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COMO SE TORNAR UMA ADVOGADO TRIBUTARISTA. O DIA A DIA DE UM ADVOGADO TRIBUTARISTA Quer dar o primeiro passo para ingressar nessa área do direito tão promissora? Quer aprender o que as faculdades não te ensinam com relação ao Direito Tributário? Quer começar a ganhar dinheiro no Direito? EIS A OPORTUNIDADE!!! AGRADECIMENTOS OBRIGADO A DEUS, ESSA FORÇA UNIVERSAL QUE NOS GUIA AO SUCESSO. OBRIGADO AOS MEUS PAIS, MANOEL E LEODILA, QUE ME DERAM LIÇÕES DE VIDA TÃO VALIOSAS QUE O TEMPO NÃO APAGARÁ E QUE IREI REPASSAR AOS MEUS FILHOS, COM CERTEZA. AMO VOCÊS! OBRIGADO A MINHA IRMÃ CARMEM, QUE SEMPRE ME AMOU E POR SEUS CONHECIMENTOS METAFÍSICOS QUE ME AJUDAM A ENXERGAR A VIDA DE UMA FORMA DIFERENTE, MAIS LEVE. OBRIGADO A MINHA AMADA ESPOSA, AMOR DA MINHA VIDA E MÃE DOS MEUS FILHOS, COMPANHEIRA INSEPARÁVEL, QUE, COM MUITA PACIÊNCIA ME AJUDOU A INICIAR NA ÁREA TRIBUTÁRIA, COMPARTILHANDO COMIGO OS SEUS CONHECIMENTOS. TE AMO, RENATA. AOS MEUS FILHOS AMADOS, MARIA GABRIELA E LEONEL DAVI, SIMPLESMENTE POR EXISTIREM E POR FAZEREM DA MINHA VIDA UM MAR DE BENÇÃOS. NÃO EXISTEM PALAVRAS PARA DESCREVER O AMOR QUE SINTO POR VOCÊS. A MINHA CUNHADA ROBERTA, POR ABAIXO DE DEUS, TER SIDO A MINHA MAIOR INCENTIVADORA NA CRIAÇÃO DO CURSO QUE ME INSPIROU A ESCREVER ESSE LIVRO. SUMÁRIO COMO SE TORNAR UMA ADVOGADO TRIBUTARISTA. AGRADECIMENTOS SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1. DOS IMPOSTOS EM GERAL E DOS REGIMES DE TRIBUTAÇÃO 1.1 - Simples Nacional 1.1.1 - PRINCIPAIS MUDANÇAS DO Simples Nacional PARA O ANO DE 2018. 1.2 - PIS/COFINS (leis 10.637/02 e 10.833/03) 1.3 - IRPJ (art. 153, §2º, I, CF. art. 43 a 45 do CTN) 1.4 - CSLL (CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO). ART. 195, I, ALÍNEA “C” DA CF 1.5 - ICMS 1.6 - IPI 1.7 - ISS (LC nº. 116/03 e art. 156 da CF) 2. PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO 2.1 - VANTAGENS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO 2.1.1 - NEGOCIAÇÃO DOS HONORÁRIOS 2.1.2 - SUSPENDE A EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, ART. 151, INCISO III DO CTN; 2.1.3 - A DECISÃO ADMINISTRATIVA FAZ COISA JULGADA PARA A ADMINISTRAÇÃO E NÃO PARA O CONTRIBUINTE; 2.1.4 - NÃO É NECESSÁRIO O FORMALISMO EXIGIDO PELO JUDICIÁRIO E NÃO HÁ O PAGAMENTO DE CUSTAS. QUALQUER PROTOCOLO SERÁ REALIZADO NA PRÓPRIA RECEITA FEDERAL: 2.2 - CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO: (ARTS. 141,142 E 143 CTN) 2.3 - FASES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO: 2.4 - CASO PRÁTICO 2.5 - DA IMPUGNAÇÃO ADMINISTRATIVA 2.6 - DO JULGAMENTO PELA DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL 2.7 - DO RECURSO VOLUNTÁRIO 2.8 - DO JULGAMENTO PELO CARF 2.9 - MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE 3. EXECUÇÃO FISCAL (LEI 6.830/80) 3.1 - EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE 3.2 - EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL 3.3 - PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 3.4 - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE 3.5 – OUTROS ARTIGOS IMPORTANTES DA LEF 3.6 – MODELO DE EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL 3.7 – MODELO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE 4. MANDADO DE SEGURANÇA 4.1 – ALGUMAS VANTAGENS DO MANDADO DE SEGURANÇA 4.2 – COMENTÁRIOS AOS ARTIGOS DA LEI DO MANDADO DE SEGURANÇA 4.3 – MODELO DE MANDADO DE SEGURANÇA 5. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL 5.1 – PRINCIPAIS CARACTERISTÍSTICAS: 5.2 – MODELO DE AÇÃO ANULATÓRIA/DECLARATÓRIA DE DÉBITO FISCAL : 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS INTRODUÇÃO Desde o momento em que decidi ingressar no curso de Direito, escutava as pessoas falarem que, se você quisesse ganhar dinheiro na área jurídica, deveria se especializar na área tributária. Também escutava que o direito tributário é um ramo do direito bastante complicado e restrito apenas aos advogados que já militavam na área e que os mesmos se recusavam a passar o conhecimento adquirido, com receio de aumentar a concorrência e diminuir, assim, os seus clientes. Por tal razão, quem atua no Direito Tributário ganha muito dinheiro, foi o que sempre escutei desde os tempos de faculdade. Sou formado há vinte anos, dos quais dez, atuo na área tributária e confesso que se tivesse a oportunidade de escolher uma outra profissão, sem sombra de dúvidas escolheria novamente o Direito e a área tributária para atuar. Pois bem, militando no Direito Tributário há bastante tempo e com o conhecimento adquirido no dia a dia, graças também a minha amada esposa que sempre atuou,exclusivamente, nessa área e desde o ano de 2005, decidiu acreditar em um projeto juntos e se uniu a mim no meu escritório, comecei a perceber que quando explicava a algum estagiário ou mesmo a algum advogado do escritório sobre determinado assunto, envolvendo o Direito Tributário, eles entendiam facilmente e sempre me sentia feliz por poder ter compartilhado o meu conhecimento. Foi com base nessa experiência e incentivado por minha cunhada Roberta, irmã gêmea da minha esposa e que também trabalha conosco (não conheço pessoa melhor em relações públicas com os clientes e pessoas), que lancei no ano de 2014, o meu primeiro curso de Prática Jurídica Tributária para Iniciantes, colando apenas 10 cartazes no Fórum do Recife, cidade onde nasci e moro, informando sobre o curso. Para a minha surpresa, das 15 (quinzes) vagas disponíveis, foram preenchidas 09 (nove), tendo o curso sido um verdadeiro sucesso. Jamais me esquecerei de um aluno (advogado), que também era empresário no ramo de supermercado, que fez o meu primeiro curso e viria a fazer outros que lancei, que na segunda aula, perguntou se poderia falar comigo em particular. Informou-me que, por causa da minha primeira aula (que envolvia contabilidade), resolveu, junto com o seu contador, mudar o regime tributário da sua empresa, do lucro presumido para o lucro real. Os amigos leitores podem imaginar a felicidade que eu tive ao receber tal notícia e algo dentro de mim dizia que estava no caminho certo. Aquela seria a minha missão de vida : levar conhecimento, no ramo tributário para as pessoas, ensinar aos advogados, estudantes e empresários como se defende os interesses das empresas quando estão sendo cobradas pelo fisco. Hoje, já estou no meu 19º Curso de Prática Jurídica Tributária, sempre com duas turmas de 15 ( quinze) alunos cada e lanço o curso umas três vezes ao ano e posso garantir que mais de trezentas pessoas já o fizeram e me incentivaram muito a escrever esse livro. Por causa do curso, lancei também um canal no youtube (Ricardo Piedade), onde gravo vídeos quinzenais tratando do dia a dia de um advogado tributarista, comentando casos práticos, decisões dos tribunais, ações interessantes na área tributária, que podem gerar um bom ganho financeiro, além de outras situações práticas. Também lancei o site www.ricardopiedade.com, com notícias tributárias e sobre o curso. Assim, quando lancei o meu primeiro curso pensei, se eu fosse um advogado e não soubesse nada com relação ao direito tributário e quisesse iniciar na área, quais as noções básicas que eu deveria saber? Primeiro pensei, não existe advogado tributarista que não possua noções mínimas de contabilidade, por isso trato dos principais impostos/contribuições na primeira aula, nos três regimes de tributação, lucro real, lucro presumido e simples nacional. O segundo passo seria passar noções sobre o processo administrativo tributário, como se analisa um auto de infração, como se faz um recurso perante a administração pública, como será a contagem de prazos, análise de legislação, etc. O terceiro passo seria falar sobre a lei de execução fiscal, assunto que adoro comentar, pois defendo muitos clientes em execuções fiscais de valores elevadíssimos e acreditem, sempre que imagino que nada de novo pode acontecer, pois já me aconteceu de tudo durante todos esses anos, algo de diferente acontece. Por fim, no nosso último encontro do curso, comentamos sobre o mandado de segurança e a ação anulatória de débito fiscal, envolvendo toda a legislação que rege a matériae a análise de casos práticos. Este livro é inspirado nesse curso, pois tenho a convicção que posso ajudar mais pessoas a ingressarem na área tributária e não apenas aos colegas que moram na minha cidade, Recife, ou no meu Estado de Pernambuco. Vou tentar, com a ajuda Divina, mostrar aos meus leitores que, se eu consegui, todos também conseguem e que só basta uma impulso inicial para que saibam que o Direito Tributário não é nenhum bicho de sete cabeças. Pois bem, espero que gostem desse trabalho, pois foi feito com muito amor e horas de dedicação. Quase um ano de escrita, geralmente de madrugada, para ser bem exato. Boa leitura. 1. DOS IMPOSTOS EM GERAL E DOS REGIMES DE TRIBUTAÇÃO Vamos analisar, nesse capítulo, os principais tributos/contribuição, nos três regimes de tributação (Lucro Real, Lucro Presumido e Simples Nacional). São eles: PIS/COFINS - CONTRIBUIÇÃO IRPJ - IMPOSTO CSLL - CONTRIBUIÇÃO IPI - IMPOSTO ICMS - IMPOSTO ISS - IMPOSTO Como dito, nesse primeiro capítulo iremos abordar questões exclusivamente de contabilidade, envolvendo os principais tributos/contribuições acima declinados, tanto no regime do Lucro Real, quanto no Lucro Presumido. Comentaremos sobre alguns aspectos bem interessantes relacionados ao Simples Nacional e por que, em algumas ocasiões, o simples pode não ser um bom negócio para o empresário, além das mudanças da lei complementar 155/16, que entrou em vigor desde 01/01/2018, trazendo várias alterações significativas no Simples Nacional. Mencionaremos também alguns termos e expressões mais utilizadas pelos empresários no seu dia a dia, quando o assunto é relacionado a carga tributária, para que os leitores fiquem familiarizados com as expressões, como por exemplo, o que é o “sped” da receita federal, o que é imposto cumulativo e não cumulativo, o que é imposto monofásico, o que é imposto retido na fonte, o que é substituição tributária, enfim, as hipóteses e expressões mais usadas pelos donos das empresas quando tratam de impostos e suas cobranças com os advogados. O meu objetivo é tratar do assunto de maneira simples e objetiva, fornecendo informações básicas de cada tributo aos leitores, o que, com certeza, irá facilitar bastante a vida de cada um, quando forem questionados a respeito do assunto, cabendo-lhes se aprofundar a respeito da matéria. Evidentemente, que não será apenas o que for ensinado nesse livro que tornará o meu leitor um advogado tributarista. A título de exemplo, apenas o estudo de cada um dos tributos aqui comentados nesse capítulo, daria um livro a parte. Porém, costumo dizer aos que fazem o meu curso presencial que, se quando iniciei, alguém tivesse me fornecido as informações que pretendo repassar nesse livro, certamente, o inicio da minha carreira, na área tributária, teria sido muito mais fácil. Feitos esses esclarecimentos iniciais, será interessante informar ao leitor, quais são as principais características de cada um dos regimes e suas diferenças mais importantes, abordando exemplos práticos sobre os principais impostos, suas alíquotas e a forma de se elaborar os cálculos dos tributos no Lucro Real e presumido. Vamos começar explicando alguns aspectos importantes sobre o regime do Lucro Presumido, do Lucro Real e do Simples Nacional. Em janeiro de cada ano, todas as empresas são obrigadas a aderirem a um dos três regimes de tributação (Lucro Real, Lucro Presumido e Simples Nacional), cada um com as suas características próprias, como veremos no decorrer desse capítulo. Se a empresa optar por um dos três regimes, é obrigada a nele permanecer até o final do ano, mesmo que, no decorrer do mesmo, verifique que o regime escolhido não foi o melhor negócio. No Lucro Presumido, como o próprio nome já diz, o empresário irá pagar os impostos sobre uma presunção de lucro. É como se o fisco considerasse que nem tudo que foi faturado no mês, pela empresa, fosse lucro, pois ela teve que pagar inúmeras despesas, tais como, o aluguel do imóvel onde se encontra estabelecida, de maquinários, pagamento de funcionários e encargos sociais, gastos com manutenção de equipamentos, etc. Assim, se uma determinada empresa faturou o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) ao mês e se optou pelo regime do Lucro Presumido, haverá uma presunção de lucro sobre esse valor que vai variar de acordo com a atividade que ela exerce. A título de exemplo, vamos imaginar que se trata de uma empresa prEstadora de serviço, onde, geralmente, o percentual de presunção de lucro é de 32% (essa percentual pode variar).Então, os impostos serão recolhidos sobre o valor de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais), mesmo o faturamento sendo de R$ 100.000,00 (cem mil reais), ao mês. É como se o governo considerasse que, dos R$ 100.000,00 (cem mil reais) faturados naquele mês, só restasse para a empresa a título de lucro, a quantia de R$ 32.000,00. É sobre esse percentual de lucro (R$ 32.000,00), que o empresário irá recolher os seus impostos mensais. Esse valor será a base de cálculo para o recolhimento dos impostos, já que o mesmo optou pelo regime do Lucro Presumido. Esse percentual de lucro, como já informado, pode variar de acordo com a atividade da empresa, geralmente ou é de 8%, 12% ou 32%, a depender da atividade. Por isso se diz que, quanto maior for o faturamento, ou seja, quanto maior for aquantidade de nota fiscal de venda emitida pela empresa naquele mês, é provável que o Lucro Presumido seja o melhor negócio, pois, como já adiantado, no Lucro Presumido não vai se considerar o total das vendas realizada no mês, pela empresa, e sim uma presunção de lucro sobre a venda, no intuito de serem calculados os impostos. Só podem optar pelo Lucro Presumido, as empresas com o faturamento anual até R$ 78.0000.000,00 (setenta e oito milhões de reais), sendo esse o limite legal. Existem empresas que mesmo estando dentro do limite desse faturamento para optarem pelo Lucro Presumido, não podem aderir ao regime, porque são impedidas por lei, a exemplo das instituições financeiras e de crédito. As principais alíquotas que se pagam dentro do regime do Lucro Presumido para os impostos acima citados são: - PIS = 0,65%sobre o faturamento (sobre NF). - COFINS = 3%sobre o faturamento (sobre NF). - CSLL = 1,08%sobre o faturamento de vendas. - CSLL = 2,88%sobre o faturamento serviços. - IRPJ = 1,2%sobre o faturamento de vendas. - IRPJ = 4,8%sobre o faturamento serviços. - IPI = (indústria) varia de acordo com o produto fabricado. Tabela incidência IPI, através NCM do produto que fabricou. Funciona no regime da não cumulatividade. - ICMS (comércio) = 17%, 18%, 19%, 20% do valor agregado da mercadoria. - ISS – 2% a 5% (tipo de serviço e a cidade onde o serviço foi prEstado). Os leitores vão notar que no decorrer desse capítulo, vamos mencionar algumas alíquotas diferentes daquelas acima citadas, como no caso das alíquotas da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL) e do imposto de renda da pessoa jurídica (IRPJ). Por exemplo, vamos citar que, para se fazer o cálculo mensal da CSLL no Lucro Presumido, primeiro vamos aplicar uma presunção de lucro de 12%, para venda de mercadorias (notas fiscais de venda) e 32% quando a atividade principal da empresa for a prestação de serviços (notas fiscais de serviços) e após encontrar a base de cálculo, aplicaremos a alíquota do imposto de 9%, encontrando assim, o valor a ser recolhido pela empresa a título de CSLL. Contudo, eu citei acima que no Lucro Presumido, a título de CSLL, a empresa vai pagar 1,08% sobre a receita de vendas e 2,88% sobre a receita de serviços, alíquotasessas diferentes do exemplo citado no parágrafo anterior, quando me referi que, inicialmente, iríamos aplicar uma presunção de lucro ou de 12% (venda) ou de 32% (serviços), sobre o total das notas fiscais emitidas e após, quando encontrada a base de cálculo do imposto, aplicaríamos a alíquota de 9% para sabermos o valor que será pago de CSLL, repita-se. É que as alíquotas acima citadas de 1,08% e 2,88% na CSLL são, na verdade, uma técnica permitida por lei, uma maneira mais simples, digamos assim, de serem aplicadas tais alíquotas diretamente sobre o total das notas fiscais emitidas pela empresa naquele mês, encontrando assim, o valor a ser pago a título de CSLL, sem a necessidade de primeiro se aplicar uma presunção de lucro sobre as notas fiscais emitidas, para depois se aplicar a alíquota do imposto de 9%. Porém, é interessante que os meus leitores saibam da existência de duas maneiras de se calcular o imposto (CSLL), pois muitas vezes os empresários comentam com os advogados que estão pagando 1,08% e 2,88% de CSLL. Dessa forma, vão perceber que se tratam de empresas optantes do Lucro Presumido e os empresários estão calculando o imposto da maneira mais fácil repassada pelos contadores. O mesmo se pode dizer com relação ao IRPJ, pois informei acima que as alíquotas serão de 1,2% sobre o faturamento de vendas e 4,8% sobre faturamento de serviços, aplicadas diretamente sobre as notas fiscais, quando vão me ouvir informar mais a frente que, para se calcular o IRPJ no Lucro Presumido, primeiro vou aplicar o percentual de 15% sobre o total do faturamento do mês (total de notas fiscais emitidas), mais um adicional de 10% sobre o que passar R$ 20.000,00 (vinte mil) mensal, R$ 60.000,00 (sessenta mil) trimestral ou R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil) anual. Ou seja, igual a CSLL, as alíquotas de 1,2% (vendas) e 4,8% (serviços), aplicadas diretamente sobre as notas fiscais, para o cálculo do IRPJ, são uma forma legal mais prática de se calcular o imposto, sem a necessidade de primeiro se aplicar uma presunção de lucro sobre as notas fiscais emitidas, que no imposto de renda será de 8% para o comércio e 32% para a prestação serviço, a depender da atividade desenvolvida pela empresa. E só após encontrada a presunção de lucro no IRPJ, é que aplicarei o percentual de 15% sobre o total de notas fiscais faturadas no mês e o adicional de 10% acima comentado. Porém, no decorrer desse capítulo, iremos analisar as duas maneiras de se calcular os referidos impostos, trazendo para os leitores casos práticos que facilitarão a compreensão do que foi explicado, não sendo necessária nenhuma preocupação nesse momento. Feitos esses esclarecimentos sobre o Lucro Presumido, vamos agora comentar sobre o Lucro Real. No Lucro Real, as alíquotas dos principais impostos e contribuições acima citadas serão: - PIS = 1,65% sobre o faturamento. - COFINS = 7,6% sobre o faturamento. Aqui abro um parêntese para comentar que o PIS e a COFINS, no Lucro Real, serão não cumulativos, ou seja , a empresa poderá tomar o crédito das referidas contribuições sobre todas as notas fiscais de compra que adquirir, tais como, insumos, energia, material de embalagens, aluguel do parque fabril, etc, nesses mesmos percentuais de 1,65% de PIS e 7,6% de COFINS. A empresa recolherá apenas a diferença quando for realizar a venda do produto que comprou ou fabricou, abatendo o crédito apurado sobre os insumos acima mencionados, ou irá transferir o crédito para o mês seguinte, se este for superior ao débito do mês. Isto é em função do regime da não cumulatividade do PIS e COFINS para as empresas tributadas com base no Lucro Real. - IRPJ = 15% sobre o Lucro Real, ou seja, sobre o total do faturamento mensal e caso este lucro exceda a R$ 20.000,00 por mês, R$ 60.000,00 por trimestre ou R$ 240.000,00 por ano, calcula-se e paga- se um adicional de 10% sobre este excedente. - CSLL = 9% sobre o lucro apurado. - IPI = depende do produto final e da política do governo em relação ao produto. A pesquisa da alíquota do produto é feita na TIPI – TABELA DE INCIDÊNCIA DO IPI, publicada pela RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Pode variar entre 0% a 300%. Produtos terão alíquotas diferentes de IPI em função do interesse do Governo em adotar políticas restritivas em relação a determinados produtos, principalmente os importados, em função da manutenção dos empregos. Importante também comentar que o ICMS e o IPI serão não cumulativos, tanto no Lucro Real quanto no Lucro Presumido, face à previsão constitucional da não-cumulatividade, não importando o regime. Como o próprio nome já diz, no Lucro Real, vamos levar em conta a lucratividade do negócio, ou seja, o ganho real, o quanto sobrou no bolso do empresário no final do mês após o abatimento de todos os créditos permitidos por lei, no momento da apuração do imposto devido. Tanto é que, se no Lucro Real você não obteve lucro naquele determinado mês, você não vai pagar o IRPJ e a CSLL, já que, naquele mês, repita-se, não houve lucratividade. Já se sua empresa estivesse no Lucro Presumido ou mesmo no Simples Nacional, pagaria o imposto de todo jeito, pois nesses regimes de tributação, vai se levar em consideração a quantidade de notas fiscais emitidas, o faturamento, não importando, para o fisco, para efeito de cálculo e pagamento do imposto, se a empresa obteve lucratividade ou não no seu negócio. Por isso se diz que, quanto menor for a margem de lucro, é provável que o Lucro Real seja o mais indicado, pois como o próprio nome já diz, no Lucro Real vai se levar em conta o real lucro da empresa, o ganho real, após serem abatidos todos os créditos fiscais permitidos por lei. Um exemplo bem prático sobre como funciona uma empresa no Lucro Real: vamos imaginar um supermercado que vende muitos produtos ao mês e que, em cada saco de arroz ou feijão, que custa em média R$ 10,00 (dez reais) o quilo, o empresário vai lucrar em média R$ 2,00 (dois reais), por saco. No Lucro Real, vai se levar em consideração para os cálculos dos impostos, o quanto sobrou para o empresário, no caso, os R$ 2,00 (dois reais). Já no Lucro Presumido e no Simples Nacional não, pois nesses regimes, como já adiantado, o que importará será a quantidade de notas fiscais emitidas naquele mês e os impostos serão calculados sobre a totalidade do faturamento, não importando que o empresário apenas tenha lucrado R$ 2,00 (dois reais), na venda de cada quilo de feijão ou arroz. Isso porque, no Lucro Real vai se poder abater muitos créditos fiscais permitidos por lei. Como funciona isso? - Da seguinte forma. Imaginemos uma indústria que compra insumos que serão utilizados no processo produtivo da empresa. No Lucro Real, vai se poder abater todos os impostos relacionados àquela nota fiscal de compra,nos impostos que são não-cumulativos, no momento em que for emitida a nota fiscal de venda. O que é imposto não cumulativo? - Considero simples a explicação. No exemplo acima, se comprei insumos para a minha indústria e vou calcular o quanto terei de pagar a título de PIS e COFINS, lembrando que no Lucro Real, o PIS e a COFINS serão não-cumulativos, primeiro vou verificar o total de crédito relacionado aquela nota fiscal de compra dos insumos, me creditando dos percentuais de 1.65% de PIS e 7.6% de COFINS sobre o valor das notas fiscais de compra, alíquotas essas das mencionadas contribuições sociais no Lucro Real.Esse crédito fiscal de PIS e COFINS vou escriturar nos livros fiscais da minha empresa (nota fiscal de compra)e vou poder utilizar tal crédito no momento da venda da mercadoria, quando for realizar o cálculo do PIS e da COFINS que terei que pagar ao Fisco quando for emitir a nota fiscal de venda. Assim,sobre o total da nota fiscal de venda vou recolher o PIS e a COFINS nos mesmos percentuais estabelecidos para as empresas optantes do Lucro Real, ou seja, 7,6% de COFINS e 1,65% de PIS, gerando um débito ou imposto a ser pago, ao governo, pela empresa, que também será escriturado nos seus livros fiscais relacionados ao pagamento do imposto (nota fiscal de saída ou venda). Então, a melhor explicação para imposto não cumulativo será essa: sobre o total do débito ou imposto que terei que pagar ao governo,quando for emitir a minha nota fiscal de venda, vou poder abater o total do meu crédito fiscal de PIS e a COFINS apurado, naquele mês, dos produtos que adquiri para a empresa, pagando apenas a diferença ao fisco. Portanto, no Lucro Real, alguns impostos ou contribuições são não cumulativos, ou seja, só vou pagar o imposto relativo à diferença, após abater todo o crédito fiscal escriturado em meus livros, gerado por minhas notas fiscais de compras. No Lucro Real também poderão ser abatidos outros créditos fiscais, desde que, evidentemente, haja previsão legal. A título de exemplo, até a energia elétrica, utilizada no processo produtivo da minha empresa, poderá ser abatida para ser pago menos imposto, quando a empresa é optante do Lucro Real, o que muitas vezes credencia o Lucro Real como o mais vantajoso dos regimes para o empresário, face essa possibilidade de serem abatidos vários créditos fiscais no momento do cálculo do imposto devido. Porém, em razão dos cálculos serem mais complexos, pois como dito, primeiro vão ser apurados todos os créditos que a empresa possui naquele mês, para depois, serem calculados os débitos ou os impostos devidos, alguns profissionais da contabilidade optam por inscreverem os seus clientes nos regimes do Lucro presumido ou no Simples Nacional, onde os cálculos são bem menos complicados. É claro, não são todos os contadores que agem dessa forma, pois existem bons e maus profissionais em qualquer profissão, inclusive, na minha. Só fiz esse comentário porque já presenciei casos em que era nítido que o Lucro Real seria o melhor regime para a empresa e que o contador se recusava a aceitar tal fato, por nítido desconhecimento da legislação. Ademais, o contador deve sempre se manter atualizado a respeito da legislação tributária, que muda quase diariamente, pois existem vários créditos fiscais que podem ser abatidos pelo empresário, se ele for optante do Lucro Real, e cabe ao contador mantê-los informados, pois é sua função escriturar todos os créditos nos livros fiscais. O fato é que, no Lucro Real, os cálculos são no mínimo mais trabalhosos. No entanto, do mesmo jeito que cabe ao empresário se cercar de bons advogados para defender os interesses da sua empresa no momento da fiscalização, também deve se cercar de bons contadores, pois um bom contador trará grandes vantagens na vida da empresa, pois são muitos os créditos que podem ser abatidos e não o são, no momento do pagamento do imposto, por profundo desconhecimento. E como o empresário saberá qual será o melhor regime de tributação para a sua empresa? Um bom escritório de contabilidade, no final de cada ano, fará um estudo com base nas receitas da empresa daquele ano que se finda para se saber qual dos três regimes será o melhor para a empresa no ano seguinte. Assim, vão ser feitos os cálculos dos impostos no Lucro Real, no Presumido e no Simples Nacional, com base, como dito, na contabilidade daquele ano que está prestes a terminar e no final irá se verificar em qual dos três regimes de tributação a empresa teria pago menos imposto. E uma vez encontrado o melhor regime, a empresa poderá optar por ele no ano seguinte e deve nele permanecer até o final do ano, sem a possibilidade de migrar para outro regime, caso se arrependa da sua escolha. Feitos esses comentários sobre o Lucro Real, passaremos agora a analisar o Simples Nacional e as principais mudanças para o ano de 2018, regime esse muitas vezes preferido pelas empresas, em razão dos seus cálculos serem menos complexos e suas alíquotas serem menores, ou seja, mais atraentes. 1.1 - Simples Nacional Primeiramente gostaria de informar que estou escrevendo esse livro no final do ano de 2017 quando as regras do Simples Nacional são totalmente diferentes das regras que serão implantadas pelo governo no ano de 2018, criadas pela lei complementar 155/2016. E como provavelmente este livro será lançando no ano de 2018, após explicar as regras do Simples hoje, escreverei um tópico específico a seguir, informando as principais mudanças que ocorrerão no Simples Nacional para o ano de 2018, o que será interessante, até para que os meus leitores possam fazer uma comparação entre o regime do Simples atual e o que será implantado a partir de 01/01/2018. Acreditem, muita coisa vai mudar! Atualmente, no ano de 2017, no Simples Nacional, os impostos são recolhidos em uma única guia chamada DAS (documento de arrecadação do Simples Nacional), e nessa guia serão recolhidos o PIS, a COFINS, o IRPJ, a CSLL, o IPI, o ICMS, o ISS e CPP (contribuição previdenciária patronal paga ao INSS). Recolhe separadamente o FGTS. No Simples, as alíquotas dos impostos serão menores do que as alíquotas normais de cada imposto pago no Lucro Real ou Presumido e para chegarmos a alíquota do Simples que será aplicada sobre o faturamento do mês, atualmente, no ano de 2017, existem seis tabelas, as duas primeiras para quem for comércio e indústria e as outras quatro para quem for prEstador de serviço, com as seguintes alíquotas que vão variar de acordo com o faturamento dos últimos doze meses da empresa, a famosa sigla RBT12 (receita bruta dos últimos doze meses): 1) Comércio (tabela I) = 4% à 11,61% 2) Indústria (tabela II)= 4,5% à 12,11% 3) Serviços (tabelas III à VI) = 4,5% à 27,90% A variação dos percentuais dar-se-á em função do volume do faturamento acumulado pela empresa nos últimos 12 meses (RBT12). Para melhor compreensão de como se faz um cálculo no Simples Nacional até o ano de 2017, vamos dar o seguinte exemplo. Digamos que uma indústria faturou a quantia de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), no mês de março de 2017 e precisa saber qual o valor que irá recolher no Simples Nacional no referido mês. O primeiro passo é saber se a empresa é indústria, comércio ou serviço para se identificar a tabela correta em que a mesma está inserida, no intuito exclusivo, de se verificar a alíquota do Simples Nacional que será aplicada sobre o faturamento daquele mês. Assim, identificada a tabela que será utilizada para o cálculo do Simples Nacional, o passo seguinte será saber qual o faturamento acumulado da empresa dos últimos 12 meses da empresa e somarmos todo esse período. O próprio sistema da receita federal e o contador possuem essas informações no sistema (o faturamento dos últimos doze meses), não existindo nenhum mistério em se obter esses dados. Pois bem, se estamos calculando o Simples Nacional em relação ao mês de março de 2017, cujo faturamento foi de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), naquele mês, repita-se, temos que somar o faturamento de março de 2016 até fevereiro de 2017 (os últimos doze meses), para encontrarmos, na tabela correspondente, a alíquota que será aplicada sobre o faturamento do mês de março de 2017. No exemplo dado, vamos imaginar que a soma do faturamento dos últimos doze meses da empresa foi de R$ 550.000,00 (quinhentos e cinquenta mil reais). Encontrado esse valor relativo ao faturamento acumulado (R$ 550.000,00), vamos agora olhara tabela da indústria, já que a empresa, diga-se novamente, trata-se de uma fábrica, para verificarmos qual a alíquota do Simples que corresponderá a esse faturamento acumulado. As alíquotas do Simples Nacional vão variar de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), a R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), até chegar ao limite previsto até o ano de 2017, de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), aumentando a alíquota toda vez que mudar de faixa. Até o ano de 2017, existem 20 (vinte), faixas em cada tabela, aumentando a alíquota do simples a cada R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), de aumento do faturamento dos últimos doze meses. Então, por exemplo, no faturamento de 0 a 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), a empresa paga a alíquota inicial de 4,5%, de 180.000,00(cento e oitenta mil reais) até 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais), paga a alíquota seguinte de 5,97% e assim por diante. Quanto maior o faturamento acumulado dos últimos 12 meses da empresa, diga-se novamente, maior será a alíquota que será paga do Simples. No nosso exemplo, comparando o faturamento acumulado dos últimos 12 meses da empresa com a tabela da indústria, vamos encontrar a alíquota de 8,04%. Assim, multiplicando a alíquota de 8,04% sobre o faturamento do mês de março de 2017 (R$ 60.000,00), encontraremos a quantia de R$ 4.824,00, que será paga a título de Simples Nacional e esse valor será repartido para o pagamento dos diversos impostos que fazem parte do simples, nas suas respectivas proporções previstas na tabela. Portanto, o somatório do faturamento acumulado dos últimos 12 meses só servirá para ser encontrada a alíquota que será aplicada sobre o faturamento daquele mês em que se está realizando os cálculos. Para o prEstador de serviços encontrar a alíquota que será aplicada sobre o faturamento mensal, será levado em conta, além do faturamento acumulado dos últimos 12 meses, também o tipo de serviço prEstado. Pois para quem é prEstador de serviço, como já informado, vão existir 04 tabelas diferenciadas de acordo com a atividade exercida. A LC 147 de 07/08/2014, realizou alterações significativas na LC 123/06 (lei do Simples Nacional). Desde janeiro de 2015, todo prEstador de serviços poderá ser incluído no Simples, desde que seja respeitado o faturamento anual no ano de 2017 de R$ 3.600.000,00 (três milhões e oitocentos mil reais), com exceção das empresas de bebidas e as que fabricam fumo, que mesmo estando dentro desse limite, hoje não podem. Até o ano de 2017, mais de 142 tipos de serviços estão aptos a serem enquadrados no Simples Nacional. Os serviços de advocacia estão enquadrados no anexo IV, com alíquotas a partir de 4,5% até 16,85% sobre o faturamento mensal. Foram os maiores beneficiados. Isto porque, se um escritório estivesse no Lucro Presumido, por exemplo, quando emitisse uma nota fiscal, teria que pagar de cara em torno de 16,65% a título de IRPJ, PIS e COFINS, só em relação a esses impostos, isso sem mencionar o ISS que teria que ser pago por fora. No Simples, a alíquota inicial para os serviços de advocacia será de 4.5%, a depender do faturamento do escritório dos últimos 12 meses (sem dúvida, foi um excelente negócio para os advogados). Já as atividades enquadradas no anexo VI, possuem alíquotas que variam de 16,93% até 22.45%, mais o INSS por fora. Portanto, o enquadramento no Simples para esses profissionais poderá não ser um bom negócio. Entre as atividades incluídas no anexo VI estão: Medicina, Veterinária, Fonoaudiologia, Odontologia, Psicologia, serviços de despachantes, Engenharia, Arquitetura, entre outras. A lista é bastante extensa. A pessoa jurídica para ser optante do Simples Nacional não pode ter débito no âmbito federal, estadual ou municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa, conforme a redação do inciso V do art. 17 da LC 123/06. Tive um caso no escritório em que uma empresa possuía alguns débitos municipais e por isso foi excluída do Simples. Acontece que, antes, a empresa havia ingressado no Justiça visando discutir a exigibilidade desses débitos municipais, conseguindo uma tutela antecipada suspendendo a sua cobrança, sendo essa tutela uma das formas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, de acordo com o art. 151,V do CTN. Dessa forma, ingressamos com mandado de segurança e conseguimos através de liminar, que depois foi confirmada por sentença, que o empresa fosse novamente incluída no simples, se encontrando no referido regime até hoje. Para ser excluída do Simples, a empresa deverá ser notificada através de ADE ( Ato Declaratório Executivo), com prazo de trinta dias para apresentar impugnação. O ADE deverá conter a relação de todos os débitos em aberto no âmbito da Receita Federal, sob pena de ser declarado nulo. No prazo de impugnação, o contribuinte em débito no Simples, pode solicitar o pagamento à vista ou parcelado, sendo a primeira parcela, hoje, no valor mínimo de R$ 300,00 (trezentos reais). Caso o débito não seja regularizado, a partir de janeiro do ano seguinte, a pessoa jurídica será excluída no Simples. Agora é interessante também comentarmos sobre algumas desvantagens do Simples Nacional. A primeira, no meu ponto de vista, é o limite anual, até o ano de 2017 de faturamento de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), para a empresa aderir ao regime. A partir de 2018, como comentaremos mais adiante, esse limite aumentará para R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), o que certamente, irá beneficiar ainda mais as micro e pequenas empresas. Agora, vamos imaginar a seguinte situação. O empresário se encontra no regime do Simples Nacional e não está satisfeito com o teto estabelecido pela lei, relativo ao faturamento anual, no caso, o valor atual de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), e resolve abrir duas empresas com CNPJ’S diferentes, ambas no Simples Nacional, a fim de atingir nas duas, esse limite, aumentando assim os seus rendimentos. O que estabelece a legislação nesse caso? Se duas empresas estão no Simples Nacional e possuem um sócio em comum, não importa a porcentagem, pode ser de 1% (hum por cento), de nada adiantará pois a legislação estabelece que o somatório do faturamento de ambas não pode ultrapassar o limite de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), anuais. Então o empresário resolve abrir uma empresa no simples e a outra no Lucro Presumido ou Lucro Real, com sócio em comum, com participação nestas maior que10% (L.pres/L.real). Tal idéia também não resolverá a questão, pois a legislação não permite duas empresas, uma no Simples e a outra no Lucro Real ou Presumido, com sócio em comum nestas (L.pres/L.real), com participação maior que 10% na sociedade, não permitindo que o faturamento de ambas as empresas ultrapassem o limite de faturamento estabelecido em lei. Mas o empresário é brasileiro e como se diz, não desiste nunca. Então, resolve abrir uma empresa e registrá-la em nome de terceiros, figurando no contrato social da empresa apenas como administrador e não como diretor ou proprietário. A legislação diz que se eu sou administrador de uma empresa e sócio de outra firma registrada no Simples Nacional, o somatório do faturamento anual de ambas não poderá ultrapassar o limite legal. Lembrando que consta no quadro da Receita Federal o nome das pessoas que são os sócios e administradores das empresas. Por isso, acontece de muita gente colocar um parente como sócio e administrador, passando esteao verdadeiro proprietário, uma procuração de caráter irrevogável e irretratável, com poderes amplos de gestão. Acontece que, tal prática, poderá gerar sérios problemas no futuro, pois se houver uma fiscalização, o fiscal vai querer saber quem assina os cheques e realiza os pagamentos pela empresa, o que pode gerar uma suspeita de crime contra a ordem tributária. Por tal razão, esse prática não é recomendada. Se eu estou no simples e supero o limite anual previsto de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), no decorrer do ano, como devo proceder? A legislação informa que naquele mês que superei o limite, ainda vou recolher os tributos no Simples Nacional e no mês seguinte, terei que migrar para o Lucro Real ou Lucro Presumido. É a única exceção à regra que possibilita a mudança de regime de tributação no decorrer do próprio ano. Existe ainda outra desvantagem bem comum para quem é optante do Simples Nacional, que passaremos a analisar. Se uma empresa possui uma margem de lucro pequena, ou seja, muito volume e pouco lucro, possa ser que o Simples Nacional não seja o melhor negócio, já que não vai levar em conta a lucratividade do seu negócio, como no Lucro Real por exemplo, pois no Simples se pagarão os impostos levando em conta o volume das vendas, ou seja, o valor das notas fiscais emitidas e o faturamento acumulado dos últimos doze meses, como já vimos. Aqui vai novamente o exemplo do supermercado, onde o empresário ganha uma pequena margem de lucro, em torno de R$ 2,00 (dois reais), sobre cada quilo de feijão ou arroz vendidos por R$ 10,00 (dez reais). Se ele estiver no simples, não importará que a margem do seu lucro tenha sido pequena, pois pagará os impostos de acordo com o valor total das notas fiscais emitidas no mês, aplicando sobre elas, a alíquota prevista na tabela de comércio. Já se estivesse no Lucro Real, por exemplo, como visto acima, pagaria os impostos sobre o real lucro que ficou no seu bolso após serem abatidos todos os créditos fiscais permitidos por lei. Outra desvantagem do Simples é que os seus optantes não podem se creditar dos impostos indiretos e não-cumulativos, a exemplo do IPI e do ICMS, pagos pela indústria, mas repassados ao consumidor final, acabando por entrar no custo da empresa. Porém, se a empresa não estivesse no Simples Nacional, mas no Lucro Real, por exemplo, poderia se creditar dos referidos impostos não- cumulativos no momento em que adquirisse a mercadoria para o seu estabelecimento,tomando o crédito sobre a nota fiscal de compra. Os optantes do Simples Nacional também não transferem os créditos de vários impostos, como o IPI por exemplo, que é por sua própria essência constitucional um imposto não cumulativo. Portanto, os optantes do Simples Nacional, às vezes, perdem vendas, uma vez que os seus clientes não podem se creditar de vários impostos destacados na sua nota fiscal de venda, como o IPI. Quanto ao ICMS, há a possibilidade do adquirente da mercadoria de uma empresa do Simples Nacional se creditar do imposto, desde que o contribuinte vendedor do Simples, destaque na nota fiscal de venda o percentual do ICMS do Simples Nacional devido, porém em percentual menor. Assim, por exemplo, se eu vou comprar de uma empresa optante do Simples, só poderei aproveitar o crédito de ICMS no percentual máximo de 4% (alíquota máxima do imposto no simples), mas, se eu fosse comprar de uma outra empresa que fosse optante do Lucro Real ou presumido, eu poderia aproveitar o crédito total do ICMS, geralmente na alíquota de 17%, 18% ou 19%. Por isso, como já ressaltado, muitas vezes os optantes do Simples Nacional perdem vendas, pois se eu sou empresário e vou comprar de você que está no Simples e só poderei me creditar de ICMS, no máximo, na alíquota de 4%, é claro que vou preferir comprar de outra empresa que não esteja no Simples Nacional, pois poderei me creditar do ICMS cheio destacado na nota fiscal de venda, no caso, na alíquota de 17%, 18% ou 19%, a depender de cada Estado. A única exceção permitida em lei em que os optantes do Simples Nacional transferem a totalidade do crédito é com relação ao PIS/COFINS para as empresas optantes do Lucro Real que adquiram suas mercadorias das empresas optantes do Simples, no percentual de 7,6% de COFINS e 1,65% de PIS (alíquotas do PIS e COFINS no Lucro Real), sendo essa, uma das únicas possibilidades. Como disse, a partir de janeiro de 2018, muitas dessas regras serão modificadas, razão pela qual, vamos escrever um tópico específico nesse livro a seguir, tratando das principais mudanças. 