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W BA 02 01 _V 2. 0 ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA DA CONTABILIDADE 2 Geiciane Macena Lino São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA DA CONTABILIDADE 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Miriane de Almeida Fernandes Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Lino, Geiciane Macena L758e Estrutura conceitual básica da contabilidade / Geiciane Macena Lino. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 47 p. ISBN 978-65-5356-049-9 1. Padrão internacional IFRS. 2. Teoria da contabilidade. 3. International Accounting Standards Board (IASB). I.Título. CDD 657 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB-8 010289 © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Objetivo do Relatório Financeiro para fins Gerais ____________ 05 Características qualitativas de informações financeiras úteis _18 Demonstrações contábeis e a entidade que reporta _________ 32 Elementos das Demonstrações Contábeis ___________________ 54 ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA DA CONTABILIDADE 5 Objetivo do Relatório Financeiro para fins Gerais Autoria: Geiciane Macena Lino Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Apresentar a finalidade da Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro, de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2). • Esclarecer o objetivo do relatório financeiro para fins gerais. • Demonstrar o pressuposto básico das demonstrações contábeis. 6 1. Introdução A internacionalização das normas contábeis não é recente: teve início em 1973, quando um grupo de dez países se uniu com o objetivo de adotar um padrão de contabilidade único e aceito por todos. Dessa união nasceu o IASC – International Accounting Standards Committee (Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade), que emitia as normas IAS – International Accounting Standards (Normas Internacionais de Contabilidade). Anos mais tarde, em 2001, o IASC foi extinto e um novo órgão internacional foi fundado para ser o responsável pela emissão de normas contábeis que pudessem ser aplicadas a nível global: o IASB – International Accounting Standards Board (Conselho de Padrões Contábeis Internacionais, em tradução livre). A partir de então, as Normas Internacionais de Contabilidade foram nomeadas IFRS – International Financial Reporting Standards (Padrões Internacionais de Relatórios Financeiros), nomenclatura que continua em utilização atualmente. Em razão da necessidade de harmonização das normas contábeis brasileiras com as normas internacionais, foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão formado por representantes de diversas entidades contábeis, entre elas, o CFC – Conselho Federal de Contabilidade. O CPC foi criado em 2005 por intermédio da Resolução CFC n. 1.055/05, e é responsável pela elaboração de pronunciamentos técnicos com base naqueles emitidos internacionalmente pelo IASB. O Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro – foi preparado com base no Conceptual Framework for Financial Reporting. Este documento institui as diretrizes que as empresas devem seguir na elaboração das demonstrações contábeis, para que elas estejam em concordância com o padrão internacional. 7 A Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro é dividida em oito capítulos, dos quais quatro serão abordados nesta disciplina. O primeiro a ser apresentado é o Objetivo do Relatório Financeiro para Fins Gerais, que estabelece: 1. Objetivo, utilidade e limitações do relatório financeiro para fins gerais. 2. Informações sobre recursos econômicos da entidade que reporta. 3. Informações sobre o uso de recursos econômicos da entidade. O objetivo do relatório financeiro para fins gerais é fornecer informações financeiras sobre a entidade que reporta que sejam úteis para investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, na tomada de decisões referente à oferta de recursos à entidade. Essas decisões envolvem decisões sobre: (a) comprar, vender ou manter instrumento de patrimônio e de dívida; (b) conceder ou liquidar empréstimos ou outras formas de crédito; ou (c) exercer direitos de votar ou de outro modo influenciar os atos da administração que afetam o uso dos recursos econômicos da entidade. (CPC, 2019, p. 5) Os investidores e os credores de que tratam o CPC 00 (R2) são os principais usuários das informações contábeis e financeiras geradas pelas empresas (entidade que reporta), ou seja, das demonstrações contábeis. As demonstrações elaboradas em conformidade com o CPC 00 têm por finalidade fornecer informações que sejam úteis para a tomada de decisões financeiras e econômicas por parte dos usuários. 8 1.1 IFRS – International Financial Reporting Standards Figura 1 – International Financial Reporting Standards Fonte: Luizela/iStock.com. As Normas Internacionais de Contabilidade, International Financial Reporting Standards (IFRS), ou Padrões Internacionais de Relatórios Financeiros, em português, são pronunciamentos técnicos baseados nos princípios contábeis, emitidos pelo International Accounting Standards Board (IASB), entidade internacional criada com o objetivo de desenvolver normas de contabilidade aplicáveis mundialmente. O IASB surgiu em 2001 em sucessão ao IASC – International Accounting Standards Committee, que foi o comitê responsável pela padronização das normas contábeis a nível global entre 1973 e 2001. Inicialmente, apenas dez países aderiram ao padrão de contabilidade internacional: Estados Unidos, Canadá, Irlanda, Austrália, Reino Unido, França, Holanda, Alemanha, México e Japão; mais países tornaram-se adeptos nos anos seguintes. Nesse período, as Normas Internacionais de 9 Contabilidade eram denominadas IAS – International Accounting Standards. Figura 2 – Normas Contábeis Internacionais Fonte: adaptada de Padoveze (2014). Atualmente, mais de 120 países – entre eles o Brasil – adotam as normas internacionais (IFRS) como padrão contábil. No país, o processo de harmonização com as Normas de Contabilidade Internacionais se iniciou em 2005, quando foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC – com a finalidade de uniformizar e centralizar a emissão das normas contábeis de acordo com o padrão internacional. Posteriormente, em 2007, foi promulgada a Lei n. 11.638/07, que alterou e revogou dispositivos da Lei n. 6.404/76 e estendeu às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Em 2009, foi sancionada a Lei n. 11.941/09, que também alterou a Lei n. 6.404/76, em razão da convergência ao padrãointernacional de contabilidade. 10 Figura 3 – Processo de internacionalização das normas contábeis e convergência do Brasil às normas internacionais Fonte: elaborado pela autora. 11 1.2 CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis No Brasil, o órgão responsável pela emissão das normas correspondentes às Normas Internacionais de Contabilidade publicadas pelo IASB é o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC. A criação do CPC ocorreu por meio da Resolução CFC n. 1055 de 7 de outubro de 2005, em razão da convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade ao padrão internacional, com a função de ser o órgão centralizador da emissão das normas contábeis no país. Conforme traz o texto da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade, que criou o CPC: O Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (CPC) tem por objetivo o estudo, o preparo e a emissão de documentos técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (Conselho Federal de Contabilidade, Resolução CFC n. 1.055/05, p. 3) Para cumprir o seu objetivo o CPC possui 14 integrantes, das seguintes entidades contábeis: • ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas); • APIMEC NACIONAL (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais); • B3 (Brasil Bolsa Balcão); • CFC (Conselho Federal de Contabilidade); • IBRACON (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil); 12 • FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras); e • Entidades representativas de investidores do mercado de capitais. Desde a sua fundação, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis já emitiu mais de cinquenta Pronunciamentos Técnicos, todos correlativos às Normas Internacionais de Contabilidade. O Pronunciamento Técnico CPC 00 foi emitido em 2008, sob o título Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Passou pela primeira revisão (R1) em 2011 e pela segunda revisão (R2) em 2019, quando foi alterado para Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. Além dos Pronunciamentos Técnicos, o CPC é responsável também pela emissão de orientações e interpretações. Após a emissão das normas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, é preciso a aprovação dos órgãos reguladores em seus domínios. Figura 4 – Emissão das Normas de Contabilidade no Brasil Fonte: Adriano (2018, p. 4). 13 Os órgãos reguladores dos Pronunciamentos Técnicos, orientações e interpretações emitidos pelo CPC são: • CVM – Comissão de Valores Mobiliários; • CFC – Conselho Federal de Contabilidade; • BACEN – Banco Central do Brasil; • CMN – Conselho Monetário Nacional; • SUSEP – Superintendência de Seguros Privados. 