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Aula 3 - Texto Estado Moderno e Contemporaneo

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ESTADO MODERNO E 
CONTEMPORÂNEO 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Carlos Alberto Simioni 
2 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Dentre os pensadores modernos, o primeiro a criticar os fundamentos do 
liberalismo foi Rousseau, em 1754, quando afirmou que a origem da desigualdade 
era a posse da propriedade (Rousseau, 2008). Para os liberais, inversamente, a 
propriedade privada era o principal fundamento de liberdade, e o Estado seria o 
seu guardião. Esse debate se tornaria, posteriormente, um dos principais 
contrapontos entre liberalismo e socialismo. No final do século 18, o conde Saint-
Simon (1760-1825) também fez críticas ao emergente capitalismo, sendo o primeiro 
a usar o termo socialismo. 
Era o início da Revolução Industrial e do capitalismo. As primeiras indústrias 
(no sentido moderno do termo) iniciaram um processo de exploração do trabalho 
que hoje seria considerado desumano ou análogo à escravidão: jornadas de 
trabalho de 14 horas ou mais; fábricas com ambientes insalubres; baixíssimos 
salários; ausência de legislação trabalhista; e uma multidão de desempregados, 
expulsos do campo e prontos a substituir quem não aceitasse aquelas condições. 
O discurso de liberdade, igualdade e fraternidade, na prática, não acontecia para a 
maioria – antes, a desigualdade e o sofrimento eram muito maiores do que no 
período feudal. 
É nesse contexto que surgiram as primeiras ideias socialistas. Inicialmente, 
as propostas nesse sentido eram experimentos individuais, e não revoluções ou 
reformulações do Estado. Tais propostas foram chamadas posteriormente de 
socialismo utópico. Porém, em meados do século 19, impelidos pelo avanço da 
mentalidade científica, os alemães K. Marx (1818-1883) e F. Engels (1820-1895) 
propuseram um projeto político revolucionário, o comunismo. 
A teoria de Marx e de Engels, assim como de vários de seus seguidores, 
recebeu o nome de marxismo, uma proposta de mudança radical da sociedade. A 
classe trabalhadora tomaria o poder, incluindo o Estado burguês, e eliminaria o 
capitalismo e a divisão da sociedade em classes sociais. O projeto aconteceria pela 
ação de organizações modernas, como partidos políticos e sindicatos, e pelo uso 
da violência, em um processo revolucionário. Depois, seria construída uma nova 
sociedade e um novo tipo de Estado (ou teríamos a extinção do Estado da época). 
Assim, há um debate não apenas em relação ao tipo de sociedade (capitalista ou 
comunista), mas também, em uma suposta sociedade comunista, ao tipo de Estado 
que deveria existir. 
3 
 
 
Aqui, vamos estudar as críticas marxistas ao Estado capitalista (liberal) e as 
primeiras experiências de Estados comunistas, a partir da Revolução Russa de 1917. 
TEMA 1 – CRÍTICA AO ESTADO LIBERAL CAPITALISTA 
Qualquer abordagem marxista parte de um princípio básico: todas as 
sociedades, em todas as épocas, sempre estiveram divididas em classes sociais 
diferentes, a dominante e a(s) explorada(s). Ao longo da história, em um processo 
lento e natural, elas entram em conflito. Na sociedade capitalista não é diferente. 
Outras teorias, como a das elites ou mesmo o liberalismo, concordam com este 
pressuposto (divisão entre classes), mas avaliam que se trata de uma divisão 
normal. O marxismo, porém, considera que essa divisão é injusta e passível de ser 
mudada cientificamente, desde que um processo revolucionário, conduzido pela 
classe explorada, construa uma sociedade sem a opressão de uma classe sobre 
a outra – opressão conduzida também pelo Estado. 
1.1 Ação do estado 
No século 19, o capitalismo, com sua forma específica de relação de trabalho 
(assalariado), estava se consolidando na Europa. A Inglaterra era o país onde o 
processo estava mais avançado. Abrigava centenas de fábricas e milhares de 
operários. As condições de trabalho, no entanto, eram precárias. No livro “O 
Capital”, escrito em meados daquele século, Marx analisa como as próprias 
instituições britânicas, ao longo de décadas, criaram uma legislação trabalhista, na 
visão do autor, insuficiente. O parlamento inglês, por exemplo, paulatinamente 
reduziu a jornada de trabalho, após várias denúncias de médicos, religiosos, jornais 
e comissões do próprio Parlamento (Marx, 1987, p. 315). 
Nesse contexto, qual era o papel do Estado? É importante lembrar que o 
Estado Britânico se fundamentava em princípios liberais, procurando interferir 
minimamente em assuntos privados. No entanto, no início do século 19, surgiram 
as primeiras revoltas dos trabalhadores, por exemplo o Ludismo (1819, revolta 
contra a substituição de homens por máquinas, na qual os trabalhadores 
quebraram e destruíram as fábricas). Diversas revoltas ocorreram pela Europa 
durante aquele século; em geral, os governos tomavam o partido da classe 
burguesa (proprietários), enviando a polícia e o exército para conter os operários. 
Procurar o governo (Poder Executivo) não surtia efeito, pois este era 
composto, muitas vezes, pelos próprios burgueses ou por seus representantes. 
4 
 
