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LEGÍTIMA DEFESA
 
1. Introdução e conceito
 
Trata-se de excludente da ilicitude. Desse modo, presentes os requisitos próprios, não mais
é considerado ilícito ou antijurídico o fato. Consiste em repelir injusta agressão, atual ou
iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos meios adequados, nos
termos do artigo 25, do Código Penal in fine:
 
"Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
 Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o
agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de
crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)".
 
A ordem jurídica busca a proteção dos bens juridicamente tutelados. Para tanto, não só
pune agressões, mas também as previne. Quem defende, ainda que violentamente, o bem
próprio ou alheio injustamente atacado, não só atua dentro da ordem jurídica, mas em
defesa dela. Atua segundo a vontade do Direito. O seu ato é perfeitamente legítimo e,
portanto, não há crime.
 
Não se põe direito contra direito - como seria o caso do estado de necessidade -, mas
direito contra ilícito.
 
“Constituindo a legítima defesa, no sistema jurídico penal vigente, uma causa de exclusão
da antijuridicidade, tem-se que quem defende, embora violentamente, o bem próprio ou
alheio, injustamente atacado, não só atua dentro da ordem jurídica, mas em defesa da
mesma ordem.” (TACRIM – SP – Ac. – Rel. Ferreira Leite – RT 441/405)
 
Não há uma situação de perigo pondo em conflito um ou mais bens, na qual um deles
deverá ser sacrificado. Ao contrário, ocorre efetivo ataque ilícito contra o agente ou
terceiro, legitimando a repulsa.
 
A legítima defesa está amparada na denominada teoria objetiva, que considera direito
primário do ser humano o de se defender de uma agressão, já que o Estado não tem
condições de oferecer proteção aos cidadãos em todos os lugares e momentos; logo,
permite que se defendam quando não houver outro meio.
 
A Lei nº 13.964/19 acrescentou o parágrafo único e dispõe, exclusivamente, do agente de
segurança pública que repele injusta agrassão ou risco de agressão à vítima mantida refém
durante a prática de crimes, Não se trata de ampliação das hipóteses de legítima defesa,
mas sim, mera hipótese descritiva de uma modalidade de legítima defesa. O referido
parágrafo traz o exemplo prático da hipótese, por exemplo, de um atirador de elite que
efetua disparo de arma de fogo em face do agressor, a fim de libertar os reféns. 
 
2. Requisitos:
A legítima defesa apresenta os seguintes requisitos:
 
a) agressão injusta;
b) atual ou iminente;
c) a direito próprio ou de terceiro;
d) repulsa com meios necessários;
e) uso moderado de tais meios;
f) conhecimento de situação justificante.
 
Vamos analisar cada um dos requisitos:
 
a) Agressão injusta – Injusta é a agressão ilícita e antijurídica. Um ato lícito pode ser até
uma agressão, em certos casos (ex. penhora de bens), mas não será uma agressão ilícita.
Por outro lado, não se exige que a agressão injusta (ilícita e antijurídica) seja
necessariamente um crime. A legítima defesa pode ser exercida para proteção da
posse, mesmo quando a ação agressiva não caracterize o crime de esbulho possessório
previsto no artigo 161, II, do Código Penal.
 
Ainda em se tratando de injustiça da agressão, deve ser aferida de forma objetiva,
independentemente da capacidade do agente. Assim, inimputável (ébrios habituais,
doentes mentais, menores de 18 anos) pode sofrer repulsa acobertada pela legítima
defesa.
 
Observe o julgado abaixo:
 
“A legítima defesa alegada pelo autor de crime de roubo não vinga, constituindo verdadeiro
paradoxo, uma vez que o ladrão, ao praticar o delito patrimonial, não pratica ação legítima,
sendo que o próprio criminoso, elide, por si mesmo, a excludente da antijuridicidade”
(TACRIM – SP – Ap. – Rel. Leonel Ferreira – RJD 24/149).
 
Nesse fragmento temos autor de roubo alegando legítima defesa em relação à agressão da
vítima. Porém, a ação do próprio autor do roubo é injusta, o que torna legítima a ação da
vítima.
 
Aspecto bastante importante é que a agressão deve ser HUMANA. Para efeitos de
reconhecimento da legítima defesa, somente as pessoas humanas praticam agressão.
 
