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AULA 3 DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR E APRENDIZAGEM Prof. Everton Adriano de Morais 2 CONVERSA INICIAL Na presente aula, discutiremos a importância dos processos mentais no funcionamento do comportamento motor, ou seja, a inter-relação entre esses processos e suas contribuições ao desenvolvimento humano. Já parou para pensar que estamos sempre em movimento? Esse movimento se dá desde os processos automatizados do nosso organismo (batimento cardíaco, fluxo sanguíneo, sistema respiratório etc.) até os nossos pensamentos mais complexos, como raciocínio lógico, leitura, resolução de problemas, entre outros. Tais mecanismos envolvem uma gama de informações interligadas e que contribuem para o bom andamento da nossa vida. Ao fazer um arremesso, um jogador de basquetebol não apenas utiliza articulações, movimento de pressão, músculos e força: há também uma interação com os pensamentos. Em frações de segundo, ele imagina o movimento e coordena todos os sistemas do organismo que serão envolvidos até a execução do arremesso. Quando um escritor vai produzir sua obra utilizando uma caneta, lápis ou material similar, ele tem em si uma organização a partir da coordenação motora, viso-motora, da atenção, da percepção, da memória e de muitas outras funções cognitivas. Dessa forma, conseguimos inicialmente entender que há uma ligação direta entre o comportamento motor e os processos da mente. Cada um tem sua particularidade e seu papel importante no desenvolvimento, mas existe uma integração que auxilia no amadurecimento e no crescimento de cada indivíduo. CONTEXTUALIZANDO Desde a infância até o envelhecimento, passamos por fases de maturação e aprimoramento de funções cognitivas. Pode-se dizer que o comportamento motor se inicia de forma controlada e, porteriormente, segue sendo aprimorado. Existe uma importância enorme em relação à estimulação no desenvolvimento infantil sobre o compormento motor e também a respeito da cognição. Há, portanto, no que tange a essa estimulação, uma responsabilidade que se distribui em diversas esferas – na família, na escola, nas atividades lúdicas e esportivas, entre outras (Murta et al., 2011, p. 220-229). A psicomotricidade atua em inúmeras áreas do conhecimento, como educação física, psicopedagogia, psicologia, fisioterapia, dentre outras, o que 3 mostra a representatividade que há entre as ciências que estudam o corportamento motor e a mente. As diversas teorias sobre o desenvolvimento humano demonstram preocupação a respeito de como esse desenvolvimento ocorre de forma integral e holística. As áreas de educação, por exemplo, consideram importante a relação e a mediação da psicomotricidade junto a características socioemocionais – controle inibitório, formação de autoconceito, dentre outros aspectos que auxliam na formação do indivíduo. Com base nisso, entende-se que a criança precisa contar com o autoconhecimento para se situar no meio que a cinrcunda, pois toda atividade e ação executadas no desenvolver são aprimoradas no decorrer dos anos. Contudo, é necessária a ligação entre o que é biológico e o que é do meio. Para autores como Jean Piaget (Santos, 2008, p. 15), a capacidade intelectual é resultante de interações junto ao mundo exterior, quando ocorre uma adapatação por meio de assimilação (estruturação cognitiva por meio da experiência anteoriormente vivenciada) e uma acomodação (inclusão de uma nova informação que acrescenta a estruturas anteiores). Isso corresponde às interações que demandam funções intelectuais e à motricidade propriamente dita (Santos, 2015, p. 14-15). TEMA 1 – PROCESSOS COGNITIVOS E COMPORTAMENTO MOTOR: PENSAR, AGIR E EXECUÇÃO A organização de pensamentos, emoções, funcionamentos biológicos, reações etc. acontece de forma simultânea em nossa mente. Mas como essa organização se dá? Entende-se que, por meio da sensação (processo responsável pelo recebimento dos estímulos e ativação dos órgãos dos sentidos) e da percepção (atribuição e interpretação dos estímulos recebidos), acontecem as primeiras interações com as informações que chegam ao nosso organismo, sendo organizadas em um terceiro processo, chamado de cognição. Considerando todos esses contextos, pode-se entender como o ser humano aprende, lembra de informações, manipula imagens mentais, percebe o mundo, interpreta ações e mais uma infinidade de interações. A cognição tem por responsabilidade organizar como os homens pensam e constroem o pensamento (Sternberg, 2016, p. 19-20). O comportamento motor, por sua vez, tem uma relação direta com os processos de pensamento. No funcionamento biológico a partir do sistema 4 nervoso há células funcionais (os motoneurônios), que têm por