1.3 Normas Contábeis no Brasil A adoção inicial das Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil ocorreu com a publicação da Lei n. 11.638 em 28 de dezembro de 2007, que entrou em vigor no dia 01/01/2008, tornando obrigatória para as companhias de capital aberto abrangidas na Lei n. 6.404/76, a elaboração das demonstrações contábeis no novo formato e estendeu a obrigatoriedade para as empresas de grande porte. Em 2008, foi editada a MP n. 449/08, convertida na Lei n. 11.941/2009, trazendo dispositivos complementares à Lei n. 11.638/2007, sobre a apresentação das demonstrações contábeis. Em 2009, o Conselho Federal de Contabilidade publicou a Resolução n. 1.159, buscando abordar as novas práticas contábeis no Brasil em consonância com a Lei n. 11.638/2007 e pela Medida Provisória n. 449/2008 (Lei n. 11.941/2009). Além disso, a Resolução teve por objetivo validar o Comitê de Pronunciamentos Contábeis como único órgão emissor dos Pronunciamentos Técnicos em convergência com a contabilidade internacional no Brasil. Um significativo Pronunciamento Técnico emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis é o CPC PME (R1) – Contabilidade para 14 Pequenas e Médias Empresas, que teve sua divulgação em 16/12/2009, correspondente à norma internacional IFRS for SMEs (The International Financial Reporting Standard for Small and Medium-sized Entities). A estrutura conceitual contábil brasileira também é conhecida pela sigla BR GAAP, que é bastante aplicada principalmente para se referir às normas de contabilidade nas empresas multinacionais. O termo deriva da sigla US GAAP: Princípios Contábeis Geralmente Aceitos nos Estados Unidos (US – United States e GAAP – Generally Accepted Accounting Principles). Logo, BR GAAP são os Princípios Contábeis Geralmente Aceitos no Brasil: BR se refere ao Brasil e GAAP, à sigla em inglês para Princípios Contábeis Geralmente Aceitos. 1.4 Objetivo da Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro A Conceptual Framework for Financial Reporting (Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro), publicada pelo IASB e traduzida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, não consiste em uma norma de contabilidade; ela é o modelo para o desenvolvimento das Normas Internacionais de Contabilidade. Seu objetivo é contribuir para a elaboração das IFRS. As normas emitidas com base na Estrutura Conceitual têm como finalidade satisfazer três premissas: 1. Fornecer transparência para as demonstrações contábeis, melhorando a comparabilidade das informações financeiras internacionalmente; 2. Corroborar com a prestação de contas (accountability), ao fornecer informações que poderão ser utilizadas para responsabilizar a administração; 3. Colaborar com a eficiência econômica, ao utilizar uma linguagem contábil universal, que trará diminuição do custo de capital e redução de custos dos relatórios internacionais. 15 Segundo Padoveze (2014), estão entre os objetivos da Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade Internacional: a) estabelecer os conceitos que sustentam a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis; b) possibilitar ao IASB o desenvolvimento das Normas Internacionais de Contabilidade; c) ajudar as entidades reguladoras de cada país na elaboração das normas contábeis locais; d) auxiliar os auditores externos a emitirem uma opinião em relação às demonstrações contábeis em conformidade com as Normas Internacionais de Contabilidade e, e) ajudar os usuários das demonstrações contábeis a interpretar as informações divulgadas pelas empresas em conformidade com as IFRS. As demonstrações contábeis produzidas com base na Estrutura Conceitual contribuem com a tomada de decisões dos usuários internos e externos da contabilidade, pois facilitam a interpretação das informações financeiras e econômicas, permitindo analisar os bens, direitos, obrigações, receitas, despesas, custos, investimentos, liquidez, endividamento, rentabilidade e o patrimônio da entidade de forma geral. O Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis – especifica o conjunto completo de demonstrações contábeis: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e Demonstração do Resultado Abrangente (DRA); c. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL); d. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); e. Notas Explicativas (NE); f. Demonstração do Valor Adicionado (DVA). 16 O principal pressuposto das demonstrações contábeis é conceder informações de natureza financeira e econômica que sejam úteis para a tomada de decisão de seus usuários. Figura 5 – Pressuposto das demonstrações contábeis Demonstração Contábil Objetivo BP Evidenciar os bens, direitos e obrigações da empresa (patrimônio). DRE Apurar o resultado econômico (lucro/ prejuízo) de um exercício. DRA Demonstrar o resultado do exercício e resultados futuros ainda não realizados, de transações em andamento. DMPL Apresentar as mutações (variações) ocorridas no patrimônio líquido dacompanhia entre dois períodos. DFC Mostrar o resultado financeiro das atividades operacionais, de investimentos e financiamentos. NE Detalhar informações sobre contas relevantes das demonstrações contábeis. DVA Divulgar o valor agregado gerado pela empresa. Fonte: adaptada de Padoveze (2014, p. 6). A internacionalização das normas contábeis está em constante evolução: regularmente, o IASB realiza a emissão de novos Pronunciamentos Técnicos ou revisões dos pronunciamentos já existentes. Assim também, no Brasil, o CPC realiza a tradução e a emissão dos pronunciamentos e revisões em correlação às Normas Internacionais de Contabilidade. 17 Referências ADRIANO, S. Manual dos Pronunciamentos Contábeis Comentados. São Paulo: Atlas, 2018. ALMEIDA, M. C. Teoria da Contabilidade em IFRS e CPC–Facilitada e Sistematizada. Rio de Janeiro: Atlas, 2021. BRASIL. Lei n. 11.638/07 de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976 e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976 e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Brasília, 28 dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso em: 2 set. 2021. BRASIL. Lei n. 11.941/2009 de 27 de maio de 2009. Conversão da Medida Provisória nº 449 de 2008. Brasília, 27 maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11941.htm. Acesso em: 2 set. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. CPC, 2019. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/573_CPC00(R2).pdf. Acesso em: 1 set. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis. CPC, 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2014.pdf. Acesso em: 1 set. 2021. PADOVEZE, C. L. Manual de Contabilidade Internacional: IFRS – US GAAP e BR GAAP. Teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning, 2014. 18 Características qualitativas de informações financeiras úteis Autoria: Geiciane Macena Lino Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Apresentar as características qualitativas de informações financeiras úteis, conforme o Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2). • Discorrer sobre as características qualitativas fundamentais e características qualitativas de melhoria. • Evidenciar a aplicação das características qualitativas fundamentais e de melhoria e as restrições de custo na apresentação das demonstrações contábeis. 19 Introdução O Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2) (2019, p. 9) define as características qualitativas de informações financeiras úteis como os tipos de informações que apresentam maior utilidade para os usuários das informações contábeis. Para classificar os tipos de informações financeiras com maior utilidade, as características qualitativas são divididas em fundamentais e de melhoria. As características fundamentais, como o nome diz, são aquelas indispensáveis para tornar uma informação financeira útil a um investidor ou credor. Para ser considerada fundamental, uma informação precisa ser relevante e representada fidedignamente. As características qualitativas de melhoria são inerentes à melhora da utilidade das informações financeiras fornecidas pelas empresas nas demonstrações contábeis. Uma informação financeira é qualitativamente melhor quando pode ser comparável, verificável, quando é tempestiva, ou seja, disponibilizada no momento oportuno e compreensível. As características qualitativas da informação representam os atributos que tornam as demonstrações contábeis úteis para os usuários, sendo a sua compreensibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade os atributos mais importantes. (PADOVEZE, 2014, p. 8) A seguir estudaremos cada uma das características qualitativas das informações financeiras de forma detalhada. 