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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA LIBRAS AULA 5 Profª Joana Melegari 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa, prosseguimos avançando em nosso estudo. Verdade é que nossos estudos envolveram as duas línguas que percorrem nosso meio: a Libras e a Língua Portuguesa. Em meio às aulas, pudemos tecer comparações entre ambas as Línguas, observando se algo que ocorre em uma Língua ocorre na outra, e vice-versa, além de descobrir demais similariedades e distinções. Iniciamos de forma teórica, conhecendo os conceitos básicos relacionados à Linguística e, então, fomos descobrindo exemplos que auxiliaram na elucidação do que estava sendo trabalhado. Neste momento, estaremos caminhando por um campo que ainda envolve a Linguística1 das Línguas, como a Criatividade e a Produtividade. Em seguida, conheceremos outro campo presente e relacionado à Pessoas Surdas: os Métodos de Ensino para Surdos. Aqui, você estudará brevemente os ambientes em que a Educação de Surdos se deu, uma vez que os temas serão abordados de forma introdutória. À medida que avançamos em nossos conhecimentos, percebemos que os conteúdos tratados começam a se entrelaçar, e você passa a internalizar melhor o que está sendo trabalhado. Veremos, como dito, acerca da Criatividade e Produtividade das Línguas, que têm estreita relação com a Flexibilidade e Versatilidade das Línguas, em especial da Libras, nosso foco de estudo. Estudaremos as breves distinções e, então seguiremos, com maior enfoque no âmbito das aquisições da Linguagem e da Língua; perceba que retomamos aqui um conceito visto na primeira etapa acerca da Linguagem. A Linguagem está presente, por exemplo, em um dos Métodos de Ensino para Surdos, de forma enraizada, enquanto se faz menos presente em seu entendimento puro, em outros métodos. É interessante observar que: 1 Optou-se, ao longo deste estudo, pelo uso maiúsculo da primeira letra de ‘Linguagem’, ‘Linguística’ e ‘Língua’, de forma arbitrária, em certas ocasiões, no sentido de colocar esses conceitos como objeto de estudo em determinados momentos. A mesma coisa ocorrerá com outras palavras, assim como apresentado nas Aulas 1, 2, 3 e 4. 3 Essa representação é comum a você, ou causa-lhe estranheza? Vamos clarear suas ideias acerca dessa representação. A Linguagem é um campo científico que trabalha, basicamente, com diferentes representações do signos, como a dança, o teatro, a música... Entre esses signos, temos a Língua. Portanto, sim, a Língua é uma Linguagem. Por motivo de grande desconhecimento, erroneamente atribuem à Libras o status de Linguagem. “Mas Professora, você não acabou de dizer que a Língua é uma Linguagem, e entendendo que a Libras é uma Língua, logo, não seria uma Linguagem?” Sim, acabei de informar isso. Entretanto, equivocada não é a definição, e sim a intenção. A Libras foi vista (entendendo que hoje a ignorância está se desvanecendo) como Mímica, e até mesmo uma Pantomima (ver Aula 4), e essas são definitivamente Linguagens. O grande problema está no achismo de que a Libras se configura como um conjunto de gestos (também Linguagem!) e não tem status de Língua. Agora, se você entende bem as definições, entende que a Libras é uma Língua, possui gramática e estrutura próprias, e entende que toda Língua é uma Linguagem, então consegue entender que a Libras é uma Linguagem, mas de uma forma adequada. Sabendo realizar a distinção dessas definições, então, por fim: Figura 1 – Definições 4 Fuja dessas aberrações! São termos utilizados de forma equivocada, já que Libras não se trata de uma Moeda, tampouco de um Signo do Zodíaco. Você sabe como proceder ao se deparar com esses enganos. É com isso que iniciamos, então, nossa conversa acerca da Criatividade e Produtividade nas Línguas. TEMA 1 – CRIATIVIDADE NAS LÍNGUAS Como citado em nossa Conversa Inicial, a Criatividade e a Produtividade nas Línguas muito apresentam relação com a Flexibilidade e a Versatilidade. Inicialmente, aprendemos que a Libras, assim como demais Línguas utilizadas em diferentes territórios no mundo, pode expressar todo e qualquer conceito, desde o mais abstrato ao mais concreto, por meio do seu léxico. Aqui, temos que relembrar que as Expressões Não Manuais (ENM) que serão mais bem estudadas em nossa Aula 6, embora não se personifiquem em sinais, apresentam papel sintático. A Libras é flexível, maleável, versátil, multifacetada. Assim como tivemos acesso às definições de Flexibilidade e Versatilidade, definamos Criatividade e Produtividade: Figura 2 – Criatividade e Produtividade Observe esses recortes de definição que foram retirados do mesmo dicionário online consultado na aula anterior, passando por adaptações para que fosse possível observarmos esses conceitos sob a ótica da Linguística. Veja que termos como ‘ouvido’, ‘pronunciado’ e ‘palavras’ surgem, remetendo às Línguas 5 Orais, mas podem ser adaptados para as Línguas de Sinais, basta que façamos atribuições como ‘visto’, ‘sinalizado’ e ‘sinais’. Ao ler essas definições, parece- me ser possível já criar certas ideias em mente. A Libras, enquanto Língua, é formada por sujeitos, substantivos e verbos, por exemplo, sendo possível o uso das Classes Gramaticais (mesmo que com equivalentes para o uso de Interjeições, por exemplo, que se baseiam em sons). O usuário da Língua, sabendo bem fazer uso da gramática, pode, por meio disso, começar a compreender que é possível realizar produções na Língua. Um exemplo clássico de ‘compreender enunciados sem nunca os ter ouvidos ou pronunciado...’ é o uso de “upload”, uma palavra em inglês que significa ‘carregar’, em uma tradução direta. Trata-se de um Estrangeirismo voltado para a área da Tecnologia, da Informática, que se trata de carregar algo, anexar algo, em algum lugar, isso quando não se estende para o uso de nuvem de dados, em que se carrega um conteúdo para uma ‘nuvem’, onde se ‘levanta’, ‘sobe’ algo. Na Língua Portuguesa e, em especial, em jogos e afins (mas não apenas nesses meios), o termo “upload” passou por um processo de aportuguesamento, como observado a seguir: EXEMPLO 1: IREI REALIZAR O UPLOAD DOS ARQUIVOS QUE VOCÊ ME PEDIU. Obs.: uso do termo em sua língua original, a inglesa. IREI UPAR OS ARQUIVOS QUE VOCÊ ME PEDIU. Obs.: uso do termo após o aportuguesamento. Perceba que houve uma contração e alteração em parte do termo, para aportuguesar algo que é de amplo conhecimento e uso. Esse é um aspecto criativo da Língua, uma vez que se estou habituada ao uso desses termos, logo entenderei o contexto, e entenderei o que está sendo dito. Um outro exemplo comum em processos de Aquisição da Linguagem por crianças Ouvintes é o uso incorreto (claro, entendemos que se trata de estágios iniciais de produção, mas, ainda assim, segundo a gramática da Língua Portuguesa, incorreto) conjugação do verbo “GOSTAR”. EXEMPLO 2, A-1: EU GOSTI! Obs.: uso incorreto do verbo “GOSTAR”, no tempo verbal passado. EXEMPLO 2, A-2: EU GOSTEI! 6 Obs.: uso correto do verbo “GOSTAR”, no tempo verbal passado. EXEMPLO 2, B-1: EU GOSTI! Obs.: uso incorreto do verbo “GOSTAR2”. Link: <https://youtu.be/H4iKH5jqtZM>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. EXEMPLO 02, B-2: EU GOSTEI! Obs.: uso correto do verbo “GOSTAR2”. Link: <https://youtu.be/DYWfiZZnIwc>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. 2 Nesse exemplo em Libras, suspendemos o uso do passado, uma vez que, nessa Língua, para o uso do passado, é necessário o acréscimo de algo que aponta para determinado tempo verbal. Claro, isso varia de contexto para contexto, mas neste momento, vamos desprezar o contexto e nos concentrar nos usos corretos e incorretos do verbo em si. Se possível, acessar a Aula 2 da Disciplina de Libras 2 para melhor entendimento dos tempos verbaisem Libras. 7 Ambos os exemplos são entendidos? São entendidos, mesmo sendo formados de forma diferente da correta. Essas questões também consistem em aspectos criativos da Língua. Um outro aspecto da Criatividade nas Línguas é o uso de Expressões Idiomáticas. As Expressões Idiomáticas dizem respeito às expressões nas Línguas cujo significado literal de seus elementos não pode ser levado em consideração, entendendo que se levados ao conhecido ‘pé da letra’, não fazem sentido algum. As expressões podem remeter a algo cultural de determinada região e, ainda assim, acabar sendo utilizado por diversas pessoas em outros ambientes. A Língua Portuguesa apresenta inúmeras Expressões Idiomáticas. EXEMPLO 3, A: EU LAVO AS MINHAS MÃOS. Veja que a expressão é muito conhecida, significando que a pessoa ‘está isenta de culpa, isenta de responsabilidade, de prejuízo’. Em Libras, a expressão citada assumiria a seguinte forma. EXEMPLO 3, B-1: EU LAVO AS MINHAS MÃOS. Link: <https://youtu.be/Yt3utqpFvdo>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. As Expressões Idiomáticas não podem ser entendidas literalmente. Em Libras, veja que a frase ‘EU LAVO AS MINHAS MÃOS’ acaba sendo entendida como um ato de higiene, por não se tratar de uma expressão da Língua. Sendo 8 assim, o EXEMPLO 3, B-1, trata-se de uma tradução direta de uma expressão presente na cultura brasileira (lembrando que se trata de uma expressão que pode estar presente em outros territórios). Veja que essa expressão tem origem bíblica, especificamente quanto às Tradições da Páscoa Judaica. O registro encontra-se no julgamento de Jesus Cristo, presidida pelo governador romano Pôncio Pilatos, que se isenta dessa responsabilidade, transmitindo-a ao povo. Esse registro se encontra em Mateus, 27:24 (NVI)3: Quando Pilatos percebeu que não estava obtendo nenhum resultado, mas, ao contrário, estava se iniciando um tumulto, mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão e disse: “Estou inocente do sangue deste homem; a responsabilidade é de vocês”. Qual seria, então, a melhor forma de expressar isso em Libras? EXEMPLO 3, B-2: EU LAVO AS MINHAS MÃOS. Link: <https://youtu.be/YYOOSDHPJlM>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. Perceba que essa forma expressa pelo EXEMPLO 3, B-2, é a mais adequada e, curiosamente, lembra o ‘lavar as mãos’, claro, com distinções quanto ao acréscimo de gestos ao fim da sinalização, e pelo uso das ENM. Essa é a correta “adequação” (Expressões Idiomáticas não são traduzidas!). Mas... há Expressões Idiomáticas originárias da Libras, das Línguas de Sinais? 3 Sigla para Nova Versão Internacional, uma das traduções da Bíblia Sagrada. 