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Direitos de edição reservados à Editora e Distribuidora Nova Harmonia Ltda. Caixa Postal, 475 93001-970 – São Leopoldo/RS www.editoranovaharmonia.com.br Conselho Editorial Nova Harmonia Alejandro Serrano Caldera – UAM, Nicarágua Álvaro B. Márquez-Fernández – UNI. ZULIA, Venezuela Amarildo Luiz Trevisan – UFSM, Brasil Antonio Sidekum – Presidente, Brasil Giovani Meinhardt – IEI Ivoti, Brasil Johannes Schelkshorn – UNI-WIEN, Áustria Luiz Carlos Bombassaro – UFRGS, Brasil Nadja Hermann – PUCRS, Brasil Raúl Fornet-Betancourt – Aachen, Alemanha Revisão Smirna Cavalheiro Projeto gráfico e editoração eletrônica www.comtextoeditoracao.com.br Capa Nádia Silveira (artefinale@gmail.com) Impressão e acabamento Moura Ramos Gráfica e Editora © Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso/FONAPER. D618 Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil: memórias, propostas e desafios – Obra comemorativa aos 15 anos do FONAPER / [Organizado por] Adecir Pozzer et al. – São Leopoldo : Nova Harmonia, 2010. 192p. ; 16x23cm 1. Ensino religioso – Brasil. 2. FONAPER. I. Pozzer, Adecir. II. Cecchetti, Elcio. III. Oliveira, Lilian Blanck de. IV. Klein, Remí. CDU 261.5(81) Catalogação na publicação: Leandro Augusto dos Santos Lima – CRB 10/1273 Ser FONAPER... Ser FONAPER... É integrar um movimento, que transcende tempos, espaços e lugares e, ao mesmo tempo, é algo temporal, geográfico, extremamente pessoal e coletivo. É uma tessitura entre os tempos chronos e kairós; É história com dos/as que nos antecederam, para que ele pudesse chegar a ser; É história com dos/as que conosco caminham, para que seja É história com dos/as que nos sucederão, para que continue sendo... Ser FONAPER... É ser alegria, dor, luta, compromisso, sol, saudade, construção, ternura, denúncia, chuva, indignação, pesquisa, canção, estudo, vento, encontro, anúncio, solidão, beleza, companheirismo, noite, presença, reflexão, ausência, mística, dia, alteridade, morte, dança, cansaço, espiritualidade, vida, vida, vida!!! Ser FONAPER... É gratuidade extrema, é sentir a doçura do mel nas pequenas coisas, que duramente são conquistadas de forma coletiva, cúmplice, integrada, alteritária... Ser FONAPER... É buscar trazer à tona e à roda os direitos sagrados da terra e dos humanos, invisibilizados nas poeiras dos tempos, Nos corações que deixaram de pulsar, Olhos que deixaram de ver, Ouvidos que deixaram de escutar, Corpos amortecidos pelo cotidiano hodierno onde uma “coisa” vale mais que um ser humano. Ser FONAPER... É integrar um movimento maior, Movimento por justiça, Movimento por liberdade, Movimento por direito à diferença. Um movimento que nos antecede e é muito maior que nós – o direito à vida – o dever de permiti-la/fazê-la digna, Não somente para alguns Ou, talvez, para muitos/as... Mas SIM para e com todos/as. Ser FONAPER... É estar de passagem, mas ser permanente no compromisso, na troca, na partilha... É sentir o perigo e correr para socorrer, É sentir a bonança e se deliciar com sua fugaz morada, É ser com o grupo, o movimento, o projeto, e fazer o que lhe cabe em cada momento no tênue sopro de nossas vidas. Ser FONAPER... É aceitar o desafio de, em dado tempo, espaço, lugar buscar continuar o trabalho dos/as que nos antecederam e, depois, repassá-lo a outro/as companheiros/as da e na roda. O Movimento continua... Somos e sempre seremos FONAPER! Lilian Blanck de Oliveira Inverno de 2010 Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... 09 O FONAPER 15 ANOS DEPOIS .......................................................................................... 13 CAPÍTULO I PRIMEIROS PASSOS DO FONAPER: Um sonho que se tornou realidade em tempos de novos projetos educacionais Anísia de Paulo Figueiredo .......................................................................................................... 19 CAPÍTULO II AUTORES E SUJEITOS A MOVER O FONAPER Maria Azimar Fernandes e Silva e Maria José Torres Holmes ................................................. 37 CAPÍTULO III PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO RELIGIOSO: O currículo do Ensino Religioso em debate Ângela Maria Ribeiro Holanda ...................................................................................................51 CAPÍTULO IV ENSINO RELIGIOSO E A LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: Desafios e perspectivas Edivaldo José Bortoleto e Rosa Gitana Krob Meneghetti ........................................................ 63 CAPÍTULO V CONCEPÇÃO DE ENSINO RELIGIOSO NO FONAPER: Trajetórias de um conceito em construção Adecir Pozzer ................................................................................................................................ 83 CAPÍTULO VI DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ENSINO RELIGIOSO Lilian Blanck de Oliveira e Elcio Cecchetti ...............................................................................103 8 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil CAPÍTULO VII FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA: Desafios e perspectivas para o Ensino Religioso Darcy Cordeiro ...........................................................................................................................127 CAPÍTULO VIII ENSINO RELIGIOSO NA PÓS-GRADUAÇÃO BRASILEIRA: Espaço de formação e pesquisa Sérgio Rogério Azevedo Junqueira ...........................................................................................137 CAPÍTULO IX CONGRESSOS NACIONAIS DE ENSINO RELIGIOSO: Memórias, encontros e desafios Lurdes Caron ..............................................................................................................................153 CAPÍTULO X SÍTIO ELETRÔNICO DO FONAPER: Espaço, tempo e lugar para o Ensino Religioso Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Elcio Cecchetti e Josias Wagner ...................................163 CAPÍTULO XI DIÁLOGO – EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE: Comemoração dos 15 anos da Revista Diálogo e do FONAPER Luzia M. de Oliveira Sena e Maria Inês Carniato ...................................................................175 Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 9 Apresentação Manhã de primavera do dia 26 de setembro de 1995. Instalava-se, em Florianópolis/SC, o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER). Resultado de sonhos, lutas e esforços de muitos sujeitos, o Fórum nasce e se torna espaço, tempo e lugar de proposições, encaminhamentos, ações e projetos que subsidiem a construção de outra concepção de Ensino Religioso, entendido como um componente curricular, que, a partir da escola, considere, acolha, valorize e promova o respeito à diversidade cultural religiosa brasileira, sem proselitismos e/ou discriminações de qualquer natureza. Desse modo, o Ensino Religioso constitui-se um direito de todo cidadão, uma vez que o conhecimento religioso é parte dos conhecimentos historicamente produzidos e elaborados por inúmeros povos/culturas e, como tal, necessita estar disponível e acessível à educandos e educandas na escola. É na perspectiva de uma formação plena do cidadão, no contexto de uma sociedade cultural e religiosamente diversa, na qual todas as filosofias de vida, crenças, movimentos, tradições e expressões religiosas devem ser respeitados, que se insere o Ensino Religioso como uma área de conhecimento (Resolução CNE/CEB nº 2/98 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010), contribuindo na promoção e no exercício da liberdade e na construção da cidadania. Repleta de avanços e recuos, encontros e desencontros, perdas e conquistas, a história dos 15 anos do FONAPER é celebrada e reconhecida, porque, acima de tudo, conseguiu dar significativos passos enquanto espaços, tempos e lugares de um movimento constituído por educadores, pesquisadores, instituições e demais pessoas comprometidas com o Ensino Religioso. Muitos foram os sujeitos que construíram/constroemo FONAPER. Alguns se tornaram conhecidos, muitos outros permaneceram anônimos, porém, não invisibilizados, porque fazem parte de um movimento histórico 10 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil de atuação, observação, pesquisa e docência que indica possibilidades para outros olhares, leituras e práticas frente à diversidade cultural religiosa nos diferentes recantos do Brasil. O ato de comemorar a história do FONAPER, digna de méritos, representa o esforço de rememorar tudo o que foi construído, proposto, concretizado e vivenciado por inúmeros sujeitos integrantes do movimento, que participaram direta ou indiretamente das lutas e conquistas do FONAPER, seja na construção de documentos publicados, na elaboração de projetos de formação inicial e continuada desenvolvidos ou na promoção dos eventos realizados. O ano de 2010 é um marco significativo para o Ensino Religioso no Brasil. Além da comemoração dos 15 anos de fundação do FONAPER, celebram-se 15 anos da Diálogo: Revista de Ensino Religioso; 14 anos da criação dos Cursos de Ciências da Religião/ões – Licenciatura de Ensino Religioso; 13 anos da publicação da Lei n° 9.475/97 (que dá nova redação ao art. 33 da LDBEN n° 9.394/96); 10 anos do Grupo de Pesquisa Educação e Religião (GPER); tudo isso em meio a uma série de atividades e produções relativas ao Ano Brasileiro do Ensino Religioso (15 de outubro de 2009 a 15 de outubro de 2010). A presente obra, além de comemorar, quer registrar alguns fios da grande teia de relações e realizações do Ensino Religioso e do FONAPER, sinalizando perspectivas e desafios a mover sua atuação para outros 15 anos. A implantação e implementação de uma nova compreensão epistemológica e pedagógica do Ensino Religioso precisa ainda ser melhor compreendida, difundida e efetivada. O percurso a ser desenvolvido apresenta-se sempre desafiador e instigante. Neste intento, Anísia de Paulo Figueiredo, no Capítulo I, registra os Primeiros passos do FONAPER: um sonho que se tornou realidade em tempos de novos projetos educacionais. Maria Azimar Fernandes e Silva e Maria José Torres Holmes, no Capítulo II, destacam os Autores e sujeitos a mover o FONAPER, procurando dar voz aos diferentes agentes comprometidos e engajados no movimento em prol do Ensino Religioso enquanto componente curricular. Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 11 Ângela Maria Ribeiro Holanda, no Capítulo III, descreve a importância dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso: o currículo do Ensino Religioso em debate, na proposição histórica de um currículo, tratamento didático e sistema de avaliação para uma nova concepção de Ensino Religioso, a fim de que sejam respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas e religiosas que atravessam uma sociedade múltipla, estratificada e complexa. No Capítulo IV, Edivaldo José Bortoleto e Rosa Gitana Krob Meneghetti abordam o espaço e o lugar do Ensino Religioso e a legislação da educação no Brasil: desafios e perspectivas. Em seguida, no Capítulo V, Adecir Pozzer apresenta a Concepção de Ensino Religioso do FONAPER: trajetória de um conceito em construção. Lilian Blanck de Oliveira e Elcio Cecchetti, no Capítulo VI, descrevem as tentativas históricas do FONAPER na definição de Diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores de Ensino Religioso. Na sequência, Darcy Cordeiro, no Capítulo VII, reflete sobre a Formação inicial de professores para a Educação Básica: desafios e perspectivas para o Ensino Religioso. Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, no Capítulo VIII, analisa o lugar do Ensino Religioso na pós-graduação brasileira, em nível de especialização, mestrado e doutorado, no artigo Ensino Religioso na pós-graduação brasileira: espaço de formação e pesquisa. No Capítulo IX, Lurdes Caron traça a linha histórica de desenvolvimento dos Congressos nacionais de Ensino Religioso: memórias, encontros e desafios. Por fim, Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Elcio Cecchetti e Josias Wagner, no Capítulo X, registram o desenvolvimento do Sítio eletrônico do FONAPER: espaço, tempo e lugar para o Ensino Religioso e, no Capítulo XI, Luzia M. de Oliveira Sena e Maria Inês Carniato destacam e comemoram os 15 anos de contribuição da Diálogo: educação para a diversidade: comemoração dos 15 anos da Revista Diálogo e do FONAPER. Ressalta-se que esta obra reúne apenas algumas contribuições e aspectos da caminhada histórica do FONAPER em seus 15 anos de existência, pois muitos outros registros, saberes, práticas e vivências encontram-se no coração e na memória de milhares de sujeitos que incorporaram o modo de Ser FONAPER. Portanto, encontram-se abertas as possibilidades de outros e diferentes registros/produções sobre a trajetória destes e de outros 15 anos do FONAPER, 12 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil que certamente serão trilhados por aqueles que portam ousadia e compromisso histórico em favor do conhecimento, respeito, valorização e reconhecimento da diversidade cultural religiosa. Parabéns ao FONAPER! Parabéns a todos e todas, construtores desta história! Sigamos juntos rumo a outros 15 anos! Os Organizadores Primavera de 2010 Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 13 O FONAPER 15 anos depois O ano de 2010 não representa somente um marco para se comemorar as propostas, avanços e conquistas do FONAPER, mas, também, é tempo/ espaço/lugar para refletir, pensar, analisar, propor e projetar outros sentidos e perspectivas para os próximos 5, 10 ou 15 anos de atuação. Inicialmente, vale destacar que o FONAPER foi gestado basicamente por educadores que, preocupados com a situação problemática por qual passava o Ensino Religioso na escola, buscaram outros paradigmas e concepções que pudessem ver, sentir, acolher, valorizar e (re)conhecer a diversidade cultural religiosa da sociedade brasileira. Por isso, a compreensão do Ensino Religioso como espaço pedagógico, parte integrante da formação básica do cidadão, foi compromisso assumido na Carta de Princípios do Fórum no dia de sua instalação. O movimento de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER) foi a expressão máxima da busca pela concretização de uma nova perspectiva de Ensino Religioso, entendido como componente curricular responsável por disponibilizar o conhecimento religioso – patrimônio da humanidade – para todos os educandos e educandas do Brasil. Sua função na escola é a de contribuir para o exercício da cidadania, à medida que os sujeitos vão identificando o fenômeno religioso – substrato cultural presente em inúmeros povos e sociedades – e construindo, pelo diálogo inter-religioso e intercultural, explicações e referenciais que escapem do uso ideológico, doutrinal ou catequético. Tendo definido sua compreensão, o Fórum atuou na superação da concepção confessional/interconfessional do Ensino Religioso presente no art. 33 da LDBEN n° 9.394/96, o qual foi alterado pela Lei n° 9.475/97. Em seguida, buscou estratégias para sua implementação nos sistemas estaduais e municipais de ensino; promoveu eventos, encontros, estudos, pesquisas e debates abordando a natureza epistemológica e pedagógica do Ensino 14 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil Religioso; buscou traçar linhas gerais para a formação inicial e continuada de seus educadores; publicou obras, cadernos e documentos com referenciais curriculares para a escola; estruturou uma página eletrônica (www.fonaper.com.br) para divulgar trabalhos e acontecimentos relacionados com sua atividade e afins; provocou outros movimentos nos campos epistemológicos e pedagógicos que resultaram em múltiplas produções e publicações de caráter científico nos mais diferentes pontos do país. Por todos os feitos realizados, e por tantos outros aqui não registrados, é imprescindível parabenizar todos os membros do FONAPER, em especial àqueles que compuseram as cinco coordenações que nos antecederam, pela coragem e ousadia de assumir essas concepções como ponto de partida para os encaminhamentosdados ao Ensino Religioso nesses últimos 15 anos. Mas, transcorrido este tempo, cabe agora perguntar: Qual a razão de ser do FONAPER 15 anos depois? Em que deve concentrar seus esforços? Quais serão suas buscas prioritárias? Quais desafios as futuras coordenações não poderão deixar de considerar? Nos dois últimos anos, muitos acontecimentos (de)marcaram o Ensino Religioso em âmbito nacional: a) a realização do X Seminário Nacional de Formação Docente para o Ensino Religioso (SEFOPER) em Taguatinga/DF, do qual o FONAPER assumiu a incumbência de tramitar uma proposição de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores de Ensino Religioso, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena. A mesma foi apresentada à Presidência do Conselho Nacional de Educação/CNE em dezembro de 2008, sendo que até o momento nenhuma deliberação foi dada para iniciar a sua discussão. A urgência na formação de profissionais habilitados para o Ensino Religioso, numa perspectiva de organização epistemológica e pedagógica, e a falta de uma docência qualitativa – problemática nacional vivenciada pelos sistemas de ensino públicos – são alguns dos motivos que mobilizaram o encaminhamento da Proposta de Diretrizes Nacionais para a Formação Docente para esta área do conhecimento; b) aprovação do Acordo Internacional Brasil-Santa-Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, aprovado pelo Congresso Nacional e promulgado pelo Presidente da República através do Decreto n° 7.107/2010, que em seu art. 11, parágrafo primeiro, prevê que o Ensino Religioso seja “católico e de outras confissões religiosas”; Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 15 c) a publicação da Resolução do CNE/CEB n° 1/2010 que, ao definir as Diretrizes Operacionais para a implantação do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, nada alterou em relação aos componentes curriculares, dentre eles o Ensino Religioso; d) a realização da Conferência Nacional de Educação (CONAE), em fins de março e início de abril deste ano, em Brasília, que incluiu cinco destaques sobre a diversidade cultural-religiosa em seu Documento Final1, o qual subsidiará a elaboração do novo Plano Nacional de Educação (PNE) para a década de 2011-2020; e) a publicação da Resolução CNE/CEB n° 4, de 13 de julho 2010, que instituiu novas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, no art. 14, reafirmou o Ensino Religioso como área de conhecimento integrante da base nacional comum;2 f) a pesquisa liderada pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero da UnB, após análise de livros didáticos de Ensino Religioso, concluiu que o preconceito e a intolerância religiosa fazem parte da lição de casa de milhares de crianças e jovens do Ensino Fundamental brasileiro;3 g) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), proposta no dia 5 de agosto de 2010 pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, a fim de que realize a interpretação conforme o art. 33, caput e §§ 1° e 2° da Lei n° 9.394/96, para assentar que o Ensino Religioso em escolas públicas só possa ser de natureza não confessional, proibindo a admissão de 1 “Inserir, no Programa Nacional do Livro Didático, de maneira explícita, a orientação para introdução da diversidade cultural-religiosa; desenvolver e ampliar programas de formação inicial e continuada sobre diversidade cultural-religiosa, visando a superar preconceitos, discriminação, assegurando que a escola seja um espaço pedagógico laico para todos, de forma a garantir a compreensão da formação da identidade brasileira; inserir os estudos de diversidade cultural-religiosa nos currículos das licenciaturas; ampliar os editais voltados para pesquisa sobre a educação da diversidade cultural-religiosa, dotando-os de financiamento; garantir que o ensino público se paute na laicidade, sem privilegiar rituais típicos de dadas religiões (rezas, orações, gestos), que acabem por dificultar a afirmação, respeito e conhecimento de que a pluralidade religiosa é um direito assegurado na Carta Magna Brasileira”. Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2010. 2 Art. 14 [...] § 1º Integram a base nacional comum nacional: a) a Língua Portuguesa; b) a Matemática; c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, incluindo-se a música; e) a Educação Física; f) o Ensino Religioso. 3 Cf. DINIZ, Débora; LIONÇO, Tatiana; CARRIÃO, Vanessa. Laicidade e ensino religioso no Brasil. Brasília: UNESCO: Letras Livres: EdUnB, 2010. 16 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil professores na qualidade de representantes das confissões religiosas. Ao mesmo tempo, solicita que o Supremo profira decisão de interpretação em relação ao art. 11, § 1°, do Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé, para assentar que o Ensino Religioso em escolas públicas só pode ser de natureza não confessional ou que seja declarada a inconstitucionalidade do trecho “católica e de outras confissões religiosas”, constante no referido Acordo. h) a realização do XI Seminário Nacional de Formação de Professores para o Ensino Religioso (XI SEFOPER), em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Secretaria de Estado da Educação e Cultura (SEEC) e a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de João Pessoa/PB (SEDEC), com o tema Diversidade, Direitos Humanos e Ensino Religioso: questionando concepções e práticas, buscando oportunizar espaços para a discussão da contribuição do Ensino Religioso na promoção dos Direitos Humanos, através da valorização e (re)conhecimento da diversidade religiosa presente na sociedade e no cotidiano escolar. Vale destacar que, além da ousadia da temática, o evento realizou-se com a parceria do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões (PPGCR)4 e do Curso de Graduação em Ciências das Religiões, modalidade licenciatura, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pioneiros no país em habilitar profissionais a exercerem a docência do Ensino Religioso em uma universidade federal, tratando o fenômeno religioso como característica cultural dos povos e patrimônio da Humanidade. Inúmeros outros fatos e eventos vêm (de)marcando passos e impasses na caminhada do Ensino Religioso no país, na qual o FONAPER, de forma direta ou indireta, vem articulando e atuando. Deste modo, esta abordagem não tem a pretensão, tampouco a condição, de mapear todo cenário complexo da presença e da atuação do FONAPER nesses 15 anos, mas apenas pretende pontuar, de forma prospectiva, os aspectos considerados imprescindíveis para os próximos anos de atuação da entidade: a) articulação junto ao Ministério da Educação (MEC) para a elaboração de referenciais curriculares nacionais para a área de conhecimento do Ensino Religioso; 4 Aprovado pelo Conselho Técnico Científico da CAPES em 12 de julho de 2006. Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 17 b) articulação com o MEC e CNE para a definição de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Docente de Ensino Religioso, essenciais para obtenção dos objetivos e resultados esperados pela Lei n° 9.475/97, bem como a inserção dos Cursos de Licenciatura em Ensino Religioso no Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR); c) promoção de discussões científico-pedagógicas para aprofunda- mento da epistemologia e objeto de estudo do Ensino Religioso; d) atuação junto ao Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (CONSED) e à União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) para o reconhecimento do Ensino Religioso como área do conhecimento e sua respectiva oferta em todas as escolas da rede pública de educação; e) articulação junto aos grupos editoriais do Brasil para (re)construção de materiais didáticos do Ensino Religioso, tendo em vista o princípio da diversidade cultural religiosa e dos Direitos Humanos;f) estruturação e manutenção da página eletrônica do FONAPER como meio de divulgação e propagação da identidade do Ensino Religioso defendida pela instituição, bem como constituí-lo como referência para docentes e pesquisadores desejosos de conhecer e de participar do movimento em prol de sua efetivação como área do conhecimento; g) promoção de seminários nacionais dos Cursos de Licenciaturas em Ensino Religioso, envolvendo coordenadores, docentes e discentes, buscando socializar conquistas e desafios percebidos durante o processo de formação e construir referenciais conjuntos para superação das dificuldades; h) atuação junto à sociedade civil, por meio de parcerias e apoios de instituições governamentais e não governamentais, para a promoção da diversidade cultural religiosa e dos direitos humanos no cotidiano escolar; i) acompanhamento e atuação política durante o processo de elaboração do novo Plano Nacional de Educação para a década de 2011 a 2020; j) publicação de pesquisas e referenciais sobre o Ensino Religioso articulado com as Ciências da(s) Religião/ões, Ciências da Educação e Inter/ Multi/culturalidade; k) mobilização dos educadores e pesquisadores de todos os Estados da Federação, para que participem do FONAPER, debatendo e propondo ações de modo articulado. 18 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil O FONAPER possui muitos desafios a encarar e muitas soluções por encontrar. Por isso, a Coordenação (Gestão 2008-2010) externa o pedido para que nos fortaleçamos enquanto Fórum, participando efetivamente deste movimento. Conclamamos para que cada acadêmico, educador e pesquisador faça a sua parte: associe-se ao FONAPER, aliando-se às suas ações e proposições e interagindo de forma propositiva em prol do Ensino Religioso como um direito cidadão a ser assegurado a discentes e docentes em nossas escolas em todo país. Continuemos, pois, mobi lizando-nos como Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso! Coordenação do FONAPER (Gestão 2008-2010) Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 19 Capítulo I Primeiros passos do FONAPER: Um sonho que se tornou realidade em tempos de novos projetos educacionais Anísia de Paulo Figueiredo1 1 INTRODUÇÃO O Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER) constitui uma das principais organizações de influência sobre o Ensino Religioso (ER) no Brasil. Foi criado aos 26 de setembro de 1995, em Florianópolis/SC, durante a 29ª Assembleia Ordinária do CIER (Conselho de Igrejas para a Educação Religiosa de Santa Catarina)2, que celebrava 25 anos de existência. A partir de então, o Fórum pretendeu ser um espaço aberto à discussão dos interessados em compreender o papel do ER no ambiente escolar, quer como disciplina, quer com área de conhecimento. Nessa condição, pretendeu organizar e animar o movimento de educadores e educadoras em busca de caminhos para a compreensão, organização e prática do ER como componente 1 Autora de dezenas de títulos conhecidos no meio educacional, publicados pelas editoras Vozes, FTD e outras, incluindo Universidades. Possui Tese de Doutorado publicada pelo Departamento de Filosofia I – Metafísica e Teoria do Conhecimento, da Universidade Complutense de Madrid, ISBN: 978-84-669-3111- 3. Registro MEC- UFJF, nº 2185, no Livro PG-06, Folha 93, de acordo com o disposto no artigo 48, § 1º, da Lei n° 9.394 de 1996. Pedagoga, Mestra em Ciências da Religião e Doutora em Filosofia. Atuou na formação de Professores, em MG e nos Estados de SP, SC, RS, RN, PI, BA, MS, AL, PR, RJ. Exerce funções de assessoria e consultoria em assuntos educacionais em entidades religiosas, normativas e educacionais, em âmbito da educação básica e ensino superior, nas redes oficial e particular de ensino. Pesquisadora nas áreas de Educação e Políticas Públicas; História e Antropologia Filosófica. 2 A abertura do evento foi realizada por Dom Gregório Warmeling, presidente de referida instituição. Na oportunidade, foram apresentadas as 15 unidades da federação representadas por 42 entidades educacionais e religiosas com seus respectivos professores. Foi constituída a Comissão de Trabalho para elaborar a Carta de Princípios: Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro (DF), Maria Augusta Sousa (RN), Ângela Maria Ribeiro Holanda (AL), Maria Neusa C. Vasconcelos (RO), Pe. Luiz Alves de Lima (SP), Maria Vasconcelos de Paula Gomes (MG), Vilma Maria G. Selhorst (MS), Risoleta Moreira Boscardim (PR), Vicente Egon Bohne (RJ), Werena Wittmam (AM), Carmem Isabel Carlos Silva (PB), Arabela Eunice Martins Maia Machado (PI), Pe. Rui Cavalcante Barbosa (TO), Leonardo A. Semeria Maurente (RS), Raul Wagner (SC), Carmencita Seffrin (RJ), Valdemar Hostin (RJ) e Lizete Carmem Viesser (PR). Informações, segundo o site do FONAPER. Disponível em: <www.fonaper.com.br>. Acesso em: 25 ago. 2003. 20 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil curricular do sistema público de ensino. A concepção de tal Fórum vinha sendo gestada durante os Encontros Nacionais de Ensino Religioso promovidos pela CNBB (ENERs), tendo como ideia inicial a de uma Associação Nacional de Professores de ER, animada pelos próprios educadores e educadoras. Um dos incentivadores da ideia foi o responsável pelo ER na CNBB, Dom Aloysio Leal Penna. No entanto, antes dele, já no 8º Encontro Nacional de Ensino Religioso (8º ENER), realizado em Petrópolis/RJ, de 20 a 24 de agosto de 1990, sob a direção de Dom Frei Vital João G. Wilderinnk, bispo de Itaguaí/ RJ, assessorado pelo Pe. Juventino Kestering, Inês Broshuis e o Grupo Nacional de Reflexão sobre o ER (GRERE). Naquele momento, o assessor do referido ENER, Frei Vicente Bohne, Reitor da Universidade São Francisco, havia manifestado sua intenção em se buscar um caminho novo para o ER no Brasil, à luz dos marcos antropológico, teológico, social e pedagógico, com maior participação dos educadores organizados em associação. Não foi sem motivos que o FONAPER reuniria, dali a cinco anos educadores e educadoras, bem como entidades interessadas na reflexão continuada sobre o ER. Suas realizações como Fórum, com ampla participação, estariam voltadas para o seu papel numa sociedade marcada por fatores socioeconômico-político-culturais em que a diversidade ocupava um lugar significativo. Essa sociedade, enquanto sujeito e protagonista da Educação Religiosa no universo escolar, convivia desde o início com inúmeros desafios para a sua operacionalização como Área de Conhecimento, nos termos da Resolução CNE/CEB nº 02/98. 