Em relação à caracterização da provocação do agente como sendo legítima defesa, isto
dependerá de cada caso concreto. Por exemplo, se o fato constituir em injúria grave, isto
pode caracterizar agressão injusta havendo autorização para que o agredido se defenda
legitimadamente. Contudo, se a provocação constituir uma mera brincadeira de mau gosto,
não passar de um desafio, geralmente tolerado no meio social, a legítima defesa não estará
autorizada.
 
Em se tratando de legítima defesa contra provocação do agente, também é importante
observar o requisito moderação, pois não pode invocar legítima defesa aquele que mata ou
agride fisicamente quem apenas lhe provocou com palavras.
 
Assim, temos que:
 
“Aquele que provoca os fatos não pode alegar em seu favor a legítima defesa.”
(TJMG – Ap. Kelsen Carneiro – j. 06.04.1999 – JM 148/273)
 
“A legítima defesa não ampara o provocador dos fatos” (TAPR – Ac. Rel. Costa
Lima – RT 53/258)
 
“Quem provoca e desafia não pode ser considerado como estando em legítima
defesa. Esta pressupõe revide a agressão injusta, o que não ocorre se houver
desafio inicial do agressor” (RT 572/340)
 
Ocorre que aquele que provoca os fatos, a agressão injusta, pode ser alvo de reação
excessiva advinda da pessoa que, em principio, foi agredida. E, neste caso, para avaliar a
existência ou não de legítima defesa, procura-se medir o excesso, que será tratado adiante.
 
O desafio, duelo, convite para briga não caracteriza legítima defesa, existindo, assim,
responsabilidade penal pelos atos praticados. Analise os fragmentos jurisprudenciais
abaixo:
 
“A aceitação do desafio não é atitude de defesa, pois o desafio não cria a necessidade
irremovível de delinqüir.” (TACRIM-SP – Ac. Rel. Adauto Suannes – RT 576/396)
 
“Se alguém provocado ou ameaçado, vai ao encontro de seu inimigo e o afronta, não há
duvidas de que nem um nem outro pode invocar a necessidade da defesa, portanto, o
ataque à pessoa, que invoca a sua justificação: eles o quiseram. É assim que no duelo, de
qualquer modo ele seja, não se pode falar em legítima defesa porque ambos adversários se
colocam conscientemente nas condições recíprocas de ofensa e defesa.”(TJSP – Ac. – Rel.
Hoeppner Dutra – RT 442/371)
 
Por fim, aspecto bastante relevante, em se tratando, ainda, da agressão é o chamado
“comodus dicessus”, apresentado de forma diferente na legítima defesa se comparado ao
estado de necessidade. Como vimos, em se tratando de estado de necessidade, o sacrifício
do bem, embora seja a saída mais cômoda para o agente, deve ser realizado somente
quando inevitável. No caso da legítima defesa, contudo, em que o agente sofre ou
presencia uma agressão humana, a solução é diversa. A lei não obriga a covardia, caso
contrário, a vítima da agressão estaria obrigada a optar pelo comodismo da fuga a se
defender.
 
 a.1) Hipóteses de cabimento de legítima
defesa
 
(i) legítima defesa contra agressão acobertada por qualquer outra causa de
exclusão de culpabilidade – Se o agressor for pessoa completamente embriagada
de forma acidental, o ofendido pode reagir, em legítima defesa.
 
(ii) legítima defesa contra legítima defesa putativa – Nesse caso, em primeiro
lugar, temos que levar em consideração a hipótese de sujeito que pensa que está em
legítima defesa e agride. No entanto, o agredido não estava prestes a agredir o
mencionado sujeito e, em razão da agressão deste, age em legítima defesa.
 
Temos, ainda, que remontar o conceito de “putativo”. A expressão putativa equivale a
imaginário.
 
Assim, melhorcompreendendo a situação exposta, suponha que “A” estava
passeando tranquilamente, quando avistou uma pessoa de má índole, inclusive, que
já tinha lhe assaltado. “A” observa que a dita pessoa lhe encarava e, repentinamente,
a pessoa dirigiu a mão para o bolso da calça. Nesse momento “A” imaginou que a
pessoa iria lhe agredir e reagiu contra a suposta agressão.
 
A solução para o exemplo é dada na aula de erro. O reconhecimento da legítima
defesa está condicionado à evitabilidade do erro de pensamento que “A” apresentou.
 
