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Resumo da Aula 2 de Estado Moderno e Contemporâneo

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ESTADO MODERNO E 
CONTEMPORÂNEO 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Carlos Alberto Simioni 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Na primeira aula, vimos como o absolutismo se caracterizou como um 
período de transição: entre outros aspectos, um novo tipo de Estado começou a 
ser forjado. No entanto, somente após as críticas iluministas a partir do século 
XVIII e com a consolidação do capitalismo como sistema econômico é que o 
chamado Estado Moderno se tornou preponderante. Entre o final daquele século 
e o ano da grande crise econômica capitalista, 1929, as principais nações do 
mundo ocidental organizaram um Estado caracterizado por princípios liberais, 
fossem repúblicas, monarquias constitucionais, parlamentarismos ou 
presidencialismos na sua forma de governo. 
Desde o Tratado de Westfália, a instituição Estado-Nação foi 
paulatinamente se libertando da interferência religiosa, e o pressuposto de não 
interferência passou a predominar, ainda que nem sempre observado na prática. 
Esta consolidação não se deu sem conflitos, a começar pela Revolução 
Francesa em 1789, símbolo de uma mudança de era, mas também em outras 
nações europeias, onde a antiga nobreza tentava manter seu poder. 
No início do século XIX, três modelos de Estado liberal surgiram: na 
Inglaterra e nos EUA, como veremos adiante, e o Estado napoleônico, mais 
centralizado, hierárquico e autoritário, no entanto, com curta duração (apesar 
disso, deixou heranças, como, por exemplo, o Código Napoleônico, código civil 
que, em parte, dura até os dias de hoje). Outros modelos de Estado existiam, 
incluindo países europeus, como a Suíça e a Rússia (Itália e Alemanha iniciavam 
o processo de unificação), além das jovens nações independentes no continente 
americano. Na Ásia, em 1900, o Império Otomano continuava forte, mas com 
sinais de decadência. A Índia era colônia britânica. A China estava cada vez mais 
fraca; Japão e Pérsia (Irã) começavam a surgir como nações modernas. Na 
África, somente dois países eram independentes: Libéria e Abissínia (Etiópia). 
Acima de tudo, aos poucos a burocracia passa a ser o grande condutor 
das coisas de Estado e uma grande fonte de poder. O Estado burocrático, cada 
vez mais racional (científico) e laico, passou a ser o grande “gerente” da 
administração do Estado-Nação. Em todos os países, uma forma cada vez mais 
uniforme de administração do Estado foi tomando forma, esticando seus 
tentáculos, mesmo que o discurso liberal fosse contrário a esse fortalecimento. 
Este era o Estado burocrático moderno. 
 
 
3 
TEMA 1 – A CRÍTICA ILUMINISTA 
O Iluminismo, séculos XVII e XVIII, foi um conjunto de obras e ideias que 
questionava o absolutismo e os valores medievais que ainda vigoravam na 
sociedade europeia – por exemplo, o teocentrismo, que deveria ser substituído 
pelo domínio da razão (ciência). O termo “Iluminismo” contrapõe-se à ideia de 
“trevas” que obscureciam o conhecimento, típico do período medieval, de forma 
a iluminar o mundo com um novo tipo de conhecimento, que certamente seria 
usado para os assuntos da política e do Estado. 
Os princípios iluministas regem, em maior ou menor grau, a maioria das 
democracias modernas – assim como uma parte do cenário internacional – a 
partir da lógica do Estado-Nação, da mediação das organizações internacionais 
e dos tratados internacionais. A seguir, as ideias de alguns iluministas sobre o 
Estado. 
1.1 John Locke (1632-1704) 
É considerado um dos precursores do Iluminismo e um dos principais 
disseminadores do pensamento liberal, em especial no que tange à defesa da 
propriedade privada como garantia da liberdade. Suas ideias estão expostas na 
obra Segundo tratado sobre o governo (1681), na qual defende valores típicos 
do Iluminismo: um Estado não autoritário, contrariando o pensamento 
hobbesiano, comum naquele período, e o uso da razão para explicar a realidade 
(e não do pensamento religioso ou da fé). Ainda, criticou a ideia do “Direito 
divino”, em voga durante sua vida (auge do absolutismo). Para Locke, o Estado 
deve estar sujeito à lei. Defendeu a divisão do poder, sendo o Legislativo o mais 
importante, pois representa o povo, a fonte real de poder. Mas o Estado, acima 
de tudo, seria o grande guardião da propriedade privada, base da liberdade. 
1.2 Adam Smith (1723 -1790) 
O principal aspecto do pensamento de Smith para esta aula é o fato de 
ele defender um mercado livre das garras do Estado. Portanto, é um dos 
primeiros a propor a visão hoje conhecida como Estado mínimo, pouco 
intervencionista. Lembremos que o Estado absolutista era extremamente 
intervencionista. No livro A riqueza das nações (1776), Smith defende as bases 
do capitalismo moderno, como a livre concorrência privada, o crescimento 
 
