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RELACIONAMENTO 
INTERPESSOAL 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 AS RELAÇÕES HUMANAS E SUA DINÂMICA A SOCIEDADE ..................................... 3 
1.1 As Relações Humanas e as Épocas: Breve Relato Sobre as Eras Históricas ...... 5 
1.2 Relações Humanas: Conceitos e Teorias ............................................................ 9 
1.3 Os Padrões de Relação ..................................................................................... 12 
1.4 Processos Obstrutivos das Relações Humanas: O Conflito ............................... 15 
2 RELAÇÕES HUMANAS E OS GRUPOS ...................................................................... 16 
2.1 Relações Familiares .......................................................................................... 36 
2.2 Relações de Trabalho ........................................................................................ 38 
2.3 A Dinâmica de Viver em Equipe e Processos Grupais Básicos: Percepção e 
Comunicação ....................................................................................................................... 42 
3 LIDERANÇA E RELAÇÃO ENTRE LÍDER E LIDERADOS ........................................... 47 
3.1 Liderança e Relação entre Líder e Liderados .................................................... 48 
3.2 Motivação .......................................................................................................... 51 
3.3 A Ética nas Relações Humanas......................................................................... 53 
3.4 Lideranças na Saúde Coletiva e Individual ........................................................ 56 
4 ANÁLISE DE SITUAÇÕES REAIS DE GRUPO POR MEIO DAS PESQUISAS, JOGOS, 
TÉCNICAS E VIVÊNCIAS ................................................................................................... 50 
4.1 Conhecimento Pessoal: Gráfico da Vida ............................................................ 55 
4.2 Desenvolvimento da Consciência Crítica e das Habilidades Interpessoais Através 
das Atividades Coletivas ...................................................................................................... 58 
4.3 Inteligência Emocional ....................................................................................... 60 
4.4 Resiliência ......................................................................................................... 64 
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 AS RELAÇÕES HUMANAS E SUA DINÂMICA A SOCIEDADE 
Há um olhar que sabe discernir o certo do errado e o errado do certo. Há um 
olhar que enxerga quando a obediência significa desrespeito e desobediência 
representa respeito. Há um olhar que reconhece os curtos caminhos longos e os 
longos caminhos curtos. Há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar que 
existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade. Este olhar é o da alma. 
 NiltonBonder 
 
Por relações humanas compreendem-se, também, relações interpessoais, ou 
seja, relações que se estabelecem entre as pessoas. Quando se refere às relações 
humanas e sua dinâmica na sociedade, pode-se acrescentar que acontecem de um 
modo especial, vivo, dinâmico, com movimento e fluidez, e inseparável do social e seu 
contexto histórico. 
Por relações humanas compreendem-se, também, relações interpessoais, ou 
seja, relações que se estabelecem entre as pessoas. Quando se refere às relações 
humanas e sua dinâmica na sociedade, pode-se acrescentar que acontecem de um 
modo especial, vivo, dinâmico, com movimento e fluidez, e inseparável do social e 
seu contexto histórico. 
O indivíduo é um ser social, que, pela sua própria natureza humana, é colocado 
em um contexto relacional para que seu desenvolvimento ocorra, garantindo sua 
sobrevivência. A palavra dinâmica, segundo Ferreira (2005, p. 319), aponta para: “[...] 
parte da mecânica que estuda os movimentos dos corpos, relacionando-os as forças 
que os produzem”. De acordo com esta definição do termo, pode-se pensar que ao 
falar sobre relações humanas e sua dinâmica na sociedade, está se falando de um 
processo de mútua relação, em movimento de constantes interações de forças que 
se afetam. 
As relações humanas têm sido alvo de vários estudos do comportamento, vêm 
sendo estudadas como uma ciência, a ciência do comportamento humano 
(MINICUCCI, 2012). As relações humanas estão presentes em diversos contexto e 
épocas humanas. Elas estão na base da constituição dos vínculos familiares, de 
trabalho, de lazer e outros. 
Dentro destes contextos relacionais vários problemas podem surgir em 
decorrência da própria dinâmica estabelecida na relação humana, a partir daí surgem 
 
 
 
os conflitos, que podem acontecer nas relações interpessoais (entre as pessoas), 
entre os grupos (nações, religiosos e outros) ou entre o ser humano com ele mesmo 
(relação intrapessoal). 
As próximas unidades serão um convite para a aproximação com o tema, 
devido a sua importância, pois se imagina que um profissional de saúde saiba cuidar 
da saúde de seus pacientes, assim como um professor saiba ensinar, mas para que 
isto ocorra, deve-se lembrar de que tais tarefas também se desenvolvem dentro de 
um contexto relacional, e que se faz necessário uma compreensão e capacidade para 
lidar com o ser humano, percebê-lo, relacionar-se bem com o outro, assim como, ter 
capacidade empática, e compreensão de suas próprias emoções (MINICUCCI, 2012). 
Os pacientes apresentam melhoras, em seu quadro clínico, e atribuem algumas 
vezes, tal fato a capacidade do profissional de saúde em acolhê-los na hora da dor. 
As relações humanas exigem disponibilidade para o encontro humano, nem sempre 
este processo se torna fácil, mas se pode minimamente considerar que é possível um 
preparo, na medida em que o ser possui uma abertura para tal encontro. 
É importante lembrar que todo desenvolvimento das sociedades humanas 
depende do desenvolvimento e amadurecimento das relações humanas, assim 
como o futuro do planeta. 
 
encurtador.com.br/drIXY 
 
 
 
 
 
1.1 As Relações Humanas e as Épocas: Breve Relato Sobre as Eras 
Históricas 
A dinâmica das relações humanas vem mudando com o tempo. 
Inicialmente, os seres humanos agrupavam-se e se relacionavam em decorrência 
da própria sobrevivência. Desde o berço da humanidade, o homem percebeu as 
vantagens para sua sobrevivência ao permanecer no bando. A vivência em bando 
trouxe a proteção da espécie, e, consequentemente, as relações começaram a ser 
estabelecidas, marcando o início do processo civilizatório. 
A forma de comunicação utilizada, no período da Pré-História, era 
basicamente manifesta através de gestos e símbolos. Neste período, o homem 
passa a se diferenciar dos animais por viver em grupos, ou bandos com grande 
número de integrantes, assim como pela criação de arma para caça. A criação de 
armas para caça marca o início do poderio bélico como vantagem para 
sobrevivência. 
 
encurtador.com.br/evGIR 
 
Historicamente, os conflitos começam a surgir a partir deste momento, sejam 
eles pela dominação, do mais forte do bando sobre os outros integrantes, ou entre os 
diferentes bandos. O início do desenvolvimento das relações humanas, na Pré-
História, fica assim marcado, desde os primórdios da humanidade, pela necessidade 
de sobrevivência, pelo exercício da comunicação, pelo conflito e pelo surgimento do 
líder, sendo que este último nasce da dominação do mais forte sobre o mais fraco, 
portanto, naturalmente, o líder era o mais forte do grupo fisicamente. 
Na Idade Antiga, surge o início da escrita e, com isso, o ser humano passa a 
comunicar-se de forma mais elaborada e sistematizada. Período que se inicia 
aproximadamente,por volta do ano de 4000 a.C., neste momento o homem passa a 
 
 
 
criar leis e regras para garantir a organização e a vida das pessoas na sociedade. O 
papel do líder assume outra conotação neste período histórico, através da criação do 
Estado, de leis e regras para serem aplicadas na sociedade, com a ideia de oferecer 
organização e estabilidade para os seres humanos, cabe ao mesmo governar o 
Estado e garantir que as leis possam ser cumpridas. 
Neste período da civilização, surgem também, as primeiras grandes religiões, 
o Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo e o Budismo, marcando assim, grandes 
grupos, aonde os integrantes se relacionavam entre si, através da relação com o 
Divino. O Divino e as leis vão surgir como Fenômenos Intermediários das relações 
humanas. Os Fenômenos Intermediários, neste caso, são compreendidos à luz da 
teoria Psicanalítica, expressa na figura de Winnicott. Tal conceito traz em si a ideia 
de espaço potencialmente criativo, lugar onde o interno do ser humano manifestasse 
para o externo, local da cultura e criatividade, área intermediária, na qual o subjetivo 
do ser manifesta-se e encontra-se com a realidade externa (ABRAM, 2000). Este 
período, também é marcado pelo desenvolvimento da filosofia grega, e seus 
avanços teóricos. 
Pode-se pensar em um avanço evolutivo do ser humano na sociedade, a 
barbárie aos poucos vai sendo abandonada como forma de relação e o pensamento 
racional começa a criar espaço na civilização (ARIÈS; DUBY, 1989). A Idade 
Média, também conhecida como a Idade das Trevas, tem seu início no século 
V, e dura por volta de mil anos. Período em que o Império Romano tem sua ascensão 
e queda. Como aponta Ariès e Duby (1989. V.I p. 401) a seguir: 
 
Três séculos se passaram. Clóvis foi batizado em 499 e recebeu as 
insígnias de cônsul de Roma (quer dizer, de Bizâncio, capital do Império 
Romano amputado em suas províncias ocidentais, que os bárbaros 
ocuparam). Aboliuse o mundo grego - romano no Ocidente, onde começam 
os nossos tempos [...] Barbarização do Ocidente, porém menos sob os golpes 
dos germanos, admiradores da grandeza romana, que em consequência de 
sua tomada do poder político; humilhada por não mais deter o comando, a 
velha aristocracia dos notáveis, ao mesmo tempo pais das cidades e nobreza 
funcional no aparelho romano, já não encontra sentido em nada, cruza os 
braços e perde o que fazia do mundo romano uma sociedade “civilizada”: 
uma vontade inconsciente de autoestilização; apenas a igreja, para seus 
próprios objetivos, mantém um pouco dessa vontade. 
 