1.1.1 - PRINCIPAIS MUDANÇAS DO Simples Nacional PARA O ANO DE 2018. A partir de janeiro de 2018, o Simples Nacional sofrerá uma série de mudanças. A primeira delas diz respeito ao limite do faturamento anual da ME ou EPP, pois só podem aderir ao regime do Simples Nacional as micro empresas ou a empresas de pequeno porte, que passarão dos atuais R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), para R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), de acordo com a lei complementar 155/16. A referida lei complementar 155/16 também criou um parcelamento especial dos débitos do Simples até maio de 2016, possibilitando parcelar débitos do referido regime em até 120 (cento e vinte) meses, com parcela inicial mínima de R$ 300,00 (trezentos reais), até a consolidação dos débitos perante a Receita Federal. Da mesma forma, foi criada a possibilidade de outras empresas e até de pessoas físicas investirem na minha empresa que se encontra no Simples, sem que ela perca essa característica. Esse investidor será conhecido como investidor anjo e não funcionará como sócio da minha empresa, não responderá pelos seus débitos, não terá direito ao pró-labore dos sócios, será apenas um investidor. Será feito um contrato de parceria de no mínimo dois anos e no máximo sete. Atualmente, toda empresa do Simples, tem que, obrigatoriamente, constar no final do seu nome comercial, a expressão ME ou EPP. A partir de 2018, tal exigência não será mais necessária. Como funcionará essa transição do regime atual do Simples no ano de 2017 para o novo regime implantado a partir de janeiro de 2018? Existe atualmente, no ano de 2017, um limite permitido por lei em que a empresa poderá ultrapassar o faturamento anual de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), sendo esse limite de até 20%, ou seja, o valor de R$ 4.320.000,00 (quatro milhões, trezentos e vinte mil reais). Se a empresa ficar dentro desse limite de R$ 4.320.000,00 (quatro milhões, trezentos e vinte mil reais), dentro do ano calendário de 2017, como esse valor é inferior ao novo limite permitido para o ano de 2018, de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), irá migrar, automaticamente, em janeiro de 2018, para o novo regime do Simples, ou seja, o próprio sistema da receita vai fazer a transição de forma automática. Agora, se a empresa ultrapassou o limite de R$ 4.320.000,00 (quatro milhões, trezentos e vinte mil reais), em 2017, mas ainda assim ficou dentro do limite de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), pelo sistema vigente em 2017, no mês seguinte, teria que mudar obrigatoriamente o seu regime de tributação, passando para o Lucro Real ou Lucro Presumido. No entanto, como ela não ultrapassou o novo limite de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), em janeiro de 2018, poderá novamente migrar para o Simples Nacional. Já se ultrapassar o limite de 20% em dezembro de 2017, como no mês seguinte a empresa teria que ir obrigatoriamente para um outro regime de tributação e o mês seguinte é justamente janeirode 2018, ela, automaticamente, será transferida pelo sistema da receita para o novo regime do Simples Nacional, desde que tenha respeitado o novo teto máximo permitido de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). Esse limite atual de 20% que ultrapassar o teto do Simples Nacional em 2017, não mais existirá a partir de janeiro de 2018, ou seja, não haverá mais nenhum limite de tolerância para a empresa que ultrapassar os R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). Resumindo, se sua empresa passou do faturamento anual de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), em 2017, porém, ficou dentro do limite de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), previsto para 2018, poderá continuar no Simples Nacional no ano de 2018. Outra alteração significativa para o ano de 2018, diz respeito aos anexos, que, como visto acima, no ano de 2017 eram 06 (seis), sendo o anexo I para comércio, o anexo II para a indústria, e os anexos III à VI para serviços. A partir de 2018, o anexo VI não mais existirá e os serviços nele previstos ficarão enquadrados entre os anexos III e V. As atividades do atual anexo IV, entre elas os serviços de advocacia, permanecerão no anexo IV. Já as atividades dos atuais anexos III, V e VI (extinto), no ano de 2017, irão para os anexos III e V em janeiro de 2018, vai depender da folha de pagamento. Se a folha de pagamento for igual ou superior a 28% do faturamento dos últimos doze meses, a empresa irá para o anexo III que terá alíquotas menores. É o governo incentivando a contratação e legalização dos funcionários. De forma contrária, se a folha da empresa for menor a 28% do faturamento dos últimos doze meses, a mesma irá para o anexo V, com alíquotas maiores, o que se conclui que a empresa, no ano de 2018, um mês poderá ficar no anexo III e no outro poderá ser deslocada para o anexo V, vai depender da sua folha de pagamento. Como funcionará esse cálculo? Será utilizada a seguinte fórmula: FOLHA DE PAGAMENTO DOS ÚLTIMOS 12 MESES _____________________________________________ =28% RECEITA BRUTA DOS ÚLTIMOS 12 MESES Importante ressaltar que entram nos cálculos da folha de pagamento todos os encargos (férias, verbas rescisórias, décimo terceiro, etc), efetivamente pagos nos últimos doze meses e não apenas uma projeção, inclusive, FGTS e pró-labore. As tabelas atuais (ano de 2017) que possuem alíquotas pré-definidas de acordo com o faturamento dos últimos doze meses da empresa sofrerão alterações significativas a partir de janeiro de 2018. Como disse, no ano de 2017, a empresa já sabia o quanto pagaria de alíquota máxima no Simples Nacional, bem como, o quanto seria pago de cada imposto. Bastaria verificar o seu faturamento dos últimos doze meses e verificar, na tabela, a alíquota correspondente à atividade (indústria, comércio ou prestação de serviços), para se saber a alíquota. Em 2017, existiam 20 faixas de tributação, com diferentes alíquotas, a depender do faturamento dos últimos 12 meses da empresa, a começar de 0 até 180.000.00 (cento e oitenta mil) , com alíquota inicial de 4% (comércio), aumentando a alíquota a cada 180.000,00 (cento e oitenta mil), até chegar ao teto, em 2017, de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). A partir de janeiro de 2018, existirão apenas seis faixas, porém, os cálculos do recolhimento serão muito mais complicados. Todo mês, a empresa terá que fazer um cálculo efetivo, para encontrar a chamada alíquota efetiva. Vamos analisar um exemplo prático, que é o nosso maior objetivo nesse trabalho. Digamos que uma empresa seja COMÉRCIO, que agora terá a seguinte tabela: RECEITA 12 MESES ALÍQUOTA VALOR ADEDUZIR 1ª faixa até R$ 180.000,00 4% - 2ª faixa deR$ 180.000,00 à R$ 360.000,00 7,3% R$ 5.940,00 3ª faixa deR$ 360.000,00 à R$ 720.000,00 9,50% R$ 13.860,00 4ª faixa de R$ 720.000,00 à R$ 1.800.000,00 10,70% R$22.500,00 5ª faixa de R$ 1.800.000,00 à R$ 3.600.000,00 14,30% R$ 87.300,00 6ª faixa de R$ 3.600.000,01 à R$ 4.800.000,00 19,00% R$ 378.000,00 A primeira vista se tem a impressão que aumentaram as alíquotas do Simples e que, agora, tal regime não será um bom negócio, já que a última alíquota será de 19%, enquanto na tabela de comércio de 2017, a última alíquota, na última faixa era de 11,61%. Acontece que nas novas tabelas existirão valores a deduzir, aumentando à medida que aumenta também o faturamento da empresa. O cálculo da alíquota efetiva obedecerá a seguinte fórmula para todos os anexos (comércio, indústria e serviços): RBT 12 X ALÍQUOTA – PD _________________________ RBT 12 I – RBT12 = RECEITA BRUTA ACUMULADA DOS ÚLTIMOS DOZE MESES. II – ALÍQUOTA = ALÍQUOTA NOMINAL DOS ANEXOS I À V. III –PD = PARCELA A DEDUZIR DOS ANEXOS I À V. Esse cálculo da alíquota efetiva só servirá para ser encontrada a alíquota que será utilizada. Portanto, a alíquota irá variar todos os meses e todo mês terei que refazer esse cálculo. Isto porque, o faturamento da empresa varia mês a mês o que vai influenciar no cálculo da alíquota efetiva. Ou seja, a partir de 2018, nunca mais a empresa pagará uma alíquota igual do Simples todo mês ,o que era bem comum até 2017, onde já existiam tabelas com alíquotas pré-definidas, não existindo a necessidade de serem feitos cálculos mês a mês para ser descoberta a alíquota que seria aplicada. Digamos que o faturamento dos últimos doze meses de uma empresa foi de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais). Como será feito o cálculo da alíquota efetiva? 700.000,00 X 9,50% – 13.860,00 __________________________ = 7,52% 700.000,00 No exemplo acima, multipliquei 700.000,00 (RBT12) x 9.5% (alíquota da tabela) = 66,500,00. Desse total (66.500,00), diminui o valor a deduzir previsto na tabela, no caso 13.860,00, encontrando 52.640,00, que dividido por 700.000,00 (RBT12), vou encontrar o valor de 0.0752. Para saber quanto esse valor corresponde em percentagem, é só multiplicá-lo por 100, encontrando a alíquota efetiva de 7.52%. E imaginemos que naquele mês em que se estão realizando os cálculos, o faturamento mensal da empresa foi de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Então, multiplicamos a alíquota efetiva de 7.52% encontrada por R$ 100.000,00 (cem mil reais), e encontraremos o valor de R$ 7.520,00 (sete mil, quinhentos e vinte reais), sendo este o valor que será pago no Simples e que será repartido entre os tributos naquele determinado mês. Em 2017, se faturei o valor de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais), nos últimos doze meses, como dito, a empresa já saberia o percentual que iria pagar de cada imposto, sem precisar fazer cálculo algum (era só olhar a alíquota na tabela relativa a sua atividade, correspondente ao seu faturamento dos últimos doze meses). A partir de 2018, como dito, a empresa terá que fazer todo mês os cálculos acima, para encontrar a alíquota efetiva que será paga. E para saber o quanto que terá que pagar de percentual de cada imposto, após o cálculo da alíquota efetiva, existirá uma tabela correspondente a faixa do seu faturamento acumulado dos últimos 12 meses. Melhor explicando e utilizando o mesmo exemplo, ou seja, a empresa que nos últimos dozes meses faturou R$ 700.000,00 (setecentos mil reais), tal faturamento corresponderá a terceira faixa (vide tabela acima), e existirá uma tabela específica para cada uma (faixa), com o percentual de repartição de cada tributo para cada faixa específica. É só localizar a tabela relativa à terceira faixa e verificar o percentual que pagará de cada tributo, existindo uma nova tabela correspondente a cada faixa, com o percentual que será repartido para cada tributo. Com relação ao anexo II (indústrias), também seráfeito o mesmo cálculo para ser encontrada a alíquota efetiva, obedecendo a mesma fórmula acima. A novidade para 2018 é que novas empresas poderão aderir ao Simples, como: 1) micro e pequenas cervejarias, 2) micro e pequenas vinícolas, 3) produtores de licores e 4) micro e pequenas destilarias. Foi um ganho para essas empresas. Os serviços do anexo III permanecerão no anexo III, com exceção da Fisioterapia, Medicina, Arquitetura, Psicologia e alguns outros serviços que poderão oscilar entre o anexo III e o V, vai depender da folha de pagamento, se for maior que 28% do faturamento dos últimos 12 meses, ou menor. Sempre que a folha for menor que 28%, o que geralmente ocorre, a alíquota que a empresa pagará no novo Simples aumentará muito, por isso, o Simples poderá não ser um bom negócio. Relembrando, o governo agiu dessa forma para que a folha de pagamento dos funcionários fosse regularizada. O anexo IV, onde estão incluídos os serviços de advocacia, praticamente não tiveram nenhuma oscilação. Já os serviços do atual anexo V também vão oscilar entre os anexos III e V em 2018, a depender, como já explicado, se a folha de pagamento foi menor ou maior de 28% do faturamento acumulado dos últimos doze meses, de acordo com a fórmula já apresentada e abaixo transcrita novamente: FOLHA DE PAGAMENTO DOS ÚLTIMOS 12 MESES _____________________________________ =28% RECEITA BRUTA DOS ÚLTIMOS 12 MESES Ou seja, para as empresas do anexo V, também teremos que todo mês fazer o cálculo acima, pois o pagamento poderá oscilar mês a mês entre o anexo III e V, repita-se. Já o atual anexo VI em 2017, como já explicado, não mais existirá em 2018, e todos os serviços do referido anexo ficarão entre os anexos III e V, a depender também da folha de pagamento. Haverá mudanças significativas com relação ao ICMS e o ISS a partir de janeiro de 2018. Em 2017, onde o limite de faturamento no Simples no ano era de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), existia a possibilidade dos Estados adotarem sublimites menores entre R$ 1.800.000,00 (hum milhão e oitocentos mil reais) à R$ 2.420.000,00 (dois milhões, quatrocentos e vinte mil reais), que foram adotados pelos Estados no nordeste. A partir de 2018, esse sublimite passará a ser obrigatório. Agora, não existirá mais o sublimite de R$ 2.420.000,00 (dois milhões, quatrocentos e vinte mil reais). Em 2018, ou o Estado adotará o sublimite de R$ 1.800.000,00 (hum milhão e oitocentos mil reais), ou adotará o sublimite de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). Essa foi uma solicitação dos próprios Estados para que mais empresas não fossem enquadradas no Simples, diminuindo assim a arrecadação. Com relação ao ICMS e ISS, é importante frisar que, a partir de 2018, se a empresa excedeu o sublimite de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), no ano, terá que recolher o ICMS e o ISS por fora, como se fossem empresas normais, fora do regime do Simples. Digamos que em agosto de 2018, somado o faturamento do ano todo da empresa, a partir de 01 de janeiro até agosto de 2018, a chamada RBA (Receita Bruta Acumulada), foi de R$ 3.800.000,00 (três milhões e oitocentos mil reais), então, em agosto, a empresa continuará a pagar todos os impostos no Simples e a partir do mês seguinte, no caso setembro de 2018, pagará só os impostos federais no Simples, pagando o ICMS e o ISS por fora, como se fosse uma empresa normal. O maior complicador, com certeza, será em relação ao ICMS, pois em relação ao ISS, o teto máximo do imposto sempre será de 5% (cinco por cento). Para o ISS pode até ser uma vantagem a empresa pagar fora do Simples, pois a partir da 5ª faixa, a alíquota do Simples será de 5% (cinco por cento), e existem Municípios que cobram um alíquota menor. Com relação ao ICMS, se a empresa estiver no simples pagará o percentual máximo de 4%, enquanto se estiver fora dele, poderá pagar até 25% (vinte e cinco por cento). O que acontecerá a partir de 2018 é que se as empresas passarem dos sublimites previstos pelos Estados e Municípios, pagarão os impostos federais no Simples e terão que destacar o ICMS e o ISS em regime normal, repita-se, podendo inclusive, se aproveitar dos créditos. Resumindo, se ultrapassou o sublimite de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), em 2018, com relação ao ICMS e ISS, apesar de para a receita a empresa ser considerada enquadrada no Simples, para o Estado e o Município não será, tendo, inclusive, que pagar o ICMS e o ISS de forma retroativa, como se estivesse no regime normal. A empresa terá que fazer um inventário no seu estoque, de todo ano, apurar os créditos, calcular os débitos e recolher a diferença de forma retroativa. Com relação ao MEI (Micro Empreendedor Individual), a partir de 2018, houve um aumento do limite do faturamento anual para R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais). Essas foram as principais alterações do Simples, vigentes a partir de janeiro de 2018, ao meu ver para pior, pois geralmente, com o cálculo da alíquota efetiva, se pagará mais imposto, principalmente, com relação ao ICMS e o ISS, como demonstrado. Feitas essas considerações importantes sobre os três regimes de tributação (Lucro Real, Lucro Presumido e Simples Nacional), analisando as principais características de cada um dos regimes do ponto de vista do empresário e do seu contador, vamos agora começar a analisar os impostos e as contribuições per si e suas formas de cálculo, tanto no Lucro Real quanto no Lucro Presumido, o que dará uma noção mais clara ao leitor a respeito do assunto. 1.2 - PIS/COFINS (leis 10.637/02 e 10.833/03) A base de cálculo das contribuições será o faturamento ou receita bruta proveniente da venda de bens e serviços, encontrando a sua previsão legal no art. 195 da CF. As referidas contribuições serão recolhidas no regime cumulativo (Lucro Presumido) e não cumulativo (Lucro Real). As empresas optantes do Lucro Presumido pagarão o PIS e a COFINS no regime cumulativo, ou seja, pagarão as referidas contribuições sobre o total das notas fiscais emitidas/faturadas no mês pela empresa. As alíquotas que serão pagas no Lucro Presumido (regime cumulativo), serão de 0,65% de PIS e 3% de COFINS, sobre a receita bruta (preço venda), ou seja, sobre o total das notas fiscais emitidas. Então imaginemos que uma empresa compra um produto por R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e vai revendê-lo por R$ 8.000,00 (oito mil reais). No Lucro Presumido (regime cumulativo), como já comentamos, pagaremos as contribuições sobre o total das notas fiscais de venda, no caso, sobre o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais). Então, no exemplo acima, pagaríamos os seguintes valores a título de PIS e COFINS no Lucro Presumido: Lucro Presumido (cumulativo): PIS 0,65% sobre R$ 8.000,00 = R$ 52,00 COFINS 3% sobre R$ 8.000,00 = R$ 240,00 Total de PIS E COFINS R$ 292,00 Já para as empresas optantes do Lucro Real (não cumulativo), funcionará no regime de crédito e débito, semelhante ao ICMS. Como funciona ? Quando minha empresa compra um produto para revender, ela poderá se creditar de 1,65% de PIS e 7,6% de COFINS sobre as notas fiscais de compra, bem como, também poderá ser aproveitado outros créditos permitidos por lei. A título de exemplo, até sobre o valor pago de energia elétrica no processo produtivo da empresa, poderá se tomar crédito. Será um crédito escritural. Por sua vez, quando for revender a mercadoria, a empresa terá que pagar o PIS e COFINS nas mesmas alíquotas de 1,65% de PIS e 7,6% de COFINS, só que agora sobre o valor das notas fiscais de venda. Como o imposto é não cumulativo, sobreo débito (imposto) que terei que pagar ao governo no final do mês, relativo as minhas notas fiscais de vendas, poderei abater o meu crédito fiscal apurado sobre as minhas notas fiscais de compra, recolhendo apenas a diferença aos cofres públicos. Vejamos o seguinte exemplo, com base nos valores acima já citados: Lucro Real (não cumulativo): * Crédito *Débito PIS 1,65% sobre R$ 5.000,00 = R$ 82.50 PIS 1,65% sobre R$ 8.000,00 = R$ 132,00 COFINS 7,6% sobre R$ 5.000,00 = 380,00 COFINS 7,6% sobre R$8.000,00 = R$ 608,00 Total de crédito R$ 462,50 Total de débito R$ 740,00 * Valor a recolher Débito R$ 740,00 Crédito - R$ 462,50 R$ 277,50 Resumo: O PIS e a COFINS serão recolhidos no regime cumulativo, para as empresas optantes do Lucro Presumido e no regime não- cumulativo, para as empresas optantes do Lucro Real. No Lucro Presumido vou recolher as contribuições nos percentuais de 0,65% de PIS e 3% de COFINS sobre o faturamento ou receita bruta (preço venda), ou seja, sobre o total das notas fiscais emitidas naquele mês. Já no Lucro Real, primeiro tomarei o crédito fiscal de 1,65% de PIS e 7,6% de COFINS sobre as notas fiscais de compra e depois verificarei o que terei de pagar ao Fisco, calculando os mesmos percentuais sobre as notas fiscais de venda, abatendo depois, o meu crédito, já que as referidas contribuições, no Lucro Real, serão não cumulativas. Abro aqui um parêntese para fazer um ligeiro comentário sobre o que seria imposto monofásico, pois o PIS e a COFINS poderão ser recolhidos no regime monofásico,desde que a mercadoria vendida tenha sido enquadrada, pelo governo, para recolhimento do PIS e da COFINS nesse regime. Como o próprio nome já diz, o imposto monofásico incidirá em apenas uma etapa da operação, geralmente quando o produto sai do fabricante. O governo estipula que o fabricante pagará o imposto relativo a toda a cadeia produtiva em uma alíquota maior. Como mencionei, as alíquotas do PIS e da COFINS, no Lucro Real,serão de 1,65% e 7,6% respectivamente, que somadas dariam 9,25%. No PIS/COFINS recolhidos no regime monofásico, o fabricante ou importador quando for vender o seu produto, vai recolher o PIS/COFINS em um percentual maior, que, geralmente, pode chegar a 12%, dali para frente ninguém mais pagará o PIS/COFINS. O valor já estará embutido no preço do produto, como no caso das indústrias farmacêuticas, de cosméticos, de carros, bebidas etc. Essas seriam as considerações mais importantes sobre o PIS e a COFINS. Vamos agora analisar o IRPJ. 1.3 - IRPJ (art. 153, §2º, I, CF. art. 43 a 45 do CTN) Imposto de competência da União, com previsão constitucional no art. 153, III, CF. O IRPJ é um imposto progressivo, quanto mais se ganha, mais imposto paga. São imunes os templos de qualquer culto, os partidos políticos, as entidades sindicais e as instituições de educação e de assistência social (art. 150, VI, b e c, § 4º, CF). Segundo o art. 44 do CTN, a base de cálculo do imposto é o montante real, arbitrado ou presumido da renda ou proventos tributáveis. No Lucro Real, o imposto é apurado a partir do registro contábil de todas as operações da empresa. Primeiro vou apurar todos os créditos e despesas dedutíveis, desde que tenham previsão legal. Depois apuro o que eu tenho que pagar a título de receita, o que eu vendi, deduzindo o valor dos créditos apurados, encontrando a base de cálculo do imposto. Mais na frente analisaremos um exemplo prático. No Lucro Presumido, o imposto é calculado mediante a aplicação de certos percentuais sobre a receita bruta, a famosa presunção de lucro, já comentada ligeiramente no início deste livro, sendo dispensada a completa escrituração contábil de suas operações para efeito do cálculo dos impostos e contribuições, tal qual é realizada no Lucro Real, como também veremos no decorrer deste item. As alíquotas são iguais tanto no Lucro Presumido, quanto no Lucro Real, ou seja, 15% sobre o lucro e mais um adicional de 10% sobre a parcela do lucro que exceder a R$ 20.000,00 (vinte mil reais) mensal, R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) trimestral ou R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), anual. A título de exemplo, digamos que a minha empresa obteve receita no mês de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), vou pagar 15% sobre R$ 30.000,00 e 10% sobre R$ 10.000,00, ou seja, sobre a parcela que excedeu a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), mensais. Isso porque a empresa pode optar em recolher o IRPJ trimestralmente ou anualmente. Mesmo optando pelo regime anual, a empresa terá que calcular o IRPJ e antecipar algum pagamento ao governo todo mês e no final do ano irá apurar o total de imposto devido e descontar o que já foi pago, recolhendo apenas a diferença se houver, que geralmente acontece. Já se tiver optado pelo pagamento do imposto de forma trimestral, vão ser calculados janeiro, fevereiro e março e a empresa vai recolher o IRPJ em abril, podendo ainda o imposto ser parcelado em até três parcelas: um pagamento para abril, outro para maio e outro para junho, com a atualização das parcelas pela taxa selic. Como se disse, as alíquotas serão as mesmas, tanto no Lucro Real quanto no Lucro Presumido, a forma de se calcular o imposto que será diferente. Vamos analisar como se realiza o cálculo do IRPJ no Lucro Real. Resumidamente, pego o total das receitas, ou seja, das vendas realizadas pela minha empresa no mês, menos o total das despesas e custos dedutíveis (com comprovação hábil e legal) e encontro o Lucro Real. EX: Lucro Real Calculo IR Receita vendas prod. R$150.000,00 Lucro Real R$ 79.000,00 Receita prestação serviços R$ 27.000,00 IRPJ (15%) R$ 11.850,00 Total receitas R$177.000,00 Adicional (10%) R$ 5.900,00 Total despesas R$ 100.000,00 R$ 17.750,00 Lucro contábil R$77.000,00 Total IRPJ à recolher R$ 17.750,00 Adição de despesas não redutíveis R$ 2.000,00 Lucro Real R$79.000,00 Explicando o exemplo acima, digamos que uma empresa em um determinado mês, obteve uma receita de vendas de mercadorias de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) e de serviços de R$ 27.000,00 (vinte e sete mil reais), totalizando as receitas (comércio + serviços),a quantia de R$ 177.000,00 (cento e setenta e sete mil reais). Como a empresa se encontra no Lucro Real, ela irá calcular o total das despesas menos o total das receitas. As despesas representarão todos os pagamentos feitos pela empresa naquele mês, tais como, compras de materiais para fabricação do produto, que será vendido, e de materiais para o escritório, compra de água mineral, etc. Enfim, todo cheque pago pela empresa naquele mês será computado como despesa. No exemplo acima, o total das despesas foi de R$ 100.000,00 (cem mil reais), que será abatido do total das receitas, no intuito de ser encontrado o lucro contábil (Lucro Real), para servir de base para o cálculo do imposto de renda, que no caso apresentado foi de R$ 77.000,00 (setenta e sete mil reais). Porém, antes, o contador vai passar um pente fino nas despesas apuradas para verificar o que a lei permite que seja abatido para pagar menos imposto no mês. Digamos que naquele mês a empresa gastou R$ 2.000,00 (dois mil reais), com a compra de tinta para pintá-la. A receita não permite que eu abata esse valor, para poder reduzir a base de cálculo do meu IRPJ, para pagar menos imposto no final. É como se a receita dissesse: não tenho culpa que você pinta sua empresa todo mês. Esse valor não poderá ser considerado como despesa para você pagar menos imposto. Então esse valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), retornará para a base de cálculo do imposto de renda, aumentado assim o valor. Desta forma, encontrando abase de cálculo do imposto de renda, que no exemplo acima foi de R$ 79.000,00 (setenta e nove mil reais), correspondente a somatória de R$ 77.000,00 (setenta e sete mil reais), mais R$ 2.000,00 (dois mil reais), vou calcular 15% sobre esse valor (R$ 79.000,00), mais um adicional de 10% sobre a parcela que excedeu a R$ 20.000,00 (vinte mil reais)ao mês, que no exemplo acima foi de R$ 59.000,00 (cinquenta e nove mil reais), encontrando o valor de R$ 5.900,00 (cinco mil reais). Assim, somados o percentual de 15% sobre o total (R$ 11.850,00), mais o percentual de 10% sobre o excedente (R$ 5.900,00), vamos encontrar a quantia de R$ 17.750,00 (dezessete mil, setecentos e cinqüenta reais), a título de adicional de IRPJ. No Lucro Real, você só paga IR se obtiver lucro. Já no Lucro Presumido pagará, independente de lucro ou não. No Lucro Presumido, a apuração será diferente, pois não existirá a apuração de receita menos despesa, sendo os cálculos bem mais simples. Sobre o total das minhas receitas, aplico um percentual de presunção do lucro. Na receita de vendas de produtos o percentual de presunção de lucro será de 8% e receita de prestação de serviços o percentual será de 32%. Lembrando que esses percentuais podem variar de acordo com a atividade principal da empresa, mas geralmente são ou de 8%, 12% ou 32%. EX: Lucro Presumido Receita vendas produtos R$ 150.000,00 Lucro Presumido R$ 20.640,00 Receita prestação de serviços R$ 27.000,00 IRPJ (15%) R$ 3.096,00 Total receitas R$177.000,00 Adicional (10%) R$ 64,00 Lucro Presumido na venda (8%) R$12.000,00 Total IRPJ à recolher R$ 3.160,00 Lucro Presumido prestação (32% ) R$ 8.640,00 Lucro Presumido R$20.640,00 Analisando o mesmo exemplo acima, verificamos que sobre as notas fiscais de vendas de mercadorias, ou seja, sobre o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), foi aplicada uma presunção de lucro de 8%, encontrando-se o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais). Já sobre as notas fiscais de serviços emitidas pela empresa naquele mês (R$ 27.000,00), foi aplicada uma presunção de lucro de 32%, encontrando-se o valor de R$ 8.640,00 (oito mil seiscentos e quarenta reais). Somadas as duas presunções de lucro, a de vendas de mercadorias (R$ 12.000,00) com a de serviços (R$ 8.640,00), encontraremos o valor total de R$ 20.640,00, que será a base de cálculo para a apuração do imposto de renda da empresa no Lucro Presumido. Como as alíquotas são iguais, tanto no Lucro Real quanto no Presumido, sobre o total desse valor aplico uma alíquota de 15%, encontrando o valor de R$ 3.096,00 (três mil e noventa e seis reais), bem como, um adicional de 10% sobre a parcela que excedeu a R$ 20.000,00 (vinte mil reais) mensal, que no exemplo acima, foi de R$ 640,00 (seiscentos e quarenta reais), encontrando a quantia de R$ 64,00 (sessenta e quatro reais), a título de adicional. Somados R$ 3.096,00 (três mil e noventa e seis reais), mais R$ 64,00 (sessenta e quatro reais), encontraremos o valor que vai ser recolhido ao governo, no caso, a quantia de R$ 3.160,00 (três mil, cento e sessenta reais). Portanto, no exemplo acima, analisando os mesmos percentuais de venda dessa empresa tanto no Lucro Real quanto no Lucro Presumido, percebemos que a empresa teria pago menos imposto se estivesse optado pelo Lucro Presumido. No começo do nosso trabalho, comentamos que existe uma forma legal para os contadores calcularem o imposto de renda no Lucro Presumido, sem que antes, precise aplicar uma presunção de lucro para encontrar a base de cálculo do imposto. Essa forma legal seria uma maneira bem mais simples, onde seria aplicada a alíquota de 1,2% diretamente sobre o total das notas fiscais de vendas (comércio) e a alíquota de 4,8% sobre o total das notas fiscais de serviços emitidas. No mesmo exemplo acima, se multiplicarmos o valor de 1,2% sobre o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), valor esse correspondente as notas fiscais de vendas de mercadorias, encontraremos a quantia de R$ 1.800,00 (hum mil e oitocentos reais), bem como, se multiplicarmos 4.8% por R$ 27.000,00 (vinte e sete mil reais), que corresponde ao total das notas fiscais de serviços, encontraremos a quantia de R$ 1.296,00 (hum mil, duzentos e noventa e seis reais). Somados os dois valores (R$ 1.800,00 + R$ 1.296,00), vamos encontrar a quantia de R$ 3.096,00 (três mil e noventa e seis reais), justamente o valor encontrado acima, sem o adicional de 10%. Por isso, essa fórmula legal mais fácil, pode gerar algum erro, sendo mais aconselhado que os cálculos sejam feitos com base no primeiro exemplo, ou seja, primeiro aplicando uma presunção de lucro de 8%, 12% ou 32% sobre a receita bruta obtida, encontrando a base de cálculodo imposto, para só então, aplicar a alíquota de 15% sobre o total das receitas e o adicional de 10% sobre o valor que excedeu a R$ 20.000,00 mensal, repita-se. Muitas vezes, encontramos o empresário falando que está pagando 1,2% ou 4.8% de imposto de renda ao governo, ou até as duas alíquotas juntas, no caso de uma empresa mista que presta serviços e vende mercadorias, como no exemplo acima. Então você já vai saber que o empresário está no regime do Lucro Presumido, pois essas alíquotas só se aplicam para quem está no mencionado regime e que ele está calculando o imposto de renda dessa maneira mais fácil, certamente, orientado pelo seu contador, o que não está errado, já que é permitido por lei . É interessante para nós, tributaristas, sabermos as duas formas de se calcular o imposto de renda no Lucro Presumido, apesar dessa obrigação ser do contador. Seria interessante também mencionar que hoje, com o sistema público de escrituração digital (SPED), toda a papelada que a empresa possuía (livro de entrada e saída, diário e razão, onde está inserido toda a operação financeira que sua empresa realizou), é substituída pelo arquivo eletrônico ou magnético (vai conter as mesmas informações dos livros), que será assinado eletronicamente (certificado digital), pelo empresário ou contador, principalmente com o advento da NFE (nota fiscal eletrônica). O SPED contém várias ramificações (uma para NFE, outras para livros fiscais, outra para apuração do ICMS, PIS, COFINS, outra para o e- social, etc). O e-social é um arquivo eletrônico detalhando o pagamento de toda folha de salários, pró-labore, dos autônomos e detalhando os cálculos dos recolhimentos previdenciários que incidem sobre essa folha de pagamento. Ficou mais fácil para o fiscal detectar irregularidades. Hoje o fiscal não precisa mais solicitar essas informações, pois já irá possuí-las no seu sistema. Algumas empresas prEstadoras de serviços quando emitem NF’S sofrem retenção do IR na fonte, então tenho direito de reduzir do IR apurado, o IR que eu já paguei por antecipação, quando houve a retenção do imposto pelo tomador do serviço. O parágrafo único do art. 45 do CTN admite, expressamente, a tributação na fonte pagadora, ou seja, permite que a lei atribua à pessoa que paga a renda ou proventos, a condição de responsável (por substituição), pela obrigação tributária. Hoje, qualquer serviço em que haja a previsão legal de retenção, deverá ocorrer a mesma, sob pena do tomador de serviço ser responsabilizado por descumprimento de obrigação acessória. Há pouco tempo atrás só aos serviços superiores a R$ 5.000,00, era obrigatório ocorrer a retenção na fonte. Atualmente, não existe mais esse limite de valor. Em qualquer serviço, desde que haja a previsãolegal, haverá a retenção do IR na fonte. Para os optantes do Simples Nacional também não ocorrerá a retenção na fonte. Impostos e percentuais retidos na fonte: CSLL – retida em 1% PIS/PASEP – retida em 0,65% COFINS – retida em 3% IRRF – (de 1% à 1,5%) Exemplo de cálculo do imposto retido na fonte pelo tomador de serviços: Valor bruto dos serviços prEstados R$ 5.100,00 Retenção IRPJ (1,5%) R$ 76,50 (-) PIS/COFINS/CSLL (4,65%) R$ 237,15 (-) Valor líquido a receber R$ 4.786,35 A retenção é apenas uma antecipação e não um imposto novo. Portanto, o prEstador de serviços,antes de efetuar o pagamento das contribuições/impostos, reduzirá o que já foi retido na fonte. Sempre gosto de comentar com meus alunos sobre algumas súmulas a respeito da matéria e com relação ao imposto de renda, acho muito interessante citar a redação da Súmula 498 do STJ que diz: “Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais”. Isso porque, já vi juízes determinarem que houvesse a retenção do imposto de renda no momento em que foi expedido alvará para a parte receber o valor da indenização por dano moral. Como advogados e tributaristas não podemos aceitar isso, sendo nosso dever esclarecer ao judiciário o equívoco, até mesmo através de embargos de declaração, se for o caso. Essas são as considerações mais importantes sobre o IRPJ. Analisaremos agora a CSLL (contribuição social sobre o lucro líquido). 1.4 - CSLL (CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO). ART. 195, I, ALÍNEA “C” DA CF Destinada ao financiamento da seguridade social, como o PIS e a COFINS. A base de cálculo será o lucro líquido e a alíquota será de 9%, tanto para as empresas optantes pelo Lucro Real quanto as optantes do Lucro Presumido. No Lucro Presumido vamos aplicar uma alíquota de presunção de lucro de 12% para venda de produtos e 32% sobre as notas fiscais de prestação de serviços, podendo, como se disse anteriormente, essas alíquotas variarem de acordo com as atividades das empresas, sendo essas as mais comuns. Vejamos o seguinte exemplo: - Receita venda produtos R$ 150.000,00 Lucro Presumido R$ 50.000,00 - Receita prestação serviços R$ 100.000,00 CSLL devida (9%) R$ 4.500,00 - Total receitas R$250.000,00 Base CSLL venda (12%) R$ 18.000,00 Base CSLL serviços (32%) R$ 32.000,00 Lucro Presumido no período R$ 50.000,00 No exemplo acima, multiplicamos a alíquota de presunção de lucro de 12% sobre o total das notas fiscais de vendas de mercadorias, que no caso foi o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), encontrando o valor de R$18.000,00 (dezoito mil reais). Da mesma forma, aplicando a presunção de lucro de 32% sobre as notas fiscais de serviços (R$ 100.000,00 – cem mil reais), encontramos o valor de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais). Se somarmos os dois valores (R$ 18.000,00 + R$ 32.000,00), vamos encontrar a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), sendo essa a base de cálculo da contribuição social. Aplicando a alíquota de 9% sobre a base de cálculo encontrada, encontraremos o valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais), valor esse que será pago a título de CSLL. Igual ao imposto de renda, a contribuição social sobre o lucro líquido também terá uma maneira legal de ser calculada de uma maneira mais simples, aplicando alíquotas diretamente sobre as notas fiscais de serviços e de venda de mercadorias. No começo do livro informamos que as alíquotas da CSLL podem ser de 1,08% sobre vendas e 2,88% sobre serviços e utilizando o mesmo exemplo acima, vejamos agora como ficam os cálculos. Receita de vendas R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) x 1,08% sobre faturamento de vendas é igual a quantia de R$ 1.620,00 (hum mil, seiscentos e vinte reais). Receita de prestação de serviços R$ 100.000,00 (cem mil reais) x 2,88% sobre faturamento de serviços, encontraremos o valor de R$2.880,00 (dois mil, oitocentos e oitenta reais). Somados R$ 1.620,00 (notas fiscais de vendas), com R$ 2.880,00 (notas fiscais de serviços), encontraremos, justamente, o valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais). Portanto, calculando das duas formas, vamos encontrar o mesmo valor que será recolhido ao fisco, ou seja, a quantia de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais). Por isso, escutamos os empresários se referirem que estão pagando 1.08% ou 2,88% de contribuição social sobre o lucro líquido, a depender se eles são comércio ou prestam serviços. Assim, você vai perceber que eles são optantes do Lucro Presumido e estão calculando a contribuição pela maneira mais simples. No Lucro Real, os cálculos serão diferentes, sempre se verificando o total das despesas do mês, ou seja, tudo que a empresa pagou, para ser abatido do total das receitas, ou seja, o faturamento, recolhendo a diferença ao governo. Vamos analisar o mesmo exemplo: Receita vendas produtos R$ 150.000,00 Cálculo CSLL Receita vendas serviços R$ 100.000,00 Lucro Real R$ 133.000,00 Total receitas R$250.000,00 CSLL devida (9%) R$11.970,00 Total despesas/custos R$127.000,00 Lucro contábil R$123.000,00 Adição despesas não dedutíveis R$10.000,00 Lucro Real (tributário) R$133.000,00 Verifica-se que os cálculos acima são muito parecidos com os cálculos do imposto de renda no Lucro Real,como já comentado no item anterior. Primeiro somamos o total das notas fiscais emitidas pela empresa naquele mês (vendas e serviços), que será o total de receitas (faturamento), que no caso acima, será de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais). Depois, vamos verificar tudo que a empresa pagou naquele mês (despesas), que será o somatório das contas pagas, no mês, como folha de pagamento, despesas operacionais, cheques emitidos, duplicatas, etc, ou seja, qualquer despesa paga pela empresa no mês, como já comentado, (até compra de água mineral entra como despesa) caso tenha sido paga pela própria empresa e tenha como se comprovar, a título de contabilidade. Feito isso, o passo seguinte é verificar nas despesas contabilizadas, sobre quais, será permitido o abatimento, para ser pago menos imposto no final do mês, já que no Lucro Real, será o total das receitas menos o total das despesas. Digamos que naquele determinado mês, a empresa pagou R$ 10.000,00 (dez mil reais), com a compra de material do escritório ou com o pagamento de multas dos seus carros. A Receita não permite que essas despesas sejam abatidas para ser pago menos imposto no final. Assim, essas despesas serão novamente incluídas na base de cálculo da CSLL, que somadas ao lucro contábil já apurado (R$ 123.000,00 – cento e vinte e três mil reais), totalizará a quantia de R$ 133.000,00 (cento e trinta e três mil reais), sendo essa a base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido. Encontrando a base de cálculo é só aplicar a alíquota de 9% sobre esse valor, encontrando o valor de R$ 11.970,00 (onze mil, novecentos e setenta reais) que será pago a título de CSLL. Esses são os cálculos da contribuição social sobre o lucro líquido elaborados tanto para as empresas optantes do Lucro Presumido quanto para as optantes do Lucro Real. Agora vamos nos debruçar na análise do ICMS, imposto esse cheio de detalhes e regras. 1.5 - ICMS É regulado pela lei complementar nº. 87/1996 (lei Kandir), que recebeu o nome do deputado federal relator do projeto e pelo art. 155, II da CF. Funciona no sistema da seletividade, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços, o que significa dizer que os produtos terão alíquotas diferentes de ICMS de acordo com a sua essencialidade. Na prática não funciona bem assim, pois encontramos produtos, como a energia elétrica,tão essencial na vida de qualquer pessoa, com alíquotas maiores do que a dos próprios produtos que só funcionam graças à energia consumida. Também será não cumulativo por previsão constitucional, independentemente do regime de apuração escolhido pela empresa, o que significa dizer, como já explicado, que vamos apurar o débito (notas fiscais de vendas do mês), menos o total do crédito (total das notas fiscais de compras do mês), recolhendo a diferença ao governo, se o débito for maior do que o crédito. Ou seja, quando o comerciante adquire uma mercadoria, ele adquire um crédito fiscal, relativo àquele imposto discriminado na nota fiscal de compra, que poderá ser abatido no momento da venda daquele produto, com a emissão da nota fiscal de venda, recolhendo a diferença ao governo, se for o caso. Haverá, portanto, uma compensação dos débitos (NF de vendas), com os créditos (NF de compras). Como dito, esse sistema de crédito e débito funcionará tanto no Lucro Real, quanto no presumido, pois o ICMS sempre será não cumulativo, por essa ser uma previsão constitucional. Portanto, o contador quando for apurar o ICMS que será recolhido ao governo do Estado no mês, verificará primeiro o crédito de ICMS referente às notas fiscais de compra da empresa e depois abaterá do débito gerado nas notas fiscais de venda, como no exemplo abaixo: EX1: Operação Valor (1 impressora) ICMS (17%) Compra R$ 100,00 R$ 17,00 (crédito) Venda R$ 170,00 -R$ 28,90(débito) R$ 11,90 (imposto recolher) Ex2: Operação Valor (2 impressoras) ICMS Compra R$ 200,00 R$ 34,00 (crédito) Venda R$ 170,00 -R$ 28,90(débito) R$ 5,10 (sou credor não vou pagar) No exemplo acima, digamos que uma determinada empresa adquire uma impressora por R$ 100,00 (cem reais), no mês e vai vendê-la por R$ 170,00 (cento e setenta reais). No exemplo nº 1, a empresa comprou a impressora por R$ 100,00 (cem reais), gerando um crédito de ICMS sobre a nota fiscal de compra de 17% sobre esse valor (R$ 100,00 x 17% = R$ 17,00), que será escriturado no livro fiscal relativo ao crédito de ICMS naquele mês . Quando for vender a mesma impressora por R$ 170,00 (cento e setenta reais) e for emitir a nota fiscal de venda, o comerciante terá que pagar ao governo do Estado, o valor de R$ 28,90 (vinte e oito reais e noventa centavos), que corresponderá a 17% sobre o valor da minha nota fiscal de venda (R$ 170,00 x 17% = R$ 28,90). No primeiro exemplo, o meu débito foi maior do que o meu crédito, então terei que recolher ao Estado a diferença de R$ 11,90 (onze reais e noventa centavos). Vejamos agora o exemplo 2. Analisando o mesmo caso. Agora, a empresa comprou duas impressoras no mês por R$ 100,00 (cem reais) cada, ao invés de uma, gerando um crédito fiscal de R$ 34,00 (trinta e quatro reais), sobre o preço da minha nota fiscal de compra (R$ 200,00x 17% = R$ 34,00). Só que naquele determinado mês, a empresa não conseguiu vender as duas impressoras, vendeu apenas uma, pelo preço de R$ 170,00 (cento e setenta reais), gerando um débito sobre essa valor de R$ 28,90 (vinte e oito reais e noventa centavos), valor esse corresponde à multiplicação da alíquota de 17% do ICMS, pelo valor da nota fiscal de venda (R$ 170,00). Como naquele mês o meu crédito foi maior do que o meu débito, não vou recolher o imposto ao governo e aquele crédito de R$ 5,10 (cinco reais e dez centavos), vou poder transferir para o mês seguinte, quando poderei utilizá-lo. Importante frisar que o empresário não perderá esse crédito, mesmo que não seja utilizado no mês seguinte. Este crédito poderá ser transferido para o próximo mês e assim, sucessivamente, até ser utilizado. Ou seja, só haverá o pagamento do ICMS se o débito (valor da nota fiscal de venda), for maior do que o meu crédito (nota fiscal de compra). Além de incidir sobre a venda e circulação das mercadorias, a Constituição Federal determina que também ocorrerá a incidência do ICMS nos serviços de transporte interestadual e intermunicipal (tem que ultrapassar as fronteiras do Estado e do Município) e Telecomunicações. Assim, por exemplo, se um comerciante contrata uma transportadora para entregar a sua mercadoria a um contribuinte sediado em outro Estado, ele poderá se creditar do imposto incidente sobre aquele serviço de transporte interestadual e depois, compensá-lo com os débitos que tiver que pagar a título de ICMS no mês. Já que falamos de transportadora, é interessante comentar que a lei atribui ao transportador a responsabilidade solidária com o contribuinte em relação à mercadoria negociada durante o transporte, à mercadoria aceita para despacho ou transporte sem documento hábil, bem como, àquela mercadoria entregue a destinatário diverso do indicado no documento fiscal. Acho isso uma das maiores injustiças, pois o transportador está apenas transportando a mercadoria pela qual foi contratado, não sendo o proprietário da mesma, não sendo justo que ele arque por um débito que não lhe pertence. Tive um caso, no escritório, em que uma transportadora teve que parcelar um débito que não lhe pertencia, relativo a uma mercadoria que estava transportando, pelo fato de problemas relacionados com a nota fiscal emitida pela empresa que a contratou. Também fará diferença se o comerciante faz as compras para a sua loja no dia 30 de cada mês ou o dia 01 do mês seguinte. Se fez as compras no dia 30 de abril, poderá se aproveitar do crédito no próprio mês de abril caso a mercadoria seja recebida pelo estabelecimento naquele mês, acompanhada da sua nota fiscal, já que só haverá o aproveitamento do crédito com a nota fiscal de compra. Agora, se as compras foram feitas no dia 01 maio, só poderei aproveitar os créditos no mês de maio, quando do recebimento da mercadoria junto com a nota fiscal de compra. É igual ao cartão de crédito, sempre haverá o melhor dia. Isso é importante porque já ouvi muitos empresários falarem que terão de pagar muito ICMS naquele mês, pelo fato de terem vendido muito. Se possuem dinheiro em caixa, será melhor adiantarem as compras das mercadorias que precisam para o seu estabelecimento, pois as compras vão gerar um crédito fiscal sobre o valor das notas fiscais de compras, que, como já vimos, será abatido do preço das vendas, já que o ICMS é um imposto não cumulativo, o que será interessante para não se pagar tanto imposto naquele mês, já que as vendas foram boas. O STJ editou o enunciado da Súmula 166 do STJ com a seguinte redação: “Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte”. Agora, o art. 13, I da LC 87/96 (lei Kandir), estabelece que na transferência de mercadoria pertencente a mesma pessoa jurídica, situada em Estados diferentes, ocorrerá a incidência do imposto, como forma de atribuir a cada um dos Estados, o montante do imposto gerado pela circulação ocorrida em seu território. Ou seja, se a transferência ou deslocamento da mercadoria ocorreu entre filiais da mesma empresa situadas no mesmo Estado, não ocorrerá o cobrança do ICMS, de acordo com a súmula 166 do STJ. Porém, se o deslocamento ocorreu entre filiais situadas em Estados diferentes, o Estado de destino ficará com um percentual do ICMS, quando a mercadoria ultrapassar as fronteiras do mesmo. Feito esse comentário, será interessante agora falarmos sobre o que é o diferencial de alíquota, que será utilizado quando ocorrer a venda de mercadorias entre Estados destinadas a consumidor final. Quando uma empresa compra material para consumo próprio ou para o ativo imobilizado, oriundo deoutros Estados, está sujeita ao diferencial de alíquota. As alíquotas internas do ICMS de cada Estado, que geralmente são de 17%, 18%, 19% ou 20%, são diferentes das alíquotas utilizadas nas vendas ocorrida entre