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Apostila Formação Docente para a Diversidade Capítulo 1: Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Especial Sumário: Introdução 1. Currículo na Educação Especial 2. Formação de Professores e Autismo 3. Desenvolvimento de Habilidades Sociais e Deficiência 4. Legislação na Formação Docente para a Diversidade 5. Avaliação Pedagógica na Educação Especial Bibliografia e Literatura Complementar Introdução A educação especial e inclusiva é uma abordagem de ensino atual, que apresenta o objetivo de garantir o mesmo direito de todos à educação. Este relativamente novo conceito de educação pressupõe a igualdade de chances, a valorização e reconhecimento das diferenças humanas, considerando as multiplicidades sociais, culturais, físicas, comportamentais e étnicas, podendo assim, influenciar na transformação da cultura, das práticas e das políticas em vigor nas instituições de ensino, garantindo o acesso, a participação e a aprendizagem de todos, sem que haja exclusão. A educação inclusiva é um movimento mundial, e trata-se de uma ação política, cultural, social e pedagógica, que tem o objetivo de defender o direito de todos os alunos de estudarem juntos, aprendendo e participando. Todos tendo a oportunidade de conhecer as diferenças, respeita-las, sem nenhum tipo de discriminação. A escola inclusiva permite a abertura de espaço para todas as crianças, incluindo as com necessidades educacionais especiais. Os alunos com deficiência têm direito, por lei, de estudar em qualquer escola regular. Com a convivência com outras crianças, estes alunos deixam de estar separados e sua acolhida e introdução em uma classe regular pode contribuir muito para a implantação de uma educação inclusiva. Possibilitar que o processo de inclusão possa ocorrer da melhor maneira é responsabilidade da equipe de coordenação e diretoria formada normalmente pelo diretor, coordenador pedagógico, orientador e vice-diretor, e para isso é necessário que tenham conhecimento, recursos e possibilidades para colocá-lo em andamento no dia a dia da vida escolar. Incluir na educação básica a pessoa com deficiência visual, auditiva e intelectual merece mais cuidado e atenção, diante da possibilidade de rejeição do grupo para com essas pessoas. Sendo assim, não podemos permitir uma inclusão puramente ilusória, apenas permitindo que alunos com necessidades especiais estejam em meio aos outros, e deixando ocorrer naturalmente sua interação sem que aja direcionamento e mediação pelos educadores. Incluir socialmente, não significa apenas tornar as pessoas com necessidades especiais em pessoas normais, mas sim, oferecer a estas pessoas o direito, não só de terem suas necessidades reconhecidas, mas também respeitadas e atendidas pela sociedade. Sabemos que o termo “Educação Especial”, se refere a diversos tipos de atendimentos especializados aos estudantes. Assim, refere-se não só aos alunos com deficiências, como também a alunos que necessitam uma metodologia diferente para se desenvolverem no seu potencial máximo, como estudantes com Altas Habilidades. O atendimento aos alunos com deficiências no Brasil é relativamente recente. Em 2006 a ONU determinou que os alunos com deficiências fossem acolhidos no ensino regular, porém a prática começou a se solidificar no Brasil por volta de 2008. Devemos lembrar que quando falamos em “deficiência”, entramos novamente em uma ampla categoria, pois nos referimos aos diversos tipos de distúrbios, espectros e cenários tanto físicos quanto mentais, como: Autismo, deficiências físicas, síndrome de Down, distúrbios cognitivos, e outros. Em face da complexidade e diversidade do tema, uma escola que procura atender as necessidades dos estudantes, deve contar com uma estrutura planejada em diversos aspectos, arquitetônicos, sociais, políticos, metodológicos para obter êxito. Devemos então contar com diferentes profissionais, não só proficientes quanto ao material acadêmico, como também na abrangência de pedagogias e instrumentos para o ensino dos estudantes com necessidades especiais, como o domínio de Libra, psicologia, fonoaudiologia, medicina e outros. Sendo essencial a diversidade de atendimentos proporcionados pela Escola, para o suprimento das necessidades dos alunos, devemos então analisar os diversos aspectos da “Educação Especial”, não como individuais, mas como complementares um ao outro. O psicólogo não deve se ausentar das dinâmicas fisiológicas do analisando, por exemplo, da mesma maneira que o professor de educação física necessita prestar atenção nas relações mentais e cognitivas do aluno. É essencial realizar este tipo de relação pedagógica não só através do vocabulário de diferentes matérias, mas também pela adição de novas disciplinas em sua formação profissional, complementando os conhecimentos anteriores. Este aspecto da diversidade curricular costuma ser comum na carreira dos Psicopedagogos, visto a abrangência de tópicos que devem ser analisados quando nos referimos a educação. 