As relações humanas são pautadas e manifestas pela 
violência, medo e por movimentos repressores na política e na religião. 
 
 
 
A Igreja Católica neste período, entre outros aspectos, destaca-se pela relação 
com seus fiéis, ou infiéis, e pela grande Cruzada empreendida no Oriente Médio para 
combater os mulçumanos. 
As relações neste período também são marcadas pelo exercício de 
poder absoluto de alguns sobre a vida de outros. Sob o domínio do medo, 
os seres humanos que se encontravam em uma posição inferior ao líder, vivenciavam 
submissão absoluta (ARIÈS; DUBY, 1989). 
 
encurtador.com.br/egsLM 
 
As relações familiares em sua constituição eram inicialmente formadas por 
interesses econômicos e de conveniência, os casamentos eram arranjados pelas 
famílias sem o consentimento dos filhos. Estas relações humanas que se 
estabeleciam não tinham como preceito para a união o sentimento ou a paixão 
amorosa. 
Passamos agora para a Idade Moderna, historicamente, período que se inicia 
no século XV, marcado por profundas mudanças na vida e nas concepções de 
mundo do Continente Europeu. As relações humanas passam por transformações 
neste momento. 
Este período também é chamado de Renascimento, pois neste momento 
ocorre a retomada de alguns valores desenvolvidos pelos antigos gregos na Idade 
Antiga. A Idade Moderna foi um período marcado por grandes navegações e a tomada 
de consciência de um mundo ainda por ser descoberto e explorado pelo homem, 
diferentemente do mundo preconizado pela religião, totalmente construído e 
terminado por Deus. Inicia-se nova relação do ser humano com o mundo. 
 
 
 
O conhecimento científico passa a ser uma meta em progressão, em 
detrimento do conhecimento religioso (ARIÈS; DUBY, 1989). O conhecimento passa 
a ser centrado no exercício da razão pura, ou seja, o que se inicia é um período em 
que os sentimentos ou os sentidos não devem ter interferência em tal exercício. 
Neste período, o Iluminismo apresenta a Razão como meta a ser desenvolvida 
e alcançada no avanço das civilizações e do conhecimento, tal movimento serve de 
apoio para a Revolução Francesa. 
Nasce a noção de progresso e reivindicação de lugares melhores na 
sociedade, através do trabalho e do conhecimento. Todo este movimento marca o 
início de grupos que se estabeleciam e se relacionavam através das reivindicações 
por direitos de uma parte da sociedade marginalizada e esquecida. 
Os grupos criam força para que as mudanças sociais ocorram; as relações 
humanas dentro destes grupos apresentam caráter progressista (OSÓRIO, 2004). 
 
 
encurtador.com.br/uKPYZ 
A Revolução Industrial, outro marco importante, traz profundas transformações 
nas relações familiares. A invenção da máquina a vapor iniciou uma revolução 
tecnológica e, como consequência, trouxe transformações nos hábitos, valores 
humanos e costumes. 
Com a possibilidade de ascensão financeira, as famílias passam a ser 
constituídas pelo amor, embora na Idade Média as uniões pudessem se constituir 
através dos sentimentos amorosos, isto não era considerado fator decisivo para que 
as pessoas se unissem através do casamento (FERRY, 2012). 
Pode-se pensar que, deste ponto de vista, ocorre um enfraquecimento nas 
 relações familiares no modelo antigo, que consistia no matrimônio dos filhos decidido 
pelos pais. 
 
 
 
Finalizando este breve relato, adentramos no contemporâneo, ou como alguns 
historiadores apontam, no período Pós-Moderno. Neste período, o grande avanço 
científico tem como base o amadurecimento do Iluminismo, surgem novos 
conhecimentos para a compreensão do homem e sua relação com o mundo (ARIÈS; 
DUBY, 1989). 
A Idade Contemporânea é marcada por grandes conflitos e eventos que 
abalaram o mundo, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, mas 
também a Guerra Fria e a criação da bomba atômica. 
Por outro lado, surgem movimentos nos quais a solidariedade e o afeto são 
razões para as pessoas se agruparem. 
A forte tendência, embora a passos pequenos, do ser humano, de não mais 
morrer pela religião ou pela revolução, mas tentar preservar o planeta para as futuras 
gerações ou escolher constituir uma família através do amor, marcam uma nova 
forma do humano se relacionar consigo e com o mundo. Ainda que desajeitadamente, 
como nos comprova a história, o ser humano vem seguindo um caminho evolutivo 
de mudança (FERRY, 2012). 
Neste contexto, os próximos capítulos serão um convite para conhecermos 
alguns conceitos sobre as dinâmicas das relações humanas e liderança. Como nos 
aponta a história, tais conceitos seguem em paralelo com a evolução do ser humano 
no campo social e individual. 
1.2 Relações Humanas: Conceitos e Teorias 
O homem está em constante atividade transformadora, em sua relação 
pessoal, com o outro e com o seu mundo, relações que têm seu princípio na 
necessidade (RIVIÈRI, 2000). À luz da psicologia, ciência que se propõe a estudar o 
comportamento das espécies, humana e animal; da psicanálise, método 
psicodinâmico, de observação e análise do comportamento humano criado por Freud; 
e da sociologia, que se propõe a estudar as relações entre as pessoas que 
 vivem em um determinadogrupo social ou as relações existentes entre os distintos 
grupos sociais, o conceito sobre relações humanas, vem sendo construídos após a 
revolução industrial. 
As Relações Humanas podem ser: intrapessoais, ou seja, relação de 
comunicação, consciente ou inconsciente (Freud, 2000), estabelecida por um 
 
 
 
indivíduo com ele mesmo, ou interpessoal, que diz respeito à relação humana 
estabelecida entre as pessoas (MINICUCCI, 2012). A nomenclatura Relações 
Humanas pode ser entendida, usualmente, como relações interpessoais, que 
ocorrem entre as pessoas, membros de um grupo e entre os grupos dentro de uma 
instituição, ou organização (MINICUCCI, 2012). 
Podemos pensar também que essas relações interpessoais podem ter seu 
início desde a gestação de um bebê, na medida em que a mãe passa a imaginar 
como seria a criança, ou ter respostas do seu bebê, ainda em sua barriga, quando 
está o acaricia. Pesquisas sobre psiquismo do bebê, na vida intrauterina, tem 
apontado para respostas interessantes no sentido da constituição de uma relação 
humana já nos primórdios da vida (SOUZADIAS, 1999). Portanto, as Relações 
Humanas podem ser estudas e observadas desde os primórdios da vida de um ser. 
O conceito, de Relações Humanas também pode ser entendido, como a 
interação que ocorre entre duas pessoas, no mínimo. Esta interação pode se 
manifestar através da forma física, mímica e verbal (SAMPAIO, 2000). As teorias 
sobre as Relações Humanas surgem de áreas próximas, mas, não iguais, portanto, 
cabem aqui algumas distinções. 
A Teoria das Relações Humanas surgida no campo da Sociologia das 
Organizações difere, por exemplo, das teorias que têm em sua base os conceitos 
psicanalíticos, a primeira, vale a pena lembrar, trata do homem e suas relações com 
os grupos sociais, enquanto que a segunda revela a relação do homem com ele 
mesmo, seus aspetos subjetivos, e com o grupo, mas podemos pensar que embora 
tais teorias tenham visões sobre o homem diferentes, ambas podem auxiliar na 
compreensão desta complexidade que é o ser humano. 
O movimento das Relações Humanas surge como reação crítica, contra a 
Organização Científica do Trabalho. Esta última trata-se de uma teoria administrativa, 
que teve seu início por volta do ano de 1903, cujo mentor, foi o engenheiro americano 
Frederik W. Taylor. Com ênfase nas tarefas, nos métodos de trabalho e enfoque 
na racionalização no nível operacional para o alcance da eficiência, tal teoria trouxe 
a tecnologia como fator de influência no pensamento da época, em detrimento do ser 
humano (CHIAVENATO, 2005). 
 A seguir será apresentado um gráfico com as principais características do 
modelo da Organização científica do trabalho. 
 
 
 
 
FONSECA, 2013. 
 
Esta teoria trouxe à tona conceitos rígidos e mecanicistas, tratando o ser 
humano como uma máquina, sendo necessário a sua reformulação em decorrência 
do próprio desenvolvimento humano. 
Neste sentido, surge a Teoria das Relações Humanas, pode-se dizer que ela 
se dedica à compreensão e aos estudos das condições humanas do trabalho. 
Tem como seu mentor o cientista social Elton Mayo (1880-1949), dentre os 
seus trabalhos o que mais se destaca é a Experiência de Hawthorne. Psicólogo 
industrial australiano que preconizava que a monotonia conduzia a fadiga e que os 
aborrecimentos levavam a pensamentos depressivos, assim como acreditava que o 
conflito era uma ferida social, e a cooperação e a ajuda mútua trariam o bem-estar 
social (DAVEL; VERGANA, 2012). 
A experiência de Hawthorne nasceu da necessidade de humanizar e 
democratizar a gestão, estava sintonizada com os avanços da psicologia e da 
sociologia da época, e acabou por demonstrar a inadequação dos princípios da 
Teoria Clássica de gestão de pessoas. Tal experiência trata-se de uma pesquisa 
realizada entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo em indústrias 
americanas, com grupos de trabalhadores (DAVEL; VERGANA, 2012). 
Através de entrevistas e observações, tais estudos evidenciaram a importância 
da coexistência de uma organização formal, dentro de uma lógica de custos e 
eficiência, com a informalidade da lógica de sentimentos e afetos. A conduta dos 
trabalhadores, não poderia ser compreendida, caso fosse ignorado a constituição 
informal dos grupos, as relações humanas e os vínculos existentes entre os 
participantes do mesmo, assim como, as relações dos grupos entre si e com a 
empresa como um todo. 
 
