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Negociação e Arbitragem Unidade 2 Aula 6 Sumário da apresentação: 1) AS NEGOCIAÇÕES NO ÂMBITO INTERNACIONAL: SURGIMENTO, ORGANIZAÇÕES, ENTIDADES E FORMAS DE NEGOCIAÇÃO 2) A GESTÃO DA NEGOCIAÇÃO 3) ESTILOS E AS TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO 4) A NEGOCIAÇÃO NO SETOR PÚBLICO 1) A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) E SEU PAPEL NO CENÁRIO MUNDIAL: Uma das mais importantes entidades formadas para a resolução de conflitos no âmbito global é a Organização das Nações Unidas. A entidade foi criada após o final dos conflitos da segunda Guerra Mundial em 1945. A organização se propôs a atuar na promoção da segurança internacional e na busca por evitar os possíveis revanchismos ocasionados pelas perdas sofridas por alguns países. Além disto, a entidade passou a ter como objetivo atuar no desenvolvimento social e na defesa dos direitos humanos nos países signatários de acordos internacionais. A entidade possui um grupo militar chamado “capacetes azuis” ou “boinas azuis”, ou ainda “tropas de paz da ONU”, que tem por objetivo atuar nos processos de paz em nações que se encontram em guerras e conflitos armados. As tropas da ONU são formadas por soldados oriundos de diferentes países. A ocupação dos territórios pelas tropas tem por objetivo mediar as negociações entre grupos rivais, e salvaguardar as vidas dos habitantes dos países atingidos por guerras. 1.2) Surgimento da ONU: Desenvolveu-se na época moderna novas formas e instâncias de solução de conflitos que emergiram após os grandes confrontos históricos das duas guerras mundiais e da Guerra Fria. Após os grandes conflitos armados que ocasionaram perdas materiais e humanas inestimáveis para os países, novas organizações de âmbito internacional e novos canais para a mediação dos conflitos foram pensados como forma de evitar novos confrontos e revanchismos associados às perdas. Tratados internacionais diversos já haviam sido redigidos a partir o final do século XIX por organizações multilaterais de cooperação internacional com o intuito de prevenir os confrontos, promover a segurança coletiva e buscar soluções pacíficas para as contendas entre as nações. Mas foi principalmente no século XX que surgiu uma série de organizações internacionais para tratar da solução negociada dos conflitos, bem como para criar mecanismos pacíficos e extrajudiciais de resolução das lides e contendas. Neste sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) surgiu em 1945 com o objetivo de: “facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento econômico, progresso social, direitos humanos e a realização da paz mundial.” (VIEGAS, PINTO, GARZON, 2014, p. 36-37). A Organização das Nações Unidas em seu surgimento visava a manutenção da paz e a busca de meios pacíficos solução de conflitos. Desde então se fez patente a criação de novas noções sobre a natureza do conflito. Os textos associadas à perspectiva de resolução negociada de conflito em geral levam em conta tanto as teorias da Matemática quanto da Sociologia para a compreensão da natureza do conflito e também das escolhas dos agentes em situações de divergências. A teoria do sociólogo Simmel busca entender o conflito como uma relação social, como elemento gerador de coesão social e como forma de buscar o reequilíbrio das relações através da superação das tensões. Também coube à Simmel a divulgação da ideia da necessidade de um terceiro elemento dentro do conflito, que segundo a perspectiva de resolução negociada de conflito seria uma figura neutra (mediador, conciliador, facilitador, árbitro). 1.3) Agências e organizações multilaterais e o consenso: A partir dos anos 1980, consolidou-se uma série de organizações e instituições dedicadas à solução negociada dos conflitos no plano internacional. O discurso do consenso passou a predominar nestes cenários de negociação em escala global, trazendo alguns aspectos negativos segundo Pinto, Viegas e Garzon (2014), como a retirada do debate das questões do nível nacional, em função de uma suposta solução consensual, moralmente superior. Entre as organizações, agências e instituições que surgiram com esta finalidade, de busca de resolução negociada dos conflitos em diversas áreas e sob uma perspectiva do consenso, estão: a Organização das Nações Unidas (ONU); O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); o Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID); o Banco Asiático de Desenvolvimento; e a Organização Mundial do Comércio (OMC) (PINTO, VIEGAS E GARZON, 2014, p. 46). Formas de resolução negociada dos conflitos: tos: 1) A negociação direta: negociação entre as partes em busca de uma saída para as divergências; 2) A conciliação: Assim como na mediação, um terceiro, externo ao conflito, atua como intermediário entre as partes. Em geral o envolvimento do conciliador é menos ativo do que na mediação e mais preliminar, podendo “mediar” o conflito quando não há encontro entre as partes, e atuar como “moderador” quando elas estão em presença uma da outra; 3) A facilitação: procedimento parecido com a conciliação. No entanto, não se espera do facilitador que ele atue de maneira ativa nas negociações - expressando suas ideias e posições, ou mesmo conduzindo as partes na decisão sobre as divergências. 