1. Currículo na Educação Especial A escolarização de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas, tem sido um desafio para os profissionais da educação que buscam alternativas possíveis de trabalho, para que possam proporcionar o acesso à educação para estes alunos. Neste panorama, o currículo escolar, a avaliação e particularmente as práticas pedagógicas, têm causado bastante preocupação para esses profissionais, já que tais fatores são centrais para pensarmos a inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais nas instituições de ensino. O intercâmbio entre as áreas de currículo e de Educação Especial mostra-se obscuro e bastante complicado quando se trata dos processos de ensino e aprendizagem e de acesso ao conhecimento pelos alunos com deficiência, TGD (Transtorno Global do Desenvolvimento) e altas habilidades/superdotação, já que muitas preocupações estão presentes. Ao se cogitar uma escola com abordagem inclusiva, devemos pensar em um currículo que respeite as diferenças e que permita aos alunos percorrerem os diversos caminhos do processo de aprendizagem. Entretanto, o currículo que tem sido apresentado e vivenciado nas escolas nem sempre tem respeitado a diversidade existente. Para analisar essa questão, é fundamental, que a escola se encarregue da tarefa de se adaptar e repensar o currículo para que este atenda e inclua todos os alunos. Sendo assim, a adaptação curricular tem sido um desafio para muitas instituições de ensino tanto na perspectiva de conseguir uma modificação em seu interior para que possa atender a todos de forma inclusiva, quanto de efetuar de maneira eficiente as políticas curriculares, e conseguir assim contemplar a diversidade. Quando falamos de Currículo na Educação Especial e inclusiva, falamos de experiências culturais, cuidado e educação. Sendo assim, falamos de assuntos relacionados aos saberes e conhecimentos, intencionalmente selecionados e organizados pelos profissionais de uma instituição de ensino, para serem experienciados pelos alunos. O currículo para a Educação Especial e inclusiva deve apresentar embasamento legal, levar em consideração a realidade sociocultural dos alunos, de suas famílias e da comunidade em que a instituição se encontra, assim como, abordar conteúdos que ampliem o universo cultural dos alunos na perspectiva de sua formação humana. O currículo faz parte da Proposta Pedagógica da escola, e deve ser conduzido pelas conjecturas que orientam essa proposta e se vincular com os demais elementos nela definidos. As experiências designadas para a educação especial indispensavelmente devem englobar tanto os conteúdos relativos aos diversos campos de conhecimento quanto os conhecimentos relacionados aos valores, atitudes e procedimentos frente aos limites e necessidades dos alunos. Necessariamente deve ser flexível, permitindo sempre um espaço para possíveis imprevistos. 2. Formação de Professores e Autismo O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido como um distúrbio do desenvolvimento neurológicopresente desde a infância. Os portadores apresentam déficits nas dimensões sociocomunicativa e comportamental. Tais características favorecem o isolamento da criança comprometendo ainda mais as habilidades comunicativas. Neste contexto a escola se apresenta como um fator fundamental para enriquecer as experiências sociais das crianças com TEA, promovendo a interação com outras crianças e favorecendo o desenvolvimento de novas relações, aprendizagens e comportamentos. Todas as crianças, sem exceção, têm o direito de frequentar a escola. A inclusão escolar, no país, é uma ação política, cultural, social e pedagógica que pretende garantir o direito de todos os alunos de estarem juntos no processo de aprendizagem. A discussão sobre a Educação Especial vem sendo abordada no país desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Entretanto, no Brasil, temos somente em 1989 uma legislação que determina que os portadores de deficiência teriam que ser inseridos, preferivelmente, no ensino regular. A lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, na área da educação, rege o seguinte: “a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais, com currículos, etapas e exigências de diplomação próprios; b) a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas e públicas; c) a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimento público de ensino; d) o oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré-escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam internados, por prazo igual ou superior a 1 (um) ano, educandos portadores de deficiência; e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo; f) a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no sistema regular de ensino”. Na área de recursos humanos um dos tópicos desta lei estabelece: “a formação de professores de nível médio para a Educação Especial, de técnicos de nível médio especializados na habilitação e reabilitação, e de instrutores para formação profissional”. Assim, começou a ser discutida a universalização da Educação, e a ser implementada nas escolas regulares uma política de Educação Inclusiva, acabando com as políticas educacionais anteriores, onde as crianças, com algum tipo de deficiência, eram mantidas separadas das outras crianças em salas de educação especial. Tanto os portadores de TEA como aqueles com deficiência, altas habilidades e superdotação, devem estar inseridos na rede regular de ensino, porém recebendo atendimento de educadores especializados no período de contraturno. Estes profissionais têm como meta identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que neutralizem as dificuldades para a plena participação dos alunos nas escolas públicas e privadas, considerando suas necessidades específicas. As atividades são desenvolvidas nos espaços de Atendimento Educacional Especializado (AEE) e devem ser diferenciadas daquelas realizadas na sala de aula comum, sendo assim, não devem ser substitutivas à escolarização, entretanto devem complementar e auxiliar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos com TEA. Por não ter uma causa específica o autismo é chamado de Síndrome (conjunto de sintomas) e, como qualquer síndrome, o grau de comprometimento pode variar do mais severo ao mais brando, sendo que o autismo não pode ser detectado no nascimento e nem através de exames durante a gestação. Não é uma doença contraída ou transmitida pelos pais, mas é uma síndrome manifestada desde tenra idade. Nos centros especializados em atendimento aos autistas, são aplicadas metodologias e estratégias de ensino-aprendizagem que trazem resultados muito positivos, sendo que o psicopedagogo tem um papel fundamental em avaliar e elaborar estratégias de ensino para o estímulo do autista. Para que este conquiste, dentro de sua realidade, a maior independência possível. Mas surgem algumas questões: como a escola deve receber o aluno autista e trabalhar de forma adequada com este aluno? É possível que métodos de ensino utilizados em escolas especiais para autistas sejam adaptados ao currículo escolar? Ainda pode ser constatada muita dificuldade nas escolas regulares quando o assunto é Educação Inclusiva. Há falta de informação quanto aos procedimentos que devem ser feitos quando há, em sala de aula do ensino regular, alunos portadores de necessidades especiais. Orientando estes procedimentos, encontramos o psicopedagogo como agente de inclusão na escola e na sociedade, com um papel fundamental, principalmente se consideramos a concepção interdisciplinar da docência, permitindo que o psicopedagogo se torne um mediador aluno-escola-família. Entretanto mais do que a aprendizagem em si, é preciso focar na qualidade de ensino que será oferecida aos alunos portadores de necessidades especiais como os autistas. Portanto, é necessário um plano de ensino que respeite a capacidade individual de cada aluno e que proponha atividades diversificadas para todos e, principalmente, considere o conhecimento prévio que cada aluno traz para a escola. Para além da relação educador aluno, as estratégias inclusivas devem acionar tanto a comunidade escolar como os familiares dos alunos. É necessário garantir momentos para que todos discutam a questão de inclusão e possam articular de forma conjunta ações concretas para que a inclusão aconteça de fato. Breno Viola. Primeiro Faixa preta de Judô com Síndrome de Down. 3. Desenvolvimento de Habilidades Sociais e Deficiência As habilidades sociais se definem como sendo diversas classes de comportamentos sociais no acervo do indivíduo, para defrontar de maneira apropriada e de acordo, as necessidades encontradas nas situações interpessoais. Estas habilidades, que vão sofrendo modificações e adaptandose conforme as necessidades do indivíduo, não podem ser traduzidas como uma boa educação, ou apenas o cumprimento de tradições de convivência social, pois devem ser antes vistas como um campo de conhecimento e aplicação. São encontradas uma diversidade