 
 
Dentro deste contexto podemos observar novamente a evolução da 
compreensão das Relações Humanas em consonância com o desenvolvimento sócio 
e histórico. A seguir será apresentado um quadro com os principais tópicos da Teoria 
das Relações Humanas. 
 
FONSECA, 2013. 
 
Os sentimentos e afetos passam a ser considerados na constituição das 
relações humanas no ambiente de trabalho. No item anterior deste capítulo, foram 
levantadas as mudanças nas constituições das relações familiares, as quais, também, 
após a revolução industrial, passam a considerar os sentimentos na construção dos 
vínculos, lembrando que isto poderia acontecer, mas não era necessário. 
Hoje podemos afirmar que para a constituição das relações humanas os 
sentimentos são fundantes e necessários. No próximo item serão levantados, alguns 
dos padrões de relação comuns a toda a espécie humana. 
1.3 Os Padrões de Relação 
Ao falarmos sobre relações humanas, estamos nos aproximando de 
 algo que diz respeito a todos enquanto espécie humana, embora todos sejamos 
portadores de singularidade, podemos também perceber aquilo que nos torna 
próximos uns aos outros, criando, assim, uma identificação. 
De acordo com Ferreira (2005, p.602 - 694), entendemos o sentido das 
palavras padrão e relação como: 
Padrão [...] 1. Modelo oficial de pesos e medidas. 2 Aquilo que serve de base 
ou norma para avaliação; medida. 3. Aquilo que serve de modelo à feitura 
de outro. [...] 5. Modelo, exemplo, protótipo. 
E quanto ao conceito de relação: 
 
 
 
 
Relação [...] 1. Ato de relatar; relato. [...] 3. Vinculação, ligação. 4. 
Comparação entre duas quantidades mensuráveis. 
5. Ligação, contato; comunicação ou interação entre pessoas, grupos ou 
países. 6. Relacionamento (3). [...] 
 
Alguns estudos apontam para padrões de que se estabelecem dentro de um 
contexto relacional humano. Por exemplo, temos a noção de vínculo formulada por 
Riviere (2000), que é compreendida como uma organização, complexa, que inclui 
dois seres humanos e sua mútua inter-relação com os processos de comunicação e 
aprendizagem. Estas relações intersubjetivas acontecem em decorrência das 
necessidades, que podem ser primitivas, como as de sobrevivência, mais 
amadurecidas como as de afetos, ou ainda, as de ordem mais operacional, 
como as relações que se estabelecem em função de uma determinada tarefa, e 
outras. Na prática, as necessidades aqui descritas podem se misturarem e se 
agregarem. 
Estas necessidades são a base da motivação para que as relações humanas 
aconteçam e os vínculos se constituam. Dentro do processo de constituição vincular 
das relações do sujeito estão presentes as fantasias inconscientes ou conscientes, 
as vivências infantis e adultas, sejam elas também conscientes ou inconscientes. 
Os conteúdos inconscientes tratam de marcas mnêmicas ou construções de 
representações psíquicas, sejam elas de ideias ou afetos, subjacentes ao consciente, 
ou seja, uma parte da qual o sujeito não tem acesso consciente, a não ser através 
dos conteúdos psíquicos manifestos que surgem dentro de um contexto relacional 
com outra pessoa, ou através dos sonhos, na relação do sujeito consigo mesmo. 
Não podemos esquecer que, em uma relação entre duas pessoas, também 
está presente a relação do sujeito com ele próprio. Quanto melhor a pessoase 
conhecer, melhor será sua compreensão para com os outros (MINICUCCI, 2012). 
A seguir será descrito um recorte clínico de um caso para esclarecer e 
exemplificar alguns padrões de relação que podem surgir em um contexto 
relacional, sobre a importância da comunicação e da relação humana 
estabelecida entre uma equipe de saúde, para o auxílio da construção de uma 
relação humana, entre uma jovem mãe e seu bebê. 
O caso se passou em uma enfermaria dentro de um hospital geral, o 
psicólogo havia sido solicitado para fazer uma avaliação psicológica da mãe, 
 
 
 
que, apesar de ter leite, se recusava a tirá-lo para alimentar seu bebê, assim 
como recusava tocá-lo. Por ser prematuro, o bebê havia ficado no hospital para 
receber alguns cuidados, enquanto a mãe já estava de alta. O medo de todos 
osintegrantes de equipe, inclusive do psicólogo, era com respeito à possibilidade 
de a mãe abandonar o bebê no hospital e desaparecer, ou ainda, a saúde do 
bebê ser afetada pela falta do estabelecimento de vínculo com a mãe. 
Toda a equipe já estava preparada para tais fatos, inclusive para uma 
possível adoção, caso ocorresse o abandono, por exemplo, pois, frente ao bebê e 
seu desamparo, um dos padrões de comportamento que surge é o de cuidar, 
para que ele sobreviva. Vale lembrar que isto é verdade desde a Pré-história, as 
pessoas se relacionavam e andavam em bandos para sobreviver. O problema é que, 
hoje, um bebê necessita para sobreviver, além dos cuidados físicos, de afeto, e isto 
só pode ocorrer no processo do estabelecimento de um vínculo, e este, a princípio, 
poderia ser construído através da relação da mãe com o seu bebê. 
A mãe não conseguia conversar com ninguém. Todos os membros da equipe 
suspeitavam que fosse de um depressão pós-parto que estava guiando o 
comportamento da mesma, tal fato não se confirmou através de uma avaliação 
psicológica realizada. 
Com muito cuidado e delicadeza, uma das enfermeiras conseguiu estabelecer 
um vínculo com a mãe. Esta profissional abriu mão de qualquer julgamento moral 
e a acolheu, dando atenção para suas histórias. Aos poucos, a mãe foi relatando 
sobre sua história de infância: havia sido abandonada em um hospital pela mãe 
biológica e adotada por uma enfermeira, que falecera há pouco tempo. A mãe 
encontrava- se em plena vivência do luto pela perda da mãe adotiva. 
O medo desta mãe era o de se vincular ao bebê e este morrer por ser 
prematuro. Novamente, é importante recordar que o medo da morte ou da perda é 
algo comum a todos os seres humanos. Através deste relato, a mãe, após chorar 
muito, se aproxima do bebê e consegue cuidar dele, até sua alta. 
Com relação à enfermeira, esta, por possuir uma habilidade no que diz 
 respeito à empatia, conseguiu sensibilizar-se o suficiente para se aproximar da mãe 
e relatar o ocorrido em reunião de equipe, e esta por sua vez, ampliou o acolhimento 
para com a paciente. Todos os dias alguém da equipe se aproximava da mãe 
para escutá-la sobre seus medos e perdas. 
 
 
 
A mãe, naturalmente, estava revivendo, através do nascimento de seu filho, 
suas próprias experiências infantis. Não havia percebido o quanto tal fato a estava 
afetando e a impedindo de cuidar do seu bebê. Através do acolhimento oferecido 
pela enfermeira, a mãe pôde perceber o medo fantasioso que a estava paralisando. 
Neste sentido, embora o tratamento psicológico possa ser uma ferramenta 
importante, o que se pode pensar, além disso, é que a própria relação humana 
pode ser altamente terapêutica, independentemente da profissão exercida pelo 
membro de uma equipe de saúde, o importante é a disponibilidade para o encontro 
humano. 
A seguir, vamos observar no próximo item o que pode obstruir este tão 
importante processo que é o estabelecimento das relações humanas. 
 
1.4 Processos Obstrutivos das Relações Humanas: O Conflito 
Neste processo em construção, muitos desvios podem acontecer, alguns 
podem surgir da própria dificuldade de codificação da mensagem, em
 decorrência de vivências subjetivas, ou seja, o processo de comunicação
 pode falhar, seja do lado de quem comunica ou do lado de quem recebe a 
 mensagem. Muitos processos obstrutivos podem surgir, gerando, assim, conflitos 
dentro de um contexto relacional. 
Por conflito, entendem-se, mecanismos em ação simultânea, de impulsos 
antagônicos, frente aos quais o indivíduo necessita fazer uma escolha, sendo que, 
sem a possibilidade de fazer tal escolha, isto acarretará em frustração, (CABRAL; 
NICK, 1989). 
O conflito pode surgir na relação intrapessoal, ou seja, na relação do 
sujeito com ele mesmo, nas relações interpessoais entre as pessoas ou, ainda, 
nas relações entre os grupos. 
Nas relações interpessoais, os conflitos podem surgir através da busca 
pelo poder, de personalidades que funcionam de modo primitivo, aonde a 
solidariedade ainda não foi instalada como característica, e que trazem em si o 
germe da opressão. 
As situações novas, também, entre outros fatores, podem gerar conflitos 
entre as relações humanas. 
 
 
 
O ser humano apresenta, naturalmente, tendência à acomodação. Frente ao 
novo se depara com a necessidade de uma adaptação, este movimento em si gera 
conflito interno, entre sua tendência a permanecer na repetição e o desconforto do 
estresse gerado pelo novo que as situações desconhecidas, por serem novas, 
apresentam (ARANTES; VIEIRA, 2010). 
O medo da perda e o do ataque, pertinentes ao ser humano desde a sua 
origem, quando em desequilíbrio, geram conflitos intrapessoais e interpessoais. 
Estes medos surgem frequentemente frente a situações novas e se manifestam, 
muitas vezes, através de comportamentos ansiosos ou defensivos. 
No contexto das relações humanas não se pode esquecem que todos os seres 
carregam uma história, que se inicia na gestação humana, mas também muito 
antes dela, pois todos os seres fazem parte de um contexto relacional antes de 
nascerem, através da história de seus familiares. 
São histórias pessoais que estão no inconsciente, de geração em geração, 
desde os primórdios da espécie, e, embora o ser tenha evoluído muito, com avanços 
das ciências de modo geral, a alma humana ainda hoje tem muito a ser desvendada, 
e muitos conflitos a serem compreendidos e resolvidos. 
Conflitos estes que obstruem o processo do desenvolvimento das relações 
humanas e que podem estar vinculados a experiências traumáticas armazenadas 
no inconsciente, que podem, também, estar sendo passadas de geração a geração, 
assim como podem vir a se manifestar nas relações intrapessoais e interpessoais 
(CORREA, O.B.R. (ORG.), 2001). 
 
