Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS 1 www.pontodosconcursos.com.br PONTO DOS CONCURSOS Direito Empresarial Professor André Luiz S. C. Ramos Introdução Olá, alunos e alunas do Ponto dos Concursos! Vamos dar continuidade ao nosso resumão para o concurso de AFRF. Nesta aula trataremos dos seguintes assuntos constantes do edital: empresa, empresário e estabelecimento (ponto 1); microempresa e empresa de pequeno porte (ponto 2); prepostos e escrituração (ponto 3). 1. Empresa Esse ponto do programa é muito vago. Provavelmente, o examinador vai cobrar temas relacionados ao “direito de empresa”, que está disciplinado no Código Civil, a partir do art. 966. - Cuidado com questões que cobrem o conceito de empresa! É que nós costumamos usar essa expressão no dia-a-dia com variados significados, os quais não correspondem ao seu sentido técnico. EMPRESA É ATIVIDADE! Nunca mais esqueçam isso: EMPRESA É ATIVIDADE. Mas não é qualquer atividade. Empresa é uma atividade econômica organizada, voltada para a produção ou circulação de bens ou serviços. - Não confundam empresa com sociedade empresária (esta é a pessoa jurídica constituída para exercício de empresa). Não confundam empresa com o ponto de negócio (este é o local onde a empresa é exercida). Não confundam empresa com estabelecimento empresarial (este é o complexo organizado bens materiais e imateriais usados no exercício da empresa): Eu e fulano montamos uma empresa (ERRADO) Eu E fulano montamos uma sociedade empresária (CERTO) Me encontra na minha empresa mais tarde (ERRADO) Me encontra no meu ponto de negócio mais tarde (CERTO) Vou vender minha empresa (ERRADO) Vou vender meu estabelecimento empresarial (CERTO) R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 2 2. Empresário - Se empresa é uma atividade econômica organizada, empresário é quem exerce empresa profissionalmente, ou seja, é quem exerce uma atividade econômica organizada profissionalmente (art. 966 do CC). - Empresa é, portanto, atividade, algo abstrato. Empresário, por sua vez, é quem exerce empresa. Assim, a empresa não é sujeito de direito. Quem é sujeito de direito é o titular da empresa. Melhor dizendo, sujeito de direito é quem exerce empresa, ou seja, o empresário, que pode ser pessoa física (empresário individual) ou pessoa jurídica (sociedade empresária). - Esse é outro cuidado que se deve ter: NÃO CONFUNDIR O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL COM A SOCIEDADE EMPRESÁRIA NEM COM OS SÓCIOS QUE INTEGRAM A SOCIEDADE. Empresário individual é a pessoa física que, individualmente, resolve exercer uma atividade econômica profissionalmente. Sociedade empresária é a pessoa jurídica cujo objeto social é a exploração de uma empresa. - Embora o conceito de empresário constante do art. 966 do CC dê a entender, numa primeira leitura, que toda e qualquer pessoa, física ou jurídica, que exerce profissionalmente uma atividade econômica é qualificada como empresário, essa conclusão não está absolutamente certa. É que o próprio CC traz algumas ‘exceções’ ao conceito de empresário do art. 966 do CC, disciplinando em normas específicas outros agentes econômicos que, não obstante exerçam atividade econômica, não são considerados empresários em certas circunstâncias: trata-se dos profissionais intelectuais (art. 966, parágrafo único), dos que exercem atividade econômica rural e das cooperativas. - Os profissionais intelectuais, também conhecidos como profissionais liberais, EM PRINCÍPIO NÃO SÃO CONSIDERADOS EMPRESÁRIOS. Mesmo que contratem funcionários, em princípio não são considerados empresários. Só serão considerados empresários se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Mas o que o legislador quis dizer ao usar essa expressão? O Código quer com isso dizer que, enquanto o profissional intelectual apenas exerce a sua atividade intelectual, ainda que com o intuito de lucro e mesmo contratando alguns auxiliares, ele não é considerado empresário para os efeitos legais. Enquanto o profissional intelectual está numa fase embrionária de atuação (é um profissional que atua sozinho, faz uso apenas de seu esforço, da sua capacidade intelectual), ele não é considerado empresário, não se submetendo, pois, ao regime jurídico R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 3 empresarial. Todavia, a partir do momento em que ele dá uma forma empresarial ao exercício de suas atividades, será considerado empresário e passará a ser regido pelas normas do direito empresarial. Assim, um professor de matemática que aluga uma sala e dá aulas para turmas pré-vestibulares não é empresário, ainda que contrate um monitor e uma secretária, por exemplo. Todavia, se ele é dono de um cursinho, que tem três filiais e oferece aulas de todas as matérias etc, ainda que ele continue lecionando será considerado empresário. Isso porque o exercício de sua profissão intelectual (ministrar aulas de matemática) passou a ser um mero elemento da empresa (atividade econômica organizada) por ele exercida (prestação de serviços de ensino). - O Código Civil também se preocupou em dar um tratamento especial ao exercente de atividade econômica rural, excluindo-o da obrigatoriedade de registro na Junta Comercial, prevista no art. 967. Todo empresário, antes de iniciar o exercício da atividade empresarial, tem que se registrar na Junta Comercial, seja empresário individual ou sociedade empresária. Para o empresário rural, todavia, o CC concedeu a faculdade de se registrar ou não perante a Junta da sua unidade federativa. Assim sendo, se aquele que exerce atividade econômica rural não se registrar na Junta Comercial, não será considerado empresário. Em contrapartida, se ele optar por se registrar, será considerado empresário para todos os efeitos legais. Esta regra está contida no art. 971 do CC. Conclui-se, pois, que para o exercente de atividade rural o registro na Junta Comercial tem natureza constitutiva, e não meramente declaratória, como de ordinário. Ressalte-se que regra idêntica foi prevista para a sociedade que tem por objeto social a exploração de atividade econômica rural (at. 984 do CC). - O terceiro agente econômico que mereceu regra especial do CC foi a cooperativa. Em princípio, uma sociedade será considerada empresária se preencher os requisitos do art. 966 do Código Civil, ou seja, se exercer, profissionalmente, uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Caso não preencha os requisitos da norma mencionada, estar-se-á diante de uma sociedade simples. É o que se extrai do art. 982 do CC. É o objeto explorado pela sociedade, por conseguinte, que define a sua natureza empresarial ou não. Assim, se uma sociedade explora atividade empresarial, será considerada uma sociedade empresária, registrando-se na Junta Comercial e submetendo-se ao regime jurídico empresarial. Se, todavia, uma sociedade não explora atividade empresarial, será considerada uma sociedade simples – terminologia adotada pelo novo CC, em substituição à expressão sociedade civil do R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 4 regime anterior – registrando-se no cartório de registro civil de pessoas jurídicas. No caso das cooperativas, no entanto, a situação é diferente. Para saber se uma sociedade cooperativa é empresária não se utiliza o critério material previsto no art.966 do CC, mas um critério legal, estabelecido no art. 982, parágrafo único, o qual dispõe que “Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”. O legislador, por opção política, determinou que a cooperativa é sempre uma sociedade simples, pouco importando se exerce uma atividade empresarial de forma organizada e com intuito de lucro. - O CC, além de estabelecer a obrigatoriedade do registro para todos os empresários (empresários individuais e sociedades empresárias), também se preocupou em estabelecer algumas vedações ao exercício de empresa. As vedações se dão de duas formas: ou são proibições que a legislação estabelece, ou são vedações que dizem respeito à capacidade. Nesse sentido, dispõe o Código Civil, em seu art. 972, que “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”. - Normalmente, os impedimentos legais estão em normas de direito público e visam a proteger a coletividade, evitando que esta negocie com determinadas pessoas em virtude de sua função ou condição ser incompatível com o exercício livre de atividade empresarial. Podem ser citados, como exemplos: o art. 117, X, da Lei nº 8.112/90, relativo aos servidores públicos federais; o art. 36, I, da LC 35/79 – LOMAN, relativo aos magistrados; o art. 44, III, da Lei nº 8.625/93, relativo aos membros do Ministério Público, o art. 29 da Lei nº 6.880/80, relativo aos militares. - CUIDADO!!! É preciso atentar para o fato de que a proibição, em princípio, é para o exercício de empresa individualmente, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em suma: os impedimentos se dirigem, em princípio, aos empresários individuais, e não aos sócios de sociedades empresárias. Nesse sentido, pode-se afirmar então que os impedidos não podem se registrar na Junta Comercial como empresários individuais (pessoas físicas que exercem atividade empresarial), não significando, em princípio, que eles não possam participar de uma sociedade empresária como quotistas ou acionistas, por exemplo. No entanto, a possibilidade de os impedidos participarem de sociedades empresárias não é absoluta, somente R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 5 podendo ocorrer se forem sócios de responsabilidade limitada e, ainda assim, se não exercerem funções de gerência ou administração. - A outra vedação ao exercício de empresa estabelecida no art. 972 do CC diz respeito à incapacidade. Só pode exercer empresa quem é capaz, quem está no pleno gozo de sua capacidade