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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE II / INTRODUÇÃO A PSICANÁLISE PROFA. HÉLIDA MAGALHÃES ROSANE ANGELO OLIVEIRA – 10823459 ROUDINESCO, E. Primeira Parte: A Sociedade Depressiva e Segunda Parte: A Grande Querela do Inconsciente. In:____. Por que a psicanálise? Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000. p.13-70. A autora inicia o livro abordando como o sofrimento psíquico é manifesto atualmente sobre a forma de depressão, do que esta representa e de como é vista por cada indivíduo. Há uma busca desenfreada por uma modalidade de tratamento que muitas vezes não permite que o homem reflita sobre a origem da sua infelicidade. O homem não desfruta do seu tempo e não sabe o que fazer com a sua liberdade. O ser humano vive em uma sociedade em que a individualidade exacerbada substitui a expressão da subjetividade, distanciando o indivíduo cada vez mais da sua singularidade e do que o identifica como único. O não respeito as diferenças é que faz com que, cada paciente seja tratado como anônimo aonde lhe são receitadas uma gama de medicamentos, seja qual for o seu sintoma. Vemos o surgimento de práticas que oferecem uma crença com a ilusão de cura e que as terapias de curto prazo e os psicofármacos tornam-se uma opção que vai de encontro ao contexto atual. Essas intervenções parecem não chegar as causas reais da produção da dor e do sofrimento, apenas focando na sintomatologia. As causas do sofrimento devem ser tratadas para além do pressuposto de desordens psíquicas e sim por meio da investigação de suas causas mais profundas, inconscientes e não restritas a ações paliativas de nível neuronal e farmacológico. A sociedade quer banir a realidade do infortúnio, da morte e da violência, buscando integrar em um sistema único as diferenças e as resistências. O indivíduo não tem a possibilidade de manifestar o seu sofrimento e o ódio ao outro tornou-se presente sob a forma da máscara da dedicação à vítima. A substituição é acompanhada por uma valorização dos processos psicológicos de normalização em contrapartida das diferentes formas de exploração do inconsciente. É por meio do inconsciente que o corpo ressurge opondo uma forte resistência às disciplinas e às práticas que visam a repeli-lo. Atualmente, o deprimido é herdeiro de uma dependência viciada do mundo, condenado ao esgotamento pela falta de uma perspectiva revolucionária, ele busca na droga ou na religião, no higienismo ou no culto de um corpo perfeito o ideal de uma felicidade impossível. As substâncias químicas ou psicotrópicos modificaram o panorama da loucura. A utilização dos psicotrópicos mostra uma substituição das camisas-de-força e essa terapêutica tem como objetivo deixar o humano mais polido e sem humor, esgotado pela evitação de suas paixões, envergonhado por não ser conforme ao ideal que lhe é proposto. Os psicotrópicos são classificados em três grupos: os psicolépticos composto pelos medicamentos hipnóticos, ansiolíticos, tranquilizantes e os neurolépticos; os psicoanalépticos composto pelos estimulantes e os antidepressivos e os psicodislépticos composto pelos alucinógenos, estupefacientes e os reguladores de humor. Cabe uma ênfase na visão de que os medicamentos nunca são mais do que um momento do tratamento de uma doença mental e que o tratamento básico continua a ser a psicoterapia. Há uma crença do indivíduo de que o sintoma é destruído rapidamente e a psicanálise vai de maneira progressiva ficando de lado nas intervenções clínicas. As pessoas sentem que a doença vai embora com o uso de medicamentos, ou seja, suas crises podem ser atacadas sem processos longos de análise pessoal. A psicanálise só interessará a uma faixa cada vez mais restrita da população já que muitos são os sujeitos que preferem entregar-se voluntariamente a substância químicas a falar de seus sofrimentos íntimos, isso é um sintoma da modernidade. O silêncio passa então a ser preferível à linguagem, fonte de angústia e vergonha. A psicanálise é colocada em concorrência com a farmacologia, aonde é utilizada até mesmo como uma pílula. Em contrapartida, é de relevante importância saber que o medicamento em si não se opõe ao tratamento pela fala. A análise de maneira geral é árdua e faz sofrer mas é de fundamental importância para conhecer a si mesmo, não sentindo mais vergonha de si mesmo e respondendo a um pedido de socorro. Os pacientes em diversos casos ilustrados pela autora nunca se diziam curados, porém transformados por sua experiência do tratamento, sentindo um bem-estar ou uma melhora em suas relações com os outros em todas as esferas de suas vidas. A psicanálise parece ser fonte de um maior número de críticas por haver conquistado o mundo através da singularidade de uma experiência subjetiva que coloca o inconsciente, a morte e a sexualidade no cerne da alma humana. E esse descrédito na psicanálise deve ser buscado na transformação dos modelos de pensamento desenvolvidos pela psiquiatra dinâmica e na apreensão do status da loucura e da doença psíquica nas sociedades ocidentais. A psiquiatria dinâmica consiste no conjunto das correntes e escolas que associam uma descrição das doenças da alma, dos nervos e do humor a um tratamento psíquico de natureza dinâmica, ou seja, que faça intervir uma relação transferencial entre o médico e o doente. Esta psiquiatria se apoia em quatro grandes modelos de explicação da psique humana: um modelo nosográfico, um modelo psicoterapêutico, um modelo filosófico e um modelo cultural. Foi por meio de Pinel com a revolução da abolição das correntes que deu origem ao alienismo e, mais tarde, à psiquiatria. O louco passou a ser visto não mais como um insensato com o discurso desprovido de sentido, mas como um alienado, ou seja, um sujeito estranho a si mesmo. Assim através do alienismo, o modelo nosográfico organiza o psiquismo humano a partir de grandes estruturas significativas que definem o princípio de uma norma e de uma patologia e delimitam as fronteiras entre a razão e a desrazão. Pinel inventou o tratamento moral, reformou a clínica mostrando que sempre subsiste no alienado um resto de razão que permite a relação terapêutica. Pinel separa a loucura das outras formas de desrazão tornando-a uma doença, permitindo que o louco fosse tratado com a ajuda de uma nosografia e um tratamento adequados, criando o manicômio e mais tarde o hospital psiquiátrico. Charcot vinculou a neurose ao modelo nosográfico, fazendo dela uma doença funcional. Perante o impulso da psicofarmacologia, a psiquiatra abandonou o modele nosográfico em função de uma classificação dos comportamentos, reduzindo a psicoterapia a uma técnica de supressão dos sintomas. Há uma relação entre a cura médica e a cura analítica, aonde as duas se baseiam em entendimentos diferentes do ser humano. Na cura médica a crença é de que o ser humano está dividido entre corpo e psique, atuando no modelo de sinais-diagnóstico-tratamento e na cura analítica, os sintomas não estão vinculados a um único sentido corporal e a cura seria compreendida pela transformação existencial do sujeito. No tocante à utilização de terapias, pode-se identificar uma alternância de utilizações das clínicas que atuam sobre o sofrimento humano, perpassando a psiquiatria, a psicanálise e o uso de psicoterapias. Há uma crítica muito forte na maneira como a sociedade lida com o sofrimento e consequentemente com a depressão, aonde só a prática ética de cada profissional ratificará a eficácia ou não do ser como agente de saúde e essa intervenção ética deve se dar para além de uma única teoria que é dita como forma correta de ver o ser humano.
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