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CONTABILIDADE DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS AULA 1 Profª Paula Pontes de Campos Rasera 2 CONVERSA INICIAL O objetivo desta aula é introduzir o aluno aos conhecimentos da contabilidade de instituições financeiras em seus aspectos gerais e organizacional das operações financeiras. Esse conhecimento é fundamental para a formação do contador, que atuará no mercado das instituições financeiras e em finanças de empresas. Desenvolvendo, desse modo, conhecimento em operações com instrumentos financeiros para análise de viabilidade financeira. Iniciaremos pelos aspectos conceituais do Sistema Financeiro Nacional, discorrendo sobre suas estruturas. O Tema 2 deste material versa sobre juros e spread bancário. Em seguida, o Tema 3 irá descrever os produtos financeiros. O Tema 4 discorrerá sobre os riscos das instituições financeiras. Por fim, o Tema 5 explicará a estrutura e o funcionamento do Plano Contábil das Intituições Financeiras (Cosif). CONTEXTUALIZANDO Por meio do Sistema Financeiro Nacional (SFN) viabiliza-se a relação entre agentes carentes de recursos para investimento e agentes capazes de gerar poupança e, consequentemente, em condições de financiar o crescimento da economia. Por agentes carentes de recursos entende-se aqueles que assumem uma posição de tomadores no mercado, isto é, que despendem de consumo e investimento com valores mais altos que suas rendas. Em contraponto, os agentes superavitários são aqueles capazes de gastar em consumo e investimento menos do que a renda auferida, formando um excedente de poupança. Por intermédio do Sistema Financeiro Nacional, a relação entre agentes econômicos deficitários e agentes superavitários torna-se viável e, assim, tais circunstâncias propiciam o desenvolvimento da economia. Entende-se como agentes deficitários aqueles indivíduos carentes de recursos para investimento, assumindo uma posição de tomadores de crédito no mercado, ou seja, consomem e investem montantes superiores à sua renda. Em contraponto, os agentes superavitários, aqueles com capacidade de poupar, consomem e investem valores inferiores à sua renda, gerando desse modo um superávit, aquilo que excede a poupança (Assaf Neto, 2018). 3 TEMA 1 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Neste primeiro Tema apresentaremos a estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e as principais características das instituições financeiras que o compõem. Pode-se definir um Sistema Financeiro como um conjunto de instituições que são responsáveis pela intermediação do fluxo monetário entre os que poupam e os que investem. A origem começa em 1920 com a criação da Inspetoria Geral de Bancos, responsável pela fiscalização das instituições financeiras; em 1945, passa a existir um controle monetário com a fundação da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc); em 1952 constitui-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); até que, em 1964, ocorre a Reforma do Sistema Financeiro Nacional por meio da Lei n. 4.595/1964, com as seguintes disposições: a. Criação do órgão normativo: Conselho Monetário Nacional (CMN); b. Transformação da Sumoc no Banco Central do Brasil (Bacen); c. Composição do SFN: Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central do Brasil (Bacen), Banco do Brasil S/A, BNDES e demais instituições públicas e privadas. O Sistema Financeiro Nacional divide-se em dois subsistemas: 1. Subsistema Normativo; 2. Subsistema de Intermediação financeira (operativo). O subsistema normativo tem como função editar normas que definam os parâmetros para a transferência de recursos dos poupadores para os tomadores e supervisionar o funcionamento das instituições e entidades que exercem atividades de intermediação financeira. O subsistema normativo, conforme descrito por Filgueiras (2013) tem como atribuição publicar normas que definam os critérios para a transferência de recursos dos poupadores aos investidores e monitorar o desempenho das instituições e entidades que exercem operações de intermediação financeira. Sua estrutura é composta pelas instituições normativas: Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central (Bacen), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e outras instituições classificadas como especiais: Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal (CEF). Ao passo que a função do 4 subsistema de intermediação financeira é operacionalizar a transferência de recursos do poupador para o tomador, de acordo com as regras estabelecidas pelas entidades que integram o sistema normativo. A composição do subsistema de intermediação financeira (operativo) é formada pelas instituições financeiras bancárias e não bancárias, instituições que compõem o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, e outras instituições. 1.1 Órgãos do Subsistema Normativo 1.1.1 Conselho Monetário Nacional (CMN) Como órgão normativo e sem desempenhar atividade executiva, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determina as funções e procedimentos de controle para o sistema financeiro nacional, além do exercício legislativo para as instituições financeiras públicas e privadas. As atribuições do CMN referem-se à concepção da política monetária e do crédito, delineando os interesses econômicos e sociais do país. Segundo a Lei n. 9.069/1995, o CMN é composto pelo Ministro do Estado da Fazenda, na qualidade de Presidente, Ministro do Estado de Orçamento e Gestão e o Presidente do Banco Central do Brasil. 5 Figura 1 – Estrutura do Sistema Nacional Fonte: Assaf Neto, 2018. Os atos normativos ocorrem por meio de deliberações por maioria de votos, denominando-se resoluções, publicados no Diário Oficial e divulgados pelo Banco Central do Brasil (Bacen). Conforme prescrito nos arts. 3° e 4° da Lei n. 4.595/1964, as principais atribuições da CMN são: 6 Adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia nacional e seu processo de desenvolvimento; Regular os valores interno e externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamento do país; e, orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; Propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; e, zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; Coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da dívida pública, interna e externa; e, fixar as diretrizes e normas da política cambial; Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas; e, regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que exercerem atividades subordinadas a Lei n. 4.595/1964, bem como as penalidades previstas; Expedir normas gerais de contabilidade e estatística a serem observadas pelas instituições financeiras; Determinar recolhimento de até 60% (sessenta por cento) do total dos depósitos e/ou outros títulos contábeis das instituições financeiras, seja na forma de subscrição de letras ou obrigações do tesouro nacional ou compra de títulos da dívida pública federal; e, disciplinar as atividades das bolsas de valores e dos corretores de fundos públicos. 1.1.2 Banco Central do Brasil (BCB ou Bacen) O Banco Central é uma autarquia federal integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN), criado em 1964 por intermédio da Lei n. 4.595, atua como agente responsável do controle da oferta da moeda e do crédito, além da função de executor da política monetária e cambial do país. Define-se também como um banco fiscalizador, banco de penalidades e gestor do SFN. Fiscalizador do mercado financeiro ao estabelecer regras, limites e condutas das instituições. De penalidades ao facultar pela legislação, a intervenção e a liquidação extrajudicial em instituições financeiras. E, por fim,gestor do SFN ao enviar normas e autorizações, fomentando o controle das instituições financeiras e de suas operações. Destacam-se como principais atribuições de competência do Bacen: 7 Fiscalizar as instituições financeiras, e quando necessário, aplicar as penalidades previstas em lei; e, conceder autorização às instituições financeiras para seu funcionamento; Realizar e controlar as operações de redesconto e as de empréstimos dentro do âmbito das instituições financeiras bancárias; Executar a emissão do dinheiro e controlar a liquidez do mercado – no brasil, a cunhagem (impressão) da moeda é realizada com exclusividade pela casa da moeda, e a emissão da moeda (entrega do numerário ao sistema bancário) é de responsabilidade do banco central; Efetuar o controle do crédito, de capitais estrangeiros e receber os depósitos compulsórios dos bancos; e, efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais. 1.1.3 Comissão de Valores Mobiliários (CVM) A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi criada pela Lei n. 6.385/1976 e tem a função de regular, controlar e disciplinar a emissão e a distribuição de valores mobiliários, tal como as atividades de instituições e empresas do mercado de capitais. A CVM é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, atua sob a orientação do Conselho Monetário Nacional e seu quadro administrativo é composto por um presidente e quatro diretores, todos nomeados pelo Presidente da República. Como atribuições da Comissão de Valores Mobiliários destacam-se, entre outras: disciplinar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários; regulamentar, com observância da política definida pelo CMN, os dispositivos das Leis n. 6.385/1976; 6.404/1976 e 10.303/2002; administrar registros instituídos pela Lei n. 6.385/1976; fixar limites máximos de preços e comissões cobradas pelos intermediários; fiscalizar companhias abertas (prioridade para aquelas que não distribuem dividendos); suspender negociação de determinado valor mobiliário; divulgar informações para orientar os participantes do mercado e conceder registro para negociação em bolsa e no mercado de balcão. 