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Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Apg 19- Emoções, afetividade e vontade Objetivos: 1- Compreender os tipos de emoções e sua classificação; 2- Entender os aspectos cerebrais e neuropsicológicos das emoções; 3- Descrever a definição de afetividade e os tipos de vivências afetivas; 4- Entender as definições básicas e as alterações psicopatológicas da vontade e do agir; 5- Compreender as alterações psicopatológicas da afetividade, emoções e sentimentos Emoções As emoções podem ser definidas como reações afetivas momentâneas, agudas, desencadeadas por estímulos significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como reação do indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes, não conscientes ou inconscientes. TIPOS E CLASSIFICAÇÕES DAS EMOÇÕES Experiências afetivas negativas e positivas Uma primeira classificação das emoções se refere a uma polarização positiva ou negativa. Assim, emoções positivas seriam aquelas que promovem o bem-estar, favorecem a socialização e resultam geralmente de gratificações quando um desejo ou necessidade é satisfeito. Emoções negativas se relacionariam com as sensações de repulsa, raiva e agressividade, que, por sua vez, resultam ou interferem nas desavenças nas relações interpessoais. Cabe frisar que tal classificação é consideravelmente arbitrária e excessivamente relacionada a valores sociais, que podem ser questionados a todo momento. Uma forma contemporânea de agrupar experiências afetivas tem sido proposta pelo Research Domain Criteria (RDoC). Particularmente, no caso de sistemas com polaridade afetiva, o RDoC sugere que sejam organizados dois grandes grupos de construtos: os sistemas de valência negativa e os de valência positiva. Os sistemas de valência negativa incluem, por exemplo, respostas a situações aversivas, como resposta a ameaça aguda ou medo, reposta a ameaça potencial ou ansiedade, resposta a ameaça constante, experiências de perda e não recompensa frustrante. Os sistemas de valência positiva incluem respostas anímicas e comportamentais positivas, como motivação para a aproximação, avaliação de recompensas, aprendizado positivo de recompensas ou de hábitos que liberem outros recursos psíquicos, como, por exemplo, recursos cognitivos. Segundo sugestão do neurocientista António Damásio, os afetos e as emoções seriam divididos em três grandes grupos: emoções básicas, ou primárias; emoções secundárias; e emoções de fundo. Vejamos, a seguir, cada uma delas. Emoções universais, primárias ou básicas Foi concluído que seriam seis as emoções humanas básicas e universais: alegria, tristeza, medo, raiva, nojo (aversão ou repugnância) e surpresa. Nos anos de 1990, Ekman reavaliou sua teoria das seis emoções universais, ampliando-as para onze: culpa, orgulho, vergonha, desprezo, contentamento, constrangimento, diversão ou divertimento (amusement), excitação, satisfação, prazer sensorial e alívio (Ekman, 1999). Emoções secundárias ou sociais (não universais) Nesse grupo, está reunido um conjunto extenso de emoções, em geral mais complexas do ponto de vista psicológico e neuropsicológico, mais aprendidas socialmente e mais variáveis entre os subgrupos culturais. Elas seriam construídas com mesclas de emoções de fundo, emoções primárias e outras emoções sociais. Como exemplos de emoções sociais, ou secundárias, podem ser citados vergonha, culpa, remorso, simpatia, compaixão, embaraço, orgulho, ciúmes, inveja, gratidão, admiração, submissão, indignação e desprezo. Emoções de fundo Segundo proposta de António Damásio (2012), emoções de fundo são estados basais (mais basais, inclusive, do que o humor, ou estado de ânimo) que constituem uma espécie de colorido do estado afetivo de uma pessoa. Sensações de bem ou de mal-estar, sensação de fadiga, lassidão, de ter mais ou menos energia, são citadas como emoções de fundo. De qualquer forma, é difícil notar as diferenças entre o construto “emoção de fundo” e o construto “humor”, ou “estado de ânimo” (utilizado neste livro). Cabe mencionar, por fim, que, contra a noção de que as emoções primárias são fenômenos biológicos, o filósofo Andrea Scarantino (2009) argumenta que não há base empírica suficiente para a separação entre emoções primárias, neurobiológicas, e secundárias, socioculturais. Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Outras perspectivas defendidas por muitos autores discordam da teoria das emoções universais, salientando a dimensão histórica e especificamente cultural das experiências emocionais. Emoções não conscientes Emoções não conscientes (ENCs) são aquelas cujos processamentos incluem fenômenos automáticos, não controlados e ultrarrápidos que ocorrem sem que haja tomada de consciência pelo indivíduo que as experimenta. As ENCs ativam algumas regiões cerebrais semelhantes às das emoções conscientes, mas ativam com mais intensidade outras regiões, como a amígdala, os colículos superiores e o córtex do hemisfério direito. Assim, atualmente, existe uma base de estudos empíricos indicando que uma parte, possivelmente importante, de nossas experiências emocionais pode ocorrer de forma não consciente, e é possível que processos emocionais significativos ocorram totalmente à margem de nossa percepção consciente. Na parte final deste capítulo, veremos como as ENCs ocorrem e são processadas nos diversos transtornos mentais. Assim como o humor, as emoções são frequentemente acompanhadas de reações somáticas, corporais (neurovegetativas, motoras, hormonais, viscerais e vasomotoras), mais ou menos específicas. O humor e as emoções são, ao mesmo tempo, experiências psíquicas e somáticas e revelam sempre a unidade psicossomática básica do ser humano. ASPECTOS CEREBRAIS E NEUROPSICOLÓGICOS DAS EMOÇÕES Amígdala A amígdala é considerada, atualmente, uma das principais estruturas neurais relacionadas às emoções. Situada na região temporal medial, juntamente com suas projeções aferentes (de chegada) e eferentes (de saída), ela tem grande importância nas reações de medo, particularmente no aprendizado do medo e no medo condicionado (fear conditioning), além de papel destacado na raiva e na resposta hormonal ao estresse. O pequenino tamanho da amígdala pode ser, à primeira vista, enganador, pois ela exerce grande influência nos processos neuroemocionais. Entretanto, o maior especialista na área, Joseph LeDoux, alerta que, sozinha, isolada, a amígdala não é nada, apenas um pedacinho de carne. O fundamental são suas conexões e as redes neurais nas quais participa, bem como o funcionamento global do sistema neuroemocional. A amígdala recebe muitas informações vindas do tálamo, das outras estruturas do sistema límbico e de áreas corticais sensoriais. Além de estímulos auditivos, também chegam à amígdala estímulos visuais (principalmente relacionados à expressão facial emocional, vindos do giro fusiforme occipitotemporal), olfativos e gustativos, informando sobre o ambiente, sobretudo a respeito de estímulos afetivamente relevantes e importantes para a sobrevivência. Após tais estímulos serem rapidamente processados no interior da amígdala, saem dela eferências para o córtex cerebral (que vão processar o significado das emoções), o hipotálamo, o tronco cerebral e os núcleos da estria terminal, produzindo respostas mentais, comportamentais, fisiológicas e hormonais relacionadas a fuga ou luta, compatíveis com o padrão de medo desencadeado. A amígdala é, sobretudo, um sistema de alerta (warning system) do organismo, com 12 núcleos sensíveis diferencialmente para atenção, aprendizagem e memória. Em algumas circunstâncias, ela emiteprojeções para o tronco cerebral (principalmente para a substância cinzenta periaquedutal), desencadeando reações de raiva e agressividade, ou reações de imobilidade e congelamento (freezing, tonic immobility), em mamíferos, similares à catatonia e ao estupor em humanos. Embora a amígdala esteja primordialmente relacionada à emoção do medo, estudos revelam que ela pode ser ativada por outros tipos de emoções, geralmente negativas. Além da função de alerta, sobretudo para mudanças ambientais, a amígdala tem um papel neuromodulador, integrativo de processos emocionais, atuando nas interfaces entre emoção e funções cognitivas, como em tomadas de decisão, aprendizado e atenção. A amígdala também está relacionada às funções sexuais. Lesões em sua porção lateral podem desencadear comportamento hipersexual. Quando estimulada com microelétrodos, pode-se observar reações como ereção, ejaculação e movimentos de cópula. Na amígdala se encontra expressiva quantidade de receptores de