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ESTADO MODERNO E CONTEMPORÂNEO AULA 6 Prof. Carlos Alberto Simioni 2 CONVERSA INICIAL No mundo contemporâneo, a maioria dos Estados está configurada a partir de fundamentos neoliberais, ou pelo menos a partir de alguns de seus aspectos, ou então, de modelos moldados em algum grau por princípios sociais democratas ou socialistas, ainda que neste último caso em reduzido número. Por outro lado, há uma multiplicidade de formas de Estado que, em tese, fundamentam-se em algum desses modelos, mas incorporando outros aspectos que podem inclusive se tornar sua característica principal. É o caso de países nos quais a religião mantém forte laço com a política, em especial no Irã e no Afeganistão durante o Regime Talibã ou, ainda, a tentativa recente de estabelecer, na Síria e Iraque, o “Estado Islâmico” (Daesh), com sua proposta radical de teocracia. Além da religião, outras variáveis podem interferir na conformação de um Estado, como, por exemplo, a influência do populismo. Embora o populismo seja um fenômeno muito amplo e diverso, é inegável que, nos países em que é forte, como na Venezuela e nas Filipinas, o Estado assume feições diferenciadas. Há ainda outras variáveis, como o autoritarismo – ou mesmo o totalitarismo: um Estado antidemocrático e com poder exercido de forma extremamente autoritária e violenta, como, por exemplo, na Coreia do Norte ou em pequenos e exóticos países, como a Suazilândia. O fator geográfico pode dar uma característica diferente a certos países e influenciar a autonomia de certos Estados: por exemplo, o fato de ser um pequeno território com escassa população, ser uma ilha ou ser um território afastado. Em tais casos, há sempre algum tipo de dependência em relação a um país mais forte ou organização, como os países atrelados à Comunidade Britânica de Nações ou países antes colonizadores. Outros Estados são exóticos, possuindo funções diferenciadas, como o Vaticano. Finalmente, há na atualidade situações marcadas pela ausência ou desintegração do Estado, em especial em zonas de guerra civil. TEMA 1 – ESTADO NEOPOPULISTA A democracia típica do século XIX era elitista, com reduzida participação popular e, em muitos casos, como na América Latina, baseada em dominação de oligarquias regionais. Nos anos de 1930, no entanto, surgiram novos modos 3 de exercer o poder, em especial na relação entre governantes e povo. Não se tratava mais de uma política restrita à elite. É o caso do populismo. Tratava-se de uma forma de poder baseada na visão unitária do Estado, entendido como uma comunidade de interesses solidários no qual o líder faz a mediação entre as distintas classes sociais, com amplo apoio da classe trabalhadora, mas também da classe média, com relativa repressão à oposição (Ianni, 1975). O populismo pode ser democrático ou ditatorial. O líder populista possui peculiaridades: sua imagem se confunde com a do Estado, pois se enfatiza a identidade, que Ianni denomina de Estado-chefe-povo. Tal identidade é criada através do carisma pessoal do líder, de sua habilidade em se relacionar com o povo utilizando temas e formas de discursos típicos das massas, colocando-se de forma paternalista e heroica, como protetor do povo. O populismo prevaleceu na América Latina até os anos de 1950, mas voltou a aparecer nas últimas décadas com novas roupagens. De acordo com Fausto (2006), “as novas lideranças populistas se caracterizam pelo personalismo, pela difusão da crença no herói salvador, pelas práticas autoritárias”, mas também pelo discurso voltado aos efeitos da globalização e a problemas da Modernidade, tais como exclusão social, desemprego, combate à criminalidade e ao narcotráfico. O novo populismo possui uma base de apoio quase que somente de base popular, não caracterizada pela classe trabalhadora, mas pelas massas marginalizadas (id.). Atualmente, são exemplos deste processo a Venezuela e as Filipinas. 