civil. Ocorre que o próprio Código abre duas exceções, permitindo que o incapaz exerça empresa. A matéria está disciplinada no art. 974 do CC, o qual prevê que “poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança”. Em resumo: o incapaz poderá ser empresário (i) quando ele mesmo já exercia a atividade empresarial, sendo a incapacidade, portanto, superveniente, e (ii) quando a atividade empresarial era exercida por outrem, de quem o incapaz adquire a titularidade do exercício da atividade empresarial por sucessão causa mortis. (AFTE - RN - 2005 – ESAF) Os requisitos previstos em lei para que as pessoas naturais sejam qualificadas como empresários destinam-se a: a) garantir o cumprimento de obrigações contraídas no exercício de atividade profissional. b) impedir, em face do registro obrigatório, que incapazes venham a ser considerados empresários. c) facilitar a aplicação da teoria da aparência. d) por conta da inscrição no Registro de Empresas, servirem para dar conhecimento a terceiros sobre os exercentes da profissão. e) facilitar o controle dos exercentes de atividades empresariais. Os requisitos para o exercício de empresa estão previstos no art. 972 do CC: (i) ausência de impedimento legal (ex.: servidores públicos, magistrados etc.); (ii) pleno gozo da capacidade civil. Primeiro, é importante destacar que esses impedimentos se aplicam aos empresários individuais, mas não aos sócios de sociedades limitadas e anônimas, por exemplo (analogicamente, aplicam-se também aos sócios de responsabilidade ilimitada, como os sócios comanditados das sociedades em comandita simples). Portanto, o impedido e o incapaz podem ser acionistas de uma S/A ou quotistas de uma Ltda., bastando, para tanto, que não possuam poderes de administração da sociedade (para o incapaz, ainda se exige que o capital social esteja totalmente integralizado). A questão pergunta qual é a razão para o legislador ter previsto as vedações do art. 972 do CC. Embora a questão esteja impregnada de certo subjetivismo, o que não é o R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 6 ideal em questões de múltipla escolha, está claro que a letra A contém a assertiva correta. A letra B está errada porque há hipóteses em que o incapaz pode ser empresário (art. 974 do CC). As letras C, D e E estão erradas porque suas assertivas não guardam relação com o enunciado. 3. Estabelecimento empresarial - O primeiro cuidado que se deve ter nas questões sobre estabelecimento empresarial é NÃO CONFUNDIR o estabelecimento empresarial com o ponto de negócio. Este, repita-se, é o local onde o empresário exerce sua atividade empresarial. O conceito técnico- jurídico de estabelecimento empresarial, todavia, é algo mais complexo. Estabelecimento empresarial é todo o conjunto de bens, materiais (equipamentos, máquinas, imóveis) ou imateriais (marca, desenho industriais, patente), que o empresário utiliza no exercício da sua atividade. Com efeito, o art. 1.142 dispõe que “considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. - Assim sendo, o estabelecimento não se confunde com a empresa, uma vez que esta, conforme visto, corresponde a uma atividade. Da mesma forma, o estabelecimento não se confunde com o empresário, já que este é uma pessoa física ou jurídica que explora essa atividade empresarial e é o titular dos direitos e obrigações dela decorrentes. - As provas têm cobrado a natureza jurídica do estabelecimento empresarial. A doutrina brasileira majoritária sempre considerou o estabelecimento empresarial uma universalidade de fato, ou seja, um conjunto de bens aos quais, por ato de vontade, se dá uma destinação específica (no caso, o exercício de uma atividade econômica), razão pela qual esse bens reunidos passam a ser uma coisa só, uma coisa unitária. - CUIDADO!!! O que mais cai em prova sobre estabelecimento são as regras sobre o TRESPASSE, nome dado ao contrato de transferência do estabelecimento empresarial. VOCÊS PRECISAM LER ATENTAMENTE OS ARTS. 1.144, 1.145, 1.146 E 1.147!!! Principalmente estes dois últimos!!! - De acordo com o disposto no art. 1.144 do CC, “o contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 7 empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial”. Vê-se, pois, que é condição de eficácia perante terceiros o registro do contrato de trespassena Junta Comercial e a sua posterior publicação. - Ainda sobre o trespasse, o código dispõe, no seu art. 1.145, que “se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação”. Sendo assim, o empresário que quer vender o estabelecimento empresarial deve ter uma cautela importante: ou conserva bens suficientes para pagar todas as suas dívidas perante seus credores, ou deverá obter o consentimento destes, o qual poderá ser expresso ou tácito. Com efeito, caso não guarde em seu patrimônio bens suficientes para saldar suas dívidas, o empresário deverá notificar