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1 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO META 07 2 PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 3 SUMÁRIO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 .................................................................................... 5 RESUMO DA DOUTRINA .......................................................................................................................................5 1. PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO ....................................................................5 1.1. Rol exemplificativo de prevalência do negociado ......................................................................... 10 1.2. Limites ao negociado (art. 611-B da CLT) ....................................................................................... 10 2. HIPÓTESES DE PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO (ART. 611-A da CLT) ............................................................................................................................................................................. 16 2.1. Jornada de trabalho .................................................................................................................................. 17 2.2. Banco de horas ........................................................................................................................................... 18 2.3. Intervalo Intrajornada .............................................................................................................................. 18 2.4. Programa Seguro-Emprego .................................................................................................................. 20 2.5. Plano de cargos, salários e funções e identificação dos cargos de confiança .................... 21 2.6. Regulamento de empresa ...................................................................................................................... 22 2.7. Representante dos trabalhadores no local de trabalho .............................................................. 23 2.8. Teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente ................................................... 24 2.9. Remuneração por produtividade e por desempenho individual .............................................. 25 2.10. Registro de Jornada ............................................................................................................................... 25 2.11. Troca de dia dos feriados..................................................................................................................... 27 2.12. Enquadramento do grau de insalubridade .................................................................................... 27 2.13. Prorrogação da jornada em ambientes insalubres ..................................................................... 28 2.14. Prêmios e incentivos .............................................................................................................................. 29 2.15. Participação nos lucros ou resultados da empresa .................................................................... 30 2.16. Regras sobre duração do trabalho e intervalos ........................................................................... 30 3. CONTROLE DOS INSTRUMENTOS COLETIVOS TRABALHO PELO PODER JUDICIÁRIO .. 31 4. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO EM ANULAÇÃO DE CLÁUSULAS DE INSTRUMENTO COLETIVO ................................................................................................................................................................. 33 5. PRINCÍPIO DA CONTRAPARTIDA E GARANTIA PROVISÓRIA NA HIPÓTESE DE REDUÇÃO SALARIAL (REFORMA TRABALHISTA)................................................................................. 34 5.1. Anulação de cláusula compensatória em instrumento coletivo ............................................... 36 QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................... 37 GABARITO DAS QUESTÕES ............................................................................................................................. 39 PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 4 PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 5 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 TEMAS DO DIA [DIREITO COLETIVO DO TRABALHO] Relação entre o negociado e o legislado. Níveis de negociação. Limites ao princípio da adequação setorial negociada. Autonomia privada coletiva. Extensão, possibilidades e limitações. Âmbito da disponibilidade. RESUMO DA DOUTRINA 1. PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO Reconhecimento constitucional dos acordos coletivos e convenções coletivas de trabalho: O art. 7º, XXVI da Constituição Federal/88 elenca como direito dos trabalhadores urbanos e rurais, o reconhecimento de acordos e convenções coletivas de trabalho. Relação entre o negociado e o legislado: Esse tema sempre foi discutido no âmbito da doutrina e da jurisprudência trabalhista. De um lado, há o posicionamento de que os sindicatos são os verdadeiros representantes e atores do Direito do Trabalho e devem ter ampla liberdade de negociação sobre as condições de trabalho, inclusive em sentido contrário à legislação. Por outro lado, sustenta-se que, diante do princípio da proteção, o Direito do Trabalho comporta muitas normas indisponíveis ao trabalhador que não podem ser negociadas entre as partes nem mesmo via sindicato. Posição da doutrina antes da Reforma Trabalhista: “Temos sustentado a impossibilidade de convenção coletiva contrariar a lei, em face da interdição específica do art. 444 da CLT. Aliás, a primazia da lei sobre o acordo e a convenção coletiva emerge do art. 9º do mesmo diploma consolidado e traduz uma decorrência do intervencionismo estatal, no afã de corrigir desigualdades. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 6 A Constituição da República de 1988 alterou a assertivas, ao permitir a redução salarial por meio de acordo ou convenção coletiva (art. 7º, VI, XIII e XIV) (...)” (BARROS, 2016, p. 823). Prevalência do negociado sobre o legislado na Reforma Trabalhista: O objetivo principal da Reforma Trabalhista consistiu na ampliação das hipóteses em que o acordo coletivo e a convenção coletiva prevalecerão sobre a lei. O art. 611-A da CLT trouxe em rol exemplificativo 15 hipóteses em que a negociação coletiva será aplicada sobre a lei, ainda que prejudicial aos trabalhadores. O dispositivo assegurou, portanto, maior poder de negociação e representação aos sindicatos. Princípio da autonomia privada coletiva: As próprias partes da relação jurídica coletiva podem transacionar com maior liberdade, pois, em um dos polos da relação jurídica está o sindicato da categoria profissional. Note-se, portanto, que o art. 611-A da CLT assegura a prevalência de autonomia da vontade dos sindicatos, que poderão criar verdadeiras normas jurídicas aos seus representados. Com isso, a responsabilidade e a atuação consciente dos sindicatos assumiram maior papel de destaque Segue a redação do art. 611-A da CLT para sua memorização. Art. 611-A, CLT (acrescentado pela Lei nº 13.467/2017). A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I – pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; II – banco de horas anual; III – intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; IV – adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei nº 13.189, de 19 de novembro de 2015; V – plano de cargos, salários e funçõescompatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 7 VI – regulamento empresarial; VII – representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII – teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX – remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X – modalidade de registro de jornada de trabalho; XI – troca do dia de feriado; XII – enquadramento do grau de insalubridade; XIII – prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV – prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV – participação nos lucros ou resultados da empresa. § 1º. No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3º do art. 8º desta Consolidação. § 2º. A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico. § 3º. Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. § 4º. Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de convenção coletiva ou de acordo coletivo de PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 8 trabalho, quando houver a cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição do indébito. § 5º. Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho deverão participar, como litisconsortes necessários, em ação individual ou coletiva, que tenha como objeto a anulação de cláusulas desses instrumentos. Flexibilização das normas trabalhistas: O art. 611-A da CLT representa hipótese legal de flexibilização das normas trabalhistas e de relativização da incidência do princípio da adequação setorial negociada, conforme já salientado na rodada dos princípios do Direito Coletivo do Trabalho. O que é flexibilização das normas trabalhistas? Corresponde à diminuição da imperatividade das normas trabalhistas ou da amplitude de seus efeitos. Nesse caso, as normas básicas de proteção ao trabalhador são mantidas, mas há maior possibilidade de adaptação das cláusulas contratuais às relações econômicas da empresa, dos empregados e à realidade regional (CORREIA, 2021). OBSERVAÇÃO! Não confunda flexibilização com desregulamentação! a) Flexibilização: diminuição da incidência de normas heterônomas com maior possibilidade de negociação entre as partes envolvidas na relação de emprego, especialmente quanto às suas entidades representativas (sindicatos). No entanto, permanecem as normas básicas de proteção social. b) Desregulamentação: ocorre quando há ausência total da legislação protetiva, isto é, substituição do legislado pelo negociado. Nesse caso, não haveria a intervenção do Estado na elaboração das leis, deixando para as partes a elaboração das condições de trabalho. Constitucionalidade dos dispositivos: Quanto ao questionamento acerca da constitucionalidade da própria Lei nº 13.467/2017 e dos dispositivos que versam sobre a negociação coletiva, é importante destacar que o próprio STF, desde 2015, já vinha se manifestando pela PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 9 valorização do negociado sobre o legislado nos julgamentos acerca da supressão das horas in itinere (RE nº 895759/PE – Relator Min. Teori Zavascki – Data de julgamento: 12/09/2016) e na previsão de eficácia liberatória geral do PDV (RE nº 590415/SC – Relator Min. Roberto Barroso – Data de julgamento: 30/04/2015) Atuação dos órgãos de proteção do trabalhador: a alteração legislativa deve ser acompanhada de ostensiva fiscalização das entidades sindicais pelo Ministério Público do Trabalho e pela Justiça do Trabalho para evitar que direitos trabalhistas sejam negociados em prejuízo dos trabalhadores por seus sindicatos. Prerrogativas dos sindicatos na negociação coletiva: De acordo com o art. 8º, VI, da CF/88, é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. Houve questionamento dos sindicatos quanto à preservação de suas prerrogativas após a Reforma Trabalhista. Nesse sentido, a MP 808/2017, que perdeu vigência por ausência de votação no Congresso Nacional, previa que as convenções e os acordos coletivos de trabalho eram prerrogativas do sindicato da categoria profissional nos termos do art. 8º, III e VI, da CF/88: Art. 8º, CF/88: É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; (...) VI – é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; POSICIONAMENTO DA DOUTRINA: “De forma semelhante ao art. 510-E da CLT, a modificação do presente dispositivo foi realizada apenas para expressar na CLT a proteção das prerrogativas constitucionais dos sindicatos. De acordo com o art. 8º, III, da CF/88, cabe aos sindicatos a defesa dos interesses individuais e coletivos da categoria, inclusive em questões judiciais PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 10 e administrativas. Além disso, o art. 8º, VI, da Constituição Federal prevê a participação obrigatória dos sindicatos nas negociações coletivas. O dispositivo não tinha relevância prática, pois a negociação coletiva já era prerrogativa apenas das entidades sindicais por determinação constitucional, o que não poderia ser alterado por lei ordinária, como a Reforma Trabalhista.” (CORREIA, 2021). 1.1. Rol exemplificativo de prevalência do negociado O art. 611-A da CLT é taxativo ou exemplificato? Como visto, o art. 611-A da CLT apresenta rol com 15 hipóteses que a convenção ou o acordo coletivo de trabalho prevalecerão sobre a lei. No entanto, de acordo a redação do “caput” do dispositivo, “têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre”. Note-se, portanto, que o próprio dispositivo prevê abertura para a previsão de outras hipóteses de valorização do negociado sobre a lei. De acordo com o Professor Henrique Correia (2021), o rol de direitos previstos é meramente exemplificativo. Além das 15 hipóteses elencadas – incisos I a XV, a Reforma Trabalhista permitiu que outros direitos possam prevalecer sobre a legislação. 1.2. Limites ao negociado (art. 611-B da CLT) Sendo o rol exemplificativo do art. 611-A da CLT, há limites para a negociação coletiva? Sim, há diversos direitos trabalhistas que não comportam flexibilização em relação ao texto legal por versarem sobre normas de ordem pública ou de previsão constitucional: 1) os direitos assegurados pela Constituição Federal, excepcionadas as hipóteses que o próprio texto constitucional permite, não são passíveis de flexibilização por meio de negociação coletiva, pois a Reforma Trabalhista foi aprovada como lei ordinária, tendo status infraconstitucional. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 11 2) Direitos elencados no art. 611-B da CLT, também acrescentado pela Reforma Trabalhista, não podem ser suprimidos ou reduzidos por serem objetivo ilícito de convenção ou acordo coletivo de trabalho: Art. 611-B, CLT. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: I – normas de identificaçãoprofissional, inclusive as anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social; II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III – valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); IV – salário mínimo; V – valor nominal do décimo terceiro salário; VI – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; VII – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; VIII – salário-família; IX – repouso semanal remunerado; X – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% (cinquenta por cento) à do normal; XI – número de dias de férias devidas ao empregado; XII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XIII – licença-maternidade com a duração mínima de cento e vinte dias; XIV – licença-paternidade nos termos fixados em lei; PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 12 XV – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XVI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XVII – normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho; XVIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas; XIX – aposentadoria; XX – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador; XXI – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; XXII – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência; XXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; XXIV – medidas de proteção legal de crianças e adolescentes; XXV – igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso; XXVI – liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho; PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 13 XXVII – direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender; XXVIII – definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve; XXIX – tributos e outros créditos de terceiros; XXX – as disposições previstas nos arts. 373-A, 390, 392, 392-A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 desta Consolidação. Parágrafo único. Regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo. Note-se que a maioria dos dispositivos do art. 611-B da CLT refere-se aos direitos previstos no texto constitucional, seja no rol do art. 7º da CF/88 ou nos artigos referentes ao direito coletivo do trabalho (art. 8º e 9º da CF/88). Rol taxativo do art. 611-B da CLT: De acordo com o “caput” do art. 611-B da CLT, constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo, exclusivamente, a redução ou supressão dos direitos elencados em seus incisos. Dessa forma, pretendeu o legislador, com a utilização do termo “exclusivamente” que o rol de limitação ao negociado fosse taxativo. Portanto, fora dessas hipóteses mencionadas no dispositivo, seria possível a celebração de norma coletiva que prevalecesse sobre a lei sobre qualquer tema. Ressalto que, corrobora esse posicionamento, o fato de que o art. 611-A da CLT trazer um rol exemplificativo das hipóteses de valorização do negociado. Vale destacar que o Enunciado nº 1 do Grupo 6 das avaliações preliminares sobre a Reforma Trabalhista do TRT da 15ª Região estabelece a necessidade limites à autonomia da vontade coletiva, com o respeito à Constituição, às normas internacionais ratificadas pelo Brasil e aos princípios do Direito do Trabalho: PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 14 Enunciado nº 1 do Grupo 6. AUTONOMIA COLETIVA. LIMITES E INTERPRETAÇÃO I – A autonomia negocial coletiva não é absoluta, de modo que o art. 611 – A da CLT não estabelece a preponderância incondicional das disposições das normas coletivas sobre a legislação, e deve ser interpretado em conformidade com a Constituição. II – Todas as normas de Direito do Trabalho devem ser analisadas à luz da sua compatibilidade com a Constituição, com as normas internacionais ratificadas pelo Brasil e com os princípios do Direito do Trabalho. III – No cotejo de quaisquer estipulações feitas em normas trabalhistas, independentemente da sua natureza, deve ser adotado o princípio da norma mais favorável, observada a teoria do conglobamento. IV – O modelo constitucional de regulação do trabalho exige convivência entre normas heterônomas e as que são coletivamente negociadas, de modo que são inválidas as autorizações de flexibilização por acordo individual previstas na Lei 13.467/2017, por desnaturarem a negociação como instrumento dos trabalhadores em obter a melhoria de sua condição social. POSIÇÃO DA DOUTRINA: “Entendemos que o dispositivo não pode ser reconhecido como a única barreira existente para a flexibilização trabalhista. O presente dispositivo da CLT praticamente elencou em seus incisos as hipóteses do art. 7º da CF/88. No entanto, para os direitos da Constituição Federal que não constam no art. 611-B, permanece a proibição de sua supressão ou redução. Além disso, normas previstas em tratados internacionais e leis infraconstitucionais que versam sobre saúde e segurança do trabalho não podem ser objeto de flexibilização. Assim, há matérias que não comportam negociação. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 15 Nesse sentido, entendemos que o rol trazido pelo art. 611-B não é taxativo, trazendo as principais hipóteses de negociação coletiva cujo objeto seja ilícito. No entanto, caberá ao Poder Judiciário a análise de cada caso concreto para determinar se há violação do texto constitucional ou de princípio do ordenamento jurídico, especialmente do Direito do Trabalho, que impedem a celebração da negociação coletiva.” (CORREIA, 2021) Análise conjunta dos art. 611-A e 611-B da CLT: De acordo com Henrique Correia (2021), “a análise atenta a esses dois artigos – 611-A e 611-B – será imprescindível nas futuras negociações. Caso haja conflito entre eles, deve prevalecer o art. 611-B, para garantir princípios básicos constitucionais como da dignidade da pessoa humana e da máxima eficácia do texto constitucional.” Cláusulas de indisponibilidade absoluta e relativa (DELGADO, 2016): De acordo com o princípio da adequação setorial negociada, as normas de indisponibilidade relativa podem ser transacionadas. Contudo, as normas de indisponibilidade absoluta não podem ser transacionadas. Estas são as normas que atingem o patamar mínimo civilizatório: a) normas constitucionais, exceto quando o próprio legislador constituinte possibilita a transação (aumento da jornada de trabalho e de turnos ininterruptos de revezamento, bem como a redução salarial); b) tratados e convenções internacionais que vigoram no Brasil; c) normas infraconstitucionais que garantam patamares de cidadania ao indivíduo (normas ligadas à saúde, segurança, dispositivos antidiscriminatórios etc.).Enunciado nº 28 da 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho: as convenções e acordos coletivos de trabalho não podem se suprimir ou reduzir direitos previstos em convenções internacionais do trabalho ou outras normas de hierarquia constitucional ou supralegal: Enunciado nº 28 da 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho. Nos termos do art. 5º, § 2º, da Constituição PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 16 Federal, as convenções e acordos coletivos de trabalho não podem suprimir ou reduzir direitos, quando se sobrepuserem ou conflitarem com as Convenções Internacionais do Trabalho e outras normas de hierarquia constitucional ou supralegal relativas à proteção da dignidade humana e dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Ampliação das cláusulas de indisponibilidade relativa pela Reforma Trabalhista: De acordo com Maurício Godinho Delgado (2019, p. 1692): “Ou seja, para a Lei da Reforma Trabalhista, as parcelas de indisponibilidade relativa, próprias para a negociação coletiva trabalhista, se ampliaram largamente: passam a envolver os 15 grandes assuntos especificados no art. 611-A da CLT – alguns deles com caráter multidimensional. A par disso, segundo a Lei n. 13.467/2017, regras sobre duração do trabalho (aventadas nos incisos I e II do art. 611-A) e regras sobre intervalos trabalhistas (aventadas no inciso III do art. 611-A) não ostentariam a natureza de normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, para os fins da negociação coletiva trabalhista. Quais seriam as normas de indisponibilidade absoluta? Para o autor: “É claro que o art. 611- B, em seus 30 incisos, apresenta o elenco de verbas e temas que se mostram vedados para a negociação coletiva trabalhista. Tal elenco não pode ser objeto de exclusão ou de redução por intermédio de ACT ou CCT: na linguagem atécnica da lei, são tidos como “objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho” (caput do art. 611-B da CLT). Tais temas e verbas englobariam, portanto, as parcelas de indisponibilidade absoluta, a teor do sentido da Lei da Reforma Trabalhista.” 