 
Esta é a razão que levou Marx e Engels a afirmarem, em “O Manifesto Comunista”, 
publicado em 1848, que “a burguesia, desde o estabelecimento da grande indústria 
e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no 
Estado representativo moderno. O governo moderno não é senão um comitê para 
gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa” (Marx; Engels, 1986). 
Essa análise não pode ser interpretada literalmente. Afinal, trata-se de um 
manifesto e não de uma obra acadêmica mais elaborada. Na obra de Marx, é 
possível verificar outras abordagens sobre o Estado, como veremos a seguir. 
TEMA 2 – ANÁLISE ESTRUTURAL E CONJUNTURAL DO ESTADO 
A teoria marxista é considerada estruturalista, ou seja, parte do princípio 
de que, independentemente do período histórico, em todas as sociedades 
encontramos estruturas, ou fatores que sustentam aquela sociedade. Seria o caso 
do fator econômico ou a maneira como os homens, na luta pela sobrevivência, 
se organizam, geram e distribuem bens e riquezas. Todas as instituições sociais 
estariam condicionadas, em última instância, por esse fator. Com o Estado e as suas 
variações ao longo da história, não é diferente. A ideia que vimos anteriormente, do 
Estado como gerente da burguesia, está atrelada a esse princípio. 
Ao lado das estruturas existem fatores conjunturais, ou seja, fatores ou 
acontecimentos que, em um dado momento, podem não estar ligados à estrutura, 
pois podem ser explicados por variáveis diferentes e múltiplas. Ainda assim, no 
conjunto, podem sustentar determinadas situações e aparentar uma organização 
estrutural. No marxismo, essa diferença é definida como infra e superestrutura. 
A política e o Estado seriam elementos da superestrutura, isto é, aparecem em 
primeiro plano, mas são condicionados pela economia (mercado, produção e 
distribuição da riqueza). Assim, a superestrutura é importante, como argumentam 
Codato e Perissinoto (2001). O próprio Marx analisou determinadas conjunturas 
políticas em suas relativamente pouco conhecidas obras históricas. Nessas obras, 
seria possível observar a visão do pensador sobre o Estado, mais do que no 
“Manifesto”. 
2.1 Análise de Marx sobre o Estado enquanto instituição política 
Muitos criticam a visão estrutural de Estado, por impedir uma análise de “sua 
configuração interna, seus níveis decisórios e as funções que os diversos centros 
de poder cumprem, seja como produtores de decisões, seja como organizadores 
5 
 
 
políticos dos interesses das classes e frações dominantes” (Codato; Perissinotto, 
2001, p. 10). No entanto, os autores argumentam que nem o próprio Marx 
menosprezou esse fato, exemplificando como analisou os fatores conjunturais do 
Estado durante os tumultuados anos entre 1848 e 1851 na França, quando 
diversas crises políticas culminaram no golpe de Estado de Luís Bonaparte 
(sobrinho de N. Bonaparte). Nessecontexto, o Estado foi disputado por diferentes 
classes ou frações de classe (diferentes tipos de burguesia: comercial, industrial, 
financeira etc.). 
Outro ponto analisado é a diferença entre aparelho de Estado e poder de 
Estado. A pergunta central é: nas sociedades modernas o Estado é efetivamente 
controlado pela classe dominante? Em sentido geral, os autores afirmam que Marx 
percebe o Estado como atrelado ao fator da classe social. Mas em certas 
ocasiões a instituição é mais autônoma. Teríamos uma diferença básica entre grupos 
economicamente dominantes (frações da classe burguesa) e grupos 
politicamente dominantes, que poderiam ser uma daquelas frações, ou mesmo 
um período de dominação política por uma classe subalterna, sem, no entanto, 
interferência no domínio da classe economicamente dominante. Esta seria a 
diferença básica entre aparelho de Estado, que pode ser governado por diferentes 
grupos, classes ou frações de classe; e poder de Estado, em referência ao poder 
da classe que domina os meios de produção (infraestrutura). Portanto, mesmo que 
em certo momento uma classe subalterna comande o Estado, na verdade ela se 
ilude, pois não tem o poder real daquela sociedade. 
O aparelho de Estado apresenta diferentes instâncias de poder. 
Considerando exemplos atuais, uma coisa é controlar, vamos supor, o Ministério 
da Fazenda ou de Infraestrutura, outra coisa é dominar o Ministério da Cultura. 
Segundo Codato e Perissinoto (2001, p. 20), somente alguns ramos de Estado 
apresentam poder efetivo: 
o poder político concentra-se em núcleos específicos do aparelho do 
Estado; estes, por sua vez, podem ser ocupados diretamente (ou 
controlados, ou influenciados) por diferentes classes sociais; nesse caso, 
o poder relativo de cada uma delas será determinado pela proximidade 
ou distância que mantiver em relação ao centro decisório mais 
importante. 
Assim Marx entendeu a complexidade do Estado, com suas diferentes 
esferas de poder, sendo dirigido por diferentes classes sociais. A partir de certo 
limite, o poder real está nas mãos da classe que controla os principais centros de 
poder, a mesma classe que controla os meios de produção. 
6 
 