9 EXEMPLO 3, C: OLHOS CAROS! Link: <https://youtu.be/8F7wS08wdWk>. Acesso em: 1º out. 2023 Crédito: Katherine Fischer. Você sabe o que seriam “OLHOS CAROS”? Essa expressão na Libras significa que o usuário tem olhos bons no sentido de observadores, olhos que percebem detalhes, as minuciosidades. Na Comunidade Surda, essa expressão é vista até mesmo como elogio! Um outro aspecto relacionado à Criatividade nas Línguas de Sinais é a criação de sinais. Vamos excluir, neste momento, os processos de convencionalização de sinais, em que há uma incorporação neles em determinada Língua, já que esse processo não é o foco do nosso estudo. Estamos aqui para apontar a Criatividade no processo literal de criação, e a(s) motivação(ões) por trás das criações dos sinais. Quando você observa, na ficha técnica presente nos dicionários, ou então no seu verso, por exemplo, você terá o número (podendo ser aproximado) de verbetes contidos ali. Além disso, são diferentes os dicionários disponíveis em Língua Portuguesa. Para a Libras, temos o reconhecido trabalho enciclopédico de Fernando Cesar Capovilla e Walkiria Duarte Raphael (vide Aula 3), e outras publicações em paralelo, destacando-se o citado. https://youtu.be/8F7wS08wdWk 10 Verdade é que, diferentemente do processo de categorização de Sinais Icônicos e Arbitrários (que sob a ótica da Professora, não é possível em um primeiro momento, considerando as subjetividades no processo de entendimento da Etimologia dos sinais), é possível verificar que há mais verbetes em Língua Portuguesa do que sinais na Libras. Vejamos, então, um exemplo de sinal criado em âmbito religioso, relacionado a um conceito fundamental relacionado ao meio. EXEMPLO 4: CONVERSÃO Link: <https://youtu.be/pDKPnG92ye8>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. Esse é o sinal de “CONVERSÃO”, sendo sinalizado como “ACEITAR- JESUS”, ou seja, sinalizado de acordo com o entendimento que se tem em torno desse conceito. Aos sinais que são criados, ou então, utilizados há algum tempo, que remetem ao seu conceito, damos o nome de Sinais Conceituais, o que ocorre com “ANTICONCEPCIONAL”. https://youtu.be/pDKPnG92ye8 11 EXEMPLO 5: ANTICONCEPCIONAL Link: <https://youtu.be/DqTrHpbZJHA>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. Veja que o sinal de “ANTICONCEPCIONAL” não é formado por apenas um sinal, mas por três: “REMÉDIO + EVITAR + GRAVIDEZ”. É um Sinal Conceitual, pois sua produção se dá pela sinalização do conceito. Observe que se houver uma frase do tipo “Um anticoncepcional é um remédio que evita a gravidez”, e você sinalizá-la, acabará sinalizando a mesma questão, duas vezes, por isso precisará se valer de outros artifícios, como uma provável datilologia da palavra, resultando nisso: “Um A-N-T-I-C-O-N-C-E-P-C-I-O-N-A-L é um remédio que evita a gravidez”. Sabemos que os anticoncepcionais também são utilizados para outros fins, mas trouxemos aqui um dos usos mais comuns. Voltando ao sinal de “CONVERSÃO”, o sinal era tido como um Sinal Conceitual. Hoje, temos uma outra opção para esse sinal. https://youtu.be/DqTrHpbZJHA 12 EXEMPLO 6: CONVERSÃO (2ª OPÇÃO) Link: <https://youtu.be/UGVXYwppOl0>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. Essa segunda opção já trabalha melhor com o próprio conceito de “CONVERSÃO”. A palavra propriamente dita, quando usada no contexto de trânsito, significa virar, alterar o caminho, e o mesmo é utilizado no meio religioso, no sentido de que há uma mudança, no caso, de caminho, mudança essa que ocorre no coração. Curioso, não? Os Classificadores também são pontos considerados criativos na Língua, sendo considerados elementos linguísticos. Os Classificadores são morfemas (retome a Aula 2 para revisar esse conteúdo) que, por meio das Configurações de Mão (CM), formas que as mãos podem assumir para a produção dos sinais, são unidos, afixos a morfemas do tipo lexicais, os próprios sinais, a fim de apontar a classe à qual pertencem. Para que entendamos melhor quais são essas classes, podemos aqui, brevemente, citar os que são encontrados nas Línguas de Sinais (aqui não trabalharemos com os Classificadores das Línguas Orais), para que você os conheça melhor, para passar a enriquecer seu vocabulário, sinalização e até mesmo os reconhecer em outros meios. Classificador Descritivo e Especificador: como o nome diz, é a descrição de algo, seja um objeto, ser vivo e não vivo, sob a perspectiva de https://youtu.be/UGVXYwppOl0 13 algumas características, como o tamanho e textura, por exemplo. Devemos nos ater, em especial neste material, em descrições visuais. EXEMPLO 7: CLASSIFICADOR DESCRITIVO E ESPECIFICADOR: PESSOA Link: <https://youtu.be/iUcGKJhbtJ4>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. Veja que a sinalizante está realizando a descrição, e de forma específica, do comprimento e da textura do cabelo, referente à fotografia que se encontra à esquerda. Veja que é possível tratar do Classificador enquanto Descritivo e do Classificador enquanto Especificador.Aqui, para efeitos práticos, estamos com um exemplo de Classificador Descritivo e Especificador. Classificador de Plural: nesse Classificador, temos a repetição de determinada CM adotada para se referir a algo ou a alguém. EXEMPLO 8: CLASSIFICADOR DE PLURAL: LIVROS