2 O FONAPER NO CONTEXTO DE NOVOS PROJETOS EDUCACIONAIS Iniciando suas atividades em 1995, o FONAPER chega como novo espaço de discussão e de liderança das ações mais recentes em torno da regulamen- tação e implantação do ER no Brasil, orientado por um paradigma que visava à sua compreensão e maior integração no espaço escolar. A proposta do FONAPER buscava a configuração do Ensino Religioso como disciplina na escola do sistema público, tendo como um de seus principais elementos “um ensino a partir do fato religioso”. Já na introdução dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Religioso aparece o anúncio do Capítulo II, a dedicar-se ao “fenômeno religioso como a busca Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 21 pelo sentido da vida além morte” durante a qual a “humanidade formula quatro respostas possíveis”, que, “em função delas, propõem-se os pressupos- tos para a organização e seleção dos conteúdos para o Ensino Religioso na Escola, com eixos organizadores”. Acrescenta, ainda, que o mesmo capítulo esteja voltado para “o tratamento didático e os pressupostos para avaliação”. Conferindo a caracterização do ER no referido capítulo, temos a seguinte definição: O fenômeno religioso é a busca do Ser frente a ameaça do Não-Ser. Basicamente a humanidade ensaiou quatro respostas possíveis como norteadoras do sentido da vida além da morte: a Ressurreição, a Reencarnação, o Ancestral, o Nada. Cada uma dessas respostas organiza- se num sistema de pensamento próprio, obedecendo uma estrutura comum. E que é dessaestrutura comum que são retirados os critérios para a organização e seleção dos conteúdos e objetivos do Ensino Religioso. (FONAPER, 1997, p. 32) Com base em blocos norteadores, os eixos organizadores do conteúdo encaminham inicialmente para o estudo do fenômeno religioso. O Caderno Temático nº 2, organizado e publicado pela Comissão de Formação de Professores do mesmo Fórum, leva em conta o primeiro eixo de tais Parâmetros. Destaca o pensamento do filósofo Enrique D. Dussel, entre outros estudiosos, como sendo aquele que melhor explica a linha de opções assumidas pelo Grupo, conduzindo a reflexão sobre tal proposta do FONAPER e alguns dos aspectos filosóficos e metodológicos diante da realidade sociocultural da América Latina (FONAPER, 2001). Nos primeiros momentos de sua existência, o FONAPER assumiu a tarefa da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ER (PCNERs), em caráter de emergência3. Tais parâmetros passaram a oferecer respaldo a muitas instituições escolares na elaboração de propostas curriculares de ER. Figurou como texto provisório, pois não houve empenho dos setores 3 O Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso, em sessão realizada de 24 a 26 de março de 1996, em Brasília/DF, apresenta a necessidade de ser instituída uma Comissão encarregada da elaboração dos Parâmetros Curriculares de ER, em regime de urgência, para suprimir a ausência das orientações adequadas à referida disciplina. Essa Comissão foi composta inicialmente por alguns assessores indicados pela Coordenação do FONAPER, para a elaboração de textos fundamentais a partir dos eixos temáticos 22 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil governamentais em incluí-lo no conjunto dos PCNs oficiais do MEC, divulgados em 1998, para todos os educadores do país, acompanhados de carta do Presidente da República, encaminhando os mesmos aos destinatários. Na época não houve iniciativas por parte do MEC para incentivar ou fazer cumprir as sugestões do FONAPER, de forma paralela ou integrada, durante a utilização dos PCNs elaborados pelo Grupo de Trabalho do Ministério da Educação e divulgados pelo Presidente da República. É possível perceber, desta forma, que a disciplina ER continuou rece- bendo um tratamento distinto do conjunto das políticas educacionais brasi- leiras em geral. Diante de tal fato, o referido Fórum deu início a um discurso que, intencionalmente, enfatizava a necessidade de renovação na maneira de pensar e conduzir o ER no Brasil, mediante a busca de novo paradigma para a disciplina. As iniciativas que melhor poderiam favorecer, inicialmente, o tratamento adequado ao ER como componente curricular seriam: a elabo- ração de Diretrizes Curriculares Nacionais para a referida área e a formação de professores através de Cursos de Licenciatura de Graduação Plena com Habilitação em Ensino Religioso4. Dessa forma, foram introduzidos alguns conceitos que encaminharam as novas concepções sobre objeto da disciplina, os quais provocaram a estabelecidos na reunião do dia 19 de junho de 1996, em São Paulo/SP. Somente na segunda sessão do referido Fórum, acontecida em Brasília/DF, de 17 a 19 de agosto do mesmo ano, após o 11º Encontro Nacional de ER (11º ENER), promovido pela CNBB, foi revista a primeira redação dos Parâmetros Curriculares de ER, com a participação de 75 pessoas. A redação final foi concluída em Belo Horizonte/ MG, em 28 e 29 de outubro do mesmo ano, para acrescentar as sugestões remetidas pelos diversos Estados ou Regiões Brasileiras, segundo os prazos marcados até a finalização deste trabalho, aprovação e encaminhamento às Secretarias Estaduais de Educação. A conclusão da redação do texto esteve sob a responsabilidade da Comissão de Currículo e da Coordenação do FONAPER que, em 29 de outubro a entrega aos membros do Conselho de Secretários de Estado da Educação (CONSED), reunidos em Ouro Preto/MG. O Grupo de redação final do referido documento pensava que este, uma vez encaminhado aos setores do Governo por meio dos referidos Secretários, chegariam a adquirir força no Ministério da Educação, ainda em 1996, com o objetivo de ser assumido e aprovado, até a publicação, no mesmo prazo dos PCNs das demais disciplinas, já elaborados pelo Grupo de Trabalho do MEC. Em 5 de novembro, os Parâmetros Curriculares de ER foram também encaminhados ao MEC. Depois de analisados, foi constatada a natureza do ER como disciplina, porém não como tema transversal como poderiam supor ou sugerir muitos setores da Educação (WAGNER, 1996). 4 O ano de 2003 foi marcado por acontecimentos que promoveram a mudança do que vinha sendo trabalhado a passos lentos até o ano 2002. O 4º Seminário de Capacitação Docente realizado pelo FONAPER figurava entre eles. Entraram na pauta das discussões questões fundamentais para a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais de Ensino Religioso que tiveram por motivação os Cursos de Licenciatura de Graduação Plena com Habilitação em Ensino Religioso. Havia em diversos Estados tentativas para solucionar a questão, através do Governo, garantindo os cursos existentes e aqueles em processo de legalização. Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 23 descontinuidade dos conceitos epistemológicos que até então vigoravam como suporte de sua prática para concretizar a interrupção das ideias tradicionais sobre o ER. A intenção de apresentar novos elementos que integrassem o ER ao sistema escolar, com a normalidade das demais disci- plinas, convivia com o imaginário coletivo de que esse componente curricular continuava a depender do sistema religioso em algumas regiões do país. Dessa forma, verificou-se a continuidade do habitual tratamento dado ao ER como elemento do sistema religioso. Ao mesmo tempo, buscava-se a sua compreen- são como elemento do sistema escolar – com novo paradigma fundamentado nos aspectos essenciais da fenomenologia – de modo que recebesse um tratamento que não o discriminasse como algo de dentro e, ao mesmo tempo, de fora do sistema escolar. O desafio para que fosse entendido e assumido como elemento do sistema escolar permanecia com base no dispositivo da própria Constituição Federal, na intenção de salvaguardar o princípio da liberdade religiosa garantido pelo artigo 5º da mesma Carta Magna. Se garantido como ensino da religião, deve ser facultativo. Convém recordar que os membros integrantes da equipe de organização, instalação e coordenação do FONAPER sempre foram, em sua maioria, procedentes de grupos vinculados a Igrejas Cristãs e, em especial, da Igreja Católica. De tal fato explica a razão de a liderança do mesmo Fórum ser exercida, em alguns momentos, por pessoas integradas à assessoria da CNBB e, ao mesmo tempo, à coordenação do referido Fórum, procurando assim manter um discurso que traduzisse o pensamento das duas instituições. No interior de ambas as Entidades, CNBB e FONAPER, os mesmos atores sociais colocavam-se diante da dificuldade em defender a posição de ambas e acabavam por optar pelas próprias ideias. Seja por sua prática em sala de aula como professores, ou por concepções filosóficas de educação na rede pública de ensino. Porém, os aspectos do discurso mantenedor das ideias fortalecidas por decurso de tempo e pela continuidade de uma mentalidade secular sempre tiveram raízes profundas. Dessa realidade surgem dificuldades para a proposição e concretização da mudança de paradigma para o ER. Em tais circunstâncias surgem, como em outras épocas, intelectuais que compõem uma corrente de concepções opostas à maneira de conceber e interpretar o princípio da laicidade do Estado e o direito à liberdade religiosa do cidadão, em se tratando do ER em escola pública. Para tal corrente que procede de outros setores da sociedade, com pensamento bem diverso dos 24 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil vinculados às instituições religiosas, o ER é algo exterior ao sistema escolar, isto é, concebido como componente que faz parte do sistema religioso. Deve ser mantido, portanto, pelas instituições religiosas não peloscofres públicos. Entre as várias posições alimentadoras do discurso sobre o referido assunto, esta corrente conserva o antigo vício de raiz de muitos setores da sociedade brasileira. Os mesmos o concebem como ensino de religião específica, eximindo-o de sua função de disciplina do currículo escolar, inserida em um conjunto de outras disciplinas, interagindo em um ambiente aberto a todos os cidadãos e cidadãs, com organização, infraestrutura, metodologias e finalidade própria da educação escolar. 