de habilidades consideráveis para todo e qualquer indivíduo, como as habilidades para se comunicar adequadamente, as habilidades sociais que permitem o correto e adequado exercício profissional, entre outras. Tais habilidades podem ser classificadas em grupos ou subgrupos de menor ou maior abrangência. No que se destina, pontualmente, à promoção de habilidades sociais na infância, são poucas as pesquisas que abordam este assunto. Entretanto, pode-se encontrar um sistema que contempla sete classes de habilidades consideradas como sendo fundamentais para o desenvolvimento relacional e social de crianças, que são: o autocontrole e expressividade emocional, a capacidade de fazer amizades, ter empatia, apresentar civilidade, assertividade, solucionar problemas interpessoais e habilidades sociais no ambiente escolar. O desenvolvimento de habilidades sociais é um assunto que vem gradualmente conquistando relevância entre os psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos, educadores e até mesmo outros profissionais, como os das ciências exatas, principalmente pelo fato de que as habilidades sociais apresentam inúmeros benefícios e vantagens para a vida das pessoas tanto profissionalmente quanto nos relacionamentos interpessoais. A valorização das relações interpessoais no ambiente de trabalho tem proporcionado novas demandas para a formação profissional no nível superior, mais especificamente, em relação ao ensino e desenvolvimento de habilidades interpessoais consorciadas às habilidades acadêmicas e técnicas. Estudos indicam que um conjunto bem elaborado de habilidades sociais pode contribuir para relações mais harmoniosascom os amigos e os adultos durante a infância. Pode também, melhorar a qualidade de vida e possibilitar a realização pessoal e profissional, já que estas habilidades proporcionam a melhora nos níveis de competência social, e traz tantos outros benefícios para a vida das pessoas. No caso dos alunos com necessidades educacionais especiais, o desenvolvimento de todo o potencial de habilidades sociais latentes nesses alunos só será possível na medida em que estejam expostos às situações sociais as mais diversas, exercendo suas escolhas e atitudes e arcando com consequências, na medida em que esta responsabilização for saudável e possível. Poupar constantemente os alunos com deficiência da possibilidade de aprenderem com as diversas situações sociais, conflituosas ou não, é roubarlhes a possibilidade de uma inserção realmente eficaz e profunda. Nesse sentido, podem ser efetuados os trabalhos práticos e as formações mais diversas, obviamente através de tutoria e mediação, para fomentar nos alunos com deficiência o desenvolvimento plenamente possível de suas habilidades sociais. Gostaríamos de ressaltar aqui um trabalho muito interessante com alunos com síndrome de Down inseridos em treinamento de Judô, com supervisão técnica e médica. Esses alunos, além do condicionamento e saúde física, desenvolvem habilidades sociais fundamentais como respeito, disciplina, capacidade de concentração, conhecimento de limites, além de uma elevação de auto estima crucial para a aplicação eficaz das demais habilidades: https://www.youtube.com/watch?v=RT7Fr1hWE_k 4. Legislação na Formação Docente para a Diversidade Existem muitas discussões sobre a formação, a qualificação e a prática pedagógica dos docentes da Educação Básica, porém, não ocorrem muitos questionamentos sobre a formação e a prática pedagógica do docente do Ensino Superior, no que se refere a aspectos didático-pedagógicos da formação profissional pedagógica específica, em função de que não são somente profissionais da área da educação e das licenciaturas que atuam neste nível de ensino, mas também profissionais de outras áreas ou pesquisadores sem formação didático-pedagógica nenhuma, mas que por razões diversas se tornaram docentes. É necessário que se questione quem são os formadores dos docentes que atuam na Educação Básica, no trabalho com os alunos com deficiência. Será que estes formadores possuem uma formação que consiga valorizar e tornar as orientações pedagógicas adequadas e possíveis? Esta é uma questão crucial presente nos cursos de licenciatura, visto que grande parte de seus docentes são bacharéis com escassa formação pedagógica e sem nenhuma proximidade com a realidade da educação básica. No que concerne a vivência e experiência educacional com pessoas com deficiência, essas questões são ainda mais agravadas. É necessário que exista a preocupação com a formação dos formadores. Estes necessitam expandir sua formação pedagógica no sentido de integrar a pesquisa à prática educativa. O professor de nível superior, deve