Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Encefalopatia Hepática (EH) A encefalopatia hepática (EH) é a deterioração da função cerebral que ocorre em pessoas com doença hepática grave, porque substâncias tóxicas normalmente eliminadas pelo fígado se acumulam no sangue e chegam ao cérebro. Normalmente, substâncias provenientes dos intestinos passam pela circulação sanguínea até chegar ao fígado, onde são normalmente eliminadas as toxinas. Muitas dessas toxinas (como a amônia) são resultantes da digestão das proteínas. No caso da EH, as toxinas não são eliminadas porque a função hepática está afetada, as toxinas podem atingir o cérebro e afetar o seu funcionamento. Avaliação Nutricional Desnutrição e EH são duas das complicações mais comuns da cirrose e ambas têm efeitos prejudiciais. A perda de massa esquelética pode confundir ainda mais o estado neuropsiquiátrico porque o tecido muscular desempenha um papel importante na remoção da amônia circulante; Avaliações precisas do estado nutricional não são facilmente obtidas em pacientes com cirrose, principalmente devido às anormalidades: - na homeostase e compartimentalização de fluidos, - metabolismo de proteínas e modelagem óssea - remineralização que caracterizam essa condição. Há certas dificuldades na aplicação de técnicas objetivas como antropometria e análise de impedância bioelétrica (BIA), porque elas são baseadas em um modelo de composição corporal de dois componentes: gordura e massa isenta de gordura. Essas técnicas dependem criticamente de suposições relacionadas à densidade e fração de hidratação de massa isenta de gordura, que são violadas em pacientes com cirrose. A dinamometria de preensão manual fornece uma avaliação funcional da força muscular e, em pacientes com cirrose, é um marcador sensível e específico para a depleção da massa celular corporal e está positivamente correlacionada com os estoques de proteína corporal total. No entanto, embora haja uma relação significativa entre a força de preensão manual e o estado nutricional em homens, essa relação não existe nas mulheres. Em resumo: Ferramentas como antropometria e BIA fornecem estimativas não confiáveis do estado nutricional quando usadas isoladamente e técnicas baseadas principalmente em avaliações de massa e função muscular não têm validade preditiva em mulheres. Portanto, existe a necessidade de um método composto de avaliação que inclua variáveis apropriadas, e forneça os dados reprodutíveis e válidos. A Avaliação Global do Royal Free Hospital (RFH-GA) utiliza medidas de IMC, usando o peso corporal seco estimado, e a circunferência muscular do braço, juntamente com detalhes da ingestão alimentar, em uma construção algorítmica semiestruturada. No entanto, são necessários funcionários qualificados para realizar as avaliações, que podem levar até 1 hora para serem concluídas. A Royal Free Hospital- Ferramenta de prioridade nutricional (RFH-NPT) leva menos de 3 minutos para ser concluída e pode ser usada por funcionários não especializados. Tem validade externa significativa contra o RFH-GA; Requisitos de energia e proteína O gasto energético em repouso (GER) é aumentado em pacientes com cirrose em relação à sua massa corporal magra. Nesses indivíduos, a utilização de macronutrientes é afetada pelo comprometimento pós-receptor da utilização de glicose resultante de reduções na síntese e armazenamento de glicogênio hepático. Como consequência, eles produzem uma resposta ao jejum semelhante à observada em indivíduos saudáveis famintos, ou seja, uma ativação precoce e excessiva da lipólise, com utilização dos estoques de gordura, e uma mudança da glicogenólise para a gliconeogênese. As diretrizes da ESPEN sugerem ingestão diária de 35-40 kcal/kg de peso corporal. O uso do peso corporal real ou erros na estimativa do peso seco podem levar a valores errôneos desviando ao extremo, portanto, usar o peso corporal ideal pode ser a abordagem mais segura. A dependência da gliconeogênese para manter a produção visceral de glicose resulta na utilização de aminoácidos derivados da proteólise. Isso, por sua vez, resulta em perda adicional de aminoácidos e aumento nas necessidades de proteína e produção de amônia. As diretrizes ESPEN recomendam a ingestão diária de 1,2-1,5 g/kg para manter o equilíbrio de nitrogênio; A restrição dietética de proteína deve ser evitada nesta população de pacientes, exceto talvez por períodos muito curtos em pacientes com sangramento gastrointestinal (GI) enquanto estão sendo estabilizados. Atualmente, há ampla evidência de que pacientes com EH toleram dietas normoproteinêmicas e se beneficiam delas. Padrão de Ingestão Alimentar O momento da ingestão calórica é importante. Evitar a utilização indevida da gliconeogênese para manter a produção esplâncnica de glicose é particularmente importante em pacientes com EH porque a utilização de aminoácidos para a produção de glicose esgota os estoques de proteínas teciduais e produz amônia. Os pacientes devem evitar o jejum por mais de 3-6 horas durante o dia, portanto devem realizar pequenas refeições uniformemente distribuídas ao longo do dia e de noite um lanche com carboidratos complexos, ajudando a minimizar a utilização da proteína. Fontes dietéticas de nitrogênio O tipo de proteína