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A 04 AULA FUNÇÕES PSICO

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AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNÇÕES 
NEUROPSICOLÓGICAS 
COGNITIVAS – COGNIÇÃO E 
APRENDIZAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Michelle Müller 
 
 
 
2 
TEMA 1 – O QUE SÃO FUNÇÕES EXECUTIVAS 
 Conforme vimos nos módulos anteriores, toda aprendizagem depende do 
desenvolvimento do sistema sensório-motor, que acontece por meio da 
interação com o ambiente e dos processos neurobiológicos de amadurecimento. 
Os raciocínios lógico, verbal e social são paulatinamente construídos e 
direcionados pelas relações sociais. A aprendizagem também depende dos 
vários tipos de memória e da capacidade de sustentar a atenção — relacionada 
ao controle inibitório — e de fatores tanto emocionais quanto físicos. 
No topo estão as chamadas competências superiores, sobre as quais 
iremos aprender nesta aula. Elas não se restringem à aprendizagem de 
determinados conhecimentos e habilidades — como a leitura, a memorização de 
fatos e a compreensão da linguagem e dos números —, mas envolvem a 
seleção, a análise e a manipulação das informações de maneiras novas. 
Essas capacidades são desenvolvidas ao longo da infância e da 
adolescência e mostram-se determinantes para o sucesso do indivíduo na esfera 
pessoal e profissional. Elas ocorrem no córtex pré-frontal, a terceira unidade de 
Luria, área do cérebro que representa aquilo que nos faz humanos. É a região 
que nos permite o autocontrole, a regulação do comportamento, a conduta 
social, o planejamento, a resolução de problemas, o trabalho colaborativo, o 
respeito ao outro, a projeção de situações futuras, a elaboração de histórias, a 
criação e o uso de ferramentas, a criatividade, a responsabilidade, a flexibilidade 
cognitiva, o pensamento crítico. É onde se constrói nossa identidade e que nos 
permite formar sociedades, construir culturas. 
Logicamente, dizer que o córtex pré-frontal assume todas essas funções 
não significa que responde sozinho por elas. Os processos mentais são 
complexos e nunca estão localizados em uma única área. Mas uma lesão nessa 
região comprometeria todas essas habilidades superiores, além de aquilo que 
conhecemos como personalidade. Ou seja, com um problema no córtex pré-
frontal, você manteria suas funções mentais básicas, inclusive sensoriais e 
motoras, mas não seria mais você mesmo. 
As funções executivas são as últimas a se desenvolverem e as primeiras 
a falharem como consequência de disfunções neurológicas e do envelhecimento 
do cérebro. São resultado da parte mais recente desse órgão na linha evolutiva 
e, também, a mais vulnerável. 
 
 
3 
Não existe uma definição estabelecida no que diz respeito às funções 
executivas. Sabemos que envolvem capacidades cognitivas superiores, mas 
diferentes autores podem dar ênfase a diferentes conjuntos de funções. 
Além disso, é quase impossível falar de funções executivas sem citar o 
controle inibitório: competência desenvolvida ao longo da infância e da 
adolescência que permite suprimir os impulsos e pensar antes de reagir ou de 
falar. 
A pesquisadora e neurocientista cognitiva Adele Diamond (2013), 
especialista no estudo de funções executivas, cita ainda como funções básicas 
o controle de interferência, que inclui domínio sobre a atenção e inibição 
cognitiva (que envolve o controle e seleção de informações e pensamentos), a 
memória de trabalho (fortemente correlacionada à atenção) e a flexibilidade 
cognitiva (capacidade de mudar de estratégia e adaptar-se a novas situações). 
Mas existem especialistas que incluem no conjunto a formação de 
padrões (capacidade de identificar padrões nas informações para inferir o que 
irá acontecer na sequência) e a categorização (capacidade de formar 
categorias de informações, formando uma base cognitiva para que se possa 
aplicar habilidades superiores, como analisar e avaliar tais informações). 
As funções executivas, segundo Adele Diamond (2013), são cruciais para 
a saúde mental e física, para o sucesso nos estudos, bem como na vida e no 
desenvolvimento social, psicológico e cognitivo. 
Não apenas se constroem como consequência de processos biológicos 
do amadurecimento cerebral, como a mielinização, mas também são moldadas 
pelo ambiente, especialmente pelas relações sociais. Essas funções superiores 
podem ser estimuladas por uma série de práticas, como jogos, atividades 
esportivas, meditação e atividades cooperativas, além da repetição. 
E por que a repetição? Todas as tarefas que colocam o córtex pré-frontal 
para trabalhar, exercitando as funções executivas, exigem esforço e são, 
portanto, realizadas de forma lenta e dispendiosa. 
No entanto, à medida que ganhamos mais domínio sobre determinada 
habilidade, o córtex pré-frontal passa a ser menos acionado e, a partir de então, 
são as estruturas subcorticais que assumem a tarefa, realizada, dessa forma, 
com menos esforço, de maneira automática e inconsciente. Isso vale para 
qualquer conhecimento, desde as habilidades motoras até as condutas sociais. 
 