8 1.1.4 Agentes especiais 1.1.4.1 Banco do Brasil (BB) O Banco do Brasil é uma sociedade anônima de capital misto, cujo controle acionário é exercido pela União, sendo o principal agente financeiro do Governo Federal. Assaf Neto (2018) argumenta que o Banco do Brasil é uma sociedade anônima de capital misto, de qual o controle acionário pertence à União Federal, constituindo-se como principal agente financeiro do governo. Em suas atividades, o Banco do Brasil desenvolve as seguintes funções: a. Agente Financeiro do Governo Federal – recebimento de tributos e rendas federais, realização de pagamentos do orçamento da União, recebimento de depósitos compulsórios e voluntários das instituições financeiras, efetivação de redescontos bancários e execução da política dos preços mínimos de produtos agropecuários; b. Banco Comercial – exercício das atividades próprias (contas correntes de pessoas físicas e jurídicas, caderneta de poupança, concessão de créditos de curto prazo, execução de operações de descontos etc.); c. Banco de Investimento e Desenvolvimento – operações com créditos de médio e longo prazo em algumas modalidades visando fortalecer o setor empresarial e rural do país. 1. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Fundado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teve seu início como uma autarquia federal, com personalidade jurídica própria e autonomia administrativa. Atualmente o BNDES subordina-se aos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, por meio da Lei n. 5.662/1971, em seu art. 1°, e se enquadra na categoria de empresa pública, dotada de personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio. BNDES é uma empresa pública federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, tem um papel fundamental na execução da política de financiamento (médio e longo prazo) do Governo Federal, em áreas da indústria, comércio e agricultura. Geralmente, o BNDES atua por meio de agentes credenciados, embora algumas vezes opera de forma direta. Os agentes credenciados recebem uma comissão (del credere) pela 9 intermediação entre a instituição e o financiamento, responsabilizando-se solidariamente pela liquidação da dívida junto ao BNDES. O objetivo principal do BNDES é fomentar, por meio de várias linhas de crédito voltadas para os setores industrial e social, as empresas consideradas de interesse ao desenvolvimento do país. Os custos financeiros com operações diretas com BNDES são: TJLP + remuneração do BNDES + taxa de risco de crédito; e para as operações indiretas (agentes credenciados): TJLP + remuneração do BNDES + taxa de Intermediação Financeiras + remuneração da Instituição Financeira Credenciada. O objetivo principal do BNDES é estimular o desenvolvimento, disponibilizando linhas de crédito às empresas dos setores social e industrial. Assaf Neto (2018) explica os custos financeiros envolvidos em operações diretas com BNDES, por meio do seguinte modelo: taxa de juros de longo prazo (TJLP) + provento do BNDES + taxa de risco de crédito; ao passo que para as operações indiretas, por meio de agentes credenciados, o cálculo segue este modelo: taxa de juros de longo prazo (TJLP) + provento do BNDES + taxa de intermediação financeira + provento do agente credenciado (IF). 1.1.4.2 Caixa Econômica Federal (CEF) A Caixa Econômica Federal (CEF) é instituição financeira pública com objetivo social, atuando como órgão auxiliar do Governo Federal no cumprimento de sua política creditícia. A CEF, além de suas características de bancos comerciais e múltiplos, constitui-se como principal agente do SFH (Sistema Financeiro de Habitação) operando no financiamento da casa própria, especialmente no segmento de baixa renda. A origem dos recursos para o SFH é do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), poupança e fundos próprios dos agentes financeiros. Entre outros objetivos, as disposições de seus estatutos estão previstas funções, como: 1. Administrar, com exclusividade, os serviços das loterias federais; 2. Constituir-se no principal arrecadador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); 3. Ter o monopólio das operações de penhor. 10 1.2 Instituições do Subsistema de Intermediações 1.2.1 Instituições financeiras bancárias Compreendem os Bancos Comerciais, Bancos Múltiplos e Caixas Econômicas. Bancos comerciais são instituições financeiras sob a forma de sociedades anônimas, especializados em operações de crédito a curto e médio prazos que oferecem capital de giro para o comércio, indústria, agricultura, prestadoras de serviços e pessoas físicas. O atributo relevante dos bancos comerciais é a capacidade de criação de moeda determinada pelos depósitos à vista captados no mercado. As operações autorizadas se dividem em: ativas, especiais, acessórias e prestação de serviços. As principais operações ativas são disponibilizadas em créditos na forma de empréstimos pessoais, limite especial em conta corrente, descontos ou adiantamentos sob títulos comerciais, empréstimos para trabalhador rural etc., concessão de créditos por meio de descontos de títulos, crédito pessoal, crédito rural, adiantamentos sob caução de títulos comerciais, cheques especiais etc. Os recursos dessas instituições são provenientes, principalmente, dos depósitos à vista e a prazo (operações passivas), operações de redesconto bancário (operação ativa) e assistência financeira (operação acessória) e operações de câmbio (operação especial). Os bancos múltiplos emergem como reflexo da evolução dos bancos comerciais e crescimento do mercado. A propensão para se formaremconglomerados financeiros no mercado surgiu do empenho das Instituições Financeiras (IFs) em fomentar colaboração para suas operações, permitindo, dessa maneira, que outra instituição concluísse sua atividade de intermediação. Era também consequência do interesse dos bancos em promover uma cooperação em suas operações, possibilitando que uma instituição completasse sua atividade de intermediação. Sucessivamente, as autoridades monetárias regulamentaram o funcionamento dos bancos múltiplos, no qual é previsto uma formação com base em pelo menos duas atividades como banco comercial, banco de investimento e desenvolvimento, sociedade de crédito, financiamento e investimento e sociedade de crédito imobiliário (uma delas deve ser de banco comercial ou de banco de investimento). A tendência de se formarem conglomerados financeiros no mercado, conforme foi anteriormente discutido, era também consequência do interesse 11 dos bancos em promover sinergia em suas operações, permitindo que uma instituição completasse sua atividade de intermediação. A convivência da intermediação financeira com outras operações ativas dos bancos apresentava- se como estratégica às pretensões de crescimento. 1.2.2 Instituições financeiras não bancárias As instituições não bancárias não possuem, como os bancos comerciais, capacidade para emitir moeda ou meios de pagamento. Isto é, são instituições não habilitadas a obter recursos por intermédio de depósitos à vista. Incluem-se como instituições financeiras não bancárias: Bancos de investimento – grandes detentores de crédito de médio e longo prazos no mercado, efetuam operações de maior escala: repasses de recursos oficiais de crédito e captados no exterior, operações de subscrição pública de valores mobiliários (ações e debêntures), lease- back, financiamentos de bens de produção e operações de fusões e aquisições; Bancos estaduais de desenvolvimento – instituições públicas estaduais que visam promover o desenvolvimento econômico e social da região em que atuam. Efetuam operações de empréstimos e financiamentos, arrendamento mercantil, garantias, entre outras; Sociedades de arrendamento mercantil – operações de arrendamento mercantil (leasing) de bens nacionais, adquiridos de terceiros e destinados ao uso de empresas arrendatárias. Realizam operações de arrendamento (leasing) de bens móveis e imóveis nacionais comprados de terceiros, segundo as determinações do cliente (arrendatário), com a finalidade para o próprio uso do bem negociado; Sociedades de crédito, financiamento e investimento – identificadas por financeiras, destinam-se ao financiamento de bens duráveis às pessoas físicas por meio do crédito direto ao consumidor (CDC). Realizam repasses de recursos governamentais, financiamento à profissionais autônomos e concessão de crédito pessoal. Companhias hipotecárias – criada pela Resolução n. 2.122/1994, as CHs têm como objeto social a concessão de financiamentos imobiliários, de empréstimos e financiamentos, garantidos por hipoteca ou pela 12 alienação fiduciária, a administração de fundos de investimento imobiliário, repasses de recursos destinados ao financiamento imobiliário (art. 3° da Resolução n. 2.122/1994), financiamentos imobiliários residenciais ou comerciais, empréstimos garantidos por hipotecas ou alienação fiduciária de imóveis e repasses de recursos relacionados a programas imobiliários, além da administração de fundos de investimento imobiliário. Bancos múltiplos sem carteira comercial ou de crédito imobiliário – concentram-se em financiamento de operações imobiliárias, prestam suporte financeiro para vendas de loteamentos, incorporações de prédios etc. Arrecadam recursos necessários por meio de letras imobiliárias e poupança; Cooperativas de crédito – são instituições financeiras, autorizadas