2.1 Durante o ressurgimento do discurso dos intelectuais sobre o ER, o FONAPER dá os seus primeiros passos Em meio às discussões e iniciativas da CNBB – como órgão com maior tempo e espaço de atuação – e da retomada da discussão dos atores sociais e políticos a favor e contra o ER na rede oficial de ensino, surge o FONAPER. Convém lembrar que a nova LDB está em fase de finalização e a caminho de sua sanção. De início, o mesmo Fórum estabelece metas prioritárias de atuação, começando pela divulgação de suas ideias e propostas para a mudança de paradigma do ER. Em curto período de atuação, em comparação ao da CNBB, surgem os mais diversificados tipos de discursos procedentes de intelectuais que tomaram posição sobre as ações do governo e das entidades religiosas, principalmente buscando sua regulamentação em face do processo de elaboração da nova LDB nº 9.394/96. A construção e a divulgação do discurso de representantes dos setores anteriormente referidos, principalmente da CNBB, como órgão politicamente mais potente em relação aos demais, suscitam o reaquecimento dos debates de intelectuais que formaram um terceiro grupo. Tal grupo, com características peculiares e vinculados a outras instituições, provocou, consequentemente, a formação de núcleos de resistência com os quais o FONAPER buscou manter um diálogo para que se encaminhasse a matéria através de consenso entre as instituições e educadores do Brasil. Entre negociações, o diálogo foi intensificado. Daí resultou o artigo 33 da LDB que, poucas horas antes de sua sanção, foi alterado com emenda “sem ônus para os cofres públicos”. O ER Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 25 foi remetido novamente para fora do ambiente escolar, ou seja, figurava como elemento do sistema religioso, ato explicado pela concepção de liberdade religiosa e laicidade do Estado, segundo o pensamento francês. 2.2 Primeiro tempo de atuação do FONAPER: 1996 a 2004 Há de se considerar os oito anos de atuação do FONAPER como sendo o período das discussões e da busca de compreensão e implantação do ER no Brasil. No presente texto, enfatizamos tal período que corresponde ao debate sobre a sua condição de disciplina absorvida e ampliada pela Educação Religiosa como área de conhecimento. Resume, em parte, o esforço feito em tal período na busca de solução para a problemática epistemológica instalada em torno de referida disciplina. O debate começa no momento da discussão empreendida durante a elaboração da LDB, sancionada em 20 de dezembro de 1996 e da alteração do artigo 33 pela nova redação dada pela Lei nº 9.475/97. Coincide também com a criação da Diálogo – Revista de ER – Edições Paulinas – e a publicação da Coleção Série Fundamentos, pela Editora Vozes, composta por alguns títulos sobre o ER, para promover a reflexão sobre o assunto nos meios acadêmicos e em grupos de professores, organizados em distintos setores de coordenação ou acompanhamento dos estudos sobre o ER. Pouco mais adiante, isto é, ao final dos anos 1990 e início do ano 2000, prolongando-se, aproximadamente, até 2004, surgem do norte ao sul do país os primeiros Cursos de Licenciatura - Graduação Plena – com Habilitação em ER e de Pós-Graduação (lato sensu); este último em maior escala, para a especialização de Professores de ER. A revista Diálogo5 foi criada por incentivo da CNBB, de modo especial em atendimento a Dom Aloysio Leal Penna, bispo responsável pelo Setor de Educação e ER na referida instituição, no mesmo dia em que foi lançada a ideia do FONAPER. O anúncio da ideia foi apresentado pelo Senhor Waldemar Hostin, editor de Catequese e Ensino Religioso na Editora Vozes durante a reunião do GRERE, em abril de 1995, no Colégio São Luiz, em São Paulo, coordenada por Dom Aloysio Leal Penna, assessorado por Ir. Dilza Maria 5 Diálogo – Revista de Ensino Religioso. Revista temática, assumida por Edições Paulinas, que, em 2010, completa também 15 anos de circulação em todo o Brasil. Disponível em: <www.paulinas.org.br>. 26 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil Moreira, do Setor de Educação da CNBB e membros do GRERE. Ao mesmo tempo, confirmou ser intenção do Diretor da Editora Vozes, Frei Vicente V. E. Bohne, envidar esforços para apoiar o referido Fórum. O FONAPER contou também com o apoio da CNBB durante o 11º Encontro Nacional de Ensino Religioso (11º ENER), realizado em junho de 1996, em Brasília, ocasião propícia para que o mesmo envolvesse os educadores de todo o Brasil, presentes no evento. Em tal momento, as negociações para a elaboração dos PCNERs tiveram início com a visita ao MEC de um grupo de professores representantes do referido Fórum, pois tanto os participantes do ENER-CNBB como os membros do FONAPER haviam percebido a omissão por parte do Sr. Presidente da República ao organizar o Grupo de Trabalho para a elaboração dos PCNs para o Ensino Fundamental, sem constar o Ensino Religioso. 3 O FONAPER NA TRANSIÇÃO DO DISCURSO SOBRE O ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL Como instituição aberta ao diálogo sobre a ER com os diferentes setores de interesse, o FONAPER promoveu variados eventos para incentivar e acompanhar o debate nacional. Nessa mesma linha, tomou outras iniciativas, tais como a produção de subsídios, promoção de cursos, seminários e congressos para a atualização e animação de educadores que se dedicam ao ER em todo o país. Segundo Caron, o FONAPER, no ano 2000, contava aproximadamente com 700 professores e mais de 60 entidades associadas. Acrescenta: Durante a sua trajetória selecionou prioridades e organizou Comissões de Trabalho. Sua maior atuação se deu na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso (PCNER). […] Outra tarefa prioritária foi a elaboração de Propostas Curriculares para Cursos de Aperfeiçoamento em Ensino Religioso (120 horas), pós-graduação (360 horas) e de graduação para a formação dos profissionais de ER. (CARON, 2000, p. 45) Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 27 Os associados e associadas receberam um comunicado, através do Ofício 0201 144, de 8 de janeiro de 2001, expedido pela Secretária Mirian Rosa Mendes, apresentando as seguintes Comissões de Trabalho: Comissão de Capacitação Docente; Comissões dos Sistemas Estaduais; Comissões dos Sistemas Municipais; Comissões de Articulação Religiosa e Comissão Editorial. Antes dessa nova distribuição de tarefas, outras já haviam sido feitas por meio de Comissões, em caráter emergencial, para os sucessivos momentos da organização dos trabalhos que precederam ou decorreram das atividades principais do FONAPER. Depois de dez anos de existência, o FONAPER havia estabelecido um novo marco divisor das reflexões sobre o ER no Brasil. Até então tais reflexões eram conduzidas pela CNBB como instituição melhor organizada, respeitada e interessada por todas as ações e subsídios elaborados e divulgados pela corrente dos favoráveis e interessados na regulamentação e prática do ER como componente curricular. 3.1 Iniciativas do FONAPER ante o novo paradigma para o ER A mudança de paradigma para o ER no Brasil se deu efetivamente com a sanção da Lei nº 9.475/97, que deu nova redação ao artigo 33 da LDB, e a sua implantação nas respectivas Unidades da Federação de acordo com o novo enunciado de referida Lei. Continua Caron (2000, p. 45), “Outra atividade intensa do FONAPER foi o Trabalho durante a tramitação da nova Lei, junto à Câmara, Senado Federal e o MEC, para a implantação e implementação da Lei sobre a ER e a organização da Entidade Civil”. “A Entidade Civil,constituída por diferentes denominações religiosas, será ouvida pelos respectivos sistemas de ensino para a definição dos conteúdos de ER”. Essa cláusula constitui o § 2º da Lei nº 9.475/97. Não obstante, a referida Lei não esclarece o que se há de entender por “denominação religiosa”. Por outro lado, não exclui nenhuma delas, sejam religiões, espiritualidades, movimentos, grupos, filosofias de vida, instituições, tradições religiosas e outras que integram a uma sociedade pluralista, como é o caso do Brasil. Consequentemente, os ór- gãos legislativos não emitiram nenhum parecer sobre a matéria. Diante dessa situação, o FONAPER abriu espaço para discussões que se dirigiram, inicialmente, à compreensão do papel e de organização da entidade civil com personalidade jurídica, segundo as exigências da referida Lei. 28 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil 3.2 Aspectos do discurso do FONAPER a caminho de sua identidade A formação discursiva do referido Fórum começou com a Carta de Princípios, elaborada e divulgada quando da instalação da referida Entidade (cf. Anexo 1). Em seguida, na mesma data, a “Carta Aberta” foi elaborada pelo grupo de Trabalho instituído na respectiva sessão e divulgada por todo o país (cf. Anexo 2). A intenção do FONAPER foi explicitada no artigo 3º dos seus Estatutos, a saber: Consultar, refletir, propor, deliberar e encaminhar assuntos pertinentes ao Ensino Religioso – ER, com vistas às seguintes finalidades: I- exigir que a escola seja qual for sua natureza, ofereça o ER ao educando, em todos os níveis de escolaridade, respeitando