(iii) legitima defesa putativa x legitima defesa putativa – é situação
extremamente teórica e a doutrina nos traz o exemplo de dois neuróticos inimigos
que se encontram. Um pensa que será atacado pelo outro, mas, na verdade, nenhum
iria agredir, caso não fosse agredido.
 
Na prática é muito difícil constatar a situação.
 
(iii) legítima defesa real contra legítima defesa subjetiva – para discutir a
respeito da situação é ideal partir de exemplo.
 
Suponha que “A” é agredido por “B”. “A”, portanto, inicia sua defesa. Contudo,
quando já estiver dominando “B”, “A” continua a agredi-lo, excessivamente, sem
consciência, sem vontade de exceder sua defesa. Mas, nesse estágio, “A” não é mais
ofendido, mas ofensor de “B”. Assim, é permitido a este ("B") agir em legítima defesa
real contra “A”.
 
Evidentemente que a situação é puramente teórica, pois, na prática, aquele que deu
causa aos acontecimentos jamais poderá invocar a legítima defesa, mesmo contra o
excesso, cabendo-lhe dominar a outra parte, sem provocar-lhe qualquer outro dano.
É o caso, por exemplo, de um estuprador que, "levando a pior", começa a ser
esfaqueado pela vítima. Não seria razoável aceitar que, para se defender das facadas
desferidas em excesso, pudesse matar a vítima que há pouco agrediu gravemente; o
máximo que poderá fazer é desarmá-la, caso contrário responderá pelo mal causado.
 
(iv) legítima defesa putativa contra legítima defesa real – Tenho, por hábito,
abordar esse tema em sala de aula e repito a doutrina. Esse caso é constatado em se
tratando de legítima defesa de terceiro.
 
Trata-se de quando “A” presencia um grande amigo sendo agredido por estranho. “A”,
portanto, ciente da reputação ilibada de seu grande amigo, desfere agressões contra
o estranho para defender esse seu afeto. Contudo, ao final, descobre-se que o amigo
de “A”, na verdade, era o agressor.
 
A solução para esse caso está condicionada, também, à evitabilidade do erro de “A”.
Se evitável (vencível), inexiste legítima defesa, havendo responsabilidade por
culpa; se inevitável (invencível), não há crime.
 
(v) legítima defesa real contra legítima defesa culposa – A doutrina entende
que ocorre a situação também quando há confusão mental na cabeça do agente que
age em legítima defesa culposa. A dita confusão mental decorre da falta do dever de
cuidado apresentada pelo agente.
 
Por exemplo, “A”, confundindo “B” com seu desafeto, sem qualquer cuidado de
certificar-se disso, efetua disparos contra “B”. Há agressão injusta em relação a “B” e,
portanto, cabe-lhe legítima defesa.
 
Muitos doutrinadores não reconhecem essa discussão, pois parece lógica. Afinal, a
reação contra agressão injusta de “A” caberia de qualquer modo.
 
Observação Importante!!!! J*
 
Boa parte da doutrina entende que, em se tratando de:
 
- legítima defesa real contra legítima defesa real
- legítima defesa real contra estado de necessidade
- legítima defesa real contra estrito cumprimento do dever legal
- legítima defesa real contra exercício regular de direito
 
não há cabimento de legítima defesa, diante da inexistência de agressão injusta.
 
b) Agressão atual ou iminente - Atual é o que está ocorrendo. Iminente é o que
está para acontecer. Para a legítima defesa ser admitida, a repulsa deve ser imediata, isto
é, logo após ou durante a agressão atual.
 
Observe a jurisprudência que exemplifica situação de iminência:
 
“Age em legítima defesa quem, na iminência de ser agredido a faca pela vítima, pessoa
belicosa e de comportamento temível, nela desfere tiros de revólver, matando-a” (TJSP –
Rec. – Rel. Camargo Sampaio – RT 529/332)
 
Em se tratando de crime permanente, a defesa é possível em qualquer tempo, uma vez
que a conduta se protrai no tempo, renovando-se a todo instante.
 