1.1 Venezuela O discurso populista pode ter características mais à esquerda ou mais à direita no espectro político. A Venezuela representa o primeiro caso, desde que o líder Hugo Chaves assumiu o poder em 1992 quando, paulatinamente, estabeleceu uma nova política de Estado mais intervencionista, centralizadora e nacionalista e também as conhecidas características baseadas no enaltecimento do líder e o apelo ou um discurso orientado para temas populares. A simbologia bolivariana (relativa ao herói da independência, Simon Bolívar) é um exemplo disso, ao reforçar a ideia do heroísmo quase mítico do presidente. Há no regime venezuelano uma boa dose de autoritarismo, em especial na repressão à oposição, fato já conhecido no velho populismo. “A democracia populista tem a singularidade de excluir, de modo nítido, as forças não populistas. Isto é, esta 4 democracia não abre a todas as classes e grupos da sociedade nacional as mesmas oportunidades de acesso ao poder” (Ianni, 1975). Na Venezuela, este fato é notório. Tanto Chávez como seu sucessor, Nicolas Maduro, possuem atributos considerados como neopopulistas, com a oposição sendo excluída direta ou indiretamente do acesso ao poder. Certamente, não é uma situação fácil de analisar, pois parte desta oposição tem profundas relações com a chamada economia transnacional e fortes imbricações com o discurso neoliberal predominante, além da influência norte-americana, inegável de observar no apoio à oposição venezuelana. 1.2 Filipinas Apesar de o populismo consistir em um fenômeno majoritariamente latino- americano, não é raro encontrar pelo mundo líderes com tais características, como, por exemplo, algumas lideranças de partidos de direita na Europa ou o ex-mandatário italiano Silvio Berlusconi. As Filipinas caracterizam um caso novo e curioso de populismo, considerada uma República Constitucionalista, na qual o presidente é chefe de governo e chefe de Estado; o Legislativo é bicameral. No entanto, o país viveu décadas de ditadura sob Ferdinand Marcos, que governou entre 1965 e 1986. Posteriormente, cinco outros presidentes governaram até que, em 2016, Rodrigo Duterte assumiu o poder. Trata-se de um político com características nítidas do populismo. Excelente na comunicação, usa um discurso popular voltado ao combate ao narcotráfico. Recursos e instituições de Estado são usados neste combate. Os discursos do presidente muitas vezes são considerados grosseiros, entremeados de palavrões, como quando afirma que vai matar ou prender os traficantes e viciados, xingando-os. Contudo, tal discurso cativa grande parte da população, e os índices de aprovação do presidente são maiores que 70%1. TEMA 2 – ESTADOS TEOCRÁTICOS No mundo antigo e medieval, era praxe considerar que um soberano possuía origem divina, e o Estado se confundia com aquele líder. A Modernidade trouxe a concepção de Estado Laico, separando religião e política. Ainda assim, 1 Ver Filipinas: reino do terror, política antidrogas já levou à execução de mais de 10 mil pessoas: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/03/eps/1499089617_332439.html> e <http://pt.euronews.com/2016/05/10/filipinas-populismo-leva-duterte-a-presidencia>. 