 
4 
econômico, o acúmulo de capital e a divisão do trabalho, e também propõe três 
atribuições básicas para o Estado: 1) proteção contra ameaças ou invasão 
externa (defesa); 2) proteção contra ameaças na própria sociedade; 3) criação 
de instituições e obras públicas que não gerem interesse da iniciativa privada 
(indivíduos ou empresas). Em conjunto, tais fatores formariam um “Estado 
guardião”, protetor da iniciativa privada, assim como garantidor da soberania do 
Estado-Nação, além de um investidor naquilo que atualmente se denomina 
“obras de infraestrutura”, pelo menos aquelas que não atraem interesse privado, 
por serem muito caras ou por não gerarem lucro. É neste prisma que o papel 
institucional do Estado se coloca para Smith, pois seria o garantidor da justiça, 
em termos de liberdade individual, do comércio, da garantia à propriedade 
privada e de segurança. 
1.3 Charles de Montesquieu (1689-1755) 
Na obra O espírito das leis (1748), este pensador propõe ideias que 
impeçam a tirania ou o governo despótico, evitando a violência e a 
arbitrariedade, tão comuns durante o Absolutismo. Baseando-se no modelo 
inglês, Montesquieu faz o contraponto monarquia constitucional e república 
versus despotismo. O Estado seria estruturado em função de três poderes 
independentes: 1) o Executivo dirigiria as coisas públicas em função das leis, no 
entanto, teria o poder de veto; 2) a Magistratura seria um poder impessoal e 
independente, com leis criadas pelos representantes do povo, 3) o Legislativo 
(Parlamento). As atribuições do Estado seriam racionalmente divididas, e um 
poder só interferiria em outro em situações especiais. Seria o que ele designou 
de “sistema de contrapesos”, no qual o poder controla o poder. 
1.4 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) 
Rousseau defende a soberania popular em um Estado que mantenha o 
interesse geral, garantindo o direito à propriedade. O que o diferencia dos demais 
é o argumento de que o direito à propriedade seria a grande causa da 
desigualdade entre os homens e dos conflitos existentes nas sociedades 
humanas. Na obra O contrato social (1762), propõe um Estado republicano, cuja 
função seria evitar a guerra ou os conflitos, garantindo a vontade geral, ou seja, 
 
 
5 
a vontade da maioria. A educação seria o meio por excelência para garantir a 
igualdade entre todos os cidadãos, sendo função do Estado garanti-la. 
1.5 Immanuel Kant (1724-1804) 
Defensor das ideias iluministas, escreveu o tratado A paz perpétua, no 
qual apresenta princípios que poderiam evitar a guerra entre as nações, como a 
não intervenção, a formulação de tratados sem ressalvas, o republicanismo, o 
fim do patrimonialismo (o Estado pertencendo ao monarca) e o fim dos exércitos 
permanentes. Mas foi a proposta de uma espécie de “direito internacional” que 
deixou uma herança no campo das relações internacionais. Oprincípio deste 
direito seria o fato de que os Estados viviam na iminência de guerra entre si e, 
para evitar tal situação, deveriam entrar em acordo e criar uma federação de 
nações, o que de fato se tentou no século XX, com a Liga das Nações e com a 
Organização das Nações Unidas (ONU). 
TEMA 2 – A INGLATERRA COMO POTÊNCIA 
O Tratado de Westfalia em 1648 foi um marco a partir do qual o Estado-
Nação passou, paulatinamente, a ser a instituição predominante no cenário 
internacional. Inglaterra e Holanda eram, naquele momento, as potências que 
despontavam, embora França e Espanha fossem nações poderosas. Mas a 
França só se fortaleceu efetivamente décadas depois, enquanto a Espanha 
entrava em decadência – em boa medida, por não se desligar totalmente dos 
valores medievais, mas também por sucessivas derrotas militares. 
Assim, ainda no período absolutista, a Inglaterra supera o poderio dos 
concorrentes e entra no século XIX como potência maior, principalmente após 
vencer a França bonapartista. Há várias explicações para o fato de a Inglaterra 
tornar-se a potência predominante. Apesar de seu território relativamente pobre, 
três fatores foram essenciais para possibilitar sua hegemonia: o domínio dos 
mares, a Revolução Industrial e a abertura para a mentalidade capitalista. 
Para Mello (1994), a esquadra de guerra, a marinha mercante e as 
inúmeras bases espalhadas pelo mundo seriam a garantia de segurança às Ilhas 
Britânicas e ao domínio do comércio internacional. Isso seria confirmado mais 
tarde por uma teoria geopolítica – o almirante norte-americano Alfred Mahan 
criou a Teoria do Poder Marítimo (1890): a nação que dominasse as principais 
 