20 1. Objetivos das características qualitativas das informações contábeis As demonstrações contábeis são um conjunto de informações financeiras e econômicas a respeito da empresa que as divulga. Cada uma das demonstrações tem uma finalidade específica: evidenciar o patrimônio da empresa (Balanço Patrimonial), apurar o resultado econômico (Demonstração do Resultado do Exercício), mostrar o resultado financeiro das atividades (Demonstração dos Fluxos de Caixa). Estes são alguns exemplos de informações apresentadas nas demonstrações contábeis. No entanto, não basta apenas que a empresa divulgue suas informações econômico-financeiras para torná-las públicas ao mercado: é preciso que essas informações tenham utilidade para os seus usuários. Uma informação financeira útil deve apresentar um alto nível de qualidade para simplificar a sua interpretação e propiciar a tomada de decisões por parte dos stakeholders (usuários). Em muitos casos, a análise das informações envolve situações passadas, presentes e futuras, pertinentes à instituição. Para um investidor, por exemplo, que quer se tornar acionista de determinada empresa, ou mesmo já possuindo capital investido na empresa, e deseja adquirir mais ações, como forma de auferir lucros futuros (dividendos), a análise de informações passadas e presentes como liquidez, endividamento, lucratividade, rentabilidade e tempo de retorno do investimento são imprescindíveis para avaliar se no futuro a instituição trará o retorno esperado e viabilizar a tomada de decisão do investidor em aplicar ou não aplicar o seu capital naquela empresa. Os credores de uma entidade também precisam analisar as informações do passado e do presente, a fim de verificar se essa empresa terá capacidade de pagamento no futuro. Instituições financeiras são um 21 exemplo de credores: antes de realizar um empréstimo a uma empresa, é preciso saber qual a capacidade da entidade em realizar o pagamento da obrigação. Nesse sentido, quanto maior o nível de qualidade e de utilidade das informações divulgadas pelas empresas, maiores são as chances de atrair investidores (no caso das sociedades de capital aberto) e de se obter crédito com o mercado. Esse é um dos motivos pelo qual grande parte dos países fazem a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade: a qualidade das informações que são produzidas, gerando maior transparência às demonstrações contábeis e permitindo que as informações sejam comparadas, aumentando, assim, a confiabilidade de investidores e credores. Em um cenário como o que vivemos atualmente, no qual há um mercado que é global e não existem fronteiras econômicas, a convergência internacional da contabilidade demonstra mais um dos seus objetivos: estabelecer um padrão único de elaboração e apresentação das demonstrações contábeis para que as informações tenham qualidade e sejam compreensíveis em qualquer parte do mundo. 2. Características qualitativas fundamentais das informações contábeis A Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro – Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2) – define duas características qualitativas fundamentais para as informações financeiras: relevância e representação fidedigna. Uma informação contábil (econômica ou financeira) relevante é a que tem capacidade de fazer diferença em uma tomada de decisão de seus 22 usuários. Para isso, o CPC 00 (R2) indica que as informações precisam ter valor preditivo – ajudar a prever resultados futuros – ou confirmatório – fornecer feedback de avaliações anteriores, ou, ainda, ambos. Os valores preditivo e confirmatório das informações financeiras estão inter-relacionados. Informações que possuem valor preditivo frequentemente possuem também valor confirmatório. Por exemplo, informações sobre receitas para o ano corrente, que podem ser utilizadas como base para prever receitas em anos futuros, também podem ser comparadas a previsões de receitaspara o ano corrente que tenham sido feitas em anos anteriores. Os resultados dessas comparações podem ajudar o usuário a corrigir e a melhorar os processos que foram utilizados para fazer essas previsões anteriores. (CPC, 2019, p. 10) Figura 1 – Relevância das informações contábeis Fonte: adaptada de Almeida (2021, p. 20). 23 Ainda a respeito da relevância das informações financeiras, há um outro ponto a ser observado, porém, não se trata da informação apresentada, mas, sim, da omissão de informações. Quando a omissão ou a distorção de uma informação contábil tem a capacidade de influenciar incorretamente uma decisão de um ou mais usuários, essa informação é considerada material. A materialidade tem relação com a influência que a sua omissão ou distorção pode ocasionar no julgamento de um stakeholder que tenha um bom nível de conhecimento das demonstrações contábeis e que confie nas informações apresentadas nelas. Portanto, a materialidade é uma característica de relevância própria da empresa que elabora e divulga suas informações contábeis. A segunda característica qualitativa fundamental das informações contábeis é a representação fidedigna. Isto significa que além de ser útil e possuir relevância, o conjunto das informações econômico-financeiras apresentadas nas demonstrações contábeis deve representar veridicamente a natureza das informações. Para ser fidedignamente apresentada, a informação financeira precisa ter três características: 1. Deve ser completa, isto é, precisa conter detalhes, explicações, descrições, para que o usuário compreenda facilmente o conteúdo que está sendo apresentado; 2. Precisa apresentar neutralidade: significa que foi aplicado o princípio da prudência na seleção e apresentação da informação – prudência é a cautela assumida em condições de incerteza. Trata-se de uma informação não tendenciosa, imparcial e não manipulada. 3. Não pode conter erros. Os erros a que se refere a Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro são do processo de elaboração das demonstrações contábeis e não das informações apresentadas propriamente. A descrição do acontecimento e o processo de produção das informações devem ser livres de erros. 24 O objetivo das características qualitativas das informações contábeis não é produzir informações perfeitas, mas potencializar as qualidades ao máximo possível para que as informações tenham muita excelência para os seus usuários. Figura 2 – Representação fidedigna das informações contábeis Fonte: elaborada pela autora. 3. Características qualitativas de melhoria das informações contábeis Além da relevância e representação fidedigna, que são as características qualitativas fundamentais das informações financeiras divulgadas 25 pelas empresas, há outras quatro características que podem contribuir com a melhora na qualidade das informações apresentadas. São as características qualitativas de melhoria. Conforme o Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2) (2019, p. 12), comparabilidade, capacidade de verificação, tempestividade e compreensibilidade ajudam a melhorar a utilidade das informações contábeis para os seus usuários. Não são características obrigatórias, porém, exercem uma grande importância na análise das demonstrações contábeis. Outra finalidade das características qualitativas de melhoria é ajudar na escolha de qual forma a empresa deve utilizar para apresentar as informações nas demonstrações contábeis, uma vez que se verifique a existência de duas formas igualmente relevantes e que forneçam representação fidedigna. a. Comparabilidade A comparabilidade permite aos usuários fazer escolhas entre alternativas, pois permite a comparação de informações análogas de duas ou mais empresas e de informações compatíveis da mesma empresa entre períodos distintos. Portanto, a comparação exige pelo menos dois elementos e que esses elementos sejam similares entre si. A comparabilidade pode ser aplicada para confrontar os dados de uma empresa com outras empresas do mesmo ramo de atividade, por exemplo: • Índices de liquidez, endividamento e rentabilidade; • Alavancagem financeira e operacional; • Fluxos de caixa; 26 • Utilização de capital próprio e de terceiros; • Aumento do patrimônio nos últimos anos, entre outras possibilidades de aplicação. Todos os dados podem sem comparados também entre períodos diferentes de uma mesma empresa, como: • Aumento ou redução dos índices de um ano para outro; • Crescimento ou queda de vendas e faturamento; • Diminuição ou aumento de custos e despesas; • Aquisição de bens; e • Quaisquer outros elementos das demonstrações contábeis que o usuário desejar comparar. b. Capacidade de verificação Esta é uma característica esperada das informações contábeis, pois possibilita que as informações divulgadas pelas empresas sejam confirmadas, aumentando a confiabilidade dos usuários nas demonstrações contábeis. A capacidade de verificação visa validar uma das características qualitativas fundamentais: a de representação fidedigna. Quando uma informação econômico-financeira pode ser verificada, é possível confirmar se ela foi representada fidedignamente na demonstração contábil em que está inserida e afirmar com segurança que aquela informação está correta. Há duas maneiras de se realizar a verificação das informações contábeis: direta ou indiretamente. A verificação direta requer que a informação seja examinada na sua origem, como a verificação da existência de 27 ativos. A conta caixa, disposta no Balanço Patrimonial (ativo circulante), pode ter seus valores confirmados fazendo-se a contagem do dinheiro. Assim também pode-se verificar a conta estoque (ativo circulante), realizando a contagem física dos produtos, a fim de confirmar se a quantidade de mercadorias é verídica. Já a verificação indireta envolve a análise de dados ou a realização de testes para confirmação das informações. O método indireto também pode ser utilizado para verificação da existência de ativos, por exemplo, ao analisar dados das contas relativas a bancos – valores disponíveis para movimentação – ou aplicações financeiras ou ambos. Essas contas podem ter suas informações verificadas por meio da comprovação do saldo com as instituições financeiras. Um exemplo da verificação indireta envolvendo a realização de testes é na confirmação dos valores contábeis e de custos dos estoques. Primeiro, realiza-se a checagem das informações no sistema e após efetua-se o recálculo do estoque final, utilizando-se o mesmo método de controle de estoque aplicado na entrada das mercadorias, como custo médio ou PEPS – primeiro que entra primeiro que sai. O Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2) lembra que algumas informações financeiras poderão ser verificadas apenas no futuro ou não poderão ser verificadas. A respeito deste ponto, Almeida (2021, p. 38) complementa: Muitas estimativas prospectivas de grande importância no fornecimento de informações contábeis relevantes não podem ser verificadas diretamente, por exemplo: fluxos de caixa esperados (utilizados na precificação do valor em uso a fim de verificar se o ativo está com impairment – CPC 01); vidas úteis e valores residuais (empregados com o objetivo de depreciar bens do ativo imobilizado – CPC 27). No entanto, excluir informações contábeis sobre essas estimativas tornaria as DCs menos úteis. 