5 é inegável que a religião exerça forte influência sobre o mundo moderno, mesmo no país mais poderoso, os EUA, ainda que de forma indireta. Um Estado Teocrático é aquele que possui leis e, por vezes, a própria organização submetida a uma doutrina religiosa considerada oficial. Contudo, não necessariamente tal relação indica um Estado Teocrático. Emalguns casos, como em muitos países islâmicos ou católicos, há leis cuja raiz está em certas leituras do livro considerado sagrado, o Alcorão ou a Bíblia, fundamentando alguns tipos de punições por crimes ou a proibição do aborto, mas nem por isso se pode dizer que o Estado naqueles países não possui fortes elementos da organização burocrática moderna. Um Estado efetivamente teocrático é aquele organizado na crença de que o faz de acordo com a vontade divina, submetendo as decisões, direta ou indiretamente, a clérigos da religião oficial. Há graus diferentes de influência religiosa. Ela pode ser extrema, como nos casos em que a Constituição é criada de acordo com determinada interpretação do livro sagrado (por exemplo: Afeganistão Talibã, em que se defendia a aplicação da Sharia, a lei islâmica). Em tais países, membros de outras religiões não possuem todos os direitos civis nem acesso aos melhores cargos de Estado. Os líderes políticos são também líderes religiosos, e há casos de países em que há grande influência religiosa, contudo, adaptada aos elementos do mundo moderno (como no Irã, onde há lideranças laicas, mas altamente influenciadas pelas lideranças religiosas). 2.1 Afeganistão “Talibã” Na década de 1990, este país foi dominado por um grupo islâmico denominado “Talibã”. Décadas antes, o país, apesar de pobre, procurava se adequar ao modelo ocidental de Estado. A Guerra Fria, contudo, o colocou entre as duas poderosas potências mundiais, EUA e URSS, como aponta Tariq Ali (2002). Para combater a invasão soviética em 1979, os norte-americanos financiaram grupos de religiosos radicais, até então muito pequenos em número, mas extremamente aguerridos – Osama Bin Laden é um exemplo. O resultado foi o famoso “Vietnã dos russos”, que durou até 1989. Com o fim da URSS, o Afeganistão foi esquecido, facilitando o domínio daqueles grupos radicais. O Talibã foi um movimento religioso extremamente radical que dominou o Afeganistão após a turbulenta guerra civil pós-Guerra Fria, quando este grupo tomou conta do Estado Afegão, entre 1996 e 2001. Foi liderado pelo Mulá Omar. 6 “Mulá” é a designação local dada aos especialistas na interpretação do Corão. O objetivo político era de que o país voltasse aos bons tempos do profeta Maomé, no século VII de nossa era. As regras sociais deveriam estar estritamente ligadas à interpretação literal do islã. Neste momento, o mundo conheceu, por exemplo, o rigoroso tratamento dado às mulheres e a perseguição a outras religiões, simbolizada pela destruição das milenares estátuas de Buda em função do combate à idolatria. Tudo com amparo ou ação direta do Estado. 2.2 Irã Em 1979, o Irã passa por uma revolução comandada por grupos religiosos Xiitas – Xiitas e Sunitas são variações do islamismo, tal qual protestantismo e catolicismo no cristianismo. A partir daí, o país implanta um regime teocrático, um pouco mais brando que o do Afeganistão. No Irã, há uma espécie de Poder Moderador que, entre outros poderes, controla as forças armadas e indica os responsáveis pelos veículos da mídia: o Chefe de Estado é um Aiatolá, um clérigo xiita escolhido por outros clérigos; estes, por sua vez, escolhidos por voto popular – para concorrerem, devem ter a permissão do Conselho dos Guardiões da Constituição, algo como uma Suprema Corte em democracias tradicionais. Tal órgão é composto de forma paritária por clérigos e juristas, e também possui a atribuição de verificar se as leis estão adequadas à Constituição e às leis islâmicas, além de ser responsável pela aprovação da lista de candidatos em eleições, excetuando-se as locais (Milani, 2009). Mas há também um presidente eleito pelo povo, responsável pelo Poder Executivo. Para concorrer, deve ser aprovado pelo Conselho de Guardiões e ser xiita. O poder legislativo segue as mesmas regras, excetuando-se que algumas minorias étnicas e religiosas têm direito a alguns poucos assentos no Parlamento (Souza, s.d.)2. Atualmente, o parlamento é dominado por reformistas, embora quem domine efetivamente o país sejam os conservadores. Há vários partidos políticos de cada tendência, mas, ainda assim, a diferença básica está no grau de influência religiosa sobre o Estado, e não na sua separação. 