 
4 
Para que a aprendizagem seja consolidada, a ação e a repetição da ação são 
fundamentais. Somos o que fazemos repetidamente. 
Todas as funções executivas são dependentes do direcionamento 
consciente da atenção, uma das nossas capacidades mais vulneráveis e, 
portanto, facilmente afetadas por problemas ou por desequilíbrios tanto 
emocionais quanto físicos. 
Dessa forma, o trabalho de desenvolvimento dessas funções superiores 
é mais eficaz quando o ambiente proporciona segurança e apoio emocional. O 
sono, os exercícios físicos e fatores como hidratação e alimentação também 
estão diretamente relacionados ao desempenho cognitivo. 
Então, ajudar estudantes a alcançar melhor desempenho significa ir muito 
além dos conteúdos programados. Importante investir em atividades 
consideradas não acadêmicas, mas que trabalham todas as funções executivas, 
além dos âmbitos social, emocional e físico. Artes, dança, música, esportes, 
artes marciais, narração de estórias, meditação e jogos são algumas das práticas 
que conciliam todas essas necessidades e que, infelizmente, não são a 
prioridade na maior parte das instituições de ensino. 
TEMA 2 – O CONTROLE INIBITÓRIO 
 A capacidade de pensar antes de agir está relacionada ao controle 
inibitório. Tal função, diretamente relacionada a tantas outras — como atenção 
concentrada e memória de trabalho —, será o foco desta aula. 
O controle inibitório se refere desde ao controle das reações às emoções 
até as respostas aos estímulos. Assim, podemos dizer que está relacionado 
tanto à conduta social quanto a habilidades cognitivas básicas, como o domínio 
da atenção diante de estímulos concorrentes. 
Responde o mencionado controle por todas as situações que requerem o 
autocontrole e a resistência a tentações, como comidas, jogos, compras e outros 
vícios. Ou seja, é a função da disciplina, é o que nos permite focar em uma tarefa 
até que seja concluída, apesar da vontade de ceder às distrações. Impede-nos 
de, apesar da vontade, enviar uma mensagem grosseira a alguém que nos 
provocou. É uma função que oferece gratificação tardia: esforçar-se agora para 
ser recompensado depois. 
 
 
5 
A capacidade de inibir a resposta a um sentimento, de não ceder aos 
impulsos governados por emoções muitas vezes desconhecidas ou 
desorganizadas é fortemente dependente do meio social para se desenvolver. 
Como o córtex pré-frontal, envolvido nessa função, é a região que mais demora 
a amadurecer, a dificuldade em controlar certos impulsos ou reações 
exageradas a algumas emoções pode parecer incompatível com outras 
habilidades cognitivas já tão desenvolvidas. 
2.1 Controle inibitório e inteligência emocional 
O controle das reações às emoções é uma dos principais — se não for a 
mais importante — competências que formam um tipo de inteligência que hoje 
conhecemos por inteligência emocional. Muitos chegam à idade adulta sem ter 
exercitado suficientemente o controle inibitório,o que leva a muitos problemas 
de relacionamento. Erros relacionados à falta de capacidade de esperar e de 
ponderar para agir são percebidos nas diversas formas de relações, inclusive 
nas redes sociais. 
Há fortes indicativos de que a capacidade de inibição dos impulsos na 
infância pode ser considerada um confiável preditor de saúde, de sucesso e de 
segurança na idade adulta. 
Um grupo de pesquisadores de diversas universidades, liderados por 
Terrie Moffitt (2011), acompanhou a vida de cerca de mil pessoas durante 30 
anos. Concluiu que as crianças — com 3 a 11 anos de idade — que 
apresentaram um melhor desempenho em tarefas que dependem do controle 
inibitório tinham, também, maior probabilidade de se manter na escola durante a 
adolescência, além de apresentarem menor chance de fazer escolhas arriscadas 
ou consumir substâncias ilícitas. Além disso, o grupo percebeu que, quando 
adultos, os sujeitos estudados apresentaram melhores condições de saúde e 
maior remuneração. O controle da impulsividade mostrou-se, portanto, mais 
relevante do que outros fatores analisados, tais como o chamado quociente de 
inteligência (QI), classe social, circunstâncias familiares e gênero. 
2.2 O início do desenvolvimento do controle inibitório 
O controle inibitório começa a ser desenvolvido muito cedo, quando 
crianças pequenas precisam ter controle dos esfíncteres ou saber esperar. 
 