4) A mediação: assim como na facilitação e na conciliação, na mediação há um agente externo, considerado neutro que se posiciona entre as partes. O mediador tem a confiança das partes, e é por elas escolhido. Tem uma participação ativa, buscando orientar as partes da melhor forma na resolução das divergências, guiando-lhes em uma nova visão sobre os pontos de conflito. Embora tenha capacidade de orientar e indicar soluções, o mediador não tem poder de impor nenhuma decisão às partes. 5) A arbitragem: neste tipo de resolução dos conflitos a terceira parte – que pode ser um indivíduo ou um júri -, considerada neutra e escolhida pelos litigantes, tem o poder de tomar as decisões que devem ser acatadas pelas partes adversárias. Em geral é uma forma de resolução dos conflitos utilizada em lugar da judicialização dos conflitos, ou seja, em lugar de se levar o pleito aos tribunais. (Pinto, Viegas e Garzon, p. 53-55) 2) A GESTÃO DA NEGOCIAÇÃO A negociação é um processo que pode, e deve ser gerenciado com o intuito de aumentar as suas chances de sucesso. A Gestão da Negociação pode ser realizada a partir da aplicação dos elementos que compõe o processo de gestão (PODC): o Planejamento; a Organização; a Direção; e o Controle. Adaptado à negociação, o PODC apresenta as seguintes características: 1) Em primeiro lugar é necessário planejar as ações e a negociação. Esta etapa é uma das mais importantes, pois ela implica na busca por prever e antecipar as possíveis dificuldades e os possíveis desdobramentos e respostas das partes na negociação. Esta etapa inclui, entre outras coisas, a definição das metas e dos objetivos principais e secundários; o conhecimento do adversário e de suas expectativas declaradas e não declaradas; a definição das alternativas possíveis; o estabelecimento de um espaço de negociação (A Zona de Possíveis Acordos - ZOPA). A ZOPA define aquilo que será passível de ser negociado, ou ainda, as questões sobre as quais as parte estão dispostas a negociar e ceder. Fora da ZOPA, segundo Pinheiro (2012, p. 36), “não haverá negociação”, pois o custo será muito elevado para uma das partes. O planejamento se subdivide em duas etapas: a concepção e a implementação. 2) A GESTÃO DA NEGOCIAÇÃO (Continuação) 2) A organização é a etapa em que se leva a cabo o levantamento e a alocação de todos os recursos necessários à negociação, desde os aspectos humanos (definição de quem irá negociar/coordenar a negociação); até os aspectos financeiros (definição de quais são os custos diretos e indiretos envolvidos na negociação, e de quais são os custos de oportunidade); 3) A direção ou coordenação da negociação envolve a definição das habilidades e competências necessárias à equipe e aos responsáveis pela negociação. Adistribuição das responsabilidades e a definição da hierarquia dos participantes da negociação também se realizam nesta etapa. 4) O controle e avaliação é a etapa em que se busca evidenciar se não há nenhum tipo de ruído que comprometa a troca de mensagens, ou seja, se a comunicação é bem compreendida pelas partes. Ela inclui também a aplicação de métricas e indicadores para avaliar o andamento das negociações. 2.1) A negociação como busca do equilíbrio: A negociação não deve ser considerada um processo que visa destruir uma das partes. Pelo contrário, de acordo com Burbridge (2007, apud Pinheiro) é essencial que os negociadores mantenham boas relações com as partes ao final das negociações, pois é bastante provável que eles voltem a negociar futuramente. O autor denomina este processo de reconstrução da relação. O resultado ideal de uma negociação é o ganha-ganha, onde as partes, mesmo sem chegar a alcançar 100% daquilo que almejavam, conseguem ceder e chegar a um equilíbrio. 3) Estilos e técnicas/táticas de negociação De acordo com Pinheiro, uma série de autores estabelece tipologias para compreender a conduta mobilizada pelos negociadores durante as negociações. Autores como Blake e Mouton , Burbrigde (2007), Carvalho et. Al. (2006) e Martinelli e Guisi (2006) desenvolveram tipologias para classificar os estilos de negociação. Pinheiro (2012) destaca que não há um estilo melhor do que o outro, mas, a depender dos nossos objetivos, uma determinada técnica pode se mostrar mais eficaz do que outras. No entanto, isto varia de negociação para negociação. A exemplo disso, o autor indica que as negociações nas quais o negociador está inclinado a “fazer acordos” são importantes quando se necessita de celeridade na conclusão dos acordos. Por outro lado, negociadores que evitam o conflito e compromissos podem ser essenciais quando a diplomacia é elemento importante do processo, no entanto, esta estratégia costuma retardar a tomada de decisão e a conclusão dos acordos. (Para uma discussão mais pormenorizada das características das tipologias dos autores citados por Pinheiro, ver apostila, páginas 42-46) 3.1) Alguns estilos/personalidades de negociação: Você já parou para pensar sobre o perfil/estilo de negociação de grandes personalidades como a princesa Diana, Hitler, Mahatma Gandhi, Mandela ou Martin Luther King? Os autores demostram que para uma boa negociação, além de identificar os traços de personalidade do outro negociador, é importante estabelecer suas próprias estratégias de negociação com base nesta identificação. 