2 Ver ainda: Entenda o sistema político iraniano: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/010528_poderes.shtml>. 7 TEMA 3 – ESTADOS TOTALITÁRIOS E AUTORITÁRIOS O conceito de Estado (ou Regime) Totalitário possui divergências, principalmente na diferenciação com o Estado Autoritário. De acordo com o sociólogo Juan Linz, totalitarismo se diferencia de autoritarismo no que tange ao grau de repressão e de controle não democrático de uma sociedade. Seria uma dominação total, amparada pelas leis e pela força bruta. As principais características seriam: ideologia oficial, muitas vezes com aspectos místicos ou milenaristas (por exemplo, o líder visto como um grande herói, quase divino); um só partido político, propagador da ideologia; controle completo dos meios de comunicação e das forças armadas; controle policial de todos – criminosos, adversários ou simples cidadãos (Linz, 1979). Já o Estado Autoritário possui um pluralismo controlado, sufocado, que permite certas associações e alguma oposição. As leis e os demais poderes podem, eventualmente, interferir no combate ao arbítrio, como nas várias ditaduras latino-americanas nos anos de 1970. 3.1 Coreia do Norte A Coreia do Norte é um país fechado, com poucas informações sobre o que realmente ocorre3, fato que reforça a tese de que este é um regime totalitário, mas isso ainda não é uma prova cabal. Acima de tudo, é anti-imperialista, o que explica o antagonismo atual em relação aos EUA. No Ocidente, pouco se conhece sobre a magnitude da destruição gerada durante a Guerra da Coreia (1950-1953) e sua reconstrução praticamente por meios próprios. Em todo caso, algumas características podem ser elencadas no sentido de indicar um grau máximo de autoritarismo. A Coreia do Norte é governada por uma mesma família desde os anos de 1950, quando se tornou comunista. Há intensa propaganda oficial com o objetivo de reforçar o culto à personalidade, isto é, uma forte propaganda na forma de exaltação do líder máximo, atribuindo-lhe virtudes extraordinárias, como a realização de grandes façanhas na guerra ou na política, além de inteligência e bondade acimas da média, dentre outros fatores. Há uma Ideologia de Estado, 3 As principais fontes de informação sobre o país provêm de desertores, de diplomatas e de funcionários de agências internacionais que ali viveram por um tempo, além de profissionais que foram chamados a trabalhar, professores ou médicos, por exemplo, ou alguns jornalistas. 8 o socialismo Juche, criada pelo líder revolucionário Kim Il Sung, baseada em um forte nacionalismo, acompanhada de um ideal de não dependência de outros países, nem mesmo dos socialistas (Silva & Andrade, 2017). Os meios de comunicação são totalmente controlados, incluindo a internet e a telefonia, conforme relatório da Anistia Internacional (Fang, 2016), sendo uma arma fundamental nos esforços das autoridades para ocultar os detalhes sobre a terrível situação dos direitos humanos no país. Os norte-coreanos não são apenas privados da oportunidade de saber o que acontece no mundo, eles são impedidos de falar ao mundo sobre sua situação de privação quase total dos direitos humanos. 