Link: <https://youtu.be/ehGUGbPPeyU>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. https://youtu.be/iUcGKJhbtJ4 https://youtu.be/ehGUGbPPeyU 14 Veja que a sinalizante indica primeiro o sinal de “LIVRO” para fazer alusão à pilha e, então, utiliza o Classificador de empilhamento de livros, fazendo referência à fotografia que se encontra à esquerda. Classificador Instrumental: aqui, temos um dos Classificadores mais simples de se entender, o que ilustra o uso de determinado instrumento. EXEMPLO 9: CLASSIFICADOR INSTRUMENTAL: AÇÃO DE APAGAR COM UMA BORRACHA Link: <https://youtu.be/IrAU8xaRMto>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. Perceba agora a intensidade no ato de apagar, distinguindo-se do ato de escrever, que é similar ao uso da borracha; o ato de segurar uma borracha se parece com o ato de se segurar um lápis e, consequentemente, escrever. Classificador de Corpo: aqui, como você bem pode presumir, temos o Classificador de representar ações de seres animados. EXEMPLO 10: CLASSIFICADOR DE CORPO: AÇÃO DE UM SER ANIMADO Link: <https://youtu.be/wKDketAipUM>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Mikkel Bigandt/Adobe Stock; Katherine Fischer. https://youtu.be/IrAU8xaRMto https://youtu.be/wKDketAipUM https://stock.adobe.com/br/contributor/203897308/mikkel-bigandt?load_type=author&prev_url=detail https://stock.adobe.com/br/contributor/203897308/mikkel-bigandt?load_type=author&prev_url=detail 15 Veja que a sinalizante representa, por meio de um Classificador de Corpo, o andar de um animal, um ser animado, no caso, o cachorro, até mesmo com a língua de fora, um detalhe que enriquece a sinalização. Para aprofundar seus conhecimentos, acesse o material que está disposto nas Referências Bibliográficas acerca dos Classificadores. Temos outros além dos que foram trazidos aqui, esses a título de curiosidade inicial, para ilustrar mais um aspecto da Criatividade nas Línguas. Por fim, para encerrarmos nossa conversa acerca da Criatividade, temos as Narrativas. Em Libras, assim como na Língua Portuguesa, temos diferentes Pessoas Surdas que produzem conteúdos online, claro, além dos que os produzem de forma presencial. Veja que, assim como aprendemos com a Flexibilidade e Versatilidade em nossa aula anterior, é possível unir esses conceitos anteriores com a Criatividade, havendo aplicação em diferentes meios e acerca de diferentes conteúdos. Tendo em vista que ainda discorreremos acerca de outros assuntos, é importante que você saiba que com a tecnologia que temos hoje, muitas Pessoas Surdas de renome estão disponíveis em diferentes meios, tratando de assuntos como Libras, Cultura Surda, Acessibilidade e vida em sociedade, bem como acerca de quaisquer outros conteúdos. Ao fim desta etapa, consulte as redes sociais, a própria internet por meio do seu navegador preferido, e procure por esses conteúdos. A Criatividade está presente nessas Narrativas, que se apresentam de diferentes formas. TEMA 2 – PRODUTIVIDADE NAS LÍNGUAS É apresentado a você, neste momento, um aspecto que poderia estar na Criatividade, mas foi mais bem posicionado enquanto Produtividade: Temas Complexos. Para que possamos entender Temas Complexos na Libras como Produtividade, é importante que entendamos alguns pontos que estão relacionados à Produtividade na Língua, como Fluência, Velocidade, Vocabulário, Coerência e Clareza e Tecnologia. Dessa vez, começaremos com exemplo e, então, o tendo como princípio, vamos melhor desenvolver nossos entendimentos em como podemos perceber a Produtividade em uma Língua. Nossas tratativas acerca da Criatividade foram extensas (que Língua rica a Libras!), portanto, vamos revisar a definição de Produtividade, tendo-a 16 enquanto “[...] aquilo que é produtivo, aquilo que gera produção, uso de certos padrões [...]”. À medida que você conhece a Comunidade Surda, maior acesso tem ao que com o tempo vai sendo criado, desenvolvido e difundido. Assim como nas Línguas Orais, nas Línguas Sinalizadas temos as variações linguísticas e regionais, ou seja, diferentes formas de se sinalizar, entendendo que uma sociedade é formada por diferentes pessoas, com costumes e tradições diferenciadas, podendo englobar diferentes culturas. Isso não significa que sinalizantes curitibanos não compreendem sinalizantes paraenses, e vice-versa, por exemplo, mas é perceptível, durante a produção, observar diferentes aspectos pertencentes às regiões, além do uso de diferentes léxicos para se referirem a determinados sinais. Para tratarmos acerca da Produtividade, vamos discutir o Vocabulário, a Fluência, a Coerência e a Clareza, bem como a Tecnologia. Para tanto, nos valeremos de um material produzido pelo Centro de Apoio ao Surdo e aos Profissionais da Educação de Surdos do Paraná (CAS Paraná), um órgão vinculado ao Departamento de Educação Inclusiva (DEIN) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR). O CAS Paraná tem como público- alvo de seus atendimentos as Pessoas Surdas e Profissionais da Educação de Surdos. Um de seus Núcleos de Atuação, uma de suas frentes de trabalho, é o Núcleo de Apoio Didático-Pedagógico e Tecnológico (NADPT), que trabalha com a produção de materiais bilíngues. Os CAS Paraná, compostos por sete Centros (Apucarana, Cascavel, Curitiba, Francisco Beltrão, Guarapuava, Maringá e Umuarama), passaram a desenvolver, no ano de 2021, a tradução da Prova Paraná4, em Libras. A Prova Paraná é uma avaliação diagnóstica que identifica as dificuldades e habilidades que se encontram no processo de aprendizagem dos estudantes paranaenses. Como dito, a partir de 2021, iniciou-se, por meio de projeto piloto, a tradução da Prova, prova essa aplicada em cada um dos três trimestres do ano letivo. 