ingerida pode ser importante porque os pacientes com cirrose apresentam variações em sua tolerância à proteína dietética, dependendo de sua fonte. A proteína láctea é melhor tolerada do que a proteína de fontes mistas e a proteína vegetal é melhor tolerada do que a proteína da carne. Embora haja uma boa base teórica para o uso de dietas com proteína vegetal em pacientes com cirrose e EH, os resultados dos estudos clínicos realizados até o momento são menos convincentes. No entanto, apesar das limitações das evidências clínicas, o painel concordou que os pacientes com EH recorrente ou persistente devem seguir uma dieta mais rica em proteínas vegetais e lácteas do que proteínas de carne e peixe. Foi originalmente postulado que os suplementos de BCAA (valina, leucina e isoleucina) beneficiam os pacientes com EH porque eles (1) facilitariam a desintoxicação de amônia, apoiando a síntese de glutamina no músculo esquelético e no cérebro e (2) diminuiria o influxo cerebral de aminoácidos aromáticos em excesso, que competem com os BCAAs por passagem através da barreira hematoencefálica. No entanto, há poucas evidências convincentes, no momento, de que essas suposições estavam corretas. Mas, a suplementação oral de BCAA pode permitir que as ingestões de nitrogênio recomendadas sejam alcançadas em pacientes que são intolerantes à proteína dietética. Prebióticos e Probióticos Os prebióticos são ingredientes seletivamente fermentados que permitem mudanças específicas na composição e/ou atividade da microflora GI. Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, alteram a flora intestinal; eles estão disponíveis em produtos lácteos fermentados e alimentos fortificados, mas também estão disponíveis comprimidos, cápsulas, pós e sachês de bactérias liofilizadas. Os simbióticos são suplementos que combinam prebióticos e probióticos. A microbiota intestinal desempenha um papel importante na geração de amônia; assim, sua modulação com prebióticos, probióticos e simbióticos tem sido avaliada como opção terapêutica em pacientes com EH. A lactulose é classificada, por alguns, como um prebiótico e sua eficácia no tratamento da EH é comprovada e ela é amplamente utilizada no tratamento da EH. A lactulose é uma substância com alta concentração osmótica. Os laxantes com essa composição agem “retendo” a água no intestino, aumentando o tamanho do bolo fecal e estimulando o funcionamento do intestino. Fibra solúvel (por exemplo, goma de leguminosas e pectina de frutas) geralmente é fermentável e, como tal, tem propriedades prebióticas. Assim, a própria fibra ou dietas enriquecidas com fibras, que incluiriam dietas compostas predominantemente de proteína vegetal podem beneficiar pacientes com cirrose e EH. No entanto, deve-seter cuidado para não induzir diarréia, principalmente em pacientes que já estão tomando lactulose. A ingestão diária de 25-45 g de fibra deve ser incentivada. Vitaminas Deficiências de vitaminas hidrossolúveis, particularmente tiamina, estão associadas a uma ampla gama de sintomas neuropsiquiátricos. A suplementação multivitamínica é barata e geralmente livre de efeitos colaterais. Assim, o uso de suplementos vitamínicos orais pode ser justificado em pacientes internados com cirrose descompensada. Minerais *Alterações nos níveis circulantes de cálcio, magnésio e ferro, embora não diretamente implicadas na fisiopatologia da EH, podem produzir alterações na função mental, variando de confusão a coma ou demência secundária, o que pode confundir seu diagnóstico.* Baixos níveis circulantes de sódio podem alterar a função cerebral tanto diretamente quanto pela interação com os mecanismos que causam a EH; hiponatremia é, portanto, um fator de risco reconhecido para o desenvolvimento de EH e deve ser corrigida lentamente A hiponatremia é a redução da concentração plasmática de sódio para < 136 mEq/L (< 136 mmol/L) por excesso de água em relação ao soluto. O manganês é um componente importante de várias enzimas cerebrais, em particular a glutamina sintetase. No entanto, não há relação clara entre a presença, extensão e curso do tempo de acúmulo de manganês e desenvolvimento de HE. Mas parece sensato evitar o uso de suplementos nutricionais contendo manganês neste grupo de pacientes. O TIPS (derivação intra-hepática portossistêmica transjugular) é um procedimento radiológico no qual é realizado um "desvio" entre a veia porta e a veia cava inferior, através da colocação de uma prótese (stent) que é instalado no local por um cateter que foi introduzido pela veia jugular, no pescoço, até a veia cava. Com essa derivação, há redução na hipertensão portal, levando a redução na ascite, diminuição do risco de hemorragia por varizes esôfago-gástricas e melhora nas síndromes hepatorrenal e hepatopulmonar. http://www.hepcentro.com.br/tips.htm Critérios de West-Haven para graduação da EH Ausente Nenhuma anormalidade detectada Mínima Alterações nos testes psicométricos ou neurofisiológicos Grau 1 Falta de atenção, euforia, ansiedade, desempenho prejudicado, distúrbios do sono Grau 2 Flapping; letargia, desorientação leve tempo e espaço, mudança súbita personalidade Grau 3 Flapping; sonolento, mas responsivo a estímulos, confusão e desorientação importante, comportamento bizarro Grau 4 coma
Compartilhar