os Estados, que geralmente são de 12% ou de 7%. Existem, inclusive, tabelas fornecidas gratuitamente na internet mostrando qual será a alíquota utilizada por cada Estado, quando a mercadoria sair do de origem e for para o Estado de destino. E esses percentuais aplicados nas vendas ocorridas entre os Estados são menores do que as alíquotas internas de cada um, com a finalidade de que fique algum valor, a título de ICMS, para o Estado de destino, o que será melhor compreendido no exemplo prático abaixo. Pois bem, ocorrerá o diferencial de alíquota quando a venda for realizada entre Estados para consumidor final, ou seja, para a pessoa física ou jurídica que não irá revender a mercadoria. A título de exemplo, imaginemos uma empresa que compra tecido do Maranhão para Pernambuco e não vai revender a mercadoria. Como informado, a alíquota para operações interestaduais será ou de 12% ou de 7%, sendo de 12% utilizada para a venda do MA para PE. A alíquota no Estado de Pernambuco, hoje, é de 18%. Então, terei que recolher a diferença de 6% (18% - 12% = 6%), para Pernambuco, quando a mercadoria entrar no nosso Estado. Maranhão ficará com os 12%. Esse percentual (6%) deverá ser pago a Pernambuco, mesmo o comprador estando no Simples Nacional quando for adquirida mercadoria para consumo próprio. Agora, se tenho uma confecção e vou utilizar esses tecidos para fabricação de camisas, ou seja, não sou consumidor final, como eu já vou recolher o ICMS total no momento da venda da mercadoria, quando emitir minha nota fiscal de venda, não estarei sujeito ao diferencial de alíquota. Nesse caso, quando emitir a nota fiscal de venda, vou recolher os 18% ao Estado de Pernambuco menos o destacado na nota fiscal de compra, que no exemplo acima foi de 12%, já que o ICMS é um imposto não cumulativo e a venda veio do Estado do Maranhão (venda entre Estados) e, como já adiantado, a alíquota das vendas entre os Estados ou será de 12% ou de 7%, na maioria dos casos. Houve algumas mudanças com relação ao diferencial de alíquota pela emenda constitucional 87/15, que alterou os incisos VII e VIII do inciso II do art. 155 da CF. Antes da mudança, se a venda era realizada para consumidor final, para uma pessoa física, por exemplo, que não fosse inscrita como contribuinte de ICMS, o Estado de origem emitiria a nota fiscal de venda, destacaria o ICMS total (alíquota interna do Estado), ou seja os 18%, e ficaria com o total do ICMS, sendo que o Estado de destino não ficaria com nada. Isso acontecia muito quando as vendas eram realizadas pela internet para pessoa física (compra de um vídeo-game para o filho), que não era cadastrada no governo do Estado como recolhedora do imposto, ou seja, o Estado de origem ficaria com o total do ICMS. Só ocorreria o diferencial de alíquota, antes da mudança da emenda constitucional nº. 87/15, quando a venda fosse realizada entre Estados para consumidor final inscrito no Estado de destino como recolhedor do ICMS. Melhor explicando, antes da mudança, o Estado de destino só ficaria com o diferencial de alíquota quando a empresa que adquiriu a mercadoria fosse consumidora final do produto e já era inscrita no Estado de destino como pagadora do ICMS. Agora, com a mudança da emenda constitucional, não mais importa se a pessoa física ou jurídica é inscrita ou não no Estado de destino como recolhedora do ICMS, pois, se ela adquirir mercadoria para consumo próprio, o seu Estado de destino, sempre ficará com um percentual daquela venda, a título de diferencial de alíquota. Porém, esse percentual do diferencial de alíquota, que no exemplo acima foi de 6%, ainda será repartido entre o Estado de origem e o de destino até o ano de 2019, em diferentes percentuais a cada ano, como previsto na ADCT 99 da CF, quando o comprador for consumidor final não inscrito como recolhedor do ICMS. Resumindo, para melhor compreensão, hoje, com as mudanças que houve através da emenda constitucional 87/15, sempre que ocorrer venda entre Estados para consumidor final ocorrerá o diferencial de alíquota para o Estado de Destino, não importa se o comprador for inscrito como contribuinte, ou não, do ICMS no seu Estado. Porém, se a empresa do Estado de destino não for inscrita no Estado como recolhedora do imposto, o diferencial de alíquota, até o ano de 2019, será repartido entre o Estado de origem e de destino. É interessante também comentarmos que o art. 13, IV, da LC 87/96 (lei Kandir), prevê que os serviços que não estejam arrolados na lista de serviços passíveis de imposição municipal (LC 116/03), e que sejam prEstados com o fornecimento de mercadorias, integram o valor da operação como base de cálculo do ICMS. Já para aqueles serviços que constam na referida lei complementar 116/03 (regula o que é serviço), embora prEstados com fornecimento de mercadorias, não poderão compor a base de cálculo do ICMS. Nessa hipótese, o imposto estadual incidirá apenas sobre o preço das mercadorias, enquanto os serviços serão objeto de recolhimento de ISS. Apenas adiantando um pouco o assunto, já que trataremos do ISS mais à frente, hoje, o STJ entende a unanimidade, que só é serviço o que estiver inserido na lista de serviços da lei complementar 116/03, que possui uma lista bem extensa englobando diversas atividades, praticamente não deixando nada de fora. Abordaremos agora a substituição tributária, tentando explicar o assunto de uma maneira bem simples, sem querer esgotá-lo, já que a substituição tributária é considerada o que existe de mais complicado, a título de cálculo e legislação, no campo do Direito Tributário. Imaginemos que o fabricante vende um produto para o distribuidor e terá que recolher o ICMS dessa sua venda. Na substituição tributária, além do seu ICMS próprio, o fabricante também terá que calcular e já recolher o ICMS do distribuidor, mesmo que este ainda não tenha vendido a mercadoria que comprou do fabricante, não sabendo sequer, se um dia irá vender. E o leitor poderá perguntar: como o fabricante saberá por quanto o distribuidor irá vender a mercadoria que comprou para poder calcular o ICMS por substituição? Existe um tabela chamada de MVA (margem de valor agregado) ou IVA (índice de valor agregado), que vai estabelecer certos percentuais de lucro sobre determinados produtos que estão enquadrados na substituição tributária. Sabendo o preço que o distribuidor vai vender a mercadoria, fica fácil aplicar a alíquota do ICMS do Estado e abater o valor já pago por ele (fabricante), quando a vendeu, já que o ICMS é um imposto não cumulativo, como já explicado. Assim, podemos afirmar que ocorrerá a substituição tributária quando a lei afastando o verdadeiro contribuinte (distribuidor), imputa a responsabilidade a terceiro (fabricante), que não praticou o fato gerador, mas tem com ele ligação. A lei indica uma pessoa responsável (fabricante ), pelo recolhimento de determinado valor a título de ICMS relativo a fato gerador futuro e incerto. Se opera mediante a retenção e recolhimento pelo substituto (fabricante), do imposto que incidirá em etapa posterior, tem sua matriz constitucional no § 7º do art. 150 da CF. Vejamos um exemplo com e sem substituição tributária para uma melhor compreensão. Ex: Operação normal sem substituição: Fabricante Distribuidor Consumidor Preço de venda Preço de venda R$ 1.500,00 R$ 2.100,00 ICMS próprio ICMS próprio R$ 270,00 (18%) R$378,00 (18%) (vou recolher R$ 108,00, R$ 378,00 – R$270,00 = 108,00) Ex2: Venda de mercadoria com Substituição Tributária: FabricanteDistribuidor Consumidor Preço de venda índice valor agregado R$ 1.500,00 preço de venda ICMS próprio R$ 2.100,00 R$ 270,00 (não destaca o ICMS, porque já foi recolhido, põe na NF observação de que a venda é de mercadoria com ST, destacando o decreto) R$ 108,00 No exemplo acima, o fabricante vai recolher o ICMS de R$ 270,00 (duzentos e setenta reais), relativo à venda do seu produto ao distribuidor mais os R$ 108,00 (cento e oito reais), do distribuidor. Caso o fabricante não faça o recolhimento na qualidade de substituto, a Fazenda cobra do distribuidor os R$ 108,00 (cento e oito reais), pois a responsabilidade deste é solidária. Para o fabricante chegar a este valor (R$ 108,00), verificará na tabela o índice de valor agregado do produto (no exemplo acima será de 40% sobre R$ 1.500,00 = R$ 600,00), que somados ao preço de venda da mercadoria (R$ 1.500,00), dará o valor de R$ 2.100,00 (dois mil e cem reais), preço de revenda da mercadoria, calculando o imposto devido (R$ 2.100,00 x 18% = R$ 378,00) e abatendo do valor do já pago por ele na venda do seu produto (R$ 270,00), já que o ICMS será sempre não cumulativo, encontrando, por fim, o valor a ser recolhido por substituição (R$ 378,00 – R$ 270,00 = R$ 108,00). Sempre que você comprar o produto sujeito à substituição tributária no Estado e o fornecedor ou fabricante não pagar a substituição tributária, é sua obrigação calcular e recolher a substituição tributária. “O contribuinte substituído que receber, de dentro ou de fora do Estado, mercadoria sujeita à substituição tributária, que tenha sido feita a retenção a menor ou sem que tenha sido feita a retenção total na operação anterior, fica solidariamente responsável pelo recolhimento do imposto que deveria ter sido retido. Fica também responsável pelo recolhimento do ICMS relativo à substituição tributária, o contribuinte deste Estado que adquirir mercadoria sujeita à substituição tributária de contribuinte de Unidade da Federação não signatária de protocolo ou convênio”. (www.sefaz.pe.gov.br, orientações sobre substituição tributária de janeiro de 2015). O regime de substituição tributária pode ser adotado apenas por um Estado, neste caso abrangendo os contribuintes nele situados, ou por várias Unidades da Federação, mediante a celebração de um acordo, convênio ou protocolo. Portanto, o regime de substituição tributária nas operações interestaduais será aplicado às operações que envolvam Estados signatários do mencionado acordo. Com o convênio entre os Estados, tanto na saída da mercadoria deste Estado, quanto dos demais Estados, haverá a substituição tributária (CONFAZ). Hoje, a quase totalidade dos Estados Federativos adota o regime da substituição tributária, pois fica mais fácil para o Governo concentrar todos os seus esforços em uma única operação da cadeia produtiva, no caso o fabricante, do que ter que fiscalizar cada operação em si (venda do fabricante para o distribuidor, venda do distribuidor para o varejista e venda do varejista para o consumidor final). Considero a substituição tributária, a título de ICMS, muito pesada e injusta para com o empresário, pois, a título de exemplo, se o comerciante possui uma mercadoria no seu estoque que não estava no regime da substituição tributária e a lei agora diz que estará, ele é obrigado a fazer um inventário no seu estoque e recolher o ICMS de forma antecipada por substituição, mesmo que ainda não tenha vendido o produto, não sabendo se sequer um dia venderá, já que muita coisa pode acontecer nesse período, como ser assaltado, sua loja sofrer um incêndio, ou seja, situações que acontecem todos os dias . Outro exemplo: Digamos que uma determinada empresa recolheu o ICMS, de forma antecipada, por substituição tributária, onde o ICMS ST foi calculado com base em um índice de lucro de MVA, por exemplo 30%, sendo que, o governo resolve aumentar a MVA daquele produto para 50%. Então a lei diz que o empresário terá que novamente fazer um inventário nas mercadorias que possui no seu estoque e recolher a diferença relativa ao aumento de MVA. Portanto, mesmo que a empresa ou o lojista já tenha pago o ICMS ST, quando a mercadoria saiu do fabricante, se a MVA do produto tiver aumentado, ela terá que fazer um inventário no seu estoque e recolher a diferença ao Governo. Da mesma forma, se eu sou um lojista e trago mercadoria do exterior para vender, também terei que pagar o ICMS por substituição tributária logo de início, mesmo ainda não tendo vendido a mercadoria importada. O lojista também pagará o ICMS ST quando for vender o produto para empresa localizada em outro Estado, que não seja consumidor final, ou seja, que irá revender a mercadoria face aos acordos celebrados, entre os Estados, a título de substituição tributária. O fabricante quando vende o produto para o lojista com substituição tributária, este não paga mais o ICMS, visto que o imposto já foi recolhido de forma antecipada pelo fabricante. - Como vou saber se o fabricante aplicou ou não a substituição tributária? Na nota fiscal existe um campo específico para colocar o ICMS por substituição tributária. Se o valor for destacado na NF com o símbolo ST ao lado do produto, um ou mais produtos estão sujeitos ao regime da substituição. Assim, resumindo o que foi explicado, em quais situações o lojista é obrigado a pagar a substituição? 1) quando importar mercadoria do exterior; 2) Quando for vender o produto para outra empresa que não seja consumidor final, situada em outra unidade da Federação; 3) Quando já possuir o produto no seu estoque e a lei mudar o índice de valor agregado ou alíquota do ICMS, então ele é obrigado a recolher a diferença sobre o produto que já estava no seu estoque e, por fim; 4) quando tem um produto no estoque que não estava no regime da substituição tributária e a lei agora informa que terá. Outra observação importante. Se o fabricante vender o produto direto para o consumidor final, não haverá substituição tributária, por que não existirá o índice de valor agregado, já que o consumidor final não irá revender o produto. Agora o fabricante terá que conseguir provas para se resguardar, como por exemplo, uma construtora que adquire produtos do fabricante, como cimento, para utilizar na obra. - Por fim, trago ao conhecimento dos meus leitores, algumas súmulas importantes a respeito do ICMS. Súmula nº 432 STJ: “As empresas da construção civil não estão obrigadas a pagar ICMS sobre mercadorias adquiridas como insumos em operações interestaduais”. Hoje, no Estado de Pernambuco, as empresas da construção civil só pagam ISS, portanto, aquelas que eram inscritas no Estado como recolhedoras do imposto, tiveram sua inscrição cancelada. O STF assentou o entendimento na súmula 573, que “não constitui fato gerador do imposto de circulação de mercadorias, a saída física de máquinas, utensílios e implementos a título de comodato”. Tal entendimento também é aplicado ao IPI. Só a título de explicação, o comodato ocorrerá quando existir um empréstimo gratuito de um determinado bem móvel que, no final, deverá ser restituído. Não pode ser entregue outro bem que não seja aquele objeto do contrato de comodato. Súmula 509 do STJ: “É lícito ao comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS decorrentes de nota fiscal posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a veracidade da compra e venda. A redação dessa súmula é importante porque, certa vez, uma empresa conhecida sofreu um autuaçãofiscal em virtude de estar aproveitando crédito de ICMS oriundo de nota fiscal de empresa, que posteriormente teve sua inscrição cancelada perante o governo do Estado de Pernambuco, considerando o fisco estadual o aproveitamento do crédito como indevido e remetendo o caso para a Delegacia de combate aos crimes contra a ordem tributária. Fizemos a defesa no processo baseados no enunciado dessa súmula, alegando que o comerciante de boa-fé, principalmente uma grande empresa que compra a maioria dos seus produtos diretamente de um representante comercial, não tem como verificar se a nota fiscal emitida pelo vendedor estava irregular, já que a empresa vendedora se encontrava com a sua inscrição cancelada. Cabe ao advogado provar a boa-fé do seu cliente na realização do negócio jurídico. Esses seriam os principais aspectos com relação ao ICMS, bem importantes na minha concepção. Agora trataremos de mais um imposto importante, no caso o IPI e seus principais aspectos e características, bem como, os principais artigos de sua extensa legislação. 1.6 - IPI Imposto de competência da União (art. 153, IV, CF e artigos 46 à 51 do CTN). Não cumulativo, igual ao ICMS, ou seja, posso abater do preço da venda, o crédito de IPI que adquiri no momento da compra. Somo todo o IPI destacado nas notas fiscais de compra e abato do IPI das notas fiscais de venda. Tal preceito será adotado tanto para os optantes do Lucro Real quanto do Presumido, já que a previsão da não cumulatividade do IPI é constitucional. Quem recolhe o IPI? O fabricante, no momento da venda ou o importador, quando vende a mercadoria que importou. Para que seja exigido o IPI é necessário: 1) produção; 2) prática de um ato negocial e 3) impulso à circulação, que se exterioriza pela saída da mercadoria do estabelecimento. A base de cálculo é o valor total da operação de que decorrer a saída do estabelecimento industrial ou equiparado a indústria (RIPI, art. 190, II). As alíquotas constam da tabela de incidência do IPI (TIPI), que tem por base a nomenclatura comum do mercosul (NCM). O IPI é tributo de natureza indireta, pois o contribuinte, de fato, é o consumidor final da mercadoria objeto da operação, visto que, é a empresa que repassa no preço da mercadoria o imposto devido, recolhendo, posteriormente, aos cofres públicos, o imposto pago pelo consumidor final, não assumindo a respectiva carga tributária. Há, portanto, no caso do IPI, a substituição legal no cumprimento da obrigação, do contribuinte de fato (consumidor final), pelo contribuinte de direito (fabricante), não podendo ocorrer a repetição do indébito e a compensação do tributo, sem a exigência da prova da repercussão ou que houve a autorização do real contribuinte prevista no art. 166 do CTN, o qual estabelece: “Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a recebê- la” (AGResp. nº. 396.580/PR, Rel. Min Luiz Fux; EEResp 449.118/SC). Ex: Montadora/Fabricante que fabrica e vende o carro à concessionária. Até chegar ao consumidor final do veículo, haverá mais de uma operação. Na primeira, o produto é repassado à concessionária e, na segunda, é vendido por esta ao comprador. Assim, na primeira operação haverá a incidência do IPI, porque a mercadoria sai do estabelecimento do fabricante, onde sofreu processo de industrialização. Na segunda, não incidirá mais o IPI, porque o produto apenas circula no mercado, por ser monofásico, incide apenas uma vez na saída do produto do estabelecimento, sendo este o seu único fato gerador. Desta forma, caso o fabricante queira pleitear algum crédito de IPI, relativo a algum desconto concedido à concessionária sobre a venda do veículo, caso tenha pago o imposto sobre o valor da NF cheia, sem abater o desconto, terá que pegar uma autorização da concessionária por escrito, nos termos do art. 166 do CTN ( Resp. nº. 435.575/SP, Rel. Min. Eliana Calmon). Passo a transcrever, a seguir, informações colhidas diretamente do site da Receita Federal a respeito do IPI, auto explicativas, informações essas atualizadas até o ano de 2017. “a) Fato gerador: São duas as principais hipóteses de ocorrência do fato gerador do IPI: 1. Na importação: o desembaraço aduaneiro de produtos de procedência estrangeira; 2. Na operação interna: a saída de produto de estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial. b) Contribuinte São obrigados ao pagamento do imposto como contribuinte: 1.o importador, em relação ao fato gerador decorrente do desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira; 2.o industrial, em relação ao fato gerador decorrente da saída de produto que industrializar em seu estabelecimento, bem assim quanto aos demais fatos geradores decorrentes de atos que praticar; 3.o estabelecimento equiparado a industrial, quanto ao fato gerador relativo aos produtos que dele saírem, bem assim quanto aos demais fatos geradores decorrentes de atos que praticar; 4.os que consumirem ou utilizarem em outra finalidade, ou remeterem a pessoas que não sejam empresas jornalísticas ou editoras, o papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos, quando alcançado pela imunidade prevista na Constituição Federal. Atenção: considera-se contribuinte autônomo qualquer estabelecimento importador, industrial ou comerciante, em relação a cada fato gerador que decorra de ato que praticar. c) Base de cálculo 1. Na operação interna: O valor total da operação de que decorrer a saída do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial; 2. Na importação: O valor que servir ou que serviria de base para o cálculo dos tributos aduaneiros, por ocasião do despacho de importação, acrescido do montante desses tributos e dos encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou deste exigíveis. d) Alíquota São várias e estão presentes na Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI). e) Período de apuração 1. O período de apuração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), incidente nas saídas dos produtos dos estabelecimentos industriais ou equiparados a industrial, é mensal 2. O período de apuração mensal não se aplica ao IPI incidente sobre produtos de procedência estrangeira, na importação. f) Prazo de recolhimento São os seguintes os prazos de recolhimento do IPI: I - antes da saída do produto da repartição que processar o despacho, nos casos de importação; II - até o décimo dia do mês subsequente ao de ocorrência dos fatos geradores, nos casos dos produtos classificados no Código 2402.20.00 da TIPI; (cigarros) III - até o vigésimo quinto dia do mês subsequente ao de ocorrência dos fatos geradores, no caso dos demais produtos; Se o dia do vencimento de que tratam os incisos II e III não for dia útil, considerar-se-á antecipado o prazo para o primeiro dia útil que o anteceder. g) Suspensão do IPI relativo às MPs, aos PIs e aos MEs adquiridos por empresas preponderantemente exportadoras Informações gerais Sairão do estabelecimento industrial com suspensão do IPI as matérias-primas (MPs), os produtos intermediários (PIs) e os materiais de embalagem (MEs) adquiridos por pessoas jurídicas preponderantemente exportadoras. Serão desembaraçados com suspensão do IPI as MPs, os PIs e os MEs importados diretamente por pessoas jurídicas preponderantemente exportadoras. Quem pode solicitar Pessoas jurídicas preponderantemente exportadoras. Atenção:Considera-se pessoa jurídica preponderantemente exportadora aquela cuja receita bruta decorrente de exportação para o exterior, no ano-calendário imediatamente anterior ao da aquisição, houver sido superior a 50% (cinquenta por cento) de sua receita bruta total de venda de bens e serviços no mesmo período, após excluídos os impostos e contribuições incidentes sobre a venda”. Como se disse, todas as informações acima foram transcritas diretamente do site da Receita Federal do Brasil. Após as orientações fiscais acima, vamos continuar a abordar algumas questões relativas ao IPI. Na venda de produto para entrega futura (ex: compra de elevador para entrega em dois anos), a incidência do imposto será na celebração do contrato ou na entrega do produto? Operacionalmente, o legislador ordinário prevê a emissão de duas notas fiscais, em dois momentos distintos: a primeira, denominada simples faturamento, pode (faculdade do contribuinte), ser emitida no momento da celebração do acordo, vedado o destaque do IPI (não há exigência do pagamento do imposto); a segunda, denominada remessa de mercadoria, é obrigada conter o destaque do IPI, devendo reportar-se à nota fiscal de simples faturamento, se houver. Como já adiantado, o regimento interno do IPI dispõe quem são obrigados ao pagamento do imposto como responsáveis (art. 25). Os arts. 9º, 10º e 11º, tratam dos estabelecimentos que são equiparados à indústria. Os arts. 27 e 28 do RIPI, tratam das pessoas que são solidárias pelo pagamento do tributo, entre elas, os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado, pelos créditos tributários (fisco), decorrentes do não recolhimento do imposto no prazo legal. Essa informação relativa à solidariedade pelo pagamento do imposto é importante porque quando uma empresa sofre uma execução fiscal, muitas vezes consta na CDA (certidão de dívida ativa – título executivo da fazenda pública), o nome dos diretores ou responsáveis legais pela empresa, e constando essa informação na CDA, a reponsabilidade dos donos será solidária com a empresa executada. Então, os nomes dos diretores só constarão na CDA se a própria lei que regula a cobrança daquele imposto determinar que caso não haja o pagamento pela empresa (devedor principal), os donos responderão de forma solidária. O IPI não integra a base de cálculo do ICMS, quando se trata de operações entre empresas contribuintes do ICMS e o destinatário do produto vai usá-lo na fabricação de alguma coisa para revender. Nos demais casos, nos negócios entre fabricante e pessoa física, ou entre fabricante e empresa que vai consumir o produto, o IPI faz parte da base de calculo do ICMS (calcula-se o preço do produto + IPI, para aplicar a alíquota do ICMS). Geralmente alíquota do IPI fica em torno de 10%, sendo essa, a alíquota mais comum. A tributação sobre cigarros, bebidas e automóveis é responsável pela parcela mais relevante da arrecadação do IPI, com algumas alíquotas superiores a 300%. A CF também estabelece que o IPI será seletivo, igual ao ICMS, em função da essencialidade do produto (art. 153, § 3º, I). Ex. carnes, leite e produtos farmacêuticos, conforme a tabela de incidência do IPI, possuem alíquota zero, como forma do governo tentar baratear os produtos da cesta básica. Tenho uma fábrica de relógios e também tenho uma loja no shopping que irá vender os meus relógios (comércio varejista). Como fica o pagamento do IPI, já que eu não vou vender os relógios para mim mesmo? A lei determina que eu pagarei o IPI (destaco na NF o IPI), quando fizer a transferência da minha fábrica para a minha loja, sobre 90% do preço do produto que eu for vender na minha loja. Portanto, se eu vender o relógio na minha loja por R$ 100,00 (cem reais), vou recolher o IPI sobre R$ 90,00 (noventa reais), sendo essa a base de cálculo. A lei ainda determina que este 90% por cento deve ser pelo menos igual ao preço que eu iria vender os meus relógios para outros clientes. Senão fosse assim, o fabricante arranjaria um jeito de vender o produto mais barato para ele, para pagar menos imposto e mais caro para as demais pessoas. - Vamos comentar agora sobre o crédito IPI. Só tem direito ao crédito de IPI aquelas empresas que pagam o imposto no momento da venda do seu produto, já que é um imposto não cumulativo. Você pode se creditar de IPI de tudo o que você comprar que for utilizado no processo produtivo da sua empresa. EX: Matérias primas, material de embalagem, produtos intermediários, etc. (art. 226 do RIPI). No entanto, não haverá crédito de IPI na aquisição de insumos com imunidade, isenção ou alíquota zero (RE 353.657-5), já que a empresa, que vendeu o produto, não pagou o IPI, face a venda ter sido de insumos com imunidade, isenção ou alíquota zero. Súmula CARF nº 16: “O direito ao aproveitamento dos créditos de IPI decorrentes da aquisição de matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem utilizados na fabricação de produtos, cuja saída seja com isenção ou alíquota zero, nos termos do art. 11 da Lei nº 9.779, de 1999, alcança, exclusivamente, os insumos recebidos pelo estabelecimento do contribuinte a partir de 1º de janeiro de 1999”. Essa hipótese é um pouco diferente, pois nesse caso da súmula 16 do CARF, o produto que o fabricante vai produzir é que não pagará IPI, por possuir alíquota zero, mas terá direito ao aproveitamento do crédito. A lei prevê essas hipóteses excepcionais de aproveitamento de crédito, mesmo que seja para a fabricação de produto vendido com alíquota zero ou isenção, como forma de incentivar o crescimento da indústria, gerando emprego e renda para a população, fazendo com que o crescimento de determinado setor aqueça a economia do país. Súmula CARF n° 18: A aquisição de matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem tributados à alíquota zero não gera crédito de IPI. Nesse caso da súmula 18, os produtos adquiridos pela indústria para a fabricação do produto, não tiveram a incidência do IPI, já que possuíam alíquota zero. Portanto, não haverá direito ao aproveitamento do crédito na venda daquele produto, já que a compra foi com alíquota zero e certamente, também não haverá mais a incidência do IPI nas demais operações realizadas com aquela mercadoria, já que a alíquota será zero em toda a cadeia. Súmula CARF nº 20: Não há direito aos créditos de IPI em relação às aquisições de insumos aplicados na fabricação de produtos classificados na TIPI como NT. Sempre que o produto for classificado na tabela de incidência do IPI como NT (não tributável), não pagará IPI e automaticamente não haverá direito a crédito. Para encerrar esse capítulo sobre os impostos, comentaremos a seguir sobre o ISS, imposto de competência dos Municípios. 1.7 - ISS (LC nº. 116/03 e art. 156 da CF) Tem como fato gerador a prestação de serviços e sua base de cálculo será o preço do serviço prEstado (art. 7º da LC 116/03). A alíquota será entre 2% à 5%, podendo cada Município estabelecer a sua própria. Os serviços sujeitos a incidência do ISS estão definidos na referida lei complementar, que possui uma lista extensa sobre o que é serviço, abrangendo quase todos. A jurisprudência dos nossos Tribunais Superiores já pacificou o entendimento no sentido de que o ISS não pode incidir sobre serviços não previstos na lista da LC 116/03 (Resp. 514.675- 2ª Turma). Os Municípios só poderão exigir o ISS dos serviços não compreendidos na competência dos Estados, ou seja, não poderá haver cobrança do imposto sobre prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipale de comunicação (art. 155, II, CF). É devido para a cidade onde esses serviços são prEstados, seguindo a lei específica de cada cidade. Será a Lei Federal que regula a matéria (LC 116/03), quem definirá as áreas de abrangência e como cada Município pode legislar. O prazo para recolhimento será o dia 10 do mês seguinte à prestação do serviço. Em vários julgados, o STJ decidiu que o ISS será sempre devido no local onde o serviço foi efetivamente prEstado. Esse entendimento hoje se encontra pacificado no âmbito dos nossos Tribunais Pátrios. É importante comentar que a LC 116/03 define como 1º critério para, o pagamento do imposto municipal, o local onde o prEstador de serviços se encontra estabelecido e como 2º critério, o local onde o serviço foi efetivamente prEstado (art. 3º). Com isso, várias empresas passaram a instalar-se apenas no papel em outros Municípios que lhes concediam vantagens na tributação, com alíquotas menores, mantendo nessas localidades apenas uma sede fechada, uma caixa postal, ou um endereço formal, mas não possuindo, no local, qualquer estabelecimento prEstador de serviços, concorrendo com empresas que realmente mantinham estabelecimentos nos respectivos Municípios. Nem sempre a pessoa prestou os serviços no local onde tem a empresa. Então, finalmente, onde devo recolher o ISS? Não há uma definição clara, há casos em que o prEstador de serviços recolhe o ISS duas vezes, principalmente, quando há retenção na fonte. Ocorrerá a retenção na fonte, quando o tomador de serviços for o responsável pelo pagamento do imposto devido pelo prEstador de serviços (art. 6º, §§ 1º e 2º da LC nº. 116/2003). Porém, deve-se observar os tipos de serviços constantes da LC 116/03, cujo recolhimento deve ser feito no local da prestação de serviço. É bastante comum existir um conflito de competências entre os Municípios. Por isso, é interessante consultar a prefeitura onde o serviço será prEstado, para se informar sobre a regra de retenção do Imposto, pois se houver retenção, poderá ocorrer o pagamento nas duas prefeituras, o que é indevido, devendo o prEstador de serviço postular, administrativamente, que o imposto só seja pago no local onde o serviço foi efetivamente prEstado, já que hoje, é a regra fixada pelo STJ. A LC 116/03 (art. 3º, incisos I a XXII), após os constantes julgamentos dos nossos Tribunais, alargou o rol de serviços em que a incidência do ISS ocorrerá no local onde o serviço foi executado, sendo, atualmente, vinte e duas as hipóteses previstas em lei. Por isso, será sempre interessante que exista um contrato definindo o local da prestação do serviço (pode servir como um instrumento jurídico de prova). Hoje, como se disse, o STJ já pacificou a questão, entendendo que o ISS deve ser recolhido no local onde o serviço foi efetivamente prEstado. Na prefeitura do Recife, minha cidade, quando vamos preencher a nota fiscal de prestação de serviços, existe um campo onde se pergunta o local onde o serviço foi prEstado. Se não foi em Recife, não haverá a cobrança. Em alguns casos, em sociedades uniprofissionais (advogados, contadores), a lei prevê a possibilidade de ser estipulado um valor fixo por mês, por cada profissional habilitado, empregado ou não, que preste serviços em nome da sociedade, substituindo o percentual a que a empresa estaria sujeita, podendo ser um bom negócio. Vamos agora fazer algumas observações importantes referentes ao imposto ora estudado. A locação de bens móveis não é considerada prestação de serviços, como por exemplo, o aluguel de carro, equipamento industrial, etc. A locação não é fazer algo para alguém e sim dar alguma coisa por um determinado tempo. Agora, se eu alugo o trator e o operador, para este, será emitida uma NF a parte e será recolhido o ISS. Súmula vinculante do STF nº. 31: É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza – ISS sobre operações de locações de bens móveis. ISS na construção civil: A lei diz que as empresas da construção civil recolherão o ISS sobre o serviço prEstado, excluindo os materiais que forem empregados na construção (RE 603497 MG, Min Ellen Graciee AgRg no AResp 634.871/RJ Rel. Min. Humberto Martins, 2ª Turma, julgado em 05/03/2015). Súmula 167 do STJ: O fornecimento de concreto, por empreitada, para a construção civil, preparado no trajeto até a obra em betoneiras acopladas a caminhões, e prestações de serviços, sujeitando-se apenas à incidência do ISS. Súmula 156 do STJ: A prestação de serviço de composição gráfica, personalizada e sob encomenda, ainda que envolva o fornecimento de mercadorias, está sujeita, apenas, ao ISS. Essa súmula é interessante porque tivemos um caso, no escritório, em que a empresa gráfica sofreu uma fiscalização do Estado cobrando ICMS, sobre camisas que ela estampava para vender para as prefeituras, quando na verdade, a empresa realizava uma atividade de natureza mista, que envolvia a venda de mercadoria (camisas) e a prestação de serviços de composição gráfica. A base da nossa defesa foi justamente a redação da súmula 156 do STJ, provando que se tratava de serviço de composição gráfica com o envolvimento de mercadoria, previsto na LC 116/03. Com essas considerações, acabamos de analisar as características dos principais impostos do ponto de vista contábil. Passaremos agora a tratar da parte processual e legal, mais tranquila para nós advogados, pois analisaremos o processo administrativo no próximo capítulo, bem como, a execução fiscal, o mandado de segurança e a ação anulatória de débito, assuntos que serão abordados nos capítulos seguintes, sem esquecer da análise da legislação e de casos práticos que é o principal objetivo deste Trabalho. 2. PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO 2.1 - VANTAGENS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO 2.1.1 - NEGOCIAÇÃO DOS HONORÁRIOS Sempre falo para os meus alunos que nunca percam a oportunidade de defender o seu cliente na esfera administrativa, pois só há vantagens, tanto para o cliente, quanto para o advogado. Para o advogado é o momento em que ele poderá negociar com o seu cliente os seus honorários (NUNCA DEIXE PASSAR ESSE MOMENTO), e como geralmente, as cobranças efetuadas pelo fisco na esfera administrativa são elevadas (principal, juros, multa, etc.), facilmente o advogado pode cobrar entre 5% (cinco por cento) a 10% (dez por cento), ou até mais do valor envolvido na cobrança administrativa. Aí os meus leitores podem indagar: só vou cobrar isso? Acontece que, muitas vezes, esse percentual de honorários cobrado sobre o valor envolvido no auto de infração, é maior do que muitos podem receber em um ano de trabalho em outras áreas do direito. Imaginemos um auto de infração que envolve a cobrança de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais), o que é bem comum, onde o advogado resolve cobrar 10% de honorários sobre esse valor e o cliente aceita a proposta de honorários. Estamos falando em R$ 100.000,00 (cem mil reais), de honorários, que poderão ser parcelados, claro, com um bom valor dado de entrada, como sugestão. Mesmo que seja 5% (cinco por cento) de honorários, tal percentual corresponderá a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), o que convenhamos, também será um excelente valor. Até mesmo se for o percentual de 2,5% (dois e meio por cento), sobre o valor da cobrança, no exemplo acima, tal quantia corresponderá ao valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). Esse valor recebido corresponderá ao trabalho de apenas uma ou duas petições, pois tenho casos no escritório que apresentei defesa administrativa no ano de 2013 e até o presente momento, ano de 2017, ainda não foi julgadae já recebi os meus honorários, cobrados, evidentemente, sobre o valor do processo administrativo. O cliente não lembra mais sequer do caso, em razão da demora do julgamento. Já escutei alguns advogados comentarem que só tomariam alguma providência quando o processo administrativo fosse enviado para o âmbito judicial, já que, na visão deles, seria uma perda de tempo apresentar defesa perante a administração, já que seria a própria administração que iria julgar a causa e certamente iria julgar de acordo com os seus interesses. É verdade que será a própria administração que irá julgar a causa, porém, não é verdade que ela sempre irá julgar de acordo com os seus próprios interesses. Já obtive boas vitórias no âmbito administrativo, evitando que o débito lançado fosse enviado para inscrição em dívida ativa, quando, a posteriori, seria cobrado em uma execução fiscal. Por experiência própria, atuando na área tributária há anos, sempre procuro evitar ao máximo que a cobrança administrativa chegue no âmbito judicial, principalmente, se torne uma execução fiscal, pois, como veremos, a lei que regula a execução, qual seja, a lei 6.830/80, é totalmente pró-fisco. Passaremos agora a comentar mais uma grande vantagem da defesa administrativa. 2.1.2 - SUSPENDE A EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, ART. 151, INCISO III DO CTN; O referido artigo do CTN acima citado possui a seguinte redação: Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: (...) III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; Portanto, a defesa administrativa suspenderá a cobrança do crédito tributário, ou seja, enquanto a questão não for julgada na esfera administrativa, com todos os recursos lá previstos, o fisco não poderá ingressar na esfera judicial cobrando a dívida. Se entrar, certamente, perderá a ação, pois se a dívida se encontra com a sua exigibilidade suspensa, não poderá ser cobrada ou executada judicialmente, pois faltará ao título executivo o requisito da certeza, liquidez e exigibilidade. Bem como, enquanto não solucionada a questão administrativamente, a empresa poderá tocar sua vida normalmente, inclusive, não ficará impedida de tirar certidão negativa de débitos (CND), perante a Receita Federal, tão essencial para que qualquer empresa possa exercer suas atividades. Como já mencionei, possuo um caso, no escritório, onde a defesa foi protocolada no ano de 2013 e até agora, no ano de 2017, ainda não foi julgada e acho que meu cliente sequer lembra da cobrança, já que faz anos que não pergunta mais sobre ela. Se não tivesse defendido a empresa administrativamente, a cobrança, com certeza, já teria sido inscrita em dívida ativa, e se transformado em uma execução fiscal, com a tentativa da penhora da conta bancária do cliente, bloqueio de bens, como carros e imóveis, bem como, a negativa de expedição de certidão negativa de débitos, ou seja, a empresa estaria sofrendo inúmeros prejuízos. Repito, não deixem de defender os seus clientes na esfera administrativa quando tiverem a oportunidade. Analisaremos a seguir mais uma vantagem. 2.1.3 - A DECISÃO ADMINISTRATIVA FAZ COISA JULGADA PARA A ADMINISTRAÇÃO E NÃO PARA O CONTRIBUINTE; Ou seja, depois de julgada a cobrança no âmbito administrativo, a administração não poderá mais acionar o judiciário para rever os seus próprios julgamentos. Já para o contribuinte a decisão administrativa não fará coisa julgada. Se o contribuinte não estiver satisfeito com o resultado da decisão administrativa, poderá acionar o judiciário para rever o teor daquela decisão, trazendo os mesmos argumentos expostos na sua defesa administrativa. Dessa forma, o contribuinte terá duas oportunidades para anular a cobrança administrativa, uma na esfera administrativa e outra na esfera judicial. Não restam dúvidas, portanto, que será bastante interessante ao contribuinte se defender na esfera administrativa. Por fim, como se já não fossem poucas as vantagens apresentadas até aqui, vejamos mais uma de igual importância. 2.1.4 - NÃO É NECESSÁRIO O FORMALISMO EXIGIDO PELO JUDICIÁRIO E NÃO HÁ O PAGAMENTO DE CUSTAS. QUALQUER PROTOCOLO SERÁ REALIZADO NA PRÓPRIA RECEITA FEDERAL: Para se apresentar uma defesa no âmbito administrativo, não é necessário o recolhimento de custas, como é exigido no judiciário. Há muito tempo atrás, quando era julgada improcedente a impugnação (defesa), do contribuinte em primeira instância, era necessário, para ele, recorrer, fazer o depósito de parte do valor da cobrança, geralmente 30% da dívida. Hoje, a própria Receita Federal e o STF consideram ilegais essa exigência, pois privilegiaria apenas aqueles contribuintes que tivessem condições financeiras de realizar o depósito. Se a qualquer momento, antes do julgamento, o contribuinte precisar apresentar algum documento novo, mesmo após o protocolo da sua impugnação (defesa), poderá apresentá-lo e o Delegado da Receita Federal irá receber e analisá-lo. Por sua vez, se o contribuinte precisar ingressar com recurso voluntário para o CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que fica situado em Brasília, visando reformar a decisão de primeiro grau que lhe foi desfavorável, não precisará ir a Brasília protocolar o recurso, pois já irá protocolar o mesmo na própria secretaria da Receita Federal da sua região, que se encarregará de enviar o recurso para ser julgado pelo CARF. Da mesma forma, quando o recurso for julgado pelo CARF, a decisão será enviada à Receita Federal que se encarregará de informar ao contribuinte sobre o resultado do julgamento. E se a decisão do CARF julgar improcedente o recurso voluntário do contribuinte, o mesmo ainda poderá ingressar com recurso especial para o CSRF (Conselho Superior de Recursos Fiscais), órgão colegiado que faz parte da estrutura do próprio CARF, que também fica em Brasília, sendo que, nessa hipótese, o contribuinte também apresentará o recurso perante a própria Receita Federal que o enviará para o CSRF. Assim, ele não irá precisar se deslocar para Brasília para apresentar seus recursos, dará entrada em todos os protocolos das suas petições, diretamente, perante a própria Receita Federal da sua Região. É ou não é muita vantagem? Vamos agora analisar a questão do processo administrativo em si, mas antes, é importante, primeiro, analisarmos como é constituído o crédito tributário, pois é a partir daí que nasce toda a cobrança administrativa. 