 
TEMA 3 – MODELOS DE ESTADO COMUNISTA: URSS 
O primeiro Estado Comunista surgiu após a Revolução Russa, em 1917. 
Com a criação da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), era preciso 
considerar a melhor forma de gerir aquele imenso país com um novo sistema 
econômico, a partir de princípios políticos diferentes daqueles que regiam o império 
russo ou o Estado Liberal. Contudo, essa estrutura não iria diferir muito dos 
princípios do Estado Nação e daqueles elencados por Weber (segurança, 
administração moderna e burocracia). 
Os novos princípios eram abolição da propriedade privada, substituição do 
capitalismo como modo de produção e erradicação da miséria, pela socialização 
(distribuindo) dos meios de produção. Que papel teria o Estado nesse processo, 
se ele era anteriormente visto como instrumento de opressão das classes 
dominantes? É certo que, após a Segunda Guerra Mundial, progressivamente as 
condições de vida melhoraram na URSS, em especial com a erradicação da 
miséria e com a universalização de serviços de saúde e educação. Mas não havia 
consumo em massa como no ocidente. Se não havia miséria, a população também 
não tinha acesso aos pequenos luxos da classe média capitalista. No plano 
político, o Estado soviético se transformou em um dos maiores e mais poderosos 
da modernidade. Mas, internamente, a lógica do Estado não diferia muito dos 
demais países. 
3.1 Estrutura política 
A URSS tinha um sistema político baseado em soviets, conselhos de 
representação de operários e camponeses, na verdade instituídos em 1905, mas 
sem muito poder. Com a Revolução, pelo menos na teoria, tais conselhos seriam a 
base do poder político (Reed, 2009). Posteriormente, a URSS implantou o regime 
de partido único, o Partido Comunista (PC), formando um complexo sistema de 
representação popular, semelhante ao parlamentarismo ocidental. Na prática, 
contudo, a URSS era um país autoritário e o poder era altamente centralizado pelo 
Poder Executivo (Presidium), atrelado ao Politburo, Comitê Central do PC, que 
decidia os principais temas tratados. O parlamento nacional, o Soviet Supremo, 
era liderado pelo Secretário Geral, o Chefe de Estado. Na prática, ele ratificava as 
decisões do PC, principalmente nos períodos de maior autoritarismo, como no 
governo de J. Stalin (Stalinismo, 1924-1953). 
7 
 
 
3.2 Administração e economia 
A URSS também apresentava administração burocrática moderna, 
conhecida como nomenklatura, formada principalmente pelos altos dirigentes do 
PC e por trabalhadores de vários setores, em grande parte pertencentes ao partido. 
É interessante lembrar que a URSS, ainda nos anos 20, implantou um sistema de 
produção baseado no fordismo, procurando equiparar-se à alta produtividade dos 
países ocidentais. Com o tempo, porém, o Estado transformou-se em um imenso 
aparato repressivo, o que para muitos comunistas foi um desvirtuamento da 
Revolução, com a substituição do poder dos soviets pela burocracia. 
A economia soviética era altamente planificada, ou seja, era planejada em 
detalhes pelo Estado. Desde os anos 30, foram implantados vários planos de 
metas. A cada 5 anos, determinados setores eram priorizados. Não havia mercado 
financeiro. O comércio e o trabalho eram controlados minuciosamente. A 
burocracia e o partido eram as figuras que efetivamente controlavam a economia. 
Tragtenberg (1971) ressalta o que ficou definido como “transformação da URSS 
em Capitalismo de Estado”, expressão usada por Lênin: 
O capitalismo de Estado, ou melhor, o processo de modernização levado a 
efeito por uma elite, industrializante sob a direção de um partido único, 
implica nos seus inícios, já na burocracia [...]. O monopólio do poder, pelo 
partido único, é o elemento que assegura a seleção da elite dirigente. [...] 
Nesse contexto, o administrador de empresa cumpre a função de realizar 
no nível de microempresa os objetivos do plano. Se ele atinge as cifras do 
plano recebe bonificação. 
Tal modelo de direção empresarial, altamente centralizado e burocrático, 
geridos pelos respectivos PCs, se espalhou pelos países satélites, como Hungria, 
Tchecoslováquia, Romênia, Iugoslávia, Polônia, Albânia e Bulgária. Mas tal 
característica mesclava-se ao modo de produção asiático, um conceito marxista 
usado para se referir aos onipotentes Estados dos grandes impérios da 
antiguidade. Criou-se, assim, um modelo híbrido, conforme aponta Tragtenberg 
(1971): “É o ressurgimento do modo asiático de produção, aliado ao alto nível de 
tecnificação com o monopólio do poder pelo partido único”. 
3.3 Forças de segurança 
Em linhas gerais, as forças armadas e as forças de segurança pública 
soviética seguiram o modelo ocidental de organização e finalidades. As forças 
armadas se transformaram em uma das mais poderosas do mundo. As forças de 
8 
 