hormônios sexuais. Assim, emoções e sexualidade estão neuronalmente muito próximas, o Bruna Melnik Bellandi – 5º Período que corresponde à proximidade psicológica dessas duas dimensões da vida. Lesões nessa estrutura se relacionam principalmente a perda ou diminuição das respostas de medo (a pessoa não se assusta com vozes, corpos ou faces assustadoras, não tem medo quando exposta a cobras e aranhas) e de agressão. A amígdala geralmente está hiperativada em condições clínicas psicopatológicas relacionadas a ansiedade, fobias e estresse crônico. Além disso, na depressão e no transtorno bipolar, ela também está hiperativada. Na depressão grave, há remodelação dendrítica e alterações da plasticidade sináptica na amígdala. Redução da conectividade dessa estrutura com o lobo frontal foi identificada na depressão grave, tanto em crianças como em adultos. Amígdala e respostas emocionais não conscientes A amígdala processa as informações de forma muito rápida, sendo “muito veloz para aprender, mas muito lenta para esquecer”. Nos últimos anos, estudos de psicologia experimental com seres humanos têm evidenciado que a amígdala é ativada por estímulos ambientais afetivos (geralmente relacionados a medo, perigo, raiva ou alegria) mesmo quando tais estímulos não são percebidos conscientemente. Assim, há um conjunto sólido de pesquisas empíricas que demonstram que muitos processos emocionais não conscientes importantes ocorrem e produzem reações físicas e psicológicas (geralmente associadas a medo e afetos negativos), que o indivíduo não percebe e não processa conscientemente. Nesses processos emocionais não conscientes, a ativação da amígdala parece ter um papel fundamental. Lobos frontais e as emoções: córtex orbitofrontal e córtex frontal ventromedial Intimamente relacionadas às emoções, essas áreas se situam na parte dianteira dos lobos frontais, em posição acima e adjacente aos globos oculares (córtex orbitofrontal [COF]) e na porção medial e inferior (córtex frontal ventromedial [CVM]) dos lobos frontais. De modo geral, os lobos frontais utilizam informações oriundas da amígdala para monitorar o estado interno e afetivo do organismo e regular as respostas apropriadas. O COF exerce ação de modulação sobre a amígdala e está intimamente relacionado a respostas emocionais e aprendizado rápido (memória de trabalho) após estímulos emocionalmente carregados, como a visão de faces expressivas e a audição de vozes com tonalidades emocionalmente marcantes. Embora o COF seja uma grande estrutura, com funções neuropsicológicas complexas, experiências emocionais de raiva se relacionam, em estudos de neuroimagem funcional, com hiperativação do COF. Lesões nessa estrutura em primatas podem, por sua vez, reduzir a agressividade. Quando o COF é disfuncional ou lesado, o indivíduo passa a não identificar os estímulos de forma correta e tende a responder de modo socialmente inadequado a estímulos faciais e vozes, sobretudo quando envolvem frustração e evitação de comportamentos prejudiciais a si mesmo ou a terceiros. Pacientes com lesões importantes no COF podem apresentar impulsividade, agressividade e perda do tato social (inadequação em comportamentos sociais). O CVM também tem importância na modulação da amígdala. Ele é componente relevante no circuito das emoções. Essa área apresenta importantes eferências para a amígdala e as zonas do mesencéfalo. Além disso, é parte do sistema modulador cardiovascular e de respostas dopaminérgicas e de corticotrofina/corticosterona a estímulos aversivos. Lesões nas áreas do CVM dificultam o ajuste de respostas a estímulos afetivamente significativos, o que explica a resistência à extinção de determinados padrões comportamentais e emocionais em indivíduos com disfunções no CVM. Pacientes com lesões importantes nessa estrutura podem apresentar apatia, diminuição da iniciativa e prejuízo na motivação. Ínsula A ínsula (do latim, ilha) é uma porção de córtex cerebral oculta, situada na base da fissura de Sylvius, separando os lobos temporal e frontal. Trata-se de uma estrutura relativamente recente na evolução filogenética, não existindo em animais não sociais. Ela teve grande expansão na evolução filogenética dos primatas e do ser humano. No passado, pensava-se, erroneamente, que essa pequena porção de córtex estava