3.2 Suazilândia Suazilândia, um país pobre encravado entre África do Sul e Moçambique, éconsiderado como a última monarquia absolutista do planeta. Lá o Rei controla o Poder Executivo, interfere no Judiciário, nomeia o Primeiro Ministro, os juízes, indica parte dos membros do Legislativo, além de ter poder de veto sobre as leis. A família real controla os melhores negócios do país. Todas as terras pertencem ao Rei Mswati III, no poder desde 1986 (Santana, 2010)4. Além disso, a repressão e a violência fazem parte da rotina diária dos cidadãos. "O silêncio é parte da nossa cultura", descreve N. Twala, que trabalha num cassino on-line para clientes na África do Sul, onde o jogo é proibido. "Aprendemos na escola que temos de amar e respeitar o rei, assim como amamos nossos pais e respeitamos os mais velhos", explica Nqobizwe Shipanga, de 25 anos, que estuda Relações Públicas. Os trabalhos escolares incluem poesias de louvor ao rei, e ensina-se que seu poder emana de Deus, como ocorria com Luís XIV, o "Rei Sol" da França. (Id.) Não há quase nenhum espaço para a oposição. Zanini (2010) afirma que os partidos políticos são proibidos e, nas eleições, só concorrem os independentes, e correm o risco perene de o mandato ser cassado pelo monarca com uma canetada. Entidades que buscam autonomia são perseguidas com dureza. A última demonstração de força veio no Dia do Trabalho, quando um ativista de um partido banido foi preso por usar uma camiseta da agremiação. Dias depois, apareceu morto na cela. Suicídio, segundo a polícia. [...] A crítica ao soberano é punida severamente. 4 Ver também: <http://www.pordentrodaafrica.com/noticias/suazilandia-os-desafios-da-politica- na-ultima-monarquia-absolutista-da-africa>. 9 TEMA 4 – MICROESTADOS Há países espalhados pelo globo cujos territórios e população equivalem a um pequeno ou médio município brasileiro. Apesar disso, podem possuir as mesmas prerrogativas dos demais países, inclusive com assento na ONU e direito de voto na Assembleia Geral, o órgão deliberativo desta instituição. Há diversas especificidades em cada um destes países, podendo variar o grau de autonomia, a forma de governo e o papel do Estado. 4.1 Estados Federados da Micronésia Consiste em um conjunto de mais de 600 ilhas distribuídas em um território oceânico de mais de 2.900 km contíguos (ou cerca de 2,5 milhões de km² de oceano), mas com área efetiva de terras de pouco mais de 700 km². A população é de mais de 104 mil habitantes (2017). Trata-se de um Estado soberano, independente desde 1979, associado aos EUA, responsável por sua defesa. A Micronésia é dividida em 4 territórios autônomos, Chuuk, Kosrae, Pohnpei e Yap. É uma República Presidencialista, com parlamento unicameral, mas o governo central tem pouco poder efetivo. De acordo como o Departamento de Estado norte-americano, os EUA, além de protetores, são o principal parceiro comercial, tendo vários acordos bilaterais, inclusive no que tange ao direito de os cidadãos micronésios viverem ou estudarem nos EUA sem vistos5. Em contrapartida, os norte-americanos possuem bases navais na região. 4.3 Liechtenstein Pequeno país europeu com território pouco maior que 160 km² (a cidade de São Paulo tem 1.521 km²) e população de cerca de 35 mil habitantes. É considerado um principado, ou seja, quase uma cidade-estado cujo governo é exercido por um príncipe (Monarquia Constitucional), com parlamento e representação. Contudo, com população tão pequena, é comum que os cidadãos exerçam formas de democracia direta, tendo grandes poderes de destituir políticos ou de vetar ou aprovar leis. Principados não possuem 5 Departamento de Estado. Relações dos EUA com os Estados Federados da Micronésia. <https://www.state.gov/r/pa/ei/bgn/1839.htm>. 10 soberania total6. De acordo com um instituto propagador das ideias neoliberais, o principado se caracteriza por ser o país que mais se adequa aos princípios desta teoria (Instituto Von Mises, S.d.). O Príncipe Regente Hans Adam II é um disseminador dessas ideias, em especial as relativas ao risco de um excessivo crescimento do Estado. TEMA 5 – ESTADOS EXÓTICOS Alguns Estados fogem aos modelos tradicionais, seja porque têm uma finalidade distinta de outros Estados, seja porque são, digamos assim, semi- independentes. Um Estado Autônomo é aquele que, embora pertença a um país, possui grande autonomia política e econômica. Pode ser cultural e geograficamente distinto do país a que pertence, como é o caso de algumas ilhas caribenhas, mas também pode estar encravado no território nacional, como a Catalunha, na Espanha. Não é raro que fatores étnicos e religiosos resultem na maior autonomia de certas regiões (por exemplo, o Curdistão iraquiano e a ilha filipina de Mindanao (muçulmana)). Vejamos alguns outros exemplos. 