 
 
 
 
2 RELAÇÕES HUMANAS E OS GRUPOS 
 
 
 
Para falar sobre relações humanas e grupos, faz-se necessário relembrar 
aqui que os grupos são constituídos por seres humanos que carregam consigo 
sua subjetividade e trazem em si a singularidade própria de cada um. 
Todos os seres humanos, desde a Pré-História, vivenciaram a experiência 
grupal, como exemplo disso tem-se a experiência dentro dos bandos para a 
sobrevivência da espécie, além de outros grupos que foram surgindo com a 
evolução da espécie humana, como as famílias, os grupos escolares, os grupos 
de trabalho, os grupos de recreação e outros, os quais a criatividade humana 
pôde fazer emergir espontaneamente. 
Pode-se concluir, naturalmente, que um grupo é constituído por seres 
humanos, que fazem parte dele e se afetam mutuamente, a exemplo disto, pode-se 
pensar em uma orquestra, onde todos os músicos, com seus instrumentos, estão 
interligados em mútua afetação para produzir o som de uma sinfonia. 
Do que se trata um grupo, afinal?Esta é uma excelente pergunta. Ao definir 
o que é um grupo, tem-se que trazer à luz a diferença de agrupamento de pessoas 
e grupo. Em um grupo, ou sistema humano, como alguns autores apontam 
(OSÓRIO, 2003), existe uma ação interativa das quais seus integrantes, trazendo 
consigo sua potência, reconhecem sua própria singularidade e objetivos 
compartilhados por todo o grupo. 
Um bom exemplo disso é uma equipe de saúde, que tem como objetivo cuidar 
de uma enfermaria neonatal, todos tem em comum a meta de dar assistência 
aos bebes, mas este mesmo grupo tem também, reunião clínica semanal e após 
ela tomam café juntos. 
Durante todos estes encontros, uns acolhem os outros através das 
experiências compartilhadas, tanto nas reuniões clínicas como no café, tal atitude 
permitiu que este grupo desenvolvesse uma relação afetiva e afetuosa, facilitando, 
assim, a tão difícil tarefa de trabalhar em uma enfermaria pública com bebê de alto 
risco. 
Para que um grupo seja formado, vale lembrar, se faz necessária a interação 
entre os membros, e, naturalmente, os papéis passam a ser desempenhados, 
 surgem, assim, líderes ou liderados, pacificadores ou agitadores. Ao esclarecer o 
conceito de agrupamento, vale à pena pensar em uma fila de supermercado, na 
qual existe um grupo de seres reunidos para pagar por suas compras, mas eles 
 
 
 
não interagem e sua singularidade não é reconhecida pelos integrantes da fila. No 
máximo, haverá uma interação entre o membro da fila e o funcionário do caixa. 
Os grupos podem ser naturais, como a família, ou espontâneos, como os que 
se constituem em um ambiente de trabalho. Todas as vezes que estes grupos se 
comportarem, segundo a própria definição de grupo e não agrupamento, pode-se 
dizer, por exemplo, que a família ou o grupo de trabalho realmente é um grupo ou 
sistema humano, do qual o ser pertence. 
Fica impossível separar os seres humanos dos grupos e da sociedade, os 
quais estão situados dentro de um contexto sócio histórico de uma época, e isto se 
faz verdade desde sempre. 
Dentro do processo relacional que ocorre nos grupos, vários fenômenos 
podem ocorrer, nos próximos itens desta unidade será abordado, através da teoria 
e prática, alguns destes fenômenos relacionais que ocorrem em alguns grupos os 
quais o ser faz parte, como a família e o trabalho. 
 
2.1 Relações Familiares 
O bebê, ao nascer, forma com sua mãe, ou alguém similar (aquele que vai 
cuidar do bebê e constituir o vínculo humano), um primeiro grupo que vai ser fonte da 
primeira experiência de relação humana e que acontece através desta interação, a 
partir desta relação, ou ao mesmo tempo, os outros membros da família vão sendo 
inseridos neste contexto interativo com o bebê e vão desenvolvendo o 
reconhecimento frente às singularidades do novo membro do grupo, a saber, o bebê. 
Assim, pode-se afirmar que a família, independentemente do número de 
seres que façam parte dela (mãe e pai; mãe e avó; pai e avó; tia e mãe e outras 
formações), faz parte da primeira experiência de relação humana, e que a partir 
destas relações familiares outras construções vão acontecer durante o 
desenvolvimento do ser, assim, mais tarde, a criança passa a fazer parte de outros 
grupos, desenvolvendo- se em um contexto relacional desde criança até a idade 
adulta. 
Este desenvolvimento fica marcado pela experiência do ser que se manifesta 
dentro de um contexto grupal, no qual os membros integrantes dos grupos trazem 
 
 
 
consigo seus valores, suas experiências, memórias que podem ser inconscientes ou 
conscientes, interagindo em mútua relação uns com os outros. 
Estas memórias ficam armazenadas e, mais tarde, podem se tornar padrões 
de comportamento, que vão surgir através do comportamento do ser e a manifestação 
da sua subjetividade. 
Pode-se pensar que, atualmente, as famílias são constituídas pelo afeto 
amoroso, e que tudo tem um início, ou seja, antes do bebê vem o casal que 
o gerou. Vale lembrar que cada 
integrante do casal carrega consigo suas memórias inconscientes ou 
conscientes de padrões de comportamento. Apresentam diferenças com relação a 
aspectos biológicos, psíquicos, sociais e culturais, entre outros. Tais diferenças 
podem ser fonte de conflitos. Os pontos mais marcantes no desenvolvimento de um 
ser e dos grupos dizem respeito a estas diferenças e de como elas podem ser 
manifestadas, vividas, mas também esclarecidas (RIVIÈRI, 2000). 
As diferenças surgem e provocam mudanças no contexto grupal familiar, por 
exemplo, o nascimento de um bebê em uma família altera completamente os papéis 
desempenhados pelos membros deste grupo. A mãe, que antes era somente 
esposa e filha, assume o papel de mãe devido à própria singularidade do bebê, 
que convida para que alguém interaja com ele, ou ele pode adoecer. Esta 
singularidade é biológica, mas também psíquica, pois, como nos capítulos anteriores 
foi descrito, o bebê tem necessidade de desenvolver um vínculo humano, isto quer 
dizer que não são somente os cuidados físicos que garantem a sua saúde. 
O próprio bebê torna-se uma influência para a mudança e o desenvolvimento 
de novos papéis na família. Dentro desta visão, pode-se pensar que o grupo familiar, 
quando está formado ou melhor estruturado, existe a influência entre os membros e 
um reconhecimento das singularidades de cada um. Mais adiante, o bebê vai 
reconhecendo, através dos vínculos constituídos, quem desempenha o papel de mãe, 
pai e se reconhece no papel de filho. 
Estes papéis podem sofrer inversões de acordo com a subjetividade de cada 
um, por exemplo, pode ocorrer que o pai, pela própria imaturidade psíquica, 
permaneça no papel filial, esperando receber cuidados maternos da sua parceira, 
esta, por sua vez, pode também funcionar de modo regredido psiquicamente e 
esperar do marido os mesmos cuidados filiais, neste sentido, o caos está instalado, 
pois o bebê não pode ocupar o papel que, pela sua própria condição, se faz 
 
 
 
necessário. Tal dinâmica, muitas vezes, instaura- se no grupo familiar, trazendo 
conflitos e prejuízos para o desenvolvimento de todos os membros. 
A dinâmica familiar funcional é aquela que consegue reconhecer as diferenças 
individuais dos membros e está intimamente ligada ao desenvolvimento dos papéis 
de mãe, pai e filho, ou a possibilidade de que alguém exerça tais funções. Os papéis 
familiares de mãe e pai, assim como o de filho, podem ser ocupados por outros 
membros do grupo, não necessariamente pelos pais biológicos, por exemplo. 
A família também muda com a época, se por um lado, no 
contemporâneo, as famílias são constituídas pelo amor, também vale lembrar que o 
ser humano vai se atrapalhar um bocado até que tal sentimento seja levado a sério. 
Alguns grupos familiares ainda funcionam como simples agrupamentos humanos sem 
interagir entre si e sem o reconhecimento de suas singularidades. 
 