e supervisionadas pelo Baco Central, dedicadas a oferecer crédito e prestar serviços financeiros a seus associados. O papel de proprietários e clientes da cooperativa é exercido, ao mesmo tempo, pelos associados que colaboram na gestão e igualmente utilizam seus serviços e produtos. Os cooperados são, ao mesmo tempo, donos e usuários da cooperativa, participam da gestão e utilizam seus produtos e serviços. Os recursos são captados dos associados por meio de depósitos à vista e a prazo, e também de empréstimos, repasses e refinanciamentos de outras instituições financeiras. Classificam-se em cooperativas singulares, cooperativas centrais e confederações. Apesar de classificadas como instituições financeiras, as cooperativas de crédito possuem alguns aspectos diferentes: a. Sem finalidades lucrativas e não estão sujeitas a falência; b. Orientadas aos associados; c. Captação de depósitos à vista dos associados e não sujeitos a recolhimentos compulsórios no Banco Central. Classifica-se como instituição financeira não bancária devido a suas diversas características próprias. Associações de Poupança e Empréstimo (APEs) – Instituições financeiras que favorecem a aquisição da casa própria aos associados (depositantes), além de obter, estimular e distribuir a poupança. Instituições financeiras criadas para facilitar aos associados a compra da 13 casa própria, bem como captar, incentivar e disseminar a poupança. Os depositantes se tornam associados da instituição; Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) – O sistema financeiro de habitação é constituído pelas instituições integrantes do SBPE: Caixa Econômica Federal, sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e empréstimos e bancos múltiplos com carteira de crédito imobiliário. A captação de recursos (funding) dessas instituições é identificada principalmente pelas poupanças e pelo FGTS. 1.2.3 Instituições auxiliares Estas instituições promovem a relação entre poupadores e investidores, facilitando o acesso destes àqueles: bolsas de valores (mercado à vista, mercados a termo, opções e futuros, mercado de balcão e caixas de liquidação), sociedades corretoras, sociedades distribuidoras e agentes autônomos de investimentos. 1.2.4 Instituições não financeiras As sociedades de fomento comercial (factoring) são empresas comerciais (não financeiras) que operam por meio de aquisições de duplicatas como uma operação de desconto bancário. A diferença fundamental é que o risco do título negociado passa a ser de exclusiva competência da empresa de factoring, isentando a empresa-cliente da responsabilidade de recebimento. Para tanto, são cobrados juros da empresa-cliente que recebe o valor líquido pela operação. O propósito central de uma agência de fomento são operações como o financiamento do capital de giro e do capital fixo para negócios em projetos de desenvolvimento. Agência de fomento tem como objetivo principal o financiamento do capital fixo e de giro para empreendimentos previstos em programas de desenvolvimento, na unidade da Federação em que estiver sediada. 1.2.5 Fintechs Fintechs são empresas que introduzem inovações nos mercados financeiros por meio do uso intenso de tecnologia, com potencial para criar novos modelos de negócios. Atuam por meio de plataformas online e oferecem serviços 14 digitais inovadores relacionados ao setor. No Brasil, há várias categorias de fintechs: de crédito, de pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, negociação de dívidas, câmbio e multisserviços. Podem ser autorizadas a funcionar no país dois tipos de fintechs de crédito para intermediação entre credores e devedores por meio de negociações realizadas em meio eletrônico: a Sociedade de Crédito Direto (SDC) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), cujas operações constarão do Sistema de Informações de Créditos (SCR). Os benefícios das fintechs são o aumento da eficiência e concorrênciano mercado de crédito, a rapidez e celeridade nas transações, a diminuição da burocracia no acesso ao crédito, a criação de condições para redução do custo do crédito, a inovação, e o acesso ao Sistema Financeiro Nacional. Conforme definição apresentada pelo BCB (2019), fintechs são empresas inovadoras em mercados financeiros por intermédio da utilização intensa de tecnologia, com capacidade em promover novos modelos de negócios. Operam por meio de plataformas online, disponibilizando serviços digitais transformadores para este setor. Esse tipo de empresa se distribuí em várias categorias: de crédito, de pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, negociação de dívidas, câmbio e multisserviços. No Brasil, estão autorizadas a funcionar dois tipos de fintechs: a Sociedade de Crédito Direto (SDC) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). Como benefícios pode-se citar o crescimento da eficiência e concorrência no mercado de crédito, velocidade nas transações, redução da burocracia para acessar o crédito, geração de condições para diminuição do custo do crédito, inovação e acesso ao Sistema Financeiro Nacional (BCB, 2019). TEMA 2 – JUROS E SPREAD BANCÁRIO Taxa de juros pode ser identificada como o custo do dinheiro. Em um empréstimo, os juros são remunerações pagas pelo tomador (captador) ao doador (aplicador) de recursos. Os fatores determinantes que afetam os juros são: 1. A inflação; 2. O risco da operação; 15 3. A liquidez de mercado; 4. Risco do cenário econômico. No mercado financeiro, os efeitos dos juros exercem influência sobre os investimentos e financiamentos, no curto e a longo prazos. Em circunstâncias de juros elevados, investimentos são feitos em títulos de renda fixa devido a remuneração maior esperada, ao passo que em momentos de baixa, a remuneração maior para investimento são as ações (renda variável). Por meio dos instrumentos da política monetária, o governo pode intervir no mercado estabelecendo a fixação da taxa de juros. No brasil, o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC) representa a taxa básica de juros. 2.1 Formação dos juros Entende-se como taxa de juros o preço do crédito em dimensão temporal. Os juros são a remuneração pela alocação de capital e corresponde ao preço pago pelo sacrifício de poupar. Isto é, o juro é a remuneração exigida por um agente econômico (poupador) ao optar pela prorrogação do consumo, pois transfere seus recursos a outro agente (tomador). É uma relação entre o poder de compra futuro e o poder de compra presente, por conseguinte o valor da taxa de juros é determinado pelas livres operações exercidas no mercado, e não prescrito por questões alheias ao seu domínio. Consequentemente, pode-se dizer que a taxa de juros é o resultado das interações das ações praticadas pelos agentes econômicos, equilibrando as decisões entre consumo e poupança. Segundo Keynes, a taxa de juros é a recompensa da renúncia à liquidez, é uma medida de relutância dos que possuem dinheiro alienar o seu direito de dispor deste. Portanto, corresponde a uma taxa de referência do processo de tomada de decisão. Esta decisão será atraente quando o retorno esperado da aplicação supere a taxa de juros do dinheiro utilizado. Nesse contexto, explica- se a preferência por investimentos empresariais em momentos de baixos juros, enquanto cenários de elevadas taxas inibem investimentos em produtividade, criando uma distância entre a atividade econômica e o pleno emprego. Substancialmente, a noção básica de taxa de juros está relacionada ao entendimento da opção em termos temporais dos agentes econômicos envolvidos. Se um agente econômico aceitar receber R$ 100 hoje ou R$ 110 no final de 12 meses, significa que a sua taxa de preferência temporal é de 10%, ao passo que para outro agente esta taxa pode ser diferente segundo sua escolha 16 preferencial. Admitindo-se um mercado livre, a taxa de juros é a variável de ajuste que promove o equilíbrio entre a oferta e a demanda de moeda: M = L (r). Igualmente, pode ser observado a correspondência da taxa de juros com a expectativa do desempenho da economia. Nota-se a elevação da taxa no cenário de instabilidade econômica, devido ao reflexo natural da incerteza provocada nos agentes. O governo procura um equilíbrio no percentual de juros para a economia. Este nível ótimo se distingue pela redução da dívida pública ao menor custo da dívida, estimulando o crescimento econômico e recompensando os investidores com uma taxa real. Os juros exercem diversas consequências na economia: no curto prazo, age sobre a demanda e a inflação, e no longo prazo, influencia a poupança e a taxa de investimento. Ao reduzir os juros, retoma-se o crescimento e investimento da economia, do mesmo modo que ao elevar a taxa de juros para controlar a inflação pode proporcionar uma situação de recessão na economia. 