2. HIPÓTESES DE PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO (ART. 611-A da CLT) Passaremos à análise das hipóteses previstas no rol exemplificativo do art. 611-A da CLT, pois asseguram a interpretação do dispositivo à luz da Constituição Federal e dos princípios que orientam o Direito Individual e Coletivo do Trabalho. Os comentários a seguir foram retirados do Livro Curso de Direito do Trabalho do Professor Henrique Correia. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 17 2.1. Jornada de trabalho Negociação sobre jornada de trabalho: O inciso I do art. 611-A da CLT estabelece que o negociado prevalece sobre o legislado quando versar sobre o pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais. Previsão Constitucional: De acordo com o art. 7º, XIII, da CF/88, a duração do trabalho não deve ser superior a oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, sendo facultada a compensação de horários e redução de jornadas. Redução da jornada por negociação coletiva: é admitida constitucionalmente com a correspondente diminuição de salários sem que haja conduta ilícita. Garantia no emprego: O art. 611-A, § 3º trouxe novidade ao prever que, se houver pactuação de cláusula que reduza o salário ou a jornada de trabalho, é necessário o estabelecimento de estabilidade provisória no emprego durante o prazo de vigência do instrumento coletivo: Art. 611-A, § 3º da CLT: Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. POSIÇÃO DA DOUTRINA: “Essa previsão é muito importante na proteção dos trabalhadores durante as crises econômicas e financeiras de determina empresa ou categoria econômica e segue a tendência já iniciada com o estabelecimento do Programa de Proteção ao Emprego, atualmente denominado Programa Seguro-Emprego (PSE), na Lei nº 13.189/2015, que já permitia a redução da jornada e salário com garantia provisória enquanto perdurasse essa condição.” (CORREIA, 2021) Redução de salários e de jornada na pandemia da COVID-19: A Lei nº 14.020/2020 (conversão em lei da MP 936/2020) e a MP 1.045/2021 estabeleceram a possibilidade de redução de salários e de jornada por acordo individual entre as partes. No caso, o acordo era possível dentro PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 18 do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e foi aplicado de abril a dezembro de 2020 e depois durante 120 dias em 2021. Apesar de haver a redução de salários e de jornada, a lei previa o pagamento de benefício emergencial pela União Federal aos empregados que aderissem ao programa. Constitucionalidade: O STF decidiu, em sede liminar na ADI 6363, pela constitucionalidade da redução de salários e de jornada e da suspensão contratual previstas na MP 936/2020. 2.2. Banco de horas Banco de horas: A Reforma Trabalhista previu a existência de duas espécies de banco de horas: anual e semestral: a) Banco de horas anual: Para o estabelecimento dessa modalidade de banco de horas, o § 2º do art. 59 da CLT prevê a necessidade de previsão em acordo ou convenção coletiva de trabalho, desde que o excesso de horas em um dia fosse compensado em outro, de modo que a soma das jornadas semanais de trabalho seja respeitada no período máximo de um ano. Além disso, é necessário o respeito ao limite de 10 horas diárias de trabalho. b) Banco de horas semestral: A novidade trazida pela Reforma Trabalhista consistiu na possibilidade de se estabelecer banco de horas por meio de acordo individual escrito entre empregado e empregador. Nesse caso, o prazo máximo para a compensação é de 6 meses. Portanto, além de permitir a compensação individual tácita mensal, a legislação passou a admitir a previsão de banco de horas individual desde que conste em acordo escrito e realizado no prazo máximo de 6 meses. O art. 611-A, II, da CLT apenas reforça aquilo que está previsto no art. 59, § 2º da CLT, pois permite o estabelecimento de banco de horas anual por meio de negociação coletiva. 2.3. Intervalo Intrajornada PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 19 Intervalo intrajornada: De acordo com o inciso III do art. 611-A da CLT, a convenção e o acordo coletivo de trabalho prevalecem sobre a lei quando versarem sobre o intervalo intrajornada. O artigo estabeleceu, no entanto, o limite mínimo de 30 minutos que deverá ser respeitado para jornadas superiores a 6 horas. OBSERVAÇÃO! É indispensável memorizar a duração dos intervalos intrajornada: a) Jornada de até 4 horas: não há previsão em lei de intervalo intrajornada. Nesse caso, o trabalhador deve prestar os serviços sem gozar do intervalo. b) Jornada que excede 4 horas, com limite de 6 horas: o empregado terá direito a um intervalo de 15 minutos. Se o empregador exigir horas extras habituais, excedendo a jornada de 6 horas diárias, deverá conceder intervalo mínimo de 1 hora. c) Jornada que excede 6 horas: é assegurado intervalo mínimo de 1 hora e máximo de 2 horas. Existe previsão de intervalo superior a 2 horas, mas haverá necessidade de prévio acordo escrito ou instrumento coletivo POSIÇÃO DA DOUTRINA: “Portanto, para as jornadas superiores a 6 horas, permite-se a redução do intervalo intrajornada para 30 minutos por meio de negociação coletiva. Entendemos que o intervalo de 15 minutos destinado aos empregados com jornada superior a 4 horas até o limite de 6 horas deve sempre ser respeitado, não sendo possível sua redução ou fracionamento.” (CORREIA, 2021) Jurisprudênciasobre o tema: Lei nº 13.467/2017. Cláusula de norma coletiva que prevê jornada de 7h20min. Validade. Necessidade de concessão do intervalo intrajornada mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas. Art. 611-A, III, da CLT. É válida, independentemente de indicação expressa de contrapartidas recíprocas, cláusula de instrumento coletivo PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 20 firmado após a vigência da Lei nº 13.467/2017 que flexibilize normas trabalhistas concernentes à jornada e ao intervalo intrajornada, desde que, neste último caso, seja respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas (art. 611-A, III, da CLT). Ao dispor sobre direitos insuscetíveis de supressão ou redução por norma coletiva, o art. 611- B, parágrafo único, da CLT excluiu expressamente as regras sobre duração do trabalho e intervalos, as quais não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, para os fins do referido artigo. Ademais, à espécie não se aplica a Súmula nº 437 do TST, visto que suas disposições regem situações anteriores à vigência da Lei nº 13.467/2017. No caso, o TRT de origem, considerando a petição informando a existência de negociação direta entre as partes, homologou o acordo firmado, com ressalvas do Ministério Público que, no recurso ordinário, pleiteou a exclusão da cláusula que admite a adoção de “(...) jornada de trabalho ininterrupta de 07h20min diários, sem redução e sem acréscimo salarial e/ou gratificação de hora extraordinária”. Assim, verificando que a cláusula impugnada, embora preveja jornada de trabalho válida, não assegurou o intervalo intrajornada mínimo previsto em lei, a SDC, por unanimidade, conheceu do recurso ordinário do MPT e, no mérito, deu-lhe provimento parcial para adequar a redação da cláusula e incluir a concessão do intervalo intrajornada de trinta minutos a que se refere o art. 611- A, III, da CLT. TST-RO-22003- 83.2018.5.04.0000, SDC, rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, 14.10.2019 (Informativo nº 208) 2.4. Programa Seguro-Emprego Programa Seguro-Emprego: é hipótese legal de flexibilização trabalhista, que previa hipótese de lay off como resposta ao aumento no número de desempregos diante de crise econômica (Lei nº 13.189/2015. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 21 Adesão ao Programa Seguro-Emprego: nos termos do art. 2º da Lei nº 13.189/2015, pode ser feita por empresas de todos os setores em situação de dificuldade financeira, desde que se dê por acordo coletivo de trabalho. Previsão da Reforma Trabalhista (art. 611-A, IV, da CLT): Nesse sentido, o disposto na Reforma Trabalhista só vem a reforçar o disciplinado em lei, pois permite que a adesão ao Programa seja realizada por norma coletiva. Ressalta-se que o PSE é celebrado mediante acordo coletivo específico para esse fim entre a empresa e o sindicato profissional respectivo, sendo possível a redução da jornada de trabalho e do salário em até 30%. 2.5. Plano de cargos, salários e funções e identificação dos cargos de confiança Plano de cargos, salários e funções: De acordo com o inciso V do art. 611-A da CLT, a norma coletiva prevalece sobre a lei no tocante aos planos de cargos, salários e funções compatíveis com a função do empregado. Há, no entanto, a necessidade desses planos respeitarem o salário mínimo previsto no art. 7º, IV, da CF/88: Art. 7º, CF/88: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (…) IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; Identificação dos cargos de confiança: O próprio inciso V permite também que a norma coletiva estabeleça a identificação dos cargos de confiança. O exercício de cargos de confiança com poderes de gestão enseja a não aplicação das normas sobre duração do trabalho, desde que haja o pagamento de gratificação nunca inferior a 40% do salário efetivo (art. 62, II, da CLT). PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 22 Princípio da primazia da realidade: No entanto, é importante destacar que, no Direito do Trabalho, prevalece a análise da realidade sobre as formas. Assim, mesmo que o cargo seja identificado como cargo de confiança ou cargo de gestão, se verificado o controle exercido sobre o empregador com fiscalização de horas, haverá aplicação das normas sobre jornada de trabalho com direito a horas extras, intervalos e adicional noturno. Nesse sentido, o Enunciado nº 43 da 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, estabelece que a definição de cargos de confiança assegura apenas presunção relativa de veracidade, sendo necessária a análise real da função exercida: Enunciado nº 43 da 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho. Prevalência do negociado sobre o legislado e definição de cargos de confiança Negociação coletiva. Definição dos cargos de confiança. Presunção relativa. Art. 611-A, V, da CLT. A cláusula de instrumento coletivo que define os cargos que se enquadram como de confiança possui presunção relativa de veracidade, sendo necessária a análise da real função exercida e não meramente a função prescrita no contrato de trabalho, em razão do princípio da primazia da realidade. 2.6. Regulamento de empresa Regulamento de empresa: De acordo com o inciso VI do art. 611-A da CLT, o instrumento coletivo prevalecerá sobre a lei quando versar sobre regulamento de empresa. O regulamento empresarial é o conjunto de regras elaboradas pelo empregador para mais bem organizar a empresa. Esta matéria não encontra previsão na CLT. Lei interna da empresa: “O regulamento é uma “lei interna” da empresa, que prevê regras ligadas às questões técnicas (forma de desempenhar as atividades, horário de trabalho, utilização de EPIs), disciplinares (hipóteses de aplicação da advertência e suspensão, instauração de inquérito para apuração da falta cometida) e direitos dos empregados (adicional por produtividade ou tempo de PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 23 serviços, plano de cargos e salários, forma da participação nos lucros e resultados da empresa).” (CORREIA, 2021). Previsão em negociação coletiva: o regulamento de empresa independe de previsão em norma coletiva ou negociação com os empregados para que possa ser aplicado pelo empregador. Assim, é admitida a previsão unilateral de regulamento de emprego. No entanto, a previsão em instrumento coletivo amplia a possibilidade desse regulamento versar sobre direitos e obrigações das partes da relação de emprego. POSIÇÃO DA DOUTRINA: “O instrumento coletivo poderá, inclusive, alterar o conteúdo do regulamento empresarial. Nesse caso, ainda que a alteração seja prejudicial aos trabalhadores, não haverá violação ao princípio da norma mais benéfica e o da inalterabilidade contratual lesiva ao empregado previsto no art. 468, “caput”, da CLT, pois o negociado passa a prevalecer sobre as disposições legais.” (CORREIA, 2021). 2.7. Representante dos trabalhadores no local de trabalho Representante dos trabalhadores no local de trabalho: Nos termos do art. 11 da CF/88, nas empresas com mais de 200 empregados, deve haver a eleição de um representante dos empregados para promover o entendimento direto com os empregadores: Art. 11 da CF/88. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.Regulamentação pela CLT: Conforme já trabalhamos em rodadas anteriores, os art. 510-A a 510-D da CLT, inseridos pela Reforma Trabalhista, estabeleceram regras sobre o funcionamento da comissão de representantes na empresa. Os dispositivos estabeleceram normas sobre quantidade de membros, eleições, estabilidade e funções exercidas. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 24 Regulamentação por instrumento coletivo: De acordo com o art. 611-A, VII, da CLT, a norma coletiva prevalecerá sobre a lei quando versar sobre o representante dos trabalhadores no local de trabalho. Dessa forma, será possível prever disposições e regras distintas daquelas trazidas pela CLT. POSIÇÃO DA DOUTRINA: “De nossa opinião, esse dispositivo é prejudicial aos trabalhadores, pois a representação dos trabalhadores no local de trabalho consiste em importante instrumento para o entendimento direto entre empregados de determinada empresa e o empregador, desvinculada do sindicato profissional. Trata-se de modalidade de representação não sindical dos trabalhadores. Caso necessária a proteção dos interesses dos empregados, a comissão pode inclusive se posicionar contrária ao sindicato profissional.” (CORREIA, 2021). 2.8. Teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente Prevalência do negociado em teletrabalho, sobreaviso e intermitente: O inciso VIII do art. 611-A não versa de apenas uma hipótese de valorização do negociado, mas de três: teletrabalho, regime de sobreaviso e trabalho intermitente. a) Teletrabalho: O teletrabalho consiste na prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação. Esses empregados estão excluídos do controle de jornada. A celebração de convenção ou acordo coletivo de trabalho pode dispensar as formalidades exigidas em lei e trazer regulamentação diversa da legal. b) Regime de sobreaviso: consiste na possibilidade de o empregado permanecer em sua residência ou outro local combinado aguardando ordens da empresa. Nesse caso, receberá apenas ⅓ da hora normal e poderá ficar nesse regime por, no máximo, 24 horas. De acordo com o inciso VIII do artigo em análise, o regime de sobreaviso pode ter nova disciplina jurídica, inclusive com prazo de duração e remuneração ampliados ou reduzidos. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 25 c) Trabalho intermitente: é nova modalidade de contrato de trabalho prevista pela Reforma Trabalhista caracterizada pela alternância entre períodos de prestação de serviços e períodos de inatividade, cuja forma de convocação do empregado e consequências da aceitação ou recusa da oferta de serviços está disciplina pela CLT nos art. 443, § 3º e 452-A. De acordo com presente inciso do art. 611-A da CLT, o trabalho intermitente pode ter sua regulamentação prevista em convenção ou acordo coletivo de trabalho. 