Não é possível se falar em legítima defesa contra agressão futura; por exemplo, o
sujeito que ameaça que um dia irá matar. A pretensa vítima não pode iniciar a agressão
alvejando o sujeito, pela simples crença de um dia ele a iria matar. Da mesma forma, não
é possível legítima defesa contra agressão passada (que já cessou), pois seria a
legitimação da vingança, bem como abertura intolerável no monopólio da violência do
Estado. Observe o caso abordado na jurisprudência abaixo:
 
Provocação para agredir – TACRSP “Não há que se falar na excludente da legítima defesa
quando o agente se dirige ao ofendido de maneira afrontante, chamando-o à rua para
brigar e, na saída deste à via pública, com injustificada atitude impulsiva e
desproporcionada por aquele tomada, utiliza-se de arma de fogo no momento trazida
consigo” (JATARIM 63/335)
 
Observe que não há instantaniedade entre o momento da agressão e o da repulsa,
tampouco iminência; daí o porquê da situação acima não ter sido considerada como sendo
amparada pela excludente de legítima defesa.
 
A legítima defesa pode ser aplicada tanto para proteção de direito próprio (legítima defesa
própria), como para proteção de direito alheio (legítima defesa de terceiro). Desde que
presente a proporcionalidade entre a lesão e a repulsa, qualquer direito, ou seja, qualquer
bem tutelado pelo ordenamento jurídico pode ser defendido pelo instituto da legítima
defesa.
 
Há exemplo doutrinário bastante interessante no que se refere à legítima defesa de
terceiro, em que se permite que a conduta pode se dirigir contra o próprio terceiro
ofendido, ou melhor, em que a repulsa pode se dirigir contra o próprio terceiro ofendido.
Por exemplo: alguém bate no suicida para impedir que ponha em risco a própria vida. A
jurisprudência abaixo aponta caso relativo à legítima defesa de terceiro, senão veja-se:
 
“Age em legítima defesa de terceiro quem se vê na contingência de eliminar o próprio pai,
ébrio habitual, em socorro da mãe, por ele agredida” (TJSP – Rec – Rel. Álvaro Curi – RT
581/293)
 
c) Meios necessários - Na reação, o agente deve utilizar moderadamente dos meios
necessários para repelir agressão atual, iminente e injusta. Tem –se entendido que meios
necessários são os que causam menor dano ou o indispensável à defesa do direito. São os
meios menos lesivos colocados à disposição do agente no momento em que sofre a
agressão, portanto.
 
Há discussão doutrinária a respeito da relação entre o meio necessário e a forma em que o
meio é empregado, mas naõ se entra nesse mérito por ora.
 
“Não há que se falar em legítima defesa se, após ouvir palavrão e ser ameaçado com um
tapa, o acusado saca de revolver e sai em perseguição da vítima, baleando-a pelas costas.
A justificativa da legítima defesa exige que a agressão, além de atual ou iminente, seja
repelida moderadamente, com o uso dos meios necessários. A só exibição da arma já foi
suficiente para que o pretenso agressor se pusesse em fuga” (TACRIM-SP – Ac – Rel.
Marrey Neto – Jutacrim 94/280)
 
“Havendo possibilidade de reação imediata incumbe ao ofendido rechaçar a agressão
injusta, com os meios de que dispuser para neutralizar a atuação criminosa.” (TJSP – Rec.
103.103-3/2 – Relator Renato Naline)
 
“Na legítima defesa não pode o réu usar de meios ou formas que possam dificultar a defesa
da vítima. Ao descarregar a arma de fogo (seis tiros) nas costas da mesma, como descrito
no laudo de exame cadavérico, traz para seu ato as qualificadoras do art. 121, parágrafo
2º, do CP. Inaceitável o argumento de legítima defesa” (TJES – Ap – Rel. José Cupertino
Leite de Almeida – RT 708/335)
 
O ordenamento jurídico não poderia permitir a reação desenfreada e oslimites se iniciam
com a escolha dos meios, que devem ser compatíveis com o necessário para conter a
agressão. Evidentemente que a suficiência deve ser ponderada com as circunstâncias, não
se exigindo frieza ou precisão na escolha, bastando que seja razoável.
 
Há quem estabeleça a análise do uso moderado fora do tópico dos meios necessários. De
qualquer sorte, os dois requisitos estão ligados. É também requisito para reconhecimento
da legítima defesa o uso moderado dos meios necessários. Mais uma vez é importante
salientar que a moderação será analisada diante da razoabilidade, não sendo necessário
extrema precisão.
 