4) NEGOCIAÇÕES NO SETOR PÚBLICO (Características): As negociações no setor público são em grande número e demandam ainda maior habilidade negocial e conhecimento das técnicas pelo agente público do que no setor privado; As negociações no setor público devem sempre se ater ao estabelecido pelo marco legal, ou seja, elas devem obedecer o príncípio da legalidade; As negociações travadas por agentes do setor público envolvem uma série de outros agentes (públicos, privados, organizações, trabalhadores e funcionários, membros de movimentos da sociedade civil, entre outros) e também uma variedade de questões e matérias (trabalhistas, financeiras, sobre contratos, leis, etc). 4.1) Alguns tipos de negociação no setor público: O Ministério Público (MP) e Ministério Público do Trabalho (MPT): com base no art. 127 da Constituição, cabe ao MP: “a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.” Ao MPT, cabe a “defesa da ordem jurídica e dos direitos sociais, difusos, coletivos, individuais homogêneos e indispensáveis ao campo das relações de trabalho.” (Disponível em: http://pcdlegal.com.br/cartilhampt/convencional/capitulo40.php#.Wdw2FDtv_IV).Por isto, tanto MP quanto MPT são órgãos responsáveis por defender e representar interesses coletivos da sociedade. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) é um instrumento utilizado quando as investigações movidas pelo MP ou pelo MPT constatam irregularidades e ilegalidades nas condutas de entes privados ou públicos, ou de entidades sem fins lucrativos (ou qualquer agente que violar direitos coletivos). O TAC é um instrumento que busca a soluções para estes impasses. O TAC visa firmar um acordo sobre um determinado assunto reparando o dano causado à coletividade e evitando a judicialização (ou ação judicial) de litígios surgidos na sociedade. Negociações entre o agente público e empresas e entidades contratadas: em muitos casos o agente público deve negociar com organizações e entidades que prestam serviços de caráter público. Este é o caso das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), que se caracterizam por serem entidades sem fins lucrativos que desempenham funções de responsabilidade do poder público, gerando a gestão indireta de serviços, tais como os serviços médico-hospitalares e de pesquisa. Neste sentido, ocorre a transferência de serviços do setor público para entidades do terceiro setor. No termo de parceria firmado entre o poder público e a organização, são estipulados os termos da prestação dos serviços, as metas e resultados almejados, e as formas de aferir/averiguar os resultados. http://pcdlegal.com.br/cartilhampt/convencional/capitulo40.php 4.1) Alguns tipos de negociação no setor público (continuação): Negociações e barganhas realizadas pelos congressistas e entre estes e o poder Executivo, em busca de aprovação de projetos de leis, emendas constitucionais, medidas provisórias, reformas, entre outras. Os partidos e suas bancadas negociam a propostas e projetos como um todo, bem com os termos neles redigidos. Por isso, muitas vezes, antes de ser aprovada, uma lei recebe várias alterações. (À exemplo disso, temos os episódios de barganhas intensas realizadas entre parlamentares e chefes do executivo com vistas a definição dos termos das reformas política, trabalhista e previdenciária). Negociações mediadas pelo Ministério do Trabalho entre patrões e empregados com o objetivo de chegar a um acordo sobre os direitos, reajustes salariais e benefícios dos trabalhadores nos acordos e convenções coletivas de trabalho, buscando evitar a judicialização de demandas trabalhistas. Negociações estabelecidas entre os diferentes níveis da Administração Pública (municipal, federal e estadual) na realização de obras de infraestrutura ou de grandes projetos. Segundo Pinheiro (2012) é comum que autoridades nos três níveis da federação entrem em acordo sobre a responsabilidade de cada uma das partes no planejamento, aporte de recursos, construção e gestão das organizações para a realização de grandes obras. Referências bibliográficas: - Pinheiro I. A. (2012) Negociação e Arbitragem. UFSC, CAPES, UAB, p. 32-42. - PINTO, R. G.; GARZON, L. F. N. Negociação e acordo ambiental: o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) como forma de tratamento dos conflitos ambientais. Rio de Janeiro: FASE e ETTERN/IPPUR, 2014.
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