2.9. Remuneração por produtividade e por desempenho individual Remuneração por produtividade e desempenho: O inciso IX do presente artigo trata da possibilidade de remuneração por produtividade e por desempenho individual ser estabelecida por instrumento coletivo com prevalência sobre a lei. Remuneração por desempenho individual (Prêmios): A Reforma Trabalhista estabeleceu que os prêmios, valor pago ao empregado em razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades, tem natureza indenizatória. Dessa forma, é possível que o instrumento coletivo preveja natureza salarial à parcela ou ainda passe a disciplinar a sua forma de pagamento, frequência, valores dentre outras. Vale ressaltar que o inciso XIV que será abordado nos próximos tópicos versa diretamente sobre os prêmios e incentivos ao empregado, o que reforça a possibilidade de flexibilização dessa parcela por instrumento coletivo. Remuneração por produtividade (comissões): Está normalmente associada ao pagamento de comissões pela venda de um produto ou de um serviço pelo empregado. É obrigatório que, nesse caso, haja a garantia do recebimento de um salário-mínimo, devendo ser consideradas, ademais, como parcelas de natureza salarial. 2.10. Registro de Jornada Registro de ponto: De acordo com o art. 74, § 2º, da CLT, é obrigatório o controle de ponto pelas empresas com mais de 20 empregados, após alterações promovidas pela Lei nº 13.874/2019. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 26 A modalidade de registro de jornada poderá ser objeto de convenção e acordo coletivo de trabalho. Assim, os sindicatos e as empresas poderão fixar a adoção de ponto manual, mecânico ou eletrônico. OBSERVAÇÃO – Marco Regulatório Trabalhista Infralegal: Revogação e consolidação das normas infralegais: De acordo com o site do próprio Governo Federal, o Marco Regulatório transformou mais de 1.000 decretos, portarias e instruções trabalhistas em 15 normas. O principal diploma do Marco Regulatório é o Decreto 10.854/2021, que consolidou diversos assuntos e revogou diversos outros decretos. Um dos temas abordados foi o registro de ponto. De acordo com o art. 31 do Decreto 10.854/2021, caso adotado o registro eletrônico de ponto, ele será realizado por meio de sistemas e equipamentos que atendem aos requisitos técnicos e impeçam o cometimento de fraudes. Requisitos do registro eletrônico: devem registrar fielmente as marcações e não permitir: a) a alteração ou eliminação dos dados registrados, b) restrições de horário às marcações de ponto e c) marcações automáticas de pontos como horário predeterminado ou contratual. Hipóteses permitidas no registro eletrônico: A) Pré-assinalação do período de repouso: note-se que, antes da Lei nº 13.874/2019, a pré- assinalação do período de repouso era obrigatória e atualmente passou a ser facultativa. B) Assinalação de ponto por exceção à jornada regular de trabalho: A Lei nº 13.874/2019 passou a permitir expressamente o controle por exceção, que inverte a lógica do registro de ponto, pois somente serão marcadas as “exceções” à jornada regular como faltas, atrasos, jornadas extraordinárias etc. Registro de ponto por exceção: Havia grande discussão quanto à possibilidade de fixação de registro de ponto por exceção por meio de negociação coletiva. O TST já havia decidido pela validade PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 27 dessa modalidade de registro desde que prevista em acordo ou convenção coletiva de trabalho (Processo nº TST-ARR-80700-33.2007.5.02.0261. Rel. Min. Caputo Bastos. Data de julgamento: 26/10/2018). Previsão em lei: Com a vigência da Lei nº 13.874/2019, o registro de ponto por exceção foi oficializado e pode ser determinado mediante acordo individual ou instrumento coletivo de trabalho. Essa modalidade de registro de jornada inverte a lógica do registro de ponto, pois somente há anotação se houver alguma exceção à jornada normal, ou seja, se houver faltas, atrasos, horas extras, intervalos diferenciados etc. 2.11. Troca de dia dos feriados Troca do dia de feriados: De acordo com inciso XI do art. 611-A da CLT, a troca de feriados também poderá ser objeto de instrumento coletivo. Essa possibilidade de negociação não trará prejuízos diretos ao trabalhador, já que não se fala em supressão, mas apenas alteração de dia do feriado. Essa modalidade foi muito utilizada durante a pandemia da COVID-19, inclusive com alterações realizadas por governos estaduais e municipais, que anteciparam feriados para ampliação de medida de isolamento social. 2.12. Enquadramento do grau de insalubridade Enquadramento do grau de insalubridade: Antes da Reforma Trabalhista, a responsabilidade pela normatização e da fiscalização acerca do cumprimento das normas em questão, era do antigo Ministério do Trabalho. As atividadesou operações insalubres são dispostas na Norma Regulamentadora nº 15 do Ministério do Trabalho, a qual estabelece os graus de insalubridade em máximo (com adicional de 40% sobre o salário), médio (com adicional de 20% sobre o salário) e mínimo (com adicional de 10% sobre o salário). Enquadramento em norma coletiva: Com a Reforma Trabalhista, o enquadramento do grau de insalubridade em máximo, médio e mínimo poderá ser objeto de instrumento coletivo de negociação. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 28 POSIÇÃO DA DOUTRINA: “Entendemos que, apesar do reconhecimento dos acordos e convenções coletivas em âmbito constitucional (art. 7º, XXVI, Constituição Federal/1988), os instrumentos de negociação coletiva não podem prevalecer sobre normas de ordem pública, de caráter cogente, que, portanto, versam sobre direitos indisponíveis. (...)” (CORREIA, 2021) Enunciado nº 33 da 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho. Enquadramento do grau de insalubridade: Impossibilidade de redução Considerando o princípio da primazia da realidade, e sendo a saúde um direito de todos e dever do estado, e considerando ainda a ilicitude da supressão ou redução dos direitos provenientes de normas de saúde, higiene e segurança no trabalho, prevalecerá o acordado sobre o legislado sempre que se tratar de pagamento de percentual superior àquele determinado na NR-15, não sendo possível a redução do referido adicional. Normas de saúde e segurança: o art. 611-B, XVII, da CLT prevê que as normas acerca de saúde, higiene e segurança do trabalho, inclusive aquelas previstas em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho, não podem ser objeto de negociação coletiva. Trata-se, portanto, de contradição do legislador a previsão que permite a alteração do grau de insalubridade, pois é uma disposição que está prevista na NR-15 do Ministério do Trabalho. 2.13. Prorrogação da jornada em ambientes insalubres Prorrogação de jornada em ambientes insalubres: De acordo com o art. 611-A, XIII, da CLT, a norma coletiva prevalece sobre a lei no tocante à prorrogação de jornada em atividades insalubres, sem exigir a licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho. Licença prévia: De acordo com o art. 60 da CLT, caso haja prestação de horas extras em ambientes insalubres, é necessária a obtenção de licença prévia pelos órgãos de fiscalização do trabalho: PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 29 Art. 60 da CLT – Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos quadros mencionados no capítulo “Da Segurança e da Medicina do Trabalho”, ou que neles venham a ser incluídas por ato do Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão aos necessários exames locais e à verificação dos métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento para tal fim. Com o art. 611-A, XIII, da CLT, a prorrogação da jornada e o regime de compensação de horários passam a ser admitidos, mesmo sem a autorização dos órgãos fiscalizatórios competentes caso previsto em instrumento coletivo de trabalho. Possível cancelamento do item VI da Súmula nº 85 do TST: Súmula nº 85, VI do TST: Não é válido acordo de compensação de jornada em atividade insalubre, ainda que estipulado em norma coletiva, sem a necessária inspeção prévia e permissão da autoridade competente, na forma do art. 60 da CLT. 2.14. Prêmios e incentivos Prêmios e incentivos e negociação coletiva: O penúltimo inciso (XIV) do art. 611-A da CLT estabelece a prevalência do negociado no tocante aos prêmios e incentivos. Já abordamos o assunto no tocante à remuneração por desempenho Prêmios: Nos termos do art. 457, § 4º da CLT, os prêmios são as liberalidades concedidas pelo empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 30 empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades. Essa parcela não tem natureza salarial. 