seus credores para que se manifestem em 30 dias acerca da sua intenção de alienar o estabelecimento. Uma vez transcorrido tal prazo, o consentimento dos credores será tácito, e a venda poderá ser realizada. - O art. 1146 do CC trata da chamada sucessão empresarial, estabelecendo que “o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento”. Pode-se concluir, portanto, que o adquirente do estabelecimento empresarial responde pelas dívidas existentes – contraídas pelo alienante –, desde que regularmente contabilizadas, isto é, constantes da escrituração regular do alienante, pois foram essas as dívidas a que o adquirente teve conhecimento quando da efetivação do negócio (isso é muito importante: só o passivo contabilizado é assumido pelo adquirente). Embora o adquirente assuma essas dívidas contabilizadas, o alienante fica solidariamente responsável por elas durante o prazo de um ano. Tal prazo, todavia, será contado de maneiras distintas a depender do vencimento da dívida em questão: tratando-se de dívida já vencida, o prazo é contado a partir da publicação do contrato de trespasse; tratando-se, em contrapartida, de dívida vincenda, o prazo é contado do dia de seu vencimento. - É preciso deixar bastante claro, também, que essa sistemática de sucessão obrigacional prevista no art. 1.146 do CC só se aplica às dívidas negociais do empresário, decorrentes das suas relações travadas em conseqüência do exercício da empresa (por exemplo, dívidas com R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 8 fornecedores ou financiamentos bancários). Em se tratando, todavia, de dívidas tributárias ou de dívidas trabalhistas, não se aplica o disposto no art. 1146 do CC, uma vez que a sucessão tributária e a sucessão trabalhista possuem regimes jurídicos próprios, previstos em legislação específica (arts. 133 do CTN e art. 448 da CLT, respectivamente). - CUIDADO!!! Também cumpre destacar que a nova legislação falimentar (Lei nº 11.101/05) trouxe uma importantíssima novidade que se relaciona diretamente com a matéria ora em análise. Com efeito, o art. 141 da lei mencionada dispõe que “na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata este artigo: (...); II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho”. Em suma: se a venda do estabelecimento ocorrer em processo de falência, quem adquirir o estabelecimento empresarial não assume dívida nenhuma!!! - Por fim, ainda sobre os efeitos do trespasse, o art. 1147 do CC positivou no direito empresarial brasileiro a chamada cláusula de não- concorrência: “não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência”. Em suma: mesmo na ausência de cláusula contratual expressa, o alienante do estabelecimento tem a obrigação contratual implícita de não fazer concorrência ao adquirente do estabelecimento empresarial por um determinado prazo. O alienante só pode fazer concorrência imediata ao adquirente se o contrato de trespasse expressamente autorizar. (PGE-DF 2004 ESAF) A alienação do estabelecimento empresarial: a) transfere automaticamente ao adquirente as obrigações regularmente contabilizadas, exonerando o alienante de qualquer responsabilidade. b) impede o alienante de exercer a mesma atividade que exercia anteriormente pelo prazo de cinco anos, em qualquer ponto do território nacional. c) não importa sub-rogação no contrato de locação comercial. d) não implica a cessão dos créditos relativos à atividade exercida no estabelecimento. e) equivale à alienação do imóvel utilizado para o exercício de atividade empresarial. R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 9 Essa questão cobra o conhecimento do art. 1.148 do CC, segundo o qual o adquirente do estabelecimento se sub-roga automaticamente nos contratos do alienante, desde que estes contratos não tenham natureza pessoal. Portanto, como o contrato de locação é um contrato de natureza pessoal, não há sub-rogação automática quanto a ele. 4. Escrituração - Além da obrigação de registrar na Junta Comercial (art. 967 do CC), outra obrigação legal imposta a todo empresário, seja ao empresário individual ou a sociedade empresária, é a necessidade “seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico” (art. 1.179 do CC). Enfim, os empresários devem manter um sistema de escrituração contábil periódico, além de levantar, todo ano, dois balanços financeiros: o patrimonial e o de resultado econômico. A obrigação é tão importante que a legislação falimentar considera crime a escrituração irregular, caso a falência do empresário seja decretada (art. 178 da Lei nº 11.101/05). Ademais, pela importância que ostentam, os livros comerciais são equiparados a documento público para fins penais, sendo tipificada como crime a falsificação, no todo ou em parte, da escrituração comercial. - A escrituração do empresário é tarefa que a lei incumbe (art. 1.182 do CC) a profissional específico: o