associada apenas a comportamento alimentar e sexual. Pesquisas revelaram que a ínsula é uma área fundamental que lê o estado fisiológico de todo o corpo, gerando sentimentos subjetivos-corporais desagradáveis e agradáveis. Quando uma pessoa percebe um cheiro de coisa podre, sentindo marcante nojo, a ínsula é ativada. Entretanto, experiências emocionais relacionadas a repugnância ou aversão (disgust) por uma situação ou por uma pessoa ativam a ínsula da mesma forma. A experiência unificada, mental e corporal, das emoções ocorre com ativação da ínsula, a qual também é importante para “colocar o corpo em uma atitude de expectativa”, quando um comportamento possa gerar consequências ruins. Também se correlacionou experiência emocional de alegria e ativação da ínsula. Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Enfim, essa estrutura parece estar intimamente relacionada a alguns aspectos daquilo que Fuchs e Koch (2014) apresentam com dimensão corporificada das emoções. Giro do cíngulo (sobretudo anterior) Essa porção de córtex, localizada longitudinalmente na porção medial dos lobos frontais, parietais e occipitais, logo acima do corpo caloso, está envolvida de modo importante no controle das emoções. Lesões no cíngulo anterior foram associadas a hipersensitividade e aumento da tendência a chorar em eventos tristes. A relação do cíngulo anterior com a experiência de tristeza surgiu da ativação dessa estrutura em filhotes quando separados das mães (Lindquist et al., 2012). De toda forma, parece que o cíngulo anterior é uma estrutura importante nos comportamentos de cuidados (p. ex., cuidados parentais) e para a ressonância afetiva no contato interpessoal. As respostas afetivas de uma mãe humana a seu bebê podem ser muito prejudicadas por lesões no cíngulo anterior. Também a deterioração do cíngulo anterior pode reduzir a expressão emocional, a empatia e a motivação para comunicação. O cíngulo posterior, por sua vez, foi associado a experiência emocional de alegria em estudos de neuroimagem funcional. A estimulação com eletrodos do córtex do cíngulo anterior (sobretudo na sua porção subgenual) pode beneficiar pacientes com depressão refratária, melhorando a apatia e a anedonia. Lobo parietal direito Pacientes com lesões nessa área apresentam agnosia do dimídio esquerdocom heminatenção visual à esquerda. Respondem com indiferença quando são constatados seus déficits (anosognosia) e podem apresentar também humor expansivo, alegre, em contraposição ao humor triste ou apático dos indivíduos com lesões nas áreas frontais anteriores esquerdas. O lobo parietal direito recebe projeções da amígdala, permitindo que os estímulos emocionais sejam integrados a aspectos objetivos da consciência e da memória declarativa (consciente). As lesões parietais à direita dificultam o processamento cortical multimodal dos estímulos proprioceptivos e exteroceptivos, gerando desconhecimento afetivo da situação. Circuito septo-hipocampal Esse circuito tem sido implicado nas experiências de ansiedade. Também outros circuitos, que envolvem o hipotálamo, o tronco cerebral, o córtex rinal adjacente e o telencéfalo basal, têm sido apontados como relevantes para diferentes experiências emocionais. Afetividade A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia, sem sabor. “Afetividade” é um termo genérico, que compreende várias modalidades de vivências afetivas, como o humor, as emoções e os sentimentos. Embora seja controversa a ordenação das experiências da vida afetiva, na tradição psicopatológica distinguem-se cinco tipos básicos de vivências afetivas: 1.Humor ou estado de ânimo 2.Emoções 3.Sentimentos 4.Afetos Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 5.Paixões Humor ou estado de ânimo O humor, ou estado de ânimo, é definido como o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. É a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica, a lente afetiva que dá às vivências do sujeito, a cada momento, uma cor particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiências reais e, muitas vezes, modificando a natureza e o sentido das experiências vivenciadas. Segundo Paim, no estado de ânimo (ou humor) há confluência entre a vertente somática e a vertente psíquica, que se unem de maneira indissolúvel para fornecer um colorido especial à