2.2 Relações de Trabalho 
O homem, em sua condição humana, apresenta várias necessidades, como 
já foram mencionadas anteriormente, tais necessidades tornam-se fontes de 
motivação para as ações e vivências em grupo e com relação ao trabalho. 
O ser humano, frente ao trabalho, segundo Minicucci (2012), apresenta 
necessidades egoísticas, físicas e sociais. Por necessidades egoísticas se entende 
as necessidades do homem de ser útil, de ter autonomia para realizar tarefas que 
considera importante, as quais têm valor para ele e que trazem satisfação. 
As necessidades físicas ou de segurança existem desde a PréHistória, 
embora elas possam ter evoluído com o tempo, ainda dizem respeito à necessidade 
de moradia, comida, água e, mais recentemente dentro da nossa cultura,manter um 
padrão de vida que propicie a satisfação material compatível com as exigências de 
nossa sociedade. 
Com relação às necessidades sociais, é importante lembrar que o homem é 
um ser social pela sua própria natureza humana e que, quando ele se isola, pode ser 
indício de algum sofrimento relacionado a tal conduta, como acontece em algumas 
patologias psíquicas que apresentam seus primeiros sinais através do isolamento 
social, por exemplo, no caso das depressões. O ser humano, naturalmente, enquanto 
ser social, procura interagir com outros seres, ter reconhecimento de sua 
 
 
 
singularidade e fazer parte de algum grupo, sendo tal interação fonte de alegria e 
satisfação, ou não, estas são as necessidades sociais. Embora as necessidades 
do ser humano com relação ao trabalho possam ser descritas, elas não podem ser 
limitadas a tais descrições, pois o ser traz em si sua espontaneidade e criatividade, 
tornado esse processo dinâmico, mutável e interligado. Para finalizar, é importante 
ressaltar que as necessidades também podem ser inconscientes e tão importantes 
quanto àquelas que são perceptíveis e conscientes ao trabalhador. 
Alguns tipos de organização de trabalho trazem uma sobrecarga psíquica para 
o trabalhador, em decorrência da própria insatisfação gerada pela organização do 
trabalho associada ao estresse da tarefa. Muitas vezes, essa insatisfação se dá no 
nível do inconsciente, mas os efeitos são visíveis na saúde do trabalhador, gerando 
doenças físicas e emocionais. 
 
Quadro das necessidades com relação ao trabalho 
 
FONSECA, 2013. 
 
Para exemplificar, pode-se voltar ao caso clínico anteriormente descrito e 
imaginar que a enfermeira, a qual acolhera a mãe, estivesse hipoteticamente em 
seu segundo plantão sem folga, por conta da necessidade de sustentar sua família, 
mas, mesmo assim, estava motivada para acolher a mãe e o bebê. Tal motivação 
decorria de sua necessidade inconsciente de cuidar dos pacientes, para com pensar 
sua ausência frente à própria família. Caso fosse ignorada e não validada em sua 
percepção sobre a mãe do bebê, ou até mesmo impedida de relatar sua 
 
 
 
observação, por uma questão hierárquica, aonde seu saber é desconsiderado frente 
o saber de outros membros da equipe de saúde, qual seria o desfecho para a dupla 
mãe-bebê e qual seria o resultado final na enfermeira? 
Como nos aponta Dejours (1988), a relação entre o homem e o trabalho é 
histórica e contínua, e traz consequências tanto benéficas quanto maléficas para 
a vida do ser humano. Como resultado de um organização do trabalho baseada no 
modelo Taylorista (Organização Cientifica do Trabalho, OCT), o indivíduo tende a 
vivenciar o trabalho como um causador de sofrimento mental, podendo evoluir para 
o adoecimento psíquico e físico. 
O trabalho, neste sentido, não traz satisfação, tampouco espaço para a 
sublimação das necessidades criativas do homem, tornando-se maçante e repetitivo, 
sem possibilidade de crescimento. Dentro dessa abordagem, o trabalhador 
praticamente vê-se inutilizado em sua capacidade de pensar, pois, somente sua 
atividade corporal é solicitada. A atividade do pensar fica privilegiada a apenas 
algumas categorias, neste modelo a hierarquia de cargos é fortemente marcada 
(DEJOURS, 1988). 
O modelo de Organização do trabalho (OCT), ainda vigente em nossos 
dias apesar de todo avanço humano, influencia diretamente o ser humano no que 
diz respeito a sua relação com o trabalho e a felicidade. 
Os estudos de Dejours (1994) sobre a psicodinâmica do trabalho 
compreendem que o trabalhador não é uma máquina para ser padronizada ou 
ajustada, mas um ser humano, singular, que traz sua história e sua estrutura de 
personalidade. Tem suas próprias necessidades psíquicas, no que diz respeito ao 
trabalho e satisfação pessoal, e estas vivências se manifestarão na relação do homem 
com o seu trabalho. 
O ser humano passa uma boa parte de seu tempo exercendo sua atividade 
profissional e relacionando-se com outras pessoas dentro deste contexto e, embora 
o trabalho seja ainda hoje fonte de sofrimento para o homem, podem se observar 
também alternativas ao modelo de gestão baseado na 
Organização Científica do Trabalho que permitem uma relação saudável com 
o trabalho. Estes modelos privilegiam as relações humanas, permitindo uma troca 
horizontalizada de saberes, sem a prevalência de um modelo teórico sobre o 
outro. 
 
 
 
A divisão dos saberes, até então compartimentada através das disciplinas, 
precisou ser revista neste aspecto, para maior compreensão dos fenômenos 
pesquisados (OSÓRIO, 2003). Por exemplo, como restabelecer a saúde de um 
paciente sem considerá-lo um ser biopsicossocial e espiritual? Para responder tal 
questão, vale lembrar o caso clínico apresentado anteriormente. 
A saúde do bebê estava ligada intimamente à relação com sua mãe, sendo 
que a história infantil da própria mãe a estava impedindo de cuidar de seu bebê. 
Foi necessário considerar este aspecto humano do sofrimento da mãe para 
estabelecer o vínculo entre ambos, mas também foi necessário ocorrer a troca de 
saberes entre os profissionais que compunham a equipe de saúde. 
Esta necessidade de inter-relação entre os profissionais de várias disciplinas 
trouxe avanço para diversas áreas e a necessidade do desenvolvimento de novas 
práticas entre os grupos de trabalho, estabelecendo novas formas de relacionamento 
entre os trabalhadores e o trabalho. 
Estas novas formas de organização do trabalho não invalidam a necessidade 
 de realização do ser no que diz respeito aos aspectos físicos, por exemplo, a questão 
do salário, que também afeta as relações humanas dentro de um contexto 
profissional, muitas vezes, trazendo sentimento de injustiça e falta de motivação para 
a realização da tarefa. 
Surgem conceitos de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e 
transdisciplinaridade. Para a compreensão de tais conceitos, vale à pena lembrar o 
conceito de grupo, no qual ocorre afetação entre os membros que estão unidos 
por um propósito, como vimos nas unidades anteriores. 
Ao recordar; pode-se pensar que para ocorrer uma troca humana entre os 
saberes compartimentalizados surge o conceito de multidisciplinaridade, ou seja, a 
interação entre as diferentes disciplinas, cada uma com sua contribuição, mas, 
ainda neste conceito, não ocorrem mudanças no corpo teórico das mesmas 
(GALHEIGO, 1999). 
Na sequência de tal conceito nasce a interdisciplinaridade, observando que 
apenas juntar profissionais de diferentes disciplinas não significaria que haveria real 
interação entre os trabalhadores. Então, surgiu uma mudança no corpo teórico, 
combatendo, assim, uma prática fragmentada resultante das especialidades. 
A interdisciplinaridade traz a possibilidade de interação real entre as 
disciplinas no sentido de uma afetação da qual pode surgir trocas des-herarquizadas, 
 
 
 
possibilitando, através da aprendizagem e feedbacks, mudanças em suas 
conceituações teóricas (OSÓRIO, 2000). Na transdisciplinaridade, conceito que 
 complementa os anteriores, surge a possibilidade de algo muito novo, como algo que, 
através da inter-relação e da troca de saberes de uma equipe multiprofissional, 
transcenda a epistemologia singular de cada disciplina envolvida neste processo, 
trazendo algo que possa ser compartilhado por todas as disciplinas (OSÓRIO, 2000). 
Ao apresentar as formas como o ser humano se relaciona com o trabalho, 
assim como as mudanças ocorridas nas formas em que os grupos de trabalho vêm 
se organizando, se faz necessárias algumas considerações sobre a dinâmica de 
equipe, este processo vivo e fluído do viver em grupo. 
Tais considerações serão apresentadas no próximo item destaunidade, 
assim como os processos que ocorrem dentro delas, como a percepção e a 
comunicação. 
 
2.3 A Dinâmica de Viver em Equipe e Processos Grupais Básicos: Percepção 
e Comunicação 
No contemporâneo como foi exposto anteriormente frente aos avanços, no 
que diz respeito à organização do trabalho, o viver em equipe merece atenção 
especial para aprimoramento humano, profissional e exercício da solidariedade. 
Todos estes aspectos podem ser oferecidos através de uma experiência do viver 
em uma equipe salutar. 
Por equipe pode-se entender um grupo de pessoas o qual está reunido em 
torno de uma tarefa, em um esforço coletivo, dentro de um contexto interacional que 
possibilita troca de vivências, compartilhamento de saberes, amparo das 
experiências vividas e realização da tarefa. 
Para que uma equipe possa funcionar de modo saudável, dinâmico, e 
enriquecedor frente ao coletivo, faz-se necessário considerar alguns aspectos 
importantes que serão ressaltados nesta sessão do livro. A disponibilidade para 
 o encontro humano, a consideração das singularidades de cada membro, a 
 atenção e cuidado com os movimentos humanos psíquicos e comportamentais 
 que ocorrem antes, durante e depois do processo de realização da tarefa são 
aspectos importantes a serem considerados na dinâmica de uma equipe profissional. 
 