 
segurança foram reorganizadas após a revolução de 1917. De acordo com o 
cientista político francês Gilles Favarel-Guarrigues, havia uma polícia ostensiva, a 
milícia; uma polícia judiciária (investigativa); e a BKhSS (serviços de crimes 
econômicos), com agentes especializados no combate à criminalidade dessa 
natureza, basicamente os atentados contra o patrimônio do Estado, os delitos 
contra as regras da atividade econômica (especulação ou realização de uma 
atividade comercial privada) e ofensas de escritório (por exemplo, suborno) 
(Favarell-Garrigue, 2015). 
Contudo, em se tratando de regimes autoritários, fossem liberais ou 
comunistas, a finalidade dessas organizações era desvirtuada, servindo para 
a repressão política. Na URSS, como aconteceu na maioria dos países comunistas, 
foi criado um grande aparato repressivo, por exemplo, a Tcheka: 
A polícia secreta bolchevique, chamadade Comissão Extraordinária de 
Toda a Rússia para o Combate à Contrarrevolução e a Sabotagem — ou 
simplesmente "Tcheka" — perseguia e prendia qualquer pessoa que 
apoiasse um ato "contrarrevolucionário" ou que não simpatizasse com o 
regime marxista que se instalou em 1917. (Como operava..., 2022) 
Posteriormente, em 1922, ela mudou de nome e outras agências de 
informação foram criadas. Porém, a finalidade e as práticas eram idênticas, com a 
criação de um imenso aparato de vigilância e informações sobre a população. A 
famosa KGB (Comitê de Segurança do Estado) foi criada em 1954, substituindo o 
NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos), o terrível órgão de 
repressão durante o stalinismo. A KGB seguiu os mesmos passos das instituições 
anteriores, tanto no plano interno quanto externo. 
TEMA 4 – MODELOS DE ESTADO COMUNISTA: CHINA E CUBA 
Não muito diferentes do Estado soviético, outros países comunistas 
procuraram caminhos próprios. Vejamos dois exemplos, China e Cuba, países que 
tiveram uma história revolucionária própria e contextos diferentes de formação do 
Estado, ainda que não fossem muito diferentes entre si. 
4.1 China 
Em 1949, a Revolução comandada por Mao Tse Tung (1893-1976) reforçou 
o poderio do bloco soviético, condicionado àquela altura pela Guerra Fria. As 
primeiras medidas foram centralizar a economia, nacionalizar a indústria (ainda 
pequena) e dar início à reforma agrária, com um sistema de cooperativas no 
9 
 
 
campo. Politicamente, a China tinha um sistema de partido único, o Comunista 
(PC), que realmente comandava o país, nas mãos de Mao até a sua morte, em 
1976. Com base no Maoísmo (doutrina criada por Mao), a meta política inicial era 
formar uma sociedade camponesa igualitária. O Estado comandou a chamada 
Revolução Cultural no final dos anos 60, perseguindo supostos inimigos ou 
reacionários. A China, porém, passou por grandes dificuldades até o final dos anos 
70, quando ainda era um país pobre e quase fechado para o comércio mundial. 
4.1.1 Modelo chinês moderno 
A partir da morte da Mao, em 1976, uma nova orientação do PC permitiu 
maior abertura econômica e certos princípios capitalistas, culminando na China 
que hoje conhecemos. Ou seja, em pouco tempo a China tornou-se um poderoso 
ator internacional, além de grande produtor e consumidor de mercadorias, em um 
sistema econômico que pouco tem de comunista, pois desde então aderiu à 
economia de mercado. 
Por outro lado, o Estado chinês, altamente centralizador, controla as terras 
e, direta ou indiretamente, estabelece metas para as empresas. Muitos 
empresários são filiados ao PC. Analistas divergem na definição do modelo, que 
pode ser chamado de capitalismo de Estado, socialismo de mercado ou, 
simplesmente, modelo chinês. Os chineses o definem como um caminho próprio 
“denominado socialismo com características chinesas, que tem como elemento 
fundamental a liderança do partido em todos os aspectos. O país se apresenta como 
capitalista na economia e socialista na política e nas questões sociais” (Petit, 
2020). 
Nas últimas três décadas, a China apresentou grande crescimento 
econômico, com melhorias das condições de vida da população, ainda que exista 
desigualdade. O processo foi conduzido pelo Estado, apesar de ter sido posto em 
prática também pelo setor privado. Sobre o tema, Guimarães (2012) analisa: 
Deve-se destacar o amplo esforço do Estado chinês em promover o 
desenvolvimento industrial. A proteção ao mercado interno, a oferta de 
financiamento e o estímulo ao desenvolvimento tecnológico, entre outras 
medidas, auxiliaram as empresas chinesas a projetar-se no mercado e a 
ampliar as chances de enfrentar a competição estrangeira. 
Mais recentemente, acompanhando o seu impressionante crescimento, 
tivemos a internacionalização do capital chinês, estatal e privado, com 
financiamento e implementação de megaprojetos em setores variados (energia, 
10 
 