responsabilidade determinar a contração e o relaxamento dos músculos, o controle das articulações e o movimento em si. Um exemplo do comportamento motor junto à cognição é o ato de escrever: para executar essa função motora, são necessários a contração e o relaxamento de diversos músculos, assim como o uso de articulações, visando produzir o movimento e efetivar o comando. Toda e qualquer ação ligada à movimentação requer interações e ações do sistema nervoso como um todo, o que integra a cognição em todos os eventos. A aprendizagem motora ocorre desde os primeiros dias de vida. Apesar de um bebê ser incapaz de se defender a partir de suas ações, ele apresenta comportamentos motores e reflexos que se desenvolvem e se aprimoram no decorrer de sua existência. Reflexos como pressão palmar, de busca, entre outros são herdados da espécie humana e antecedem comportamentos motores construídos anos mais tarde (Gazzaniga; Heatherton; Halpern, 2018, p. 77; 361). A construção do desenvolvimento mostra a integração entre aprendizagem motora e pensamento, emoções e cognições. No nascimento, por exemplo, um bebê tem aparato biológico suficiente para reflexos básicos, mas que estão em constante desenvolvimento; a partir da estimulação e do apreender, eles são aprimorados a cada dia de vida. Outro exemplo refere-se à progressão do comportamento motor: inicialmente sem muita coordenação, a criança começa a se mexer na cama; depois, rola de um lado para o outro; depois, senta com a ajuda de alguém, ou não, e assim vai seguindo uma sequência até chegar ao ato de andar. Toda essa construção parte de um processo controlado – a princípio, precisando de certa atenção, mas, com o passar do tempo, contando com estimulação e envolvimento dos familiares e de outras pessoas envolvidas, todo e qualquer movimento passa a ser mais complexo. Após mais ou menos 1 ano de idade, essa criança já consegue ficar em pé sem apoio (não sendo esse o padrão para todas as crianças) e firmar mais os passos. Nesse caso, entra uma sequência simultânea de movimentos controlados e automatização de outros que foram praticados repetidamente, de acordo com a demanda do ambiente. Pode-se perceber que, desde os movimentos reflexos iniciais até os mais elaborados, a motricidade está ligada ao pensamento, às ações pré-motoras e motoras. Existe uma relação muito íntima entre a cognição e o comportamento motor: enquanto um prepara, planeja e elabora as ações, o outro executa, efetiva e efetua essas ações de uma maneira controlada ou automatizada baseado na 5 vivência e das experiências no dia a dia, seja em ambiente familiar ou escolar, por exemplo. Dessa forma, para que o desenvolvimento ocorra de maneira saudável, é de extrema importância a estimulação e o incentivo para maturação dessas capacidades. TEMA 2 – BRINCADEIRA É COISA SÉRIA PARA A MENTE: QUANDO O BRINCAR CONTRIBUI PARA A MENTE E PARA A MOTRICIDADE A aprendizagem está inserida nos primeiros anos de vida dos seres humanos. Segundo Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018, p. 364-365),as crianças, desde os primeiros momentos na maternidade, têm a capacidade de interação e de aprender. Por exemplo, caso uma pessoa pare em frente ao berço de um bebê e mostre a língua, a criança mostrará a língua também. De acordo com os autores, essa criança não olhou no espelho durante um tempo para aprender essa ação – ou seja, o ser humano tem um aparato biológico de imitação. Sabe-se que não aprendemos apenas por motivos hereditários; também a aprendizagem não é inata, mas há uma interação entre o ambiente e o biológico. Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018) ainda mencionam que a imitação configura a primeira interação social dos seres humanos, mas envolve uma capacidade intelectual peculiar, pois os recém-natos reproduzem imitações de outros seres humanos, e não de objetos – é como se os humanos categorizassem suas ações do processo de aprender desde o começo da vida. Entende-se, assim, que toda e qualquer brincadeira aplicada por qualquer pessoa a crianças pode ser reproduzida, sendo inicialmente mais simples em relação a gestos e movimento, e posteriormente mais complexa. A estimulação por meio do brincar também é extremamente importante na formação dos processos de aprendizagem. Cada atividade lúdica contribui diretamente e com grande expressividade para o desenvolvimento do ser. De acordo com Almeida e Shigunov (2004, p. 69-70), o brincar corresponde a algo intimamente ligado aos seres humanos. A construção das atividades do brincar possui uma linguagem singular e que varia de acordo com a faixa etária, aumentando sua complexidade a cada maturação alcançada. Os autores também definem a diferença entre brincadeira, jogo, brinquedo e