vida psíquica momentânea. Em boa parte, o humor é vivido corporalmente e relaciona-se de forma considerável às condições corporais, vegetativas, do organismo. Enfim, o humor, ou estado de ânimo, é um dos transfundos essenciais da vida psíquica. Emoções As emoções podem ser definidas como reações afetivas momentâneas, agudas, desencadeadas por estímulos significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como reação do indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes, não conscientes ou inconscientes. Assim como o humor, as emoções são frequentemente acompanhadas de reações somáticas, corporais (neurovegetativas, motoras, hormonais, viscerais e vasomotoras), mais ou menos específicas. O humor e as emoções são, ao mesmo tempo, experiências psíquicas e somáticas e revelam sempre a unidade psicossomática básica do ser humano. A emoção, segundo Mira y López, é uma alteração global da dinâmica pessoal, um movimento emergente, podendo representar uma tempestade anímica, que desconserta, comove e perturba o instável equilíbrio existencial. Sentimentos Os sentimentos são estados e configurações afetivas estáveis; em relação às emoções, são mais atenuados em sua intensidade e menos reativos a estímulos passageiros. Os sentimentos estão comumente associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e, em geral, não implicam concomitantes somáticos. Constituem fenômeno muito mais mental do que somático. Por serem associados a conteúdos intelectuais, os sentimentos (mas também o humor e as emoções) dependem da existência, na língua e na cultura de cada povo, de palavras que possam codificar este ou aquele estado afetivo. Assim, há grande variação de cultura para cultura, de um para outro universo semântico e linguístico, em relação aos diversos sentimentos que podem ser expressos e, portanto, ganhar existência própria. Pode-se, com certa arbitrariedade, classificar e ordenar os sentimentos em vários grupos. Os afetos e os sentimentos são vivenciados, de modo geral, em dois polos: agradável e desagradável, prazeroso e desprazível. A seguir, são apresentados alguns dos vários sentimentos existentes, de acordo com sua tonalidade afetiva: •Sentimentos da esfera da tristeza: melancolia, saudade, tristeza, nostalgia, vergonha, impotência, aflição, culpa, remorso, autodepreciação, autopiedade, sentimento de inferioridade, infelicidade, tédio, desesperança, etc. •Sentimentos da esfera da alegria: euforia, júbilo, contentamento, satisfação, confiança, gratificação, esperança, expectativa. •Sentimentos da esfera da agressividade: raiva, revolta, rancor, ciúme, ódio, ira, inveja, vingança, repúdio, nojo, desprezo. •Sentimentos relacionados à atração pelo outro: amor, atração, tesão, estima, carinho, gratidão, amizade, apego, apreço, respeito, consideração, admiração, etc. •Sentimentos associados ao perigo: medo, temor, receio, desamparo, abandono, rejeição. •Sentimentos de tipo narcísico: vaidade, orgulho, arrogância, onipotência, superioridade, empáfia, prepotência. Afetos Define-se afeto como a qualidade e o tônus emocional que acompanham uma ideia ou representação mental. Os afetos acoplam-se a ideias, anexando a elas um colorido afetivo. Seriam, assim, o componente emocional de uma ideia. Em acepção mais ampla, usa- se também o termo “afeto” para designar, de modo inespecífico, qualquer estado de humor, sentimento ou emoção. Paixões A paixão é um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo, captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção, inibindo os demais interesses. Nessa linha, para Pieron (1996), a paixão intensa impede o exercício de uma lógica imparcial. ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS: Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Exaltação afetiva: Exaltação afetiva corresponde a um aumento da intensidade ou duração dos afetos, ou a uma reação afetiva desproporcional em relação à situação ou ao objeto que a motivou. Por exemplo, na mania há uma exaltação do humor alegre ou irritado, e, na depressão, do humor triste. Embotamento afetivo: Embotamento afetivo (ou distanciamento, empobrecimento, esmaecimento, esvaziamento, aplainamento afetivo) significa diminuição da intensidade e da excitabilidade dos afetos, sejam eles positivos ou negativos. Nos estados de diminuição