 
construção civil, agricultura, dentre outros) em várias partes do globo, em especial 
no sudeste asiático, área de especial interesse para os chineses, mas também em 
países africanos e da América Latina. As indústrias chinesas fornecem muitos 
equipamentos e peças essenciais a setores fundamentais do mundo moderno, 
como a indústria eletroeletrônica. Por outro lado, o fato de a China ser uma grande 
importadora de matérias-primas faz com que seja o principal parceiro comercial de 
muitos países. O Brasil é um exemplo, em especial o nosso agronegócio. Também 
encontramos várias empresas chinesas instaladas no Brasil. 
4.1.2 Educação, saúde e assistência social 
A revolução comunista chinesa ocorreu logo após a Segunda Guerra 
mundial. O país, que já era pobre antes, estava agora devastado por décadas de 
conflitos. Além disso, as principais medidas econômicas durante o período maoísta 
não surtiram muitos efeitos, ainda que tivessem impulsionado melhorias nas 
condições de vida e de serviços sociais. Os recursos eram poucos e a repressão 
política impedia muitos projetos. Havia uma grande diferença entre os programas 
para a população rural e a urbana, esta mais beneficiada, apesar de em menor 
número. Com a mudança de curso, em direção à abertura econômica, inicialmente 
não foi dada muita atenção às questões sociais. Nogueira, Bacil e Guimarães 
(2020) afirmam que, entre 1980 e 2000, a desigualdade social aumentou e ocorreu 
“uma violenta redução dos seus programas de proteção social na saúde e 
educação”. 
À medida em que a economia se agigantava, o Estado chinês, bastante 
descentralizado em termos de execução e financiamento, a partir do poder 
municipal ou regional, mas dirigidos pelo poder federal, passou a criar o que alguns 
analistas definem como modelo de Welfare State chinês. O sistema de proteção 
social foi reestruturado, com a criação de seguros sociais de saúde, reforma no 
setor de Previdência e intervenção na política de salários, com regulação do 
salário-mínimo. A educação passou a receber metas de universalização, com a 
extinção de taxas e mensalidades e a distribuição de livros didáticos gratuitos. O 
ensino superior, porém, cobra mensalidade ou anuidade. A descentralização 
acabou por gerar diferenças entre as várias regiões do país (Nogueira; Bacil; 
Guimarães, 2020). 
4.1.3 Controle e repressão pelo Estado 
11 
 