2.2 - CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO: (ARTS. 141,142 E 143 CTN) O crédito encontra-se definitivamente constituído quando não couber mais recurso na esfera administrativa. A atividade do lançamento, que é obrigatória e vinculada, tem-se por concluída com a notificação do resultado ao sujeito passivo e este não interpõe mais nenhum recurso, por não ser da sua vontade ou por não caber mais, quando então, a constituição do crédito tributário será definitiva. - São três as formas de constituição do crédito tributário: Lançamento de ofício: Sua iniciativa compete à autoridade administrativa, independentemente de qualquer colaboração do sujeito passivo, devendo, portanto, ser baseada nas informações constantes no registro da administração. Temos como exemplo o IPTU, onde o fisco possui o cadastro do imóvel com todas as informações necessárias para a realização do ato, tais como, localização, tamanho, valor venal, etc. Caso o sujeito passivo, devidamente intimado para o pagamento do imposto, não o pague, haverá auto de infração, que caracteriza-se por formalizar o inadimplemento e por impor penalidade. Os tribunais entendem que, no caso do IPTU, a intimação do sujeito passivosobre a existência da obrigação tributária ocorrerá com o envio do carnê para o endereço do contribuinte, dando ciência da cobrança. Lançamento por declaração ou misto (art. 147 CTN): lançamento efetuado com base na declaração do sujeito passivo, quando então a administração calculará o imposto devido. Vai precisar da colaboração do contribuinte para que a administração possa verificar o montante devido do imposto. Exemplo é o imposto de importação, exportação, ITBI. O contribuinte deverá ser notificado, quando o fisco verificar alguma irregularidade, quando então, poderá apresentar defesa administrativa. Lançamento por homologação: é o mais comum e importante entre os tributos. Os impostos e contribuições estudados no primeiro capítulo desse livro, são todos constituídos por homologação, ou seja, a lei impõe ao sujeito passivo a obrigação de apurar os dados necessários à constituição do crédito, tendo o dever de antecipar o pagamento do tributo, sem o prévio exame da autoridade administrativa. Cada vez mais é exigida a participação direta dos contribuintes no lançamento do tributo, EX: ICMS, IPI, IRPJ e IRPF, PIS e COFINS. Como os impostos mais comuns, no dia a dia da empresa, são todos por homologação, caso o contribuinte declare ao fisco que terá que pagar determinado valor relativo ao imposto declarado e não o pague, a receita e os tribunais entendem que o crédito tributário já estará constituído, não sendo mais necessário que o fisco intime o contribuinte sobre a existência do lançamento. A questão é lógica, pois se o empresário alimenta o sistema da receita federal informando que faturou determinado valor, no mês, a título de um determinado imposto e que terá que recolher aquela quantia ao governo e não a paga, não é necessário que o fisco tome mais qualquer providência para constituir o crédito, pois este já estará constituído. Foi editado inclusive, o enunciado da súmula 436 do STJ, que pacificou a questão e possui a seguinte redação: “A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal, constitui o crédito tributário e dispensa qualquer outra providência por parte do fisco”. Já a súmula 446 STJ, também aplicada ao presente estudo, possui o seguinte enunciado: “ Declarado e não pago o débito tributário pelo contribuinte, é legitima a recusa de expedição de certidão negativa ou positiva com efeito de negativa”. Repetindo, a maioria dos impostos hoje é constituído por homologação e a lei atribui ao contribuinte a prerrogativa de calcular o imposto e informar a receita,o quanto terá que pagar a título daquele imposto no mês, tendo o dever de pagar, no vencimento, aquele valor declarado. O fisco terá o prazo de cinco anos para homologar aquele pagamento, de acordo com o art. 150 do CTN. Se, no referido prazo de cinco anos, o fisco não efetuar a homologação, considera-se homologada tacitamente. O STJ entende que, o que se homologa é o pagamento. Então, se não houver pagamento, não há o que ser homologado. Se o contribuinte informou e não pagou, estará constituído o crédito tributário e o Fisco terá, a partir daí, o prazo de cinco anos para propor a ação visando a recuperação do crédito tributário, sob pena de prescrição da cobrança, matéria essa que veremos mais adiante, quando estudarmos a execução fiscal. Agora, imaginemos a seguinte situação muito comum no dia a dia da empresa. Um contribuinte declara que faturou determinada quantia e que terá que recolher aos cofres públicos determinado valor sobre aquele faturamento declarado e efetua o recolhimento na data do seu vencimento. Como o imposto é por homologação, o fisco terá cinco anos para homologar aquele recolhimento, ou seja, verificar se os cálculos apresentados e o valor recolhido pelo contribuinte estavam corretos. Mas digamos que, dentro do referido prazo, um auditor fiscal comparece na empresa solicitando a cópia de todos os livros de entrada e saída de mercadorias (hoje, arquivos magnéticos), de um determinado período (geralmente ele pede por anos, de 2012 à 2014, por exemplo), para saber se a empresa está tomando os créditos e recolhendo os impostos corretamente. Nesse ponto é importante ressaltar que sempre que ocorre uma fiscalização em uma empresa, o fiscal é obrigado a entregar algum documento ao contribuinte lhe informando o início da fiscalização, geralmente esse documento recebe o nome de Termo de Início de Fiscalização. Geralmente nesse documento o fiscal também já irá solicitar toda a documentação necessária para a realização da fiscalização. Da mesma forma, quando encerrada a fiscalização, o auditor obrigatoriamente, entregará à empresa, documento dando ciência do término da fiscalização, com o apontamento de alguma irregularidade, caso encontrada. Pois bem, encontrada alguma irregularidade, o fiscal lavrará o auto de infração com a intimação da empresa para recolher aquela diferença de imposto encontrada com juros e multa. A partir daí, da ciência da intimação para se defender na esfera administrativa, que se começará a fase contenciosa do processo administrativo, sendo importante ressaltar que o prazo será da ciência, quando o contribuinte assina o auto de infração, tomando conhecimento da irregularidade apontada pelo fiscal. E o prazo será de 30 (trinta) dias para a empresa ou contribuinte apresentar sua defesa (impugnação), que será nosso próximo tópico. 2.3 - FASES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO: Inicialmente, convém ressaltar que o processo administrativo é regulado pela Lei nº 9.784/99 que estabelece alguns princípios, entre eles, a proteção do direito dos administrados e da administração, previsto no art. 1º da lei; o princípio da oficialidade (não precisa da autorização do interessado para promover o processo administrativo),regulado no art. 2º; da motivação (deve conter os fundamentos legais que motivou o ato), de acordo com o art. 50 da lei e do gratuidade (proíbe a cobrança de despesas judiciais), entre outros. Esses princípios são importantes na teoria, em uma prova de concurso, por exemplo, mas na prática, para se ter sucesso na defesa e se anular a cobrança, vale mais o ataque ao mérito da própria cobrança em si. Outro princípio bastante citado na defesa dos interesses dos contribuintes é o princípio da auto - tutela, previsto no enunciado da Súmula 473 STF, com a seguinte redação: “A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais, por que deles não se originam direitos, ou revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”. Costumo citar com bastante freqüência, a redação da súmula 473 do STF nas minhas defesas. O processo administrativo tem seu fundamento na própria Constituição Federal (art. 5º, incisos LIV e LV), que tratam do direito à ampla defesa e ao contraditório e no Código Tributário Nacional (art. 145). Não há necessidade do sujeito passivo esgotar a via administrativa para se ter acesso ao judiciário. O contribuinte pode optar entre a impugnação administrativa ou a ação judicial. Agora, a opção pela via judicial, depois do protocolo da impugnação administrativa e desde que contenha o mesmo objeto, implica em renúncia à instância administrativa, conforme a súmula 01 do CARF, abaixo transcrita: Súmula CARF nº 1:Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquermodalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. Feitos esses breves comentários introdutórios, vamos analisar as fases do processo administrativo. O Processo Administrativo fiscal será dividido em duas fases: 1) Não contenciosa e 2) Contenciosa. A não contenciosa inicia-se com o lançamento tributário, que como visto divide-se em: a) Lançamento de Ofício, b) Lançamento por declaração ou misto e c) Lançamento por homologação. É nessa etapa que o sujeito ativo (fisco), dá conhecimento ao sujeito passivo sobre a existência de um crédito tributário a favor do governo, por exemplo, quando envia o carnê com a cobrança do IPTU. Como comentado acima, hoje a maioria do tributos são por homologação, onde o fisco atribui ao contribuinte a prerrogativa de declarar o valor devido e já efetuar o pagamento por antecipação, quando então, a administração terá cinco anos para homologar aquele pagamento. Nesse prazo, o auditor fiscal poderá comparecer na empresa solicitando livros e cópias de notas fiscais para verificar se os recolhimentos foram feitos corretamente e caso encontre alguma irregularidade, lavrará o auto de infração. A fiscalização na empresa inicia-se com a lavratura do termo de início da fiscalização. É por meio deste documento,como já comentado, que os agentes fiscais dão início à verificação dos livros e demais documentos do contribuinte para verificar se a empresa está recolhendo os impostos corretamente, bem como, informa ao contribuinte que, a partir daquela data, a sua empresa está sendo fiscalizada. Hoje, com o advento da nota fiscal eletrônica, os livros de papel que a empresa possuía foram todos substituídos por arquivos magnéticos, que na prática são os mesmos documentos, só que agora, enviados por meio de arquivos eletrônicos ao sistema da Receita Federal. Com o inicio da ação fiscal, o sujeito passivo perde o benefício da denúncia espontânea prevista no art. 138 CTN, ou seja, o sujeito passivo terá que pagar o tributo sem a redução dos juros e multa. Se o próprio contribuinte verificar a existência de alguma irregularidade ou falha na sua contabilidade, antes do início da fiscalização, ele próprio poderá corrigir aquela irregularidade,fazendo uma retificação na sua declaração, pagando no caso, a diferença do imposto caso haja. Todavia, iniciada a ação fiscal, caso tenha ocorrido alguma irregularidade nas declarações prestadas pelo contribuinte, o mesmo já não mais poderá fazer nenhuma retificadora nas suas declarações. Assim, toda e qualquer irregularidade praticada pela empresa deverá ser corrigida antes do início da fiscalização, pois caso iniciada, o contribuinte terá que aguardar o desfecho da mesma e não terá direito a nenhum benefício. Vejamos o teor da súmula 360 STJ: O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo. Essa fase não contenciosa terminará com o termo de encerramento da fiscalização que será acompanhado por auto de infração, caso seja detectada alguma irregularidade por parte da administração, o que na maioria das vezes, acontece. É imprescindível que o auto de infração contenha a descrição clara e objetiva da infração, para não ensejar dúvidas acerca do lançamento, pois, sendo obscuro, deverá o processo ser julgado a favor do contribuinte, anulando o auto de infração. No prazo legal de 30 (trinta) dias, contados da ciência do contribuinte ao auto de infração, o mesmo poderá manifestar seu inconformismo, oferecendo impugnação. Ressalte-se, novamente que, o prazo de defesa do contribuinte começará a fluir a partir da data da ciência do auto de infração, ou seja, quando o mesmo assinar o auto. Com o protocolo da defesa (impugnação), pelo contribuinte, instaura- se o processo administrativo e inicia-se o contencioso administrativo, durante o qual, se realizarão as perícias e provas necessárias à ampla defesa e ao contraditório, caso necessárias, sendo que, na prática, não é comum a realização de perícia. Em primeira instância, o processo será direcionado ao DRF (Delegado da Receita Federal), da Região onde o contribuinte se encontra localizado e será apreciado por julgador monocrático, geralmente um auditor da Receita Federal. Caso o contribuinte não concorde com a decisão monocrática de primeiro grau, deverá apresentar recurso voluntário no prazo de 30 (trinta) dias, a contar, também,da ciência da decisão de primeira instância, que será apreciado por órgão colegiado de segundo grau, no caso, o CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Lembrando que o contribuinte não precisará ir à Brasília para protocolar o seu recurso, já que o CARF fica situado no Distrito Federal, pois dará entrada na própria Receita Federal da sua Região, que se encarregará de enviar o seu recurso para o Tribunal Administrativo. Da decisão que julgar o recurso voluntário do contribuinte, ainda caberá recurso especial para o CSRF (Conselho Superior de Recursos Fiscais), órgão do próprio CARF, situado em Brasília, como também já comentado. A Câmara Superior de Recursos Fiscais é composta por turmas especializadas e pelo pleno, responsáveis pelo julgamento dos Recursos Especiais. Ao pleno cabe uniformizar as decisões divergentes das turmas da Câmara Superior de Recursos Fiscais. Também será responsável por editar enunciado de súmula. Assim, uma das características que, inegavelmente, demonstra a importância do CARF é a possibilidade de editar enunciados de súmulas que possuirão efeitos vinculantes à toda administração tributária federal (Art. 75 do anexo II do regimento interno do CARF). O CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) é um órgão colegiado vinculado à estrutura do Ministério da Fazenda e composto por representantes da Fazenda Nacional e dos contribuintes, sendo responsável pelo julgamento em segunda e última instância. Geralmente, a duração do mandato dos conselheiros do CARF é de 03 anos, permitida a recondução por até nove anos. Atualmente, as turmas ordinárias e especiais do CARF são compostas por 06 conselheiros titulares e seis suplentes, mantida a paridade entre os representantes da fazenda e dos contribuintes. O CARF foi criado pela lei nº 11.941/09, unificando a estrutura dos 04 órgãos de julgamento até então existentes: Primeiro, segundo e terceiro Conselhos de Contribuintes e a Câmera Superior de Recursos Fiscais, que também passou a integrá-lo. A mudança visou conferir celeridade à solução dos litígios, observadas as garantias inerentes aos princípios da ampla defesa e do contraditório. Feitos esses breves esclarecimentos a respeito do CARF, voltemos para a prática administrativa,que é o objetivo do nosso trabalho. Podemos citar o seguinte esquema para melhor compreensão de como serão as etapas do processo administrativo movido perante a administração pública federal: Da ciência da intimação do auto de infração o contribuinte terá o prazo de 30 (trinta), dias para o protocolo da sua defesa administrativa na Receita Federal da sua Região, que receberá o nome de impugnação; Da mesma forma, da ciência da decisão que rejeitar ou indeferir a sua impugnação, o contribuinte poderá ingressar com recurso voluntário, no prazo de 30 (trinta) dias, protocolado também na própria Receita Federal, que se encarregará de enviar o recurso para ser julgado pelo CARF. Sendo julgado improcedente o recursovoluntário do contribuinte e após o retorno do processo à Receita Federal, esta irá intimá-lo do resultado, que terá o prazo de 15 (quinze), dias para protocolar Recurso Especial perante a própria Receita, que enviará o recurso para ser apreciado e julgado pelo CSRF (Conselho Superior de Recursos Fiscais). Caso o contribuinte seja devidamente notificado da decisão que lhe foi desfavorável e não interponha nenhum recurso, a decisão administrativa se tornará definitiva e o débito será inscrito em dívida ativa, se transformando, a posteriori, em uma execução fiscal. - Vamos agora a analisar os principais artigos da legislação federal que tratam do CARF. Estabelecem os arts. 25, 34 e 37 do Decreto nº. 70.235/72, com suas devidas alterações após a criação do CARF: Art. 25. O julgamento do processo de exigência de tributos ou contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal compete: II – em segunda instância, ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão colegiado, paritário, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, com atribuição de julgar recursos de ofício e voluntários de decisão de primeira instância, bem como recursos de natureza especial. Art. 34. A autoridade de primeira instância recorrerá de ofício sempre que a decisão: I - exonerar o sujeito passivo do pagamento de tributo e encargos de multa de valor total (lançamento principal e decorrentes) a ser fixado em ato do Ministro de Estado da Fazenda. II - deixar de aplicar pena de perda de mercadorias ou outros bens cominada à infração denunciada na formalização da exigência. § 1º O recurso será interposto mediante declaração na própria decisão. § 2° Não sendo interposto o recurso, o servidor que verificar o fato representará à autoridade julgadora, por intermédio de seu chefe imediato, no sentido de que seja observada aquela formalidade. Conforme já comentado, caso a impugnação do contribuinte seja indeferida, o mesmo poderá ingressar com recurso voluntário perante o CARF, visando reformar a decisão de primeiro grau. Já se ocorrer o contrário, ou seja, a defesa do contribuinte for julgada procedente, a administração é obrigada a enviar a causa para ser reapreciada pelo CARF, através de recurso de ofício. Art. 37. O julgamento no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais far-se-á conforme dispuser o regimento interno. § 2o Caberá recurso especial à Câmara Superior de Recursos Fiscais, no prazo de 15 (quinze) dias da ciência do acórdão ao interessado: I – (VETADO); II – de decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra Câmara, turma de Câmara, turma especial ou a própria Câmara Superior de Recursos Fiscais. Pela redação do art. 37 acima, verifica-se que os requisitos para a propositura de Recurso Especial, pelo contribuinte para o CSRF, caso o seu recurso voluntário seja indeferido ou julgado improcedente, serão praticamente os mesmos para o ingresso de Recurso Especial por divergência, perante o Superior Tribunal de Justiça, ou seja; deve o contribuinte recorrente basear o seu Recurso Especial protocolado na esfera administrativa, em um julgamento paradigma (caso análogo), no âmbito administrativo que apreciando aquela mesma matéria, decidiu de forma favorável ao contribuinte, realizando a comparação (cotejo analítico), entre os dois julgamentos (decisão recorrida e a decisão paradigma). Art. 67 do regimento interno do CARF estabelece os pressupostos para a interposição de recurso especial, dispondo: Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. § 1° Para efeito da aplicação do caput, entende-se como outra câmara ou turma as que integraram a estrutura dos Conselhos de Contribuintes, bem como as que integrem ou vierem a integrar a estrutura do CARF. § 2° Não cabe recurso especial de decisão de qualquer das turmas que aplique súmula de jurisprudência dos Conselhos de Contribuintes, da Câmara Superior de Recursos Fiscais ou do CARF, ou que, na apreciação de matéria preliminar, decida pela anulação da decisão de primeira instância. O art. 67 acima transcrito oferece uma gama de oportunidades de se encontrar uma decisão favorável aos interesses do contribuinte, pois estende a pesquisa às decisões de câmara ou turma que integraram a estrutura do antigo Conselho de Contribuintes e as que integrem ou vierem a integrar a estrutura do CARF. Já o § 2º informa que, se a questão já estiver pacificada no âmbito administrativo, encontrando-se, inclusive, sumulada, não caberá o ingresso de recurso especial. Na prática, quando ingressarmos com recurso especial na esfera judicial, o referido recurso não subirá de imediato para ser apreciado pelo STJ, pois antes, terá que passar pelo crivo da admissibilidade pelo presidente do Tribunal onde foi protocolado o recurso especial. Se a questão já estiver pacificada no âmbito judicial, o recurso especial terá o seu seguimento negado ou inadmitido pelo presidente do tribunal , o que também ocorrerá na esfera administrativa, caso, repita- se, a questão já esteja pacificada no âmbito administrativo pelo CARF. Também não caberá recurso especial, quando o tribunal administrativo (CARF), apreciando matéria preliminar do recurso, decidir pela anulação da decisão de primeira instância. Por exemplo, vamos imaginar uma situação em que o contribuinte alega em sua defesa administrativa (impugnação), que o crédito tributário seria nulo em razão da decadência (perda do prazo de efetuar o lançamento, de acordo com o art. 173 do CTN), em razão do fato gerador do tributo ter ocorrido no ano de 2010 e só agora, no ano de 2017, após mais de cinco anos, o fisco se encontrar efetuando a cobrança da dívida. Em primeira instância, o auditor da Receita entende que não ocorreu a decadência e o contribuinte resolver interpor recurso voluntário para o CARF, voltando a alegar, em preliminar, que o crédito administrativo seria nulo, em razão da decadência. No julgamento do recurso pelo CARF, o Tribunal entende em acolher a pretensão do contribuinte, ou seja, acolher a preliminar de decadência, modificando a decisão de primeiro grau e extinguindo a cobrança. Desta forma, de acordo com o § 2º do art. 67 do RICARF, acima transcrito, não caberá recurso especial contra essa decisão, pois analisando matéria preliminar, o Tribunal Administrativo entendeu em anular a decisão de primeiro grau. § 3° O recurso especial interposto pelo contribuinte somente terá seguimento quanto à matéria prequestionada, cabendo sua demonstração, com precisa indicação, nas peças processuais. § 4° Na hipótese de que trata o caput, o recurso deverá demonstrar a divergência arguida indicando até duas decisões divergentes por matéria. § 5° Na hipótese de apresentação de mais de dois paradigmas, caso o recorrente não indique a prioridade de análise, apenas os dois primeiros citados no recurso serão analisados para fins de verificação da divergência. § 6° A divergência prevista no caput deverá ser demonstrada analiticamente com a indicação dos pontos nos paradigmas colacionados que divirjam de pontos específicos no acórdão recorrido. § 7° O recurso deverá ser instruído com a cópia do inteiro teor dos acórdãos indicados como paradigmas ou com cópia da publicação em que tenha sido divulgado ou, ainda,com a apresentação de cópia de publicação de até 2 (duas) ementas. § 8° Quando a cópia do inteiro teor do acórdão ou da ementa for extraída da Internet deve ser impressa diretamente do sítio do CARF ou da Imprensa Oficial. § 9° As ementas referidas no § 7° poderão, alternativamente, ser reproduzidas no corpo do recurso, desde que na sua integralidade e com identificação da fonte de onde foram copiadas. § 10. O acórdão cuja tese, na data de interposição do recurso, já tiver sido superada pela CSRF, não servirá de paradigma, independentemente da reforma específica do paradigma indicado. § 11. É cabível recurso especial de divergência, previsto no caput, contra decisão que der ou negar provimento a recurso de ofício.” Portanto, o recurso especial por divergência de julgamento no âmbito administrativo, obedecerá aos mesmos requisitos do recurso especial na esfera judicial interposto perante o STJ, ou seja, cabe a parte recorrente informar até duas decisões que analisando a mesma questão no âmbito administrativo, decidiu a favor do contribuinte, fazendo a comparação entre a decisão recorrida, que ele pretende reformar e aquela colacionada a seu favor, objetivando a reforma do julgamento. Melhor explicando, deve o contribuinte fazer um quadro comparativo entre a decisão recorrida e a decisão paradigma, informada por ele em seu recurso, informando em que são semelhantes, bem como, demonstrando que julgando a mesma situação, a administração teve um entendimento diferente no passado, julgando a favor do contribuinte. A parte recorrente em preliminar, também deverá, muito brevemente, demonstrar no recurso especial interposto na esfera administrativa, que a questão objeto do recurso, já vinha sendo suscitada desde a sua impugnação e já foi analisada nas instâncias inferiores, ou seja, houve o prequestionamento da matéria. Verifica-se assim que para a propositura do recurso especial no âmbito administrativo, deve o contribuinte recorrente comprovar que houve o devido prequestionamento da matéria objeto do recurso. O Recurso especial será dirigido ao presidente da câmara à qual esteja vinculada a turma que houver prolatado a decisão recorrida, no prazo de 15 dias, contados da data da ciência da decisão, cabendo ao presidente da câmara recorrida admiti-lo ou não, na hipótese de não terem sido preenchidos os requisitos para a sua admissibilidade (art. 68, do anexo II do RICARF). Tal situação, como já exposta, também acontece quando ingressamos com recurso especial no âmbito judicial, pois a simples interposição do Resp não significa dizer que o recurso especial será admitido pelo Tribunal local e enviado diretamente para o julgamento pelo STJ. Primeiro, no âmbito judicial, o vice presidente do Tribunal irá exercer o juízo de admissibilidade, ou seja, verificará se a questão já se encontra pacificada nos Tribunais Superiores, se já existe algum julgamento do STJ ou STF a respeito da matéria, se já existe alguma súmula tratando do tema, etc. Se a questão já estiver pacificada ou se os julgamentos dos Tribunais Superiores já estiverem se encaminhando para pacificar a questão, será negado seguimento ou inadmitido o recurso especial da parte recorrente para o STJ. O mesmo acontecerá com o recurso especial no âmbito administrativo. Se o presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais não admitir o recurso especial, este não será sequer julgado, pois foi inadmitido, face a questão já se encontrar pacificada no âmbito administrativo ( ART 71, do anexo II do RICARF). Por fim, informamos que as sessões de julgamento do CARF, em geral, são públicas, facultada a presença das partes ou de seus procuradores ( Art. 53 do RICARF). Essas são as considerações sobre como se processa o processo administrativo no âmbito federal. Passo a analisar um caso prático com a finalidade de demonstrar aos meus leitores, da mesma forma que procuro demonstrar aos meus alunos do curso de “Prática Jurídica Tributária”, que não existe nenhuma dificuldade em se defender o interesse do cliente na esfera administrativa, muito pelo contrário. 2.4 - CASO PRÁTICO Vamos analisar um caso prático que aconteceu no nosso escritório, onde um cliente, que é uma construtora, recebeu a visita indesejada do auditor fiscal, em dezembro de 2007, solicitando que a empresa apresentasse todos os contratos de obras realizadas no ano de 1997, bem como, o comprovante de recolhimento das contribuições previdenciárias de todas as pessoas que trabalharam naquelas obras, naquele referido período ( todo o ano de 1997). O cliente não apresentou os documentos, informando ao fiscal que não mais possuía aquela documentação e por esse motivo, foi lavrado auto de infração relativo apenas à multa, obrigação acessória, já que a empresa não havia apresentando a documentação solicitada, dificultando assim a fiscalização. Ressalto que esse processo administrativo foi relativo apenas à multa, já que, a empresa não forneceu a documentação solicitada ao fiscal. Se ela tivesse fornecido e o fiscal verificasse que não houve o recolhimento das contribuições previdenciárias, o auto de infração envolveria a cobrança de valor bem mais elevado, pois estaria em jogo a cobrança de todas as contribuições previdenciárias não recolhidas pela empresa no ano de 1997, com juros e multa, referente aos seus funcionários que trabalharam nas obras, durante o período fiscalizado. No auto de infração deve existir, necessariamente, a qualificação da empresa e um breve resumo da descrição dos fatos que originaram a penalidade, já que o motivo completo da aplicação da penalidade virá em um outro documento, que também fará parte do auto de infração. Informo aos leitores que não vou copiar todo o auto de infração neste livro, pois o mesmo, junto com as petições protocoladas nele por nós, é bastante extenso, o que, certamente, daria mais de 50 (cinqüenta), páginas. Por esse motivo, vou transcrever apenas os fatos mais importantes da referida fiscalização, bem como, as petições protocoladas por nós, o que será suficiente para que o leitor tenha uma boa noção como se processa a defesa administrativa no âmbito federal. Pois bem, voltando à análise do auto de infração: na primeira folha do processo administrativo, após a qualificação completa da empresa, havia a seguinte descrição sumária da infração: “Descrição sumária da infração e dispositivos legais infringidos: Deixar a empresa de prestar ao instituto nacional de seguro social - INSS, todas as informações cadastrais, financeiras e contábeis de interesse do mesmo, na forma por ele estabelecida, bem como, os esclarecimentos necessários à fiscalização, conforme previsto na lei 8212/91, art. 32, III, combinado com o art. 225, III, do Regulamento da Previdência Social –RPS, aprovado pelo Decreto nº. 3.048, de 06.05.99. (...)” Convém aqui fazer a primeira observação. No auto de infração é obrigatório que constem os dispositivos legais, violados pelo contribuinte, que deram origem à fiscalização e geralmente a administração cita inúmeros dispositivos legais. Então sugiro que se entre no famoso google e faça-se uma breve pesquisa de, pelo menos, os principais dispositivos legais citados, geralmente os primeiros, pois só esse pequeno ato pode ajudar e muito a sua defesa. Hoje, com a devida vênia, parece que alguns colegas sentem uma certa dificuldade ou comodismo em pesquisar na internet elementos que os ajudem na elaboração da defesa dos seus clientes, esperando sempre que alguém já forneça para eles a petição pronta contendo todas as informações necessárias à elaboração da mesma. O objetivo desse obra, como dito, é facilitar e muito avida dos advogados que queiram iniciar na área tributária, mas, evidentemente, não será apenas esse livro que vai torná-lo um advogado especialista em Direito Tributário. Posso, com as informações contidas nesse livro, com certeza ajudar a você leitor a dar o primeiro passo, bem como, lhe fornecer uma base que faculdade alguma lhe dará. Lembro-me quando comecei, há mais de vinte anos atrás, que sempre recebia a visita de vendedores de livros na porta do escritório oferecendo obras com o título, “Coleção - decisões recentes do STF”, e o vendedor, todo orgulhoso, informava que se tratavam de decisões de apenas dois anos atrás. Hoje, quando precisamos pesquisar um tema, encontramos decisões proferidas naquela mesma semana pelos nossos Tribunais Pátrios, portanto, costumo dizer aos meus alunos que hoje, com o advento da tecnologia, só não advoga quem não quer. Não existem mais desculpas. Pois bem, voltando ao nosso caso prático. No auto de infração também deve constar a relação dos documentos que o acompanham e no exemplo dado, o auto de infração possuía a seguinte relação: 1) Instruções para o contribuinte; 2) Relatório dos representantes legais; 3) Relatório de vínculos; 4) Mandado de procedimento fiscal; 5) Termo de início de ação fiscal; 6) Termo de intimação para apresentação de documentos e 7) Relatório fiscal da infração e aplicação da multa. Nem todos os documentos informados no auto de infração o acompanharam, mas geralmente, essa documentação fica em poder do contribuinte, fornecida pelo fiscal no momento da fiscalização. Na prática, é muito difícil provar que no auto de infração não vieram todos os documentos citados. Desta forma é sempre importante, antes da realização da impugnação administrativa (defesa), sentar com o cliente para juntos, analisarem toda a documentação que a empresa já possui a respeito do caso objeto da defesa. Também é bastante aconselhável, se o cliente lhe der essa liberdade, que o advogado converse com o contador da empresa, profissional este que possuirá todas as informações do ponto de vista fiscal, o que aumentará as chances de se obter sucesso. Também é bastante comum que nas instruções ao contribuinte contenham várias informações a respeito da impugnação (defesa), como informações do tipo: 1) prazo, que será de 30 (trinta) dias, a contar da ciência da intimação; b) local onde o contribuinte irá protocolar a sua defesa (Delegacia da Receita Federal); c) quem poderá elaborar a defesa, que no caso, será a própria empresa, seu contador ou o seu advogado; d) a necessidade de ser juntada procuração e contrato social da empresa, ou apenas o contrato social, quando a defesa é feita pela própria empresa fiscalizada e assinada pelo seu proprietário e e) outros detalhes importantes a respeito da documentação que será anexada à impugnação. No caso apresentado, existiam todas essas instruções ao contribuinte, bem como, informações relativas à empresa fiscalizada e às pessoas que eram os seus representantes legais, bem como, se os mesmos possuíam outros vínculos com outras empresas. O relatório fiscal da infração, que fez parte do auto de infração, continha a seguinte descrição dos fatos: “1. A infração, objeto deste auto, foi verificada em ação fiscal na empresa..... (Ação nº. ), iniciada em 10/10/2007, com a expedição de Mandado de Procedimento Fiscal – MPF. Uma via do MPF retrocitado, integra este auto de infração. Por ocasião da ação fiscal levada a efeito na empresa em epígrafe, apesar de previamente notificada nos dias 10/10/2007 e 20/11/2007, a autuada deixou de apresentar os contratos de serviços celebrados com inúmeras empresas, conforme detalhado no Termo de Intimação para Apresentação de Elementos – TIAD, datado de 20/11/2007 e entregue a mesma naquela data, mas que somente foi devolvida assinada, no dia 14/12/2007. Ao ser constatada, por esta fiscalização, a execução de serviços constantes no talão de nota fiscal de serviços apresentado pela notificada, sem a devida comprovação dos recolhimentos efetuados sobre os referidos serviços, foi a empresa notificada, conforme explicitado acima, para apresentar os respectivos contratos, porém, nada apresentando ou prometido fazê-lo. Considera-se que referidos documentos são imprescindíveis para que se proceda uma perfeita cobertura fiscal, dada a não comprovação dos recolhimentos incidentes sobre a execução dos serviços. A autuada, ao proceder conforme exposto no parágrafo anterior, violou os comandos contidos na Lei nº. 8.212/91, art. 32, inciso III.” Por fim, o auto de infração continha as informações sobre a multa aplicada: “Não tendo sido aplicada a circunstância agravante da reincidência, a multa a ser aplicada em decorrência da infração descrita no Relatório Fiscal da Infração, anexo ao presente auto de infração, é a estabelecida no artigo 283, inciso II, b, do Decreto nº. 3.048/99, atualizada de acordo com o artigo 9º, inciso VI, da portaria nº. 142, de 11 de abril de 2007, conforme previsto no artigo 373 do decreto nº. 3.048/99, e corresponde ao valor de R$ 11.951,21 (onze mil, novecentos e cinquenta e um reais e vinte e um centavos), a qual é aplicada no seu valor mínimo, em conformidade com o disposto no art. 292, inciso I, do regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto nº. 3.048/99.” Após ter recebido o referido auto de infração, cujo objeto, como já ressaltado, era a cobrança de multa por a empresa não ter apresentado os documentos solicitados pelo fiscal, foi elaborada a defesa administrativa da empresa (impugnação), dentro do prazo legal de 30 (trinta) dias, a contar da assinatura do auto de infração, protocolada perante a Delegacia da Receita Federal. Recebemos o comprovante do protocolo com o número do processo e partir daí, passamos a acompanhá-lo através do seguinte site: http://comprot.fazenda.gov.br, local onde o interessado pode obter informações atualizadas relativas ao andamento do processo. Esses foram os elementos mais importantes do auto de infração e agora passaremos a transcrever a cópia da nossa impugnação administrativa que foi apresentada nesse caso. 2.5 - DA IMPUGNAÇÃO ADMINISTRATIVA ILUSTRÍSSIMO SENHOR DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL DE JULGAMENTO EM RECIFE - PERNAMBUCO. ............, pessoa jurídica de direito privado, estabelecida na Rua ...., nº .., sala Boa Viagem, Recife/PE, inscrita no CNPJ/MF sob o n. º ................(doc. 01), vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Senhoria, através do seu advogado infra-assinado, constituído consoante o instrumento procuratório devidamente anexado (docs. 02 e 03), dentro do prazo regulamentar estabelecido no artigo 15, do Decreto nº 70.235/72 e na Portaria 10.875/2007, apresentar IMPUGNAÇÃO ADMINISTRATIVA ao Auto de Infração nº 37.141.558-6, nos termos a seguir aduzidos. DA TEMPESTIVIDADE DA PRESENTE IMPUGNAÇÃO: A Impugnante foi intimada do apontado Auto de Infração em 26 de dezembro de 2007. De conformidade com o disposto no art. 15, do Decreto nº 70.235/72, o prazo para apresentação de defesa é de 30 dias, findando em 25 de janeiro de 2008. Portanto, tempestiva é a presente impugnação, pelo que passa a discorrer sobre os fatos a serem narrados, que demonstrarão a insubsistência da autuação. RELATO DOS FATOS: Antes de adentrar no mérito da questão, requer-se ao Douto Julgador a máxima atenção ao presente caso, posto que o Auto de Infração, ora vergastado, é claramente ilegal, como se verá. O presente Auto resta consubstanciado no fato de ter deixado a empresa de prestar ao InstitutoNacional do Seguro Social – INSS todas as informações cadastrais, financeiras e contábeis de interesse do mesmo, bem como os esclarecimentos necessários à fiscalização. Ou seja: Segundo o Sr. Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, a presente autuação originou-se de procedimento fiscal referente ao período de 01/01/97 a 01/12/97, violando os comandos contidos na Lei nº 8.212/91 – art. 32, III. Assim, com base nessas constatações, o fisco aponta um débito na ordem de: 1. Multa = R$ 11.951,21. EXPOSIÇÃO DO DIREITO: O Relatório anexo ao Procedimento Administrativo do presente Auto de Infração sob análise menciona: 1. (...) 2. Por ocasião da ação fiscal levada a efeito na empresa em epígrafe, apesar de previamente notificada nos dias 10/10/2007 e 20/11/2007, a autuada deixou de apresentar os contratos de serviços celebrados com inúmeras empresas, conforme detalhado no Termo de Intimação pra Apresentação de Elementos – TIAD, datado de 20/11/2007, e entregue a mesma naquela data, mas que somente foi devolvida, assinada, no dia 14/12/2007. 3. Ao ser constatada por esta fiscalização a execução de serviços constantes no talão de nota fiscal de serviços apresentado pela notificada, sem a devida comprovação dos recolhimentos efetuados sobre os referidos serviços, foi a empresa notificada, conforme explicitado acima, para apresentar os respectivos contratos, porém nada apresentado ou prometido fazê-lo.” Causa perplexidade a lavratura da presente autuação fiscal, sob os argumentos acima enumerados os quais serão um a um devidamente rechaçados, ante a fortaleza do DIREITO que milita em favor da ora Impugnante. Assim, a ora impugnante se vê obrigada a apresentar defesa administrativa, como previsto na legislação específica, a fim de que Vossa Senhoria reveja o procedimento de lançamento tributário, mediante as razões a seguir. 01 – DA DECADÊNCIA: O prazo para a constituição do crédito - decadencial - relativo às contribuições destinadas à Seguridade Social, considerando sua natureza tributária, submete-se à norma constitucional. Em razão disso, obedece aos ditames estabelecidos no Código Tributário Nacional, precisamente no artigo 173, porquanto recepcionado pela Constituição Federal como lei complementar. O artigo 173 do Código Tributário Nacional assim dispõe: “Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado;” No caso dos autos, a constituição do crédito tributário se deu em dezembro de 2007. Em face do Auto de Infração ser oriundo da fiscalização que deu origem a NFLD nº ....., a qual compreende o período relativo ao ano de 1997, o auto administrativo também corresponde ao mesmo período, face o axioma jurídico de “o acessório segue a sorte do principal”. Assim sendo, lavrado o auto de infração POSTERIORMENTE ao transcurso do prazo de 05 (cinco) anos, É DE SER RECONHECIDA A DECADÊNCIA DO DÉBITO IMPUGNADO. Confira-se acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, bastante elucidativo e que se assemelha por demais com o caso ora analisado: “DIREITO TRIBUTÁRIO. DECADÊNCIA. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. APLICAÇÃO DO CTN. MATÉRIA RESERVADA À LEI COMPLEMENTAR 1. É inconstitucional o caput do artigo 45 da Lei nº 8.212/91 que prevê o prazo de 10 anos para que a Seguridade Social apure e constitua seus créditos, por invadir área reservada à lei complementar, vulnerando, dessa forma, o art. 146, III, b, da Constituição Federal. 2. Os prazos de decadência e prescrição constituem matéria reservada à lei complementar, na forma do artigo 146, III, “b” da Constituição Federal. Portanto, somente o Código Tributário Nacional, diploma que faz as vezes de lei complementar, pode dispor acerca de prazo prescricional. Esse é o entendimento consolidado desta Corte, que reconheceu a inconstitucionalidade do artigo 45 da Lei n. 8.212/91 .3. Nos tributos sujeitos a lançamento por homologação o prazo decadencial é contado da ocorrência do fato gerador, desde que haja, contudo, a efetiva antecipação do pagamento, forte no art. 150, § 4º, do CTN. 4. Não tendo sido efetuado o pagamento antecipado do tributo, forte § 1º do artigo 173 do CTN, o prazo decadencial para a constituição do débito se inicia no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado pelo contribuinte. 5. O débito em questão diz respeito a período de 01/1992 a 12/1993. A leitura do artigo 173 permite concluir que o débito relativo a 1992 deveria ter sido declarado no mesmo ano, iniciando o prazo decadencial em 01º/01/1993, expirando em 31/12/1997. Repetindo-se o raciocínio em relação aos débitos referentes ao período posterior (1993) verifica-se que a decadência do direito de o Fisco efetuar a constituição de seu crédito ocorreu em 31/12/1998. Desse modo, encontra- se decaído tal débito uma vez que a constituição ocorreu somente em 22/06/2002, data na qual a Notificação Fiscal de Lançamento de Débito foi efetuada pelo inss .” (AMS nº 2003.70.00.060606-9/PR, Rel. Desembargadora federal Maria Lucia Luz Leiria, DJ 15/12/2004, 1ª Turma, unânime). Grifos nossos. Registro, ainda, que a Corte Especial do apontado tribunal declarou a inconstitucionalidade do caput do art. 45 da Lei nº 8.212/91, em incidente suscitado no Agravo de Instrumento nº 2000.04.01.092228-3/PR, limitando-me a transcrever a ementa: ‘’ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE EM AI nº 2000.04.01.092228-3/PR. É inconstitucional o caput do artigo 45 da Lei nº 8.212/91 que prevê o prazo de 10 anos para que a seguridade social apure e constitua seus créditos, por invadir área reservada à lei complementar, vulnerando, dessa forma, o art. 146, III, b, da Constituição Federal.” É certo que as multas previstas na legislação tributária aplicam-se “ex vi legis”, independentemente da constituição do crédito, com ou sem a existência de auto de infração. Entretanto, grande parte das irregularidades que justificariam a cobrança da multa, com fundamento no art. 32, II, da Lei nº 8.212/91, foram cometidas dentro do período atingido pela DECADÊNCIA (ano de 1997), o que afasta a exigência de multa. Caso Vossa Senhoria assim não entenda pelo alcance da decadência da imputação do crédito ora impugnado, a Impugnante apresenta demais razões que fulminam a autuação. 02 – DO PRAZO DE APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS: Informa a Impugnada ter sido a Impugnante notificada no dia 10/10/2007 através do Termo de Início da Ação Fiscal – TIA. Em 18/10/2007 a ora Impugnante se dirigiu perante a Impugnada e apresentou os documentos por ela solicitados, como pode ser constatado no protocolo em anexo (doc.). No entanto, a Impugnada não se deu por satisfeita com os documentos apresentados e requereu através de Termo de Intimação para Apresentação de Documentos – TIAD, a apresentação das folhas de pagamento dos trabalhadores que prestaram serviços, assim como cópia dos contratos das obras realizadas pela Impugnante, no período de janeiro a dezembro de 1997. Ressalta-se, desde já, que apenas no dia 13/12/2007 a Impugnante teve conhecimento do TIAD, como pode ser comprovado através da cópia do mesmo em anexo (doc. ) e não no dia 20/11/2007 como informou o Auditor Fiscal. Compulsando os termos do TIAD, a Impugnante pede vênia a Vossa Senhoria para transcrever o exposto no documento: “Nos termos do disposto no inciso III do art. 32 e nos parágrafos 1º e 2º do art. 33, ambosda Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e dos arts. 2º e 3º da Lei 11.457, de 16 de março de 2007, fica o sujeito passivo intimado a apresentar os documentos e a prestar os esclarecimentos e as informações abaixo relacionados, sob pena de autuação: -1. Apresentar as folhas de pagamentos do período de janeiro a dezembro/1997 do pessoal administrativo e obras. 2. Apresentar recibos de rescisões e férias. 3. apresentar os contratos firmados com as seguintes empresas, bem como comprovar os devidos recolhimentos sobre os serviços prEstados: - Secretaria de Viação e Obras de Jaboatão – Cia de Habitação Popular do Estado de Pernambuco – Cia. De Energia Elétrica da Borborema – CELB – Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana – EMLURB – DETRAN – Departamento Estadual de Trânsito – Departamento de Estrada de Rodagem PE – Fundação de Esportes de Natal – FENAT – Sup. Municipal de Obras e Viação – SUMOV – Emp. Munic. de Desenvolvimento do Jaboatão dos Guararapes – TELPE-Telecomunicações de PE S/A – FUNCEF – Fundação dos Econom. Federais – Secretaria de Serviços Públicos de Olinda – COMPESA – Cia. Pernambucana de Saneamento – Prefeitura Municipal de João Pessoa – CBTU Cia. Brasileira de Três Urbanos. A documentação relacionada, relativa ao período de 01/97 a 12/97, e a todos os estabelecimentos da empresa, inclusive obras de construção civil, deverá ficar à disposição desta Fiscalização, no endereço RUA ........., BOA VIAGEM, RECIFE-PE, a partir de 21/11/2007 às 8 horas e 30 minutos, e durante todo o desenvolvimento do procedimento fiscal. A referida documentação deverá, ainda, ser liberada com vistas à extração de cópias reprográficas, destinadas à instrução processual, podendo, também, o sujeito passivo, se preferir, fornecer as cópias que se fizerem necessárias.” Primeiramente, convém ressaltar que, para a maioria dos brasileiros e principalmente para a maioria das empresas do nosso país, o mês de dezembro é bastante SUBLEVADO, ante a necessidade de cumprir obrigações, dentre elas, buscar recursos para o pagamento dos salários e 13º de seus empregados, fechar a folha, fazer levantamentos, prestar esclarecimentos fiscais a várias secretarias fazendárias, etc.. Tal fato, por si só, já demonstra a dificuldade que a empresa passou para tentar cumprir com a exigência solicitada pelo Sr. Fiscal. Outro aspecto que não se pode deixar de comentar, no apontado TIAD apenas consta a exigência legal quanto à exibição de documentos por parte do sujeito passivo, porém deixou a Impugnada de verificar o PRAZO referente à obrigação da Impugnante em GUARDAR/ARQUIVAR os documentos solicitados consigo. Segundo o parágrafo único do artigo 32, na época, e atualmente o § 11º, do artigo 32, da Lei nº 8.212/91, “os documentos comprobatórios do cumprimento das obrigações de que tratam este artigo devem ficar arquivados na empresa durante dez anos, à disposição da fiscalização.” Dessa forma, como apenas em 13/12/2007 a Impugnada solicitou as cópias dos documentos de arrecadação e dos contratos de serviços referentes ao período de 01/01/1997 a 01/12/1997, restou expirado o prazo de 10 (dez) anos em manter os documentos arquivados para apresentação à fiscalização, não assistindo razão a penalidade aplicada sobre a Impugnante, sob o argumento de não apresentação dos documentos solicitados pelo Auditor Fiscal. Destarte, como a Impugnada solicitou documentos do período de 01/01/97 a 01/12/97 e como o prazo de 10 (DEZ) anos JÁ HAVIA EXPIRADO, INEXISTE A OBRIGAÇAO LEGAL para a Impugnante apresentá-los como o requereu o agente da Receita Federal do Brasil. Assim sendo, deve ser considerado NULO o Auto de Infração, ANTE A INEXISTÊNCIA DE SUBSTRATO JURÍDICO que responsabilize a Impugnante à apresentação de documentos. Portanto, pelos motivos acima demonstrados, resta ao poder Julgador a atitude de rever a infração que visa imputar pesada punição ao contribuinte detentor de passado fiscal inabalável. - DO PEDIDO: Em face do exposto, requer a Impugnante, mui respeitosamente, que seja julgada TOTALMENTE PROCEDENTE a presente impugnação, para que seja declarada a NULIDADE do Auto de Infração nº ........, por absoluta falta de fundamento jurídico, considerando que todas as alegações carreadas pela própria autuada convergem para a constatação da existência do seu direito. São os termos em que pede deferimento. Recife, 24 de janeiro de 2008. Ricardo Augusto Pontes Piedade OAB-PE 19087 Essa foi a nossa impugnação apresentada no apontado auto de infração. Passaremos a análise do julgamento perante a Delegacia da Receita Federal, proferido por um auditor fiscal. 