 
 
Por movimentos psíquicos se compreendem aqueles que são perceptíveis e 
comunicáveis, mas também, os que não são perceptíveis e que são comunicados 
de alguma forma. Uma boa percepção pessoal colabora na dinâmica da equipe, ou 
seja, quanto melhor o ser se conhecer, melhor também será sua percepção do 
outro, mas vale lembrar que todos carregam conteúdos e afetos inconscientes em 
suas mentes e que tal fato pode afetar nossa percepção com relação a nós e os 
outros. A percepção, segundo o dicionário técnico de psicologia (CABRAL; NICK, 
2005 p. 269), diz respeito ao: “processo pelo o qual o indivíduo se torna consciente 
dos objetos e relações no mundo circundante, na medida em que essa consciência 
depende de processos sensoriais”. 
Os processos sensoriais são ativados frente aos estímulos e são percebidos 
através da percepção sensorial. Os encontros humanos que acontecem dentro de 
uma equipe são naturalmente fonte de estímulos, sejam eles agradáveis ou não. 
A percepção sensorial aparece descrita no dicionário técnico de psicologia (CABRAL; 
NICK, 2005, p. 269) como: “É o produto final de uma série definida de eventos físicos, 
fisiológicos e psicológicos que se desenvolvem em sequência imutável e que tem 
por polos um estímulo e uma reação (ou resposta)”. 
Outra percepção importante a ser esclarecida é a percepção social, a qual se 
trata, em linhas gerais, da percepção de um ser com relação a outros seres humanos, 
seus comportamentos, sentimentos, suas ações e manifestações humanas 
(MINICUCCI, 2012). O viver em grupo, assim como o trabalho em equipe, traz a 
necessidade de uma maior atenção à percepção de si mesmo e do outro para que 
o ambiente interacional da equipe possa ser harmonioso. 
O uso da empatia, capacidade de compreender o que o outro sente, de 
colocar-se no lugar do outro enquanto vivência subjetiva, traz maior flexibilidade de 
ação nas relações humanas, e amplia na percepção do outro (MINICUCCI, 2012). A 
 empatia denota uma sensibilidade social, tal fenômeno é muito importante para que 
uma equipe funcione de modo harmônico, auxiliando, assim, no desenvolvimento da 
tarefa. Quanto maior o número de pessoas empáticas, maior o exercício da 
solidariedade e do amor. Para exemplificar, será relatado um caso clínico que 
ocorreu em uma equipe de saúde mental que atuava em um CAPS (Centro de 
Reabilitação Psicossocial). 
Dentre os vários pacientes que eram atendidos e permaneciam na ambiência 
(conceito que diz respeito ao espaço físico e humano no qual os usuários do serviço 
 
 
 
circulam), um apresentou um episódio de crise com comportamento violento, tal 
conduta havia desestabilizado todo o ambiente e evocado vários sentimentos na 
equipe, inclusive os sentimentos de impotência e raiva, mas, dentro desta mesma 
equipe, o técnico de enfermagem percebeu que seus membros estavam ofendidos 
com o paciente, pois, apesar de todos os esforços e investimentos que foram 
realizados para sua melhora, não apresentava mudanças em seu quadro clínico 
e agredia a todos que se aproximavam dele. 
O técnico em uma atitude empática com a equipe e com o paciente conseguiu 
relatar o que percebeu, sem julgar seus colegas, e acrescentou que, possivelmente, 
o usuário do serviço também nutria sentimento de impotência e raiva, pois 
recentemente sua referência técnica (conceito que diz respeito ao profissional que 
vai desenvolver uma relação humana com o usuário, construir seu projeto 
terapêutico com sua família e se encarregar de ser o guardião e o elo de 
comunicação entre o usuário e o serviço), havia saído do serviço, e esta era a 
única pessoa que conseguira estabelecer um vínculo de confiança com o usuário. 
Este exemplo clínico, além de demonstrar o conceito de empatia através 
da prática do viver em uma equipe de saúde mental, também aponta para outro 
conceito que diz respeito ao fenômeno da comunicação. Frente à comunicação da 
percepção social do técnico de um modo empático, a equipe conseguiu 
sensibilizar-se com o usuário e sair da sensação de impotência e do sentimento de 
raiva que o quadro evocava. Conseguiram perceber o que o usuário estava 
vivendo a partir da perda do único vínculo humano que estabelecera dentro da 
instituição, e, diante de tal percepção, a equipe assumiu outra postura frente à 
dor do paciente. 
Por meio do comportamento violento, o paciente estava tentando comunicar 
algo que, em decorrência da sua fragilidade mental, não conseguia verbalizar. A 
comunicação, como aponta este exemplo, vai auxiliar no processo de inter-relação 
humana, que, quando real, surge entre duas ou mais pessoas através um contato 
psicológico (MINICUCCI, 2012). 
Nos estudos sobre psicologia grupal, Osório (2003) ressalta as observações 
de Lewin sobre a comunicação. Lewin afirma que quando um grupo fica 
impossibilitado de evoluir, isto se deve a bloqueios entre os integrantes em sua 
comunicação. Comunicar, em sua essência, inclui o outro, seja outra pessoa do lado 
de fora, ou guardado com vivência relacional entre ambos, dentro da memória de 
 
 
 
quem comunica, por exemplo, o usuário do CAPS que, com a saída da técnica, 
piora seu quadro clínico e que, pela sua própria condição psíquica fragilizada, ficou 
impossibilitado de estabelecer uma comunicação com o que havia vivido no contexto 
interacional entre a técnica e ele. Apesar disso, lhe possibilitou uma experiência 
de relação humana nova, tranquila e sem agressões. Esta memória relacional não 
pôde ser resgatada pelo próprio paciente no momento em que a técnica foi embora, 
e nem comunicada a ele. Da experiência vivida restou somente a separação e o 
abandono, e frente a estes eventos ele recorreu a suas relações anteriores e 
permeadas por vínculos humanos agressivos e ambivalentes. 
O processo de comunicação inclui, necessariamente, a noção de vínculo, 
como nos mostra Rivière (2012), é sempre um vínculo social, acontece dentro de 
um contexto relacional, mesmo sendo com uma única pessoa, através da relação 
pessoal se reproduz uma trajetória histórica de vínculos determinados e 
experienciados. Por esta razão, o vínculo se relaciona posteriormente no decorrer do 
desenvolvimento humano com a noção de papéis, de status e de comunicação. O 
paciente, neste caso, estava comunicando seus sentimentos e revivendo o papel que 
provavelmente ocupava frente à suafamília, o de doente psiquiátrico agressivo. 
 A aprendizagem de um novo papel ainda não havia se consolidada, apesar 
do olhar novo sobre ele oferecido por meio do tratamento e de novas constituições 
vinculares. Ele estava apenas repetindo o que já conhecia, impossibilitando uma 
 nova aprendizagem. O processo de comunicação traz a possibilidade de 
aprendizagem, tanto quanto as experiências emocionais novas. Nos dois casos, 
pode ocorrer um efeito reparador e, muitas vezes, salutar para o ser através da 
vivência emocional nova. 
Segundo Rivière (2012), as dificuldades ou as resistências que os 
 pacientes apresentam para melhorar seu quadro clínico estão ligadas às 
perturbações frente ao processo de aprendizagem e dificuldades com o novo. Diante 
do medo do novo, podem surgir repetições de comportamentos padronizados e 
estereotipados. 
O emissor de uma comunicação espera ser compreendido e, no geral, toda 
comunicação diz algo além do que é verbalizado, portanto, não é verbal, além de 
ser inédito. Para que uma comunicação ocorra é necessário que exista um emissor 
da mensagem e um receptor. Osório (2003) aponta que o psicólogo Lewin, 
considerado um dos pioneiros nas pesquisas sobre dinâmica de grupo, denota 
 
 
 
que a integração de um grupo se dá através da autenticidade das comunicações e 
que tal autenticidade pode ser aprendida através do grupo. 
A comunicação, quando se manifesta de forma autêntica e clara, sem ruídos 
e sem bloqueios, permite maior sensibilização nas relações interpessoais e 
favorece o trabalho em equipe. O próprio Lewin, ainda segundo Osório (2003), em 
seu grupo de trabalho, observou que as pesquisas não avançavam em decorrência 
de bloqueios que existiam na comunicação entre sua equipe. A comunicação é um 
processo dinâmico no qual as partes interagem para um resultado final, como 
mostra a figura do funil a seguir: 
 
Processo de comunicação 
 
FONSECA, 2013 
 
É importante observar o que não é dito e o que não é escutado em uma 
comunicação, como aponta Fernandes (2003), pois, usualmente, o que não é dito, 
ou o que é escutado, pode estar ligado com determinantes não considerados. No 
mundo interno, ou subjetivo, o ser humano pode filtrar e alterar as informações de 
acordo com suas vivências passadas e seus estados da mente ou ainda de acordo 
com o contexto grupal o qual está inserido no momento da transmissão da 
comunicação. 
A percepção da comunicação pode acontecer de modos muito diferentes, 
dependendo de quem recebe a mensagem, não correspondendo necessariamente 
ao que o emissor está transmitindo. As percepções das mensagens verbais, por 
exemplo, podem estar ligadas ao sentido que o indivíduo vai dar às palavras, 
 
 
 
pois, para cada ser, as palavras têm um significado específico ligado às próprias 
experiências vivenciais com palavras determinadas. 
Pelo exemplo, é possível pensar em um dos problemas que podem 
distorcer a comunicação, a saber, os problemas relacionados à semântica, ou 
seja, o sentido que é dado às palavras. Às vezes, os conflitos surgem por 
diferentes interpretações das mesmas palavras, quando as pessoas que estão em 
interação, desconsideram as diferenças individuais, ou agem através de seus 
preconceitos. 
Para melhorar o processo da comunicação, Minicucci (2012) aponta para a 
possibilidade de aprendizagem e aperfeiçoamento sobre a transmissão da 
mensagem que se envia para a outra pessoa, assim como com relação à 
percepção frente às mensagens que são recebidas dentro de um processo da 
comunicação humana. 
A criatividade se faz importante ferramenta para este processo vivo e fluído que 
é a comunicação. A seguir será abordado o conceito de liderança, intimamente 
ligado aos conceitos anteriores, e, como já se apontou na primeira unidade deste 
livro, inerente ao desenvolvimento humano. 
3 LIDERANÇA E RELAÇÃO ENTRE LÍDER E LIDERADOS 
 