4 Para mais informações, acessar: <https://www.provaparana.pr.gov.br/>. Acesso em: 1º out. 1012. 17 Figura 3 – Prova Paraná Fonte: <https://www.provaparana.pr.gov.br>. Acesso em: 1º out. 2023. Os estudos iniciais para o projeto piloto da Prova Paraná em Libras basearam-se no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em Libras, iniciativa (e aqui nos basearemos apenas no Exame para que possamos tratar sobre a Produtividade em Libras) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), para atender linguisticamente os candidatos Surdos e com Deficiência Auditiva, para realização do ENEM. Veja, temos um Exame Nacional sendo aplicado em Libras, por meio de videoprova. Figura 4 – Videoprova em Libras Fonte: <http://enemvideolibras.inep.gov.br/2017/videoprova.html?prova=p4>. Acesso em: 1º out. 2023. O Enem em Libras conta com uma plataforma interativa, enquanto a Prova Paraná está, a cada ano, estudando melhorias para melhor atender os estudantes Surdos e com Deficiência Auditiva paranaenses. Com a aprovação 18 do projeto piloto, então a Prova tem seus Componentes Curriculares de Língua Portuguesa e Matemática, traduzidos, do 5º ano do ensino fundamental até a 3ª Série do ensino médio. Observe o vídeo a seguir, para então discutirmos os aspectos de Produtividade nas Línguas. Disponível em: <https://youtu.be/w3IlGeRw_Lk>. Acesso em: 1º out. 2023. O vídeo que você visualizou apontou, de forma breve, apenas recortes da Prova em Libras, ou seja, o conteúdo de uma Prova que foi disponibilizada de forma física, agora, contando com tradução em Libras. A Prova tem tradução em seus Componentes Curriculares de Língua Portuguesa e Matemática, desde 2021, mas os recortes acima são da Prova do 1º trimestre de 2023. Vamos para o primeiro aspectoacerca da Produtividade na Língua: o Vocabulário. • Vocabulário: todo Exame, Prova, seja em nível nacional, estadual e/ou municipal, tem toda uma construção com certo número de vocabulários utilizados. Em Libras, é necessário que haja um amplo conhecimento do léxico, dos sinais de uma Língua, uma vez que os gêneros textuais são variados, os conteúdos são variados, e para que todo o conteúdo fosse traduzido de forma adequada, equivalente e de forma integral, o Vocabulário se fez necessário, a fim de atender ao que está sendo proposto, sendo as ideias e conceitos transmitidos de forma completa; 19 • Fluência: definamos Fluência, aqui, enquanto produção de uma Língua, sem esforço, de forma suave e em velocidade adequada para entendimento. Não é nosso foco aqui nos aprofundarmos acerca da Fluência, mas é importante que brevemente entendamos a sua relação com o item anterior, o do Vocabulário. O Vocabulário é fator importante para a Fluência. O Vocabulário foi o primeiro item apontado aqui porque sem ele, a Fluência não se dá de forma efetiva. Se os envolvidos na Prova Sinalizada não se mostrarem fluentes na Língua, provavelmente não têm Vocabulário suficiente para sinalizar o que está sendo explanado. Para sua curiosidade, a Proficiência de uma Língua é diferente da Fluência. Enquanto a Fluência é o uso da Língua em sociedade, uso na comunicação, a Proficiência é o uso instrumental da Língua, ou seja, o trabalho, o manejo dela, com competência, habilidade. Um sinalizante pode ser fluente e ainda assim não ser proficiente; mas enquanto proficiente, um sinalizante certamente também é fluente; • Coerência e Clareza: a Clareza na Sinalização deve estar presente independente do meio em que está sendo produzida, e claramente, em especial, em Provas. A Coerência diz respeito à organização de ideias, e nesse caso, por meio espacial, para que a mensagem inicial seja a mesma entendida enquanto mensagem final, sem se cometer equívocos e sem a presença de ideias dúbias que reverberem em prejuízo ou em dupla compreensão. Nesse caso, sendo uma Prova, a Coerência se faz extremamente necessária, e ela se dá por meio da Clareza; • Tecnologia: quando pensamos em Libras, a Tecnologia logo é associada, pois está presente no meio digital. Hoje é muito comum encontrar conteúdo em Libras, em redes sociais, sites e afins, onde a circulação de conteúdo ocorre de forma ágil e gradual. Uma prova Sinalizada conta com a Tecnologia desde o momento de gravação, passando pela edição, que também é bem estudada para que a estética seja confortável aos olhos, no sentido de boa visualização e clareza, atendendo à Acessibilidade, permitindo boa produção e boa recepção por parte dos Estudantes Surdos e com Deficiência Auditiva. Esses aspectos apresentados resultam na Produtividade da Língua, de forma eficiente, objetiva e completa. Aqui, encerramos os aspectos de 20 Criatividade e Produtividade na Língua. Mais uma vez, destacamos a riqueza da Libras, valorosa (literalmente!) aos olhos. TEMA 3 – MÉTODOS