28 c. Tempestividade Quando uma informação financeira que é relevante e está representada com veracidade nos relatórios contábeis é colocada à disposição dos usuários em momento oportuno, essa informação é tempestiva. Tempestividade significa que a informação econômico-financeira relevante e fidedignamente representada foi registrada nas demonstrações contábeis no momento de ocorrência ou de competência. A tempestividade está relacionada à oportunidade que a informação contábil oferece para a tomada de decisão de seus usuários, quando são divulgadas a tempo e são capazes de influenciar asdecisões. Por isso, na maior parte dos casos, quanto mais antiga for a informação, menor é a sua utilidade. d. Compreensibilidade Por fim, a última característica qualitativa de melhoria das informações contábeis, de acordo com a Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro: a compreensibilidade. Informações financeiras compreensíveis são apresentadas de forma clara e objetiva. Ou seja, este atributo requer que as informações complexas sejam disponibilizadas da forma mais simples e transparente possível. No entanto, a exclusão de informações complexas das demonstrações contábeis, embora possa facilitar a compreensão dos usuários, torna os relatórios contábeis incompletos, por conter dados distorcidos. A elaboração e a apresentação das demonstrações contábeis são feitas com base no pressuposto de que os usuários das informações possuem um bom nível de conhecimento contábil, financeiro, econômico e de negócios, e são cuidadosos ao analisar as informações. Nesse sentido, o 29 Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2) (2019, p.13) preconiza que mesmo estes usuários não devem dispensar o auxílio de um consultor para compreender informações contábeis complexas. 4. Aplicação das características qualitativas fundamentais e de melhoria Com relação às características qualitativas fundamentais, a Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro orienta que é necessário observar três pontos para que as informações contábeis sejam tanto relevantes quanto forneçam representação fidedigna do fenômeno econômico- financeiro: 1. Identificar o fenômeno econômico, ou seja, a informação que será útil para os usuários das demonstrações contábeis; 2. Estabelecer o tipo de informação sobre esse fenômeno que tem mais relevância; 3. Determinar se essas informações fornecem representação fidedigna do fenômeno econômico. Nesse ponto, o processo para satisfazer às características qualitativas fundamentais é finalizado. Acerca das características qualitativas de melhoria – comparabilidade, capacidade de verificação, tempestividade e compreensibilidade –, para que possam ser aplicadas às informações contábeis, é necessário primeiramente que as informações preencham as duas características qualitativas fundamentais. Não há como melhorar a utilidade da informação se ela não for relevante e não estiver representada fidedignamente. Quanto maior for a maximização dos atributos de melhoria para as informações financeiras divulgadas pelas empresas, melhor será a 30 utilidade dessas informações para os usuários das demonstrações contábeis. 5. Restrição de custo na apresentação das informações contábeis A preparação e a divulgação das demonstrações contábeis pelas empresas geram custos, pois é preciso haver a coleta, o processamento, a verificação e a divulgação das informações. Porém, esses custos precisam ser compensados pelos benefícios que são obtidos ao apresentar as informações. Os custos podem ocorrer também para os usuários das demonstrações contábeis, quer seja pelo retorno reduzido – assumindo os custos da empresa na geração das informações – ou para obter informações que não são fornecidas nos relatórios financeiros, considerando que não é possível apresentar todas as informações específicas que sejam relevantes para cada usuário. Esse é um importante motivo pelo qual a divulgação de informações que sejam, ao mesmo tempo, relevantes e verídicas, torna-se indispensável, pois a correta apresentação não só permite aos usuários tomar decisões mais embasadas quanto faz com que o mercado de capitais tenha mais eficiência, resultando em um menor custo de capital para toda a economia. Na avaliação de custos e benefícios para divulgação das informações contábeis, busca-se considerar essa relação, de forma geral, ao relatório financeiro, devido aos usuários poderem possuir diferentes avaliações em relação ao assunto. Na aplicação da restrição de custos, a maior parte das avaliações tem por base a conciliação entre informações quantitativas e qualitativas. 31 6. Conclusão Relembrando os principais pontos abordados neste tema: 1. Características qualitativas das informações contábeis são os atributos que aumentam a utilidade da informação; 2. As características qualitativas são divididas em fundamentais e de melhoria; 3. Relevância e representação fidedigna são características qualitativas fundamentais; 4. Para ser relevante, a informação econômico-financeira deve ter valor preditivo e confirmatório; 5. A representação fidedigna é completa, neutra e isenta de erros; 6. Comparabilidade, capacidade de verificação, tempestividade e compreensibilidade são características qualitativas de melhoria; 7. Na elaboração e divulgação das demonstrações contábeis deve- se prezar pela restrição de custo, ou seja, analisar os custos e benefícios envolvidos na geração, preparação e apresentação das informações financeiras. Referências ALMEIDA, M. C. Teoria da Contabilidade em IFRS e CPC–Facilitada e Sistematizada. Rio de Janeiro: Atlas, 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. CPC, 2019. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/573_CPC00(R2).pdf. Acesso em: 15 set. 2021. PADOVEZE, C. L. Manual de Contabilidade Internacional: IFRS – US GAAP e BR GAAP. Teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning, 2014. SILVA, A. A. da. Estrutura, análise e interpretação das demonstrações contábeis. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2019. 32 Demonstrações contábeis e a entidade que reporta Autoria: Geiciane Macena Lino Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Apresentar o conjunto completo das demonstrações contábeis. • Facilitar a compreensão acerca da elaboração das demonstrações contábeis. • Elucidar a obrigatoriedade de apresentação das demonstrações contábeis no ambiente brasileiro, de acordo com as Leis n. 6.404/76, 11.638/07 e 11.941/09 e os Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. 33 1. Introdução O conjunto completo das demonstrações contábeis, de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis – compreende: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e Demonstração do Resultado Abrangente (DRA); c. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL); d. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); e. Notas Explicativas (NE); f. Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Vamos estudar cada uma das demonstrações contábeis na sua forma, verificar como são elaboradas, explicar quais são os itens que as compõem e quais empresas são obrigadas a apresentá-las, de acordo com a legislação e as normas em vigência no Brasil. 1.1 Demonstrações Contábeis As Demonstrações Contábeis são definidas pelo Pronunciamento Técnico CPC 26 (2011) como uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira do desempenho da entidade. O objetivo das demonstrações contábeis, segundo a Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro, é: Fornecer informações financeiras sobre os ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas da entidade que reporta que sejam úteis aos usuários das demonstrações contábeis na avaliação das perspectivas para futuros fluxos de entrada de caixa líquidos para a entidade que reporta e na avaliação da gestão de recursos da administração sobre os recursos econômicos da entidade. (CPC, 2019, p. 15) 34 A legislação brasileira (Lei n. 11.638/07) define a obrigatoriedade de divulgação das demonstrações contábeis apenas para as sociedades por ações – capital aberto e fechado – e as empresas de grande porte, mesmo que não constituídas sob a forma de sociedade por ações. Segundo o parágrafo único do artigo 3º da Lei, são consideradas de grande porte as sociedades que tiveram no exercício social anterior ativo total superior a R$ 240.000.000 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou receitabruta anual superior a R$ 300.000.000 (trezentos milhões de reais). Para estas empresas, devem ser publicadas anualmente as seguintes demonstrações: a. Balanço Patrimonial; b. Demonstração do Resultado do Exercício; c. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido; d. Demonstração dos Fluxos de Caixa (as companhias de capital fechado com patrimônio líquido inferior a R$ 2.000.000 são desobrigadas a elaborar e apresentar a DFC); e. Demonstração do Valor Adicionado (apenas para sociedades de capital aberto). f. Notas Explicativas (previsto no § 4º do art. 176). Ressalva: a Demonstração do Resultado Abrangente, embora não seja obrigatória pela Lei n. 11.638/07, é exigida pelas Normas Internacionais de Contabilidade. Por isso, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis prevê, pelo Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1), a adoção da DRA no Brasil. No entanto, há uma diferença entre os modelos internacional e brasileiro de elaboração da DRA: o padrão internacional adotado pelas IFRS estabelece que a DRA deve ser apresentada como um complemento 35 da DRE. No Brasil, o CPC orienta a elaboração da Demonstração do Resultado Abrangente separadamente ou conjuntamente a DMPL. Tabela 1 – Apresentação das Demonstrações Contábeis Demonstração Contábil S/A CAPITAL ABERTO S/A CAPITAL FECHADO EMPRESAS DE GRANDE PORTE Balanço Patrimonial Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 DRE Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 DMPL Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 DFC Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória apenas se o PL for superior a R$ 2.000.000 Obrigatória Lei n. 11.638/07 DVA Obrigatória Lei n. 11.638/07 Não obrigatória Não obrigatória Notas Explicativas Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 Obrigatória Lei n. 11.638/07 DRA Exigida pelas IFRS e CPC 26 (R1) Exigida pelas IFRS e CPC 26 (R1) Exigida pelas IFRS e CPC 26 (R1) Fonte: elaborada pela autora. Já as empresas de pequeno e médio portes não são abrangidas pela legislação e, portanto, não são obrigadas a publicar as demonstrações contábeis. No entanto, é comum que essas empresas elaborem as demonstrações contábeis para uso gerencial, dos proprietários ou para fins fiscais. Por isso, em 2009 o Comitê de Pronunciamentos Contábeis divulgou o Pronunciamento Técnico CPC PME – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas (correlativo às Normas Internacionais de Contabilidade IFRS for SMEs – The International Financial Reporting Standard for Small and Medium-sized Entities), como forma de direcionar as PMEs na elaboração das suas demonstrações contábeis. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis define Pequenas e Médias Empresas como empresas que não têm obrigação pública de prestação 36 de contas e elaboram demonstrações contábeis para fins gerais para usuários externos, ou seja, todas as empresas não enquadradas na Lei n. 11.638/07. O conjunto das demonstrações contábeis elaborado pelas PMEs engloba as mesmas demonstrações elaboradas e publicadas pelas grandes empresas e sociedades por ações. 1.1.1 Regime de Competência Legalmente, no Brasil deve-se utilizar o regime de competência para elaboração das demonstrações contábeis. A previsão consta na Lei n. 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações) artigo 177, que estabelece: A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. (BRASIL, 1976, [s. p.]) Para fins tributários também é exigida a utilização do regime de competência. O Regulamento do Imposto de Renda – RIR/2018 (Decreto n. 9580/18) estabelece a competência como regime de apuração e recolhimento do imposto. As Normas Internacionais de Contabilidade, assim como as Normas Brasileiras de Contabilidade, corroboram a utilização do regime de competência na mensuração das informações contábeis, no Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis – correlativo às normas internacionais IAS 1 (IASB – BV 2011). O regime de competência prevê que as receitas e despesas sejam contabilizadas no mês de ocorrência, independentemente do recebimento ou pagamento destas. A confrontação das receitas e despesas na entrada e saída do dinheiro em caixa (regime de caixa) é 37 utilizada apenas para a elaboração da DFC – Demonstração dos Fluxos de Caixa. Um exemplo de contabilização pelo regime de competência é quando uma venda é efetuada a prazo ou, ainda, parcelada. Se a venda foi realizada no mês de janeiro para recebimento nos meses subsequentes, os lançamentos contábeis da receita de vendas e suas respectivas deduções – custo da mercadoria vendida e impostos sobre as vendas – devem ocorrer no mês de janeiro, quando o fato gerador da receita (venda) ocorreu. Para as despesas, o regime de competência funciona da mesma forma. Uma despesa incorrida no mês de junho que será paga em julho terá sua contabilização realizada no mês de junho, na ocorrência do fato gerador. Imagine, por exemplo, a despesa com salários. Na data do pagamento do mês de julho, a empresa deposita os salários relativos ao mês de junho (competência 06). Por isso, na contabilidade da empresa essa despesa já foi contabilizada relativamente ao mês 06, antes do desembolso financeiro. 1.1.2 Premissa de Continuidade Operacional A elaboração das demonstrações contábeis parte do princípio de que a empresa continuará em operação por um futuro previsível. Em outras palavras, quer dizer que a empresa não tem a intenção de descontinuar as suas atividades por um tempo definido ou provável. A análise da capacidade da empresa continuar em operação deve ser feita pela administração no ato da classificação, mensuração e apresentação das informações – quantitativas e qualitativas – patrimoniais, financeiras e econômicas, que compõem as demonstrações contábeis. 38 Caso a administração da empresa avalie a existência de incertezas que possam afetar a capacidade da empresa de continuar em operação no futuro, essas incertezas devem ser tornadas públicas. Quando as demonstrações contábeis não forem elaboradas no pressuposto da continuidade, esse fato deve ser divulgado, juntamente com as bases sobre as quais as demonstrações contábeis foram elaboradas e a razão pela qual não se pressupõe a continuidade da entidade. (CPC, 2011, p. 11) Para avaliar o pressuposto de continuidade, o CPC 26 (R1) orienta que a administração deve levar em consideração todas as informações disponíveis sobre um período mínimo de doze meses – não limitado a esse período – a partir da data do balanço. 1.2 Balanço Patrimonial Como visto, o pressuposto do Balanço Patrimonial é evidenciar o patrimônio da empresa, composto pelos bens, direitos e obrigações. A Lei n. 6.404/76 estabelece, nos artigos 178 a 184 (alterados pela Lei n. 11.638/07), a estrutura do Balanço Patrimonial e dos seus respectivos grupos de contas. O Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) complementa a Lei, dispondo as informações que devem ser apresentadas no Balanço Patrimonial. Consoante com o artigo 178 da Lei n. 6.404/76, no Balanço Patrimonial as contas serão classificadas de acordo com o elemento do patrimônio que registrem, sendo agrupadas para facilitar o conhecimento e a análise da situação da companhia. Desta forma, as contas são agrupadas segundo a sua natureza. De acordo com Silva (2019, p. 43), contas do balanço patrimonial devem ser incluídas sempre que o tamanho, natureza ou função de um item 39 ou agregação de itens similares apresentados separadamente seja relevante na compreensão da posição financeira da entidade. Os três grupos de contas chave do Balanço Patrimonialsão o Ativo, o Passivo e o Patrimônio Líquido. No Ativo são representados todos os bens e direitos da empresa. Já no Passivo são apresentadas todas as obrigações. O Patrimônio Líquido (PL) é a representação do capital investido pelos sócios (ou acionistas) na empresa, das reservas e dos lucros – ou prejuízos – acumulados. Tabela 2 – Exemplo de Estrutura do Balanço Patrimonial ATIVO PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO Ativo Circulante Passivo Circulante Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante Realizável a longo prazo Patrimônio Líquido Investimento Capital Social Imobilizado (–) Gastos com emissão de ações Intangível Reservas de Capital Opções outorgadas reconhecidas Reservas de Lucros (–) Ações em tesouraria Ajustes de avaliação patrimonial Ajustes acumulados de conversão Prejuízos acumulados Fonte: adaptada de Silva (2019, p. 43). 1.2.1 Ativo Os bens e direitos são a parte do patrimônio que é representada no Ativo. Isto é, tudo o que a empresa possui em seu poder (bens) ou em poder de terceiros (direitos), que pode ser liquidado ou gerar um benefício econômico-financeiro para a entidade. As contas patrimoniais do ativo devem ser classificadas em ordem decrescente de liquidez, ou seja, iniciando nos elementos que 40 representam as disponibilidades da empresa (caixa e equivalentes de caixa). O Ativo é dividido em: a) Circulante – todos os elementos que a empresa espera realizar ou vender no ciclo operacional normal da entidade ou em até 12 meses após a data do balanço – curto prazo. Por exemplo, estoque e contas a receber; e b) Não Circulante – elementos que têm caráter permanente, em outras palavras, que a empresa não tem a intenção de venda. Exemplos de subgrupos de contas do Ativo Não Circulante são investimentos, imobilizado e intangível. 1.2.2 Passivo No Passivo são dispostas as contas patrimoniais que representam todas as obrigações da entidade, elementos cuja liquidação resultarão em saída de recursos. Semelhantemente ao Ativo, os elementos do passivo devem ser classificados em ordem decrescente de exigibilidade. Igualmente ao Ativo, o Passivo é dividido nos subgrupos circulante e não circulante. a. Passivo Circulante – elementos que a empresa espera liquidar no ciclo normal da entidade ou em até 12 meses após a data do balanço – curto prazo – como obrigações com funcionários e com fornecedores. b. Passivo Não Circulante – todos os demais passivos que não se enquadrem como circulante deverão ser registrados no subgrupo não circulante. Exemplo: empréstimos a longo prazo. 