 
3.1 Liderança e Relação entre Líder e Liderados 
Atualmente, os conceitos liderança, líder e liderados vêm sendo 
 muito ressaltados em decorrência da própria globalização. As pessoas vêm 
atribuindo, arbitrariamente, sentidos para a compreensão destas palavras produzidos 
pelo senso comum. 
Esta unidade pretende ressaltar alguns autores que se preocuparam em 
 estudar os conceitos descritos no parágrafo anterior, para possibilitar ao leitor uma 
maior reflexão e compreensão sobre tais conceitos. A liderança não é um fenômeno 
restrito a pessoas que ocupam um cargo de gestão ou poder, embora isso também 
ocorra, é uma oportunidade que todos os seres podem ter de influenciar de 
modo maduro e solidário outros seres humanos seguindo em constante evolução. 
Segundo Minicucci (2012), o conceito de liderança está intimamente ligado 
ao de influência interpessoal, como já foi dito em unidades anteriores, interpessoal 
diz respeito à relação entre as pessoas, então, pode-se dizer que a liderança é um 
 processo de influência exercida em um contexto relacional entre as pessoas aonde 
ocorre uma afetação subjetiva. 
A liderança é um processo dinâmico que ocorre dentro de uma equipe de 
trabalho ou de outras formações grupais e pode-se alterar o papel do líder. Nos dois 
exemplos clínicos apontados neste livro, a liderança da equipe multiprofissional frente 
à tarefa, ficou localizada nas figuras da enfermeira e do técnico de enfermagem. 
Esses profissionais exerceram forte influência na equipe como um todo, através da 
comunicação, todavia, este papel de líder, poderia ser exercido por outros 
profissionais em outra situação. 
É importante ressaltar a diferença entre liderança e poder, Minicucci (2012) 
aponta para tal aspecto ao demonstrar que o indivíduo pode ter poder, mas não 
ser reconhecido por outras pessoas como líder, exercendo pressão social, uso da 
força, coerção moral, entre outros, mas não ter nenhuma influência interpessoal e 
sim poder situacional. O poder pode ser entendido como o alcance dos objetivos de 
um líder mediante o exercício da força sobre o grupo ou uma pessoa. Segundo 
Cabral e Nick (1989), o teórico Adler aponta que as pessoas podem ser dominadas 
pelo complexo de poder, manifestação psicológica, que se trata de uma necessidade 
imperiosa de ampliação do eu ou ego, para que este último sinta-se estável e 
poderoso, através do domínio sobre outras pessoas ou do meio ambiente, mas 
 
 
também o meio intrapsíquico, ou seja, a pessoa na relação com ela mesma. Este 
comportamento do homem adulto trata-se de um reflexo dos sentimentos de 
inferioridade do período infantil não superado, portanto, passível de tratamento ou 
análise. 
O processo de liderança está intimamente ligado à relação estabelecida 
entre os líderes, os liderados e a situação. Liderança pode ser considerada, o 
exercício da comunicação, através da qual, ocorre o processo da influência 
interpessoal frente a uma situação e diante de um objetivo a ser atingido, segundo 
Minicucci (2012). 
Frente às diferentes movimentações que ocorrem dentro de um grupo, seja 
ele de trabalho ou não, o líder tem necessidade de ser flexível diante das 
mudanças, para poder se adaptar melhor à situação e, assim, resolvê-las. A 
comunicação faz parte dos recursos utilizados por um líder para exercer influência 
interpessoal, retomando a unidade anterior. 
A comunicação é um processo que inclui o outro e, quando eficaz, pode 
produzir um líder eficaz no que diz respeito a exercer a influência e não o poder. Ao 
exercer a influência frente à determinada situação, o líder, naturalmente, atinge seu 
objetivo ou meta através da comunicação e não do exercício da força. 
 
Processo de Liderança 
FONSECA, 2013 
 
Os conceitos demonstrados na figura estãointerligados e produzem resultados 
frente às metas. O desempenho eficaz de um bom líder está relacionado à sua 
 
 
 
sensibilidade e flexibilidade, assim como um bom desempenho de gestão situacional 
(MINICUCCI, 2012). 
Ao retomar o estudioso da psicologia, Kurtin Lewin (in pg.25, Osório, C. L. 
2003), nota-se que através dos estudos de dinâmica de grupo e comunicação, 
naturalmente, ele se aproximou do fenômeno da liderança. Diante de suas pesquisas, 
conclui-se que a integração em um grupo se deve, em partes, à possibilidade do 
exercício da autenticidade das comunicações em um contexto interacional. Seguindo 
em seus avanços científicos, também observa os fenômenos da autoridade e dos 
estilos de liderança que surgem em seus grupos de estudo. O autor citado descreve 
três estilos prioritários de liderar, o líder autocrático, o Laissez-faire e o democrático. 
A seguir, no quadro, veremos os três estilos de liderança descritos por Lewin: 
Estilos de liderança 
 
Adaptado de OSÓRIO, 2003 
 
 Na teoria apresentada, dependendo do estilo de liderança, as relações entre 
líderes e liderados adquirirão diferentes formatos e diferentes ênfases serão dadas 
aos papéis assumidos pelas pessoas no contexto grupal. Vale a pena lembrar que 
Chiavenato (2005), aponta para as diferentes ênfases que são dadas nos diferentes 
estilos de liderança. No estilo autocrático a ênfase é dada ao papel do líder, no estilo 
democrático a ênfase é dada ao papel do líder e aos liderados ou subordinados, 
já no estilo liberal a ênfase é dada totalmente ao papel do liderados ou subordinados. 
Além da teoria sobre os estilos de liderança, existem, também, outras 
abordagens teóricas sobre o mesmo conceito, dentre elas destacam-se as teorias 
de liderança que dizem respeito aos traços de personalidade de um líder, ou seja, as 
características marcantes de sua personalidade e as teorias situacionais de 
liderança, que dizem respeito às adequações dos comportamentos de um líder frente 
 
 
às diferentes circunstâncias das situações e dos liderados (CHIAVENATO, 2005). 
As teorias sobre os traços de personalidade de um líder dizem respeito a 
quem o líder é, enquanto ser humano. Os traços de personalidade dizem respeito a 
certos padrões de comportamentos persistentes de uma pessoa que aparecem em 
situações diversas e as suas características pessoais como, por exemplo, seus traços 
físicos e psicológicos. 
Na teoria situacional de liderança, diante das diferentes situações, um líder 
pode alternar seu estilo de liderança para melhor se adaptar e realizar a tarefa, 
este movimento vai depender das características de sua personalidade. Vale à pena 
lembrar, como exemplo, que quando o líder funciona psiquicamente de acordo com 
o conceito de complexo de poder, suas atitudes serão controladoras, inflexíveis e 
autoritárias. 
As teorias sobre liderança situacional revelam que o líder eos liderados 
possuem necessidades a serem satisfeitas e que estas são importantes ingredientes 
no contexto interacional de um grupo (MARQUIS; HUSTON, 2005). As relações 
humanas estabelecidas entre líderes e liderados influenciarão diretamente as 
necessidades e motivações de um grupo. 
 
3.2 Motivação 
A motivação é um fenômeno importante a ser considerado na dinâmica das 
relações humanas e da liderança a seguir serão apresentados alguns autores e suas 
abordagens teóricas que apontam considerações sobre o tema. 
Por motivação se compreende um conjunto de fatores complexos 
inconscientes e conscientes que determinam um comportamento que pode ser 
pessoal ou social, contínuo, persistente e dirigido para uma recompensa e com uma 
finalidade ou objetivo (CABRAL e NICK, 2005). 
Pode-se entender motivação como um aspecto originado de dentro do ser 
humano, ou seja, um aspecto subjetivo, e que tem correspondência com suas 
necessidades, sejam elas conscientes ou inconscientes, e que levam o ser a um 
comportamento ou ação. 
Segundo Rivière (2000), as motivações são forças que dirigem o ser 
 humano para um comportamento e, através da análise das motivações, ocorre uma 
 
 
compreensão maior e abertura para a possibilidade de intervenções e ações sobre 
o indivíduo, ele ainda ressalta que as necessidades motivantes não se limitam às 
básicas de subsistência e seus efeitos são variados. A motivação para Rivière (2000, 
s/p.) é descrita como: 
 
...atividade persistente do organismo que planeja, por meio da aprendizagem 
e da comunicação, o comportamento dirigido a satisfazer suas necessidades. 
Certas formas de motivação incluem também os estados internos que 
acompanham a emoção. As tensões que surgem da ira, do ódio e do medo 
levam o indivíduo a protagonizar condutas que lhe produzirão alivio. Os 
estados emocionais agem de modo entrelaçado, em conflitos ou sem eles, 
sendo que o resultado dessa inter-relação dialética é uma gama de condutas 
significativas e variáveis. 
 