atividade lúdica (Almeida; Shigunov, 2004): a brincadeira se refere a atividades livres e espontâneas; o jogo corresponde a brincadeiras, mas que exigem mediações de regras (nesse caso, pode-se entender que há um exercício 6 cognitivo de atenção, como, por exemplo, tomar decisões e saber o que pode ou não ser feito em uma atividade); o brinquedo é definido como um instrumento utilizado na brincadeira, logo, é importante definir quais serão utilizados, pois, para o desenvolvimento motor, são diversos os brinquedos que podem auxiliar na construção tanto do desenvolvimento quanto da brincadeira; por fim, a atividade lúdica envolve todos os outros mencionados anteriormente. É interessante analisar como o processo do aprender, o brincar e as atividades lúdicas auxiliam o desenvolvimento humano de um modo geral. Uma brincadeira de pular corda pode ajudar na interação e na maturação biológica, envolvendo processos cognitivos, como, por exemplo, atenção, tomada de decisão, motricidade voluntária e automatizada, além de aperfeiçoar o comportamento motor de um modo geral, aprimorando os movimentos característicos de cada faixa etária. Desde os comportamentos reflexos de um bebê até um movimento mais complexo, como um passo de dança ou um movimento de arte marcial em um exercício sincronizado para uma apresentação, a inter-relação entre comportamento motor e pensamento é constante (Fortuna, 2000, p. 3-4). TEMA 3 – EDUCAÇÃO PSICOMOTORA E SUAS HABILIDADES MENTAIS VISUAIS A educação psicomotora ocorre a partir da colaboração de diversos fatores, sendo eles cognitivos, comportamentais, emocionais, psicológicos, entre outros. Essa elaboração e esse aprimoramento dependem de como o ser humano se relaciona com a estimulação e percepção da vivência diária. Tudo decorre de como observamos e aprendemos todo e qualquer tipo de informação, o que é dado por meio do recebimento de estímulos que identificamos pelos órgãos dos sentidos – e, dentre esses, considera-se que a visão é a maior responsável pela interação do nosso organismo junto ao ambiente em relação à percepção. Estima- se que 80% das percepções humanas são visuais, envolvendo cores, textura, formas etc., além de toda a complexidade cognitiva para identificar esses estímulos (Fonseca, 2008, p. 281). Por meio dessa explanação, pode-se analisar que a aprendizagem acontece por uma interação de estímulos, interações e treinamentos, em parceria com a maturação neurológica, pois não bastam apenas o desenvolvimento biológico e seu progresso, mas uma construção de ambos. 7 Nos processos de aprendizagem, há o entendimento de que existe uma relação das capacidades viso-espaciais em conjunto com o comportamento motor. Por exemplo, a coordenação viso-motora é responsável pela reprodução da escrita, por desenhos, formas, traços etc., e a aplicação dessa habilidade requer diretamente uma integração de ações motoras e funções cognitivas complexas, como atenção concentrada e seletiva, coordenação motora fina, classificação, categorização etc. Outro ponto importante trazido por Fonseca (2008, p. 291) configura que o funcionamento psicomotor é possível apenas a partir da integração sistêmica de processos e por meio de uma efetuação visual saudável, sem a qual não há realização integral e adequada. Educar pelo movimento pelo movimento, mediante repetições físicas e sem uma organização integral do aprender não atende à necessidade da educação de um modo geral. O princípio holístico que integra as habilidades motoras junto à cognição traz à educação global uma forma não apenas de se movimentar, mas a construção de uma motricidade elaborada por particularidades de consciência do próprio corpo – concentração e organização de planos psíquicos que contribuirão para o desenvolvimento humano de um modo geral no processo do aprender. Dessa forma, os processos cognitivos auxiliam na aprendizagem pela motricidade: uma educação psicomotricista que envolve regulação e coordenação a partir de orientação espacial e temporal, concentração, habilidades que envolvem ritmo, flexibilização mental, agilidade e outras funcionalidades em relação à mente e ao comportamento motor, o que, segundo Fonseca (2008, p. 295), caracteriza um desenvolvimento da evolução das crianças, por exemplo, que vai do crescimento até a aprendizagem. Figura 1 – Descrição ilustrativa a respeito do processo de desenvolvimento do mover ao aprender Fonte: Fonseca, 2008, p. 296. 