TJSP: “A legítima defesa é uma reação humana. Não se pode medi-la com um transferidor
milimetricamente. Há situações de fato que forçam o agredido a se defender, mesmo por
compreensível excesso” (RT 549/312)
 
Observe-se que os requisitos meios necessários e uso moderado destes variam de acordo
com o caso concreto. Há doutrinadores que são taxativos e afirmam que o número
reiterado de golpes retira a moderação da repulsa, mas devo frisar ao aluno que isto não é
regra absoluta. Tudo dependerá do desenvolvimento apresentado pelo caso. Para
exemplificar:
 
“O número de facadas desferidas pelo réu na vítima, matando-a já de si é fator que afasta
a legítima defesa por ele invocada, pois revela fúria agressiva”(TJSP – Rel. Mendes França –
RT 409/129)
 
Em contrapartida, analise a jurisprudência abaixo:
 
“Não elide a figura da legítima defesa própria a circunstancia de ter o réu desfechado cinco
tiros na vítima, se esta, mesmo após o último disparo, continuou a agressão, pondo em
risco a vida do acusado.” (TJSC – Rec.- Rel. Marcílio Medeiros – RT 406/277)
 
No último caso, os golpes reiterados para fins de repulsa à agressão da vítima não
descaracterizaram a legítima defesa. Por isso, as afirmações realizadas por algumas
doutrinas devem ser lidas com cautelas, em especial, pelos alunos que pretendem realizar
exames na área jurídica.
 
A imoderação da repulsa enseja o excesso, que será analisado adiante.
 
d) Conhecimento da situação justificante – Assim como no estado de necessidade o
agente deve conhecer a situação justificante. Se, na sua mente, ele queria cometer um
crime e não se defender, e, por coincidência, o seu ataque acaba sendo uma defesa, o fato
será ilícito.
 
TJBA: “A legítima defesa somente justifica as ações defensivas necessárias para afastar
uma agressão antijurídica de forma menos lesiva possível para o agressor. A necessidade
deve ser considerada de acordo”
 
Inexistiria legítima defesa, por exemplo, se o sujeito atirasse em um ladrão que está à
porta de sua casa, supondo tratar-se do agente policial que vai cumprir o mandato de
prisão expedido contra autor do disparo.
 
Observação Importante!!!! Quanto à inevitabilidade da agressão (commodus discessus),
a lei brasileira, diferentemente da italiana, não exige a obrigatoriedade de evitar a
agressão. No texto da legítima defesa não há menção, tal como ocorre no estado de
necessidade, da expressão “nem podia de outro meio evitar”, de sorte que o agente sempre
poderá exercitar a legítima defesa quando for agredido .
 
A lei brasileira não obriga alguém, por exemplo, sabedor de que um seu desafeto o espera
para agredi-lo, a dar uma volta no quarteirão para ingressar em casa por outra
entrada. Essa regra sofre atenuação quando se trata de crianças, jovens imaturos, doentes
mentais, agentes que atuam em estado de erro etc., casos estes em que as agressões
devem ser evitadas, desviadas, salvo quando consubstanciarem a única forma de defesa
dos interesses legítimos.
 
3. Excesso
 
Ainda que a figura do excesso possa ser investigada em relação a todas descriminantes,
vale o estudo, desde já, na legítima defesa, sendo questão de simples adaptação a
aplicação à outras hipóteses. A escolha é feita, ainda, pela consagração do instituto na
legítima defesa, que com maior incidência é comentada e questionada.
 
O excesso pode ser:
 
a) Doloso ou consciente,
b) Culposo ou inconsciente e
c) Exculpante
 
a) Excesso doloso (consciente) – o que reage extrapola os limites da legítima defesa
propositadamente, sabendo que usa de meios ou modos mais lesivos que o necessário ou
razoável para afastar a agressão. É o caso do sujeito que fere com faca o agressor e,
mesmo percebendo que este está fora de combate, aproveita a situação para persistir na
agressão e eliminar o inimigo.
 
Consequência: a partir do momento em que há o excesso, o sujeito responde normalmente
pelo crime; ou seja, no caso referido, a partir do segundo golpe de faca o sujeito seria
punido como se não houvesse, em princípio, legítima defesa.
 
b) Excesso Culposo (inconsciente) – a desnecessária lesividade dos meios ou modos é
resultado de uma falta de cautela na apreciação das circunstâncias, ou seja, aquele que
reage não toma as mínimas cautelas necessárias acerca da continuidade da agressão, de
sua força, e do que seria necessário para afastá-la.
 