DE ENSINO PARA SURDOS: COMUNICAÇÃO TOTAL Conheçamos, agora, os Métodos de Ensino voltados para Surdos. Nesta etapa, apresentaremos três dos mais conhecidos e faremos uma breve introdução. O nosso primeiro Método é o da Comunicação Total. SINAL DE “COMUNICAÇÃO TOTAL”, EM LIBRAS Link: <https://youtu.be/voTgMwLbfcA>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. A Comunicação Total pode ser utilizada entre Pessoas Surdas, Pessoas Surdas e Ouvintes e até mesmo entre Pessoas Ouvintes, mas sendo nosso foco as Pessoas Surdas, vamos estabelecer esse campo para reflexão. Assim como o Oralismo (nosso Tópico 4), há uma certa preocupação voltada para a oralidade, que se acredita ser necessária para a criança Surda, na qual deve haver estímulos sociais, por exemplo, para que a Língua Falada seja desenvolvida. Engana-se quem pensa que a Comunicação Total foca apenas na oralidade, uma vez que essa é objeto principal do Oralismo. A Comunicação Total também faz uso de recursos visuais, mas não faz par com o Bilinguismo, por exemplo. Como o próprio nome tende a apontar, a Comunicação Total faz uso de muitos recursos linguísticos, em suas mais variadas formas, tendo em vista a necessidade da comunicação. O foco é o estabelecimento da https://youtu.be/voTgMwLbfcA 21 comunicação, seja ela por meio da própria Libras, seja pela Língua Falada, no caso, a Língua Portuguesa, e de outros recursos como a leitura labial (que será fortemente apontada no Oralismo), dos gestos (diferentes dos sinais!) que são gesticulações que comunicam algo, o trabalho com som, leitura e escrita. Esses são os principais focos de atenção. Estando presente no Brasil no final da década de 1970, a Comunicação Total se opõe ao Oralismo, no sentido de que acredita que a criança Surda não deve ser exposta apenas à oralidade, acreditando que esse é o caminho para o seu desenvolvimento. Mais que isso, a Comunicação Total enxerga além da patologia enquanto Deficiência Auditiva, enxergando a criança Surda enquanto indivíduo que precisa desenvolver o afetivo e o cognitivo. É importante colocar aqui que há profissionais adeptos desse Método de Ensino para Surdos, profissionais esses que defendem a necessidade da comunicação, como já colocado, mas também a interação, ou seja, não basta apenas que a criança tenha uma Língua, aprenda uma Língua, mas, sim, que haja o contato com seus pares (outras crianças Surdas) e com os demais. Por fim, entende-se esse Método como uma ligação direta entre a aquisição e a construção de vocabulários e o seu uso, para que a comunicação seja possível e atinja seus objetivos. Portanto, muito mais que a Língua, muito mais que a gramática e muito antes da sua produção, temos a Linguagem, no sentido de que toda criança Surda deve ser inserida no ambiente em que esteja, comunicando-se da forma que for possível, e não necessariamente se dando por meio de uma Língua. A Comunicação Total também vê o Bimodalismo como uma forma de comunicação aceita entre crianças Surdas, sendo ele utilizado por indivíduos de diferentes idades. Destacam-se aqui as crianças, por serem elas as que são expostas à diferentes Métodos, desde a tenra idade. Figura 5 – Bimodalismo 22 O Bimodalismo requer certa habilidade em sua produção, entendendo que são necessárias duas Línguas que são produzidas juntas, em que duas gramáticas se sobressaem uma em relação à outra. Sem o seu uso consciente e adequado, há ocorrência do Português Sinalizado. Figura 6 – Português sinalizado O Português Sinalizado é uma forma de produção e comunicação comum a aprendizes em uma Língua, quando já se tem uma Língua e, então, se passa a aprender outra. É comum a recorrência do uso de termos de uma Língua, tendo como base a sua própria Língua. É aceitável no início do processo de aprendizagem de uma Língua em sujeitos adultos, mas é impraticável em crianças, uma vez que suas bases, no que tange à Aquisição da Linguagem, passam a não ser bem fundadas. Figura 7 – Comunicação total Esse foi o nosso acesso ao primeiro Método de Ensino para Surdos. TEMA 4 – MÉTODOS DE ENSINO PARA SURDOS: ORALISMO Agora, vamos abordar o Oralismo, outro Método de Ensino para Surdos. O Oralismo, de forma mais “posicionada”, por assim dizer, trazia que a Língua Oral, a Língua Falada, devia ser ensinada em detrimento das Línguas de Sinais, totalmente rejeitadas. Entenda-se “posicionada” no sentido de defender uma única perspectiva. Um dos expoentes do Oralismo, chamado de “Pai do Oralismo Puro”, foi Samuel Heinicke (1727-1790), educador alemão. Heinicke foi fundador da primeira escola voltada para crianças Surdas, sob a perspectiva do Oralismo, do ensino da Oralidade. 