2.6 - DO JULGAMENTO PELA DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL Como já comentado acima, no início do estudo sobre o processo administrativo, o contribuinte é comunicado sobre o resultado do julgamento da sua defesa pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento, quando, a partir da sua ciência, começará a fluir o seu prazo de 30 (trinta)dias, para apresentação de recurso voluntário. Na época do caso apresentado, a comunicação era feita por carta com aviso de recebimento, quando, a partir do dia seguinte da assinatura do AR, começava a fluir o prazo para a interposição do recurso voluntário perante o CARF – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Hoje, as intimações são eletrônicas, pois todo empresário ou seu contador possuem um endereço eletrônico cadastrado perante a Receita Federal. Feitos esses esclarecimentos, voltemos a análise do caso concreto. Após um ano da apresentação da nossa impugnação, a empresa recebeu carta de intimação da Delegacia da Receita Federal, informando o resultado do julgamento, com os seguintes dizeres: “Pela presente dá-se ciência do Acórdão nº...., 7ª Turma da DRJ/REC em anexo. Fica o contribuinte supra mencionado intimado a recolher aos cofres da Fazenda Nacional, o saldo devedor do débito, dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contados a partir da data do recebimento desta, sob pena de inscrição do mesmo em dívida ativa e posterior remessa à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, para fins de cobrança judicial.” Com recebimento de uma intimação nesses termos, já intimando o contribuinte para pagar a dívida, resta evidente que o resultado do julgamento lhe foi desfavorável, não precisando sequer, ler o teor da decisão para não entrar em depressão. Acho esse caso bem interessante, pois existem colegas que vão concordar com os termos do julgamento proferido pelo Auditor da Receita Federal que analisou a questão em primeiro grau. Já outros colegas, após tomarem conhecimento do julgamento do nosso recurso pelo CARF, em segundo grau, vão considerar que este foi o resultado mais correto, ou seja, é um caso onde ambos os resultados podem ser considerados corretos, dependendo do ponto de vista de cada um. Pois bem, passo agora, primeiro, a comentar o teor do julgamento perante a Delegacia da Receita Federal, apontando quais foram os critérios adotados pelo Auditor Fiscal para formular o seu entendimento, para depois transcrever trechos do mesmo, para melhor compreensão do leitor. O Auditor Fiscal entendeu que o que se estava analisando neste auto de infração era multa pelo descumprimento de obrigação acessória, ocasionada no momento em que o contribuinte deixou de colaborar com o Fisco, ao não fornecer a documentação exigida pelo fiscal. Não se estava cobrando no auto de infração os valores relativos a falta de recolhimento da contribuição previdenciária pela empresa e como o objeto do auto de infração era a cobrançaexclusiva de multa, a obrigação só se concretizou em dezembro de 2007, quando o nosso cliente recebeu a intimação para apresentar os documentos e não os apresentou. Assim, não haveria o que se falar em decadência (perda do prazo quinquenal para o lançamento do crédito tributário, a contar do fato gerador da obrigação), pois o prazo só começou a fluir a partir do primeiro dia do exercício seguinte aquele em que o lançamento poderia ter sido efetivado, no caso, a partir de 01/01/2008, já que o contribuinte só foi intimado para recolher a multa em dezembro de 2007, findando-se o prazo em 31/12/2012, conforme a redação do inciso I do art. 173 do CTN, acima já transcrito. Portanto, não houve a decadência, pois a cobrança era relativa à multa e a empresa só foi intimada para efetuar o seu pagamento em dezembro de 2007, repita-se. Com relação ao segundo argumento exposto em nossa defesa, relativo ao prazo de dez anos para a guarda dos documentos solicitados pela empresa, o fiscal acatou esse argumento, informando que o prazo ainda continuava em vigor, porém, manteve a multa, possuindo o seu entendimento, ao meu ver, uma certa fundamentação, conforme passarei a demonstrar. O Auditor Fiscal Relator do julgamento entendeu que o fiscal solicitou a documentação do recolhimento das contribuições previdenciárias de todos os funcionários que trabalharam para a empresa, do período de 01/01/1997 à 31/12/1997, ou seja, todo o ano de 1997. E como a empresa fora intimada para apresentar os documentos apenas em dezembro de 2007, dez anos para trás corresponderia ao período de dezembro de 1997, fato este que obrigaria à empresa a ter apresentado, pelo menos, os documentos relativos à dezembro de 1997, restando os demais períodos de janeiro à novembro de 1997, atingidos pela perda do prazo decenal, com exceção do mês de dezembro de 1997. E como a multa aplicada foi no seu valor mínimo, não importando se o período exigido pelo fiscal era de um mês ou todo o ano, a multa deveria prevalecer, pois a empresa tinha a obrigação de ter apresentado pelo menos, a prova dos recolhimentos relativos a dezembro de 1997, repita- se. Vou transcrever pequenos trechos da decisão do Auditor Fiscal que confirmam o que comentei acima, pois toda a decisão possui mais de 09 (nove), páginas: “ Cabe-nos destacar que, no caso em apreço, o descumprimento da obrigação acessória, que fez nascer o presente AI, cristalizou-se no momento em que o contribuinte não colaborou com o fisco, ao não atender seu pedido de esclarecimento sobre os serviços constantes das notas fiscais examinadas. Foi nesta ocasião que começou, efetivamente, a fluir o prazo quinquenal da decadência, a que alude a súmula vinculante nº. 8, do STF, para que a Fazenda Federal lavrasse o correspondente AI. Como a intimação para exibir os referidos elementos se processou em 13/12/2007, conforme fls.33 dos autos, e a empresa tomou ciência do AI em 26/12/2007, não há que se falar em decadência ou prescrição do crédito em tela, porque constituído dentro do lustro assinalado no CTN. Outrossim, o prazo decenal, de que trata o § 11, do art. 32, da lei nº. 8.212/91, continua hígido e eficaz, porque se limita a fixar tempo de guarda e exibição de documentos e não de constituição de créditos previdenciários, não sendo portanto modificável pela referida Súmula, que se limitou a declarar, em matéria de custeio da previdência social, a inconstitucionalidade dos arts. 45 e 46 da citada lei, relativos à decadência e prescrição No entanto, é de se observar que, para os documentos relativos a 01/1997 a 11/1997, ao serem requEstados em dezembro/2007 – consoante restará demonstrado abaixo –não mais havia a obrigatoriedade da guarda dos mesmos pela empresa, para fins previdenciários, porque já ultrapassado o referido prazo decenal. Persistiu, entretanto, a infração em relação à competência 12/1997, de sorte que remanesce a mesma como sustentação do AI em tela, ressaltando-se que o valor da multa é fixo e independe do número de competências envolvidas, de sorte que remanesce inalterado.” Esse foi o entendimento do Auditor Fiscal responsável pelo julgamento, mantendo a multa aplicada. Da ciência da referida decisão, quando o nosso cliente tomou ciência do seu resultado, também através de carta registrada, começou a fluir o prazo de 30 (trinta) dias para a empresa interpor recurso voluntário, o que foi feito, sendo o mesmo protocolado perante a Delegacia da Receita Federal da Região, não precisando, como já adiantado, o contribuinte se deslocar à Brasília, onde fica situado o CARF, para protocolar o recurso. Segue abaixo o modelo do recurso voluntário. 2.7 - DO RECURSO VOLUNTÁRIO Trago esse exemplo de Recurso Voluntário, utilizado por mim até hoje, para provar aos meus leitores que não existe nenhum mistério ou complexidade na elaboração do recurso perante a Administração Federal, sendo, na verdade, bastante simples. Vejamos: ILUSTRÍSSIMO SENHOR DELEGADO DA DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL DE RECIFE/PE. ....................nos autos do Processo Administrativo nº ....... (AI ......), vem, respeitosamente à presença de V.Sa., inconformada com a decisão de fls. 36 usque40, da qual foi cientificada em ........., através da Intimação nº ...., interpor tempestivamente RECURSO VOLUNTÁRIO, com fulcro no artigo 33, do Decreto nº 70.235/72, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos. Informa ainda a Recorrente que deixa de efetuar o depósito prévio ou o arrolamento de bens, haja vista os mesmos NÃO SEREM mais requisitos para o prosseguimento do recurso voluntário, conforme orientação da própria Receita Federal do Brasil (doc. ). Requer, ainda, uma vez cumpridas as formalidades de praxe, se digne V. Sa. de remeter os presentes autos para o CARF – Conselho Administrativos de Recursos Fiscais, para a apreciação do Recurso em tela. Termos em que, Pede Deferimento. Recife, ................... EMINENTES CONSELHEIROS DO CARF (CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS) Ref. Processo Administrativo nº...... RECORRENTE: ..................... RECORRIDO: ILMO. SR. DELEGADO DA DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL DE RECIFE/PE. ........, inconformada com os termos da decisão de Primeira Instância que julgou PROCEDENTE EM PARTE o Auto de Infração nº ......., vem, mui respeitosamente, perante V.Sa., interpor Recurso Voluntário para a reapreciação da matéria. Assim sendo, reitera a Recorrente os termos de sua impugnação face a clareza, pelo que pede que seja dado integral provimento a este Recurso para declarar a nulidade do Auto de Infração ora impugnado. Termos em que, Pede Deferimento. Recife, ................... Quando trago esse exemplo aos meus alunos, eles sempre me questionam: o recurso é só isso, professor, recebendo a minha resposta afirmativa. Com esse simples recurso, a decisão do auditor fiscal de primeiro grau foi reformada, demonstrando mais uma vez que, no processo administrativo, não se exige as mesmas formalidades do judiciário. Segue o teor da decisão proferida pelo CARF. 2.8 - DO JULGAMENTO PELO CARF Transcrevo a seguir a ementa da decisão: “Processo nº ......... Recurso nº........ Voluntário Acórdão nº....... – 4ª Câmara/2ª Turma Ordinária Sessão de 26 de abril de 2010 Matéria: Decadência Recorrente ....... Recorrida: DRJ-RECIFE/PE ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Data do fato gerador: 18/12/2007 AUTO-DE-INFRAÇÃO.CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS, HOMOLOGAÇÃO E DECADÊNCIA. OBSERVÂNCIA DAS REGRAS FIXADAS NO CTN. I – Segundo a súmulanº 8 do Supremo Tribunal Federal, as regras relativas a homologação e decadência das contribuições sociais, diante da sua reconhecida natureza tributária, seguem aquelas fixadas pelo Código Tributário Nacional; II – Seja pela regra do art. 173 do CTN, seja pelo do art. 150, § 4º, as contribuições ora lançadas seriam inexigíveis, tendo em vista o transcurso de ambos os prazos. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros da 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária da Segunda Seção de Julgamento, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, pois foi reconhecida a decadência do direito de exigibilidade da totalidade das contribuições apuradas, nos termos do voto do relator”. Desta forma, o Relator membro do CARF entendeu que mesmo se tratando o auto de infração da cobrança de multa por a empresa não ter apresentado os documentos solicitados pelo fiscal, mesmo assim, os débitos constantes da cobrança estavam extintos, por ter transcorrido o prazo quinquenal previsto na redação do art. 173, I do CTN. Ou seja, mesmo se a empresa tivesse entregue os documentos exigidos pelo fiscal, o mesmo não poderia mais cobrar a dívida, já que havia transcorrido mais de cinco anos a contar do seu fato gerador (01/01/1997 à 31/12/1997), pois o contribuinte foi cientificado do seu lançamento em 26/12/2007. Portanto, por todos os ângulos em que se analisa a questão, se verifica que a dívida foi envolvida pela decadência. Bem, essa foi a defesa elaborada, por nós, perante a Administração Pública Federal, a qual extinguiu a cobrança fiscal. Para encerrarmos a questão referente ao Processo Administrativo é interessante comentarmos sobre a MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE, outro meio de defesa bastante utilizado perante a administração federal. 2.9 - MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE A peça denominada MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE é geralmente interposta contra decisão que indeferiu pedido de compensação na esfera administrativa, também no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência da intimação. Segundo a definição obtida no próprio site da Receita: “Manifestação de inconformidade é o instrumento por meio do qual o contribuinte contesta decisões das autoridades competentes em processos relativos a restituição, compensação, ressarcimento, reembolso, imunidade, suspensão, isenção e redução de alíquotas de tributos, Pedido de Revisão de Ordem de Incentivos Fiscais (PERC), indeferimento de opção pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (Simples) e pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional), e exclusão do Simples e do Simples Nacional”. (http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/tributaria/julgamento- administrativo/informacoes-gerais/manifestacao-de-inconformidade). Assim, existem outras hipóteses em que caberá a manifestação de inconformidade, como a exclusão da empresa do Simples Nacional, por exemplo. Porém, quase sempre a usamos quando existe algum indeferimento de pedido de compensação. Se encontra prevista na redação do art. 174, III, do Regimento Interno da Receita Federal (aprovado pela Portaria nº 95, de 30/04/2007), o qual estabelece: “Art. 174. Às Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento – DRJ, órgãos com jurisdição nacional, compete, especificamente, julgar, em primeira instância, processos administrativos fiscais: (...) III - de manifestação de inconformidade do sujeito passivo contra apreciações das autoridades competentes relativos à restituição, compensação, ressarcimento, imunidade, suspensão, isenção e à redução de tributos e contribuições.” A questão posta a mesa para discussão é: O pedido de manifestação de inconformidade suspenderia ou não a exigibilidade do crédito tributário, igual à impugnação administrativa já estudada por nós. A questão se encontra pacificada e a maioria das decisões entendem que sim, de acordo com o § 11º do art. 74 da lei nº 9.430/96, que preceitua: “§ 11. A manifestação de inconformidade e o recurso de que tratam os §§ 9º e 10º obedecerão ao rito processual do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, e enquadram-se no disposto no inciso III, do art. 151, da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional, relativamente ao débito objeto da compensação”. O inciso III do art. 151 do CTN citado na redação do § 11º acima transcrito, refere-se as hipóteses de suspensão do crédito tributário, entre elas, como já vimos, a defesa administrativa protocolada perante a administração pública. Hoje, não há dúvidas acerca do caráter impugnatório da manifestação de inconformidade e, por conseguinte, da sua condição de suspender a exigibilidade da cobrança, nos termos do artigo 151, III do CTN. “A eg. Primeira Seção, ao julgar o EREsp 850.332/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, definiu que as impugnações apresentadas pelo contribuinte na esfera administrativa têm o “condão de impedir o pagamento do valor até que se resolva a questão em torno da extinção do crédito tributário em razão da compensação”, a teor do art. 151 , III , do Código Tributário Nacional , segundo o qual “suspendem a exigibilidade do crédito tributário: III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo”.(REsp n. 1100483, Relator Ministro Casto Meira, Segunda Turma, DJe 14/01/2010). Importante ressaltar que no próprio site da Receita Federal existem vários modelos de MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE (http://idg.receita.fazenda.gov.br/formularios/outros-assuntos/modelos- de-impugnacao-e-manifestacao-de-inconformidade/modelo-de- manifestacao-de-inconformidade-pessoa-fisica.pdf/view). Portanto, diga-se novamente, hoje a questão já se encontra pacificada perante os nossos Tribunais, ou seja, se o pedido de compensação tributária for indeferido pela Administração Pública Federal e o contribuinte for intimado a recolher aquela diferença referente ao crédito fiscal que se compensou indevidamente, ele poderá, dentro do prazo legal de 30 (trinta) dias, a contar da ciência da intimação, interpor perante a Receita Federal da sua região, pedido de MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE, o qual, por sua vez, suspenderá aquela cobrança até o julgamento definitivo pela administração, não podendo o fisco executar aquele crédito enquanto não for solucionada a questão na esfera administrativa. Acabamos a análise do processo administrativo tributário no âmbito da administração pública federal e passaremos a analisar a execução fiscal e sua legislação. 3. EXECUÇÃO FISCAL (LEI 6.830/80) A execução fiscal também fará parte do dia a dia de um advogado tributarista. Escuto muitas vezes alguns colegas falarem: Não sou tributarista, mas algumas vezes faço uma defesa ou outra em uma execução fiscal. O ideal, como já mencionado, é não deixar que o crédito fiscal se torne uma execução, pois a lei 6.830/80 que regula o seu procedimento, é toda pró-fisco, o que limita e muito a defesa do contribuinte. Como em todas as ações judiciais, na execução fiscal também será permitida a redação de peças de defesa, de recursos, inclusive, para os Tribunais Superiores, o que, se bem utilizados pelo profissional do direito, poderá ajudar a vida do seu cliente. Nesse capítulo, vamos analisar os principais artigos da lei 6.830/80, bem como, veremos um exemplo de exceção de pré-executividade e um de embargos à execução fiscal, meios de defesa esses bastante utilizados na execução fiscal. Digo sempreaos meus alunos que me sinto muito à vontade para falar sobre a execução fiscal, pois possuo sob o meu patrocínio, mais de duzentas execuções fiscais e durante todos esses anos de militância na área, já aconteceram muitas situações que, certamente, dariam para escrever um livro específico só falando sobre execução fiscal. Pois bem, lançado o crédito fiscal e não apresentada a defesa no âmbito administrativo, ou apresentada e julgada improcedente e desde que não caiba mais recurso na esfera administrativa, o próximo passo será encaminhar o crédito para procuradoria da Fazenda para ser inscrito em dívida ativa (CDA – certidão de dívida ativa), sendo este,o título executivo que embasará a execução fiscal. Como já dito, o ideal é que aquele lançamento não seja inscrito em dívida ativa para posteriormente, ser cobrado através de uma execução fiscal, mas se não for possível evitar, o advogado deve saber como proceder, diante da cobrança judicial do fisco. - Vamos passar a analisar os principais artigos da lei 6.830/80, bem como, fazer alguns comentários sobre os mesmos. Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como tributária ou não tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações posteriores, que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (...) § 3º - A inscrição, que se constitui no ato de controle administrativo da legalidade, será feita pelo órgão competente para apurar a liquidez e certeza do crédito e suspenderá a prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 dias, ou até a distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo aquele prazo. (...) Como primeira observação, informo que o crédito objeto da execução fiscal poderá ser de natureza tributária, como os impostos em geral, ou não tributária, como a cobrança de taxas e multas administrativas por exemplo. O § 3º do artigo 2º acima transcrito, por sua vez, informa que a inscrição suspenderá o prazo de prescrição por 180 dias, o que significa dizer que,quando o crédito for inscrito em dívida ativa, ou seja, transformado em CDA (certidão de dívida ativa), o fisco ainda terá esse prazo adicional para propor a ação, já que o seu prazo prescricional para ingressar com a ação executiva será de cinco anos. Vamos tratar da prescrição em um item à parte, neste capítulo, mas já posso informar aos meus leitores que esse prazo de suspensão por 180 dias só será aplicado para os créditos fiscais de natureza não tributária, como a cobrança de multas e taxas e não para a cobrança dos impostos em geral. Porém, já adiantando algo a respeito da prescrição, o artigo 174 do CTN informa que prescreverá em cinco anos, contados da data da constituição do crédito, o prazo para propor a ação visando a cobrança do crédito tributário e o parágrafo único do referido artigo estabelece que interrompe o prazo de prescrição o despacho do juiz ordenando a citação. Assim, o fisco terá que providenciar a distribuição da execução e agilizar o despacho do juiz ordenando a citação, dentro do prazo de cinco anos, a contar da constituição do crédito tributário, para suspender o prazo de prescrição. Lembrando que a maioria dos impostos, hoje, é por homologação, ou seja, a lei atribui ao contribuinte a prerrogativa de informar ao fisco o quanto terá de recolher a título de um determinado imposto e já adiantar o seu pagamento, na data do seu vencimento, tendo o governo o prazo de cinco anos para homologar aquele pagamento. Portanto, se o contribuinte declara que tem de pagar determinado valor de imposto ou contribuição e não o paga, já estará constituído o crédito tributário, conforme o enunciado da súmula 436 do STJ, já vista por nós, e a partir da data do vencimento do pagamento do imposto começará a correr o prazo de cinco anos para o fisco providenciar o ajuizamento da ação e o despacho do juiz ordenando a citação, para que a prescrição seja interrompida, de acordo com a atual redação do parágrafo único do artigo 174 do CTN. Todavia, como veremos mais adiante, o STJ hoje entende que não será mais o despacho do juiz ordenando a citação que irá interromper o prazo de prescrição e sim a data da propositura da ação. Portanto, se entre a data da constituição do crédito tributário e a data da distribuição da ação não tiver transcorrido o prazo de cinco anos, o crédito não estará prescrito, não importando o tempo que demorou para o juiz proferir o despacho inicial, já que a parte não pode ser prejudicada pela demora atribuída ao judiciário, de acordo com a súmula 106 do STJ. Toda essa explicação já foi adiantada pelo fato de que muitas vezes a fazenda pública, para provar que deu entrada na execução fiscal dentro do prazo legal de cinco anos contados da constituição do crédito tributário, alega que houve várias suspensões dos prazos durante esse período de cinco anos. Por isso, durante esse período de suspensão, o prazo para o fisco propor a ação não estava fluindo, repita-se. Por exemplo, se a parte ingressou com recurso administrativo, a Fazenda informa que terá que aguardar o julgamento definitivo do recurso,para só então, poder ingressar com a ação executiva e isso é correto, como já vimos, pois a defesa administrativa suspende a exigibilidade do crédito tributário. Informa também que após o trânsito em julgado da decisão administrativa, ainda terá que aguardar mais 30 (trinta) dias, para que o contribuinte procure espontaneamente o fisco federal para solucionar o débito de forma amigável e esse prazo também existe, sendo previsto em lei. Também alega a Fazenda que, após o crédito fiscal ser inscrito em dívida ativa, ficará suspenso o prazo prescricional por 180 (cento e oitenta dias) dias,para propor a execução fiscal, conforme a redação do § 3º do art. 2º da lei 6.830/80. Porém, como dito, esse prazo de suspensão de 180 dias só será aplicado para os créditos de natureza não tributária (multa, taxas, etc), não se aplicando no caso da cobrança envolver impostos. Portanto, se você, na qualidade de advogado, verificar que transcorreu mais de cinco anos entre a data da constituição do crédito tributário e a data da propositura da ação pelo fisco e alegar prescrição como forma de extinção do crédito e a Fazenda, em resposta à sua defesa, somar todos os prazos de suspensão acima declinados, como forma de demonstrar ao judiciário que enquanto o crédito estava suspenso não fluía para ela o prazo para cobrar a dívida judicialmente, saiba que esse prazo de suspensão de 180 (cento e oitenta) dias, previsto § 3º do art. 2º da lei 6.830/80, não será aplicado, no caso da cobrança envolver imposto, o que acontece na maioria dos casos. § 5º - O Termo de Inscrição de Dívida Ativa deverá conter: I - o nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre que conhecido, o domicílio ou residência de um e de outros; II - o valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a forma de calcular os juros de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato; III - a origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual da dívida; IV - a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à atualização monetária, bem como o respectivo fundamento legal e o termo inicial para o cálculo; V - a data e o número da inscrição, no Registro de Dívida Ativa; e VI - o número do processo administrativo ou do auto de infração, se neles estiver apurado o valor da dívida. (...) 8º - Até a decisão de primeira instância, a Certidão de Dívida Ativa poderá ser emendadaou substituída, assegurada ao executado a devolução do prazo para embargos (art. 203 do CTN). (...) Quando comecei a fazer minhas primeiras defesas em execuções fiscais, há alguns anos, como ainda não possuía um conhecimento aprofundado do mérito da cobrança de cada imposto, usava muito a redação do § 5º do art. 2º da LEF nas minhas defesas, requerendo ao judiciário a anulação da cobrança, pois o referido parágrafo refere-se aos requisitos obrigatórios da CDA (certidão da dívida ativa). A título de exemplo, apesar do referido parágrafo determinar que deve constar necessariamente na CDA o nome dos co-responsáveis pelo débito, ou seja, o nome dos diretores da empresa, isso só ocorrerá se a própria lei que regula a cobrança do imposto estabelecer que no caso de inadimplência, a responsabilidade do sócio será solidária. Assim, toda vez que eu analisava uma CDA para fazer a defesa do meu cliente em uma execução fiscal e verificava que no título, só constava o nome da empresa, solicitava,de imediato, ao juiz,que determinasse a anulação do débito, pois faltava na CDA um dos requisitos obrigatórios previstos no § 5º do artigo 2º da LEF, ou seja, o nome dos co-responsáveis. Confesso que nunca consegui anular nenhum crédito fiscal com base, exclusivamente, nesses argumentos (falta dos requisitos da CDA), pois os tribunais entendem, que basta constar no título executivo a fundamentação legal da cobrança, capaz de fornecer ao contribuinte informações mínimas a respeito dela, como por exemplo, como o título executivo foi elaborado e a que se refere a cobrança, quais os percentuais de juros e de multa que foram aplicados, sendo o preenchimento desses requisitos suficientes para embasar o título executivo. Com o tempo, verifiquei que era até melhor, para a empresa, que o nome dos sócios não estivesse na CDA, pois quando isso acontecia, para que a Fazenda pudesse requerer o redirecionamento da dívida da empresa para o sócio, teria que provar que se encontravam presentes os requisitos previstos no art. 135 do CTN, ou seja, que o sócio agiu com excesso de poderes, infração da lei, ao contrato social ou ao estatuto, sendo da fazenda o ônus da prova. Porém, caso os nomes dos sócios já estivessem na CDA, desde o inicio da ação executiva, como dito, a responsabilidade deles seria solidária pelo pagamento da dívida, não importando que o juiz determinasse, de imediato, a penhora dos seus patrimônios, antes do patrimônio da empresa. E constando os nomes dos diretores na CDA, para que os mesmos fossem excluídos do pólo passivo da ação executiva, os mesmos teriam que provar que não agiram com infração da lei, do contrato social ou do estatuto (art. 135 do CTN), ou seja, o ônus da prova, nesse caso, seria do sócio. O STJ, no Resp nº 1.104.900/ES, julgado sob a sistemática do antigo artigo 543-C do CPC/73, firmou o seguinte entendimento: “A orientação da primeira Seção desta Corte firmou-se no sentido de que, se a execução foi ajuizada apenas contra a pessoa jurídica, mas o nome do sócio consta da CDA, a ele incube o ônus da prova de que não ficou caracterizada nenhuma das circunstâncias previstas no art. 135 do CTN, ou seja, não houve a prática de atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos”. Portanto, sempre que o nome do sócio conste na CDA, o advogado terá que ter uma atenção maior, pois certamente, o sócio também será citado para se defender na execução e nomear bens a penhora, caso o fisco exequente não encontre ou não aceite a penhora sobre o patrimônio da empresa. E sendo a responsabilidade do sócio solidária, não existirá ordem de preferência para a tentativa de bloqueio de bens, podendo o judiciário primeiro tentar o bloqueio de bens em nome do sócio. Geralmente, na prática, primeiro o judiciário tenta penhorar bens em nome da empresa para só depois tentar a penhora sobre o patrimônio dos sócios, mas o juiz não está obrigado a seguir essa regra, já que a responsabilidade do sócio será solidária, repita-se. Resumindo, pode-se alegar a falta de algum dos requisitos obrigatórios previstos no § 5º do artigo 2º da LEF, na defesa elaborada na execução fiscal, mas dificilmente, só com essa alegação, se conseguirá êxito em anular a cobrança, pois a CDA goza da presunção da certeza, liquidez e exigibilidade , regra essa prevista na redação do artigo 204 do CTN, que foi repetida na íntegra pelo artigo 3º da LEF, abaixo transcrito. Art. 3º - A Dívida Ativa regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez. Parágrafo Único - A presunção a que se refere este artigo é relativa e pode ser ilidida por prova inequívoca, a cargo do executado ou de terceiro, a quem aproveite. Por sua vez, o § 8º do artigo 2º da LEF acima transcrito informa também que verificado algum vício sanável na CDA, esta poderá ser substituída até a decisão de primeiro grau, entendendo-se como decisão de primeiro grau, a decisão firmada até a sentença proferida nos embargos à execução fiscal (defesa do devedor). Se parte dos valores constantes no título executivo forem considerados inexigíveis, mas passíveis de exclusão por mero cálculo aritmético, a execução pode ter prosseguimento sem ser necessária a substituição da CDA, mas somente declarando-se a inexigibilidade parcial da certidão (Resp 1.115.501/SP, julgado sob o regime do antigo artigo 543-C/73). Tive um caso envolvendo a cobrança de ICMS em uma execução fiscal,em que a Fazenda Estadual aplicou os juros e a correção de uma maneira incorreta, aumentando, consideravelmente, o débito executado. Quando apresentei a defesa do nosso cliente, aleguei o excesso de execução, demonstrando, através de uma planilha, que houve um excesso nos juros aplicados sobre o valor principal da dívida. É claro que solicitei ao judiciário a anulação do título executivo, face o excesso da cobrança, porém, já tinha conhecimento do atual entendimento do STJ acima mencionado, no sentido de que, serão excluídos da CDA, apenas os valores cobrados em excesso e a execução prosseguirá em relação ao saldo. Por esse motivo (excesso dos valores cobrados na execução), a execução fiscal não será extinta. Não há falha ou necessidade de substituição da CDA, nos casos em que, embora conste, corretamente, o nome do devedor originário, houve sub-rogação do direito. É o que acontece, por exemplo, nos casos de transferência de imóvel e quando existe a cobrança de débito sobre o bem, como a cobrança de débito de IPTU (STJ, Resp. 842771/MG), pois o débito independe da pessoa que ocupa o imóvel, face pertencer ao próprio bem. Também não será necessário juntar na execução fiscal, planilha de cálculo do débito, como geralmente ocorre nas execuções de título extrajudicial, mas apenas que seja possível, com as informações da CDA, identificar o valor original da dívida e seus acréscimos. (Resp 1.138.202-ES, julgado sob o regime do antigo artigo 543-C do CPC/73). O artigo 6º da LEF possui a seguinte redação: Art. 6º - A petição inicial indicará apenas: I - o Juiz a quem é dirigida; II - o pedido; e III - o requerimento para a citação. § 1º - A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará parte integrante, como se estivesse transcrita. § 2º - A petição inicial e a Certidão de Dívida Ativa poderão constituir um único documento, preparado inclusive por processo eletrônico. § 3º - A produção de provas pela Fazenda Pública independe de requerimento na petição inicial. § 4º - O valor da causa será o da dívida constante da certidão, com os encargos legais. Assim, a petição inicial, de acordo com o art.6º da lei 6.830/80, será bem simples, devendo indicar apenas o juiz a quem é dirigida, o pedido e o requerimento para a citação. Costumo dizer para os meus alunos que a petição inicial da execução é simples, mas causa um verdadeiro estrago na vida das empresas e dos seus diretores. O valor da causa será o da CDA com os seus encargos legais e o artigo 39 da LEF isenta a Fazenda Pública de custas e emolumentos. Vimos que deve constar na CDA a data da inscrição do débito em dívida ativa (artigo 2º, § 5º, inciso V) e essa data é importante, porque o STJ entende que: “Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a fazenda pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa”.(art. 185 CTN, Resp nº 1.141.990/PR,julgado sob a sistemática do art. 543-C do CPC/73). Algumas empresas pensam em transferir os seus bens, quando sabem que estão na iminência de perdê-los, face à propositura de uma execução fiscal. Se a Fazenda, na execução fiscal, descobre a existência de bem já transferido a terceiro e solicita a penhora sobre o mesmo, de nada adiantará ao executado informar ao judiciário que aqueles bens já não mais lhe pertencem, pois se a venda ocorreu após a data da inscrição do débito em dívida ativa, certamente, o bem será penhorado e vendido em hasta pública,quando a defesa do executado for julgada improcedente. Art. 25 - Na execução fiscal, qualquer intimação ao representante judicial da Fazenda Pública será feita pessoalmente. Parágrafo Único - A intimação de que trata este artigo poderá ser feita mediante vista dos autos, com imediata remessa ao representante judicial da Fazenda Pública, pelo cartório ou secretaria. Toda a intimação ao representante judicial da fazenda será sempre pessoal, não importando se na publicação da decisão judicial constou o seu nome e do advogado que está defendendo o executado, pois para o representante do fisco, o prazo só começará a fluir quando o processo lhe for entregue em mãos. Já para o advogado, o prazo começará a fluir no momento da intimação, com a publicação da decisão. Geralmente, na Justiça Federal, toda segunda ou sexta, vai um funcionário da Fazenda Nacional na secretaria do cartório solicitar todos os processos que estão com prazo para a Fazenda se manifestar. Após a conferência do protocolo emitido pela secretaria, o funcionário o assina e a partir do dia seguinte daquela data da assinatura, começará a fluir o prazo para a Fazenda se pronunciar nos autos. Art. 8º - O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou garantir a execução, observadas as seguintes normas: I - a citação será feita pelo correio, com aviso de recepção, se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma; II - a citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereço do executado, ou, se a data for omitida, no aviso de recepção, 10 (dez) dias após a entrega da carta à agência postal; III - se o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da carta à agência postal, a citação será feita por Oficial de Justiça ou por edital; IV - o edital de citação será afixado na sede do Juízo, publicado uma só vez no órgão oficial, gratuitamente, como expediente judiciário, com o prazo de 30 (trinta) dias, e conterá, apenas, a indicação da exeqüente, o nome do devedor e dos co-responsáveis, a quantia devida, a natureza da dívida, a data e o número da inscrição no Registro da Dívida Ativa, o prazo e o endereço da sede do Juízo. (...) § 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição. O executado será citado para pagar a dívida ou garantir a execução, no prazo de cinco dias, a contar da data do recebimento da carta de citação, sob pena de penhora. A citação será feita primeiro pelos correios e se a carta com aviso de recebimento (AR), não retornar, ou retornar com a informação de que a citação foi negativa por algum motivo, como no caso da empresa ter se mudado do local, ela será realizada por oficial de justiça. O STJ se manifestou no sentido da possibilidade do recebimento da citação por pessoa diversa que não seja o real executado, como no caso da citação recebida pelo porteiro da empresa. (STJ, Resp. 430413). Se não for possível a citação por carta e por oficial, no caso do executado se encontrar em lugar incerto e não sabido, por exemplo, a citação será feita por edital e o mesmo conterá os requisitos previstos no inciso IV do artigo 8º da LEF, com o prazo de 30 dias para o executado apresentar defesa, a partir da data da sua publicação em órgão oficial. Súmula 414 STJ: “ A citação por edital na execução fiscal é cabível quando frustradas as demais modalidades”. É comum andarmos pelos corredores da Justiça Federal e encontrarmos nos quadros de aviso, inúmeros editais de citação do executado. Geralmente, no prazo de citação de cinco dias, costumo ingressar com exceção de pré-executividade, assunto esse que veremos mais adiante, meio de defesa em que não é necessário a garantia da execução, cabível apenas, quando a matéria for de ordem pública, que são aquelas que podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz, a qualquer momento, nas instâncias ordinárias e que não necessitem de dilação probatória. Isso porque, na exceção de pré-executividade, como dito, não haverá a necessidade de penhora e até o seu julgamento, após a Fazenda se manifestar no prazo de 30 dias sobre a defesa, o executado pode ganhar algum tempo valioso, até para que ele possa se capitalizar novamente e parcelar o débito no futuro, pois é comum surgirem parcelamentos excepcionais, com prazos prolongados de 120 ou até 180 meses para se quitar os débitos fiscais, com bons descontos nos juros e na multa. Mais o assunto específico da exceção de pré-executividade será visto mais adiante. O § 2º do artigo 8º da LEF, repetindo a redação do parágrafo único do artigo 174 do CTN, informa que o despacho do juiz ordenando a citação vai interromper a prescrição. Já comentamos e veremos com mais detalhes, quando tratarmos da prescrição, que hoje, o STJ entende que não é mais o despacho do juiz ordenando a citação que vai interromper a prescrição e sim a data da propositura da ação, ou seja, se entre a data da constituição do crédito tributário e a data da propositura da ação não tiver transcorrido o prazo prescricional, que geralmente é de cinco anos, não será decretada a prescrição. Art. 10 - Não ocorrendo o pagamento, nem a garantia da execução de que trata o artigo 9º, a penhora poderá recair em qualquer bem do executado, exceto os que a lei declare absolutamente impenhoráveis. Os bens absolutamente impenhoráveis, hoje estão arrolados na redação do art. 833 do novo CPC. O artigo 30º da LEF, que possui redação idêntica ao art. 186 do CTN, estabelece que respondem pelo pagamento do crédito tributário, os bens gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade, excetuados, unicamente, os bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis. Art. 30 - Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens, que sejam previstos em lei, responde pelo pagamento da Divida Ativa da Fazenda Pública a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declara absolutamenteimpenhoráveis. O art. 186 CTN deve ser interpretado no sentido de que, para fins de execução fiscal, apenas se consideram impenhoráveis, aqueles bens cuja impenhorabilidade decorre direta e exclusivamente de lei ( Ex: lei 8.009/90 e art. 833 do atual CPC). Imaginemos o seguinte caso: instaurada a execução fiscal, o executado, para se defender (embargos à execução), resolve nomear bens à penhora e oferece um bem imóvel que já possui registrado em sua escritura, uma hipoteca pertencente ao banco credor, duas penhoras da Justiça do Trabalho e mais uma penhora registrada no Cível. Então o advogado pode imaginar: vou nomear esse bem imóvel à penhora, pois será apenas mais uma constrição judicial, já que existem inúmeras restrições sobre o bem. Acontece que, a execução fiscal tramita de maneira muita rápida na Justiça Federal, sendo inclusive, hoje, instauradas por meio eletrônico e se a defesa do executado (embargos à execução), for julgada improcedente, o bem será vendido em hasta pública, até porque, o recurso de apelação contra sentença que julga improcedentes os embargos à execução (defesa do devedor), só será recebido no efeito devolutivo e não no suspensivo, ou seja, a execução terá o seu prosseguimento normal. Portanto, não importa que sobre o bem já existam outras restrições, pois se os embargos à execução fiscal forem julgados improcedentes, o bem será vendido em hasta pública e só restará aos outros credores ingressarem com uma ação regressiva contra o executado que nomeou indevidamente, aquele bem à penhora. É importante ficar atento também em relação a esse detalhe. E só serão considerados impenhoráveis aqueles bens considerados como tais pela lei, como o bem de família, os salários, pensões, os depósitos em caderneta de poupança até o valor de 40 (quarenta), salários mínimos, etc. Tenho um cliente que possui algumas execuções fiscais e todo mês é bloqueada a sua aposentadoria no banco em que ele recebe o benefício. Já possuímos uma declaração do próprio banco em que o cliente é correntista, informando que aquele valor bloqueado refere-se ao benefício da aposentadoria e quando a constrição ocorre, protocolamos a petição na execução solicitando o desbloqueio, o que é feito geralmente em 48 (quarenta e oito), horas pelo juiz. Art. 11 - A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte ordem: I - dinheiro; II - título da dívida pública, bem como título de crédito, que tenham cotação em bolsa; III - pedras e metais preciosos; IV - imóveis; V - navios e aeronaves; VI - veículos; VII - móveis ou semoventes; e VIII - direitos e ações. § 1º - Excepcionalmente, a penhora poderá recair sobre estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como em plantações ou edifícios em construção. § 2º - A penhora efetuada em dinheiro será convertida no depósito de que trata o inciso I do artigo 9º. § 3º - O Juiz ordenará a remoção do bem penhorado para depósito judicial, particular ou da Fazenda Pública exeqüente, sempre que esta o requerer, em qualquer fase do processo. Assiste ao executado o direito de nomear bens à penhora, observada a ordem do art. 11 da LEF, sendo o dinheiro, o primeiro bem na ordem de preferência. Geralmente, quando o executado oferece bens fora dessa ordem do artigo 11º da LEF, a Fazenda exequente é convidada a falar se aceita ou não aquele bem e, geralmente, tende a rejeitá-lo,requerendo de imediato, a penhora on-line em conta bancária pertencente ao devedor. Existe a possibilidade da penhora on-line em dinheiro (artigo 854 do atual CPC e artigo 185 do CTN), sendo bastante utilizada na execução e face o dinheiro ser o primeiro na ordem de preferência, não é mais necessário a prévia tentativa de penhora sobre outros bens. Caso o resultado da penhora on-line seja negativo, a Fazenda exequente poderá ainda solicitar outros meios de bloqueios on-line como o RENANJUD (penhora em carros do devedor), DOI (documento de operação imobiliária, que possibilitará a descoberta de imóveis em nome do executado e a constrição dos mesmos), bem como, outros meios eletrônicos hoje disponíveis ao fisco. Acredite, hoje, através do avanço da tecnologia, o fisco tem acesso a todas as informações possíveis relativas aos devedores, ou seja, existe uma verdadeira varredura na vida da empresa e dos seus diretores, às vezes, até dos seus familiares, quando a Fazenda tenta demonstrar que os bens estão sendo transferidos para parentes, por exemplo. Por isso, o devedor deve sempre ficar atento quando já existir algum lançamento fiscal em seu nome, com a possibilidade concreta de instauração de execução fiscal. Bem como, caso a execução já tenha sido proposta, já deve começar a pensar em algum bem para oferecer, caso necessário, que não seja de grande importância para a empresa, pois se assim não for, existirá a constrição judicial através de algumas das formas acima declinadas. Como já ressaltado, se a penhora ou a nomeação de bens for feita fora da ordem estabelecida no artigo 11 da LEF, a Fazenda sempre será convidada a falar se aceita ou não aquele bem penhorado ou oferecido, à penhora, pelo devedor. Se o valor dos bens penhorados forem insuficientes para quitar o débito, a Fazenda pode também requerer o reforço da penhora. Nota-se também que pela redação do § 1º do artigo 11 da LEF, a penhora do estabelecimento comercial do executado (local onde a empresa funciona), ocorrerá de forma excepcional, devendo nesses casos, a Fazenda exequente provar que, primeiro, tentou outros meios de constrição judicial permitidos em lei e foram todos negativos. Tal hipótese de penhora, no estabelecimento comercial onde a empresa exerce suas atividades, é muito comum de acontecer. Caso isso ocorra, cabe ao advogado provar que esse tipo de constrição judicial é excepcional e como tal, a Fazenda precisava, primeiro, ter tentado outras formas de constrição, bem como, defender a função social da propriedade (princípio constitucional, previsto no artigo 170, III da CF), oferecer outro bem em garantia em substituição, informar que se a empresa for vendida em hasta pública, muitas pessoas ficarão desempregadas, o que causará um prejuízo ainda maior à sociedade, não sendo esse o papel do judiciário, devendo ser preservado o emprego, etc. O juiz não pode determinar o reforço ou substituição da penhora de ofício (art. 15, II da LEF e art. 874 do atual CPC), prática essa algumas vezes adotada pelo judiciário. - Tínhamos um cliente que possuía uma mineradora e sempre oferecia brita à penhora nas execuções fiscais movidas contra a sua empresa. Com o passar do tempo e após as tentativas frustradas da venda das britas em hasta pública, o próprio juiz, de ofício, começou a rejeitar o bem, sem antes ouvir a fazenda pública, titular do direito, o que não é permitido. Recorríamos sempre dessa decisão e o Tribunal determinava o retorno dos autos ao juiz de primeiro grau para que ele, primeiro, determinasse a ouvida da exequente, a única que podia dizer se aceitava ou não o bem oferecido. Art. 15 - Em qualquer fase do processo, será deferida pelo Juiz: I - ao executado, a substituição da penhora por depósito em dinheiro ou fiança bancária; e II - à Fazenda Pública, a substituição dos bens penhorados por outros, independentemente da ordem enumerada no artigo 11, bem como o reforço da penhora insuficiente. - Aconteceu também um caso curioso, no escritório, em que um determinado cliente recebeu uma boa proposta para vender o imóvel onde estava situada sua empresa. Todavia, sobre aquele bem já existia umapenhora originada de uma execução fiscal movida pela Fazenda Nacional. Então combinamos, com o comprador, a necessidade de ser dado um determinado valor de entrada e com o dinheiro substituir a constrição judicial sobre o bem pelo próprio dinheiro, o que foi deferido pelo juiz, nos termos do artigo 15, inciso I da LEF. A venda acabou não se concretizando e o juiz, entendendo que a empresa só quis ganhar tempo, determinou a venda antecipada do bem em hasta pública, mesmo ainda se encontrando pendente recurso de apelação interposto por nós contra a sentença que julgou improcedentes os nossos embargos à execução. Mesmo tendo conhecimento que a regra é que a apelação interposta contra sentença que julga improcedentes os embargos não será recebida em seu efeito suspensivo, fui conversar com o juiz, informando que a dívida já estava garantida pela penhora de bem imóvel valioso, que nenhum prejuízo sofreria a Fazenda em aguardar o julgamento do nosso recurso, pois enquanto não paga a dívida, correm, contra o executado, juros, correção e multa, ao contrário da empresa que perderia um imóvel onde se encontra localizada há mais de quarenta anos, com a possibilidade de demissão dos seus funcionários, etc. etc. Porém, o juiz ficou irredutível e me informou que não era problema dele e que se a venda fosse concretizada e o meu recurso de apelação fosse julgado procedente, o dinheiro da venda do imóvel ficaria depositado em uma conta judicial e seria revertido a favor do nosso cliente. Se ocorresse o contrário, o valor da venda seria convertida, em renda, a favor da União credora. Na prática, nós sabemos que a empresa nunca é vendida em hasta pública pelo seu real valor de mercado, diminuindo o seu valor a cada leilão realizado, sendo o prejuízo de grandes proporções. Recorremos da decisão e conseguimos uma excelente decisão paradigma (favorável a nossa tese), do próprio Tribunal onde nosso recurso foi julgado, no sentido de que se deve preservar a função social da propriedade e que, se o prosseguimento da execução fosse causar um grande prejuízo à sociedade, com a real possibilidade de demissão dos funcionários, deveria ficar paralisada a execução, até o julgamento final da defesa do executado. Com a graça divina, o nosso recurso foi distribuído para o mesmo Desembargador prolator da decisão paradigma (parece até história de filme), mas acreditem, é verdade, e o mesmo acabou concedendo o efeito suspensivo ao nosso recurso, evitando assim, a venda antecipada do bem, antes do julgamento do recurso, e a empresa, até hoje, exerce as suas atividades no mesmo local. Realizada a penhora, o executado deve ser intimado por publicação em órgão oficial de imprensa (art. 12 LEF). Isso ocorrerá quando ele já tiver se manifEstado na execução fiscal através de advogado. Por exemplo, o executado foi citado para pagar a dívida ou nomear bens à penhora e apresentou, através do seu advogado, exceção de pré-executividade, meio de defesa que, como já comentado, não exige a necessidade de nomeação de bens à penhora. Se essa defesa do executado for rejeitada e o juiz determinar a penhora on-line na sua conta bancária e se o bloqueio for positivo, o executado será intimado da penhora, na pessoa do seu advogado, por publicação no diário oficial, pois já existe advogado constituído, nos autos, realizando a sua defesa. Agora, se o executado ainda não tiver se defendido nos autos, a intimação da penhora será feita, pessoalmente, por carta ou através de oficial de justiça. Também é comum na execução fiscal que seja solicitado o redirecionamento da execução para os sócios, especialmente nos casos de dissolução irregular da empresa, conforme o enunciado da Súmula 435 STJ, que estabelece: “Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente. Nestes casos, a execução prosseguirá contra os sócios. Tal hipótese ocorrerá quando o oficial de justiça visita uma determinada empresa executada e lá chegando, verifica que a mesma encerrou as suas atividades, sem comunicar ao fisco. O passo seguinte é o juiz determinar a ouvida da exequente que, certamente, irá requerer o redirecionamento da dívida para os sócios, de acordo com a súmula 435 do STJ acima transcrita. Perceba-se que nessa hipótese, os nomes dos sócios não estão na CDA ( certidão de dívida ativa), desde o início e sim, foram incluídos no decorrer da ação, face o encerramento das atividades do devedor principal, no caso, a empresa, sem a comunicação ao Fisco. Se trata, nesse caso, de redirecionamento da dívida e não de co- responsabilidade ou responsabilidade solidária, como já comentado. Passaremos agora a tratar dos meios de defesa em si do executado, no caso, a exceção de pré-executividade e os embargos do devedor. 3.1 - EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE A exceção de pré-executividade é um meio de defesa muito utilizada pelos advogados para proteger os interesses dos seus clientes na execução fiscal. Não existia previsão legal até a edição do novo CPC/15 (art. 803, parágrafo único). Era até então, apenas uma construção doutrinária e jurisprudencial. Será admitida nas hipóteses em que a nulidade do título possa ser verificada de plano, bem como, nas questões de ordem pública, pertinentes aos pressupostos processuais e às condições da ação, desde que,não seja necessária a dilação probatória,conforme entendimento do STJ externado no enunciado da súmula 393: “A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente as matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória”. Portanto, o STJ entende que a Exceção de pré-executividade serve para suscitar questões de ordem pública que devam ser conhecidas de ofício, pelo juiz, como as “atinentes à liquidez do título executivo, os pressupostos processuais e as condições da ação executiva” (AGRESP 200900190890, Min. Luiz Fux). Não existe prazo para sua interposição. Recomenda-se que seja protocolada no prazo de 5 dias após a citação, prazo este que o devedor terá para pagar a dívida ou nomear bens à penhora, pois, caso contrário, correrá o risco de ser efetuada a penhora sobre seus bens, o que dará ensejo à oposição de embargos à execução fiscal, dentro do prazo de 30 dias, meio de defesa este com dilação probatória ampla. Como a exceção não tem o condão de suspender o andamento da execução fiscal, já me deparei com casos em que o juiz, primeiro, determinou a penhora sobre bens do executado, informando que só após a realização dessa, iria analisar os argumentos da nossa exceção. Recorremos da decisão, argumentando que estava existindo cerceamento do direito de defesa do nosso cliente, pois se a nossa exceção só seria analisada após a realização da penhora, de nada havia adiantado ter interposto a mesma, já que, com a penhora e a intimação do executado, começaria a fluir o prazo para a interposição dos embargos. A questão chegou até o STJ que anulou a decisão, determinando que antes da penhora, fosse apreciada a nossa exceção, já que, supostamente, se tratava de uma questão de ordem pública e caso nossa defesa não fosse analisada, haveria o nítido cerceamento do direito de defesa do contribuinte. Caso a matéria não possa ser reconhecida, de ofício, pelo juiz, a parte executada deverá aguardar a penhora, para só então, opor embargos, quando poderá alegar toda matéria útil à sua defesa (§ 1º, do art. 16 da LEF). Na prática, como já comentado, na defesa do direito do nosso cliente,sempre procuro interpor primeiro, exceção de pré-executividade no prazo de cinco dias contados da citação para o pagamento da dívida ou nomear bens à penhora, mesmo quando a situação não seja caracterizada como sendo de ordem pública, pois até o seu julgamento, após a ouvida da fazenda exequente, muitas vezes a empresa executada ganha meses preciosos para se organizar, financeiramente, e até parcelar o débito por exemplo. Mesmo que nossa exceção seja indeferida, por a matéria necessitar de dilação probatória, mesmo assim, ingresso com a exceção, pois, na prática, já vi muitas exceções enquadradas nessas hipótese, serem julgadas. Matérias que podem ser alegadas via exceção: 1) pagamento da dívida, salvo se a comprovação do pagamento demandar dilação probatória, como perícia, por exemplo; 2) falta de condições da ação, como a falta de certeza, liquidez e exigibilidade do título executivo, quando a CDA não contiver um dos requisitos previstos do art. 2º, § 5 da LEF ou do art. 202 do CTN e3) Ilegitimidade da parte (art. 4º da LEF). Sobre a questão da ilegitimidade de parte, como já comentado, o STJ pacificou o entendimento de que, não constando os nomes dos sócios na CDA, cabe à Fazenda Pública o ônus da prova de que o sócio agiu com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatuto, nos termos do art. 135 do CTN. Agora o STJ, no Resp nº 1.104.900/ES, julgado sob a sistemática do art. 543-C do antigo CPC, firmou a seguinte tese: “A orientação da primeira seção desta corte firmou-se no sentido de que, se a execução foi ajuizada apenas contra a pessoa jurídica, mas o nome do sócio consta da CDA, a ele incube o ônus da prova de que não ficou caracterizada nenhuma das circunstâncias previstas no art. 135 do CTN, ou seja, não houve a prática de atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos”. Assim, toda vez que o título possuir alguma nulidade de ordem pública que possa ser reconhecida de ofício pelo juiz, tal matéria pode ser alegada via exceção de pré-executividade. Passemos à análise da defesa mais comum, prevista na própria lei de execução fiscal. Estou me referindo aos embargos à execução fiscal, que será nosso próximo assunto. 3.2 - EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL A garantia do juízo para que o executado possa oferecer embargos, será feita de três modos: 1) O executado faz o depósito em dinheiro do valor cobrado; 2) O executado apresenta uma fiança bancária com relação ao valor cobrado; 3) É realizada a penhora de bens suficientes para pagar o valor executado, com os seus devidos acréscimos legais (arts. 9º e 16º da LEF). A forma mais comum é o executado oferecer um bem em garantia, para evitar que o judiciário realize a constrição judicial do seu patrimônio, principalmente, a penhora on-line em sua conta bancária. Feita a penhora e garantida a execução, o executado será intimado para opor embargos à execução. Nos embargos, o executado deverá alegar toda matéria útil à defesa, requerer provas e juntar os documentos e rol de testemunhas, se assim desejar (§ 2º do art. 16). O § 1º do art. 16 da LEF estabelece que não será possível o oferecimento de embargos à execução enquanto não garantida a totalidade da dívida. Art. 16 - O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados: I - do depósito; II - da juntada da prova da fiança bancária; III - da intimação da penhora. § 1º - Não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução. § 2º - No prazo dos embargos, o executado deverá alegar toda matéria útil à defesa, requerer provas e juntar aos autos os documentos e rol de testemunhas, até três, ou, a critério do juiz, até o dobro desse limite. § 3º - Não será admitida reconvenção, nem compensação, e as exceções, salvo as de suspeição, incompetência e impedimentos, serão argüidas como matéria preliminar e serão processadas e julgadas com os embargos. Com base no que foi dito acima, imaginemos a seguinte situação bem comum na prática. É executada pela Fazenda uma determinada dívida no valor de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais),sendo penhorado na conta do executado o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Com base na redação do § 1º do art. 16 da LEF, o executado não poderia oferecer embargos, já que a dívida não se encontra garantida na totalidade. Porém, os nossos tribunais entendem, seguindo a orientação do STJ, que antes de não conhecer os embargos por falta de garantida total da execução, o juiz deve intimar o executado, dando-lhe oportunidade de provar que não possui outros bens em seu nome, pois se não fosse assim, a lei estaria privilegiando, apenas, aqueles devedores que teriam condições financeiras de garantirem a dívida; quem não tivesse, jamais poderia se defender. Nesse momento, o executado poderá solicitar certidões aos cartórios de imóveis da sua região, provando assim que não possui outros bens imóveis em seu nome ou até mesmo apresentar sua declaração de imposto de renda, caso, tal documento, não comprometa ainda mais a sua situação. Caso o devedor não consiga apresentar nenhum documento convincente, o juiz poderá indeferir os seus embargos por ausência de garantia total da execução, cabendo ao executado recorrer dessa decisão, pois os nossos tribunais entendem, nesses casos, que os embargos devem ser processados e julgados, para que não haja o cerceamento do direito de defesa do executado, porém, não serão recebidos no efeito suspensivo, o que significa dizer que a execução fiscal irá prosseguir normalmente. Vejamos a seguinte ementa abaixo do TRF/5ª Região, localizado na cidade onde moro (Recife/PE), que trata sobre o tema: “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. GARANTIA PARCIAL DO JUÍZO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CABIMENTO. POSSIBILIDADE DE POSTERIOR GARANTIA INTEGRAL. PELO PROVIMENTO DO AGRAVO. 1. O STJ, no julgamento do REsp n. 1.127.815/SP, em 24/11/2010, de relatoria do ministro Luiz Fux, submetido ao regime do art. 543-C, do CPC, ratificou entendimento de que, uma vez realizada a penhora, ainda que insuficiente, encontra-se presente a condição de admissibilidade dos embargos à execução fiscal, diante da possibilidade de posterior garantia integral do juízo, mediante reforço da penhora. 2. Embora não tenha havido a integralidade da garantia, não há óbice à abertura de prazo para apresentação de embargos do devedor, razão pela qual a decisão recorrida não deve ser mantida. 3. Agravo de instrumento provido”.(TRF-5 - AG: 00073333620144050000 AL, Relator: Desembargador Federal Roberto Machado, Data de Julgamento: 11/12/2014, Primeira Turma, Data de Publicação: 19/12/2014) Com relação aos efeitos suspensivos dos embargos do devedor, o STJ também já pacificou a matéria, no sentido de que são aplicáveis à execução fiscal as disposições do CPC que exigem, para a concessão de efeito suspensivo aos embargos, além da prestação de garantia total da dívida, a presença de fundamentação jurídica relevante e a prova do risco de dano irreparável. Portanto, para ser concedido os efeitos suspensivos aos embargos, é essencial que haja a garantia total da execução, porém, essa condição, como já mencionada, não será óbice para que os mesmos sejam processados e julgados, porém, não serão recebidos no efeito suspensivo. A atual redação do § 1º do art. 919 do CPC/15, estabelece: Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo. § 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora,depósito ou caução suficientes. Grifos nossos. Trago adiante o seguinte julgamento a respeito dos efeitos suspensivos dos embargos: “EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. GARANTIA PARCIAL DE JUÍZO. RECEBIMENTO SEM ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. POSSIBILIDADE. EXCLUSÃO DA MULTA. ATO ATENTATÓRIO A DIGNIDADE DA JUSTIÇA. NÃO CONFIGURAÇÃO. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. I. Possibilidade de recebimento dos embargos à execução ainda que a penhora seja insuficiente, haja vista a possibilidade de seu reforço em momento posterior, nos termos do art. 15, II, da LEF. II. Aplicação do art. 739-A do CPC, com a alteração trazida pela Lei n.º 11.382/06, aos processos de execução fiscal, por atender ao princípio da ampla defesa inserto no art. 5º, lV, da CF/88. III. Recebimento dos embargos à execução, ainda que não garantido integralmente o juízo, sem, no entanto, atribuir-lhes efeito suspensivo. Precedentes desta eg. Quarta Turma (AC nº 480055/PE; AC Nº 488739-PE). IV. Exclusão da multa imposta a executada embasada no art. 600 e 601 do CPC, haja vista que o ajuizamento dos presentes embargos não se configurou em ato atentatório a dignidade da justiça. V. Apelação parcialmente provida”.(TRF-5 - AC: 00003988520144058501 AL, Relator: Desembargador Federal Edílson Nobre, Data de Julgamento: 15/12/2015, Quarta Turma, Data de Publicação: 18/12/2015) Recebidos os embargos e após a análise se será atribuído efeito suspensivo, o juiz mandará intimar a Fazenda para impugná-los no prazo de 30 dias (art. 17 LEF). Art. 17 - Recebidos os embargos, o Juiz mandará intimar a Fazenda, para impugná-los no prazo de 30 (trinta) dias, designando, em seguida, audiência de instrução e julgamento. Parágrafo Único - Não se realizará audiência, se os embargos versarem sobre matéria de direito, ou, sendo de direito e de fato, a prova for exclusivamente documental, caso em que o Juiz proferirá a sentença no prazo de 30 (trinta) dias. - Em todos esses meus anos de militância na esfera tributária, nunca fui para nenhuma audiência que tenha sido designada nos embargos à execução fiscal, o que demonstra se tratar de hipótese bem remota. Art. 21 - Na hipótese de alienação antecipada dos bens penhorados, o produto será depositado em garantia da execução, nos termos previstos no artigo 9º, inciso I. Essa hipótese ocorrerá quando não existir a atribuição de efeito suspensivo aos embargos ou se os mesmos forem julgados improcedentes, pois como já adiantado, o recurso de apelação contra sentença que indeferiu os embargos do devedor não será recebido no efeito suspensivo. Isso significa dizer que, mesmo com o recurso de apelação nos embargos do executado, a execução fiscal irá prosseguir e o passo seguinte será o juiz determinar a intimação da fazenda exequente para dar andamento à execução e requerer o que de direito. É nessa oportunidade que a exeqüente, geralmente, requer a designação de hasta pública para a venda antecipada do bem penhorado, o que, na maioria das vezes, é atendido pelo juiz, pois repita- se, o recurso do executado contra a sentença que julgou improcedentes os seus embargos não suspenderá o andamento da execução. Com a venda antecipada do bem, o valor arrecado, em leilão, será depositado em uma conta judicial e só será liberado para o credor, após o desfecho final do processo, mas, certamente, tal situação (venda antecipada do bem), causará um prejuízo incalculável ao executado, devendo ser evitável se possível. Hoje, o CPC/15 trouxe uma novidade a respeito do efeito suspensivo do recurso de apelação interposto nos embargos, que ao meu ver, facilitou e muito a vida do advogado, qual seja, a possibilidade do advogado apresentar petição ao relator para o qual foi distribuído o recurso de apelação, requerendo que atribua efeito suspensivo ao seu recurso, desde que comprove que existe a possibilidade de provimento do seu recurso e o perigo da demora. Essa regra se encontra estampada na redação do art. 1.012 do novo CPC, nos seguintes termos: Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. § 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: (...) III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; § 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II - relator, se já distribuída a apelação. § 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. - Recentemente, tive um caso no escritório em que os embargos à execução, apresentados pelo nosso cliente, foram indeferidos e nós tivemos que ingressar com o recurso de apelação. O juiz, dando andamento à execução, determinou a intimação da exeqüente para impulsionar o processo, requerendo a exeqüente a designação de hasta pública para a venda antecipada do carro penhorado do executado, o que foi deferido pelo juiz. Protocolei petição no Tribunal, endereçada ao Desembargador Relator da apelação, requerendo, com urgência, que fosse atribuído efeito suspensivo ao meu recurso, já que o meu cliente estava na iminência de perder o seu carro, essencial na realização dos seus afazeres diários. Demonstrei ainda que existia a real possibilidade de ser provido o meu recurso, pois embasei o seu mérito na prescrição, forma essa de extinção do crédito tributário. Assim, com base na redação do § 4º do art. 1012 do novo CPC acima transcrito, o Desembargador concedeu o efeito suspensivo ao recurso de apelação, cancelando a venda do veículo até o julgamento do mérito do recurso. Esses seriam os aspectos mais importantes relacionados aos embargos à execução fiscal. Passaremos a analisar assunto de igual importância, muito utilizado na defesa dos nossos clientes na execução fiscal, pois é uma das formas de extinção do crédito tributário. Estou me referindo à prescrição e à decadência. 3.3 - PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA A Decadência é o perecimento do direito de lançar ou constituir o crédito tributário e sua definição se encontra prevista no art. 173 CTN, o qual possui a seguinte redação: Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; Vamos, novamente, utilizar o caso citado no processo administrativo tributário já estudado, como exemplo. Relembrando: no ano de 2007, o nosso cliente, que é uma construtora, sofreu uma fiscalização de um auditor fiscal, solicitando que apresentasse a prova do recolhimento das contribuições previdenciárias dos seus funcionários, referentes a várias obras executadas pela empresa para diversos órgãos públicos, no ano de 1997, ou seja, dez anos antes do início da fiscalização. Como a empresa não apresentou a documentação exigida, contra ela foi lavrado auto de infração relativo à multa pelo descumprimento da obrigação acessória e a cobrança acabou sendo extinta pela decadência. Isso porque, o fato gerador da dívida era do ano de 1997 e de acordo com o inciso I do art. 173 do CTN, o primeiro dia do exercício seguinte, seria o dia 01/01/1998, findando-se o prazo decadencial de cinco anos em 31/12/2002.Como só em 2007 o auditor fiscal solicitou o comprovante do pagamento das contribuições previdenciárias, tal crédito não poderia mais ser exigido, pois se encontrava envolvido pelo manto da decadência. Portanto, o prazo da decadência começará a fluir a partir do primeiro dia do exercício seguinte ao fato gerador e, geralmente, será de cinco anos. Seria o prazo para o fisco intimar, ao devedor, sobre a existência de um débito, oferecendo, inclusive, a oportunidade de defesa na esfera administrativa. Se o contribuinte é intimado para apresentar defesa e não apresenta, a partir daí estará constituído o crédito tributário e começará fluir o prazo de prescrição. Grifei novamente a sílaba “ção”de propósito, pois constituído o crédito tributário, o fisco terá cinco anos para propor a ação, cobrando o crédito fiscal. Assim, prescrição é o perecimento do direito de propor a ação de cobrança, geralmente, a execução fiscal. Sua regra está estampada na redação do art. 174 CTN, nos seguintes termos: Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva. Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; II - pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. Lembrando que hoje, como já visto, os principais impostos são constituídos por homologação, atribuindo o fisco, ao contribuinte, a prerrogativa de calcular o imposto por antecipação, informar o quanto que terá que pagar e já recolher a referida quantia aos cofres públicos. Apenas relembrando: o lançamento por homologação é o mais importante e comum entre os principais tributos e engloba os mais conhecidos impostos e contribuições, como o IRPJ, ICMS, CSLL, IPI, PIS e COFINS. Impõe-se ao sujeito passivo o dever de apurar os dados necessários à constituição do crédito e já antecipar o pagamento do tributo, sem o prévio exame da autoridade administrativa. Na medida em que o contribuinte apura os créditos e débitos (hipóteses de DCTF: declaração de créditos e débitos de tributos federais; GIA: Guia de informação e apuração do ICMS; GFIP: Guia de recolhimento do FGTS e informação à previdência social), atua constituindo o crédito tributário, sendo desnecessário o ato de lançamento por parte da fazenda pública. A partir da data em que o contribuinte firma a declaração em questão e não efetua o pagamento do imposto, terá inicio o prazo de prescrição para a fazenda pública propor a execução fiscal (Resp 701.634/SC). Portanto, de acordo com a súmula 436 do STJ já estudada, se o contribuinte informa ao fisco que tem que pagar determinado quantia no mês, relativa a determinado imposto e não paga, já estará constituído o crédito tributário e a partir do vencimento daquele imposto, se contará o prazo prescricional de cinco anos para a fazenda cobrar aquele débito em juízo. Transcrevo novamente a redação da súmula 436 do STJ: “A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco”. Resumindo, prestadas as declarações ao fisco e não pago o Tributo, da data do seu vencimento começará a fluir o prazo prescricional de cinco anos para a Fazenda propor a ação cobrando o crédito tributário. Esse é o entendimento atual do STJ a respeito da prescrição em matéria tributária, pacificando o entendimento no Resp nº. 1.120.295/SP, julgado sob a sistemática do art. 543-C do antigo CPC, de que o art. 174 CTN deve ser interpretado conjuntamente com o art. 219, § 1º do antigo CPC, sendo o dia da propositura da ação o dies ad quem do prazo prescricional.Portanto, se entre a data da constituição do título e a data da propositura da ação não tiver decorrido o prazo do art. 174 CTN ( 05 anos), não deve ser decretada a prescrição. No entanto, peço vênia para discordar do referido posicionamento do Eg. STJ, pois a redação do inciso I, do parágrafo único, do art. 174 do CTN, acima transcrito, determina que, hoje, será o despacho do juiz ordenando a citação que vai interromper o prazo prescricional e não a data da propositura da ação. Ora, a CF, em seu art. 146, estipula que lei complementar vai regular matéria relativa a prescrição e a decadência e o Código Tributário Nacional é lei complementar e regula a matéria em seus artigos 173 e 174 acima transcritos. Desta forma, o STJ não poderia embasar o seu entendimento na redação do art. 219, § 1º do CPC revogado, já que se trata de lei ordinária, no sentido de que é a data da propositura da ação que vai interromper o prazo prescricional A redação do art. 219, § 1º do antigo CPC assim estabelece: Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. § 1º A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação. Repita-se, o CTN, que é lei complementar, determina que será o despacho do juiz, ordenando a citação, que interromperá o prazo prescricional, não sendo compreensível, por qual razão, o STJ adotou como suas razões de decidir,a redação do § 1º do art. 219 do antigo CPC, que é lei ordinária. Todavia, como o que vale é o entendimento do STJ em matéria infraconstitucional, saibam que este,hoje,é o entendimento adotado em relação à prescrição. Convém ainda comentar que o art. 156 CTN estabelece que extingue o crédito tributário a prescrição e a decadência. Por sua vez, o art. 151 do CTN, que prevê as hipóteses de suspensão do crédito tributário, estabelece que o prazo prescricional para a propositura da execução fiscal pela Fazenda Pública não correrá diante das seguintes hipóteses: 1) Durante o processo administrativo em que houve defesa; 2) Durante o período em que estiver vigente a liminar concedida em mandado segurança; 3) Se for concedida tutela antecipada ou liminar em outra ação em que se está discutindo a exigência tributária; 4) Durante período em que estará vigente o parcelamento deferido pela Fazenda Pública. Apesar do art. 151 falar em suspensão, na verdade, haverá a interrupção do prazo prescricional. A título de exemplo, imaginemos a situação em que o contribuinte aderiu a vários parcelamentos instituídos pelo governo. Em cada nova adesão, houve a interrupção do prazo prescricional, voltando o prazo de cinco anos a se iniciar na totalidade, toda vez que o contribuinte for excluído do parcelamento por falta de pagamento. Essas seriam as considerações mais importantes a respeito da prescrição e decadência. Vamos agora a analisar uma outra forma de extinção do crédito tributário: a prescrição intercorrente. 3.4 - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE Prescrição intercorrente se encontra prevista na redação do § 4º do art. 40 da lei 6.830/80, com a seguinte redação: Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição. § 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao representante judicial da Fazenda Pública. § 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos. § 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os bens,serão desarquivados os autos para prosseguimento da execução. § 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato. O tema também foi abordado no enunciado da Súmula 314 STJ, abaixo transcrito: “Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo de prescrição qüinqüenal intercorrente”. Na prática como se opera a prescrição intercorrente? Como o próprio nome já diz, inter-corrente (fiz a separação de propósito), ou seja, ocorrerá no decorrer do processo, ou contrário da prescrição do art. 174 do CTN, que será a perda do prazo qüinqüenal para propor a ação de cobrança. Quando não for localizado o devedor ou bens do mesmo, hipótese esse também muito comum, o juiz suspenderá o processo pelo prazo de um ano e se transcorridos o prazo prescricional, geralmente de cinco anos, será decretada a prescrição intercorrente. Assim, se transcorridos mais de seis anos no total, contados do despacho do juiz que ordenou a suspensão do processo ( 1 ano de suspensão + 5 anos do prazo prescricional ), será decretada a prescrição intercorrente. - Tive um caso no escritório em que o processo de um determinado cliente ficou parado no cartório, pela lentidão do mesmo, por um período superior à 10 anos, sem a empresa ter sido sequer, citada para se defender. Quando, finalmente, a empresa foi citada, em exceção de pré- executividade, nós alegamos a prescrição intercorrente do crédito tributário, face à quantidade de tempo em que o processo ficou sem qualquer movimentação, pois não protocolou a Fazenda, sequer, uma única petição impulsionando a ação. Não foi acolhido o nosso pedido em razão de: 1) não ter existido na ação executiva despacho do juiz ordenando a suspensão do processo pelo prazo de 01 ano, apenas o processo ficou parado por culpa exclusiva do próprio judiciário; 2) a Fazenda ingressou com a ação executiva dentro do prazo prescricional de 05 anos e caberia ao judiciário ter dado o impulso oficial para o andamento do processo e por fim, 3) face o enunciado da súmula 106 STJ que estabelece: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivo inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência”. Esse é o entendimento majoritário do judiciário com relação a prescrição intercorrente, o qual, nós não concordarmos, data máxima vênia, pois, 1) o contribuinte não pode ficar à mercê da Fazenda ad eternum, cabendo a mesma agilizar o andamento das suas ações, haja vista, não ser permitido ao judiciário fazer o papel da parte, principalmente, diante do princípio da segurança jurídica e 2) diante do fato da súmula 106 do STJ ser datada do ano de 1994, quando os processos não eram eletrônicos, não sendo concebível que hoje, com o avanço da tecnologia, a parte deixe o processo por longos anos sem dar nenhum andamento, não protocolando sequer, uma única petição. Trago abaixo, um julgamento do TRF/5ª Região que reforça o meu entendimento: “EMENTA PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. PARALISIA DO PROCESSO DE EXECUÇÃO POR MAIS DE 14 ANOS SEM QUE SE INTENTASSE SEQUER A CITAÇÃO. INÉRCIA DO EXEQUENTE. ABANDONO. PRESCRIÇÃO CONSUMADA.- Ainda que o Judiciário não tenha funcionado como deveria, dado que o processo esteve indevidamente paralisado desde a distribuição da inicial, não havendo, sequer, a expedição do mandado de citação, não se pode deixar de debitar, concorrentemente, ao exeqüente, a demora, dado que é obrigação do procurador da parte provocar o juiz a cumprir suas obrigações funcionais;- Na interpretação dos conceitos jurídicos é sempre oportuno considerar os fatos, máxime aqueles excepcionais, como a demora desmedida da hipótese concreta, dado que pequena diferença de fato (enorme, no caso) pode determinar grande diferença de direito;- No caso, o processo de execução esteve parado por 14 anos a fio, sem que a citação fosse ao menos tentada, e durante todo este tempo a exeqüente também permaneceu inerte, paralisada, sem requerer qualquer providência. É verdade que o princípio do impulso oficial recomenda que o próprio judiciário seja responsável pela sequência do processo, uma vez provocado pela exordial. Contudo, no caso especial dos autos não se pode deixar de debitar, ao menos concorrentemente, ao exeqüente, uma paralisação para além de dez anos (catorze, para ser exato);- Agravo de Instrumento provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que figuram como partes as acima indicadas.DECIDE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por maioria, DAR PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, nos termos do voto condutor e das notas taquigráficas, que passam a integrar o presente julgado.Recife, 14 de maio de 2013”. (AGTR 124754/PE, DES. PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA). GRIFOS. Nota-se que, no caso acima, não foi necessário o juiz primeiro suspender o processo pelo prazo de 01 ano, diante do grande lapso de tempo em que o mesmo ficou paralisado em cartório,sem que o fisco impulsionasse a ação executiva. Repita-se, não cabe ao judiciário fazer o papel da parte. O direito é igual para todos, para o contribuinte e para o fisco. Sendo essas considerações a respeito da prescrição intercorrente, vamos agora comentar sobre outros artigos importantes da lei 6.830/80. 3.5 – OUTROS ARTIGOS IMPORTANTES DA LEF Comentarei sobre alguns artigos da LEF também muito utilizados na prática. Art. 28 - 0 Juiz, a requerimento das partes, poderá, por conveniência da unidade da garantia da execução, ordenar a reunião de processos contra o mesmo devedor. Parágrafo Único - Na hipótese deste artigo, os processos serão redistribuídos ao Juízo da primeira distribuição. O art. 28 prevê a possibilidade de serem reunidas várias execuções em um só processo, por conveniência do juízo e a requerimento da parte e isso não é ruim, desde que estejam presentes requisitos mínimos, como os processos estarem na mesma fase processual, para não prejudicar as partes. Imaginemos um escritório que tem um cliente com várias execuções fiscais correndo contra ele. Com a reunião dos processos, será só uma execução, uma só defesa, um só recurso, não sendo necessário que, todo dia, existam várias publicações com vários prazos e entendimentos diferentes. Tudo ficará restrito a um só processo, que será bem maior, é verdade, já que as outras execuções ficais serão extintas para serem reunidas a esse processo piloto ou matriz, como queiram chamar. Mas caso uma execução tenha penhora e a outra não, caso uma execução tenha defesa e a outra não, uma tenha recurso ainda pendente de julgamento e a outra não, os processos não poderão ser reunidos em um só, já que estão em fases processuais diferentes. Caso isso ocorra, caberá, à parte, recorrer, requerendo ao tribunal que determine o desentranhamento das ações para que voltem a tramitar em separado. -Já tive casos no escritório em que houve a reunião indevida das execuções fiscais, face as ações se encontrarem em fases processuais diferentes e com o protocolo do nosso recurso, o Tribunal determinou que cada execução tramitasse em separado, o que atrasou ainda mais o andamento dos processos, já que os atos realizados, pelo juiz, após a reunião das ações, foram todos anulados, voltandocada ação a tramitar de onde haviam parado antes da reunião. Art. 38 - A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta Lei, salvo as hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos. Parágrafo Único - A propositura, pelo contribuinte, da ação prevista neste artigo importa em renúncia ao poder de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso acaso interposto. O citado art. 38 da LEF informa que a dívida ativa só poderá ser questionada dentro da execução fiscal, a não ser que a parte ingresse com mandado de segurança, com ação de repetição de indébito ou com ação anulatória de débito fiscal, esta (ação anulatória), precedida de depósito prévio da dívida que está sendo questionada em juízo, com as suas respectivas correções e juros, inclusive, honorários da fazenda. Então pergunta-se: para se ingressar com ação anulatória, sempre será necessário o depósito prévio do valor atualizado da dívida, que se pretende questionar em juízo ? A resposta é não, porque se fosse assim se estaria beneficiando apenas aqueles devedores que teriam condições financeiras de realizarem o depósito. Quem não tivesse, jamais poderia ingressar com ação anulatória e questionar a dívida em juízo. Veremos esse assunto novamente quando falarmos sobre a ação anulatória, porém já adianto que se a parte ingressar com ação anulatória e realizar o depósito integral, a Fazenda não poderá executar a dívida, terá que discutir o débito na ação anulatória. Agora, se for proposta a ação anulatória sem o depósito prévio, não haverá empecilho para que a Fazenda cobre a dívida em juízo, diante da prevalência do direito público sobre o direito privado, pois, caso contrário, bastaria o contribuinte ingressar com ação anulatória e conseguir a tutela, nos moldes do art. 151 do CTN, para que a Fazenda ficasse impedida de buscar o seu crédito judicialmente. Art. 39 - A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos. A prática dos atos judiciais de seu interesse independerá de preparo ou de prévio depósito. Parágrafo Único - Se vencida, a Fazenda Pública ressarcirá o valor das despesas feitas pela parte contrária. Mais um privilégio da Fazenda que poderá ingressar com todos os recursos permitidos em lei sem a necessidade de pagamento de custas. Porém, caso ela perca a ação, também será condenada ao pagamento de honorários da parte contrária, principalmente, com o advento do § 3º do art. 85 do novo CPC, o qual estabelece: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. (...) § 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais: I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos; II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos; III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos; IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos; V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos. Essa inovação do novo CPC foi importantíssima para nós advogados, pois quem atua na justiça federal sabe que as condenações da Fazenda em honorários, quando ocorrem, são irrisórias, sendo totalmente desrespeitosas com a nossa profissão. Com essas considerações, acabamos o assunto relacionado à execução fiscal. Trago para os meus leitores um modelo de embargos à execução fiscal e um modelo de exceção de pré-executividade, pois o objetivo deste livro é a prática jurídica tributária e a prática, sem a escrita, é no mínimo deficitária. 3.6 – MODELO DE EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE PERNAMBUCO. POR DEPENDÊNCIA À EXECUÇÃO FISCAL N.º 000 A LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº ...., com sede na Av. , nº. , sala , PE, por seus advogados in fine assinados, constituídos através do instrumento procuratório/contrato social anexo (docs. 01/02), com escritório profissional constante no timbre abaixo, local onde receberão as intimações de estilo, VEM, respeitosamente, à presença de V.Exa., estribada no artigo 16 da lei 6.830/80 e demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, opor... EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL em face da FAZENDA NACIONAL (UNIÃO FEDERAL), pelos argumentos de fato e de direito a seguir aduzidos: - DA ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS À EXECUÇÃO. PARÁGRAFO PRIMEIRO DO ARTIGO 919 DO CPC. Estabelece a redação do § 1º do art. 919 do CPC atual: Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo. § 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes. Se encontram presentes os requisitos autorizadores do efeito suspensivo aos presentes embargos, pois primeiro, a dívida executada se encontra garantida por bem avaliado na execução em R$ 8.700.000,00 (oito milhões e setecentos mil reais), ou seja, quantia bem superior ao débito objeto da ação. Da mesma forma, demonstrará a embargante, que a embargada incluiu indevidamente o ICMS e o ISS na base de cálculo do PIS, o que não é permitido pelo nosso ordenamento jurídico, o que, inclusive, já foi pacificado pelos nossos Tribunais Superiores, caracterizando o fundamento relevante. Também se encontra presente o dano de difícil reparação, pois foi penhorado imóvel de alto valor comercial e caso não seja atribuído efeito suspensivo aos embargos, o bem penhorado estará sujeito à venda em hasta pública, antes do julgamento da presente defesa, cerceando o direito de defesa da embargante. No mais, nenhum prejuízo será causado a parte exeqüente/embargada em se suspender a execução, pois não se está buscando a liberação do bem imóvel penhorado, apenas a suspensão da execução fiscal até o julgamento em definitivo dos presentes embargos. ANTE O EXPOSTO, imperioso se faz que se atribua efeito suspensivo aos presentes embargos, face se encontrarem presentes os requisitos do § 1º do art. 919 do CPC, haja vista as lesões graves e de difícil reparação que advirão à Embargante com o prosseguimento da ação executória, inclusive, com a possibilidade da venda do imóvel penhorado em leilão, o que, por si só, já demonstra a necessidade de suspensão do processo executivo. - DA TEMPESTIVIDADE DOS PRESENTES EMBARGOS: A Embargante foi intimada do auto de penhora e avaliação em 06/05/2015 e em conformidade com o disposto no art. 16 da Lei nº 6.830/80, o prazo para apresentação de defesa é de 30 dias, findando- se em 05/06/2015. Portanto, tempestivos são os presentes embargos, pelo que, passa a embargante a demonstrar as razões de fato e de direito pelos quais a execução fiscal deve serextinta. - DOS FATOS E DO DIREITO: Trata-se de execução fiscal proposta pela União Federal / Fazenda Nacional, com vistas a constituir contra a ora Embargante, crédito tributário relativo à contribuição (PIS), mais multa, relativa a CDA nº. 40...