 
Se em termos econômicos há bastante liberdade, em matéria de política e 
direitos civis a China é um modelo autoritário. Não há oposição, nem por partidos 
nem por grupos da sociedade civil organizada. Protestos políticos ou apelos por 
mais liberdade são reprimidos. O massacre na Praça da Paz Celestial em 1989 é 
um exemplo mais drástico, mas a mídia internacional apresenta constantemente 
pequenos exemplos de tentativas de protesto com a repressão correspondente. É 
o caso dos protestos contra a política de isolamento devido à epidemia de Covid, 
em 2022. Ou ainda os protestos por mais liberdade em Hong Kong, desde que o 
território foi incorporado pela China. 
Portanto, entre essas gigantescas forças, economia e política, há certos 
riscos de colisão. É importante frisar que o Estado chinês é fortemente 
influenciado, senão direcionado, pelo PC, fator que pode tensionar o sistema, na 
medida em que outros atores sociais desejam mais poder. Segundo Guimarães 
(2012), em algum momento o clamor por mais reformas pode bater de frente com os 
interesses do Partido, que pode se recusar a perder poder: 
Inicialmente, deve-se destacar que o contexto institucional chinês não é o 
mais favorável para o funcionamento de uma economia de mercado. Não 
existem bons direitos de propriedade, o poder Executivo é muito 
autônomo, não há um sistema de "checks and balances", o poder 
Legislativo tem pouco poder e o poder Judiciário não é independente. 
Os meios de comunicação são controlados, de modo que não podem fazer 
críticas ao sistema ou ao governo. Quando feitas, servem apenas para reforçar queo governo já está atuando para resolver determinado problema (Prazeres, 2022). 
Na verdade, os meios de comunicação formam um dos principais recursos de 
controle da sociedade chinesa, conforme cita o texto final do Plano Aprofundado 
da Reforma Institucional e do Estado, apresentado no 19º Congresso do Partido 
Comunista Chinês, em 2018. Dos 60 itens destacados no Plano: 
quatro dizem respeito diretamente às medidas a serem adotadas no 
âmbito das mídias tradicionais e da internet, “a fim de fortalecer a 
liderança centralizada e unificada do partido sobre o trabalho da opinião 
pública” e “manter a segurança e os interesses do ciberespaço nacional”. 
Nesse sentido, faz-se necessário compreender a importância “do trabalho 
ideológico e entender plenamente o papel da mídia de rádio e televisão 
como porta-voz do partido” e “promover a integração multimídia e 
fortalecer a internacionalização para contar e espalhar a história chinesa. 
(Petit, 2020, p 179-180) 
Além de jornais e demais veículos da mídia tradicional controlados, a China 
também tem o controle das modernas mídias, como via internet. Dessa forma, o 
modelo chinês é bastante contraditório, principalmente em comparação com países 
democráticos. De um lado, uma pujante economia; de outro, autoritarismo. 
12 
 
 
4.2 Cuba 
Cuba, após a Revolução de 1959, organizou a sua economia e o Estado de 
acordo com o padrão comunista mundial: partido único (PC); economia planificada, 
a partir da burocracia que centraliza as principais decisões; e sistema 
representativo unicameral, com eleição dos representantes, que na verdade 
cumprem as decisões do poder centralizado, pelo menos quanto aos temas mais 
importantes (Coelho, 2013). Na prática, o Poder Executivo comandou o país, 
liderado por Fidel Castro, que governou Cuba por mais de 40 anos. No contexto da 
Guerra Fria, Cuba foi transformada em vitrine pela URSS, de forma que, além das 
novas orientações dadas pelo Estado cubano, os soviéticos financiaram, direta ou 
indiretamente, excelentes serviços de saúde, educação e esportes (dentre outras 
mudanças), criando condições de vida melhores, ainda que modestas, em 
comparação à maioria dos países latino-americanos (Alonso, 2011). 
Nos últimos anos, os cubanos tentaram uma maior abertura econômica, 
mas devido a dois fatores essa abertura foi tímida. Conseguiram uma maior 
abertura para o turismo e a possibilidade de pequenos empreendimentos privados, 
dentre outras medidas. Silva (2018) aponta, além de reformas administrativas, 
outras reformas (até 2016), que podem surpreender pela sua simplicidade, 
foram aprofundadas ou adotadas, gradualmente, uma série de medidas 
econômicas e políticas, dentre as quais podemos destacar: entrega e 
usufruto de terras, com a entrega de terras ociosas do estado, por 
contrato, a indivíduos e cooperativas, pois embora conte com 6,6 milhões 
de hectares de terras cultiváveis apenas 50% estavam sendo utilizadas 
anteriormente; compra e venda de imóveis, fornecendo autorização para 
tais ações pelos residentes no país, proibidas desde a década de 60 do 
século passado, o que promoveu a criação de um mercado imobiliário 
(2011); compra e venda de automóveis (2011); demissões no setor 
estatal e expansão do emprego privado, com a demissão de funcionários 
ociosos e a permissão para o desenvolvimento de inúmeras atividades 
privadas, tendo os paladares (pequenos restaurantes que hoje somam 
aproximadamente 1500 empreendimentos) e os pequenos serviços como 
um dos principais espaços de atuação, em que atuam cerca de 330 mil 
autônomos (2010); flexibilização das viagens internacionais e migração, 
eliminando ou diminuindo os entraves burocráticos para as viagens de 
cubanos ao exterior (em 2015). 
O efeito de tais mudanças ainda é tênue. De um lado, temos a recusa do 
PC cubano de aceitar mudanças econômicas mais drásticas, como ocorreu na 
China. De outro lado, o bloqueio econômico norte-americano sufoca essas 
tentativas, ao impedir um comércio mais pujante com outros países. O resultado é 
dificuldade para a produção de produtos primários e o desenvolvimento de uma 
indústria de base. A população não vive na miséria, pois conta com bons serviços 
13 
 