contabilista, o qual deve ser legalmente habilitado, ou seja, estar devidamente inscrito no seu órgão regulamentador da profissão. O referido dispositivo legal, todavia, ressalva os casos em que não exista contabilista habilitado na localidade, quando a tarefa de escrituração do empresário poderá ser exercida por outro profissional ou mesmo pelo próprio empresário. - CUIDADO!!! O único livro obrigatório comum a todo e qualquer empresário é o livro Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de ser adotada escrituração mecanizada ou eletrônica (art. 1.181 do CC). O livro Diário também pode ser substituído pelo livro Balancetes Diários e Balanços, quando o empresário adotar o sistema de fichas de lançamentos (art. 1.185 do CC). Se o Diário é o único livro obrigatório comum, são facultativos os livros caixa, no qual se controlam as entradas e saídas de dinheiro, estoque, razão, que classifica o movimento das mercadorias, borrador, que funciona como R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 10 um rascunhodo diário, e o conta corrente, que é usado para as contas individualizadas de fornecedores ou clientes. - Alguns livros específicos são exigidos a certos empresários. É o caso, por exemplo, do livro de registro de duplicatas, exigido dos empresários que trabalharem com a emissão de duplicatas mercantis. É o caso, também, das sociedades anônimas, que são obrigadas, pela Lei nº 6.404/76 a escriturar uma série de livros específicos, como o livro de registro de atas da assembléia, o livro de registro de transferência de ações nominativas, entre outros. Também existem livros obrigatórios especiais que são exigidos em virtude do exercício de alguma profissão. São os casos, por exemplo, dos livros impostos pela legislação comercial aos leiloeiros e aos donos de armazéns-gerais. - O art. 1.179, § 2º, do CC dispensa “o pequeno empresário a que se refere o art. 970” das exigências contidas no caput, relativas à necessidade de manter um sistema de escrituração e de levantar anualmente os balanços patrimonial e de resultado econômico. O art. 970, por sua vez, afirma que “a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”. A legislação que trata das microempresas e das empresas de pequeno porte no Brasil (atualmente é a LC nº 123/06) esclareceu que “considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais)”. - Os livros empresariais são protegidos pelo sigilo, conforme determinação contida no art. 1.190 do CC: “ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei”. Observe-se que o dispositivo acima transcrito ressalva, de forma clara, os casos previstos em lei, ou seja, a legislação poderá prever situações excepcionais em que o sigilo empresarial que protege os livros do empresário não seja oponível. O próprio Código estabelece uma dessas situações, ao dispor, no art. 1.193, que as restrições ao exame da escrituração não se aplicam às autoridades fazendárias, quando estas estejam no exercício da fiscalização tributária. No mesmo sentido, aliás, é a o disposto no art. 195 do CTN. Para vocês que estão fazendo concurso para a Receita, essa regra é de extrema importância! R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 11 - O sigilo que protege os livros empresariais também pode ser “quebrado” por ordem judicial. A exibição dos livros empresariais, em obediência á ordem judicial, pode ser total ou parcial, havendo tratamento distinto para ambos os casos. A exibição integral dos livros só pode ser determinada a requerimento da parte – conforme determinação da norma processual – e somente nos casos expressamente previstos na lei (por exemplo, na liquidação da sociedade, na falência, entre outros). A exibição parcial dos livros empresariais pode ser determinada pelo julgador, a requerimento ou até mesmo de ofício, e em qualquer processo. - Por fim, ressalte-se ainda que os livros empresariais devem ser conservados em boa guarda, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados (art. 1.194 do CC). - Os livros empresariais são documentos que possuem força probante, sendo muitas vezes fundamentais para a resolução de um determinado litígio. Com efeito, o exame da escrituração do empresário pode ser útil para o deslinde de várias questões jurídicas relacionadas ao exercício de sua atividade. A eficácia probatória dos livros empresariais contra o empresário opera-se independentemente de os mesmos estarem corretamente escriturados. Nada impede, todavia, que o empresário demonstre, por outros meios de prova, que os lançamentos constantes daquela escrituração que lhe é desfavorável são equivocados. Em contrapartida, para que os livros façam prova a favor do empresário é preciso que os mesmos estejam regularmente escriturados. (AFT – 2003 – ESAF) As obrigações relacionadas com a escrituração: a) Têm em conta o interesse de terceiros quanto à informações daquela constantes. b) Determinam, no