5 – Umberto Boccioni, The City Rises
Fonte: Wikimedia Commons
Ainda na esteira da modernidade, o iluminismo se configura como um pilar da 
produção de conhecimento e de cultura, quer seja pela identificação com suas pre-
missas, quer seja pelo enfrentamento delas. Como contraposição aos parâmetros 
da Idade Média, o iluminismo se autodeclara como a idade das luzes, incutindo ao 
período anterior a pecha das sombras e das trevas. As luzes acompanham as trans-
formações econômicas e sociais e têm no progresso sua teleologia, sua promessa 
16
17
de desenvolvimento. Com a noção de progresso como base, o conhecimento e a 
cultura passam a mirar-se como superação sucessiva de seus movimentos anteriores 
e, ao mesmo tempo, como ferramenta inequívoca do esclarecimento. Essas premis-
sas estabelecem um encadeamento epistemológicoque esquematiza o pensamento, 
tratando tudo aquilo que não se enquadra a esses princípios como destituídos de 
condições para o estatuto do conhecimento. 
Ao mesmo tempo, a consolidação da ciência como um polo de produção de saberes 
que persegue a validação de seus métodos e da aferição de suas teses torna o conheci-
mento um campo vasto e em expansão. O desenvolvimento tecnológico, a reconfigu-
ração da nossa relação com o sistema solar, a descoberta de novos meios de locomo-
ção, a teoria da evolução das espécies, a ampliação dos recursos medicinais e tantas 
outras transformações produzem um abalo sísmico em nossa percepção do mundo, 
em nosso corpo, em nossa relação com a natureza e tantas outras metamorfoses. 
Com essa transmutação anunciada e sentida, a subjetividade moderna aparece 
como que cindida, em crise, borrada como o impressionismo de Monet. A estabilida-
de de projeção representacional do sujeito burguês, amparada pela promessa de um 
futuro promissor, pavimentado pelo progresso, mergulha no caos da fragmentação, 
desconserta-se com a inadequação modelar dos parâmetros universais burgueses e 
colide vertiginosamente com o não apaziguamento diante das formas sociais de ex-
ploração e opressão de uma classe contra outra. 
Outro desdobramento histórico da hegemonia burguesa e seu projeto de autoafir-
mação cultural é o processo de colonização americana e africana. Essa colonização 
brutal, concretizada na base do genocídio, da exploração e da imposição cultural, 
se implementou de maneira decisiva para o destino dos povos que tiveram seus 
territórios ocupados pelos europeus. Em termos epistemológicos, essa dominação 
pretendeu-se na medida do aniquilamento das culturas locais e de sua substituição 
pela cultura dos conquistadores europeus. Esse procedimento histórico pretendia o 
reforço da centralidade do sujeito burguês como elemento de representação do mo-
delo da humanidade e como produtor e difusor da cultura. Com isso, a colonização 
se constitui como um projeto de eleição da cultura burguesa como parâmetro univer-
sal, em uma tentativa de suprimir da cultura justamente o que tratamos no começo 
desta unidade: sua multiplicidade. 
Contudo, as culturas não consagradas pela dominação burguesa europeia não se 
dissiparam com o andar da história e seguiram seus rumos a despeito desses pro-
cessos de violência. Esse andamento em diferentes estradas será tema de estudo em 
outras unidades desta disciplina. 
Rosana Paulina, Assentamento. Disponível em: https://bit.ly/3drUBNC
17
UNIDADE Cultura e Linguagem: Convite a uma Longa Viagem
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin
JOBIM E SOUZA, S. Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. 
Campinas: Papirus, 1994.
Ideias para adiar o fim do mundo
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2019.
 Vídeos
Involuntários da Pátria – Conferência de Eduardo Viveiros de Castro
https://youtu.be/l98nNx5S6HQ
Cultura ou culturas brasileiras? – Conferência de Alfredo Bosi
https://youtu.be/2FprGNQaQ90
18
19
Referências
DUCROT, O.; TODOROV, T. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem. 
Trad. Alice Kyoko Miyashiro , J. Guinsburg, Mary Amazonas Leite de Barros e Geraldo 
Gerson de Souza. São Paulo: Perspectiva, 2007. 
HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança 
cultural. Trad. Adall Ubirajara Sobral e Mia Stela Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2008. 
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. 4. ed. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 
MARX, K. A ideologia alemã. Trad. Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano 
Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.
WILLIAMS, R. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. Trad. Sandra 
Guardini Vasconcelos. São Paulo: Boitempo, 2007.
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