- 51, referente ao período de 30/06/1994 à 30/12/94. Sucede Exa. que, de plano, há de se constatarem vícios que maculam a Certidão da Dívida Ativa acima apontada e, portanto, todo o processo executivo, qual seja, a falta de certeza, liquidez e exigibilidade do título executivo, diante da inclusão indevida do ICMS e do ISS na base de cálculo do PIS.. Assim sendo Exa., o crédito executado é ilegítimo, ante as razões a seguir expostas: 1- DA AUSÊNCIA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO: A presente Execução Fiscal, originada da cobrança de crédito tributário a favor da Fazenda Pública Federal, carece do pressuposto essencial para o seu seguimento, qual seja, a LIQUIDEZ da dívida, haja vista, como dito, a inclusão indevida do ICMS e ISS na base de cálculo do PIS, matéria essa pacificada pelo Eg. STF. Ensina a lição de Luiz E. A. Bojunga1: “Quem indica existência ainda não contempla validade. Pode, pois, instaurar-se um processo (de execução, no caso) mediante demanda inválida”. A petição inicial, se viciada, é, evidentemente, inepta, ainda que, no primeiro momento, possa haver iludido o juiz que a receba, por parecer a este correta e cabível.” A ação executiva, enquanto ação que é, há de atender não só aos requisitos genéricos que condicionam a legitimidade da relação processual, mas também aos específicos que lhe são próprios. A inobservância de qualquer destes requisitos, quer gerais, quer específicos, torna o credor parte ilegítima para mover a ação porque ele não será titular da pretensão executiva, devendo o juiz proferir sentença terminativa da execução. Assim, quando do recebimento da petição inicial da execução, é da atividade saneadora do magistrado examinar se estão presentes seus requisitos, ou seja, verificar a existência de título executivo hábil, a legitimidade ativa e passiva das partes exeqüente e executada, a presença dos requisitos de liquidez, certeza e exigibilidade do título, bem como se estão presentes os pressupostos processuais, com redobrada atenção no que tange à coerência lógica entre o pedido formulado na petição inicial e o direito representado no título executivo. No dizer de RENATO VASCONCELOS MAGALHÃES, juiz de Direito no Rio Grande do Norte, tais requisitos, “são necessários para que se instaure validamente o processo, bem como para que se dê o seu regular desenvolvimento. Esta é uma exigência que tem o fito de evitar demandas temerárias, que trariam transtornos tanto ao réu quanto ao próprio Estado, que movimentaria toda a sua máquina judiciária para uma pretensão desprovida de respaldo legal.” 2 Alerta, ainda, o mesmo autor: “Quando se trata de processo de execução, o zelo do juiz deverá ser ainda maior, pois, enquanto no processo de conhecimento o juízo de admissibilidade pode ser realizado em outras fases, como a saneadora, permitindo-se a correção de eventuais erros, no processo executivo, o único momento de que dispõe o julgador para verificar a presença dos requisitos essenciais é o do despacho liminar. Por isso, diz-se que o controle de admissibilidade na execução é concentrado.”3 Entendido isto, temos que, entre os casos nos quais o juiz pode e deve indeferir in limine a petição inicial do exeqüente, figura o da inexeqüibilidade do título. É o que ocorre, v.g., quando se promove a execução com base num documento que não tenha eficácia executiva, isto é, não reúna os requisitos formais e substanciais exigidos pela lei para ser considerado título executivo. Ora, se o título não for exeqüível, não tem sentido a penhora que garante o juízo, pois desaparece o seu fundamento lógico e jurídico. Portanto, para que o título se configure como hábil de exigibilidade, conforme entendimento acima esboçado, imprescindível que o mesmo esteja dotado de CERTEZA, EXIGIBILIDADE e LIQUIDEZ, fato que NÃO se configura na presente demanda judicial, conforme será demonstrado a seguir. – DA NÃO INCLUSÃO DO ICMS – IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS E DO ISS – IMPOSTO SOBRE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, NA BASE DE CÁLCULO DO PIS O artigo 3º, parágrafo primeiro, da Lei n. 9.718/98 ao pretender alterar a sistemática da cobrança do PIS e da COFINS, em especial alargando a sua base de cálculo de faturamento (considerado como resultado da venda de produtos ou da prestação de serviços), para receita bruta (tida como a totalidade das receitas auferidas, independentemente da classificação contábil destas), ofendeu o art. 195 da Constituição Federal. O diploma em espécie não possuía respaldo constitucional para promover tal ampliação, uma vez que à época de sua aprovação e edição vigorava a redação original do inciso I, do artigo 195, da Carta Magna, que não previa a incidência das contribuições sociais sobre a receita bruta. O termo “faturamento”, cuja definição vem sendo paulatinamente delineada pelo Supremo Tribunal Federal, constitui o resultado decorrente das vendas de mercadorias, bens e serviços das empresas, nos termos dos seus objetos sociais, excluindo, por conseguinte, quaisquer outros acréscimos não decorrentes dessa espécie de entrada ou que serão transferidos a outros entes, como por exemplo o ICMS e o ISS. O PIS e a COFINS são tributos destinados ao custeio da seguridade social e cuja fonte/base de cálculo é o faturamento. A sua regra se encontra prevista no art. 195, I, alínea “b”da Carta Política de 1988, in verbis: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: ................................................... b) a receita ou o faturamento;” Acontece que Nobre Magistrado, o Plenário do STF, no julgamento do RE nº. 240.785/MG, decidiu que o ICMS não compõe a base de cálculo da Cofins, por não se enquadrar no conceito de faturamento, entendimento este que pode ser aplicado ao PIS, bem como, ao ISS, que também compõe a base de cálculo do PIS/COFINS, conforme trechos da decisão abaixo transcrita: “RE 240.785 / MG – Minas Gerais RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Parte(s) RECTE.(S) : AUTO AMERICANO S/A DISTRIBUIDORA DE PEÇAS RECDO.(A/S) : UNIÃO PROC.(A/S) (ES) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL “...A tríplice incidência da contribuição para financiamento da previdência social, a cargo do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, foi prevista tendo em conta a folha dos salários, o faturamento e o lucro. As expressões utilizadas no inciso I do art. 195 em comento hão de ser tomadas no sentido técnico consagrado pela doutrina e jurisprudencialmente. Por isso mesmo, esta Corte glosou a possibilidade de incidência da contribuição, na redação primitiva da Carta, sobre o que pago àqueles que não mantinham vínculo empregatício com a empresa, emprestando, assim, ao vocábulo “salários”, o sentido técnico-jurídico, ou seja, de remuneração feita com base no contrato de trabalho – Recurso Extraordinário nº 128.519-2/DF. Jamais imaginou-se ter a referência à folha de salários como a apanhar, por exemplo, os acessórios, osencargos ditos trabalhistas resultantes do pagamento efetuado. Óptica diversa não pode ser emprestada ao preceito constitucional, revelador da incidência sobre o faturamento. Este decorre, em si, de um negócio jurídico, de uma operação, importando, por tal motivo, o que percebido por aquele que a realizada, considerada a venda de mercadoria ou mesmo a prestação de serviços. A base de cálculo da COFINS não pode extravasar, desse modo, sob o ângulo do faturamento, o valor do negócio, ou seja, a parcela percebida com a operação mercantil ou similar. O conceito de faturamento diz como riqueza própria, quantia que tem ingresso nos cofres de quem procede à venda de mercadorias ou à prestação de serviços, implicando, por isso mesmo, o envolvimento de noções próprias ao que se entende como receita bruta. Descabe assentar que os contribuintes da COFINS faturam, em si, o ICMS. O valor deste revela, isto sim, um desembolso a beneficiar a entidade de direito público que tem a competência para cobrá-lo. A conclusão a que chegou a Corte de origem, a partir de premissa errônea, importa na incidência do tributo que é a COFINS, não sobre o faturamento, mas sobre outro tributo já agora da competência de unidade da Federação. No caso dos autos, muito embora com a transferência do ônus para o contribuinte, ter-se-á, a prevalecer o que decidido, a incidência da COFINS sobre o ICMS, ou seja, a incidência de contribuição sobre imposto, quando a própria Lei Complementar nº 70/91, fiel à dicção constitucional, afastou a possibilidade de incluir- se, na base de incidência da COFINS, o valor devido a título de IPI. Difícil é conceber a existência de tributo sem que se tenha uma vantagem, ainda que mediata, para o contribuinte, o que se dirá quanto a um ônus, como é o ônus fiscal atinente ao ICMS. O valor correspondente a este último não tem a natureza de faturamento. Não pode, então, servir à incidência da COFINS, pois não releva medida de riqueza apanhada pela expressão contida no preceito da alínea “b” do inciso I do art. 195 da Constituição Federal. Cumpre ter presente a advertência do ministro Luiz Gallotti, em voto proferido no Recurso Extraordinário nº 71.758: “se a lei pudesse chamar de compra e venda o que não é compra, de exportação o que não é exportação, de renda o que não é renda, ruiria todo o sistema tributário inscrito na Constituição – RTJ 66/165. Conforme salientado pela melhor doutrina, “a COFINS só pode incidir sobre o faturamento que, conforme visto, é o somatório dos valores das operações negociais realizadas”. A contrário sensu, qualquer valor diverso deste não pode ser inserido na base de cálculo da COFINS. Há de se atentar para o princípio da razoabilidade, pressupondo-se que o texto constitucional mostre-se fiel, no emprego de institutos, de expressões e de vocábulos, ao sentido próprio que eles possuem, tendo em vista o que assentado pela doutrina e pela jurisprudência. Por isso mesmo, o artigo 110 do Código Tributário Nacional conta com regra que, para mim, surge simplesmente pedagógica, com sentido didático, a revelar que: A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios para definir ou limitar competências tributárias. Da mesma forma que esta Corte excluiu a possibilidade de ter-se, na expressão “folhas de salários”, a inclusão do que satisfeito a administradores, autônomos e avulsos, não pode, com razão maior, entender que a expressão “faturamento” envolve, em si, ônus fiscal, como é o relativo ao ICMS, sob pena de desprezar-se o modelo constitucional, adentrando-se a seara imprópria da exigência da contribuição, relativamente a valor que não passa a integrar o patrimônio do alienante quer de mercadoria, quer de serviço, como é o relativo ao ICMS. Se alguém fatura ICMS, esse alguém é o Estado e não o vendedor da mercadoria. Admitir ao contrário é querer, como salientado por Hugo de Brito Machado em artigo publicado sob o título “COFINS – Ampliação da base de cálculo e compensação do aumento de alíquota”, em “CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS – PROBLEMAS JURÍDICOS”, que a lei ordinária redefina conceitos utilizados por norma constitucional, alterando, assim, a Lei Maior e com isso afastando a supremacia que lhe é própria. Conforme previsto no preceito constitucional em comento, a base de cálculo é única e diz respeito ao que faturado, ao valor da mercadoria ou do serviço, não englobando, por isso mesmo, parcela diversa. Olvidar os parâmetros próprios ao instituto, que é o faturamento, implica manipulação geradora de insegurança e, mais do que isso, a duplicidade de ônus fiscal a um só título, a cobrança da contribuição sem ingresso efetivo de qualquer valor, a cobrança considerado, isso sim, um desembolso. Por tais razões, conheço deste recurso extraordinário e o provejo para, reformando o acórdão proferido pela Corte de origem, julgar parcialmente procedente o pedido formulado na ação declaratória intentada, assentando que não se inclui na base de cálculo da contribuição, considerado o faturamento, o valor correspondente ao ICMS. Com isso, inverto o ônus da sucumbência, tais como fixados na sentença prolatada”. Grifos. Como dito, o PIS e a COFINS são espécies tributárias autônomas, inseridas no ordenamento jurídico pela Constituição Federal de 1988, destinadas a assegurar direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social, sendo devidas por toda a sociedade, diretamente e indiretamente e possuem como base de cálculo o faturamento, conforme a redação do art. 195 da CF acima transcrito. Em outras palavras, a inclusão indevida do ICMS e do ISS na base de cálculo do PIS e da COFINS pela embargada, extrapolou o conceito de faturamento previsto no art. 195, I, alínea “b” da CF, de acordo com o que foi decidido pelo STF no RE nº. 240.785/MG, razão pela qual, deve ser extinta a presente execução. Por conseguinte, o ICMS e o ISS não se enquadram no conceito constitucional de faturamento e nem de receita bruta, acrescentado pela lei nº. 12.973, de 14 de maio de 2014, já que não tem natureza de receita e nem revela medida de riqueza, sendo na verdade, uma despesa do contribuinte, que atua na condição de mero intermediário da sua arrecadação. Quem fatura o ICMS e o ISS são os entes federativos responsáveis pela sua arrecadação, no caso o Estado e o Município. Ora M.M Juiz, despesa não é faturamento. Faturamento, conforme o entendimento do Pretório Excelso é a receita decorrente da venda de serviços e/ou mercadorias. Assim, podemos afirmar que o ICMS e o ISS são receitas do Fisco Estadual e Municipal, não do contribuinte, razão pela qual, a sua incidência sobre a base de cálculo do PIS e da COFINS, se constitui em verdadeira bitributação (imposto sobre imposto). Lei ordinária não pode alterar norma constitucional, sob pena de ir de encontro ao princípio da segurança jurídica. Tal vedação se encontra prevista no art. 110 do CTN, in verbis: A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios para definir ou limitar competências tributárias. Grifos. Resta evidente, como dito, que o mesmo fundamento adotado pelo STF comrelação a COFINS, também deve ser utilizado com relação ao PIS, por ambas serem contribuições sociais destinadas a financiarem a seguridade social, cuja base de cálculo é o faturamento. Porém, o valor do IMPOSTO SOBRE AS MERCADORIAS E SERVIÇOS – ICMS, bem como o IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA - ISSQN, não podem estar integrando a base calculada do PIS e da COFINS, por afronta ao Princípio da Capacidade Contributiva, o Princípio da Legalidade, o Princípio da Tipicidade e o Princípio da Segurança Jurídica. Portanto, o parágrafo primeiro do artigo 3º da Lei n. 9.718/98 carece de fundamento de validade, sendo que sua flagrante e inescusável inconstitucionalidade foi reconhecida pelo PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Pede vênia também a ora embargante para transcrever abaixo a sentença proferida nos autos do Processo n. 0000240- 87.2012.4.03.6130, da Justiça Federal de São Paulo, em matéria similar ao presente caso, in verbis: “A lógica adotada no julgado é exatamente a mesma espelhada na inicial do presente mandamus, ou seja, tanto o ICMS quanto o ISS não integram o faturamento da impetrante, mas, sim, fazem parte das arrecadações estadual e municipal, respectivamente, nessa medida não podem ser incluídos na base de cálculo das contribuições para o PIS/PASEP e COFINS. Ora, a base de cálculo do PIS e da COFINS deve corresponder ao faturamento, ou seja, ao valor do negócio, o que foi efetivamente recebido com a operação mercantil ou prestação de serviços. Faturamento é receita própria, quantia que tem ingresso nos cofres de quem procede à venda de mercadorias ou a prestação dos serviços. Nessa medida, não se pode afirmar que os contribuintes da COFINS “faturam” o ICMS ou o ISS. Tais valores representam pagamento ao Estado ou ao Município, portanto despesa e não receita.Faturamento deve implicar, portanto, ingresso financeiro, o que não ocorre no caso do ICMS e do ISS que, conforme já mencionado, ingressam para as pessoas políticas com competência tributária para instituição dos tributos.A tributação se dá por meio de signos presuntivos de riqueza eleitos pela Constituição Federal, pois reveladores de capacidade contributiva, ora, a inclusão do ICMS ou ISS na base de cálculo do PIS e COFINS representa a tributação de riqueza que não pertence ao contribuinte.No sentido exposto, segue julgado proferido pelo Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª. Região:TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. NÃO INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO. COMPENSAÇÃO.Não é de ser incluído o ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS, tendo em vista recente posicionamento do STF sobre a questão do julgamento, ainda em andamento, do Recurso Extraodinário n. 240.785-2.Isso porque, na retomada do apontado julgamento (RE n. 240.785- 2), o Ministro Marco Aurélio, Relator, deu provimento ao recurso, no que foi acompanhado pelos Ministros Ricardo Lewandowski, Carlos Britto, Cezar Peluso, Carmen Lúcia e Sepúlveda Pertence. Entendeu o Ministro Relator estar configurada a violação ao artigo 195, I, da Constituição Federal, ao fundamento de que a base de cálculo do PIS e da COFINS somente pode incidir sobre a soma dos valores obtidos nas operações de venda ou de prestação de serviços, ou seja, sobre a riqueza obtida com a realização da operação, e não sobre o ICMS, que constitui ônus fiscal e não faturamento. (Informativo do STF n. 437, de 24/08/2006).Embora o referido julgamento ainda não tenha se encerrado, não há como negar que traduz concreta expectativa de que será adotado o entendimento de que o ICMS deve ser excluído da base de cálculo do PIS e da COFINS.Quanto à compensação, a questão, no âmbito desta Turma, passou a ser resolvida no sentido que o regime aplicável à compensação é o vigente ao tempo da propositura da ação, conforme julgamento da Apelação n. 0005742-26.2005.403.6106/SP, ocorrido em 15 de abril de 2010.Tal entendimento está amparado na decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial representativo da controvérsia (artigo 543-C do CPC).Tendo em vista o período objeto da compensação, aplicável exclusivamente a taxa SELIC, por força do art. 39, 4º, da Lei nº 9.250/1995, que determina sua aplicação à compensação tributária e que é, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ao mesmo tempo, índice de correção monetária e de juros de mora (RESP 769619; AgRg no RESP 658786).Saliente-se que o artigo 167 do Código Tributário Nacional não é aplicado, pois se restringe à repetição do indébito, no entendimento firmado por esta Turma. E, ainda que se entendesse de maneira diferente, os juros incidiriam somente a partir do trânsito em julgado até a edição da Lei que instituiu a taxa SELIC, lei específica a regular o tema. Como neste caso o trânsito em julgado ocorrerá em data posterior a janeiro de 1996, o percentual previsto no artigo 167 do CTN não incidiria de qualquer maneira. (TRF - 3ª Região, 3ª. Turma, Relator Desembargador Federal Márcio Moraes, Processo nº 2006.61.00.025134-6). Procede, portanto, a pretensão da impetrante de ver suspensa a exigibilidade da obrigação tributária no que diz respeito a parcela indevidamente incluída nas bases de cálculo do PIS/PASEP e COFINS, em função da inconstitucionalidade dos dispositivos legais que dispõe de forma contrária.Uma vez reconhecido o direito da impetrante em excluir o ICMS e o ISS da base de cálculo do PIS e da COFINS, deve haver exame do pedido de compensação. Cumpre destacar inicialmente que o mandado de segurança é via inadequada para o exercício do direito de restituição decorrente do pagamento indevido de tributo, posto não ser substitutivo de ação de cobrança. A compensação, por seu turno, tem sido admitida pela jurisprudência pátria. Assim, reconhecida a inexigibilidade da exação, nos termos acima veiculados, nasce para o contribuinte o direito à compensação da parcela do tributo que recolheu ao erário.A Súmula 213 do Colendo Superior Tribunal de Justiça adota o entendimento da possibilidade de declaração ao direito de compensação tributária em sentença mandamental, “in verbis”:”O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária.”O regime normativo a ser aplicado é o da data do ajuizamento da ação (23/01/2012 - fls. 02). Portanto, os valores recolhidos indevidamente, comprovados nos autos, devem ser compensados nos termos Lei nº 10.637, de 30/12/2002 (que modificou a Lei nº 9.430/96) e suas alterações, considerando-se prescritos os créditos oriundos dos recolhimentos efetuados em data anterior há cinco anos, contados retroativamente do ajuizamento da ação, conforme o disposto no artigo 168 do Código Tributário Nacional c/c. artigo 3º da Lei Complementar nº 118/2005. A atualização monetária incide desde a data do pagamento indevido do tributo (Súmula 162-STJ) até a sua efetiva compensação. Para os respectivos cálculos, devem ser utilizados, unicamente, os indexadores instituídos por lei para corrigir débitos e/ou créditos de natureza tributária. No caso, incidente a taxa SELIC, instituída pelo art. 39, 4º, da Lei nº 9.250/95, índice que já engloba juros e correção monetária.A compensação somente poderá ser formalizada após o trânsito em julgado, nos termos do art. 170- A do Código Tributário Nacional.Fica ressalvado o direito da autoridade administrativa em proceder à plena fiscalização acerca da existência ou não de créditos a serem compensados, exatidão dos números edocumentos comprobatórios, “quantum” a compensar e conformidade do procedimento adotado com a legislação de regência. Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido e CONCEDO A SEGURANÇA para excluir, doravante, da base de cálculo do PIS e da COFINS os valores relativos ao ICMS e ISS, sem a necessidade de realização de depósitos judiciais.” (grifos nosso) Em outras palavras, a inclusão indevida do ICMS e do ISS na base de cálculo do PIS e da COFINS pela embargada, extrapolou o conceito de faturamento previsto no art. 195, I, alínea “b” da CF, de acordo com o que foi decidido pelo STF no RE nº. 240.785/MG, razão pela qual, deve ser extinta a presente execução. - IMPOSSIBILIDADE DE PROSPERAR A EXECUÇÃO ANTE A AUSÊNCIA DE EXIGIBILIDADE DA CDA. Reza o Código de Processo Civil atual, em seus atuais arts. 783 e 803, I que, para interposição de ação executiva, o título executivo deve estar líquido, certo e exigível, “in verbis”: Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Art. 803. É nula a execução se: I - o título executivo extrajudicial não corresponder à obrigação certa, líquida e exigível; A falta de qualquer dos requisitos estabelecidos no artigo acima transcrito impossibilita o início do procedimento coativo de satisfação do crédito. Esta é a lição tomada nas brilhantes palavras do Professor Humberto Theodoro Júnior, em seu livro “Execução – Direito Processual ao Vivo”, Rio de Janeiro, AIDE Editora, 1996, pág. 29, inverbis: “A admissibilidade de execução pressupõe certeza do órgão judicial quanto ao crédito do exeqüente, pois só assim desencadeará a coação estatal tendente a realização prática da obrigação cumprida.” E, no presente caso, falta o requisito da exigibilidade do título executivo, face a inclusão indevida do ICMS e do ISS na base de cálculo do PIS, contrário ao atual entendimento do STF a respeito da matéria. A continuidade da Execução finda por ferir o disposto no art. 783 e 803 do atual CPC, haja vista inexistindo crédito tributário, NÃO HÁ O QUE SE EXECUTAR. Tendo em vista a falta de exigibilidade do título e, para evitar o desrespeito ao disposto no Art. 783 e 803 do CPC, há a necessidade de extinção da presente cobrança com relação a embargante, nos termos do pedido abaixo. - DO PEDIDO: ANTE O EXPOSTO, a Embargante requer preliminarmente, nos termos do § 1º do art. 919 do CPC, a atribuição de efeito suspensivo aos embargos, haja vista as lesões graves e de difícil reparação que advirão à mesma com o prosseguimento da ação executória, inclusive, com a possibilidade da venda do imóvel penhorado em leilão, o que, por si só, já demonstra a necessidade de suspensão do processo executivo. No mérito, tendo em vista a inexigibilidade evidente da execução ora atacada, face a total falta de liquidez, certeza e exigibilidade do título executivo, em razão da inclusão indevida do ICMS e do ISS na base de cálculo do PIS, nos termos do julgamento do RE nº. 240.785/MG, REQUER a embargante, respeitosamente, a V. Exa., se digne de julgar PROCEDENTES os presentes Embargos à Execução, extinguindo a execução fiscal em epígrafe, em conformidade com os artigos 783 e 803, I do Código de Processo CiviI, condenando a Embargada, ao final, ao pagamento dos honorários advocatícios fixados por Vossa Excelência e a liberação da penhora realizada sobre o seu bem imóvel, a bem da nossa tão buscada JUSTIÇA Por fim, informa a embargante que pretende provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, entre elas, a juntada do processo administrativo que deu origem a presente cobrança, o que de logo se requer, bem como, a juntada posterior de documentos e o rol de testemunhas, perícia e outras provas a serem requeridas oportunamente, caso sejam necessárias. Dá-se à causa o valor de R$ 118.024,78 (valor atribuído à execução) Nestes termos, pede deferimento. Recife, 12 de maio de 2015. Ricardo Augusto Pontes – Adv. OAB-PE 19087 Sobre a ação acima tenho apenas um comentário a fazer. Quando alegamos que um imposto está sendo cobrado de forma indevida na base de cálculo de outro, significa dizer que parte da dívida é devida, apesar de possuir outra parte que é indevida, a relativa a inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e COFINS. Assim, houve um suposto excesso de execução, relativo à inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS, e alguns juízes entendem que a parte embargante ou executada deve anexar planilha informando ao judiciário o real valor que entende devido. Outros juízes apenas seguem a orientação do STF, determinando que a Fazenda anule a cobrança executada e anexe ao processo novas CDA’S, desta feita, já com a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS. Por fim, seria interessante ressaltar que o STF, recentemente, pacificou a questão ao julgar o RE 574.706/PR em 16/03/2017, sob o regime da repercussão geral, decidindo o plenário da Suprema Corte que é inconstitucional a inclusão do ICMS na base do PIS e da COFINS e pelo novo CPC, tal decisão deve ser seguida pelos juízes e tribunais do nosso País. Vamos agora analisar um modelo de exceção de pré-executividade. 3.7 – MODELO DE EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE PERNAMBUCO REF.: EXECUÇÃO FISCAL N.º 0000 ..................., brasileiro, casado, contador, inscrito no CPF/MF sob o nº ...., com domicílio na Rua ......................., nº......., apto ....., Boa Viagem, Recife, Estado de Pernambuco; ..................., brasileiro, casado, contador, inscrito no CPF/MF sob o nº ......., com domicílio na ..........., nº......, apto ....., ....., Recife, Estado de Pernambuco, por seus advogados in fine assinados, constituídos através dos instrumentos procuratórios já anexados ao processo, com endereço profissional constante no timbre abaixo, local onde receberão as intimações de estilo, VÊM,respeitosamente, perante V. Exa, se defenderem nos autos da execução fiscal acima epigrafada, movida pela FAZENDA NACIONAL, interpondo a presente... EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE pelos argumentos de fato e de direito a seguir aduzidos: - DOS FATOS E DO DIREITO: A Excepta ingressou em juízo com o presente Executivo Fiscal, fundada nas CDA’S, nsº 40............ (IRPJ mais multa, período fiscal 02/95 à 12/95); 40 .......(DO mais multa, período fiscal 02/95 à 12/95); 40 ........(DO mais multa, período da dívida 12/95 à 01/99); 40....... (COFINS mais multa, período da dívida 11/2000 à 01/2003); 40 .............. (PIS mais multa, período fiscal 06/95 à 12/98) e CDA nº. 40..............(PIS mais multa, período fiscal de 08/2000 à 01/2003). Após a reunião da presente execução, com a execução fiscal nº........., este M.M Juiz arquivou o referido processo, determinando que passasse a integrar esta ação executiva, os títulos que fizeram parte da execução acima mencionada, quais sejam, as CDA’S nºs. 35...... (INSS, período da dívida 11/01 à 01/03) e 39....... (INSS, período da dívida 04/05 à 06/05). Sucede Exa. que, de plano, há de se constatarem vícios que maculam as Certidões da Dívida Ativa acima citadas e, portanto, todo o processo executivo, qual seja, a prescrição do crédito tributário objeto da presente execução. Ressalta-se também Exa. que, além da prescrição, que desde já fulmina a cobrança ora executada em sua plenitude, os Excipientes demonstrarão também demais vícios que maculam a ação, com vistas a evitar a preclusão do seu direito, os quais tornam a presente execução inexeqüível, quais sejam: - Da Prescrição da ação executiva fiscal;- Pagamento da CDA nº..... e parte da CDA nº......... Saldo executado de valor ínfimo. Arquivamento dos autos. - Da ilegitimidade passiva dos excipientes; - Da Iliquidez, Incerteza e Inexigibilidade do Crédito Tributário objeto da Execução; - Do princípio da instrumentalidade do processo; 1 - DO CABIMENTO DA OBJEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE: A Doutrina e a Jurisprudência pátrias já pacificaram a outrora discussão em torno do cabimento da exceção ou também denominada objeção de pré-executividade. Este procedimento visa, em grau de admissibilidade, verificar se estão presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, com vistas a proporcionar uma maior economia processual e evitar a oposição de Embargos, com a respectiva penhora de bens, o que acarreta um maior número de processos e, consequentemente, uma grande morosidade no julgamento dos mesmos, além de trazer um dispêndio desnecessário para a parte, qual seja, a penhora de um bem ou depósito judicial para a garantia do juízo, ficando impedida de usufruir livremente de seu patrimônio. Neste sentido, manifestam-se os seguintes doutrinadores: “Embora não haja previsão legal, e tendo o juiz tolerado, por lapso, a falta de algum dos pressupostos, é possível o devedor requerer o seu exame desobrigado do aforamento de embargos, ou antes mesmo de sofrer penhora.” 4 “A nulidade é vício fundamental e, assim, priva o processo de toda e qualquer eficácia. Sua declaração, no curso da execução, não exige forma ou procedimento especial. A todo o momento o juiz poderá declarar a nulidade do feito tanto a requerimento da parte como ex-officio. Não é preciso, portanto, que o devedor utilize dos embargos à execução. Poderá argüir a nulidade em simples petição, nos próprios autos da execução.”5 Neste mesmo sentido, tornou-se a matéria pacífica na jurisprudência de nossos tribunais quanto ao cabimento da exceção de pré- executividade, senão vejamos: RESP Nº 13.960 – SP (199100175196-3) RELATOR: MINISTRO WALDEMAR ZVEITER (Terceira Turma) DATA do JULGAMENTO: 26.11.91 EMENTA PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - PROCESSO DE EXECUÇÃO - EMBARGOS DO DEVEDOR - NULIDADE - VÍCIO FUNDAMENTAL - ARGUIÇÃO NOS PRÓPRIOS AUTOS DA EXECUÇÃO - CABIMENTO - ARTIGOS 267, PARÁGRAFO 3º; 585, II; 586; 618, I DO CPC. I - Não se revestindo o título de liquidez, certeza e exigibilidade, condições basilares exigidas no processo de execução, constitui-se em nulidade, como vício fundamental; podendo a parte argüi-la, independentemente de embargos do devedor, assim como, pode e cumpre ao Juiz declarar, de ofício, a existência desses pressupostos formais contemplados na lei processual civil. II - Recurso conhecido e provido. Portanto, para que o título se configure como hábil de exigibilidade, é imprescindível que o mesmo esteja dotado de CERTEZA, EXIGIBILIDADE e LIQUIDEZ, fato que NÃO se configura na presente execução, PRINCIPALMENTE pelo fato do crédito tributário ora executado se encontrar PRESCRITO em sua totalidade, bem como, por ter existido o pagamento de parte da dívida, restando, se houver, saldo mínimo que não compensa o prosseguimento da presente ação, conforme será demonstrado nos itens a seguir. 2 - DA PRESCRIÇÃO DA AÇÃO EXECUTIVA FISCAL : Os Excipientes foram surpreendidos com a presente execução fiscal, que versa sobre a cobrança de IRPJ/PIS/COFINS/ INSS e MULTA a favor da União, créditos estes constituídos ou por Termo de Confissão Espontânea/ Notificação em 23/04/2001 ou por declaração. A execução proposta pela Fazenda Nacional não deve prosperar sob nenhuma hipótese, tendo em vista as CDA’S que a embasam se encontrarem todas prescritas, acarretando a sua nulidade. Consoante dispõe o artigo 75 do Código Civil, a todo o direito corresponde uma ação, que o assegura. Contudo, direito e ação não podem subsistir indefinidamente, pena de se estabelecer a instabilidade das relações jurídicas e a perturbação da paz social. Daí a necessidade da preservação desses dois institutos afins, mas com efeitos distintos. Não pode perdurar por tempo indeterminado o curso da ação, tendo em vista que as situações jurídicas não nasceram para permanecer até a eternidade. Preceitua o caput do artigo 144 do CTN: “Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada”. Grifos. Por sua vez, estabelece a redação do art.174 do CTN, a qual pede vênia os Excipientes para transcrevê-la abaixo: Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da sua constituição definitiva. Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;” (grifamos) Passam os excipientes a demonstrarem a prescrição de cada uma das CDA’S executadas: - CDA nº 40 ...... (IRPJ mais multa, período fiscal 02/95 à 12/95): constituída por termo de confissão de dívida / notificação pessoal em 23/04/01, sendo a presente execução proposta em 02/12/2011, após o transcurso do prazo prescricional do art. 174 do CTN. - CDA nº. 40 ........ (DO mais multa, período fiscal 02/95 à 12/95): constituída por termo de confissão de dívida / notificação pessoal em 23/04/01, sendo a presente execução proposta em 02/12/2011, após o transcurso do prazo prescricional do art. 174 do CTN. - CDA nº. 40......... (DO mais multa, período da dívida 12/95 à 01/99): constituída por termo de confissão de dívida / notificação pessoal em 23/04/01, sendo a presente execução proposta em 02/12/2011, após o transcurso do prazo prescricional do art. 174 do CTN. - CDA nº. 40..... (COFINS mais multa, período da dívida 11/2000 à 01/2003): constituída por declaração, contando o prazo prescricional a partir da data do vencimento da obrigação tributária, o que, no caso ora sub judice, correspondente ao período de 12/2000 à 02/2003, sendo a presente execução distribuída em 02/12/2011, após o transcurso do prazo prescricional do art. 174 do CTN. - CDA nº. 40......... (PIS, mais multa, período fiscal 06/95 à 12/98): constituída por termo de confissão de dívida / notificação pessoal em 23/04/01, sendo a presente execução distribuída em 02/12/2011, após o transcurso do prazo prescricional do art. 174 do CTN. - CDA nº. 40......... (PIS mais multa, período fiscal de 08/2000 à 01/2003): constituída por declaração, contando o prazo prescricional a partir da data do vencimento da obrigação tributária, o que, no presente caso, correspondente ao período de 08/2000 à 01/2003, sendo a presente execução distribuída em 02/12/2011, após o transcurso do prazo prescricional do art. 174 do CTN. Por sua vez, às fls. 340 da execução, consta observação de que a empresa executada havia aderido ao REFIS e que o referido parcelamento foi rescindido em 15/05/02, o que mais uma vez comprova a prescrição do crédito executado, já que também houve o transcurso do prazo de mais de cinco anos entre a data da sua exclusão do REFIS até a data do ajuizamento da ação. Com relação a CDA nº. 35...... (INSS, período da dívida 11/01 à 01/03) objeto da execução fiscal nº. 0000210...., posteriormente reunida a presente execução, o referido título também se encontra prescrito, pois às fls. 21 do referido processo, consta informação que o lançamento do débito ocorreu em 31/07/03, sendo a referida ação distribuída em 18/12/15, ou seja, bem após o transcurso do prazo qüinqüenal previsto no Código Tributário Nacional. Por fim, a CDA nº 39....... (INSS, período da dívida 04/05 à 06/05), também objeto da execução fiscal nº. 0000210...,da mesma forma das demais CDA’S, também se encontra prescrita, face constar informação no processo, às fls. 23, que o seu lançamento ocorreu em 23/11/10, sendo a referida execução fiscal distribuída em 18/12/15, repita-se, ou seja, após o prazo prescricional do art. 174 do CTN. Portanto Ilustre Magistrado, o prazo prescricional de cinco anos para a Excepta propor a presente execução fiscal expirou-se, razão pela qual, deve ser decretada a prescrição da totalidade do crédito executado, nos moldes do artigo 174 do CTN. Em decisão sobre a matéria (prescrição), o M.M Desembargador Federal FRANCISCO BARROS DIAS, membro do Eg. TRF/5ª Região, proferiu a seguinte entendimento no AGTR119224-PE, in verbis: EMENTA TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. CREDITO TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO. ART. 174, DO CTN, REDAÇÃO ORIGINÁRIA. CITAÇÃO VALIDA REALIZADA APÓS CONSUMAÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.1. Agravo de instrumento interposto de decisão proferida pelo juízo a quo, que rejeitou a exceção de pré-executividade inacolhendo a prescrição da ação executiva fiscal. 2. O crédito consubstanciado na CDA nº 54, da CVM, foi constituído através da notificação a devedora em 28 de novembro de 1996, tendo a execução fiscal sido proposta em 18 de outubro de 1999. 3. Entre a data da constituição definitiva do crédito tributário ocorrida em 28 de outubro de 1996 e a citação válida, realizada em 23 de outubro de 2008, já havia decorrido o prazo prescricional qüinqüenal, nos termos do art. 174, do CTN, em sua redação originária, já que o despacho ordenando a citação (em 29 de outubro de 1999), não tinha o condão de interromper o prazo prescricional, considerando que à época, ainda não vigorava a Lei Complementar nº. 118/05 que estabeleceu a interrupção do prazo prescricional a partir do despacho ordenando a citação. 4. Precedente deste Tribunal: Segunda Turma, AC515802, Relator: Des. Federal FRANCISCO BARROS DIAS, julg. 15/02/2011, publ. DJ 24/02/2011, pág. 658, decisão unânime. 5. Agravo de instrumento provido. ACÓRDÃO Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5a. Região, por unanimidade, dar provimento ao agravo de instrumento, na forma do relatório e voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife/PE, 29 de novembro de 2011. (data do julgamento). Desembargador Federal FRANCISCO BARROS DIAS Relator. Assim sendo, nos termos do art. 174 do CTN, no presente caso, a Exeqüente deveria ter providenciado a distribuição da ação antes do término do prazo qüinqüenal previsto no caput do mencionado artigo, para fins de escapar do fenômeno da prescrição, O QUE NÃO OCORREU, já que, quando a ação foi distribuída, o crédito tributário já se encontrava prescrito, repita-se. Desta forma, não restam dúvidas de que o crédito tributário objeto das CDA’S se encontra prescrito. Robustecendo o entendimento de que se cuida, os Excipientes pedem vênia para transcreverem a brilhante doutrina do Dr. Hugo de Brito Machado acerca do tema, verbis: “Na Teoria Geral do Direito a prescrição é a morte da ação que tutela o direito, pelo decurso do tempo previsto em lei para esse fim. O direito sobrevive, mas sem proteção. Distingue-se, neste ponto, da decadência, que atinge o próprio direito. (...) O CTN, todavia, diz expressamente que a prescrição extingue o crédito tributário (art. 156, V). Assim, em nosso Direito Tributário a prescrição não extingue apenas a ação, mas também o próprio direito. (...) Essa observação que pode parecer meramente acadêmica, tem, pelo contrário, grande alcance prático. Se a prescrição atingisse apenas a ação para cobrança, mas não o próprio crédito tributário, a Fazenda Pública, embora sem ação para cobrar seus créditos depois de cinco anos de definitivamente constituídos, poderia recusar o fornecimento de certidões negativas aos respectivos sujeitos passivos. Mas como a prescrição extingue o crédito tributário, tal recusa obviamente não se justifica”. (MACHADO, Hugo de B. Curso de direito tributário. 10 ed. São Paulo : Malheiros, 1995, pp. 146/147, ítem 4.7) Convém também ressaltar a V.Exa., que o Superior Tribunal de Justiça já pacificou o seu entendimento sobre o tema prescrição, de acordo com o julgamento abaixo: REsp755987 / RJ RECURSO ESPECIAL 2005/0091124-2 Relator(a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 14/10/2008 Data da Publicação/Fonte DJe 11/11/2008 Ementa PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. FATOS OCORRIDOS ANTES DA ALTERAÇÃO DO INCISO I DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 174 DO CTN PELA LEI COMPLEMENTAR N. 118/2005. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO SOMENTE PELA CITAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. 1. - O art. 8º, § 2º, da Lei n. 6.830/80, nos termos em que foi admitido em nosso ordenamento jurídico, não tem prevalência. A sua aplicação há de sofrer os limites impostos pelo art. 174 do Código Tributário Nacional. 2. - Os casos de interrupção do prazo prescricional estão previstos no art. 174 do CTN, o qual tem natureza de lei complementar e, por isso, se sobrepõe à Lei de Execuções Fiscais (6.830/80), que é lei ordinária. 3. - Não efetivada a regular citação do contribuinte antes de transcorridos cinco anos da data da constituição definitiva do crédito tributário, a prescrição há de ser decretada. 4. - Recurso especial provido. Encontrando-se o crédito tributário ora executado prescrito, diga-se novamente, não pode o mesmo ser cobrado sob nenhuma hipótese, muito menos através da presente execução, uma vez que, em conformidade com o artigo 156 do CTN, a prescrição extingue o crédito tributário, in verbis: “Art. 156. Extinguem o crédito tributário : (.......) V – a prescrição e a decadência;”. Desta forma, em razão do vício da presente execução fiscal, que poderá acarretar danos irreparáveis aos Excipientes, se propõe a presente Exceção, objetivando demonstrar a ilegalidade da cobrança. A prescrição, tornando o credito tributário INEXIGÍVEL, faz exsurgir, por força de sua intercorrência no processo, a FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL SUPERVENIENTE, matéria que poderá ser conhecida pelo Juiz a qualquer tempo, à luz do parágrafo 3º, do artigo 267, do antigo Código de Processo Civil. Ora, Exa., diante dos argumentos e das decisões supra transcritas, inexistem brechas a permitir o seguimento da execução fiscal ora atacada, em virtude da mesma se encontrar fulminada pela prescrição. Assim sendo, deve-se, desde já, ser declarada extinta a presente execução, em face de inexistir as condições da ação, quais sejam: INTERESSE DE AGIR E POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. 3) PAGAMENTO DA CDA Nº. 35...... E PARTE DA CDA Nº....... SALDO EXECUTADO DE VALOR ÍNFIMO. ARQUIVAMENTO DOS AUTOS. Apenas ad argumentandum, caso esse M.M Juiz entenda que não ocorreu a prescrição da CDA nº. 35......, informam os excipientes que, pela documentação ora acostada (doc.), referente ao parcelamento (PAES), de todos os débitos previdenciários existentes em nome da executada até 28/02/2003 e o seu integral pagamento, verifica-se que houve a quitação do objeto da mencionada CDA, já que o período fiscal do referido título executivo corresponde aos meses 11/01 à 01/03, justamente o período abrangido pelo parcelamento. Portanto, a dívida objeto da mencionada CDA se encontra paga, pois repita-se, a empresa executada honrou com todos os pagamentos do parcelamento aderido, o qual, repita-se, abrangeu o período da dívida executada. Com relação a CDA nº.39....., a mesma foi objeto de parcelamento posterior instituído pela lei 11.941/09, conforme documentação e o recibo de consolidação do parcelamento de débitos previdenciários fornecidos pela receita federal (doc.). Sobre o referido parcelamento, verifica-se que a empresa executada honrou com boa parte dos pagamentos até a fase de consolidação, tendo pago quantia superior a R$ 5.000,00, se somarmos todos os DARF’S anexos (doc. ). Por sua vez, verifica-se que o valor originário executado na CDA nº. 39...., corresponde a ínfima quantia de R$ 1.796,52, o que se conclui que a empresa executada, da qual os excipientes são sócios gerentes, pagou a totalidade do valor executado ou boa parte dele. Se restou algum saldo referente a mencionada CDA Exa., o valor foi tão mínimo, que não compensa o prosseguimento da execução, já que, como demonstrado, os demais créditos se encontram todos prescritos ou pagos. Vejamos a orientação obtida no próprio site da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (http://www.pgfn.fazenda.gov.br/noticias/mudancas- no-ajuizamento-de-execucoes-fiscais-pela-pgfn ): Mudanças no ajuizamento de execuções fiscais pela PGFN 26/03/2012 20:42 — 31668 visualizações Foi publicada na edição desta segunda-feira (26) do Diário Oficial da União (DOU) a Portaria MF nº 75, de 22 de março de 2012, que dispõe, entre outras matérias, sobre o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), revogando a Portaria MF nº 49, de 2004. A edição deste ato decorre do estudo promovido pela PGFN desde o ano de 2010 e está inserida no contexto das ações que visam o aprimoramento da gestão da Dívida Ativa da União (DAU), otimizando os processos de trabalho e aumentando, por conseguinte, a efetividade da arrecadação. A Portaria ainda permite que seja requerido pelo Procurador da Fazenda Nacional o arquivamento, sem baixa na distribuição, das execuções fiscais já ajuizadas, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais) (...) Ante o exposto, requerem os excipientes o cancelamento da CDA nº. 35....., face o seu total pagamento através do parcelamento (PAES – doc.), bem como, que sejam abatidos da CDA nº. 39....., os valores pagos pela empresa executada no parcelamento da lei 11.941/09 (doc.) e caso ainda reste algum saldo a ser pago pelos excipientes, que a presente execução seja arquivada, por o saldo do débito executado ser inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), conforme orientação da própria receita federal acima transcrita. 