as diversidades de pensamento e opção religiosa e cultural do educando, vedada discriminação de qualquer natureza; II- contribuir para que o pedagógico esteja centrado no atendimento ao direito de ter garantida a educação de sua busca do Transcendente; III- subsidiar o Estado na definição do conteúdo programático do ER, integrante e integrado às propostas pedagógicas; IV- contribuir para que o ER expresse uma vivência ética pautada pelo respeito à dignidade humana; V- reivindicar investimento real na qualificação e habilitação de profissionais para o ER, preservando e ampliando as conquistas de todo magistério, bem como a garantia das necessárias condições de trabalho e aperfeiçoamento; VI- promover o respeito e a observância da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e dos outros valores universais; VII- realizar estudos, pesquisas e divulgar informações e conhecimentos na área do ER. (FONAPER, 2000) A mudança de paradigma para o ER provém da concepção do objeto da disciplina, que abre perspectivas para diferentes interpretações. O Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 29 FONAPER, em tal momento ainda encontrava-se em uma fase em que se tornava necessário maior aprofundamento da matéria. Estudiosos interessa- dos no assunto muito iriam contribuir com pesquisas no campo da epistemo- logia e áreas afins, de modo a encaminhar a prática pedagógica em vista da fidelidade ao estabelecido no enunciado, anteriormente retomado, dos próprios Estatutos. Contudo, não se discutiu com profundidade o que é um Fórum e sobre a sua principal característica: a abertura para os diferentes discursos, concepções e prática de uma área de conhecimento, o que muito ajudaria, principalmente nos primeiros anos de existência da entidade, a buscar, ainda, a sua identidade como tal. A preocupação maior se voltou para a configuração do ER como disciplina, na condição de componente curricular, integrada em um conjunto de outras disciplinas. Porém, a partir de 1998, uma vez integrada como área de conhecimento às Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (Resolução CNE/CEB nº 2/98), designada como “Educação Religiosa”, as reflexões puderam contar com novos argumentos. 3.3 O FONAPER cumpriu o seu papel a partir de sua própria proposta? Ao completar 15 anos, uma instituição intitulada Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso teria um bom motivo para avaliar as suas ações, a partir dessa retrospectiva, ou seja, do recorte dos primeiros tempos de sua existência e atuação. E das perspectivas que lhe podem apontar caminhos, em vista da continuidade, ou não, de um serviço de melhor qualidade oferecido à educação no Brasil. Algumas questões são apresentadas a seguir no intuito de ajudar nessa reflexão avaliativa, sem a pretensão de nenhum julgamento isolado, sobretudo considerando-se o pano de fundo diante do qual estampa a realidade brasileira do momento: – Afinal, o que caracteriza um Fórum, considerando a sua definição, com fundamentos no conceito romano de Fórum e de concepções próximas ao mesmo, de conotação grega, como as que orientaram as práticas do discurso na Ágora? – O FONAPER manteve o espaço aberto a diferentes concepções e práticas de ER, com metodologias para um discurso participativo e demo- crático da sociedade brasileira, em seu conjunto, ou provocou resistências 30 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil que deram origem a preconceitos sobre o ER no Brasil, por falta da garantia ou da administração competente de tal espaço? – Os setores educacionais no Brasil estão convictos do papel do ER na escola, ou se torna necessária a retomada de um diálogo que leve em conta o que se propõe nos PCNERs, item 1.2.2., versão novembro de 1996, p. 20, sob o título: “Tradição Religiosa e Cultura da Paz”? 4 PRIMEIRAS SESSÕES, SEMINÁRIOS, CONGRESSOS E CURSOS DO FONAPER As atividades do FONAPER intensificam durante o acompanhamento do processo de modificação do artigo 33 da LDB, que resultou na sanção e publicação da Lei nº 9.475/97. Tal fato teve como finalidade unir as forças do FONAPER com as de outras entidades favoráveis à regulamentação do ER como componente curricular. O texto da Carta do FONAPER, com data de 6 de maio de 1997, inclui os enunciados do Projeto assumido pelo Deputado Pe. Roque Zimmermenn, os quais trazem os dispositivos da Lei nº 9.475/97. Os mesmos confirmam, além do mais, a persistência do FONAPER nas reivindicações para alteração do citado artigo 33 da Lei nº 9.394/96, que incluiu o ER sem ônus para os cofres públicos (cf. Anexo 3). As 12 sessões do FONAPER, realizadas de 1996 a 2004, registram as incidências dos assuntos tratados durante aproximadamente dez anos de criação e atuação desta entidade. Foram iniciados pela estrutura e organização do referido Fórum e prosseguidos com as atividades de suas comissões de trabalho junto às instituições ensino e órgãos afins. Tais atividades se resumem nas seguintes ações: eventos nacionais e internacionais sobre ER; estudos sobre a ER e educação; produção de textos com atenção aos recursos didáticos; instrumentos de divulgação dos eventos e de notícias nacionais; acompanhamentos dos processos legislativos; elaboração de diretrizes para a formação de professores de ER em diferentes níveis e modalidades; elaboração de propostas para os PCNERs da Educação Básica; preparação e realização de seminários e congressos nacionais de ER; registro da memória das realizações mais importantes do referido órgão. Ao mesmo tempo, todas as sessões trazem os registros de locais e respectivas datas. Entre as formas mais significativas e de grande evidência do FONAPER para a animação e aprofundamento dos temas relacionados com o ER estão Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 31 os Seminários de Capacitação Docente em ER, bem como os Congressos Nacionais de ER. Os cursos a distância, com o apoio da Rede Vida de Televisão e TVE do Paraná, com 12 cadernos temáticos completados com nova coleção para a aplicação dos PCNERs, figuraram como uma das mais significativas contribuições para a formação inicial dos Professores de Ensino Religioso no Brasil. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Organização dos textos e notas remissivas. In: OLIVEIRA, Juarez de. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1988. BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizese Bases da Educação Nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1996. Seção I. BRASIL. Lei nº 9.475 de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao artigo 33 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1997. Seção I. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 02, de 7 de abril de 1998. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília: Diário Oficial da União, 1998. Seção I, p. 31. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1998. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB nº 4/98. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Aprovado em 29 de janeiro de 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0298.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2004. CARON, Lurdes (org.) e Equipe do GRERE. O ensino religioso na nova LDB. Petrópolis: Vozes, 1998. CARON, Lurdes (org.). Ensino religioso nos documentos da Igreja Católica Apostólica Romana. Brasília: CNBB, Setor de Ensino Religioso, 2000. FONAPER. Carta de comprovação do acompanhamento do FONAPER ao processo de alteração do art. 33 da LDB. Blumenau, 1997. 32 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil _______. Parâmetros curriculares nacionais ensino religioso. São Paulo: Ave Maria, 1997. _______. Carta aberta da 1ª sessão. Florianópolis/SC: 26 de setembro de 1995. Disponível em: <www.fonaper.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2004. _______. Carta de princípios - elaborada e divulgada durante a instalação do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Florianópolis/SC: 26 de setembro de 1995. Disponível em: <www.fonaper.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2004. _______. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio. Cadernos nº 1 a 12. Cadernos de Estudos Integrantes do Curso de Extensão a distância. Brasília: [s/e], 2000. _______. Estatuto do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso. Brasília: 2000. Mimeo. _______. Ensino religioso. Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica da Escola. Caderno Temático nº 2. Brasília: [s/ed], 2001. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (orgs.). Ensino religioso no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004. Coleção Educação/Religião nº 5. WAGNER, Raul. Sumário dos acontecimentos da primeira sessão do FONAPER. Brasília-DF, 26 mar. 1996 (mimeo). Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 33 ANEXO 1 CARTA DO FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO Considerando a memória histórica do Ensino Religioso no Brasil, que une esforços de autoridades religiosas e educacionais, da família e da sociedade em geral, para sua efetivação na Escola; • considerando o trabalho das diferentes organizações que acompanham o Ensino Religioso, em todo território nacional, na garantia de educação para o Transcendente; • considerando o contexto sócio-cultural e pluralista que aponta mudanças de paradigmas; Os signatários, representantes de entidades e organismos envolvidos com o Ensino Religioso no Brasil instalaram, no dia 26 de setembro de 1995, em Florianópolis/SC, o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso como: • espaço pedagógico, centrado no atendimento ao direito do educando de ter garantida a educação de sua busca do Transcendente; • espaço aberto para refletir e propor encaminhamentos pertinentes ao Ensino Religioso, sem discriminação de qualquer natureza. Esta “Carta de Princípios” contém o contrato moral que todo signatário desse Fórum estabelece consigo mesmo e com seu comprometimento ético com a Educação, contrato que se projeta para além de compromissos jurídicos e institucionais: 1 – garantia que a Escola, seja qual for sua natureza, ofereça o Ensino Religioso ao educando, em todos os níveis de escolaridade, respeitando as diversidades de pensamento e opção religiosa e cultural do educando; 2 – definição junto ao Estado do conteúdo programático do Ensino Religioso, integrante e integrado às propostas pedagógicas; 3 – contribuição para que o Ensino Religioso expresse uma vivência ética pautada pela dignidade humana; 4 – exigência de investimento real na qualificação e capacitação de profissionais para o Ensino Religioso, preservando e ampliando as conquistas de todo magistério, bem como lhes garantindo condições de trabalho e aperfeiçoamento necessários. Florianópolis, aos 25 anos do Conselho de Igrejas para Educação Religiosa (CIER) Disponível em: <www.fonaper.com.br> Acesso em: 25 ago. 2003. 