 
6 
Bebês de menos de um ano de idade podem permanecer focados em atividades 
sensório-motoras que prendem seu interesse, como blocos e peças de encaixar. 
No entanto, nos primeiros anos, o controle sobre a atenção é bastante imaturo, 
e a tendência é que crianças se distraiam facilmente e deixem estímulos 
externos interromperem a atividade na qual estão engajadas. Por isso, recursos 
que as ajudem a desenvolver tal função cognitiva devem fazer parte do processo 
de educação infantil. 
Entre esses recursos estão o cuidado na seleção dos estímulos 
oferecidos nos ambientes em que haja interação com crianças. Jogos e 
brincadeiras que envolvem o controle do impulso são extremamente importantes 
para o desenvolvimento infantil. Muitas vezes, a educação se precipita em 
alfabetizar crianças em idade pré-escolar ou em repassar certa quantidade de 
conteúdo acadêmico, sendo que atividades lúdicas e esportivas — que 
trabalham o controle dos impulsos e que ensinam a esperar antes de responder 
ou agir — poderão trazer resultados mais significativos para o desenvolvimento 
cognitivo e até mesmo para o desempenho acadêmico das crianças. 
De acordo com Adele Diamond, há evidências (Lakes; Hoyt, 2004) de que 
as artes marciais trazem ótimos resultados no trabalho do autocontrole, pois, 
além dos movimentos, regras e objetivos, envolvem questionamentos que levam 
à reflexão sobre o próprio comportamento e sobre a importância da disciplina e 
do planejamento, mas sem desconsiderar o presente. 
TEMA 3 – MEMÓRIA DE TRABALHO 
Conforme vimos anteriormente, existem vários tipos de memória. A que 
envolve mais o córtex pré-frontal — e, por isso, é considerada uma função 
executiva — é a memória de trabalho. Essa capacidade é a que vamos abordar 
nesta aula. 
Entre os vários tipos de memória, existe aquela que utilizamos para 
compreender e manipular a informação — como, por exemplo, manter em mente 
as informações do início de um parágrafo para conseguir entender a sequência 
ou, também, compreender números envolvidos em uma operação mental. Essas 
informações podem ser verbais ou visuoespaciais. Chamamos tal habilidade de 
memória de trabalho. 
 
 
7 
A memória de curto prazo está mais relacionada à armazenagem de 
informações por um período de tempo. Já a memória de trabalho envolve não 
apenas a retenção, mas também a manipulação das informações, que se 
desenvolve mais lentamente e depende do córtex pré-frontal dorsolateral. 
A manipulação das informações não depende somente da sua retenção 
temporária na mente, mas também da capacidade de manter o foco na tarefa e, 
assim, ignorar os estímulos irrelevantes, bem como inibir o impulso de desviar a 
atenção. Portanto, a memória de trabalho e o controle inibitório trabalham 
semprem em comunhão. 
Imagem 1 – Córtex pré-frontal dorsolateral 
 