8 Outra questão importante apontada pelo autor refere-se à aprendizagem perceptivo-motora, que corresponde à construção de funções cognitivas – como a linguagem, por exemplo – por meio da educação na perspectiva do movimento, em que a criança deve desenvolver a sua aprendizagem por meio de noções espaciais, peso, tempo, relação interpessoal etc. associadas à conscientização do corpo e à busca da exploração do espaço que vivencia. Nesse sentido, explora- se a capacidade viso-espacial e é requerida uma construção de espaço, tempo e conhecimento perceptivo sensorial do corpo em movimento. Figura 2 – Descrição da educação motora em movimento Fonte: Fonseca, 2008, p. 296. Assim, pode-se analisar que a educação pelo movimento é caracterizada pela criatividade e pelo conhecimento espontâneo, pela relação da criança junto ao mundo externo e seu mundo interior. Toda construção parte de processos sensório-motores e vai até aprendizagens mais complexas de nível abstrato e metacognitivo, envolvendo uma reflexão do ser humano para aplicação mais refinada e elaborada diretamente. TEMA 4 – PSICOMOTRICIDADE E FUNCIONAMENTO CORTICAL: INTEGRAÇÃO BIOLÓGICA E O SOCIAL De acordo com Fonseca (2008, p. 414), a motricidade humana corresponde a uma interação comportamental entre o indivíduo e o meio externo. O cérebro é o órgão responsável pela integração entre as informações recebidas pelos sentidos e a interpretação dos estímulos vindos do ambiente. A execução do 9 movimento se origina em estruturas complexas do córtex cerebral, posteriormente passando por emissores responsáveis pela informação, de estrutura subcortical, sendo enviada por meio da medula. Essa construçãodestina-se diretamente ao sistema musculoesquelético, no qual ocorre a execução do comportamento motor. Toda essa construção, segundo Fonseca (2008), constitui a relação entre a intenção do movimento (ainda em um processo cognitivo) e a execução pelo comportamento motor. Para efetivação da motricidade, é necessário passar por diversas vias da cognição, como autocontrole, tomada de decisão, planejamento, pré-motricidade, entre outras. Há também uma interação com os estímulos recebidos por meio dos órgãos dos sentidos: visão, audição e, nesse caso comentado, tátil-cinestésico (Moraes, 2015, p. 85-86). A interação entre o sistema aferente (que recebe as informações dos estímulos por meio dos sentidos) e o sistema eferente (que executa a informação regulada e coordenada) parte de uma integração de processos internos e externos. A organização entre a regulação das informações recebidas e as posteriormente efetuadas para ação do comportamento tem uma relação junto ao ambiente que parte de um contexto histórico, social e cultural. A partir disso, segundo Luria e Wallon (Fonseca, 2008, p. 410-414), há uma inter-relação da prática e do conhecimento desenvolvido no meio em que o indivíduo está inserido: o cérebro é moldado de acordo com as vias de recebimento de informação, regulação, intenção e ação comportamental – todas essas sendo determinadas por uma interação ambiental e biológica. TEMA 5 – PSICOMOTRICIDADE, PROCESSOS COGNITIVOS E NEUROFUNCIONALIDADE: A CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA RUSSA A escola russa de estudos voltados ao comportamento e aos processos psicológicos tem como principais autores Vygotsky, Leontiev e Luria. Luria é responsável por explicações do funcionamento do sistema nervoso em um conjunto de estruturas funcionais, e seu trabalho defende que as funções cognitivas partem de uma integração sistematizada e funcional de ordem complexa, por meio de uma progressão filogenética e ontogenética construída de maneira sócio-histórica. A partir dos estudos sobre linguagem é possível analisar a evolução do comportamento motor em conjunto com processos cognitivos e suas complexidades. Desde os tempos da micromotricidade e da macromotricidade até a linguagem escrita, a filogênese mostra a evolução e a 10 maturação da espécie em relação à aprendizagem – o que direciona cada ação, pensar e agir (Fonseca, 2008, p. 406). A seguir, confira, na figura, como isso aconteceu no decorrer dos anos. Figura 3 – Descrição dos processos evolutivos da linguagem no decorrer dos anos Fonte: Fonseca, 2008, p. 406. Para Fonseca (2008, p. 407), o cérebro não age diretamente de forma equipotente, como diriam os unitaristas (corrente que acreditava no funcionamento único do cérebro para quaisquer funções), mas ele também não considerava plenamente correta a visão localizacionista de Gall (que trazia a ideia do funcionamento do cérebro em centros específicos: centro do andar, do ler etc.). A visão luriana é a de que as atividades cerebrais ocorriam de forma integradora e por um sistema funcional, possibilitando uma reorganização com base em uma imensurável flexibilidade, funcionalidade esta que, segundo o autor, não está construída por um sistema rígido e imutável, mas que desenvolve uma interligação entre diversas áreas de forma simultânea. Por exemplo, o comportamento motor de andar contribui, a cada fase do desenvolvimento, para