41 1.2.3 Patrimônio Líquido O Patrimônio Líquido representa a diferença entre os valores do Ativo total – Circulante e Não Circulante – após deduzidos os valores do Passivo total – Circulante e Não Circulante. Os subgrupos de contas do PL são compostos pelo capital social, ou seja, o valor investido pelos sócios ou acionistas na empresa, pelas reservas obrigatórias, como reserva de capital, reserva de reavaliações e reserva de lucros e pelos lucros ou prejuízos acumulados. Há uma situação apenas na qual o Patrimônio Líquido não é apresentado no Balanço Patrimonial. Isto ocorre quando o valor do Passivo é maior que o valor do Ativo, sendo denominado passivo a descoberto. Neste caso, o resultado deverá ser apresentado após o Ativo, com a nomenclatura Passivo a Descoberto. 1.3 DRE – Demonstração do Resultado do Exercício A finalidade da DRE é apurar o resultado econômico de um exercício. Para isso, a DRE é elaborada por meio do método dedutivo, pelo qual a partir das receitas são deduzidos todos os custos e despesas até se chegar ao resultado, que são os lucros ou prejuízos acumulados. A Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6404/76) define a estrutura a ser seguida para a elaboração da DRE, no artigo 187, que consiste na seguinte ordem (considerando as alterações dadas pelas Leis n. 11.638/07 e 11.941/09): Tabela 3 – Estrutura da DRE Receita Bruta de Vendas / Serviços (–) Deduções sobre a receita (abatimentos e impostos) Receita Líquida de Vendas ou Serviços 42 (–) CMV/CPV/CSP – Custo da Mercadoria Vendida/Custo do Produto Vendido/Custo do Serviço Prestado Lucro Bruto (–) Despesas com vendas (–) Despesas financeiras (–) Despesas gerais e administrativas (–) Outras despesas operacionais Lucro ou prejuízo operacional Outras receitas (–) Outras despesas Resultado antes do Imposto de Renda e Contribuição Social (–) Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Lucro ou prejuízo líquido do exercício *Lucro por ação * (Apenas para empresas de capital aberto) Fonte: adaptada de Brasil (1976, 2007 e 2009). 1.4 DFC – Demonstração dos Fluxos de Caixa Até o ano de 2007 a Demonstração dos Fluxos de Caixa não era obrigatória; passou a ser exigida somente com as alterações trazidas pela Lei n. 11.638/07, vigente a partir de 01/01/2008. Antes disso, era exigida pela Lei n. 6.404/76, a DOAR – Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos, que foi substituída pela DFC. No entanto, a DFC não é obrigatória para todos os tipos de empresas abrangidas pela Lei n. 11.638/07: há exceção para as sociedades por ações de capital fechado que possuírem Patrimônio Líquido inferior a R$ 2.000.000 (dois milhões de reais) na data do balanço. Neste caso, não é exigida a publicação da DFC. 43 Ao contrário das demais Demonstrações Contábeis, que são elaboradas com base no regime de competência, a Demonstração dos Fluxos de Caixa é elaborada pelo regime de caixa, que leva em consideração as entradas e saídas de recursos realizadas (origens e aplicações de recursos). Em 2010, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2) – correlativo às Normas Internacionais de Contabilidade IAS 7 (IASB – BV2010) – que trata especificamente da Demonstração dos Fluxos de Caixa, fornecendo as orientações para a elaboração da demonstração. O objetivo da DFC é mostrar o resultado financeiro das atividades operacionais, de financiamento e de investimento. Para tal finalidade, pode ser elaborada de duas maneiras: pelo método direto ou pelo método indireto. O método direto consiste em um modo sintético (resumido) de apresentação das informações, no qual os componentes são mensurados apenas pelo valor bruto, facilitando a análise e compreensão dos elementos. Tabela 4 – Modelo de Demonstração dos Fluxos de Caixa pelo Método Direto 20X2 Fluxos de caixa das atividades operacionais Recebimentos de clientes 30.150 Pagamentos a fornecedores e empregados (27.600) Caixa gerado pelas operações 2.550 Juros pagos (270) Imposto de renda e contribuição social pagos (800) Imposto de renda na fonte sobre dividendos recebidos (100) Caixa líquido gerado pelas atividades operacionais R$ 1.380 44 Fluxos de caixa das atividades de investimento Aquisição da controlada X, líquido do caixa obtido na aquisição (Nota A) (550) Compra de ativo imobilizado (Nota B) (350) Recebimento pela venda do equipamento 20 Juros recebidos 200 Dividendos recebidos 200 Caixa líquido consumido pelas atividades de investimento R$ (480) Fluxos de caixa das atividades de financiamento Recebimento pela emissão de ações 250 Recebimento por empréstimo a longo prazo 250 Pagamento de passivo por arrendamento (90) Dividendos pagos (1200) Caixa líquido consumido pelas atividades de financiamento R$ (790) Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa R$ 110 Caixa e equivalentes de caixa no início do período (Nota C) R$ 120 Caixa e equivalentes de caixa no fim do período (Nota C) R$ 230 Fonte: adaptada de CPC (2010, p. 17). Por sua vez, o método indireto é o modo analítico, que resulta em informações detalhadas, exigindo, portanto, um conhecimento contábil aprofundado para análise das informações. Segundo o Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2), a DFC elaborada pelo método indireto leva em consideração o ajuste pelos efeitos de: 1. Transações que não envolvam caixa; 2. Apropriações por competência sobre recebimentos de caixa ou pagamentos em caixaoperacionais; 45 3. Itens de receita ou despesa associados com fluxos de caixa das atividades de investimento ou de financiamento. Tabela 5 – Modelo de Demonstração dos Fluxos de Caixa pelo Método Indireto 20X2 Fluxos de caixa das atividades operacionais Lucro líquido antes do IR e CSLL 3.350 Ajustes por: Depreciação 450 Perda cambial 40 Resultado de equivalência patrimonial (500) Despesas de juros 400 3.740 Aumento nas contas a receber de clientes e outros (500) Diminuição nos estoques 1.050 Diminuição nas contas a pagar – fornecedores (1.740) Caixa gerado pelas operações 2.550 Juros pagos (270) Imposto de renda e contribuição social pagos (800) Imposto de renda na fonte sobre dividendos recebidos (100) Caixa líquido gerado pelas atividades operacionais R$ 1.380 Fluxos de caixa das atividades de investimento Aquisição da controlada X, líquido do caixa obtido na aquisição (Nota A) (550) Compra de ativo imobilizado (Nota B) (350) Recebimento pela venda do equipamento 20 Juros recebidos 200 Dividendos recebidos 200 Caixa líquido gerado pelas atividades de investimento R$ (480) Fluxos de caixa das atividades de financiamento Recebimento pela emissão de ações 250 Recebimento por empréstimo a longo prazo 250 Pagamento de passivo por arrendamento (90) Dividendos pagos (1200) 46 Caixa líquido consumido pelas atividades de financiamento R$ (790) Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa R$ 110 Caixa e equivalentes de caixa no início do período (Nota C) R$ 120 Caixa e equivalentes de caixa no fim do período (Nota C) R$ 230 Fonte: adaptada de CPC (2010, p. 18). 1.5 DVA – Demonstração do Valor Adicionado Igualmente à DFC, a Demonstração do Valor Adicionado passou a ser obrigatória somente com a promulgação da Lei n. 11.638/07. Todavia, a DVA tem uma característica que a difere das demais demonstrações contábeis: esta é a única demonstração exigida especificamente para as Sociedades por Ações de capital aberto. Empresas enquadradas na lei que sejam constituídas sob outras formas jurídicas (sociedades por ações de capital fechado e empresas de grande porte – Ltda) não têm obrigatoriedade quanto a elaboração e publicação da DVA. Apesar de torná-la obrigatória, a Lei não especifica quais elementos devem compor a DVA. Desta forma, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu, em 2008, o Pronunciamento Técnico CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado, com o objetivo de estabelecer os critérios para a elaboração e apresentação da DVA. Silva (2019, p. 62) apresenta a finalidade da Demonstração do Valor Adicionado: A DVA evidencia o quanto de riqueza uma empresa produziu, ou seja, o quanto ela adicionou de valor aos seus fatores de produção e o quanto dessa riqueza foi distribuída (entre empregados, governo, acionistas, financiadores de capital) ou retida e de que forma. A sua utilidade é notória 47 do ponto de vista macroeconômico, pois, conceitualmente, o somatório dos valores adicionados de um país representa seu Produto Interno Bruto (PIB). O Pronunciamento Técnico CPC 09 apresenta três modelos para a elaboração da DVA: o primeiro para as empresas em geral, o segundo para Instituições Financeiras Bancárias e o último para Seguradoras. A seguir, é apresentado o modelo utilizado pelas empresas em geral. Tabela 6 – Estrutura da DVA – Empresas em Geral 1 – RECEITAS 1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços 1.2) Outras receitas 1.3) Receitas relativas à construção de ativos próprios 1.4) Provisão para créditos de liquidação duvidosa – Reversão/(Constituição) 2 – INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui os valores dos impostos – ICMS, IPI, PIS e COFINS) 2.1) Custos dos produtos, das mercadorias e dos serviços vendidos 2.2) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros 2.3) Perda/Recuperação de valores ativos 2.4) Outras (especificar) 3 – VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2) 4 – DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO 5 – VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3-4) 6 – VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA 6.1) Resultado de equivalência patrimonial 6.2) Receitas financeiras 6.3) Outras 7 – VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6) 8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (*) 8.1) Pessoal 8.1.1 – Remuneração direta 8.1.2 – Benefícios 8.1.3 – F.G.T.S. 8.2) Impostos, taxas e contribuições 8.2.1 – Federais 8.2.2 – Estaduais 8.2.3 – Municipais 48 8.3) Remuneração de capitais de terceiros 8.3.1 – Juros 8.3.2 – Aluguéis 8.3.3 – Outras 8.4) Remuneração de Capitais Próprios 8.4.1 – Juros sobre o Capital Próprio 8.4.2 – Dividendos 8.4.3 – Lucros retidos/Prejuízo do exercício 8.4.4 – Participação dos não controladores nos lucros retidos (só p/ consolidação) (*) O total do item 8 deve ser exatamente igual ao item 7. Fonte: adaptada de CPC (2008). 