Consequência: A partir do momento em que a reação deixar de ser razoável, será punido
pela lesão na forma culposa.
 
c) Excesso exculpante – Há excesso, ou seja, imoderação na realização, mas é fruto da
compreensível falibilidade humana. É o caso da vítima que, apavorada com a presença de
seu agressor sobre seu corpo, dispara arma de fogo uma vez. Sentindo, ainda, o peso sobre
seu corpo e as mãos em seu pescoço, não sabe que o agressor já perdeu a consciência e
dispara novamente. Ainda que o uso não tenha sido moderado, a falta de moderação não é
atribuída a uma grave falta de cautela (não seria razoável que ela perguntasse ao ofensor
se continuava agredi-la antes do segundo disparo).
 
O excesso decorre de atitude emocional do agredido, cujo estado interfere em sua reação
defensiva, impedindo que tenha condições de balancear adequadamente a repulsa. Trata-se
de erro plenamente justificado pelas circunstâncias e que não deriva nem de dolo nem de
culpa, havendo exclusão do fato típico.
 
Conseqüência: Inexistiu dolo (não teve consciência e não teve vontade em relação ao
excesso). Inexistiu culpa (não houve falta de dever de cuidado). Não há crime, sendo que
esta espécie de excesso é irrelevante penal.
 
Não há como se apontar de modo genérico quais situações seriam consideradas como
sendo excesso doloso, culposo e exculpante, pois tudo dependerá do conjunto probatório
que será apresentado no processo crime. De qualquer forma, tanto à acusação como à
defesa é interessante conhecer o conceito e a consequência de cada espécie de excesso
para fins de elaboração das teses abordadas na peças processuais, em especial, porque
suas consequências são distintas.
 
Analise o quadro mnemônico para seu melhor aprendizado:
 
 Excesso Doloso ou Consciente – quem reage extrapola os limites,
propositadamente
 Consequência – responde pelo resultado na forma dolosa, inclusive.
 
 Excesso Culposo ou Inconsciente – quem reage extrapola os limites, por
falta de cuidado
 Consequência – responde pelo resultado na forma culposa (em havendo
previsão legal correspondente) 
 
 Exculpante – quem reage é imoderado por falha humana compreensível
 Consequência – irrelevante penal, ausência de dolo e culpa. Não há crime.
 
Também tratando de excesso, leia os julgados abaixo transcritos:
 
TJRS: “Excesso culposo – a reiteração de golpes desferidos na mesma região do corpo da
vítima, produzidos pela parte não laminada de um machado, consoante colhe-se dos
depoimentos do acusado e da prova técnica, esta a compor um quadro que não afasta a
precipitação desencadeada por atrudimento, emoção, temor, caracterizada pelo excesso
culposo”
 
TJCE “Excesso doloso por imoderação de meios – tratando-se de prática de homicídio, o
excesivo número de tiros desferidos contra a vítima, sendo um, inclusive, pelas costas, bem
como a perseguição empreendida pelo agente ao seu suposto agressor, afastam a
configuraçãoda descriminante putativa da legitima defesa, pois inocorrente o uso
moderado dos meios necessários para repelir injusta, atual ou iminente agressão a direito
próprio ou de outrem.” (RT 773/622)
 
Repita-se que a constatação do excesso dependerá da situação concreta, não sendo
possível apontar, taxativamente, o que se adequa como sendo excesso e o que não se
adequa.
 
4. Espécies de Legítima Defesa
 
Algumas espécies de legítima defesa são, em regra, segundo a maior parte da doutrina:
 
a) legítima defesa sucessiva
b) legítima defesa putativa
c) legítima defesa subjetiva
 
a) Legítima Defesa Sucessiva – é a repulsa ao excesso, a oposição ao excesso
eventualmente constatado em legítima defesa. Suponha, por exemplo, que “A” agride “B”,
que reage. No entanto, a reação é excessiva. Mesmo já tendo afastado a agressão de “A”,
“B” persiste nos golpes. A partir do momento em que há excesso, “A” passa a poder agir
em legítima defesa ao excesso de “B”, ao que se dá o nome de legítima defesa sucessiva.
Veja a jurisprudência abaixo:
 