 
sociais. Por outro lado, não tem pequenos luxos ou o mínimo do consumismo, 
cenário tão comum em países capitalistas, mesmo os países pobres. 
TEMA 5 – CRISE DO ESTADO COMUNISTA 
Os Estados comunistas tiveram um padrão comum de formação e 
funcionamento. Esse modelo de Estado foi muito criticado pelos países 
capitalistas, basicamente por ser burocrático demais, pouco produtivo e 
antidemocrático. O fato de a URSS, no contexto da Guerra Fria, ter influenciado a 
tomada do poder pelos comunistas, fez com que quase todos aqueles países 
tivessem pouca autonomia. Eram considerados satélites da URSS, política e 
economicamente. Assim, quando a URSS colapsou ao final dos anos 80, 
praticamente todo o bloco comunista seguiu o mesmo rumo, com exceção de 
China, Vietnã, Coréia do Norte, Laos e Cuba. Nicarágua e Venezuela se 
autodenominam socialistas, mas dificilmente podem ser enquadrados como países 
comunistas – na verdade, seriam populistas de esquerda. 
O Estado soviético colapsou por outras razões complementares. A 
economia russa como um todo não conseguiu acompanhar o altíssimo custo da 
Guerra Fria, que exigia constante inovação e enormes gastos com a indústria 
militar. A administração não era eficiente, sendo burocrática demais, pouco 
inovadora e sem liberdade. O Estado comunista era altamente repressor, 
cerceando as liberdades mínimas. Cada país poderia ter maior ou menor grau de 
repressão interna, mas as diferenças não eram tão grandes. A consequência é que 
a população desses países estava insatisfeita. Desse modo, a partir de 1989, o 
modelo de Estado comunista começou a ruir. 
Atualmente, os poucos países assumidamente comunistas apresentam 
caraterísticas um tanto distintas. A China incorporou vários aspectos do modelo 
capitalista, incluindo mercado relativamente aberto, propriedade privada dos meios 
de produção e mercado financeiro, ainda que este receba certo controle do Estado. 
Por outro lado, apesar da pujança econômica, a China é criticada por seu 
autoritarismo, domínio de um único partido e perseguição aos opositores. Dessa 
forma, o Estado chinês de um lado é indutor da economia de mercado, mas de outro 
é instrumento de controle e de autoritarismo. Em termos administrativos, é tão 
burocrático quanto qualquer outro. 
O Vietnã é considerado um dos novos tigres asiáticos, expressão que 
designa países do extremo oriente que apresentavam economia agrária, mas que 
14 
 
 
passaram por um rápido processo de industrialização a partir dos anos 80, em 
especial nas modernas cadeias produtivas de bens e equipamentos, inclusive com 
capital estrangeiro e aceitação de empresas multinacionais em seu território. Tal 
aceitação é comum em países capitalistas, a maioria dos tigres. Mas é uma 
novidade para um país comunista. Trata-se de uma situação análoga à da China, 
com a abertura de mercados e comando do Estado. Os vietnamitas definem o 
processo como renovação ou economia socialista de mercado. 
O Laos, no sudeste asiático, é ainda um país pobre e agrário, com reduzida 
industrialização; porém, nas últimas décadas, tem sofrido maior abertura 
econômica, em especial com a China, de modo que pode se transformar em mais 
um tigre. 
Cuba, após o fim da URSS, tem passado por muitas dificuldades 
econômicas. Além disso, como vimos, persiste o bloqueio econômico norte-
americano sobre o país. Muitos cubanos migram ou fogem do país, fenômeno 
comum a muitos países latino-americanos. Em termos políticos, o autoritarismo 
ainda vinga. Não há possibilidade de oposição consistente. Embora parte da 
população eventualmente proteste, são eventos relativamente raros e na maioria 
reprimidos de alguma forma. O desafio, portanto, é maior que o chinês, poisalém 
de mudanças políticas, certamente Cuba deverá passar, mais cedo ou mais tarde, 
por mudanças econômicas profundas. 
A Coréia do Norte é um país fechado, de modo que o mundo tem poucas 
informações sobre o que realmente ocorre nesse território1. Esse fato reforça a 
tese de que se trata de um regime totalitário. Acima de tudo, é anti-imperialista, o 
que explica o antagonismo atual em relação aos EUA, ainda que no ocidente pouco 
se conheça sobre a magnitude da destruição da Guerra da Coreia (1950-53, contra 
os EUA) e a reconstrução do país, praticamente por meios próprios. Em todo caso, 
algumas características ajudam a indicar um grau máximo de autoritarismo. 
A Coreia do Norte é governada por uma mesma família desde os anos 50, 
quando se tornou comunista. Há intensa propaganda oficial, com o objetivo de 
reforçar o culto à personalidade, isto é, uma forte propaganda na forma de 
exaltação do líder máximo, atribuindo-lhe virtudes extraordinárias, como a 
realização de grandes façanhas na guerra ou na política, inteligência e bondade 
acima da média, dentre outros fatores. Há uma Ideologia de Estado, o socialismo 
 