34 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil ANEXO 2 CARTA ABERTA DA 1ª SESSÃO Os signatários, professores e coordenadores estaduais de Ensino Religioso, representantes de Igrejas, entidades e organismos ecumênicos envolvidos com o Ensino Religioso no Brasil, reunidos durante a 1a Sessão do FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO, em Brasília, nos dias 24 a 26 de março de 1996, vem a público reafirmar as seguintes posições: Que o Ensino Religioso, assegurado pelo art. 210, § 1º, da Constituição Federal, tenha o mesmo tratamento dispensado às demais disciplinas, o que implica em: a. INCLUSÃO da proposta curricular do Ensino Religioso, nos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, como disciplina. Proposta esta ora em processo de elaboração coletiva pelos segmentos da sociedade que reivindicam este ensino; b. QUALIFICAÇÃO RECONHECIDA pelo MEC para o exercício da função em Ensino Religioso, garantindo, assim, os dignos direitos do profissional; c. ÔNUS para os cofres públicos na nova LDBEN, como investimento do Estado, salvaguardando o direito constitucional do cidadão a uma educação integral para o exercício pleno da cidadania. Reiteramos, também, a “Carta de Princípios” estabelecida durante a Instalação deste Fórum, em Florianópolis/SC, aos 26 de setembro de 1995. Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 35 ANEXO 3 FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO Blumenau, 6 de maio de 1997 Estamos informando a nossa posição frente alterações propostas para o Ensino Religioso junto à Câmara dos Deputados em Brasília. Existem três projetos de lei: a) do Deputado Nelson Marchezan (RS) a partir da CNBB, cujo teor dá nova redação ao art. 33 da LDB, retirando a expressão “sem ônus para os cofres públicos”; b) do Presidente da República, encaminhado pelo Ministro da Educação a partir de um acordo com a CNBB, complementando o art. 33 da LDB com o Ensino Ecumênico que seria sem ônus para o Estado; c) do Deputado Maurício Requião (PR), a partir do texto elaborado pelo Fórum (que sofreu alteração). Este estamos a apoiar, pois desejamos transformar o Ensino Religioso, realmente, numa disciplina escolar. Art. 1o – O art. 33 da Lei 9.394, de 20 de dezembro, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 33. O ensino religioso é parte integrante da formação básica do cidadão. § 1o O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais da escola fundamental, vedadas quaisquer formas de doutrinação ou proselitismo. § 2o – Assegurado o respeito à diversidade cultural brasileira, os conteúdos do ensino religioso serão definidos segundo parâmetros curriculares nacionais e de comum acordo com as diferentes denominações religiosas ou suas entidades representativas. Art. 2o. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3o. Revogam-se as disposições em contrário. O relator já foi indicado, é o Deputado Padre Roque (PR), conhecedor do assunto quando atuante no Rio Grande do Sul. Seria muito interessante remeter carta, via fax até 10 de maio do corrente, de agradecimento ao presidente da Comissão de Educação Deputado Severiano Alves congratulando-o pelo encaminhamento dado ao Ensino Religioso e pela indicação do relator (fone: (61) 318-5830 e fax: (61) 318-2830 e o fax da Comissão é (61) 318- 2149),ao Deputado Maurício Requião agradecendo por ter encaminhado o projeto (fone: (61) 318-5635 e fax: (61) 318-2635) e ao Deputado Padre Roque, para que 36 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil agilize o processo de redação (fone: (61) 318-5585 e fax: (61) 318-2585). Convide a outros a fazerem o mesmo em seu Estado. Na certeza de sua atenção, despeço-me cordialmente, Raul Wagner Secretário do Fórum Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 37 Capítulo II Autores e sujeitos a mover o FONAPER Maria Azimar Fernandes e Silva1 Maria José Torres Holmes2 1 MOMENTOS SIGNIFICATIVOS NA HISTÓRIA DO FONAPER: SUA CRIAÇÃO Nos 15 anos de caminhada de Ensino Religioso no Estado da Paraíba, descobrimos o nascimento de um “bebê” chamado FONAPER, que surgiu de uma “união” de vários educadores, membro de diversas tradições religiosas, que compartilharam suas forças e não mediram esforços para que esse nascituro chegasse com todo vigor e proclamasse toda sua independência para defender o ER. Isto se chama “amor à primeira vista”. O FONAPER surgiu clamando por justiça. Um clamor de alegria que, aos poucos, transformou-se em fonte luminosa, para iluminar toda essa trajetória do ER em nosso país. Nesses primeiros passos, já foi levantando a sua “bandeira de luta” por uma causa nobre, dando assim uma nova roupagem ao ER que, durante cinco séculos, viveu sob a tutela de uma religião, monopolizado pela Igreja Católica. Este FÓRUM nasceu em um cantinho do Brasil, em Santa Catarina, no dia 26 de setembro de 1995. [...] no Hotel Itaguaçu, juntamente com a vigésima nona Assembléia Ordinária do Conselho de Igrejas para a Educação Religiosa (CIER) de Santa Catarina, que 1 Coordenadora de Ensino Religioso na SEEC/PB e presidente da Comissão Estadual de Ensino Religioso da Paraíba. E-mail: azimarpb@hotmail.com. 2 Mestranda e especialista em Ciências das Religiões pela UFPB; professora de Ensino Religioso do Estado da Paraíba; assessora pedagógica e coordenadora do Ensino Religioso da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa. E-mail: mjtholmes@yahoo.com.br. 38 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil comemorava seus vinte e cinco anos de existência. A abertura foi feita por Dom Gregório Warmeling, Presidente do CIER; em seguida foram apresentadas as quarenta e duas entidades educacionais e religiosas e os professores, representando quinze unidades da Federação. (FONAPER, 1995) Já na sua primeira infância, tornava-se forte e feliz, pois em cada luta saía vencedor. Sua primeira atitude foi estabelecer-se enquanto instituição e, em sua inquietude, sonhava com outros valores, novas oportunidades e novos lugares, desempenhando muito bem os seus objetivos, cujos primeiros passos foram logo reconhecendo a sua “marca”, pois veio para dar dignidade ao ER, sempre na esperança de situá-lo em seu verdadeiro lugar, junto aos demais componentes curriculares, fazendo a diferença. Nesse momento surgiu a ideia de buscar a sua “certidão de nascimento”, ou seja, oficializar a sua Carta de Princípios, que lhe daria poderes jurídicos e institucionais e estabeleceria seu compromisso diante da sociedade brasileira, cuja responsabilidade era: 1 – Garantia de que a Escola, seja qual for sua natureza, ofereça Ensino Religioso ao educando, em todos os níveis de escolaridade, respeitando as diversidades de pensamento e opção religiosa e cultural do educando; 2 – Definição junto ao Estado do conteúdo programático do Ensino Religioso, integrante e integrado às propostas pedagógicas; 3 – Contribuição para que o Ensino Religioso expresse sua vivência ética pautada pela dignidade humana; 4 – Exigência de investimento real na qualificação e na capacitação de profissional para o Ensino Religioso, preservando e ampliando as conquistas, de todo magistério, bem como garantindo-lhes condições de trabalho e aperfeiçoamentos necessários. (FONAPER, 1995) Com a criação desse documento fortificava-se o encaminhamento desse componente curricular a todas as escolas públicas do Brasil, dando assim cobertura e mais confiança, estabelecendo um compromisso ético para com a educação associado ao apoio das 15 Unidades da Federação, ou seja: Distrito Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 39 Federal, Rio Grande do Norte, Alagoas, Roraima, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Amazonas, Paraíba, Piauí, Tocantins, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. E assim ficou mais fácil de entender qual a razão de ser do ER nas escolas. Com esse “marco inicial” e o rápido caminhar do FÓRUM surgiu a ideia da criação de sua equipe interina no período de 1995-1996 que, com muita disposição, sensibilizou outros educadores para se filiarem ao FONAPER. Vale destacar que entre os “pais” e as “mães” do FONAPER, assim os consideramos, estavam como coordenadora Lizete Carmen Viesser (Curitiba/PR); secretário Raul Wagner (Blumenau/SC); tesoureiro Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro (Brasília/DF), e os vogais Lurdes Caron (Brasília/DF), Maria Augusta Souza (Natal/RN), Maria Vasconcelos de Paula Gomes (Belo Horizonte/MG) e Vicente Volker Egon Bohne (Petrópolis/RJ). Com a elaboração e a edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o ER foi considerado pela equipe do MEC como tema transversal, enquanto eram incluídos os outros componentes na grade curricular de ensino, sendo este excluído. Isso exigiu forte mobilização nacional, envolvendo os Estados da Federação e fortalecendo a luta do FONAPER junto ao governo federal, ao MEC e ao Conselho Nacional de Educação. Com isso, esse Fórum deu início a uma acentuada campanha, na marcha por um ER enquanto componente curricular. Foram realizadas intensas reuniões e a sua 3ª sessão plenária, com o objetivo de integrá-lo na grade curricular, foi um forte acontecimento. Aderiram também a esse movimento, além de grande parte dos Estados, as várias instituições religiosas bem como instituições de ensino particular e de ensino superior, tendo em vista a respeitabilidade do FONAPER. 