maturação e evolução, e se aprimora e se aperfeiçoa de acordo com o exercício e a estimulação de treinamento das habilidades. O viés e o foco dos psicomotricistas russos configuravam o entendimento do desenvolvimento humano por meio de uma construção sócio-histórica. Conforme o tempo e a história vão definindo rotas e enredos, o ser humano passa por alterações fisiológicas e anatômicas. Vygotsky defendia ser a linguagem a responsável pela humanização dos homens, e todos os processos cognitivos básicos ocorreriam de acordo com a história social do indivíduo, e não sendo 11 determinadas por fatores congênitos. Logo, as habilidades dos indivíduos resultariam da interação social e cultural, desenvolvendo o pensar, a ação motora e todos os outros processos cognitivos (Vygotsky, 2008, p. 9-10). Dessa forma, apesar das investigações com base no pensamento luriano a respeito do funcionamento cerebral e seus estudos sobre o sistema nervoso, os pensadores russos tinham uma grande vertente histórico-cultural, que carregava como pressupostos a influência da cultura e os hábitos construídos por meio da interação externa. FINALIZANDO Os processos do aprender ligados ao desenvolvimento cognitivo e à interação do ambiente são produzidos e criados a partir de estímulos e treinamentos. Quando se fala em aprendizagem, pode-se discutir sobre perspectivas motoras, visuais, auditivas, dentre outras, mas a construção dessas ocorre por meio de assimilações e acomodações, e traz transformação à maturação de cada indivíduo. Respeitando as particularidades de cada um, a educação, por meio do brincar, estimula a criança a, por exemplo, aprender sobre algo novo, criar hipóteses, usar a imaginação e potencializar a criatividade. Com isso, suas capacidades e habilidades cognitivas tendem a se aprimorar e o funcionamento biológico e o processo maturacional do córtex tendem a aperfeiçoar funções, como atenção, memória, linguagem etc. Outrossim, entende-se que a aprendizagem tem uma ligação direta com a motricidade, pois os seres humanos constroem atividades, criam e montam histórias – cheias de intenções – que partiram de sua interação social-cultural; mediante isso, aplicam esses contextos no seu dia a dia, tanto no âmbito educacional quanto em outro meio social. A regulação e a coordenação desses processos levam ao aprimoramento da inter-relação dos processos de funcionamento interno e externo no aprender. 12 LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica BORGES, S. de M. et al. Psicomotricidade e retrogênese: considerações sobre o envelhecimento e a Doença de Alzheimer. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 37, n. 3, p. 131-137, 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rpc/a/hP88GYvFQnGcgJ39qctcCwC/?lang=pt>. Acesso em: 10 ago. 2021. Texto de abordagem prática GOMES, J. A. D. G. Construção de coordenadas espaciais, psicomotricidade e desempenho escolar. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Campinas, Campinas, 1998. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/252617>. Acesso em: 10 ago. 2021. Saiba mais OLIVEIRA, G. C. Configuração cognitiva de crianças com dificuldades de aprendizagem em função de uma avaliação escrita de língua portuguesa. Pro- posições, v. 5, n. 1, p. 7-20, 1994. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644322>. Acesso em: 10 ago. 2021. 13 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. C. P. C. de; SHIGUNOV, V. A atividade lúdica infantil e suas possibilidades. Journal of Physical Education, v. 11, n. 1, p. 69-76, 2008. Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/v iew/3793/260>. Acesso em: 19 jun. 2018. FONSECA, V. da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. FORTUNA, T. R. Sala de aula é lugar de brincar? In: XAVIER, M. L. M.; DALLA ZEN, M. I. H. (Org.). Planejamento em destaque: análises menos convencionais. Porto Alegre: Mediação, 2000, p. 147-164. (Cadernos de Educação Básica, 6). GAZZANIGA, M.; HEATHERTON, T.; HALPERN, D. Ciência psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2018. MORAES, S.; MALUF, M. F. de M. Psicomotricidade no contexto da neuroaprendizagem: contribuições à ação psicopedagógica. Revista Psicopedagogia, v. 32, n. 97, p. 84-92, 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 84862015000100009>. Acesso em: 19 jun. 2018. MURTA, A. M. G. et al. Cognição, motricidade, autocuidados,linguagem e socialização no desenvolvimento de crianças em creche. Journal of Human Growth and Development, v. 21, n. 2, p. 220-229, 2011. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104- 12822011000200005>. Acesso em: 19 jun. 2018. VYGOTSKY, L S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008. Conversa inicial Contextualizando LEITURA OBRIGATÓRIA