1.6 DMPL – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Essa demonstração tem como finalidade demonstrar as variações – acréscimos e reduções – ocorridas nas contas do grupo Patrimônio Líquido: capital social, lucros ou prejuízos acumulados e reservas. Desta forma, a DMPL visa complementar as informações contidas no Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício. De acordo com Padoveze (2014, p. 139), nas empresas constituídas sob a forma de Sociedades por Ações, a conta Lucros Acumulados do PL não deve ser publicada com saldo no Balanço Patrimonial. Deve ser utilizada apenas como uma conta transitória para movimentação contábil e apresentada na DMPL. Isto quer dizer que apenas no encerramento do exercício a conta de Lucros Acumulados não deve apresentar saldo, o que não impede a empresa de ter saldo nessa conta durante o exercício. Isto se deve ao fato de as Sociedades por Ações realizarem a distribuição de dividendos; por isso, os lucros devem ser destinados às reservas obrigatórias e distribuídos entre os acionistas, sendo vedada pela Lei das Sociedades por Ações a retenção de lucros. 49 Tabela 7 – Contas Patrimoniais da DMPL Contas devedoras Contas credoras Capital a integralizar Capital social Ajustes de avaliação patrimonial Reservas de capital Ajustes acumulados de conversão Opções outorgadas reconhecidas Gastos com emissão de ações Reservas de lucros Dividendos antecipados Ajustes de avaliação patrimonial Prejuízos acumulados Ajustes acumulados de conversão Ações em tesouraria Lucros acumulados Fonte: adaptada de Adriano (2018, p. 969). O Pronunciamento Técnico CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis – destaca as informações a serem divulgadas na DMPL: I. O resultado abrangente do período; II. Os efeitos da aplicação retrospectiva ou da reapresentação retrospectiva, para todos os componentes do PL; III. A conciliação do saldo no início e no final do período, para todos os elementos do PL. A seguir é demonstrado o modelo de DMPL em concordância com o CPC 26 (R1). Observe que este modelo já engloba as informações dos resultados abrangentes. Ressalva: apenas as contas ajustes de avaliação patrimonial e ajustes acumulados de conversão podem apresentar saldo devedor ou credor. 50 Tabela 8 – Modelo de DMPL com apresentação dos Resultados Abrangentes Ca pi ta l S oc ia l I nt eg . Re se rv as d e Ca pi ta l, O pç õe s O ut or ga da s e A çõ es e m T es ou ra ri a (1 ) Re se rv as d e Lu cr os (2 ) Lu cr os o u Pr ej uí zo s A cu m ul ad os O ut ro s Re su lt ad os A br an ge nt es (3 ) Pa tr im ôn io L íq ui do d os Só ci os d a Co nt ro la do ra Pa rt ic ip aç ão d os n ão co nt ro la do re s no Pa tr im ôn io L íq ui do da s co nt ro la da s Pa tr im ôn io L íq ui do Co ns ol id ad o Saldos Iniciais 1.000.000 80.000 300.000 0 270.000 1.650.000 158.000 1.808.000 Aumento de Capital 500.000 -50.000 -100.000 350.000 32.000 382.000 Gastos com emissão de ações -7.000 -7.000 -7.000 Opções outorgadas reconhecidas 30.000 30.000 30.000 Ações em tesouraria adquiridas -20.000 -20.000 -20.000Ações em tesouraria vendidas 60.000 60.000 60.000 Dividendos -162.000 -162.000 -13.200 -175.200 Transações de capital com os sócios 251.000 18.800 269.800 Lucro líquido do período 250.000 250.000 22.000 272.000 Ajustes instrumentos financeiros -60.000 -60.000 -60.000 Tributos s/ ajustes instrumentos financeiros 20.000 20.000 20.000 Equivalência patrimonial sobre ganhos abrangentes de coligadas 24.000 24.000 6.000 30.000 Ajustes de conversão do período 260.000 260.000 260.000 51 Tributos sobre ajustes de conversão do período -90.000 -90.000 -90.000 Outros resultados abrangentes 154.000 6.000 160.000 Reclassific. p/ resultado – Aj. Instrum. Financ. 10.600 10.600 10.600 Resultado abrangente total 414.600 28.000 442.600 Constituição de reservas 140.000 -140.000 Realização reserva reavaliação 78.800 -78.800 Tributos sobre a realização da reserva de reavaliação -26.800 26.800 Saldos finais 1.500.000 93.000 340.000 0 382.600 2.315.600 204.800 2.520.400 Fonte: adaptada de CPC (2011, p. 41). Neste tema vimos o conjunto completo das demonstrações contábeis; relembrando: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); c. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); d. Demonstração do Valor Adicionado (DVA). e. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL); f. Demonstração do Resultado Abrangente (DRA). Estudamos também a obrigatoriedade de publicação das demonstrações contábeis de acordo com a legislação brasileira e vimos ainda os objetivos, os modelos de apresentação e as informações a serem divulgadas em cada uma das demonstrações contábeis. 52 Referências ADRIANO, S. Manual dos Pronunciamentos Contábeis Comentados. São Paulo: Atlas, 2018. BRASIL. Lei n. 6.404/76 de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília, 15 dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l6404compilada.htm Acesso em: 30 set. 2021. BRASIL. Lei n. 11.638/07 de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976 e da Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976 e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Brasília, 28 dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso em: 30 set. 2021. BRASIL. Lei n. 11.941/09 de 27 de maio de 2009. Conversão da Medida Provisória n. 449 de 2008. Brasília, 27 maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11941.htm. Acesso em: 30 set. 2021. BRASIL. Decreto n. 9580/18 de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Brasília, 22 nov. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm. Acesso em: 30 set. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro.CPC, 2019. Disponível em: http:// static.cpc.aatb.com.br/Documentos/573_CPC00(R2).pdf. Acesso em: 1 out. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico 03 (R2) – Demonstração dos Fluxos de Caixa. CPC, 2010. Disponível em: http://static.cpc. aatb.com.br/Documentos/183_CPC_03_R2_rev%2014.pdf. Acesso em: 4 out. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico 09 – Demonstração do Valor Adicionado.CPC, 2008. Disponível em: http://static.cpc. aatb.com.br/Documentos/175_CPC_09_rev%2014.pdf. Acesso em: 4 out. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis. CPC, 2011. Disponível em: http:// static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2014.pdf. Acesso em: 29 set. 2021. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico PME (R1) – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas. CPC, 2011a. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/392_CPC_PMEeGlossario_R1_rev%2014. pdf. Acesso em: 29 set. 2021. http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/392_CPC_PMEeGlossario_R1_rev%2014.pdf http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/392_CPC_PMEeGlossario_R1_rev%2014.pdf 53 PADOVEZE, C. L. Manual de Contabilidade Internacional: IFRS – US GAAP e BR GAAP. Teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning, 2014. SILVA, A. A. da. Estrutura, análise e interpretação das demonstrações contábeis. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2019. 54 Elementos das Demonstrações Contábeis Autoria: Geiciane Macena Lino Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Apresentar os elementos das Demonstrações Contábeis, em concordância com o Pronunciamento Técnico CPC 00. • Explanar as definições de ativo, passivo, patrimônio líquido, receitas e despesas. • Demonstrar os conceitos contábeis que englobam os ativos e passivos. 55 1. Introdução A Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro divide os elementos das demonstrações contábeis em dois grupos: os que se relacionam com a posição financeira da entidade e os correlacionados com o desempenho financeiro da entidade. No grupo referente a posição financeira, estão classificados os ativos, passivos e o patrimônio líquido. Já no grupo referente ao desempenho financeiro, estão as receitas e as despesas. Os ativos são recursos econômicos, ou seja, direitos com capacidade de gerar benefícios econômicos. Passivos e patrimônio líquido são, para a empresa, reivindicações. Os passivos por se tratarem de obrigações, que exigem da entidade a transferência de recursos econômicos, e o patrimônio líquido por se tratar da participação residual dos sócios nos ativos da empresa, depois de deduzidos todos os passivos. Receitas e despesas são tratados pelo Pronunciamento Técnico CPC 00 R2 (2019, p. 19) como alterações em recursos econômicos e reivindicações que refletem o desempenho financeiro, pois refletem diretamente nos ativos, passivos e patrimônio líquido, ocasionando aumento ou redução destes grupos de contas. O impacto dessas alterações é demonstrado a seguir: 56 Figura 1 – Reflexo das alterações em recursos econômicos nos Ativos, Passivos e Patrimônio Líquido Fonte: adaptada de CPC (2019, p. 19). 