2 A ARTICULAÇÃO DOS SUJEITOS/GRUPOS NA FORMULAÇÃO E NA DEFESA DE OUTRA CONCEPÇÃO DE ENSINO RELIGIOSO Nesse momento, o mesmo grupo de educadores se unia com o objetivo de idealizar sobre como proceder e ampliar novos estudos de como salvaguardar a identidade do ER tão sonhada por todos que atuavam nesta área de ensino. Teriam de tomar uma posição para mudar a redação do art. 33 da LDB, Lei n° 9.394/96, que mais uma vez deixava o ER “sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas 40 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil pelos alunos ou por seus responsáveis”, bem como “confessional e interconfessional”. A partir daí, mais uma vez, foram à luta para reverter essa situação e conseguiram novamente sair vitoriosos nessa caminhada; com suas atitudes positivas conseguiram a aprovação dos PCNER e, com isso, os educadores esperaram a hora de se posicionarem em busca de reverter a situação por meio de uma significativa mobilização em todo o território brasileiro. Nessa luta recorreram à Câmara dos Deputados, em Brasília, produzindo, por meio do movimento de articulação política, no 1º semestre de 1997, três projetos sobre o ER, contendo propostas para substituir o art. 33 da nova LDB (Lei n° 9.394/96). Os documentos eram, segundo Caron (1998, p. 24-25): o Projeto de Lei nº 2.757/97, do deputado Nelson Marchezan, que pretendeu alterar o art. 33 simplesmente retirando a expressão “sem ônus para os cofres públicos”. Em seguida veio o Projeto do deputado Maurício Requião, sob o nº 2.997/97, redigido da seguinte maneira: Art. 33 – O ensino religioso é parte integrante da formação básica do cidadão. § 1º – O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais da escola pública fundamental, vedadas quaisquer formas de doutrinação ou proselitismo. § 2º – Assegurado o respeito à diversidade cultural brasileira, os conteúdos do ensino religioso serão definidos segundo os parâmetros curriculares nacionais e de comum acordocom as diferentes denominações religiosas ou suas entidades representativas. E, por fim, o Projeto de nº 3.043/97: De iniciativa do Poder Executivo – que após ampla consulta aos Estados, via Secretaria de Estado da Educação, e a setores da sociedade em geral – tramitou em regime de urgência constitucional, nos termos do art. 64, parágrafo 1º da Constituição Federal, acrescentando a modalidade ER “ecumênico” às outras duas existentes no artigo 33 da LDB: “confessional e interconfessional”. A este tipo de ER, o “ecumênico”, no Parecer, conforme Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 41 a Exposição de Motivos nº 78 de 12 de março de 1997, não se aplica o dispositivo “sem ônus para os cofres públicos”. Diante da análise do relator, o deputado Padre Roque Zimmermann, depois de ouvir a comissão representativa do ER, isto é, todos os educadores envolvidos e os representantes do FONAPER, CNBB, CONIC e MEC, elaborou um substitutivo ao Projeto do deputado Nelson Marchezan, incluindo as propostas dos demais projetos, o qual substituía toda a redação do art. 33 da LDB. Sendo votado pela Câmara dos Deputados no dia 17 de junho de 1997, decidido pela plenária com estimada aprovação de quase todas as lideranças partidárias. Teve como relator o senador Joel de Hollanda, sendo aprovado pela maioria absoluta no plenário do Senado Federal, no dia 8 de julho de 1997. O novo texto da LDB alterou significativamente o art. 33 da Lei n° 9.394/ 96, incluindo o ER nos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental pela Lei n° 9.475/97 que, com sua nova redação, deu um passo significativo na história do ER no Brasil: Art. 1º – O art. 33 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 33 – O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º – Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para habilitação e admissão dos professores. § 2º – Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. Essa nova lei garante que as escolas ofereçam aos alunos o acesso ao conhecimento religioso, deixando claro que as formas institucionalizadas de religião são competências das igrejas e crenças religiosas. Caron (1998, p. 31) 42 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil afirma que “a nova redação consagra a responsabilidade dos sistemas de ensino”, para direcionar os procedimentos que deverão ser tomados. Esses “pais e mães” do “menino FONAPER”, cuidaram tão bem dessa “criança”, que deram autonomia para que pudesse caminhar com seus próprios pés, pois se observa nessa bela história a sua firmeza e seu vigor. E assim se estabeleceram em sua organização, a partir da realização de seus trabalhos pautados no compromisso com o Estado brasileiro, através de sua Carta de Princípios, com cinco importantes sessões de 1995 a 1998, incluindo a elaboração dos PCNER voltados para o currículo, para que este desse um norte sobre as diretrizes do ER bem como o direcionamento de seus conteúdos. Nesse período, de acordo com o site do FONAPER, foram realizadas: Cinco Sessões Plenárias do FONAPER (Brasília/96; Brasília/ 96; Piracicaba/97 Brasília/97; Curitiba/98); três Seminários com as Instituições de Ensino Superior (São Paulo/97; Brasília/97; Curitiba/97); Mesa Redonda no Fórum dos Conselhos Estaduais de Educação (Florianópolis/97); Reunião com a Secretaria de Educação Superior (Brasília/ 97); Workshop com as Instituições de Ensino Superior. (Curitiba/98); Construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso; Consultorias e estudos da Coordenação. Na sua segunda infância, sendo cuidado por esses educadores “guerreiros do bem”, o FONAPER foi crescendo, fazendo toda diferença com suas produções de diversos documentos e escritos a respeito de um ER voltado para o fenômeno religioso como objeto de estudo. Nesse sentido, o FONAPER (Caderno nº 4, 2000, p. 9) apresentou três exemplos de conceitos sobre o fenômeno religioso: – O fenômeno religioso é um verdadeiro fenômeno hu- mano, que se traduz por atitudes e costumes caracterís- ticos, nos quais podemos observar tanto o “acontecimen- to” religioso quanto a sua significação religiosa; basta considerar a sua manifestação mais típica, a “oração”; Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 43 – O fenômeno religioso radica-se na própria natureza humana, pelo que é possível, neste princípio de unidade, chegar a sua própria essência; – O fenômeno religioso é decisivo para o comportamento humano e para a estruturação da sociedade e, por isso, deve ter um “significado” próprio e profundo. Isso comprova que, quanto mais se investiga, há de se convir que adentramos num mundo de mistérios para descobrir o sentido mais profundo da vida e da morte, bem como procurar por isso não só no presente, mas no passado, e também no real e no imaginário. Por mais que recuemos, haverá sempre indícios de cultos religiosos, a partir de toda uma simbologia e de ritos inerentes às tradições religiosas. É por isso que muitas pessoas mergulham nesse mistério como uma fonte de conhecimento inesgotável. De acordo com o FONAPER (Caderno 4, 2000, p. 10), uma questão muito importante é admitir como essenciais ao fenômeno religioso: “um conjunto de crenças e de práticas concernentes a uma realidade considerada objetiva, de algum modo pessoal, suprema, em relação à qual o homem professa uma dependência e de quem espera favores e salvação”. Esse conjunto de práticas torna-se um fenômeno humano, onde as pessoas buscam chegar à essência, que transcende com um significado próprio e profundo. Contudo, seria preciso cuidar também da formação dos docentes do ER! E, a partir daí, o FONAPER pensou e tratou logo de estabelecer diretrizes para a capacitação docente, criando e organizando o documento Diretrizes Curriculares dos Cursos Superiores na área de Ensino Religioso, tematizando a formação inicial, os cursos de especialização lato sensu e os cursos de extensão em Ensino Religioso. 3 O SIGNIFICADO DO FONAPER NA VOZ DOS SEUS ASSOCIADOS E PROFESSORES Vale destacar que o FONAPER elaborou o significativo curso a distância para os professores intitulado: Ensino Religioso – Capacitação para um Novo Milênio, no ano 2000. Este curso, composto por 12 Cadernos, apresenta: 1– Ensino Religioso é Disciplina Integrante da Formação Básica do Cidadão; 44 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil 2– Ensino Religioso na Diversidade Cultural Religiosa do Brasil; 3– Ensino Religioso e o Conhecimento Religioso; 4– O Fenômeno Religioso no Ensino Religioso; 5– Ensino Religioso e o Fenômeno Religioso nas Tradições Religiosas de Matriz Indígena; 6– O Fenômeno Religioso Tradições Religiosas de Matriz Ocidental; 7– O Fenômeno Religioso nas Tradições Religiosas de Matriz Africana; 8– O Fenômeno Religioso nas Tradições Religiosas de Matriz Oriental; 9– Ensino Religioso e o Ethos na Vida Cidadã; 10– Ensino Religioso e os seus Parâmetros Curriculares Nacionais; 11– O Ensino Religioso na Proposta Pedagógica da Escola; 12– O Ensino Religioso no Cotidiano da Sala de Aula. Isso, para nós, educadores, foi muito importante, pois proporcionou maior segurança em nossa prática em sala de aula, pois o “menino FONAPER”, nesse momento, além dos “pais e mães”, agora também tinha “padrinhos” que o dirigiam muito bem. Já entrava em nossa história, nas mãos de outras equipes e grupos. Para comemorar a sua “terceira infância”, já um “rapazinho”, com 10 anos de vida e com certa experiência vivida, foi organizado, em 2005, em Florianópolis/SC, o III Congresso Nacional de Ensino Religioso (V CONERE), onde foi lançado o livro Ensino Religioso: memórias
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