2.15. Participação nos lucros ou resultados da empresa Participação nos lucros e resultados: Por fim, o inciso XV do art. 611-A da CLT prevê a possibilidade de a convenção coletiva e do acordo coletivo terem força normativa superior à lei quanto à participação nos lucros e resultados. Previsão constitucional e legal: A PLR tem previsão na Constituição Federal e é regulamentada pela Lei 10.101/2000: Art. 7º, XI, CF/88: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei. Art. 3º da Lei nº 10.101/2000: A participação nos lucros ou resultados não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. § 2º. É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil. Alteração nas normas de PLR: Com a Reforma Trabalhista, passou a ser possível modificar a forma de remuneração, a frequência e inclusive as regras para a instituição da PLR nas empresas sem que haja ilegalidade. 2.16. Regras sobre duração do trabalho e intervalos PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 31 Normas sobre duração do trabalho e intervalos: De acordo com o parágrafo único do art. 611- B as regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas normas de saúde, higiene e segurança do trabalho. Obs.: Em resumo, ao prever que as normas de duração e intervalos não são normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, o legislador criou nova hipótese de flexibilização de direitos trabalhistas além daquelas elencadas no rol do art. 611-A da CLT. POSIÇÃO DA DOUTRINA: “Antes da Reforma Trabalhista, essas regras eram consideradas tanto pela doutrina como pela jurisprudência, como normas de segurança e saúde no trabalho, de ordem cogente e de natureza absoluta, podendo-se afirmar que a alteração produzida pela Reforma é prejudicial aos trabalhadores, implicando em ofensa ao princípio da progressividade, (...) Por se tratar de norma de caráter de ordem pública e, cuja inobservância pode acarretar sérios prejuízos à saúde do trabalhador, não seria possível admitir a supressão ou redução de direitos relacionados à duração do trabalho ou aos intervalos.” (CORREIA, 2021) Feitas as considerações acerca das hipóteses de prevalência do negociado sobre o legislado, passaremos à análise dos parágrafos do art. 611-A da CLT, especialmente no tocante à análise pelo Poder Judiciário dos instrumentos coletivos, a questão sobre o princípio da contrapartida e a temática processual do litisconsórcio. 3. CONTROLE DOS INSTRUMENTOS COLETIVOS TRABALHO PELO PODER JUDICIÁRIO Exame de convenção coletiva ou acordo coletivo: De acordo com Correia (2021), as cláusulas das convenções e dos acordos coletivos de trabalho podem ser discutidas no âmbito do Poder Judiciário, de forma incidental em reclamação trabalhista individual ou por meio de ação anulatória. Restrição de análise pelo Poder Judiciário: De acordo com o art. 611-A, § 1º, da CLT, a Justiça do Trabalho deve analisar o instrumento coletivo de trabalho somente no tocante à conformidadePRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 32 dos elementos essenciais do negócio jurídico e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva: Art. 611-A, § 1º, CLT: No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3º do art. 8º desta Consolidação. Art. 8º, § 3º, CLT: No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva. Quais são os elementos essenciais do negócio jurídico? Estão dispostos no art. 104 do Código Civil: Art. 104 do CC/02: A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei. POSIÇÃO DA DOUTRINA PELA INCONSTITUCIONALIDADE DO DISPOSITIVO (CORREIA, 2021) “De nossa parte, essa alteração viola os princípios constitucionais da inafastabilidade da jurisdição e do acesso à justiça previstos no art. 5º, XXXV, da CF/88: Art. 5º, XXXV, CF/88: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 33 a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Ao restringir o âmbito da análise dos acordos e convenções coletivas a apenas os requisitos do negócio jurídico, a lei está excluindo da apreciação do Judiciário qualquer lesão ou ameaça ao direito que não esteja contida apenas nesses requisitos. É possível mencionar, por exemplo, a necessidade de anulação das cláusulas do instrumento coletivo de trabalho quando houver violação aos preceitos constitucionais, de direitos indisponíveis etc. Afronta-se o próprio texto da CLT que traz limites impostos no art. 611-B. É importante destacar também que todos os requisitos formais da negociação coletiva previstos nos dispositivos da CLT (art. 612 e seguintes) devem ser observados e poderá o Judiciário declarar a nulidade da convenção ou acordo coletivo de trabalho que não os observar. Nesse sentido, as normas a respeito do prazo de vigência do instrumento coletivo, da necessidade de convocação de assembleia geral, os quóruns de aprovação, dentre outras, devem ser obrigatoriamente observadas e estarão sujeitas ao controle do Poder Judiciário. Com isso, entendemos que o art. 611-A, § 1º, da CLT é inconstitucional pela violação do princípio do acesso à justiça e da inafastabilidade da jurisdição.” 4. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO EM ANULAÇÃO DE CLÁUSULAS DE INSTRUMENTO COLETIVO Litisconsórcio: A relação processual é formada entre autor, réu e juiz. No entanto, é importante destacar a possibilidade de existir mais de uma pessoa nos polos ativos e passivos da demanda, ou seja, mais de um autor e/ou mais de um réu no processo, que se denomina litisconsórcio. Litisconsórcio na anulação de cláusulas de instrumento coletivo: O art. 611-A, § 5º, da CLT, incluído pela Lei nº 13.467/2017, criou hipótese de litisconsórcio necessário legal, ao exigir que os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou do acordo coletivo participem como litisconsortes necessários, em ações individuais ou coletivas, que tenham como objeto a anulação das cláusulas desses instrumentos. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 34 Art. 611-A, § 5º, da CLT: Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho deverão participar, como litisconsortes necessários, em ação individual ou coletiva, que tenha como objeto a anulação de cláusulas desses instrumentos. No caso das ações coletivas, a presença do litisconsórcio necessário dos sindicatos já era exigência necessária diante da prolação de sentença que iria afetar obrigatoriamente todos os envolvidos. Por sua vez, no âmbito das ações individuais, o pedido de nulidade pode ser feito tão somente de forma incidental. Nessas hipóteses, passa a ser necessário o litisconsórcio com as entidades sindicais subscritoras dos instrumentos coletivos de trabalho (MIESSA, 2021, p. 438). 