Fonte: OLYGON/SHUTTERSTOCK 
Para uma criança com dificuldade em controlar a atenção e ignorar os 
estímulos concorrentes, é mais difícil manter, por exemplo, uma sequência de 
comandos na mente e cumpri-la. Por causa dessa conexão, para alguns 
pesquisadores, a supressão de estímulos faz parte da memória de trabalho e 
não seria uma habilidade separada. 
A capacidade de suprimir impulso de desviar a atenção e a de, ao 
contrário, conseguir manter um objetivo definido em mente durante uma tarefa 
fazem parte desse conjunto de habilidades. 
3.1 A atenção e a memória de trabalho 
Em pessoas com memória de trabalho fraca ou ainda não totalmente 
desenvolvida, tarefas como organizar mentalmente uma lista de coisas a fazer 
ou seguir uma série de instruções costumam ser mais difíceis. Por exemplo, você 
diz à criança uma sequência de tarefas que ela precisa cumprir. Ela tem que 
ignorar os estímulos que aparecem no caminho e manter em mente o seu 
 
 
8 
objetivo, que é a execução das tarefas na ordem em que foram apresentadas. 
Entretanto, a criança do nosso caso hipotético realiza somente a primeira tarefa 
e vai fazer outra atividade. Esse tipo de comportamento é muito comum em 
crianças com dificuldades atencionais, haja vista a relação estabelecida entre 
atenção e memória de trabalho. 
Outra situação bastante comum é quando são dados a uma criança dois 
ou três comandos diferentes em um mesmo enunciado de exercício. Espera-se 
que ela manipule as informações ao mesmo tempo em que sustenta na mente 
mais de um comando, o que pode ser desafiador para muitas crianças, razão 
pela qual respondem às questões pela metade. Esse tipo de dificuldade é 
bastante comum, uma vez que a memória de trabalho, assim como outras 
funções executivas, depende da região do cérebro que é a última a se 
desenvolver. Assim, a série de comandos pode ser ótima forma de exercitar a 
memória de trabalho, mas não de avaliar o conhecimento da criança, como 
acontece em muitas provas. 
Jogos de linguagem — como aqueles em que a criança precisa cumprir 
uma sequência cada vez mais longa de comandos — são ótimos estímulos ao 
desenvolvimento da memória de trabalho. Tal como as outras funções 
executivas, essa habilidade tende a declinar com o envelhecimento do cérebro. 
TEMA 4 – FLEXIBILIDADE COGNITIVA 
Nesta aula vamos aprender sobre a função fundamentalmente humana e 
cada vez mais valorizada pelo mercado de trabalho, além de necessária para 
lidarmos com as inúmeras e constantes transformações do mundo: a 
flexibilidade cognitiva. 
A flexibilidade cognitiva é totalmente dependente de outras funções 
executivas básicas, como a memória de trabalho e o controle inibitório. É um dos 
grandes diferenciais humanos com relação às máquinas e aos animais. É crucial 
para a resolução de problemas complexos, para a inovação em qualquer área 
do conhecimento e também, em nível mais básico, para o sucesso nos 
relacionamentos interpessoais. 
Graças à flexibilidade cognitiva podemos reestruturar as informações na 
mente e trocar de perspectiva — capacidades essenciais para a busca de 
 
 
9 
soluções pouco óbvias e também para entender o ponto de vista de outra 
pessoa. 
A flexibilidade cognitiva nos permite mudar de ideia, rever nossos 
conceitos, mudar de hábitos, aproveitar oportunidades inesperadas e também 
nos adaptarmos às mudanças — o que se faz cada vez mais necessário em um 
mundo de rápidas transformações. É a função que nos permite aproveitar as 
oportunidades que surgem de forma inesperada. 
Flexibilidade mental está diretamente associada à criatividade. Não existe 
trabalho criativo sem uma mente flexível por trás. Desde um projetode escola 
que exige geração de ideias e criação autônoma até um negócio inovador, todas 
as novas soluções foram fruto da capacidade de buscar informações fora dos 
caminhos mais comuns e de associá-las de uma forma inédita — ações que 
exigem mudança de perspectiva, típicas do pensamento elástico. 
Crianças pequenas tendem a ser extremamente adaptáveis a novas 
circunstâncias, mas têm dificuldade de mudar de perspectiva. Em experiências 
com figuras ambíguas, por exemplo, crianças de menos de cinco anos de idade 
não conseguem perceber a figura alternativa mesmo quando é mostrada a elas 
(Gopnik; Rosati, 2001). 
Ademais, outros testes que exigem capacidade de mudança de foco e 
mudança de tarefas indicam que apenas entre os sete e nove anos de idade as 
crianças estão prontas para essa habilidade (Gupta; Kar; Srinivasan, 2009). 
Tal qual acontece com os músculos, a mente pode ser flexível ou rígida. 
Assim, da mesma forma que fazemos com o físico, podemos exercitar a 
flexibilidade mental. Atividades em que as regras são constantemente invertidas 
são indicadas para o treino dessa habilidade. Mas não apenas testes e 
exercícios garantem o desenvolvimento da flexibilidade: a capacidade de 
mudança e adaptação é desenvolvida em ambientes em que a 
interdisciplinaridade, a criatividade e o pensamento crítico são estimulados, 
conforme oportunamente veremos. Aprender novas habilidades e adquirir 
conhecimentos em diversas áreas mantêm a mente flexível e aberta. 
TEMA 5 – PENSAMENTO CRÍTICO E TAXONOMIA DE BLOOM 
Em um mundo tão complexo e diversificado, a capacidade de selecionar, 
avaliar, interpretar e aplicar as informações nunca se fez tão necessária. Essas 
 