 
6 
vias de navegação dominaria o mundo. A teoria, inclusive, instigou os EUA a 
seguirem os mesmos passos da Inglaterra no início do século XX. 
A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial, o que possibilitou um 
aumento em escala sem precedentes na produção de mercadorias. O que lhe 
deu amplas vantagens comerciais na concorrência com outras nações, 
oferecendo produtos baratos e em abundância. A Inglaterra possuía amplas 
jazidas de carvão, produto essencial para a energia a vapor, ampliando o poder 
britânico e consolidando o capitalismo como forma hegemônica da economia 
mundial. 
Com este poderio, a Inglaterra dominou o cenário internacional. Desde o 
século XVIII, período absolutista, influenciava certos países, como Portugal. 
Posteriormente, influenciou diretamente na independência de países latino-
americanos. Após a vitória sobre Napoleão Bonaparte, a Inglaterra reinou quase 
isoladamente como Estado-Nação hegemônico, consolidando o chamado 
Império Britânico. 
2.1 O modelo político-econômico liberal 
Com uma economia francamente capitalista, os ingleses consolidaram, 
no século XIX, o modelo político que vinha sendo gestado dois séculos antes. 
Em termos de Estado-Nação, a Inglaterra foi a potência hegemônica, conduzindo 
uma política imperialista, ou seja, uma política de expansão territorial pelo 
mundo, conquistando regiões e países – ou, pelo menos, conquistando-os 
cultural e economicamente. Neste momento, os ingleses iniciaram o 
“colonialismo”, isto é, a colonização na Ásia e na África, além de manter 
territórios no Caribe. 
Internamente, o Estado Britânico era liberal em todos os aspectos, 
econômica e politicamente. Mas não era um liberalismo como o atual. Era 
altamente protecionista e intervencionista, garantindo pela força o domínio 
comercial e industrial britânico. Politicamente, era uma monarquia constitucional 
parlamentarista, ou seja, quem realmente dominava o cenário político era o 
Parlamento, inclusive os assuntos externos. O poder é limitado, sendo o 
Executivo conduzido pelo Primeiro Ministro, escolhido pelo partido vencedor das 
eleições. O parlamento é dividido em Câmara Alta (dos lordes, equivalente ao 
Senado) e Câmara Baixa (dos comuns, equivalente à câmara dos deputados). 
 
 
7 
O Império Britânico começa a perder seu poder após a I Guerra Mundial e se 
desmantela, de fato, após a II Guerra Mundial. 
TEMA 3 – OS EUA E O ESTADO LIBERAL REPUBLICANO 
Se a Inglaterra construiu um modelo de Estado diferente da maioria dos 
países europeus, predominantemente liberal, foram os EUA que mais 
radicalizaram essa proposta. Lembremos que defender ideias liberais no final do 
século XVIII era ser “revolucionário”. Os EUA tiveram uma colonização distinta 
da latino-americana e, desde seus primórdios, no século XVII, colonos chegaram 
ao território norte-americano pautados em um ideal religioso protestante 
baseado no mito da terra prometida. No entanto, também tinham uma 
mentalidade aberta a uma democracia de base, ou seja, altamente participativa 
nas menores instâncias de poder, desde a Igreja até o espaço comunitário local. 
É o que analisa um dos primeiros pensadores a procurar entender o fenômeno, 
o liberal Alexis de Tocqueville, na obra Da democracia na América, escrita após 
visita aos EUA em 1831, quando ainda era basicamente um país agrícola, com 
25 estados. 
Após a independência em 1776, os EUA tiveram certas facilidades em 
relação à Europa para que a democracia avançasse quase sem limites: ausência 
de uma aristocracia; cultura aberta à participação de base (soberania local); fim 
do voto censitário e Lei de Sucessões, que acabou com os privilégios 
hereditários do período colonial. 
A partir de então, Tocqueville, 50 anos depois da independência, analisa 
os efeitos deste processo nos EUA, cultural e politicamente. Argumenta que as 
implicações daquela experiência se alastrariam pelo mundo, pois este não era 
um fenômeno somente norte-americano; antes, indicava algo bem mais profundo 
das sociedades modernas: o avanço da democracia e o predomínio de 
sociedades que hoje chamaríamos de padrão classe média. 
Saliente-se que tal situação não significa que os EUA eram uma nação 
“maravilhosa”. O fato de ser democrática não significava ausência de injustiças. 
Existiam fatores conjunturais ou típicos da época (que hoje chamaríamos de não 
democráticos, injustos e violentos). É o caso da escravidão, do extermínio de 
nações indígenas e da usurpação de territórios do México em 1848. 
 