23 O Oralismo, quando trazido para ambientes de debate, sempre foi visto de forma polemizada quandodo olhar de Surdos Sinalizantes, estes defendendo o uso de Línguas Sinalizadas para o desenvolvimento de forma integral do sujeito Surdo. O Oralismo tornou-se o Método de Ensino mais difundido para a Educação de Surdos, a partir do momento em que no conhecido “Congresso de Milão” houve a impetração da Oralismo após uma votação entre educadores surdos, em sua grande e derrocada maioria, compostos por educadores Ouvintes. Além da defesa da oralidade, é importante apontar que o treinamento auditivo era fortemente pautado como o que possibilitaria o desenvolvimento da fala e da Linguagem, sendo o uso da Leitura Labial necessária para melhor possibilitar o desenvolvimento do aparelho fonador, responsável pela execução da fala. Aqui, houve a exclusão quanto ao uso das Línguas de Sinais. SINAL DE “ORALISMO”, EM LIBRAS Link: <https://youtu.be/zGklz-5Nqck>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. Por trás da oralidade, entende-se que a fala é o principal e mais importante recurso para comunicação. Uma outra intenção observada é a aceitação da criança Surda enquanto “normal”, podendo conviver com os demais (é necessário aqui colocar que a criança com Surdez é vista como normal, mas o Oralismo, uma vez afirmando que era necessário restabelecer a criança Surda à normalidade, acaba reafirmando que ser Surdo era ser anormal). Aqui, excluem-se questões identitárias (Surdo se reconhecendo como Surdo), havendo um destaque maior em direção à patologia, observando o Surdo enquanto Deficiente Auditivo, e reforçando a terapia da fala, também em https://youtu.be/zGklz-5Nqck 24 detrimento de questões pedagógicas: era mais importante construir, ou então, restabelecer a audição, a fala, e não necessariamente educar a criança Surda nas diferentes Ciências. Precisamos dizer que há crianças Surdas que bem se desenvolveram mediante a fala, por isso, de toda forma, não pode ser considerada danosa. Esse desenvolvimento é possível por características do próprio nível de perda do sujeito, por exemplo, a observação da estrutura interna do ouvido (no caso da audição) e das condições do aparelho fonador (no caso da fala). Não traçamos relação direta entre audição e fala no sentido de entender que se não há audição, não há fala, pois cada caso é um caso, e exceções sempre são vistas. Figura 8 – Aparelhos Na figura anterior, você observa dois dispositivos presentes quando falamos em Oralismo, pois são formas de buscar ouvir melhor. De um lado, temos um aparelho que pode ser colocado na parte externa e interna da orelha, trabalhando com a ampliação de sons. De outro, temos um aparelho que, embora visível na parte externa da orelha, é implantado (por isso o nome) por meio cirúrgico na parte sua óssea. Figura 9 – Oralismo Aqui, temos então o segundo Método de Ensino para Surdos. 25 TEMA 5 – MÉTODOS DE ENSINO PARA SURDOS: BILINGUISMO Por fim, enquanto último Método a ser abordado nesta etapa, temos o Bilinguismo. Você conhecerá, em nossa Aula 6, a pesquisadora Lucinda Ferreira-Brito. De forma posterior ao advento do Oralismo, temos o surgimento de um Método voltado para as Línguas Sinalizadas, antes excluídas. Aqui, temos o envolvimento de dois aspectos que eram englobados pela Comunicação Total, as Línguas Orais e Sinalizadas. Diferentemente do Oralismo, temos a Língua Oral presente, no caso, a Língua Portuguesa, mas não em sua modalidade oral, mas, sim, escrita. SINAL DE “BILINGUISMO”, EM LIBRAS Link: <https://youtu.be/z1aB_1ZG4jg>. Acesso em: 1º out. 2023. Crédito: Katherine Fischer. No Bilinguismo, temos: Figura 10 – Bilinguismo Como pode ser visto, o Bilinguismo trabalha com duas Línguas, acreditando que, em relação a crianças Surdas, é de extrema importância o primeiro contato com a Libras, desenvolvendo essa Língua como Primeira Língua para, então, passar a ter contato com a Língua Majoritária no país, no https://youtu.be/z1aB_1ZG4jg 26 caso, a Língua Portuguesa. Essas Línguas inicialmente não são ensinadas em conjunto, até mesmo para que haja uma sobreposição e, consequentemente, ocasione em um processo prejudicial no processo de Aquisição da Linguagem da criança Surda. Ainda assim, há casos em que as duas Línguas são trabalhadas em conjunto, em momentos diferentes. Isso pode variar de acordo com o perfil do estudante, do contexto familiar e até mesmo do meio em que ele se encontra. Como citado em meio aos estudos do Oralismo, no Bilinguismo, a criança Surda é vista enquanto Surda, e questões patológicas, clínicas, um olhar para a Surdez em si é deixada em patamar secundário, pois o quesito pedagógico é levado totalmente em consideração. A exposição das crianças Surdas à Libras faz com que haja um entendimento interno de quem são, em sociedade, e como se comunicam linguisticamente. Claro que, inicialmente, não é algo consciente, mas essas significações são necessárias para a construção de suas identidades. O Bilinguismo é observado, hoje, no meio educacional, presente em instituições de ensino bilíngues, nos quais a comunicação se dá por meio da Libras e da Língua Portuguesa na modalidade escrita, por meio de profissionais sinalizantes, estando presente também em instituições inclusivas, por meio de profissionais Tradutores e Intérpretes de Libras – Língua Portuguesa (TILS), mas não fazendo uso do Bilinguismo “clássico”, digamos assi. Isso acontece porque o aprendizado do conteúdo se dá por meio da interpretação do TILS, mas ministrado em Língua Portuguesa, pelos professores. Figura 11 – Bilinguismo Aqui, findamos o terceiro Método de Ensino para Surdos. 