1 As principais fontes de informação sobre o país proveem de desertores, de diplomatas e 
funcionários de agências internacionais que ali viveram por um tempo, e de profissionais que foram 
chamados para trabalhar no país, como professores, médicos e alguns jornalistas. 
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Juche, criada pelo líder revolucionário Kim Il Sung (1912-1994), baseada em forte 
nacionalismo e no ideal de não dependência de outros países, nem mesmo dos 
comunistas. Os meios de comunicação são totalmente controlados, incluindo a 
internet e a telefonia, sendo uma arma fundamental nos esforços das autoridades 
para ocultar os detalhes sobre a terrível situação dos direitos humanos no país. Os 
norte-coreanos não são apenas privados da oportunidade de saber o que acontece 
no mundo, eles são impedidos de falar ao mundo sobre a sua situação de privação 
quase total de direitos humanos. 
A economia é totalmente controlada pelo Estado, que por sua vez é 
controlado pelo PC, muito influenciado pelo grande líder, atualmente o neto do 
fundador do país. A lógica do modelo Juche é a autossuficiência, de forma que a 
política econômica é direcionada por esse princípio. Trata-se de uma situação 
análoga ao período de domínio de Mao na China. Contudo, algumas reformas 
ocorreram nos últimos anos. Além de mudanças econômicas mais gerais, em 2005 
“foi encorajado certo empreendedorismo e foram oficializados os pequenos 
mercados onde os agricultores vendiam sua produção excedente, ainda que o 
governo procurasse manter certo controle sobre os bens vendidos e fixando limites 
para as variações de preços” (Vizentini; Pereira, 2014). Mas tais mudanças 
acabaram por ser refreadas ou suspensas. Em conjunto com o bloqueio econômico 
comandado pelos EUA, a economia passa por grandes dificuldades e não há muitas 
perspectivas de mudanças, ao pensar em reformas, seria improvável que a Coreia 
do Norte decidisse seguir o caminho chinês, por exemplo (Vizentini; Pereira, 2014). 
Em termos internacionais, a Coreia do Norte está atualmente isolada, com 
poucos parceiros econômicos (China, Rússia, Irã e alguns outros). Em termos 
políticos, exerce uma política agressiva, em especial em relação aos EUA e à 
vizinha Coreia do Sul, que resulta em uma política militarista, semelhante ao 
período da Guerra Fria, com amplos gastos militares, ainda que a população 
padeça de inúmeros problemas básicos. 
Em resumo, os países que hoje se definem como comunistas ou socialistas 
apresentam desafios comuns a muitos outros países. Porém, certos problemas são 
típicos do modelo escolhido, a partir do direcionamento dos respectivos PCs. 
NA PRÁTICA 
O Bloco Comunista, durante a Guerra Fria, abrigava membros rebeldes. 
Além da China, que se distanciou da URSS já nos anos 50, dois outros países 
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escolheram modelos de Estado um tanto alternativos. Albânia e Iugoslávia, cada 
qual da sua forma, enfrentaram o poderoso Estado Soviético, pelo menos até certo 
ponto. No plano geral, eram aliados, mas em termos de modelo de Estado e de 
economia eles se distanciavam. A Albânia, um dos países mais pobres da Europa, 
permaneceu como nação stalinista, mesmo após a morte de Stalin em 1953, que 
acarretou uma série de mudanças na URSS (como a inserção no mercado 
internacional, o capitalismo de Estado). A Albânia permaneceu controlada de forma 
autoritária, com uma economia extremamente fechada, liderada na lógica do culto 
à personalidade por Enver Hoxha, o grande líder, algo semelhante ao que ocorre 
atualmente na Coréia do Norte. Já a Iugoslávia (hoje dividida em 6 países, nos 
Balcãs) escolheu um modelo mais tênue, com um certo distanciamento dos 
soviéticos e a tentativa de criar um modelo cooperativo de economia, com a criação 
de empresas geridas pelos trabalhadores e não pelo Estado. Tal modelo ficou 
conhecido como autogestão iugoslava. 
FINALIZANDO 
Estudamos as críticas marxistas ao Estado Moderno (Liberal). Propusemos 
ainda um debate em relação à concepção de Estado na teoria marxista, 
considerando infraestrutura econômica e a autonomia relativa – isto é, domínio por 
uma classe social não detentora dos meios de produção. Analisamos ainda as 
primeiras experiências históricas de Estados comunistas, inicialmente com a 
URSS. Tais experiências foram marcadas por transformações sociais de vulto, mas 
também por forte centralização e burocratização, conformando um Estado 
autoritário e repressivo, até o colapso da URSS, de modo que restam, hoje poucos 
países com um Estado efetivamente comunista, que enfrentam desafios enormes. 
Alguns, como China e Vietnã, têm alcançado grande sucesso econômico, a 
despeito de seus modelos políticos autoritários. 
 
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