 
 
8 
3.1 Democracia como princípio 
A soberania é um dos primeiros aspectos ressaltados por Tocqueville 
(2000) ao afirmar que, na comuna (localidade, a township, algo como um 
município), havia grande autonomia desde o período colonial em relação aos 
habitantes, que decidiam a maior parte dos seus problemas locais. Após a 
independência, essa cultura democrática facilitou ou mesmo forçou que a nação 
se organizasse a partir desses princípios. É neste aspecto que o Estado norte-
americano foi uma novidade naquele momento, distinto inclusive do modelo 
inglês, também diferente dos demais países europeus. 
Esse tipo de democracia era inimaginável para a maioria dos países 
daquele período. Por exemplo, quase todos os cidadãos votavam1. Grande parte 
dos funcionários públicos locais era eleita, e havia pouca burocracia. Muitas 
decisões locais eram tomadas em assembleias. O que se denomina hoje de 
associativismo era uma prática constante em 1831. Ainda hoje, restam 
elementos daquela experiência, como a eleição do xerife (responsável pela 
aplicação da lei nos condados), de certos agentes públicos e de juízes de 
primeira instância; há também grande variação na legislação de cada estado ou 
município. 
3.2 Uma nação republicana e liberal 
Os chamados pais fundadores da nação norte-americana foram 
fortemente influenciados pelo Iluminismo; tal influência resultou em um modelo 
de Estado distinto: republicano, tendo desde o início um presidente eleito; trêspoderes, com um judiciário fortalecido; uma federação de estados altamente 
descentralizados nos aspectos administrativos. 
A própria discussão sobre a estruturação do Estado norte-americano foi 
diferenciada, com as proposições defendidas por cada parte expondo suas 
ideias em jornais. Havia ampla liberdade para criação de jornais, fossem grandes 
ou simplesmente panfletos locais. Vários desses textos estão atualmente 
reunidos na coletânea O federalista, na qual se debate teses contrapostas, 
como, por exemplo: federação ou confederação; centralização ou 
 
1 Lembremos que mesmo onde não havia escravidão, como nos estados do Norte, poucos 
cidadãos negros votavam, fato descrito por Tocqueville. As mulheres só tiveram o direito de votar 
em 1920. 
 
 
9 
descentralização (um Estado central forte ou autonomia local); monarquia 
constitucional ou república; a divisão dos poderes. Prevaleceu um modelo de 
federação, mas com várias características de confederação. Tocqueville afirma 
que, em termos de administração, os EUA eram altamente descentralizados, 
restando ao Estado Nacional cuidar dos assuntos externos e promover a justiça, 
mas com poder de submeter a legislação estadual, caso necessário, embora raro 
– como foi, posteriormente, o caso da luta por direitos civis no século XX. 
TEMA 4 – O APORTE WEBERIANO 
O sociólogo Max Weber é considerado um dos maiores teóricos ou 
intérpretes do Estado Moderno. Em sua vasta obra, analisou inúmeros temas, 
incluindo o advento do chamado Estado racional legal, fruto de um lento 
processo histórico, com raízes na Idade Média, mas que só se consolidou na 
Modernidade, e primeiramente no mundo ocidental, com o predomínio do 
capitalismo e do Estado-Nação. Antes de ser uma espécie de exaltação do 
Estado, o liberal Weber estava preocupado com o risco de que esta instituição 
se transformasse em uma moderna forma de dominação. 
4.1 O Estado monopólio do uso da violência 
Uma das mais conhecidas frases de Weber é a que define o Estado 
moderno como a instituição que, em determinado território, de forma legítima (de 
acordo com as regras socialmente aceitas), monopoliza o instrumental de 
coação física (a violência legítima), reunindo para esse fim meios 
organizacionais, dirigentes e funcionários, desapropriando os líderes autônomos 
que antes detinham aquele poder (Weber, 2004). Tal fato se realiza no poder de 
coagir e, se for o caso, de forçar, por exemplo, a ação da polícia, de fiscais, de 
oficiais de justiça, das forças armadas e de variadas instituições estatais ou por 
elas designadas. 
4.2 A burocracia estatal como forma de dominação 
No absolutismo e no mundo antigo, o poder se encarnava na figura do 
soberano ou da nobreza, de forma que as leis eram muitas vezes aplicadas de 
maneira pessoal, ou seja, variavam de acordo com as circunstâncias ou com a 
preferência da autoridade. Para Weber, uma peculiaridade da modernidade é o 
 