5.1 Antilhas Holandesas Até 2010, este território holandês formado por cinco ilhas no Caribe, com cerca de 800 km² e população próxima de 200 mil habitantes, possuía grande autonomia, inclusive com Constituição própria, parlamento e governo local centralizado, além de governos específicos em cada ilha. O Reino dos Países Baixos (Holanda) tinha a responsabilidade de proteção. A partir daquele ano ocorreu a dissolução das Antilhas Holandesas. “As ilhas de Curaçao e São Martinho tornaram-se territórios autônomos do Reino dos Países Baixos. Aruba já tinha tal status desde 1986. Bonaire, Santo Eustáquio e Saba tornaram-se municípios especiais dos Países Baixos” (Paho, 2012). 5.2 Vaticano É considerado o menor país do mundo, com 0,44 km², encravado em Roma. Na realidade, é curioso que seja considerado um país. Sua população de 6 Andorra, por exemplo, é uma diarquia, isto é, possui dois chefes de Estado, o presidente francês e o bispo da comarca catalã de Urgel (Espanha). A França e a Espanha são protetoras de Andorra. 11 cerca de 800 habitantes é composta por religiosos e pela guarda suíça, tradicionais guardiães do Vaticano, os quais mantêm sua nacionalidade original. A quantidade de turistas é muito maior que a de residentes. A Santa Sé é responsável pelos assuntos eclesiásticos e o Estado do Vaticano é a sede temporal da Igreja Católica, tornando-se independente em 1929. Mas lembremos que, até o período absolutista, o papado interferia diretamente nos assuntos internacionais, sendo um mediador e, em certos casos, um ator internacional reconhecido. O Estado é chefiado pelo papa, um cargo vitalício, e o pontífice nomeia os auxiliares que exercerão funções administrativas e diplomáticas. NA PRÁTICA Situações de guerra civil geraram em alguns países contextos inusitados, como o fim ou quase ausência do Estado. É o caso da Somália, da República Democrática do Congo (antigo Zaire) e da Líbia, após a morte do ditador Khadafi. Em tais casos, diferentes grupos com distintas características políticas, étnicas e religiosas tentam assumir o poder, mas nenhum com efetivo poder de prevalecer sobre os demais. O caso mais notório é o da Somália, onde por alguns anos os chamados Senhores da Guerra, líderes de clãs locais, governaram pequenos territórios dentro do país. Nessas situações, há intervenção direta e indireta de países vizinhos, assim como das Nações Unidas (Missões de Paz) e de órgãos regionais, como a OUA (Organização da Unidade Africana). FINALIZANDO Vimos nesta aula que, no mundo contemporâneo, há outras variáveis para analisar o Estado, e não apenas os critérios ideológicos ou econômicos – liberal, comunista, socialdemocrata ou neoliberal. Fatores como o neopopulismo,a religião, as características geográficas e históricas, democracia ou autoritarismo e fatores geográficos interferem direta ou indiretamente no modelo de Estado assumido – ou mesmo a fragilização do Estado em alguns casos específicos. 12 REFERÊNCIAS ALI, T. Confronto de fundamentalismos. São Paulo: Record, 2002. CONTROLE absoluto do governo sobre comunicações com o resto do mundo deixa famílias desoladas. Anistia Internacional Brasil, 9 mar. 2016. Disponível em: <https://anistia.org.br/noticias/coreia-norte-controles-mais-rigorosos-sobre- comunicacao-com-o-mundo-exterior-deixam-familias-desoladas/>. Acesso: 5 jun. 2018. FAUSTO, B. O neopopulismo na América Latina. Folha de São Paulo, 17 fev. 2006. 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