4) ILEGITIMIDADE PASSIVA DOS EXCIPIENTES. O INADIMPLEMENTO DA PESSOA JURÍDICA NÃO CARACTERIZA INFRAÇÃO LEGAL CAPAZ DE CONFIGURAR A RESPONSABILIDADE PESSOAL DO ARTIGO 135 DO CTN . POSIÇÃO UNÂNIME DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: A questão relativa à inclusão do sócio-gerente no pólo passivo da execução fiscal é questão de ordem pública, exclusivamente de direito que impõe o reconhecimento, de ofício e a qualquer tempo. O representante legal da empresa executada pode ser responsabilizado em razão da prática de ato com abuso de poder, infração à lei, contrato social ou estatutos. A responsabilidade, nestes casos, deixa de ser solidária e se transfere inteiramente para o representante da empresa que agiu com violação de seus deveres, o que não é o presente caso. Não se pode aceitar, indiscriminadamente, quer a inclusão quer a exclusão do sócio-gerente no pólo passivo da execução fiscal. Para a exeqüente requerer a inclusão, deve, ao menos, provar que ocorreram as situações cogitadas no art. 135, III, do CTN, O QUE EM NENHUM MOMENTO OCORREU NOS AUTOS. Porém, Douto Magistrado Federal, o simples inadimplemento das obrigações tributárias pela pessoa jurídica não é considerado infração à lei capaz de imputar a responsabilidade pessoal prevista no art. 135, III, do Código Tributário Nacional. Assim decidiu o Colendo Superior Tribunal de Justiça: “PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. SÓCIO-GERENTE. REDIRECIONAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. ART. 135 DO CTN. FGTS. NATUREZA NÃO-TRIBUTÁRIA. CTN. INAPLICABILIDADE. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 535 E 557 DO CPC, 23, § 1º, INCISO I, DA LEI 8.036⁄90 e 4º, § 2º, DA LEI 6.830⁄80. NÃO CONFIGURADA. SÚMULA 282 STF. PRECEDENTES. 1. O redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente da empresa somente é cabível quando comprovado que ele agiu com excesso de poderes, infração à lei ou contra estatuto, ou na hipótese de dissolução irregular da empresa. O simples inadimplemento de obrigações tributárias não caracteriza infração legal. 2. A contribuição para o FGTS não se reveste de natureza tributária, por isso inaplicáveis as disposições do CTN. 3. Os embargos de declaração têm sua restrita previsão descrita no art. 535, I e II, do CPC, não estando o julgador obrigado a responder a todos os argumentos levantados pelas partes. 4. Não ocorre violação ao art. 557 do CPC, pois o acórdão recorrido encontra-se em consonância com a jurisprudência do STJ. 5. As matérias tratadas nos dispositivos de lei ditos violados não foram objeto de apreciação pelo acórdão recorrido, por isso não preenchido o requisito do prequestionamento. 6. Recurso especial conhecido, mas improvido. (RESP 610.595⁄RS, Rel. Min. FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, DJ 29.08.2005).”(grifos nosso) “TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO-GERENTE. INADIMPLEMENTO. 1. A ausência de recolhimento do tributo não gera, necessariamente, a responsabilidade solidária do sócio- gerente, sem que se tenha prova de que agiu com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da empresa. 2. Embargos de divergência rejeitados.” (ERESP 374.139⁄RS, Primeira Seção, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ 28.02.2005). (grifos nosso) “TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. RESPONSABILIDADE DE SÓCIO-GERENTE. LIMITES. ART. 135, III, DO CTN. PRECEDENTES. 1. Os bens do sócio de uma pessoa jurídica comercial não respondem, em caráter solidário, por dívidas fiscais assumidas pela sociedade. A responsabilidade tributária imposta por sócio- gerente, administrador, diretor ou equivalente só se caracteriza quando há dissolução irregular da sociedade ou se comprova infração à lei praticada pelo dirigente. 2. Em qualquer espécie de sociedade comercial é o patrimônio social que responde sempre e integralmente pelas dívidas sociais. Os diretores não respondem pessoalmente pelas obrigações contraídas em nome da sociedade, mas respondem para com esta e para com terceiros, solidária e ilimitadamente, pelo excesso de mandato e pelos atos praticados com violação do estatuto ou da lei (art. 158, I e II, da Lei nº 6.404⁄76). 3. De acordo com o nosso ordenamento jurídico-tributário, os sócios (diretores, gerentes ou representantes da pessoa jurídica) são responsáveis, por substituição, pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes da prática de ato ou fato eivado de excesso de poderes ou com infração de lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art. 135, III, do CTN. 4. O simples inadimplemento não caracteriza infração legal. Inexistindo prova de que se tenha agido com excesso de poderes, ou infração de contrato social ou estatutos, não há falar-se em responsabilidade tributária do ex-sócio a esse título ou a título de infração legal. Inexistência de responsabilidade tributária do ex-sócio. 5. Precedentes desta Corte Superior. 6. Embargos de divergência rejeitados.” (ERESP 260.107⁄RS, Primeira Seção, Rel. Min. José Delgado, DJ 19.04.2004).(grifos nosso) Dessa forma, Exmo. Magistrado, de acordo com a jurisprudência firmada pelos nossos Tribunais, a mera inadimplência não é capaz de legitimar a exequente a apontar a dívida contra os excipientes, os quais em momento algum agiram com dolo ou abuso de poder, por sua vez, não deve responder pelas dívidas da empresa o patrimônio pessoal do sócio gerente, uma vez que a responsabilidade do sócio gerente é subsidiária e não solidária. Neste contexto, deve ser reconhecida a ilegitimidade passiva dos excipientes e extinta a presente execução fiscal contra eles indevidamente imputada. 5) DA ILIQUIDEZ, INCERTEZA E INEXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO OBJETO DA EXECUÇÃO: A prescrição comprovada acima e o pagamento de parte dos créditos executados, bem como, a Ilegitimidade passiva dos excipientes para figurarem no pólo passivo da presente ação, demonstram e ratificam a iliquidez, incerteza e inexigibilidade do débito que foi inscrito em Dívida Ativa. Para que o crédito tributário seja exigível é indispensável que ele seja baseado em Certidão de Inscrição de Dívida Ativa de valor líquido, certo e exigível. Os excipientes pedem vênia para transcreverem a redação dos artigos 803, inciso I e 783 do novo CPC: “Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Art. 803 – É nula a execução se:. I – se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível. Por oportuno, estes dispositivos do CPC se harmonizam com o comando do art. 3º, da LEF que prescreve a mesma condição de admissibilidade da execução. Uma vez ilegítimo e ilíquido o débito inscrito na dívida ativa, caberá ao Poder Judiciário anular o lançamento que deu origem a tal inscrição, vez que é imprescindível para a validade do lançamento a sua certeza e liquidez, assim como o CTN não deixa margem para a sua retificação pelo Poder Judiciário, nos termos do artigo 142. Para ratificar ainda mais tal afirmativa, os Excipientes pedem vênia para transcreverem o comentário do Ilustre jurista Hugo de Brito Machado, a respeito da matéria, que prescreve: “Importante, sempre, é estar lembrado de que o Juiz não é autoridade lançadora. O lançamento é ato, ou procedimento, privativo da autoridade administrativa. (...) Como a execução fiscal pressupõe a liquidez e certeza do crédito, certamente uma sentença que reconhece ser a exigência tributária indevida em parte, não pode determinar o prosseguimento da execução , salvo, é claro, nos casos acima referidos. Como o Juiz não é autoridade lançadora de tributo, ele não pode fazer o acertamento do saldo, para conferir liquidez e certeza à cobrança cujo prosseguimento, por isto mesmo, não pode determinar. O lançamento tributário é o procedimento administrativo de acertamento da relação jurídica obrigacional, da qual resulta o crédito tributário, que é líquido e certo por definição. Nem a autoridade administrativa, fora do lançamento, pode modificar o valor do crédito tributário, que há de resultar sempre da aplicação da lei dos fatos que, no termos da lei, produzem efeito de tornar devido o tributo. Os fatos fazem nascer a relação obrigacional tributária cujo acertamento se faz com o lançamento. E este há de ser feito com estrita obediência ao devido processo legal, porque implica incursão do Estado no patrimônio do contribuinte.”(Revista Dialética de Direito Tributário nº 33) Face o exposto, Exa., não restam dúvidas de que o débito discutido na presente Execução Fiscal, é ilíquido, incerto e inexigível, em razão da PRESCRIÇÃO, DO PAGAMENTO DE PARTE DO VALOR EXECUTADO E DIANTE DA TOTAL ILEGITIMIDADE PASSIVA DOS EXCIPIENTES. Sendo assim, requerem os Excipientes, o arquivamento da Execução Fiscal ora discutida, tendo em vista a iliquidez, incerteza e inexigibilidade do crédito tributário ora questionado, a teor do disposto nos artigos 202, 203 e 204 do CTN, bem como do artigo 3º, parágrafo único da Lei n.º 6.830/80, ainda os arts. 783 e 803, I do atual CPC e da jurisprudência mansa e pacífica que repudia a execução fiscal fundada em Certidão de Dívida Ativa ilíquida. 6) DO PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO: O importante mesmo é que o ato alcance a sua finalidade, conforme o princípio da instrumentalidade das formas adotadas pela legislação processual civil brasileira: “Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. No caso vertente, os Excipientes se encontram diante de títulos executivos PRESCRITOS e PARTE DELES PAGOS, o que torna nulo todo o processo executivo. Assim sendo, a Exceção de Pré-Executividade é um procedimento bem menos oneroso para a parte e, indiscutivelmente, mais ágil, acarretando uma economia processual inigualável. Sendo unânime, a doutrina e a jurisprudência, a respeito de sua admissibilidade, conforme foi alhures demonstrado. Finalmente, diante da matéria exposta e da fundamentação jurídica que agasalha o direito que milita a seu favor, restam aos Excipientes aguardarem o sábio decisório desse MM. Juízo diante do pedido formulado abaixo. - DO PEDIDO: ANTE O EXPOSTO no que concerne à inexigibilidade evidente da execução ora atacada, transparecida de forma inequívoca em títulos PRESCRITOS sobre os quais a mesma se fundou, REQUEREM os Excipientes, respeitosamente, a V. Exa., se digne de julgar PROCEDENTE a presente Exceção de Pré-Executividade, para, reconhecendo a prescrição dos títulos executivos, decretar a nulidade do crédito tributário e conseqüentemente, a extinção da execução fiscal em epígrafe, face os vícios insanáveis apontados, em conformidade com os artigos 156, inciso V e 174 do CTN e do artigo 803, I do atual Código de Processo Civil, bem como, determine o cancelamento da CDA nº. 35......, face o seu total pagamento através do parcelamento (PAES – doc.) e que sejam abatidos da CDA nº. 39......., os valores pagos pela empresa executada no parcelamento da lei 11.941/09 (doc. ) e caso ainda reste algum saldo a ser pago pelos excipientes, que a presente execução seja arquivada, por o débito executado ser inferior a R$ 20.000,00, conforme orientação da própria portaria da receita federal. Como pedido alternativo, Requerem os excipientes a este M.M Juiz, que sejam considerados partes ilegítimas para figurarem no pólo passivo da presente demanda, por não se encontrarem presentes nos autos os requisitos do art. 135, III do CTN, condenando a Excepta, ao final, ao pagamento dos honorários advocatícios fixados por Vossa Excelência, a bem da nossa tão buscada JUSTIÇA!! Nestes termos, pede deferimento. Recife, 24 de março de 2016. a) Ricardo Augusto Pontes – Adv. OAB-PE 19087-D Terminamos o assunto relativo a execução fiscal. Passaremos agora a análise do mandado de segurança e da legislação que rege a matéria. 1 em “A exceção de pré-executividade in: Revista do Processo n.º 55, julho/setembro de 1989, p. 62”: 2 MAGALHÃES, Renato Vasconcelos. Juízo de Admissibilidade na Execução Forçada e Exceção de Pré-executividade,Online. Capturado em 20 mai. 2001 3 MAGALHÃES, Renato Vasconcelos. Juízo de Admissibilidade na Execução Forçada e Exceção de Pré-executividade,Online. Capturado em 20 mai. 2001 4 Assis de, Araken: Manual do Processo de Execução, vol. I, Porto Alegre, Letras Jurídicas, 1.987, p. 344. 5 Theodoro Júnior, Humberto: Curso de Direito Processual Civil, vol. II, 7ª ed., Rio de Janeiro,Forense, 1.991, p. 864. 4. MANDADO DE SEGURANÇA 4.1 – ALGUMAS VANTAGENS DO MANDADO DE SEGURANÇA O mandado de segurança é, certamente, uma das ações mais utilizadas por nós, advogados tributaristas, em busca de resguardar o direito dos nossos clientes, contra os abusos cometidos pelas autoridades públicas ou aquelas pessoas investidas das prerrogativas públicas. Isso porque, no mandado de segurança não existe o ônus da sucumbência, ou seja, não existirá a condenação em honorários advocatícios, caso não seja concedida a segurança a favor do nosso cliente. Isso significa dizer que, sempre que possível, utilize o mandado de segurança para proteger os interesses do seu cliente (analisaremos a lei, com as suas hipóteses mais adiante), pois se a pretensão do seu cliente não for acolhida, ele não sofrerá nenhuma conseqüência do ponto de vista financeiro, já que, repita-se, não sofrerá condenação em honorários sucumbenciais a favor da parte vencedora da ação, no caso, a favor do procurador que estará defendendo o fisco. Diferentemente da ação anulatória ou declaratória, que será estudada no próximo capítulo, que, por se tratar de ação de conhecimento com rito ordinário, com a possibilidade de produção ampla de provas, como perícias, provas testemunhais, etc., haverá a condenação em honorários a favor da parte vencedora. Nesses tipos de ações, caso o advogado não consiga desconstituir a dívida que está sendo cobrada do seu cliente, caso a ação seja julgada improcedente, haverá a condenação do seu cliente ao pagamento dos honorários do procurador da fazenda, que geralmente irá variar entre os percentuais de 10% a 20% do valor da dívida que se pretende cancelar. Imagine o advogado tendo que explicar ao seu cliente que além de não ter conseguido desconstituir a dívida judicialmente, a empresa ainda terá que pagar 20% de honorários para o procurador da Fazenda sobre aquele valor. Fica difícil para qualquer cliente entender essa situação, não é verdade? Já no mandado de segurança, não existe essa possibilidade, se o seu cliente não ganhar a ação, também não perderá, já que, repita-se, não terá que pagar nenhum valor. Por isso, o mandado de segurança continua sendo a ação preferida dos advogados tributaristas, desde que, é claro, seja cabível a sua impetração. No mais, a ação do mandado de segurança é o meio correto para a declaração da compensação tributária, de acordo com o enunciado da súmula 213 do STJ, que possui o seguinte enunciado: Súmula 213 STJ: “O mandado de segurança constitui ação adequada para declaração do direito à compensação tributária”. O enunciado dessa súmula é muito importante do ponto de vista tributário, porque muitas vezes, o fisco cobra do contribuinte o pagamento de imposto de forma indevida ou em excesso e a ação do mandado de segurança visará que o judiciário declare ser aquela cobrança indevida, bem como, restitua ao contribuinte, através da compensação com o pagamento de impostos futuros, o que foi pago, indevidamente, nos últimos cinco anos, a contar da data da propositura da ação, valor esse devidamente atualizado pela taxa selic (índice de atualização dos impostos federais). A título de exemplo, em março de 2017, o STF entendeu, ao julgar o RE 574.706/PR, sob o regime da repercussão geral, que seria inconstitucional a inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS. Porém, como a Receita Federal, de livre e espontânea vontade, não restitui ao contribuinte o que foi pago por ele indevidamente, muitos mandados de segurança foram propostos contra o Delegado da Receita Federal visando que o judiciário determinasse que as empresas não mais recolhessem o PIS e a COFINS, com a inclusão indevida do ICMS em sua base de cálculo, bem como, fosse a autoridade coatora intimada a receber, analisar e processar o pedido de compensação das empresas, do que foi recolhido a maior, a título de PIS e COFINS, dos últimos cinco anos, a contar da data da distribuição da ação. Faço uma ressalva a respeito da matéria citada. Alguns julgamentos do judiciário entendem que o mandado de segurança não visa substituir a ação de cobrança, existindo, inclusive, súmula do STJ nesse sentido. Contudo, deve-se frisar bem no pedido formulado no mandado de segurança que o contribuinte visa apenas a declaração de compensação pelo judiciário, do que foi recolhido a maior ou indevidamente pago por ele, com relação àquele determinado imposto, quando então, de posse dessa decisão transitada em julgado (art. 170-A do CTN), irá protocolar, administrativamente, perante a Receita Federal, o seu pedido de compensação, momento em que, apresentará toda a documentação comprobatória do que foi recolhido indevidamente, devendo o fisco, com base na decisão judicial, receber e analisar o pedido de compensação e se for o caso, proceder com a compensação do crédito do contribuinte com o pagamento dos demais tributos administrados no âmbito federal. Afora todas essas vantagens, existe ainda o fato do rito do mandado de segurança ser mais célere. Sempre que ingressava com mandado de segurança e me dirigia ao cartório para despachar a liminar com o juiz, o serventuário perguntava: É liminar em mandado de segurança ? E diante da minha resposta positiva, de prontidão informava que o juiz iria me receber. Sempre existia essa orientação nos cartórios de que liminar em mandado de segurança se tratava de uma questão de urgência que deveria ser de logo apreciada, mesmo que fosse para indeferi-la, quando fosse o caso. Por fim, a principal vantagem da impetração do writ, do meu ponto de vista, é que a liminar concedida em mandado de segurança suspende a exigibilidade do crédito tributário, a luz do art. 151, inciso IV do CTN. Ou seja, se a empresa conseguir uma liminar suspendendo a cobrança daquele determinado imposto e o fisco, após a decisão judicial, efetuar judicialmente a sua cobrança através de uma execução fiscal, essa cobrança será indevida e você, na qualidade de advogado da empresa, informará tal fato ao juízo da execução, requerendo, através da sua defesa, que anule aquela cobrança. Geralmente, a Fazenda requer apenas a suspensão da execução, até que a questão referente a liminar, concedida no mandado de segurança, seja resolvida. No entanto, se a cobrança da dívida estava suspensa, a Fazenda não poderia ter efetuado sua cobrança judicialmente, devendo o advogado requerer a anulação daquela cobrança e não se contentar com a simples suspensão da execução, já que falta a ação executiva os requisitos da liquidez, certeza e exigibilidade. Da mesma forma, estando a cobrança da dívida suspensa, em razão da liminar, a empresa poderá, normalmente, ter acesso a sua certidão positiva com efeitos de negativa, a famosa CND. O fato é: a concessão da liminar em mandado de segurança vai beneficiar e muito o contribuinte, atrapalhando, por outro lado, as pretensões da Fazenda Pública de cobrar judicialmente a dívida. Com a interposição do mandado de segurança, o contribuinte sairá na frente da Fazenda Pública, pois como já comentado, a lei da execução fiscal sempre será pró-fisco. Feitos esse esclarecimentos iniciais sobre os benefícios do mandado de segurança, passaremos a analisar os principais artigos da lei do mandado de segurança, ou seja, a lei 12.016/09. 4.2 – COMENTÁRIOS AOS ARTIGOS DA LEI DO MANDADO DE SEGURANÇA Antes de analisar os principais artigos da lei 12.016/09, é importante ressaltar que o conceito do mandado de segurança também se encontra previsto no inciso LXIX do Art. 5º da CF, o qual possui a seguinte redação: “Conceder-se-á Mandado de Segurança para proteger direito líquido e certo, não amparadopor habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade publica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público”. Tal conceito foi praticamente copiado pelo art. 1º da lei 12.016/09, conhecida como a lei do mandado de segurança. Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. § 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições. § 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público. § 3o Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de segurança. A antiga lei 1.533/51 regulou o mandado de segurança por quase seis décadas. Atualmente, a lei 12.016/09 regula a matéria, reproduzindo em muitos de seus dispositivos a legislação anterior. O artigo 1º da atual legislação fala em proteger direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data, ou seja, tem que ser aquele direito demonstrado de plano, mediante prova documental. O juiz precisa bater o olho na documentação do processo e de logo verificar que a autoridade coatora está cometendo alguma ilegalidade ou irregularidade. Por exemplo, no julgamento do RE 574.706/PR, ficou decidido que é ilegal a inclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS. Assim, a parte impetrante do mandado de segurança vai embasar a ação na ilegalidade da cobrança, já que o próprio STF já pacificou a questão, ao decidir pela inconstitucionalidade da inclusão de um imposto na base de cálculo de outro imposto, no caso contribuição, anexando como prova documental, extratos da Receita Federal dos últimos cinco anos, comprovando o recolhimento do PIS e da COFINS pela empresa. Apenas os extratos da Receita Federal, neste exemplo dado, seriam suficientes para comprovar o recolhimento indevido por parte da empresa. Caso seja necessária dilação probatória para provar o direito, como perícia por exemplo, o mandado de segurança não será a ação adequada. Isso porque, como dito, a ilegalidade ou o abuso de poder devem ser comprovados de plano. O art. 1º ainda estabelece que o mandado de segurança poderá ser preventivo. Isso ocorrerá quando houver o justo e fundado receio de que a administração venha a impor ao contribuinte determinada obrigação Um exemplo prático seria uma situação fática que vincule o contribuinte a recolhimento de tributo que se pretende questionar em juízo, porque se entende indevido. É cabível a impetração de MS em caráter preventivo requerendo liminar para bloquear a atividade administrativa de exigir o tributo já lançado. Muitas vezes, o contribuinte realiza uma consulta pública para saber se está correto ou não o recolhimento de determinado imposto pela empresa e diante da resposta desfavorável da administração, poderá ingressar com mandado de segurança preventivo, caso tenha parado de recolher aquele tributo, face o justo receio de que a administração efetue a cobrança. O § 1º estende o rol das autoridades coatoras e com base no referido artigo foi editado o enunciado da súmula 510 do STF, o qual preceitua: “Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial”. Nos termos da súmula nº 333 do C. STJ é cabível o manejo do writ para atacar procedimento licitatório de empresa de economia mista ou empresa pública. Contudo, é pacífico que o remédio constitucional é cabível contra os atos praticados por dirigentes de tais entidades, desde que tais atos possam ser reputados como típicos da Administração, entendidos como aqueles oriundos de explícita delegação de competência do Poder Público. Portanto, se uma pessoa física estiver investida da prerrogativa pública, o mandado de segurança poderá ser impetrado contra ela. Não cabe mandado de segurança contra ato de gestão comercial (Art. 1º, § 2º da lei 12.016/09). Os atos de gestão são aqueles praticados pelo Poder Público sem o uso de suas prerrogativas e poderes comandantes, em uma situação de igualdade com os particulares, na administração do patrimônio ou dos serviços do Estado. Não possuem o requisito da supremacia, por isso, são meros atos da administração e contra eles não cabe interposição de mandado de segurança.Por exemplo, aplicação de multa por descumprimento de contrato de licitação firmado com empresa publica (REsp 1078342 / PR, Data do Julgamento 09/02/2010). Imaginemos um caso em que a Caixa Econômica Federal abre uma licitação com a finalidade de trocar os aparelhos de ar condicionado de algumas agências e para isso contrata a empresa vencedora da licitação. A empresa não entrega todos os equipamentos e serviços alegando que não recebeu a totalidade do valor contratado e em razão desse fato, a Caixa, baseada no contrato, aplica uma multa contra a empresa e a posteriori, efetua a cobrança judicial da dívida. Acontece que, a empresa não concordando com a aplicação da multa, resolve ingressar com mandado de segurança contra a CEF, tentando demonstrar a ilegalidade da cobrança. Certamente, a segurança pleiteada não será concedida face se tratar de mero ato de gestão comercial praticado por empresa pública. Não é pelo fato de se tratar de uma empresa pública que todos os atos praticados por ela terão a prerrogativa pública. Trata-se de um ato comum (troca dos aparelhos de ar condicionado), celebrado através de contrato, em que, como todo contrato, existia uma cláusula penal no caso de descumprimento do mesmo. Já o § 3º do referido artigo estabelece a possibilidade de existir o litisconsórcio no mandado de segurança, quando menciona que qualquer pessoa que tiver o seu direito violado poderá ingressar com a ação. No nosso escritório, quando houve o absurdo aumento da taxa de ocupação dos terrenos de Marinha, alguns na faixa de 500%, estipulado pela Secretaria do Patrimônio da União - SPU, ingressamos com o mandado de segurança, defendendo que a legislação estabelecia que haveria apenas uma atualização monetária do valor da moeda e a União reavaliou todos os imóveis de acordo com o seu valor venal, aumentando absurdamente a taxa. Assim, vários condomínios de prédios que ficavam localizados em terrenos de Marinha, nos procuraram para o ingresso da ação, visando depositar o valor em juízo apenas com a atualização monetária, sendo esse o pedido liminar do mandado de segurança. Portanto, no pólo ativo (parte autora) do mandado de segurança se encontravam várias pessoas representadas pelos moradores dos prédios que estavam questionando, na justiça, o absurdo aumento da taxa de ocupação. Art. 2º Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada. Art. 3º O titular de direito líquido e certo decorrente de direito, em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandadode segurança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente. Art. 4º Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos legais, impetrar mandado de segurança por telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada. Os caputs dos referidos artigos não oferecem nenhuma informação importante do ponto de vista judicial, ao meu ver, pois na prática, não utilizo nenhuma das suas redações nos mandados de segurança que dou entrada. A redação do artigo 2º menciona o óbvio, que será federal a autoridade coatora quando o ato ilegal, contra o qual se está ingressando com mandado de segurança, tiver sido praticado pela União Federal ou entidade por ela controlada. O art. 3º da lei permitiu ao terceiro prejudicado ajuizar o mandado segurança antes do próprio titular, após o prazo de 30 dias da notificação, sendo a legitimidade superveniente, após o escoamento do prazo legal. Como disse, na prática, nunca presenciei um caso desse, mesmo após inúmeros mandados de segurança impetrados. Já o art. 4º se encontra totalmente em desuso, já que trata da impetração do mandado de segurança por fax, visto hoje, a grande maioria dos processos serem eletrônicos, inclusive, o mandado de segurança. Art. 5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; III - de decisão judicial transitada em julgado. O mandado de segurança não pode substituir recurso não interposto no momento oportuno, face a matéria se encontrar preclusa. A parte que buscar o reconhecimento de um direito na justiça e não conseguir o seu pleito, não pode após o encerramento da ação, impetrar mandado de segurança pleiteando o mesmo direito. Após o trânsito em julgado de determinada ação, ou seja, após a decisão final proferida no processo, a sentença ou acórdão que julgou a causa só poderá ser modificado através de ação rescisória, dentro do prazo legal e obedecendo às hipóteses permitidas em lei. Não é permitido à parte a todo o momento acionar o judiciário visando o reexame dos fatos que já foram apreciados em outra ação. A respeito do art. 5º, o Eg. STF editou os enunciados das súmulas 267 e 268, abaixo transcritos: Súmula 267 STF: “Não cabe MS contra ato judicial passivo de recurso ou correição” (Art. 5º, I, II da lei). Súmula 268 do STF veda o “MS contra decisão judicial com trânsito em julgado” (Art. 5º, III da lei). Art. 6º A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. § 1º No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição. § 2º Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da notificação. § 3º Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática. § 4º (VETADO) § 5º Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. § 6º O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito. Quando o mandado de segurança não for eletrônico, for físico, ele será interposto em 04 vias. A primeira via será a do processo ou a via do juiz, como se fala, com a cópia de todos os documentos. A segunda via será da autoridade coatora, com a cópia da inicial e dos documentos que a acompanharam. A terceira via do órgão de representação judicial que representará a autoridade coatora, no caso a procuradoria, sem a necessidade de documentos, só a petição inicial. E por fim, a quarta via será apenas o nosso protocolo. Hoje, com o processo eletrônico, tal artigo também ficou absoleto, pois não é mais necessário anexar nenhuma via da petição inicial do mandado de segurança, já que todas as intimações serão eletrônicas e as partes terão acesso a todos os documentos que instruem a ação. As redações dos parágrafos 1º e 2º do mencionado artigo também estabelecem a possibilidade do juiz determinar que a autoridade coatora traga a cópia do documento que comprove o alegado, se o mesmo estiver em sua posse. Já o § 3º estabelece quem será a autoridade coatora, ou seja, aquela pessoa que tenha praticado o ato ilegal ou com abuso de poder ou de quem tenha emanado a ordem. Portanto, incabível a segurança contra autoridade que não disponha de competência para cumprir a ordem do judiciário. É comum existir erro na indicação da autoridade coatora no MS, tendo em vista a multiplicidade de normas da própria estrutura da administração pública brasileira. A indicação errada da autoridade coatora pode resultar na incompetência do juiz, no entanto, caso não haja erro grosseiro, deve ser permitida a emenda da inicial, principalmente, com o advento do atual Código de Processo Civil, que combate o excesso de rigor e formalismo das leis. A petição inicial do mandado de segurança deve preencher os requisitos previstos no Código de Processo Civil e caso não seja obedecida essa regra, haverá sentença extinguindo o processo sem o julgamento do mérito. Tal fato não impedirá que a parte ingresse com um novo mandado de segurança se ainda estiver dentro do prazo legal de 120 dias, a contar da ciência do ato coator, desta feita, corrigindo os motivos que levaram o indeferimento do primeiro writ. Essa regra se encontra estampada no § 6º do mencionado artigo 6º. Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações; II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito; III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. § 1º Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de instrumento, observado o disposto na Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. § 2º Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. § 3º Os efeitos da medidaliminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença. § 4º Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento. § 5º As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas neste artigo se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts. 273 e 461 da Lei no 5.869, de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. O Art. 7º, inciso I da lei, fala da notificação da autoridade coatora que deverá prestar informações no prazo de 10 dias, podendo esse prazo ser menor, de acordo com o critério do julgador. Geralmente, o Juiz ou Desembargador, antes de deferir a liminar, manda intimar a autoridade coatora para que a mesma preste informações, no prazo de até 10 dias. Na prática, a autoridade coatora só irá se manifestar nas informações iniciais, depois, todo ato praticado no mandado de segurança, tal como, a interposição de petições e recursos, será feito pelo órgão de representação judicial da autoridade coatora. Por isso a necessidade de intimação do órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito, conforme previsto no inciso II. O inciso III trata da liminar concedida no mandado de segurança, informando que o juiz poderá suspender o ato tido por abusivo ou ilegal sendo facultado exigir caução ou depósito da parte impetrante. Tal exigência vem sendo questionada pela justiça, pois se estiverem presentes os requisitos para a concessão da liminar, a mesma deve ser deferida, sem nenhum tipo de condicionante. Obviamente, caso os requisitos para a concessão da liminar não estejam presentes, a medida não deve ser deferida. O fato é: concedendo ou negando à liminar, a decisão deve ser motivada, por força do art. 489 do atual CPC e do art. 93, inciso IX da CF. O impetrante também pode requerer o depósito, quer para prevenir-se de um desfecho desfavorável, quer para evitar os efeitos da mora, devendo ele ser aceito, assim como, deve ser deferida a liminar, desde que configurados os pressupostos para a sua concessão. Tal requerimento da impetrante, de realizar o depósito, dará mais confiança ao juiz para conceder a liminar. Muitas vezes, uma empresa questiona em juízo determinada cobrança, relativa a um determinado imposto e prefere depositar, judicialmente, o valor questionado, do que pagar diretamente ao fisco, requerendo ao juiz que autorize o depósito, através de liminar, bem como, que determine a intimação da autoridade coatora para que não realize nenhum ato de retaliação contra a empresa, em decorrência daquela cobrança que está se discutindo em juízo, tais como, a cobrança judicial da dívida, negativa de expedição de certidão negativa de débitos, inscrição do débito em órgãos de proteção ao crédito, etc. O § 2º estabelece duas restrições com relação à concessão da liminar: a primeira de índole tributária e a segunda relativa aos servidores públicos. Com relação à primeira restrição, informamos que, em liminar, não é permitido já requerer que o judiciário autorize a compensação de créditos. Nada impede porém, que se requeira que o fisco receba o seu pedido de compensação que será apreciado em momento posterior, quando já houver decisão definitiva no mandado de segurança, com o trânsito em julgado da sentença, nos moldes do art. 170-A do CTN. Já mencionei acima que o mandado de segurança é o meio correto a se pleitear a compensação tributária, nos moldes da súmula 213 do STJ. Porém, como a liminar é ainda uma medida inicial a ser tomada no mandado de segurança, podendo depois ser modificada na sentença, a lei entende que ainda não é o momento de já, em liminar, se pleitear a compensação do que vem sendo pago indevidamente pela empresa, com relação a determinado imposto, com impostos que serão pagos no futuro. Muitas pessoas associam o deferimento da liminar apenas à compensação de créditos, ou seja, ao ganho econômico. No entanto, a concessão de liminar no mandado de segurança possui diversas outras finalidades, como por exemplo, suspender uma cobrança indevida pelo fisco que se encontra prestes a ser ajuizada; a obtenção de certidão negativa de débitos que está sendo negada à empresa em razão da cobrança indevida; que seja suspensa a penalidade que excluiu a empresa de algum benefício fiscal face o débito existente perante o fisco; apreensão indevida de mercadorias da empresa em razão da cobrança etc. Enfim, são muitas as hipóteses para a concessão da liminar que irão beneficiar as atividades da empresa. Com relação a restrição da liminar prevista no § 2º, para a entrega das mercadorias vindo do exterior, a jurisprudência, em alguns casos, tem afastado essa hipótese, em casos de bens perecíveis. Por sua vez, o § 3º do art. 7º da lei estabelece que os efeitos da liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença, o que não deixa de ser óbvio. Art. 8º Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar exofficio ou a requerimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem. Art. 9º As autoridades administrativas, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da notificação da medida liminar, remeterão ao Ministério ou órgão a que se acham subordinadas e ao Advogado- Geral da União ou a quem tiver a representação judicial da União, do Estado, do Município ou da entidade apontada como coatora, cópia autenticada do mandado notificatório, assim como indicações e elementos outros necessários às providências a serem tomadas para a eventual suspensão da medida e defesa do ato apontado como ilegal ou abusivo de poder. Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração. § 1º Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação e, quando a competência para o julgamento do mandado de segurança couber originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão competente do tribunal que integre. § 2º O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da petição inicial. O Art. 8º determina que a liminar será cassada ex-officio ou a pedido do Ministério Público, quando o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe competirem. Seria como uma punição ao impetrante que já conseguiu liminarmente o objeto do mandado de segurança, como a liberação da mercadoria apreendida, indevidamente, pelo fisco, e agora não tem mais interesse no andamento do processo. No dia a dia nunca presencie uma situação como essa. Acredito que, com o advento do atual CPC, antes de extinção de qualquer processo ou a cassação da liminar, deva a parte, primeiro, ser intimada a impulsionar o feito e apenas com a inércia da mesma, a ação ou a liminar serão extintas ou cassadas. O Art. 9º da lei informa que a autoridade administrativa deverá informar ao órgão de representação judicial, no prazo de 48 horas, da concessão da liminar, sob pena de desobediência prevista no Art. 26 da lei 12.016/09, sendo tal providência desnecessária, já que o órgão de representação judiciária será intimado, pessoalmente, dos atos judiciais. Inclusive, como vimos, tal hipótese, qual seja, a ciência da impetraçãodo mandado de segurança ao órgão de representação judicial da autoridade coatora é prevista no inciso II do art. 7º acima já comentado. O art. 10 da lei determina o indeferimento da inicial, por decisão judicial motivada nas seguintes hipóteses: a) quando não for o caso de mandado segurança; b) quando lhe faltar alguns dos requisitos legais e c) se decorrido o prazo decadencial para exercer o direito (120 dias a contar da ciência do ato ilegal ou coator, art. 23 da lei). Da sentença que extinguir o mandado de segurança, por indeferimento da inicial ou por ausência dos requisitos legais, por se tratar de sentença, caberá apelação. Importante ressaltar o prazo para a impetração do mandado de segurança, qual seja, 120 dias a contar da ciência do ato coator. É importante ficar bem atento a esse prazo e anexar, no mandado de segurança, alguma intimação da autoridade coatora como prova de que ingressou com o writ dentro do prazo legal, como o documento informando que não será possível a emissão da certidão negativa de débitos em razão de pendências junto ao fisco. Art. 11. Feitas as notificações, o serventuário em cujo cartório corra o feito, juntará aos autos cópia autêntica dos ofícios endereçados ao coator e ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, bem como a prova da entrega a estes ou da sua recusa em aceitá-los ou dar recibo e, no caso do art. 4o desta Lei, a comprovação da remessa. Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caputdo art. 7o desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias. O art. 11 apenas informa que é obrigação do serventuário da justiça anexar ao processo o comprovante do recebimento da intimação pela autoridade coatora e pelo órgão de representação judicial dela, ou sua recusa em receber a intimação, o que será devidamente certificado pelo cartório. Por sua vez, o art. 12 da lei prevê que haverá parecer do Ministério Público no prazo de 10 dias e a lei fixa o prazo de 30 dias para o juiz proferir decisão, com ou sem aquele parecer. A ouvida do ministério público é obrigatória no mandado de segurança e a parte impetrante já deve requerer na petição inicial, que o órgão ministerial ofereça parecer, sob pena do juiz determinar a intimação da parte para emendar a inicial. Mesmo que o MP informe, em seu parecer, que não tem interesse na causa, como geralmente ocorre, tal manifestação é obrigatória. Esse prazo de trinta dias para o juiz proferir a sentença, após o parecer do MP, como é praxe da justiça, nem sempre é cumprido, existindo casos que, se a parte não impulsionar o processo, ficará aguardando a sentença por anos. Art. 13. Concedido o mandado, o juiz transmitirá em ofício, por intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante correspondência com aviso de recebimento, o inteiro teor da sentença à autoridade coatora e à pessoa jurídica interessada. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o juiz observar o disposto no art. 4o desta Lei. Geralmente, a intimação da autoridade coatora da sentença que concedeu a segurança se dará através do órgão de representação judicial da autoridade coatora. Hoje, como a maioria dos processos são eletrônicos, a intimação da sentença também se dará pelos meios eletrônicos. Tal hipótese já era prevista na lei no ano de 2009, ano da sua criação, quando menciona que em casos de urgência e sendo concedida a segurança, a autoridade coatora e a pessoa jurídica interessada poderia ser comunicada através dos meios eletrônicos (Art. 4º da lei). Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação. § 1º Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição. § 2º Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer. § 3º A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar. Quando for concedida ou negada a segurança na sentença, contra tal ato caberá o recurso de apelação, por se tratar de sentença. Porém, se for concedida a segurança a favor da parte impetrante, tal sentença estará, obrigatoriamente, sujeita ao duplo grau de jurisdição ou seja, o reexame necessário. Isso significa dizer que mesmo que a autoridade coatora não recorra da sentença, através do seu órgão de representação judiciária, o juiz estará obrigado a remeter o processo para o tribunal para que a questão seja novamente apreciada, desta feita, pelo colegiado do tribunal. A lei ainda estabelece que a sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada provisoriamente, o que é muito importante, pois muitas vezes, o órgão público não cumpre a ordem judicial, podendo a parte impetrante, na execução provisória, informar tal fato ao juiz, bem como, solicitar que o judiciário determine o cumprimento da decisão. Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição. Esse pedido de suspensão da liminar ou da sentença previsto no art. 15 da lei, na prática, é muito difícil de ser visto. Só presenciei um caso em que o Estado foi condenado a entregar um remédio bastante caro à parte, que na época custava mais de seis mil reais o frasco e o mesmo entrou com esse pedido no Tribunal, denominado“pedido de suspensão de liminar/sentença”, que, na prática, é uma simples petição, requerendo que o presidente do TJ o desobrigasse de ter que entregar tal medicamento, pois haveria, na visão do governo, uma grave lesão à sua economia. Portanto, para a concessão do pedido de suspensão, a decisão liminar ou a sentença deve causar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas e tal requerimento poderá ser feito pela pessoa jurídica de direito público ou pelo membro do ministério público. Ademais, o deferimento do pedido de suspensão, em face da medida liminar ou da sentença, vigorará até o trânsito em julgado da decisão concessiva da segurança, o que já vinha sendo previsto na súmula nº 626 do STF. Ou seja, se for concedido o pedido de suspensão, a segurança concedida no mandado de segurança, através de liminar ou sentença, só poderá ser efetivada após a decisão definitiva ou o trânsito em julgado da decisão, quando não couber mais recurso. Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a instrução do processo, sendo assegurada a defesa oral na sessão do julgamento. Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre. Art. 17. Nas decisões proferidas em mandado de segurança e nos respectivos recursos, quando não publicado, no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do julgamento, o acórdão será substituído pelas respectivas notas taquigráficas, independentemente de revisão. Art. 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas em única