5. PRINCÍPIO DA CONTRAPARTIDA E GARANTIA PROVISÓRIA NA HIPÓTESE DE REDUÇÃO SALARIAL (REFORMA TRABALHISTA) No que consiste o princípio da contrapartida? “Apesar da redução de algum direito social assegurado ao trabalhador, garante-se outro benefício em contrapartida. Por exemplo, a redução de direitos já conquistados durante a negociação em uma greve exige que seja dado algo em troca, como a garantia provisória de emprego aos empregados grevistas.” Enunciado 33 da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho. Negociação coletiva. Supressão de direitos. Necessidade de contrapartida. A negociação coletiva não pode ser utilizada somente como um instrumento para a supressão de direitos, devendo sempre indicar a contrapartida concedida em troca do direito transacionado, cabendo ao magistrado a análise da adequação da negociação coletiva realizada quando o trabalhador pleiteia em ação individual a nulidade de cláusula convencional. Posicionamento majoritário do TST: PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 35 Recurso de revista. Turnos ininterruptos de revezamento. Elastecimento por norma coletiva. Observância do limite de oito horas. Validade. Contrapartida. Desnecessidade. A validade da norma coletiva que elastece a jornada em turno ininterrupto, nos termos da Súmula nº 423/TST, está condicionada à observância do limite máximo de oito horas, ainda que não haja contrapartida para o empregado. Assim, não havendo notícia no v. acórdão regional de que esse limite tenha sido extrapolado, deve- se conferir eficácia ao ajuste coletivo. Recurso de revista conhecido e provido. (TST – RR: 113903620135030055, Data de Julgamento: 10/12/2014) Recurso de revista. Turnos ininterruptos de revezamento – Negociação coletiva – 7ª e 8ª horas extras – Inexistência de contrapartida. O posicionamento da Subseção I Especializada em Dissídios Individuais desta Corte é no sentido de que basta o aspecto formal – ou seja, a existência de norma coletiva – para se reconhecer a validade da majoração da jornada em turnos ininterruptos de revezamento, independentemente da aferição do aspecto material acerca da existência de concessões recíprocas. Aplicação da Súmula nº 423 desta Corte. Recurso de revista conhecido e provido. (TST – RR: 1939009420095150096, Relator: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 25/02/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015) Desnecessidade de contrapartidas em instrumentos coletivos: A Lei nº 13.467/2017 prevê que a inexistência de contrapartidas em instrumento coletivo de trabalho não enseja nulidade do negócio jurídico firmado: Art. 611-A, § 2º, da CLT: A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 36 A Reforma Trabalhista pôs fim à discussão acerca do princípio da contrapartida ao estabelecer que a inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico. Exceção: O art. 611-A, § 3º, da CLT trouxe uma exceção que exige o respeito ao princípio dacontrapartida e versa sobre a redução de salários. Caso seja pactuada cláusula que reduza o salário ou jornada, a convenção ou acordo coletivo deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo correspondente. Art. 611, § 3º, CLT (acrescentado pela Reforma Trabalhista): Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. Redução de salários e de jornada na pandemia da COVID-19: A Lei nº 14.020/2020 (conversão em lei da MP 936/2020) e a MP 1.045/2021 estabeleceram a possibilidade de redução de salários e de jornada por acordo individual entre as partes. No caso, o acordo era possível dentro do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e foi aplicado de abril a dezembro de 2020 e depois durante 120 dias em 2021. Apesar de haver a redução de salários e de jornada, a lei previa o pagamento de benefício emergencial pela União Federal aos empregados que aderissem ao programa. 5.1. Anulação de cláusula compensatória em instrumento coletivo Anulação de cláusula compensatória em instrumento coletivo: Apesar de, em regra, não serem obrigatórias, os sindicatos convenentes podem estabelecer contrapartidas. Nesse caso, de acordo com o art. 611-A, § 4º, da CLT, se a cláusula que prevê a flexibilização de direitos trabalhistas for anulada pela Justiça do Trabalho, em ação anulatória, a cláusula compensatória – contrapartida prevista no instrumento coletivo – também deve ser anulada. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 37 Exemplo: norma coletiva determina a redução da jornada de trabalho e prevê, em contrapartida, a concessão de aumento no valor do vale-refeição. Caso anulada a cláusula de redução de jornada, também será anulada a cláusula compensatória referente ao valor do vale-refeição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2016. CORREIA, Henrique. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2021 CORREIA, Henrique; MIESSA, Élisson. Súmulas, OJs do TST e Recursos Repetitivos. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 19. ed. São Paulo: LTr, 2019. MIESSA, Élisson. Curso de Direito Processual do Trabalho. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. QUESTÕES PROPOSTAS 01 - (Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: TRT - 15ª Região (SP) Prova: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) Considerando as disposições da Lei n° 13.467/2017, são válidas as cláusulas de acordo coletivo de trabalho que estipulem A) possibilidade de redução em 4 horas da jornada semanal em atividades insalubres, caso em que não haverá o pagamento do adicional respectivo; pagamento do 13° salário no seu valor nominal integral, mas em 4 parcelas distribuídas ao longo do ano; ultratividade das cláusulas que estipulem vantagens individualmente adquiridas. B) taxa negocial a ser descontada dos salários dos integrantes da categoria, independentemente de autorização; aviso prévio de 30 dias para todos os trabalhadores da categoria, independentemente do tempo de serviço; intervalo intrajornada com duração de 30 minutos para jornadas superiores a 6 horas. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 38 C) intervalo intrajornada com duração de 30 minutos para jornadas superiores a 6 horas; pagamento do 13° salário no seu valor nominal integral, mas em 4 parcelas distribuídas ao longo do ano; remuneração por desempenho individual. D) prêmio de incentivo em bens ou serviços; taxa negocial a ser descontada dos salários dos integrantes da categoria, independentemente de autorização; pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais. E) Regime de sobreaviso; modalidade de registro da jornada de trabalho; ultratividade das cláusulas que estipulem vantagens individualmente adquiridas. 02 - (Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Caruaru - PE Prova: FCC - 2018 - Prefeitura de Caruaru - PE - Procurador do Município) De acordo com a Reforma Trabalhista introduzida pela Lei n° 13.467, de 2017, que alterou artigos da CLT, a convenção e o acordo coletivo de trabalho prevalecem sobre a lei quando dispuserem sobre: A) regulamento empresarial; troca do dia de feriado e teletrabalho, regime de sobreaviso e trabalho intermitente. B) participação nos lucros ou resultados; seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário e banco de horas anual. C) valor nominal do 13° salário; pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais e representante dos trabalhadores no local de trabalho. D) intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para as jornadas superiores a seis horas; remuneração do trabalho noturno superior ao diurno e participação nos lucros ou resultados. E) prêmios de incentivo em bens ou serviços eventualmente concedidos em programas de incentivo; regulamento empresarial e repouso semanal remunerado. * PREZADOS ALUNOS, PARA MELHOR APROVEITAMENTO DA RESOLUÇÃO DE QUESTÕES O GABARITO SEGUE EM LISTA NA PRÓXIMA PÁGINA. PRÉ EDITAL AFT DIREITO COLETIVO DO TRABALHO – META 07 39 GABARITO DAS QUESTÕES 1. C 2. A
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