seu descumprimento, responsabilidade no plano cível apenas para o contador responsável. c) São relevantes apenas no ponto de vista fiscal, determinando a caracterização de crimes de sonegação fiscal, na sua desobediência. d) Acarretam responsabilidades para os sócios não administradores por culpa in vigilando e) Podem levar à prisão civil os administradores, caso os livros obrigatórios não tenham sido escriturados ou o tenham sido de forma indevida. R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 12 A escrituração é uma obrigação legal imposta a todos os empresários (tanto empresários individuais quanto sociedades empresárias), nos termos do art. 1.179 do CC. A única exceção é o pequeno empresário, que fica dispensado do dever de escrituração pelo §2º do dispositivo em questão (pequeno empresário, segundo a LC nº 123/06, é o empresário individual qualificado como ME que tenha faturamento bruto anual de até R$ 36 mil). A obrigação de escrituração, em sentido lato, compreende o dever de manter os livros empresariais exigidos pela lei e o dever de levantar anualmente os balanços patrimonial e de resultado econômico. Segundo o CC, o único livro obrigatório comum é o Diário. Assim, os demais livros são facultativos (Caixa, Razão etc.). A letra B está errada porque a escrituração irregular responsabiliza civilmente não apenas o contabilista, mas também o empresário (art. 1.178 do CC). A letra C está errada porque a escrituração tem importância não apenas fiscal, mas também gerencial (auxiliam o empresário na gestão dos seus negócios, pois lhe permitem um melhor conhecimento de sua atividade) e documental (os livros servem de prova tanto a favor quanto contra o empresário). A letra D está errada porque a responsabilidade, nesse caso, não pode ser estendida aos sócios que não eram administradores. A letra E está errada porque não existe essa hipótese de prisão civil em nosso ordenamento (a escrituração irregular, também conhecida como “caixa 2”, pode acarretar, contudo, responsabilização penal). A letra A está correta porque uma das funções da escrituração é justamente a função documental, podendo os livros servirem de prova tanto a favor quanto contra o empresário, sendo a escrituração, de muita importância também para os terceiros que contratam com o empresário. 5. Prepostos - O empresário, seja ele individual ou sociedade, jamais conseguiria atuar de forma competitiva no mercado atual se não contasse com importantes auxiliares e colaboradores, os quais o CC reuniu e disciplinou sob a rubrica de prepostos (arts. 1.169 a 1.178 do código). - Dispõe o art. 1.169 do CC que “o preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se substituir no desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do substituto e pelas obrigações por ele contraídas”. Com efeito, como o contrato de preposição implica, necessariamente, poderes de representação, típicos R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 13 do mandato, não se admite aopreposto a possibilidade de delegar poderes sem prévia autorização do preponente, uma vez que as prerrogativas que a preposição lhe confere são pessoais e intransferíveis. A regra do artigo em comento é simplesmente uma manifestação especial da regra geral do mandato, constante do art. 667 do CC. - CUIDADO!!! OS PREPOSTOS NÃO PODEM FAZER CONCORRÊNCIA AO EMPRESÁRIO, SALVO SE ESTE AUTORIZAR. Outra regra específica aplicável às relações entre os prepostos e os empresários é a referente à proibição de os prepostos fazerem concorrência, ainda que indireta, aos seus preponentes, salvo se para tanto possuírem autorização expressa. Se não possuem referida autorização, responderão por perdas e danos, podendo o empresário prejudicado requerer a retenção dos lucros decorrentes da operação do preposto. É o que dispõe o art. 1.170 do CC. - O Código também não se esqueceu de estabelecer, em seu art. 1.178, que “os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito”. A regra é, no nosso entender, uma manifestação clara da aplicação da conhecida teoria da aparência, tanto que, no parágrafo único do artigo em questão, o legislador fez uma importante ressalva à sua aplicação, determinando que “quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor”. - Por fim, como não poderia deixar de ser, resta claro que não obstante os empresários preponentes respondam perante terceiros pelos atos praticados pelos seus prepostos, podem voltar-se contra estes caso tenham agido com culpa. Caso sua atuação tenha sido dolosa, os prepostos assumem responsabilidade solidária com seus preponentes, podendo os terceiros exigir o cumprimento da obrigação contra qualquer deles. É o que diz o parágrafo único do art. 1.177 do CC. - Como o contabilista é preposto responsável pela escrituração do empresário, dispõe o art. 1.177 que “os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele”. R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 