da afetividade, o doente torna-se indiferente ao meio, às outras pessoas e, algumas vezes, a si próprio, sendo a expressão emocional bastante restrita. Pode ocorrer ainda anedonia, que é a perda da capacidade de sentir prazer. ALTERAÇÕES QUALITATIVAS: As alterações qualitativas da afetividade podem ser divididas em distúrbios da modulação (ou regulação) afetiva e distúrbios do conteúdo dos afetos. Entre os distúrbios da modulação afetiva estão: a labilidade afetiva, a incontinência afetiva e a rigidez afetiva. Entre os distúrbios do conteúdo dos afetos estão: a paratimia, a ambitimia e a neotimia. Labilidade afetiva: A labilidade afetiva – também chamada de instabilidade ou volubilidade afetiva – constitui uma dificuldade no controle dos afetos. Incontinência afetiva: A incontinência afetiva consiste em um distúrbio da regulação afetiva mais grave que a labilidade. Há uma perda completa da capacidade de controle da expressão afetiva; existe uma falha de certos mecanismos frenadores, inibitórios, adquiridos na educação e no convívio social. Rigidez afetiva: A rigidezafetiva caracteriza-se por perda da capacidade de modular a resposta afetiva de acordo com a situação de cada momento. Em oposição ao que ocorre na labilidade e na incontinência afetiva, a expressão afetiva varia muito pouco, menos do que o normal, no decorrer do tempo. Assim, independentemente dos acontecimentos externos, o estado de humor do paciente será mais ou menos o mesmo. Paratimia: A paratimia caracteriza-se por uma inadequação do afeto: uma incongruência entre o afeto expresso e a situação vivenciada, ou entre o afeto expresso e aquilo que o indivíduo verbaliza. Por exemplo: o paciente, rindo, conta que foi torturado na noite anterior; ou então o doente afirma estar alegre, mas sua mímica é de tristeza. Ambitimia: A ambitimia também é chamada de ambivalência afetiva, segundo a denominação de Bleuler, que a incluiu entre os seus quatro A’s. Representa a presença de sentimentos opostos ou contraditórios que são simultâneos e que se referem ao mesmo objeto, pessoa ou situação. Por exemplo: ao mesmo tempo amar e odiar a mesma pessoa. Neotimia: A neotimia consiste em uma vivência inteiramente nova, extravagante e inusitada. São afetos qualitativamente diferentes de todos os que o paciente havia experimentado em sua vida. Vontade Conação constitui o conjunto de atividades psíquicas direcionadas para a ação. Incluem-se, entre as funções conativas, os impulsos e a vontade. Impulsos- também chamado estado motivacional ou pulsão, representa um estado interno, uma vivência afetiva, que induz o indivíduo a atuar no sentido de satisfazer uma necessidade, basicamente uma necessidade corporal. Os impulsos não devem ser confundidos com os instintos. Estes consistem em predisposições inatas à realização de comportamentos complexos e estereotipados, compartilhados pelos animais de mesma espécie, e que servem à conservação da vida ou à perpetuação da espécie. Vontade - constitui um processo psíquico de escolha de uma entre várias possibilidades de ação, uma atividade consciente de direcionamento da ação. Trata- se de uma elaboração cognitiva realizada a partir dos impulsos, sendo influenciada por fatores intelectivos e socioculturais. ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS Hipobulia e abulia: Hipobulia e abulia significam, respectivamente, diminuição e abolição da atividade conativa. A hipobulia e a abulia caracterizam-se por uma sensação de indisposição, fraqueza, desânimo ou falta de energia; perda da iniciativa, da espontaneidade e do interesse pelo mundo externo; indecisão; dificuldade de transformar as decisões em ações; e inibição da psicomotricidade. Ocorrem na depressão, na esquizofrenia, no delirium sem psicose, em alguns casos de demência ou retardo mental e no uso crônico de neurolépticos. Enfraquecimento de impulsos específicos Distúrbios como a diminuição ou perda do apetite (anorexia), da sede e da libido, além de insônia, representam um enfraquecimento dos impulsos, um debilitamento das tendências naturais à satisfação das necessidades corporais. A anorexia é observada na depressão, na anorexia nervosa, em alguns quadros de ansiedade e em Bruna Melnik Bellandi – 5º Período diversas condições médicas gerais. A anorexia deve ser distinguida da