 
10 
capacidades, juntamente com várias outras que veremos nesta aula, fazem parte 
daquilo que chamamos de pensamento crítico. Envolvem diretamente todas as 
funções executivas que acabamos de aprender. 
Não importa o que cobrimos, mas o que descobrimos. Ser 
verdadeiramente educado significa investigar e criar a partir dos 
recursos que estão disponíveis e que se consegue compreender; saber 
onde procurar, como formular questões relevantes, saber questionar 
doutrinas padrão. Mais importante que ter informações guardadas é 
saber onde procurar, o que procurar e como procurar. (Noam 
Chomsky..., 2015) 
Apesar de estarem fortemente relacionadas a qualidade de vida, saúde e 
realização profissional e pessoal, as funções executivas não estão no alvo do 
sistema educacional de uma forma geral — ao menos não diretamente. A 
educação tem o objetivo de repassar aos estudantes uma grande quantidade de 
conteúdo, desconsiderando que o cérebro humano não foi projetado para 
memorizar detalhes, mas sim para utilizar da melhor forma as poucas 
informações de que precisa. Desse modo, o que precisa ser desenvolvido não é 
a capacidade de armazenamento, mas sim de associação das informações. 
Hoje, com a tecnologia usada como extensão da nossa memória, há mais 
espaço para uma educação que privilegia aquilo que o cérebro humano faz de 
melhor: pensar e criar. 
O pensamento crítico e a criatividade dependem da capacidade de 
armazenar, compreender, selecionar, analisar e utilizar as informações, 
combinando-as e apresentando-se de formas novas. 
Para isso, é preciso desenvolver competências, tais como o controle 
sobre a atenção e sobre os impulsos, a manipulação e reestruturação das 
informações retidas na mente, bem como a mudança de perspectiva e de foco 
quando necessário. O pensamento crítico e a criatividade, portanto, passam pelo 
desenvolvimento das funções executivas. 
De acordo com Adams (2015), etapas que levam ao pensamento crítico 
foram organizadas na década de 1950 por especialistas de diversas 
universidades estadunidenses, liderados pelo psicólogo Benjamin Bloom. O 
resultado: um modelo hierárquico de objetivos educacionais, também conhecido 
como Taxonomia de Bloom. 
No estudo em questão, a aprendizagem foi dividida em três domínios: 
cognitivo, afetivo e psicomotor. Esse modelo sugere que as habilidades 
superiores de pensamento — análise, síntese e avaliação, nesta ordem — são 
 