27 NA PRÁTICA Depois de termos tido acesso a tantos conhecimentos acerca da Libras e das Línguas como um todo, tanto as Orais quanto as Sinalizadas, vamos replicar o que foi aprendido, de modo a ser facilmente consultado em casos em que você sentir necessidade. Quadro 1 – Resumo CRIATIVIDADE Qualidade de criativo, capacidade de criar ou inventar, capacidade de produzir e compreender um número enorme de enunciados em sua Língua, mesmo nunca antes tendo ouvido ou pronunciado. PRODUTIVIDADE Qualidade ou condição do que é produtivo, potencial para produção, frequência de uso de certos padrões ou elementos na geração de novas palavras. COMUNICAÇÃO TOTAL USO SIMULTÂNEO DE DIFERENTES RECURSOS LINGUÍSTICOS PARA COMUNICAÇÃO. ORALISMO Treinamento da audição para a fala, fazendo uso de Leitura Labial. BILINGUISMO Adquirimento da Libras enquanto L1 e da Língua Portuguesa (na modalidade escrita) como L2, de modo a se comunicar tanto com a Comunidade Surda quanto com a Comunidade Ouvinte. É importante que você conclua esta aula tendo entendido os conceitos dispostos no quadro 1 e, então, seus desdobramentos, atendendo à proposta inicial desta aula. FINALIZANDO Nesta etapa, tivemos acesso a outros aspectos das línguas, como o da Criatividade e da Produtividade, bem como conhecemos Métodos de Ensino para Surdos. Para que possamos findar nosso estudo, avançaremos agora para a Aula 6. 28 REFERÊNCIAS APARELHO AUDITIVO x implante coclear. OuveBem, Clínica e Aparelhos Auditivos, 2023. Disponível em: <https://ouvebem.com.br/blog/aparelho- auditivo-x-implante- coclear#:~:text=A%20principal%20diferen%C3%A7a%20a%20ser,papel%20de %20todo%20o%20ouvido>. Acesso em: 21 ago. 2023. BRASIL. Enem em Libras. Ministério da Educação, Brasília: DF, 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e- exames-educacionais/enem/enem-em-libras>. Acesso em: 2 out. 2023. COMO FUNCIONAM as Expressões Idiomáticas na Libras? Uníntese. Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fH1fX84OZoQ>. Acesso em: 2 out. 2023. CUNHA, M. A. F. da.; CEZARIO, M. M.; Conhecimento, Criatividade e Produtividade sob a Perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso. ALFA,São Paulo, v. 67, 2023. Disponível em: <https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/15041>. Acesso em: 1º out. 2023. EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS em Libras e em Português. As meninas da Libras. Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AdQkow2Klz0&t=205s>. Acesso em: 2 out. 2023. IESDE BRASIL S.A. Filosofias educacionais. Disponível em: <https://professor.pucgoias.edu.br/sitedocente/admin/arquivosUpload/17962/m aterial/Filosofias%20educacionais.pdf>. Acesso em: 1º out. 2023. PARANÁ. Prova Paraná – Avaliação Diagnóstica. Disponível em: <https://www.provaparana.pr.gov.br/>. Acesso em: 2 out. 2023. PERLIN, G. T. T. Alternativas metodológicas para o aluno surdo: 2º semestre Santa Maria: Centro de Educação, Curso de Graduação a Distância em Educação Especial, 2005. PIZZIO, A. L.; QUADROS, R. M. de.; REZENDE, P. L. F. Língua brasileira de sinais I. Universidade Federal de Santa Catarina – Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras na Modalidade a Distância. Florianópolis: 2009. https://ouvebem.com.br/blog/aparelho-auditivo-x-implante-coclear#:%7E:text=A%20principal%20diferen%C3%A7a%20a%20ser,papel%20de%20todo%20o%20ouvido https://ouvebem.com.br/blog/aparelho-auditivo-x-implante-coclear#:%7E:text=A%20principal%20diferen%C3%A7a%20a%20ser,papel%20de%20todo%20o%20ouvido https://ouvebem.com.br/blog/aparelho-auditivo-x-implante-coclear#:%7E:text=A%20principal%20diferen%C3%A7a%20a%20ser,papel%20de%20todo%20o%20ouvido https://ouvebem.com.br/blog/aparelho-auditivo-x-implante-coclear#:%7E:text=A%20principal%20diferen%C3%A7a%20a%20ser,papel%20de%20todo%20o%20ouvido https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/enem/enem-em-libras https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/enem/enem-em-libras https://www.youtube.com/watch?v=fH1fX84OZoQ https://www.youtube.com/watch?v=AdQkow2Klz0&t=205s https://www.provaparana.pr.gov.br/ 29 PIZZIO, A. L. et al. Língua Brasileira de Sinais III. Universidade Federal de Santa Catarina – Licenciatura em Letras-Libras na Modalidade a Distância. Florianópolis, 2009. QUADROS, R. M. de.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. CONVERSA INICIAL Essa representação é comum a você, ou causa-lhe estranheza? Vamos clarear suas ideias acerca dessa representação. A Linguagem é um campo científico que trabalha, basicamente, com diferentes representações do signos, como a dança, o teatro, a música...... “Mas Professora, você não acabou de dizer que a Língua é uma Linguagem, e entendendo que a Libras é uma Língua, logo, não seria uma Linguagem?” Sim, acabei de informar isso. Entretanto, equivocada não é a definição, e sim a intenção. A Libras foi vista (entendendo que hoje a ignorância está se desvanecendo) como Mímica, e até mesmo uma Pantomima (ver Aula 4), e essas são definitivamente Lingu... Sabendo realizar a distinção dessas definições, então, por fim: Figura 1 – Definições Fuja dessas aberrações! São termos utilizados de forma equivocada, já que Libras não se trata de uma Moeda, tampouco de um Signo do Zodíaco. Você sabe como proceder ao se deparar com esses enganos. É com isso que iniciamos, então, nossa conversa acerca da Criatividade e Produtividade nas Línguas.
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