TJDF: “Legítima defesa sucessiva (contra excesso) – o seu excesso importa agressão
injusta, ensejando sucessiva situação de legítima defesa por parte do agressor inicial.”
(RJEDFT 11/145)
 
TJMS: “Legitima defesa sucessiva (contra excesso) – se diante de troca de palavras entre o
casal, a vítima excede a justa medida, ofendendo a dignidade do agente, a reação por parte
deste se torna legítima, pois contra o excesso voluntário ofensivo deve-se admitir o
exercício da defesa” (649/311)
 
b) legítima defesa putativa – supondo o agente, por erro, que está sendo agredido,
acaba por repelir a suposta agressão. Nesse caso configura-se a legítima defesa putativa,
considerada na lei como erro de tipo sui generis. Tendo em vista os comentários realizados
a respeito do tema, seguem exemplos relacionados ao reconhecimento da legítima defesa
putativa nos fragmentos jurisprudenciais abaixo colacionados:
 
STJ: “Legítima defesa putativa em suposto furto – Vítima que, ao tentar abrir, por
equivoco, porta de carro alheio, induziu o proprietário com auxilio de outrem, a reagir
violentamente, supondo tratar-se de furto. Legítima defesa putativa do patrimônio,
excludente de dolo, em relação à acusação de lesão corporal. Ausência de resíduo culposo”
(RSTJ 47/472)
 
TACRSP: “Na legítima defesa putativa também é indeclinável que o agente se contenha
dentro dos limites da reação que seria necessária contra a imaginária agressão.” (JTACRIM
59/171)
 
c) Legítima defesa subjetiva – é aquela derivada do erro de tipo escusável. É aquela em
que há excesso exculpante, como foi abordado anteriormente.
 
** em se tratando de “aberratio ictus”, isto é, quando o sujeito reage contra agressão
injusta e erro na execução (erro de pontaria), reconhece-se a legítima defesa. Isto
porque aplicam-se as regras do próprio art. 73, ou seja, o agente que errou responde como
se tivesse acertado a vítima virtual que, no caso da legítima defesa, seria o agressor inicial.
Analise a jurisprudência:
 
“Se o agente estava procedendo em legítima defesa e houve erro na execução, nem por
isso deixa a justificativa invocada de ser admissível, se comprovada. Em relação ao terceiro
atingido haverá mero acidente ou erronia no uso dos meios de execução. E quem diz
acidentalidade diz causa independente da vontade do agente.” (TJSP – Rec. – Rel. Adriano
Marrey – RT 393/129)
 
ATENÇÃO: É necessário que sempre nos mantenhamos atualizados sobre as alterações
legislativas. E, em relação à legítima defesa, a Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019,
trouxe alterações significativas. Assim, o parágrafo único do artigo 25 do Código Penal
passou a ter nova redação, a saber:
 
"Parágrafo único: Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se
também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de
agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes".
 
Trata-se da recém-denominada legítima defesa protetiva. Observe-se que, nesse caso, está
abrangida a injusta agressão e, também, o risco a ela.
 
No caso concreto, dever-se-á avaliar o uso de meios moderados para repelir agressão ou
risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes, quaisquer que sejam
eles.
 
OBSERVAÇÕES FINAIS !!!!
 
Obs1: Os exames da OAB e as provas de concurso questionam muito a respeito das
diferenças existentes entre estado de necessidade e legítima defesa. Portanto, para facilitar
seu estudo, veja o quadro abaixo:
 
 
 
Estado de Necessidade
 
Legítima Defesa
 
1. Conflito de bens jurídicos expostos a
perigo
 
2. O perigo pode ou não decorrer de
conduta humana.
 
3. A conduta pode ser dirigida contra
terceiro inocente
 
4. A agressão não precisa ser injusta
 
 
 
1. Repulsa ao ataque
 
2. A agressão praticada só pode ser
praticada por pessoa humana.
 
3. A conduta só pode ser dirigida contra
terceiro agressor.
 
 
4. Só existe se a agressão for injusta.
 
ATENÇÃO!!! Conforme as considerações acima abordadas, é válido lembrar que é
impossível a coexistência de estado de necessidade e legítima defesa.
 
Obs02: Será elaborada outra apostila com abordagens específicas a respeito da
legítima defesa, tais como, legítima defesa da honra, da propriedade, dentre
outros assuntos, mas para as avaliações da universidade o conteúdo desta
apostila está completo.

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