sitiofobia, na qual a recusa alimentar se deve a manifestações fóbicas ou delirantes, não havendo uma real redução do apetite. A insônia pode ser classificada em: inicial, quando há dificuldade para adormecer; intermediária, caracterizada por diversos despertares noturnos; e terminal, quando o paciente acorda muito cedo e não consegue voltar a dormir. A insônia aparece na depressão (podendo ser inicial ou terminal), nas síndromes de ansiedade (em geral, inicial ou intermediária), na mania, nos quadros de agitação psicomotora, nas intoxicações por psicoestimulantes (anfetamina, cocaína, cafeína, etc.) e em quadros de abstinência a algumas substâncias psicoativas (opiáceos, benzodiazepínicos, álcool etc.). A perda da libido é observada na depressão e no uso de substâncias antiandrogênicas, de neurolépticos e de alguns antidepressivos (especialmente os tricíclicos e os serotoninérgicos). Hiperbulia: A hiperbulia caracteriza-se por um sentimento subjetivo de força, de energia, de disposição; observa-se um aumento da iniciativa, da espontaneidade e do interesse em relação ao mundo externo; costuma haver desinibição e aumento da psicomotricidade. Ocorre principalmente na síndrome maníaca. Intensificação de impulsos específicosA bulimia (ou sitiomania, ou sitiofilia) consiste em um aumento patológico do apetite. Pode ocorrer em distúrbios hipotalâmicos, na síndrome de abstinência relacionada à anfetamina, em alguns casos de depressão, na bulimia nervosa, no transtorno disfórico pré-menstrual e em quadros de ansiedade. Está relacionada à hiperfagia – ingestão excessiva de alimentos – e à obesidade. A sede excessiva é denominada potomania; a ingestão exagerada de água, polidipsia. Esta é observada no diabetes melito, no diabetes insípido e na síndrome de ansiedade. Hipersonia (ou letargia) significa sono em excesso. Ela é observada em alguns deprimidos; pode ser um efeito colateral de medicamentos como benzodiazepínicos, antipsicóticos e antidepressivos; e ocorre de forma paroxística na narcolepsia. O desejo sexual patologicamente aumentado no homem é chamado satiríase e, na mulher, ninfomania. O aumento da libido é uma alteração típica da mania. Alterações qualitativas (disbulias ou parabulias) Atos impulsivos: Os atos impulsivos caracterizam-se por serem súbitos, incoercíveis e incontroláveis. São atos desprovidos de finalidade consciente. Os atos impulsivos tornam-se patológicos quando são empaticamente incompreensíveis para o observador. Alguns comportamentos heteroagressivos, autoagressivos e suicidas, a frangofilia, a piromania, a dromomania, a dipsomania e os ataques de hiperingestão alimentar (da bulimia nervosa) podem ter as características de um ato impulsivo. Atos compulsivos: Os atos compulsivos ou compulsões, que foram descritos por Esquirol, em 1836, são atos que o indivíduo se sente compelido a realizar. Todavia, ao contrário do que ocorre nos atos impulsivos, a execução não se dá de imediato, e sim somente após alguma deliberação consciente, havendo, com frequência, luta ou resistência contra a sua execução Comportamentos desviantes em relação aos impulsos: comportamentos de automutilação e suicida, alotriofagia, parafilias. Ambitendência: A ambitendência também é denominada ambivalência volitiva. Consiste em uma incapacidade para decidir, em função da presença na consciência de tendências volitivas opostas. Negativismo: O negativismo, que foi descrito por Kahlbaum, consiste em uma resistência não deliberada, imotivada e incompreensível às solicitações externas. Reação do último momento: A reação do último momento consiste no desaparecimento súbito de uma conduta negativista justamente no momento em que o examinador desiste do seu empenho em fazer com que o paciente atenda à sua solicitação. Sugestionabilidade patológica: A sugestionabilidade patológica é um sintoma oposto ao negativismo. Consiste em uma tendência exagerada a atender às solicitações vindas do exterior. Obediência automática: A obediência automática representa um exemplo extremo de sugestionabilidade patológica. Caracteriza-se pelo cumprimento passivo e imediato, sem qualquer reflexão ou elaboração, de quaisquer ordens ou solicitações, mesmo que a ação realizada seja perigosa ou danosa para o próprio paciente.
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