2.2 Spread bancário A função das Instituições Financeiras é a compra de dinheiro a determinado preço (taxa de captação) e o empréstimo deste ao preço maior que a compra (taxa de aplicação). Este ganho obtido pela compra/venda denomina- se spread. O spread bancário é o resultado calculado pela diferença entre a taxa de empréstimo (custo do empréstimo) e a taxa paga ao poupador e entre o custo de um empréstimo e a remuneração paga ao poupador. Há inúmeros fatores que definem o spread bancário, destacando-se principalmente a liquidez, risco da operação e garantias oferecidas e maturidade. Segundo Assaf Neto (2018), o spread bancário é composto pelos seguintes fatores: taxa de captação, impostos indiretos e contribuições, despesas administrativas e judiciais, inadimplência, impostos sobre lucros e lucro da Instituição Financeira. Os fatores que compõem o spread bancário são apresentados a seguir: Taxa de captação (incluindo custo do depósito compulsório sobre captação); Impostos indiretos e contribuições (como PIS, COFINS e IOF); Despesas administrativas e judiciais (cada unidade de crédito concedido); 17 Inadimplência (relação provisão devedores duvidosos e crédito concedido); Impostos sobre lucros (IR e CSLL); Lucro do banco (formado pelas condições de negócios do mercado e risco de crédito concedido. TEMA 3 – PRODUTOS FINANCEIROS Os principais produtos financeiros (ativos e passivos) disponíveis no mercado financeiro são: certificado e recibo de depósito bancário (CDB/RDB), certificado de depósito interfinanceiro (CDI), hot money, desconto de duplicatas e notas promissórias, factoring, commercial papers, caderneta de poupança, crédito direto ao consumidor (CDC), recolhimentos compulsórios, custo da captação bancária, warrants, títulos conversíveis, export notes e títulos públicos. Certificado/Recibo de Depósito Bancário (CDB/RDB) – títulos de renda fixa, representativos de depósitos a prazo realizados por pessoas físicas e pessoas jurídicas, e emitidos pelos Bancos Comerciais/Múltiplos, Bancos de Investimentos e Caixas Econômicas. A principal diferença entre CDB e RDB é a possibilidade de transferir o CDB a qualquer momento a outros investidores por endosso nominativo, enquanto o RDB é um título inegociável e intransferível antes de seu vencimento. A remuneração destes títulos se baseia em: a. Taxa prefixada; b. Taxa pós-fixada; c. Taxa flutuante, vinculada à variação de algum índice (exemplo: CDI). Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) – títulos que lastreiam as operações realizadas entre os bancos no mercado financeiro. As operações com CDI são geralmente realizadas por um dia, podendo ainda ocorrer transações por prazos maiores. Os CDIs negociados por um dia são conhecidos no mercado por Depósitos Interfinanceiros e, além disso, funcionam como uma taxa de referência diária para o mercado, o DI over. Esta taxa é conhecidano mercado por Taxa DI. Isentos de impostos e os juros são definidos pela denominada taxa over. Hot Money – operações de curtíssimo prazo (um dia), visando atender às necessidades imediatas de caixa das empresas. Tem como referencial a 18 taxa CDI, acrescida de um spread cobrado pela instituição intermediadora. Incorre também em IOF calculado sobre a renegociação diária da taxa de juro. Desconto de duplicatas e notas promissórias – operações bancárias de desconto são feitas sob o conceito de desconto simples por fora, no qual o juro incide sobre o montante da dívida, e não sobre o principal. Além do juro antecipado, e o imposto sobre operações financeiras (IOF), cobra-se uma taxa de abertura de crédito (TAC) para as despesas operacionais dos bancos. Factoring – na operação factoring, os direitos creditórios resultantes das vendas mercantis a prazo são adquiridos da empresa-cliente. Dado que a empresa de factoring não é uma instituição financeira, não possui autorização para concessão de crédito. Esse tipo de operação adquire (e não desconta) os títulos de crédito procedentes da atividade empresarial de forma definitiva, assumindo o risco inerente ao crédito concedido pela empresa vendedora. O lucro da operação é obtido pela diferença entre o valor nominal dos créditos mercantis adquiridos e o preço pago pela compra desses títulos. O factoring tradicional envolve a aquisição à vista de direitos creditórios provenientes de vendas a prazo realizadas por uma empresa-cliente. O factoring também é praticado pela intermediação na compra de matérias- primas para empresas-clientes. Outra modalidade desta operação inclui um adiantamento de recursos por conta de vendas ainda não realizadas, obrigando a empresa-cliente a resgatar a operação junto à casa de factoring em data futura (efetiva comercialização). O valor de aquisição dos títulos de crédito é calculado pela aplicação de um fator. Neste fator estão incluídos os custos incorridos pela empresa de factoring como as despesas operacionais, impostos, custo de oportunidade do capital investido e margem de lucro esperada. Commercial Papers – títulos de crédito que objetivam a captação pública de recursos para o capital de giro das empresas. Títulos de crédito de curto prazo, também conhecidos como Nota Promissória comercial, os quais são emitidos pelas empresas de capital aberto com a finalidade de captar recursos para financiar as necessidades de capital de giro. Este título tem baixo custo financeiro e é negociado no mercado, além de ser 19 um importante mecanismo de financiamento para as companhias de capital aberto alternativamente ao sistema bancário. Além dos juros pagos, a empresa emitente dos títulos incorre também em despesas de emissão, tais como registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), publicações etc. Commercial papers são negociados no mercado por um valor descontado (deságio), sendo recomprados pela empresa emitente pelo seu valor de face (valor nominal). As Notas Promissórias comerciais são intermediadas no mercado pelo valor com deságio aplicado, isto é, seu valor descontado, para depois serem adquiridos pela entidade emissora por seu valor nominal. Normalmente, os commercial papers apresentam boa liquidez, devido à possibilidade de recompra pela própria empresa emitente ou dealers. Caderneta de poupança – aplicação mais popular do mercado financeiro brasileiro. Pode ser aplicado qualquer valor, tem liquidez imediata para o depositante, isenção de Imposto de Renda (IR) para pessoas físicas e baixo risco. A poupança tem uma “data de aniversário”, que é o dia em que foi efetuado o depósito (aplicação). Em caso de retiradas antes da data de aniversário, a poupança não paga nenhum rendimento sobre o valor sacado. A remuneração atual da caderneta de poupança é a Taxa Referencial (TR) mais 0,5% ao mês. Caso a taxa Selic seja igual ou menor que 8,5% a.a., os rendimentos da Poupança serão calculados em 70% da taxa Selic mais a variação da TR (taxa referencial de juros). Crédito Direto ao Consumidor (CDC) – operação de financiamento direcionada para aquisição de bens e serviços pelo consumidor ou usuário final. Os encargos de uma operação de CDC são basicamente juros e a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Recolhimentos compulsórios – são determinados pelo Banco Central do Brasil e incide, atualmente, sobre os depósitos à vista, depósitos a prazo (poupança), fundos de investimento e recursos em trânsito. O recolhimento compulsório sobre os depósitos a prazo corresponde a uma porcentagem das captações efetuadas pelas instituições financeiras por meio de CDB/RDB e letras de câmbio. Se o depósito no Banco Central for sem remuneração, há uma redução na rentabilidade apurada pelo fundo equivalente ao percentual do recolhimento. Os depósitos à vista nos 20 bancos comerciais e múltiplos têm aplicações compulsórias bastante rígidas, restando poucos recursos para aplicações livres. Custo da captação bancária – no custo da captação o banco considera as alternativas de aplicações dos recursos e as taxas de juros de mercado. Warrants – opção de compra, dentro de um prazo preestabelecido, de certa quantia de ações a determinado preço, definida por preço de exercício. Títulos de garantia, emitidos pela empresa responsável pela proteção e cura das mercadorias. Estes títulos podem ser negociados ou vendidos assegurando ao seu portador a propriedade do objeto (mercadoria) em custódia. Títulos conversíveis – forma de opção do investidor em adquirir ações da empresa emitente a um preço e quantidade previamente definidos. A empresa assume o compromisso de resgatar o título ao final do prazo de emissão pelo seu valor de face, desde que não tenha sido convertido em ações. Os títulos conversíveis representam uma opção ao investidor para a compra de ações a determinado preço e quantidade previamente estabelecidos. A empresa emissora destes títulos compromete-se a resgatar, no final do prazo, o título pelo valor nominal, caso a conversão em ações não tenha ainda ocorrido. Export note – título representativo de uma operação de cessão de créditos de exportação, sendo lastreado em negociações de vendas a importadores estrangeiros. Igualmente denominado notas de exportação corresponde à cessão de créditos de exportação, ou seja, são títulos representados por contratos para financiar as vendas dos exportadores ao exterior. Assim, nestes contratos ocorre a cessão dos direitos de venda aos investidores oriundos dos acordos de exportação, recebendo em troca pagamento em moeda local. Empresas com moeda estrangeira no passivo podem fazer hedge cambial adquirindo export notes, protegendo- se contra as variações cambiais. Títulos públicos – a emissão de títulos públicos apresenta dois grandes objetivos: financiar os déficits orçamentários do Governo e também servir como instrumentos de execução da política monetária. Ao vender títulos públicos no mercado, o Banco Central retira dinheiro de circulação, 21 reduzindo a liquidez da economia. Na recompra desses títulos o efeito é inverso: a autoridade monetária eleva os meios de pagamento. TEMA 4 – RISCOS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS O risco no mercado financeiro pode ser entendido como a probabilidade de perda em razão de uma exposição ao mercado. As perdas no mercado financeiro decorrem principalmente de eventos relacionados às variações nas taxas de juros e nos preços de mercado. Assaf Neto (2018) relata a relevância em adotar políticas para a redução do risco, ressaltando que é fundamental aos bancos uma