14 - O gerente é o mais importante preposto do empresário, por ser aquele ao qual o empresário confia poderes de chefia do seu negócio. Nem sempre, é verdade, o empresário necessitará do auxílio de um gerente: em pequenos negócios, basta a figura do próprio empresário individual ou dos sócios da sociedade empresária para o bom desenvolvimento do empreendimento. Segundo o art. 1.172 do CC, “considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na sede desta, ou em sucursal, filial ou agência”. Como o gerente é o preposto ao qual se atribuem funções de chefia, dispõe o art. 1.173 do CC que “quando a lei não exigir poderes especiais, considera-se o gerente autorizado a praticar todos os atos necessários ao exercício dos poderes que lhe foram outorgados”. Se o empresário possuir mais de um gerente, consideram-se solidários os poderes a eles conferidos, salvo se houver alguma estipulação expressa em sentido diverso (art. 1.173, parágrafo único). - Destaque-se ainda que os poderes conferidos pela gerência são amplos, podendo o gerente até mesmo figurar em juízo em nome do preponente, desde que as ações versem sobre obrigações assumidas em virtude do exercício da função gerencial (art. 1.176 do CC). - Não obstante os poderes do gerente sejam amplos, como dito acima, pode o empresário, por óbvio, limitá-los. Nesse caso, para que a limitação produza efeitos perante terceiros, deverá o empresário (i) registrá-la na Junta Comercial, por meio de averbação ao ato constitutivo lá arquivado ou (ii) provar que a limitação de poderes era conhecida daquele que contratou com o gerente (art. 1.174 do CC). (BACEN PROCURADOR2009 CESPE)QUESTÃO 65 Com relação à teoria geral do direito empresarial, assinale a opção correta. a) Para o direito empresarial brasileiro, o conceito de empresa é objetivo, ou seja, empresa é o estabelecimento, enquanto empresário é a pessoa física que exerce sua atividade na empresa. b) Nome empresarial e título do estabelecimento são conceitos que não se confundem, uma vez que o nome empresarial se refere às relações do empresário perante os consumidores em geral, enquanto o título do estabelecimento significa a forma empresarial adotada no que concerne à limitação da responsabilidade. c) Mesmo que o empresário adote o sistema de fichas de lançamentos, o livro diário, por ser obrigatório, não pode ser substituído pelo livro balancetes diários e balanços, ainda que observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele. R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 15 d) A sociedade anônima opera sob firma ou razão social, sempre designativa do objeto social e integrada pelas expressões sociedade anônima ou companhia, por extenso ou abreviadamente. e) Considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na sede desta ou em sucursal, filial ou agência. O preponente responde com o gerente pelos atos que este pratique em seu próprio nome, mas à conta daquele. Percebam que a alternativa correta (letra E) é pura decoreba da letra da lei! Vejam a alternativa A, que tenta confundir o candidato com os conceitos de empresa, estabelecimento e empresário, conforme eu havia alertado. 6. Microempresa e empresa de pequeno porte - A Constituição Federal de 1988, em seu art. 179, estabeleceu que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei”. - CUIDADO!!! A Carta Magna ainda considerou o tratamento favorecido para os pequenos empreendedores como um dos princípios gerais da atividade econômica, conforme previsão contida no seu art. 170, inciso IX. Lembrem-se: O TRATAMENTO FAVORECIDO E DIFERENCIADO PARA ME’S E EPP’S É UM PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ORDEM ECONÔMICA! - A Emenda Constitucional nº 42, batizada de Reforma Tributária, determinou que a definição de tratamento favorecido e simplificado para as ME’s e EPP’s fosse feita por lei complementar (art. 146, inciso III, alínea ‘d’, da CF/88). Seguindo a nova disposição constitucional, foi editada a Lei Complementar nº 123/06, batizada de Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que passou a ser o nosso novo Estatuto das ME's e EPP's, e que aqui chamaremos de Lei Geral das ME's ou EPP's ou simplesmente de Lei Geral. - Para os efeitos da LC nº 123/06, consideram-se “microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 16 Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I – no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarentamil reais); II – no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais).” Em resumo: ATÉ R$ 240 MIL, MICROEMPRESA; ACIMA DESSE VALOR E ATÉ R$ 2,4 MILHÕES, EMPRESA DE PEQUENO PORTE. - CUIDADO!!! É CHATO TER QUE DECORAR, MAS NESSE CASO É INEVITÁVEL. A própria LC nº 123/06, no seu art. 3º, § 4º, afirma que “não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto nesta Lei Complementar, incluído