 
10 
predomínio de uma dada forma de dominação, a institucional ou legal, que se 
manifesta de maneira impessoal na forma de leis e de uma administração 
científica, isto é, baseada no cálculo racional, usando os modernos meios 
técnicos e organizacionais. Seus principais agentes não são indivíduos, mas 
organizações diversas. Os indivíduos são, antes de tudo, representantes ou 
agentes dessas instituições. Nessa perspectiva, o poder político é também 
institucional, ou seja, não se encontra nos indivíduos, ainda que sejam agentes. 
Dessa forma, Weber (2004) afirma que “o futuro pertence à burocratização”, ou 
seja, no mundo moderno, seria impossível fugir desta nova e poderosa forma de 
dominação, pois ela seria imperceptível e até mesmo agradável. O resultado 
seria uma servidão diferente de todas as formas precedentes, pois agora está 
atrelada a um gigantesco organismo, o Estado administrado cientificamente. 
TEMA 5 – A CRISE DO ESTADO LIBERAL 
Até a II Grande Guerra, a Inglaterra dominou o cenário internacional, 
embora outras nações europeias estivessem fortalecidas, e também os EUA. 
Nessas nações, o modelo capitalista reinou soberano, com variações de país 
para país. Mas as duas guerras mundiais e a grande crise econômica de 1929 
abalaram a fé no liberalismo como modelo a conduzir o mundo. 
A crise de 1929 foi um grande golpe em relação à fé incondicional nas 
teses liberais, tão comum até então nas principais nações ocidentais. Embora 
exista um debate sobre as reais causas desta crise, ela resultou posteriormente 
em um Estado mais intervencionista, seja de modelo autoritário, seja de modelo 
socialdemocrata. Tanto é que nos anos 30 – período entre guerras – predominou 
no Ocidente um Estado autoritário e nacionalista (antiliberal e anticomunista), 
como foi o caso do nazifascismo. Após a II Guerra, predominou o chamado 
welfare state (Estado do bem-estar social, tema da Aula 4). 
Além disso, velhos problemas persistiam, em especial a pobreza e a 
miséria. A crise de 1929 só piorou tal situação, expondo ainda mais o velho 
dilema europeu (e também global) de populações vivendo na pobreza. Até 
aquele momento, os Estados Nacionais não tinham resposta para tal problema. 
 
 
11 
NA PRÁTICA 
O chamado Estado liberal, típico do século XIX e início do século XX, era 
bastante excludente. O consumo de mercadorias diversas era restrito às 
reduzidas classes alta e média. Em termos políticos, na maioria dos países uma 
pequena parcela da população efetivamente participava das eleições. No 
entanto, após a Primeira Guerra Mundial, houve uma progressiva ampliação da 
democracia, com grandes parcelas da população passando a participar das 
decisões: pobres, mulheres, população negra e indígena, analfabetos, dentre 
outras. Mais recentemente, tem ocorrido uma democratização do consumo em 
todos os lugares do globo, ainda que exista pobreza e miséria. 
FINALIZANDO 
Vimos nesta aula o advento e o fortalecimento do Estado moderno liberal 
a partir das críticas elaboradas por autores iluministas. No século XIX, algumas 
nações levaram adiante o modelo de Estado liberal, principalmente Inglaterra e 
EUA. Aliado ao predominante modo de produção capitalista, o Estado liberal 
permitiu que valores da Modernidade, tais como democracia, liberdade, livre 
mercado e empreendedorismo, se alastrassem pelo mundo. É verdade que isso 
muitas vezes foi apenas simbólico, contraditório. Mas é inegável que tais valores 
fazem parte dos projetos da maioria das sociedades contemporâneas. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
MELLO, L. L. I. A geopolítica do poder terrestre revisitada. Revista Lua Nova, 
n. 34. São Paulo: dez. 1994. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?sc
ript=sci_arttext&pid=S0102-64451994000300005>. Acesso: 16 jan. 2018. 
TOCQUEVILLE, A. Da democracia na América. São Paulo: Martins Fontes, 
1998. vol. 1. 
WEBER, M. Economia e sociedade. Brasília: Ed. UNB, 2004. vol. 2.

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