 
11 
construídas tendo como base os domínios mais básicos de conhecimento, 
compreensão e aplicações. 
A estrutura de Bloom sugere, segundo Adams (2015), que primeiramente 
é necessário possuir o conhecimento, que significa a retenção, na memória, de 
informações e fatos. É o que usamos ao memorizar uma lista de nomes ou a 
ordem dos planetas, por exemplo. Grande parte da educação é baseada nessa 
habilidade, posicionada na base da estrutura hierárquica de Bloom. 
Uma etapa adiante está a compreensão dos fatos memorizados. Nesse 
estágio, espera-se que a criança seja capaz de inferir informações que estão 
sugeridas e não expostas de forma explícita, de fazer comparações entre fatos, 
de associa-los a outros, de fazer categorização de itens em grupos e de explicar 
ou contar, de forma clara, os fatos que aprendeu. Essa etapa é crucial para todo 
o desenvolvimento acadêmico, uma vez que logo que as crianças ganham 
fluência na leitura, o volume de conteúdo que depende da compreensão da 
linguagem para ser assimilado começa a crescer de forma substancial. 
Crianças que não conseguem compreender um texto adequadamente 
precisam trabalhar as habilidades relacionadas a esse estágio da taxonomia 
para que possam alcançar domínios avançados do pensamento. Em tal etapa, 
as funções executivas cumprem importante papel, pois competências como a 
mudança de perspectiva, formação de categorias, identificação de padrões, 
memória de trabalho, atenção sustentada e reorganização das informações na 
mente são fundamentais para o êxito da compreensão. Uma educação voltada 
ao desenvolvimento dessas habilidades garante que os alunos saibam não 
apenas o quê, mas o porquê de aprenderem o que lhes ensinam. 
Dessa forma, poderão passar à etapa seguinte, que envolve a aplicação 
do conhecimento compreendido em situações e contextos diferentes — uma 
habilidade que requer o domínio da flexibilidade cognitiva, entre outras funções 
executivas. 
Passando para níveis mais altos de domínio cognitivo, em que se 
encontram as habilidades mais estritamente relacionadas ao que conhecemos 
como pensamento crítico, chega-se à capacidade de análise. Para apresentar 
esse atributo, é necessário saber distinguir entre fato e opinião, saber identificar 
o propósito de um discurso e com que base foram construídos os argumentos 
expostos. Nessa etapa também entra a capacidade de comparações críticas. 
 
 
12 
Em seguida, passa-se para a síntese, que é a capacidade de combinar 
informações compreendidas em uma nova ideia. Essa é a etapa da criatividade, 
também fortemente relacionada à flexibilidade cognitiva e à memória de trabalho. 
Recentemente, uma versão atualizada da Taxonomia de Bloom transformou a 
síntese em criação ou criatividade e transferiu a habilidade para o topo da 
estrutura. 
Finalmente, a última etapa da hierarquia original compreende as 
capacidades relacionadas à avaliação, como o julgamento, a comparação de 
ideias e de teorias. Espera-se que os estudantes dominem com propriedade tal 
etapa, que depende de todas as outras durante a fase universitária. É quando 
deverão fazer o julgamento crítico de ideias com base em informações muitas 
vezes conflitantes e de diversas áreas. 
A Taxonomia de Bloom (Adams, 2015) passou por uma revisão recente, 
em que foram alteradas a nomenclatura e a ordem das habilidades. Todos os 
objetivos passaram a ser expressos por meio de verbos e o criar passou para o 
topo da estrutura, que ficou nesta ordem: lembrar, compreender, aplicar, 
analisar, avaliar e criar. 
Apesar de ser a mais conhecida, a hierarquização dos objetivos 
educacionais não é o único domínio contemplado pela Taxonomia de Bloom. 
Existem outros dois, também fundamentais para o desenvolvimento humano e 
diretamente relacionados ao desenvolvimentocognitivo: o domínio psicomotor e 
o afetivo. Neste último, são organizadas, também de forma hierárquica, as 
habilidades relacionadas à consciência das atitudes e dos sentimentos em um 
ambiente educacional. No próximo módulo, iremos abordar a relação das 
emoções com a aprendizagem. 
Imagem 2 – Taxonomia de Bloom (original e revisada) 
 
 
13 
 
 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
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Medical Library Association, v. 103, n. 3, p. 152-153, 2015. Disponível em: 
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<https://www.youtube.com/watch?v=_1xN0jGIbdw>. Acesso em: 29 ago. 2018. 
 
 
	TEMA 2 – O CONTROLE INIBITÓRIO
	TEMA 3 – MEMÓRIA DE TRABALHO
	TEMA 4 – FLEXIBILIDADE COGNITIVA
	TEMA 5 – PENSAMENTO CRÍTICO E TAXONOMIA DE BLOOM
	REFERÊNCIAS

Outros materiais