eficiente gestão do risco, dado que alavanca seu grau competitividade no mercado além de estabelecer estratégias de atuação. O autor considera que a gestão de risco é relevante para reconhecer a exposiçãoda entidade ao risco e sua fragilidade; reduzir as perdas financeiras; proteger o capital da entidade. Para as instituições financeiras, os riscos são provenientes de suas operações e demais atividades, como a concessão de créditos, obtenção de recursos, variações do mercado (taxas de juros), erros internos, falhas de controle etc. Uma vez que o risco não possa ser eliminado, é essencial que sejam adotadas medidas para minimizá-lo. Uma eficiente gestão de risco é essencial para a competitividade dos bancos e estabelecimento de suas estratégias de atuação. Assim, a gestão de risco é fundamental para: 1. Identificar a exposição da empresa ao risco e identificar seus aspectos mais frágeis; 2. Minimizar perdas financeiras; 3. Imunizar o capital da empresa. Os riscos financeiros de um banco podem se originar de suas diversas atividades operacionais, tais como créditos concedidos, captações, variações das taxas de juros de mercado, falhas internas e controle, entre outras. A existência da assimetria de informações no mercado financeiro reflete no funcionamento de todo o sistema, causando transtornos na atividade econômica. Assimetria informacional refere-se às situações em que os agentes participantes de uma transação possuem informações diferentes, em volume e qualidade. Essa assimetria limita a competição do mercado, dificultando a formação eficiente dos preços dos ativos. Em outros termos, a assimetria impossibilita que todos os agentes detenham as mesmas informações. A título 22 de exemplificação, o agente que requere crédito possui mais informações sobre sua verdadeira capacidade de pagamento e alocação que fará do capital emprestado que o credor. Percebe-se que em toda transação financeira sempre existirá uma questão relacionada a assimetria de informações. A assimetria informacional promove uma precificação incorreta dos bens negociados no mercado. O desequilíbrio das informações ocasiona divergência na precificação dos ativos comercializados no mercado. A falta de informações com relação à transação e comportamento dos agentes eleva a incerteza da transação financeira realizada e gera custos. Sem o acesso às informações necessárias para uma adequada avaliação da operação, a assimetria informacional ocasiona dessa maneira o encarecimento do dinheiro. As taxas de juros cobradas são mais altas, pois não há condições de identificar a real qualidade do devedor. Assim, bons pagadores são penalizados ao pagar encargos financeiros acima do nível adequado para a operação, e os maus pagadores terminam por obter ganhos visto que estariam dispostos a pagar juros mais altos para conseguirem o empréstimo. No mercado financeiro, a assimetria informacional traz ineficiência para a atividade econômica por meio de dois problemas: (1) risco moral (moral hazard) e (2) seleção adversa. O risco moral (moral hazard) se refere à possibilidade do tomador de recursos, após a transação efetuada, alterar sua capacidade de pagamento por mudanças inapropriadas em seu comportamento. O risco moral é explicado pela assimetria de informações em uma operação de crédito, quando o agente financeiro possui mais informações sobre sua capacidade de pagamento que a outra parte. Efetivamente, o risco moral emerge após a realização do negócio, pois não há como o principal (instituição doadora de recursos) acompanhar exatamente as ações (comportamento) do agente tomador. Exemplo de risco moral: as companhias de seguro gostariam de saber dos seus segurados sobre os cuidados que tomam para evitarem acidentes com seus veículos segurados. Seleção adversa, também originada pela assimetria de informações, ocorre em uma transação entre as partes em que não há uma concordância sobre a efetiva qualidade do bem objeto da transação, ocasionando uma queda no preço, ao elevar a taxa de desconto do título, ou reduzir o interesse no ativo. Por conseguinte, devido à seleção adversa, ativos de diferentes qualidades serão negociados no mercado pelo mesmo preço, criando uma ineficiência nas transações. Exemplo de seleção adversa: no momento da compra de ativos, os 23 investidores esperam saber o retorno dos ativos. No mercado financeiro, as consequências da seleção adversa se refletem na dificuldade em distinguir os bons (baixo risco) e maus pagadores (alto risco) previamente em uma operação de financiamento. A teoria da sinalização pode ser utilizada para reduzir (ou eliminar) os problemas gerados pela seleção adversa, desde que a informação (sinal) transmitida seja verdadeira e acurada. A sinalização é efetuada pela parte melhor informada e direcionada para a parte menos informada, visando resolver um conflito de assimetria de informações. Em relação aos riscos financeiros que as instituições financeiras enfrentam atualmente classificam-se em: a. Risco de Variação das Taxas de Juros – exposição da instituição financeira ao risco de variação de taxas de juros quando os prazos entre seus ativos (aplicações) e passivos (captações) são trabalhados de forma desunida; b. Risco de Crédito – possibilidade de inadimplência dos valores a receber (principal e rendimentos e juros) em sua carteira de ativos recebíveis; c. Risco de Mercado – as perdas decorrentes de comportamentos adversos nos índices de inflação, taxas de juros, taxa de câmbio, indicadores de bolsas de valores, preços de commodities, derivativos etc.; d. Risco Operacional – risco de perdas (diretas ou indiretas) determinadas por erros humanos, falhas nos sistemas de informações e computadores, fraudes, eventos externos, entre outras; probabilidade da circunstância de perdas consequentes de eventos externos ou de falha, deficiência ou inadequação de processos internos, pessoas ou sistemas (Resolução n. 4.557/2017, art. 32); e. Risco de Câmbio ou Risco de Variação Cambial – em caso de aplicação no exterior pode ocorrer a tendência da moeda se desvalorizar em relação à moeda de sua economia, determinando um retorno menor na operação; f. Risco Soberano – em caso de operações em outros países, pode ocorrer restrições pelo país estrangeiro ao impor fluxos de pagamentos externos; g. Risco de Liquidez – disponibilidade imediata de caixa diante demandas dos depositantes e tomadores (titulares de passivos) de uma instituição financeira; e probabilidade da instituição não cumprir com suas obrigações esperadas e inesperadas, correntes e futuras, incluindo as decorrentes de vinculação de garantias, sem afetar suas operações 24 diárias e sem incorrer em perdas significativas (Resolução n. 4.557/2017, art. 37); h. Risco Legal – falta de legislação atualizada e eficiente em relação ao mercado financeiro ou eventual nível de desconhecimento jurídico na realização dos negócios. Com fundamento de que, muitas vezes, não é possível eliminar totalmente o risco, é essencial um eficaz planejamento por parte das instituições financeiras para administrar os riscos, avaliar a potencial perda por um evento (alteração de preços, taxas de mercado etc.) e respectiva probabilidade de ocorrência. TEMA 5 – ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA COSIF A competência para emissão de normas gerais de contabilidade a serem observadas pelas instituições financeiras é do Conselho Monetário Nacional, sendo que as normas específicas são elaboradas pelo Banco Central do Brasil, por meio do Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif), cujos objetivos são: Possibilitar o acompanhamento do Sistema Financeiro; Estabelecer regras, critérios e procedimentos necessários à obtenção e divulgação de dados; Racionalizar a utilização de contas; Uniformizar os registros contábeis dos atos e fatos. As normas e procedimentos, bem como as demonstrações padronizadas previstas no Cosif, são de uso obrigatório para: Quadro 1 – Usos obrigatórios das normas e procedimentos do Cosif1. Bancos múltiplos; 2. Bancos comerciais; 3. Bancos de desenvolvimento; 4. Caixas econômicas; 5. Bancos de investimento; 6. Bancos de câmbio; 7. Sociedades de créditos, financiamento e investimento; 8. Sociedades de crédito ao microempreendedor; 9. Sociedade de crédito imobiliário e associações de poupanças e empréstimos; 10. Sociedades de arrendamento mercantil; 11. Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários e câmbio; 12. Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários; 13. Cooperativas de crédito; 14. Fundos de investimento; 15. Companhias hipotecárias; 16. Agências de fomento; 17. Administradoras de consórcio; 18. Empresas em liquidação extrajudicial. 