o regime de que trata o art. 12 desta Lei Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica (com a nova redação dada pela LC nº 128/08): I – de cujo capital participe outra pessoa jurídica; II – que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior; III – de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; IV – cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; V – cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; VI – constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; VII – que participe do capital de outra pessoa jurídica; VIII – que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência complementar; IX – resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores; X – constituída sob a forma de sociedade por ações”. Uma dica: a lei restringe o seu campo de atuação, sempre com o intuito de realmente só beneficiar os pequenos empreendimentos. Veja-se que, de fato, os incisos acima transcritos R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 17 descrevem situações em que se pressupõe um empreendimento mais organizado e, portanto, não-merecedor do tratamento privilegiado que a lei confere. - Feito o registro como microempresa ou como empresa de pequeno porte na Junta Comercial, nos termos acima mencionados, o nome empresarial do empresário individual ou da sociedade empresária passará a conter a expressão “microempresa” ou “empresa de pequeno porte”, conforme o caso, por extenso ou de forma abreviada. O uso de tais expressões – ME e EPP – é privativo de quem está enquadrado como tal, ou seja, só pode utilizar a expressão ME ou EPP em seu nome empresarial quem efetivamente for enquadrado numa dessas situações legais. - Enquadrados como ME, um determinado empresário individual ou uma determinada sociedade empresária podem, por exemplo, desenvolver-se. Ora, o desenvolvimento desse microempresário ou microempresa pode resultar no aumento de sua receita bruta anual, de modo a extrapolar o limite previsto no art. 3º, inciso I, da Lei Geral, passando os novos valores a se encaixarem no limite do inciso II do mesmo dispositivo. Nesse caso, haverá um reenquadramento desse empresário ou dessa sociedade empresária, conforme o caso, que perderão a condição de microempresário e passarão a ostentar a condição de empresário de pequeno porte (EPP). Pode ocorrer, em contrapartida, que um empresário enquadrado como EPP, por exemplo, tenha uma redução na sua receita bruta anual, passando a auferir renda que se encaixe nos limites relativos aos microempresários. Pode ocorrer, ainda, que esse empresário de pequeno porte, ao contrário, aumento sua renda bruta anual, extrapolando os limites previstos na lei, hipótese em que deixará de gozar dos favores legais nela previstos. Em todas essas situações, deverá ser feito, conforme o caso, o respectivo reenquadramento ou desenquadramento, nos termos do que dispõe a nova Lei Geral. - CUIDADO!!! Além das figuras dos microempresários e dos empresários de pequeno porte, expressões há muito conhecidas no ordenamento jurídico brasileiro, o Código Civil de 2002 acrescentou outra: a do pequeno empresário, prevista no seu art. 970. A Lei Geral estabeleceu em seu art. 68 que “considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais)”. O pequeno empresário, portanto, é exclusivamente o empresário individual R o g é r i o d e S o u s a O l i v e i r a , C P F : 0 1 5 8 4 5 9 2 6 1 3 CURSO ON-LINE - RESUMÃO DE DIREITO COMERCIAL P/ AFRFB PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ RAMOS www.pontodosconcursos.com.br 18 que, caracterizado como ME, aufira renda bruta anual ínfima, não excedente a meros R$ 36.000,00. Trata-se, enfim, de uma subespécie de microempresa, mas que não pode jamais tomar a forma de sociedade empresária, já que a lei deixa clara a exigência de que se trate de um empresário individual. Esse pequeno empresário, além de se beneficiar de todas as regras especiais previstas na Lei Geral para as ME's e EPP's, vai possuir ainda, em algumas situações, um tratamento ainda mais especial. Basta citar, por exemplo, a regra do art. 1.179, § 2º, do CC, a qual, conforme já vimos, o isenta de qualquer obrigação escritural. - No mesmo sentido, a Lei Complementar nº 128/08 criou a figura do microempresário individual (MEI), em seu art. 18-A: “o Microempreendedor Individual - MEI poderá optar pelo recolhimento dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais, independentemente da receita bruta por ele auferida no mês, na forma prevista neste artigo”. Assim, de acordo com o § 1º deste artigo, “para os efeitos desta Lei, considera-se MEI o empresário individual a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, que tenha auferido receita bruta, no ano- calendário anterior, de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), optante pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo”.
Compartilhar