1.1 Ativo Para Iudícibus (2021, p. 106) ativos são recursos controlados por uma entidade capazes de gerar, mediata ou imediatamente, fluxos de caixa. Esta definição é análoga à da Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro, que define ativos como recursos econômicos – direitos com capacidade de gerar benefícios econômicos. Desta forma, podemos entender o ativo como: • Recursos/recursos econômicos – abrange tanto ativos tangíveis quanto ativos intangíveis; • Controlados por uma entidade – mesmo que a empresa tenha feito a aquisição de um ativo (ex.: imobilizado) e este ainda não esteja fisicamente na empresa, contabilmente é um ativo; 57 • Capacidade de gerar fluxos de caixa/benefícios econômicos – um ativo gera benefícios econômicos imediatos ou futuros. Esses benefícios consistem em entradas de caixa ou, ainda, em economia de saídas de caixa. Os ativos precisam atender a três aspectos: I) direito; II) potencial de produzir benefícios econômicos; III) controle (CPC, 2019, p. 19). I. Direitos: podem representar – ou não – obrigações de outra parte. Representam obrigação de outra parte, por exemplo, direitos de receber dinheiro ou bens e serviços. Exemplos de direitos que não correspondem a obrigações de outra parte são direitos sobre bens, como estoques e imobilizado e direitos sobre propriedade intelectual. II. Potencial de produzir recursos econômicos: a empresa não pode possuir benefícios econômicos dela própria. Por isso, contas como ações em tesouraria não são consideradas recursos econômicos da empresa, pois se referem a instrumentos patrimoniais emitidos pela própria empresa e recomprados por ela. III. Controle: é necessário que o recurso econômicoesteja vinculado à entidade. O controle sobre o recurso econômico é definido pela capacidade presente de destinar o uso desse recurso e obter benefícios econômicos futuros. 1.2 Passivo Conforme visto anteriormente, os passivos são as obrigações da empresa que geram saída de recursos. Assim, o Pronunciamento Técnico CPC 00 R2 (2019, p. 22) define passivo como uma obrigação presente da entidade de transferir um recurso econômico como resultado de eventos passados. 58 Assim, o passivo pode ser entendido como uma exigibilidade, que, em outras palavras, representa um fato ocorrido no passado ou presente que será pago em um momento no futuro, envolvendo a saída de recursos/caixa. O CPC 00 (R2) define ainda três critérios para passivo: I) obrigação; II) deve envolver a transferência de um recurso econômico; III) deve resultar de eventos passados. I. Obrigação: é sempre devida a terceiros (pessoas físicas ou pessoas jurídicas). Se a empresa tem uma obrigação de transferir um recurso econômico, logo, a outra parte tem um direito de recebimento. Pelo princípio de continuidade operacional de elaboração das demonstrações contábeis, as obrigações não cessam. Somente haveria a interrupção das obrigações caso a empresa deixasse de negociar. II. Transferência de recurso econômico: a obrigação deve resultar em uma transferência de recurso econômico da empresa para terceiros. A obrigação pode ser, por exemplo, de pagar um determinado valor, de prestar um serviço ou de entregar produtos. III. Resultado de eventos passados: significa que a entidade já obteve benefícios econômicos resultantes da obrigação. Um exemplo disso é quando a empresa contrata um funcionário, adquirindo uma obrigação (pagamento do salário). No entanto, a obrigação somente será devida após a prestação de serviços pelo funcionário, sendo assim, a obrigação é um resultado de evento passado, pois ela já usufruiu dos benefícios econômicos proveniente da obrigação (serviços prestados). 59 Figura 2 – Exemplos de obrigações de transferência de recursos econômicos Fonte: adaptada de Almeida (2021, p. 91). 1.3 Unidade de conta de ativos e passivos A unidade de conta está relacionada aos critérios de reconhecimento e mensuração dos direitos e obrigações. Uma unidade de conta deve fornecer informações relevantes dos ativos e passivos e das receitas e despesas relacionadas. Exemplificando, pode ser mais relevante considerar um grupo de direitos e obrigações agrupados em uma unidade de conta única do que tratar cada direito ou obrigação isoladamente. O agrupamento por unidades de conta pode ser realizado com direitos e obrigações de diferentes origens, como, também, pode ser relevante separar informações de direitos e obrigações de uma mesma origem. Contudo, de maneira geral, ao separar direitos e obrigações resultantes de uma mesma origem, é preciso que o custo seja menor que o benefício de divulgar as informações separadamente. 60 De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 00 R2 (2019, p. 26), as possíveis unidades de conta incluem: a. Direito individual ou obrigação individual; b. Todos os direitos e todas as obrigações decorrentes de uma única origem, por exemplo, um contrato; c. Subgrupo desses direitos e/ou obrigações – por exemplo, subgrupo de direitos sobre um item do imobilizado para o qual a vida útil e o padrão de consumo diferem daqueles dos outros direitos sobre esse item; d. Grupo de direitos e/ou obrigações decorrentes de carteira de itens similares; e. Grupo de direitos e/ou obrigações decorrentes de carteira de itens diferentes – por exemplo, carteira de ativos e passivos a ser alienada em uma única transação; e f. Exposição a risco dentro de carteira de itens – se a carteira de itens estiver sujeita a risco comum, alguns aspectos da contabilização dessa carteira poderiam focar a exposição agregada a esse risco dentro da carteira. 1.4 Patrimônio Líquido (PL) Os elementos do PL são aqueles resultantes da participação nos ativos da empresa após a diminuição de todos os elementos do passivo. Isto é, são reivindicações contra a empresa que não se encaixam na definição de passivo, como dividendos, que são a remuneração dos acionistas pelo capital investido no negócio. 61 Figura 3 – Representação do Patrimônio Líquido Fonte: elaborada pela autora. Uma outra definição para o Patrimônio Líquido é a de que se trata da geração de riqueza de uma entidade, pois é composto pelo valor investido pelos sócios na empresa mais a riqueza gerada, após o pagamento de todas as obrigações com terceiros (passivos). Isso significa que, considerando a hipótese de liquidação da empresa (descontinuidade operacional), em que ela realize todos os seus ativos e liquide todos os seus passivos, o PL será o valor da riqueza gerada que será distribuido aos sócios. No exemplo da Figura 3, os sócios/acionistas receberiam R$ 200.000, referente ao capital investido mais a riqueza gerada. Poderia ocorrer, ainda, que o valor do ativo fosse igual ao valor do passivo, não existindo patrimônio líquido. Em outras palavras, não haveria distribuição de riqueza para os sócios, já que o valor dos ativos seriam usados para saldar os passivos (obrigações com terceiros). 62 Uma última situação que poderia acontecer, ainda considerando a hipótese de liquidação da entidade, seria o que chamamos de passivo a descoberto. Ocorre quando o valor do ativo é menor que o valor do passivo, resultando no PL negativo. Nessa situação, os ativos não seriam suficientes para saldar as obrigações. As principais fontes de capital que compõem o Patrimônio Líquido são: I. Capital social/investimentos dos sócios ou acionistas; II. Aportes de capital; III. Reservas obrigatórias (de capital, de lucros); IV. Ações em tesouraria; V. Lucros ou prejuízos acumulados. 1.5 Receitas e despesas Receitas e despesas são as alterações ocorridas nos elementos das demonstrações contábeis (ativos, passivos e patrimônio líquido) que refletem no desempenho financeiro da entidade. As receitas influenciam aumentando os ativos e o patrimônio líquido e reduzindo os passivos. Já o impacto das despesas ocorre de forma inversa: redução dos ativos e do PL e aumento dos passivos. Os elementos relacionados às receitas e despesas da entidade são classificados e apresentados na Demonstração do Resultado do Exercício e na Demonstração do Resultado Abrangente. As demonstrações de resultado são as principais fontes de informações com relação ao desempenho financeiro da entidade. Segundo Padoveze (2014, p. 253), a origem das receitas inclui tanto a entrada de recursos quanto o aumento de ativos, além dos ganhos decorrentes de atividades ordinárias da empresa, como: 63 I. Venda de bens: bens fabricados pela empresa com a finalidade de venda e bens comprados para revenda (ex.: terrenos e outras propriedades); II. Prestação de serviços (honorários): contrato estabelecido durante determinado período acordado entre as partes; III. Juros: encargos pela utilização de caixa e equivalentes de caixa; IV. Royalties: encargos pela utilização de ativos de longo prazo da empresa (por exemplo, marcas e direitos autorais); V. Dividendos: distribuição de lucros aos acionistas proporcionalmente à sua participação na empresa. As despesas podem ser entendidas como os bens e serviços consumidos com o objetivo de gerar receitas ou o esforço para gerar receitas. Alguns exemplos: a. Custo da Mercadoria Vendida (CMV) ou Custo do Produto Vendido (CPV) ou Custo dos Serviços Prestados (CSP); b. Despesas com vendas (impostos, abatimentos, comissões); c. Despesas administrativas (salários administrativos, encargos sobre os salários, serviços de telefonia/internet); d. Despesas financeiras (encargos e juros); e. Despesas tributárias (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços, Imposto de Renda Pessoa Jurídica, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). 1.6 Conclusão Os principais pontos abordados neste tema
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