25 Conforme estabelecido pelo BCB, as normas, procedimentos e demonstrações determinadas no COSIF são obrigatórios para os bancos múltiplos, comerciais, de desenvolvimento, caixas econômicas, bancos de investimento, de câmbio, sociedades de créditos, financiamento e investimento, de crédito ao microempreendedor, de crédito imobiliário e associações de poupanças e empréstimos, de arrendamento mercantil, corretoras de títulos e valore mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, cooperativas de crédito, fundos de investimento, companhias hipotecárias, agências de fomento, administradoras de consórcio e empresas em liquidação extrajudicial (BCB, 2019). Por intermédio da Circular n. 1.273, emitida em 29 de dezembro de 1987, estabelece-se que a estrutura do COSIF se divide em quatro partes: Capítulo 1: Normas básicas – neste capítulo apresentam-se os princípios, normas, critérios e procedimentos contábeis a serem utilizados pelas instituições que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Capítulo 2: Elenco de Contas – neste capítulo estão indicadas as contas contábeis do COSIF bem como a função de cada conta apresentada. Capítulo 3: Documentos – neste capítulo apresentam-se os modelos contábeis a serem preparados pelas instituições que fazem parte do SFN para sucessiva remessa ao Bacen ou publicados pelas Instituições Financeiras (IFs). Capítulo 4: Anexos – apresentação das normas editadas por outros organismos (CPC, Ibracon etc.) que foram recepcionadas para aplicação às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil. A escrituração deve ser completa, mantendo-se em registros permanentes todos os atos e fatos administrativos que modifiquem ou venham a modificar, imediatamente ou não, sua composição patrimonial. O simples registro contábil não constitui elemento suficientemente comprobatório, devendo a escrituração ser fundamentada em comprovantes hábeis para a perfeita validade dos atos e fatos administrativos. No caso de lançamentos via processamento de dados, tais como: saques em caixa eletrônico, operações "online" e lançamentos fita a fita, a comprovação faz-se mediante listagens extraídas dos registros em arquivos magnéticos. 26 Segundo o item 3, da subseção 2. Escrituração, o COSIF estabelece que a escrituração deve ser completa, mantendo-se em registros permanentes todos os atos e fatos administrativos que modifiquem ou venham a modificar, imediatamente ou não, sua composição patrimonial. O item 4 da mesma subseção prescreve que o simples registro contábil não constitui elemento suficientemente comprobatório, devendo a escrituração ser fundamentada em comprovantes hábeis para a perfeita validade dos atos e fatos administrativos. No caso de lançamentos via processamento de dados, tais como: saques em caixa eletrônico, operações on-line e lançamentos fita a fita, a comprovação faz- se mediante listagens extraídas dos registros em arquivos magnéticos.1 Conforme disposições legais e exigências regulamentares específicas atinentes à escrituração, observam-se, ainda, os princípios fundamentais de contabilidade, cabendo à instituição: 1. Adotar métodos e critérios uniformes no tempo. As modificações relevantes devem ser evidenciadas em notas explicativas, quantificando- se os efeitos nas demonstrações financeiras; 2. Registrar as receitas e despesas no período em que elas ocorrem e não na data do efetivo ingresso ou desembolso, em respeito ao regime de competência; 3. Fazer a apropriação mensal das rendas, inclusive mora, receitas, ganhos, lucros, despesas, perdas e prejuízos, independentemente da apuração de resultado a cada seis meses; 4. Apurar os resultados em períodos fixos de tempo, observando os períodos de 1º de janeiro a 30 de junho e 1º de julho a 31 de dezembro; 5. Proceder às devidas conciliações dos títulos contábeis com os respectivos controles analíticos e mantê-las atualizadas, conforme determinado nas seções próprias deste Plano, devendo a respectiva documentação ser arquivada por, pelo menos, um ano. Quanto aos princípios fundamentais de contabilidade referentes à escrituração, conforme disposto no item 5, da subseção 2. Escrituração, cabe à instituição:2 1 BCB – Banco Central do Brasil. Plano contábil das instituições do Sistema Financeiro Nacional – COSIF. Disponível em: <https://www3.bcb.gov.br/aplica/cosif/completo>. Acesso em: 15 out. 2019. 2 Op. cit. 27 1. Adotar métodos e critérios uniformes no tempo. As modificações relevantes devem ser evidenciadas em notas explicativas, quantificando- se os efeitos nas demonstrações financeiras; 2. Registrar as receitas e despesas no período em que elas ocorrem e não na data do efetivo ingresso ou desembolso, em respeito ao regime de competência; 3. Fazer a apropriação mensal das rendas, inclusive mora, receitas, ganhos, lucros, despesas, perdas e prejuízos, independentemente da apuração de resultado a cada seis meses; 4. Apurar os resultados em períodos fixos de tempo, observando os períodos de 1º de janeiro a 30 de junho e 1º de julho a 31 de dezembro; 5. Proceder às devidas conciliações dos títulos contábeis com os respectivos controles analíticos e mantê-las atualizadas, conforme determinado nas seções próprias deste Plano, devendo a respectiva documentação ser arquivada por, pelo menos, um ano. A forma de classificação contábil de quaisquer bens, direitos e obrigações não altera, de forma alguma, as suas características para efeitos fiscais e tributários, que se regem por regulamentação própria. O fornecimento de informações inexatas, a falta ou atraso de conciliações contábeis e a escrituração mantida em atraso por período superior a 15 (quinze) dias, subsequentes ao encerramento de cada mês, ou processados em desacordo com as normas consubstanciadas no Cosif, colocam a instituição, seus administradores, gerentes, membros do conselho de administração, fiscal e semelhantes, sujeitos a penalidades cabíveis, nos termos da lei (Sugiro dar uma lida na Lei n. 13.506/2017). O profissional habilitado, responsável pela contabilidade, deve conduzir a escrituração dentro dos padrões exigidos, com observância dos princípios fundamentais de contabilidade, atentando, inclusive, à ética profissional e ao sigilo bancário, cabendo ao Banco Central providenciar comunicação ao órgão competente (sejam os Conselhos de Classe ou a Comissão de Valores Mobiliários), sempre que forem comprovadas irregularidades, para que sejam aplicadas as medidas cabíveis. Eventuais consultas quanto à interpretação de normas e procedimentos previstos no Cosif, bem assim a adequação a situações específicas, devem ser dirigidas ao Banco Central/Departamento de Normas do Sistema Financeiro 28 (Denor), com trânsito, para instrução, pela Delegacia Regional sob cuja jurisdição encontra-se a sede da instituição, obrigatoriamente firmadas pelo diretor e pelo profissional habilitado responsável pela contabilidade. A existência de eventuais consultas sobre a interpretaçãode normas regulamentares vigentes ou até mesmo sugestões para o reexame de determinado assunto não exime a instituição interessada do seu cumprimento. Quanto à classificação, o item 6 da subseção 2. Escrituração descreve que a forma de classificação contábil de quaisquer bens, direitos e obrigações não altera, de forma alguma, as suas características para efeitos fiscais e tributários, que se regem por regulamentação própria3. No item 7 da subseção 2. Escrituração explanam a sujeição à penalidades quando do fornecimento de informações inexatas, a falta ou atraso de conciliações contábeis e a escrituração mantida em atraso por período superior a 15 (quinze) dias, subsequentes ao encerramento de cada mês, ou processados em desacordo com as normas consubstanciadas no Cosif, colocam a instituição, seus administradores, gerentes, membros do conselho de administração, fiscal e semelhantes, sujeitos a penalidades cabíveis, nos termos da lei (Sugiro dar uma lida na Lei n. 13.506/2017)4. A responsabilidade da escrituração contábil está descrita no item 8 da subseção 2. Escrituração: O profissional habilitado, responsável pela contabilidade, deve conduzir a escrituração dentro dos padrões exigidos, com observância dos princípios fundamentais de contabilidade, atentando, inclusive, à ética profissional e ao sigilo bancário, cabendo ao Banco Central providenciar comunicação ao órgão competente (sejam os Conselhos de Classe ou a Comissão de Valores Mobiliários), sempre que forem comprovadas irregularidades, para que sejam aplicadas as medidas cabíveis. Para interpretação de normas e procedimentos contábeis do Cosif, segundo o item 9 da subseção 2. Escrituração, a instituição financeira deve se dirigir ao Banco Central/Departamento de Normas do Sistema Financeiro (Denor)5. Por fim o item 10 da subseção 2. Escrituração explica que a existência de eventuais consultas sobre a interpretação de normas ou sugestões para o 3 Op. cit. 4 Op. cit. 5 Op. cit. 29 reexame de determinado assunto não exime a instituição interessada do seu cumprimento.6 A Lei n. 11.941/2009 determina que as instituições financeiras e demais entidades autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil devem observar as disposições da Lei n. 4.595/1964, e os atos normativos dela decorrentes. O ato normativo que rege a contabilização dessas instituições decorrente da Lei n. 4.595/1964 cuja competência inicial era do Conselho Monetário Nacional (CMN) e delegada ao Banco Central (BACEN) foi o próprio Cosif. Assim, percebe-se que a classificação das contas do Cosif é diferente da classificação das contas da Contabilidade Societária. TROCANDO IDEIAS Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar uma atividade de fórum. Você deverá articular as estruturas e conceitos aprendidos nesta aula introdutória sobre as principais estruturas do sistema financeiro nacional: a estrutura do SFN, juros e spread bancário, produtos financeiros, riscos das instituições financeiras e estrutura e funcionamento da COSIF. Para tanto, elabore uma opinião, expondo as principais estruturas, produtos e riscos supracitados do SFN e instituições financeiras no fórum, no qual o objetivo é debater com seus colegas. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados. NA PRÁTICA Caro aluno, chegamos à última tarefa de nossa aula. Essa atividade tem cunho prático, para que você possa desenvolver essas habilidades durante o curso. Embora tenhamos aqui envolvido basicamente questões conceituais, iremos sempre fazer exercícios de abstração e reflexão de questões do mundo econômico. Pense, reflita, aplique os conceitos estudados sobre os riscos das instituições financeiras nesta aula e elabore uma resposta para a seguinte questão: qual seria uma das consequências que prejudicam o mercado financeiro e por quê? 6 Op. cit. 30 Ao negociar as duplicatas com o banco, o gerente percebe a dificuldade em aceitar o valor do desconto oferecido pela instituição financeira devido ao valor da cobrança pelos juros antecipado do título ser muito elevado. Isso significa que, para conseguir a liquidez necessária ao capital de giro da empresa deverá insistir na negociação sinalizando o bom negócio da empresa. A sugestão de resolução encontra-se ao final deste documento. FINALIZANDO Esta aula tratou dos aspectos teóricos e estruturais do Sistema Financeiro Nacional que impactam diretamente as instituições financeiras. A estrutura do Sistema Financeiro Nacional tem fundamentos normativos e executivos para a formação das instituições financeiras, bem como regras e normas contábeis dentro do mercado financeiro. Como vimos nesta aula, a teoria econômica e a contabilidade das instituições são mecanismos fundamentais para a diminuição da assimetria de informação e dos riscos inerentes às instituições financeiras. No primeiro Tema desta aula, foram apresentados os principais conceitos e a estrutura do Sistema Financeiro Nacional, em especial sua composição e a descrição de cada entidade financeira. Após compreender sua estrutura, os Temas 2, 3, 4 e 5 trataram dos juros e spread bancário, produtos financeiros, riscos das instituições financeiras e estrutura e funcionamento da COSIF que estabelece os procedimentos de contabilização das instituições financeiras. O Tema 2 versou sobre as bases fundamentais, a formação dos juros e do spread bancário. O Tema 3 discorreu sobre os produtos financeiros presentes no mercado. O Tema 4 explicitou os riscos das instituições financeiras. Por fim, o Tema 5 concluiu esta aula demonstrando o papel da contabilidade dentro desse cenário do Sistema Financeiro Nacional, como um mecanismo de diminuição da assimetria informacional entre os agentes econômicos. 31 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. A. Mercado financeiro. São Paulo: Atlas, 2018. BCB – Banco Central do Brasil. Sistema Financeiro Nacional (SFN). Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sfn>. Acesso em: 26 set. 2019. FERREIRA, R. J. Contabilidade de instituições financeiras: teoria e questões comentadas. Rio de Janeiro: Ferreira, 2013. FILGUEIRAS, C. Manual de contabilidade bancária. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2013. LIMA, I. S.; LIMA, G. A. S. F.; PIMENTEL, R. C. Curso de mercado financeiro: tópicos especiais. São Paulo: Atlas, 2017. LOPES, A. B.; GALDI, F. C.; LIMA, I. S. Manual de contabilidade e tributação de instrumentos financeiros e derivativos (CPC 38, CPC 39, CPC 40, OCPC 3, IAS 39, IAS 32, IFRS 7, normas da Comissão de Valores Mobiliários, do Banco Central do Brasil e da Receita Federal do Brasil). São Paulo: Atlas, 2011. NIYAMA, J. K.; GOMES, A. L. O. Contabilidade de instituições financeiras. São Paulo: Atlas, 2012. https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sfn 32 RESPOSTA Esta aula tratou das consequências da assimetria informacional no risco das instituições financeiras. O aluno deverá relacionar uma das consequências provocadas pela assimetria informacional, risco moral e seleção adversa. Nesse caso prático, tratamos do clássico problema em que um agente econômico possui mais informações que o outro e essa assimetria de informação entre os diferentes agentes econômicos gera um efeito denominado seleção adversa. Assim, podemos explicar por que o valor dos juros antecipados cobrados pela instituição financeira ao gerente da empresa possui o valor da taxa de juros muito elevada quando poderia ser cobrado um menor valor. No caso prático apresentado, a consequência provocada pela assimetria informacional é a seleção adversa. Quando as partes de uma transação, neste caso o banco e a empresa (tomador) não alcançam um acordo sobre a efetiva qualidade da duplicataem transação, promovendo uma elevação da taxa de desconto do título. Dessa maneira, a seleção adversa faz com que ativos de diferentes qualidades sejam negociados no mercado pelo mesmo preço, criando uma ineficiência nas transações. CONTABILIDADE DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS AULA 2 Profª Paula Pontes de Campos Rasera CONVERSA INICIAL O objetivo desta aula é apresentar a estrutura conceitual do arrendamento mercantil desde a ótica do arrendatário até a visão do arrendador. Entre outros assuntos, discorreremos sobre a última norma internacional publicada, IFRS 16 (CPC 06 R2), referente ao processo de contabilização das duas classificações de arrendamento mercantil: financeiro e operacional. A legislação brasileira, por meio da Lei 6099/74, alterada pela Lei 7132/83, define o arrendamento mercantil da seguinte forma: Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. Anteriormente à publicação da IFRS 16 (CPC 06 R2), diversas críticas foram colocadas pela contabilização do arrendamento mercantil, em específico aquele operacional, pois não apresentava disposições ao registro no balanço patrimonial da empresa arrendatária. Com o advento da nova norma, esta situação foi alterada conduzindo ao mesmo tratamento de contabilização ao arrendamento operacional e financeiro. Iniciaremos por arrendamentos mercantis na visão do arrendatário, discorrendo sobre os conceitos e avaliações. Em seguida, versaremos sobre a tomada de decisão em arrendamento mercantil, bem como suas características e impactos fiscais e operacionais nas empresas. Após, retomaremos o tópico arrendamentos mercantis, porém na visão do arrendador mediante suas análises para a operação de leasing. Explicaremos a superveniência e insuficiência de depreciação e, por fim, abordaremos os tópicos das mudanças à vista: o IFRS 16 – arrendamentos. CONTEXTUALIZANDO O arrendamento mercantil tem sido objeto de estudo, reflexão e análise na literatura contábil e financeira. Um dos pontos mais controversos é responder à questão: quais os efeitos do arrendamento mercantil e do financiamento da dívida na estrutura de capital das empresas? Durante as discussões que serão abordadas nesta aula, desenvolveremos aprendizado sobre as operações de leasing (arrendamento mercantil) e habilidades cognitivas para a decisão desta 3 questão dicotômica financeira entre a imobilização do ativo por meio da aquisição ou direito de uso do bem pela operação de arrendamento mercantil. Vamos tratar de diversos aspectos do arrendamento mercantil, iniciando pela particularidade contratual entre três partes (arrendador, arrendatário e fornecedor), daremos enfoque à visão do arrendatário e à visão do arrendatário, discutiremos os pontos essenciais da tomada de decisão neste tipo de operação e outros aspectos importantes operacionais, contábeis e normativos. Diante disso, sugerimos a reflexão sobre os seguintes pontos no decorrer do texto: quais são os diferenciais relevantes que tornam a operação de arrendamento atraente sob a ótica do arrendatário e do arrendador? Quais riscos são reduzidos em uma companhia aérea que possui em sua frota aeronaves arrendadas? Qual a relação entre o leasing e a flexibilidade operacional? A seguir, daremos início aos nossos estudos para responder a todas essas questões. TEMA 1 – ARRENDAMENTOS MERCANTIS NA VISÃO DO ARRENDATÁRIO O arrendamento mercantil, também conhecido como leasing, é uma operação de financiamento que viabiliza o acesso do empresário (arrendatário) a bens de uso necessário ao funcionamento de sua empresa, sem ter que adquiri-los imediatamente. Esta operação é representada por um contrato no qual uma empresa (arrendadora) cede a terceiros (arrendatários) o direito de usar bens de sua propriedade durante um período determinado, o que pode ser visto como uma forma especial de financiamento. Estes bens de uso podem ser imóveis, automóveis, máquinas, equipamentos etc. Essencialmente, nessa modalidade, o arrendatário escolhe o bem conforme suas necessidades e, ao celebrar o contrato de arrendamento mercantil, solicita a compra à arrendadora. Assim, a propriedade do bem é da sociedade arrendadora, enquanto o uso, da empresa arrendatária. Ao final do prazo estabelecido contratualmente, a arrendatária pode solicitar uma prorrogação, devolver o bem à arrendadora ou adquiri-lo pelo preço determinado no contrato de arrendamento. Essas operações são classificadas em leasing financeiro e leasing operacional. A primeira operação tem como característica essencial o financiamento, com a possibilidade de transferência do bem para o arrendatário no final do prazo do contrato, ao passo que a característica da segunda operação 4 é a locação do bem e a devolução deste à arrendadora ao final do prazo contratado, possibilitando que o bem seja novamente arrendado. Ademais, no leasing operacional, as contraprestações da locação não podem ultrapassar 75% do valor do bem, sendo de responsabilidade da arrendadora todas as despesas de manutenção. As operações de arrendamento mercantil são avaliadas por ambas as partes, arrendatário e arrendador. O arrendatário determinará se o arrendamento de um ativo é menos oneroso do que a aquisição, ao passo que o arrendador avaliará se os pagamentos pelo arrendamento proporcionam um retorno esperado sobre o capital investido no ativo arrendado. Nesse contexto, apesar da existência de um grau de incerteza sobre as decisões de arrendamento versus aquisição, podemos considerar a avaliação efetiva de um arrendamento por meio de uma simples análise, conforme sequência descrita a seguir: A tomada de decisão da empresa pela aquisição de um imóvel ou equipamento ocorre por meio de procedimentos regulares do orçamento de capital. O enfoque da análise de arrendamento não está relacionado à decisão em adquirir ou não o ativo em questão, mas, sim, à obtenção do uso da máquina por meio de arrendamento ou compra. Desse modo, entende-se que para o arrendatário, a decisão de arrendamento é apenas uma decisão de financiamento. No entanto, se o custo efetivo do capital obtido pelo arrendamento for substancialmente menor do que o custo da dívida, significa que o custo de capital utilizado na decisão do orçamento de capital teria que ser recalculado e, provavelmente, projetos antes não autorizados pudessem ser aprovados. Os recursos para obtenção do uso do ativo podem ser obtidos a partir do fluxo de caixa gerado internamente, por empréstimos ou pela venda de outros patrimônios. Alternativamente, o ativo pode ser arrendado. Devido à contabilização prevista para as operações de arrendamento, o leasing possui o mesmo efeito na estrutura de capital como empréstimo. As contraprestações pagas periodicamente em uma operação de arrendamento também são efetuadas na operação de financiamento, sendo que o risco de inadimplência no cumprimento de tais obrigações em ambas as operações pode resultar em um processo de falência. Em caso de limite pré-fixado pela empresa para sua estrutura de capital, uma 5 vez estabelecido o valor do leasing, este valor será transferido do orçamento previsto para o financiamento da dívida. Assim, a comparação adequada ao arrendamento mercantil é o financiamento por dívida. Por conseguinte, a análise deve comparar o custo do arrendamento com o custo do financiamento da dívida, independentemente da maneira em que a compra do ativo é financiada realmente. Igualmente, o ativo pode ser adquirido com adisponibilidade em caixa ou com a disponibilidade pela emissão de novas ações. Contudo, visto que o arrendamento possui o mesmo efeito na estrutura de capital que o financiamento da dívida, a verificação apropriada para fins de avaliação de custos deve ser realizada com o financiamento da dívida. Outro ponto a considerar na visão do arrendatário é o mecanismo de geração da receita. Ora, a geração de receita nas empresas ocorre mediante o emprego de bens físicos, sejam tangíveis ou intangíveis, e não pela propriedade destes. Portanto, é oportuno que a avaliação seja realizada pela operação de arrendamento que financia o uso, sem a necessidade de financiar a compra desse ativo. Ademais, as despesas de depreciação e aluguel se verificam somente com o uso dos bens na geração de produtos e/ou serviços. Nesse contexto, observa-se como risco adicional da imobilização de bens tangíveis a provável obsolescência antecipada. Este seria outro motivo para considerar a operação de leasing, uma vez que os ajustes ao prazo para produção de receitas são realizados conforme avaliações de marketing, e não sob a vida útil do ativo. Devido a tais arranjos contratuais, a operação de arrendamento conduz a riscos menores, e consequentemente a custos esperados inferiores, como custo de capital. Igualmente, há uma vantagem financeira devido à aceleração automática da conversão do valor do bem em despesa, isto é, a transformação da despesa de depreciação em despesa de aluguel. Do mesmo modo, há uma vantagem fiscal, pois em consequência dos prazos menores contratados em relação à vida útil e ao fluxo de caixa do projeto, a despesa se mantém adequadamente vinculada à receita. Ainda nessa perspectiva, pode-se observar que a operação de arrendamento realiza o financiamento do ativo pelo seu valor total, incluindo as despesas necessárias ao seu funcionamento, enquanto na operação de financiamento de dívida, geralmente os bancos realizam o empréstimo limitando 6 a uma porcentagem do valor do bem. Por fim, as condições de pagamento são condizentes à utilização do bem, e não aos recursos disponibilizados pelo arrendador, otimizando a gestão de tesouraria das empresas arrendatárias. Como contabilização do arrendamento mercantil, o arrendatário deve reconhecer o ativo de direito de uso e o passivo de arrendamento na data de início do contrato. Para a mensuração inicial do valor de arrendamento, nesta data de início, o arrendatário deve mensurar o ativo de direito de uso ao custo, o qual deve compreender: (i) o valor da mensuração inicial do passivo de arrendamento; (ii) pagamentos de arrendamento efetuados até a data de início, menos incentivos de arrendamento recebidos; (iii) custos diretos iniciais incorridos pelo arrendatário; e (iv) a estimativa de custos a serem incorridos pelo arrendatário na desmontagem e remoção do ativo subjacente. Ao passo que, no passivo, o arrendatário deve mensurar o arrendamento ao valor presente dos pagamentos do arrendamento que não são efetuados nessa data de início. Em relação aos pagamentos efetuados pelo arrendamento, estes devem ser descontados usando a taxa de juros implícita no arrendamento. Se essa taxa não puder ser determinada imediatamente, o arrendatário deve utilizar a taxa incremental sobre empréstimo do arrendatário. Serão incluídos para a mensuração do passivo de arrendamento os seguintes pagamentos ainda não efetuados até a data do início: pagamentos fixos menos incentivos; pagamentos variáveis que dependem de índice e/ou taxa; garantias de valores residuais; o preço de exercício da opção de compra; e multas por opção de rescindir o arrendamento. Na mensuração subsequente do ativo, o arrendatário deve mensurá-lo aplicando o método de custo: menos qualquer depreciação acumulada e quaisquer perdas acumuladas por redução ao valor recuperável; e corrigido por qualquer remensuração do passivo de arrendamento. Em caso de transferência da propriedade do ativo subjacente ao fim do arrendamento ou no exercício da opção de compra, a depreciação do ativo deverá ser efetuada pelo arrendatário desde a data de início até o fim de sua vida útil. De outro modo, a depreciação deverá ser mensurada desde a data de início até a primeira ocorrência, o fim da vida útil do ativo ou o fim do prazo de arrendamento. Já na mensuração subsequente do passivo de arrendamento, o arrendatário deve mensurá-lo: aumentando o valor contábil para refletir os juros; 7 reduzindo o valor contábil para refletir os pagamentos do arrendamento efetuados; e remensurando o valor contábil para refletir qualquer reavaliação, sejam modificações do arrendamento ou para refletir pagamentos fixos na essência revisados. Em relação aos juros sobre o passivo de arrendamento em cada período, estes correspondem ao valor da taxa de juros periódica constante sobre o saldo remanescente do passivo de arrendamento, sendo que o arrendatário deve reconhecê-los no resultado, salvo se já incluídos em outro ativo. Retomando a questão sobre as principais vantagens do arrendamento mercantil para uma empresa arrendatária, em síntese podemos considerar que a operação de leasing: possibilita a renovação cíclica dos equipamentos em uso pela arrendatária, atendendo às mudanças econômicas, ao mercado e às exigências de novas tecnologias; reduz o risco da empresa arrendatária, abstendo-se dos custos e das dificuldades do processo de imobilização; proporciona flexibilidade operacional e dinamismo aos recursos financeiros da empresa arrendatária, permitindo que estes sejam disponibilizados para outros investimentos e/ou gestão do capital de giro; possibilita benefício fiscal para as empresas arrendatárias em lucro real, em consequência da dedução das contraprestações do contrato de arrendamento para efeitos de cálculo da provisão para o imposto de renda. Embora a operação de arrendamento mercantil apresente todas essas vantagens ao arrendatário, é importante considerar o leasing como uma opção de financiamento além de outras à disposição das empresas arrendatárias, que requerem sempre uma análise criteriosa de suas condições de utilização. Analisaremos essa questão com mais profundidade no próximo tema, sobre a tomada de decisão em arrendamento mercantil. TEMA 2 – TOMADA DE DECISÃO EM ARRENDAMENTO MERCANTIL Um dos pontos relevantes para a tomada de decisão em arrendamento mercantil são os cálculos a realizar para a conferência e validação da operação. No leasing financeiro, o valor residual garantido (VRG) atende aos requisitos 8 necessários para determinar todos os ativos financeiros envolvidos nessa operação. Para determinar o valor residual garantido (VRG), utiliza-se o cálculo do valor residual ótimo (VRO) a fim de verificar os impactos fiscais na arrendadora. Isto é, caso VRG VRO, significa que existem impactos fiscais na arrendadora, ocasionando custos na operação de arrendamento ao cliente. Detalhadamente, podemos explicar que a recuperação do preço à vista numa operação de arrendamento ocorre devido ao recebimento das contraprestações e do preço de opção de compra, mensurado pelo valor residual garantido (VRG). Portanto, uma vez encontrada alguma diferença entre o valor residual ótimo (VRO) e o valor residual garantido (VRG), isso indica que a recuperação será inferior ou superior ao valor do bem arrendado. Na circunstância em que o valor residual garantido (VRG) estiver acima do valor residual ótimo (VRO), a recuperação do valor do bem pelas contraprestações será menor. Por conseguinte, o pagamento do imposto de renda será diferido pela arrendadora, ao passo que, para a arrendatária, o ganho fiscal será menor devido à redução na despesa, exigindo, assim, menor taxa de juros à arrendadora. Em contraponto, se o valor residual garantido (VRG) estiver abaixo do valor residual ótimo (VRO),