Partindo do ponto de vista de Riviere (2000), as motivações também 
 estão ligadas aos sentimentos. Pode-se pensar, então, a partir dessa conceituação, 
em alguns exemplos históricos de seres humanos altamente motivados pelo 
sentimento do amor e a grande contribuição que trouxeram para a humanidade, 
como Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Martin Luther King e outros que 
simplesmente eram motivados pelo amor e suas ações e estilos de liderança, 
tornaram-se provas vivas disto. 
Os comportamentos e ações do homem são sempre frutos de motivações e 
podem ser fontes de motivação para outros. Os seres humanos reagem aos 
estímulos, em consonância com sua constituição biológica, suas emoções, com as 
suas condutas anteriores apreendidas e o momento específico do aqui e agora de 
seus processos psicológicos internos, segundo Riviere (2000). 
Além das abordagens sobre motivação que levam em consideração as 
emoções, existem outras que advêm em decorrência das teorias das Relações 
Humanas, como sinaliza Chiavenato (2005), ele ressalta, através destas teorias, a 
existência de um ciclo motivacional inter-relacionado com as necessidades. 
Na compreensão de Chiavenato (2005), as necessidades estão ligadas a um 
ciclo de etapas motivacional. As necessidades surgem a partir de estímulos que 
podem ser intrínsecos ou extrínsecos ao ser, estas vão gerar um nível de tensão 
que buscará o alívio, para que o aparelho psíquico ou o corpo volte ao seu estado 
de homeostase ou equilíbrio anterior ao início da tensão. 
Para que haja a satisfação das necessidades e consequente alívio das 
tensões originadas pelas mesmas, o ser providenciará uma ação ou comportamento 
 
 
que trará o equilíbrio do organismo até que ocorra novo estímulo ou incentivo. O 
problema nessa cadeia de ciclo motivacional surge quando o ser vivencia o 
impedimento do alívio da tensão e, consequentemente, a vivencia de insatisfação 
frente às necessidades. 
A frustração das necessidades pode levar o homem a reações generalizadas, 
tanto as comportamentais como as psicológicas e podem, também, adoecer se a 
frustração tornar-se prolongada e associada a sentimentos de desesperança. Outro 
 importante conceito associado às satisfações ou insatisfações das 
necessidades é o de moral. A moral aqui é compreendida como um conjunto de 
atitudes mentais ligadas ao grau de satisfação ou insatisfações das necessidades 
individuais, trata-se de um estado de espírito, um conceito abstrato, entretanto, 
perceptível. 
Os níveis de moral estão intimamente associados às atitudes que o homem 
pode manifestar frente ao grupo e a ele próprio (CHIAVENATO, 2005), por exemplo, 
um membro da equipe de saúde pode ter seu nível de moral extremante afetado, 
caso seja tratado com insistência frente às suas observações técnicas, comdescaso. 
Não tendo sua necessidade de reconhecimento atendida, tal situação pode levar a 
pessoa a ter atitudes agressivas diante de todos os outros membros da equipe, 
demonstrando o nível de moral baixo, decorrente da insatisfação de suas 
necessidades sociais, as quais foram descritas no capitulo dois desta obra. 
A seguir, no próximo item deste capitulo, outro importante conceito será 
abordado, conceito fundamental para se pensar sobre a posição que o ser humano 
ocupa frente aos outros seres humanos no contemporâneo, este conceito, a saber, 
é o da ética nas relações humanas. 
 
3.3 A Ética nas Relações Humanas 
Ao falar sobre ética, naturalmente, remete-se ao ser humano, suas relações 
com outros seres humanos e com o meio o qual vive. Através do exercício da ética, 
as relações humanas tornam-se saudáveis, cria-se um ambiente solidário, 
construtivo, rico em aprendizagem e crescimento para todos. Esta temática é antiga, 
porém, extremamente contemporânea e trata de um recurso indispensável para a 
vida em sociedade. 
 
 
Tanto em um contexto familiar quanto de trabalho, a ética permeia ou não 
as relações, não se pode pensar que há o exercício da ética quando, por 
exemplo, na relação entre líder e liderados, existe assédio moral, ou quando em 
uma família ocorre a desvalorização de um dos membros através de escárnios ou 
gozações contínuas, ou, ainda, quando em uma equipe de saúde um de seus 
membros tem sua subjetividade ignorada através do não reconhecimento de suas 
percepções técnicas e humanas. 
Para que o conceito seja melhor compreendido e aplicado à prática do dia a 
dia, se faz necessária uma busca histórica desde a origem da palavra e seus 
sentidos até sua atual compreensão nos dias de hoje. Para esclarecer o significado 
da palavra “ethos”, em grego, Boff (1999, p. 195) apresenta no glossário de sua obra 
o que veremos a seguir: 
 
Ethos: em grego significa a toca do animal ou a casa humana; conjunto de 
princípios que regem, transculturalmente, o comportamento humano para 
que seja realmente humano no sentidode ser consciente, livre e responsável; 
o ethos constrói pessoalesocialmente o habitat humano; veja moral. 
 
No que se refere ao significado do termo moral, que tem sua origem no latim 
“mores”, Boff (1999, p. 197) mostra da seguinte forma: 
 
Moral: formas concretas pelas quais o ethos se historiza; as morais são 
diferentes por causa das culturas e dos tempos históricos diferentes. Mas 
todas as morais remetem ao ethos do humano fundamental que é um só. 
 
Nesta apresentação de Boff (1999), a palavra ethos e a palavra moral 
apresentam-se em íntima associação, um conceito contendo o outro, embora suas 
origens sejam diferentes, elas se encontram em seu significado. Pode-se pensar que 
este conjunto de comportamento humano, ethos, que basicamente diz respeito à 
consciência da necessidade de humanização do ser, está em ligação processual e 
dinâmica com a moral. Esta última constrói-se também, assim como ethos, com o 
tempo, e suas características estão intimamente ligadas à época de seu 
surgimento. Assim, cada época tem seuspreceitos morais distintos e cabe à ética 
poder exercer uma análise dos mesmos. 
 
 
Ao recorrer ao dicionário de Ferreira (2005, p.383 - 563), encontram-se 
 os seguintes significados para as palavras ética e moral: “Ética [...] 1. Estudo dos 
juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do 
mal. 2. Conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”. 
E para o conceito de moral: “Moral [...] 1. Conjunto de regras ou hábitos julgados 
váli dos, quer universalmente, quer para um grupo ou pessoa determinada. [....]” 
Pode-se perceber, novamente, o entrelaçamento dos conceitos de ética e 
moral, desde sua origem etimológica até os significados referentes às palavras nos 
dias atuais. Também é importante ressaltar que estes conceitos são construídos 
desde sempre a partir das relações humanas que surgem em um coletivo em 
uma determinada sociedade. 
O termo moral e o termo ética, assim como o ser humano, vêm sofrendo 
algumas mudanças no sentido que lhes são dados de acordo com a época histórica, 
portanto, o sentido atribuído na Idade Antiga para os filósofos gregos era diferente 
do atribuído na Idade Média pela filosofia cristã, por se tratarem de coletivos 
que se constituíram com preceitos e valores distintos. 
A ética é um importante instrumento de análise da moral. A moral é entendida 
como um conjunto de normas e valores produzidos e estabelecidos de acordo com a 
época humana em uma determinada sociedade. A moral sem ética pode se tornar 
uma moral cuja opressão do ser humano seja um exercício constante. Cabem à ética 
a avaliação e o estudo crítico da moral de uma determinada sociedade para que o 
fator humano possa ser essencialmente contemplado. 
A história da ética é intimamente ligada à história da filosofia, ela é entendida 
como uma disciplina filosófica, enquanto as ideias morais da humanidade podem ser 
estudadas em um contexto mais amplo. Desde a Pré-história até os dias de hoje 
as sociedades sempre tiveram normas que regularam a conduta humana, este 
estudo não advém somente da filosofia, ou da história da filosofia, é também um 
ramo da antropologia e da sociologia, embora o objeto de estudos da própria ética, 
enquanto disciplina filosófica, sejam os sistemas morais, sua história praticamente se 
inicia com a história da filosofia grega, no que diz respeito ao Ocidente, não se 
pode dizer o mesmo para o Oriente (MORA, 2001). 
A ética traz, através do seu exercício, problemas a serem contemplados que 
também variam de acordo com a época, mas se assemelham no que diz respeito 
às questões levantadas a respeito dos valores e condutas morais vigentes e o que 
 
 
o ser humano deve fazer frente a eles. Os problemas, os quais os estudiosos da ética 
humana vêm se debruçando, dizem respeito às questões humanas, como as noções 
de felicidade, de caráter e de virtude. 
No contemporâneo alguns filósofos, como Boff (1999), vêm ressaltando a 
importância de uma nova ética fundada sob a ótica do cuidado, o qual diz respeito 
à essência do ser humano que necessita de atenção em tudo o que faz, pois se não 
houver, tudo pode se perder. Isso diz respeito a várias dimensões, por exemplo, o 
cuidado com o planeta, com seu nicho ecológico, a construção de uma sociedade 
sustentável, cuidado com o outro, com os pobres, oprimidos e excluídos, com o 
próprio corpo, na saúde e na doença, cuidado com a cura integral do ser humano, 
que diz respeito ao corpo, a alma e ao espírito, incluindo o momento da morte. Enfim, 
colocar a ética do cuidado em evidência remete ao ser vivo e suas relações 
interpessoais, ao meio em que habita, aos grupos dos quais faz parte, enfim, tudo o 
que vive precisa de cuidado para continuar a existir. 
A seguir será abordado o tema liderança na saúde coletiva e saúde individual, 
sem perder o ponto de vista da ética do cuidado, pois ao falar sobre liderança e 
saúde, naturalmente, se está falando de seres humanos que se relacionam entre si 
e necessitam de algum tipo de atenção. 
 
3.4 Lideranças na Saúde Coletiva e Individual 
A temática sobre a liderança vem sendo estudada em vários contextos na 
atualidade no que diz respeito às organizações ou instituições privadas, sejam 
elas de saúde ou não, por se tratar de um conceito que evolui com as épocas, 
pode-se considerar que, a partir do advento do Sistema Único de Saúde (SUS), em 
1988, este conceito se mostra, também, presente como importante ferramenta no 
processo de mudança nas organizações de saúde pública e aponta para a 
necessidade de ser estudado

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