basear sua prática no conhecimento sociocultural, no sentido de atuar construtivamente com a diversidade de seus alunos, bem como com a diversidade da comunidade universitária. Este docente necessita integrar conhecimentos socio-científicos, para que não trabalhe apenas como pesquisador ideológico, distanciado da realidade. Para isso, é necessário que possua conhecimentos metodológicos, curriculares, contextuais e pedagógicos. A profissão docente, na atualidade, não tem o objetivo de apenas transmitir um determinado conhecimento acadêmico, visto estar envolvida na luta contra a exclusão social, a favor da participação social mais ampla nas relações com a comunidade, exigindo-se deste profissional uma formação permanente. No que concerne ao processo de formação de docentes para o trabalho com a diversidade e as pessoas com deficiência, ocorrem no Brasil diversos instrumentos jurídico-normativos respaldando essa temática, voltados para os docentes da Educação Básica. A Declaração de Salamanca (1994) define que se deve garantir “programas de treinamento de professores, tanto em serviço como durante a formação, que incluam a provisão de educação especial dentro das escolas inclusivas”. Também em 1994, a Portaria MEC nº. 1.793 apoia a necessidade de incorporar conteúdo referente a necessidades educativas especiais em todos os cursos de graduação, principalmente na área da formação de docentes. Visando tornar possível que os futuros professores respondam às exigências do contexto educacional atual, dentre elas a diversidade entre os alunos, podemos identificar algumas orientações no Parecer CNE/CEP9/2001 que originou o parecer nº 2 do CNE/CBE, instituindo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Podemos destacar as seguintes orientações: “As novas tarefas atribuídas à escola e a dinâmica por elas geradas impõem a revisão da formação docente em vigor, na perspectiva de fortalecer ou instaurar processos de mudança no interior das instituições formadoras, respondendo às novas tarefas e aos desafios apontados, que incluem o desenvolvimento de disposição para atualização constante de modo a inteirarse dos avanços do conhecimento nas diversas áreas, incorporando-os, bem como aprofundar a compreensão da complexidade do ato educativo em sua relação com a sociedade. Para isso, não bastam mudanças superficiais. Faz-se necessária uma revisão profunda de aspectos essenciais da formação inicial de professores, tais como: a organização institucional, a definição e estruturação dos conteúdos para que respondam às necessidades da atuação do professor, os processos formativos que envolvem aprendizagem e desenvolvimento das competências do professor, a vinculação entre as escolas de formação inicial e os sistemas de ensino, de modo a assegurar-lhes a indispensável preparação profissional.” Nas Diretrizes Nacionais para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena (Resolução CNE/CP nº 1/2002), podemos encontrar análises que sublinham a importância da preparação de professores que trabalhem com a diversidade. O artigo 2º determina que “os cursos devem visar a preparação do professor para o acolhimento e o trato da diversidade” e o artigo 6º faz a recomendação de que “os currículos dos cursos de licenciatura contemplem conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais”. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva enfatizando o Atendimento Educacional Especializado – AEE, surge em 2008. Para regulamentar a implementação dessa política é aprovado o Decreto nº 6.571/2008, revogado pelo Decreto nº 7.611/2011, dispondo sobre a Educação Especial, o AEE e dando outras providências. O artigo 5º desse decreto, no 2º parágrafo inciso III e IV, aborda o processo de formação continuada dos professores, gestores, educadores e outros profissionais da escola, para a educação com a perspectiva da educação inclusiva. Ainda que a legislação brasileira contenha disposições jurídicas muito avançadas em termos da garantia e direitos das pessoas com deficiência, muito ainda está no âmbito teórico e não no âmbito da concretização efetiva dessa legislação. Nessa legislação, em sua generalidade, não ocorrem discussões sobre a necessidade da formação de professores da Educação Superior para trabalharem com as exigências do contexto educacional inclusivo atual, nem orientações para a ação docente para com os alunos universitários com deficiência. A Universidade, nessa legislação, consta apenas como devendo “desempenhar um importante papel consultivo na elaboração de serviços educativos especiais, principalmente com relação à pesquisa, à avaliação, à preparação de formadores de professores e à elaboração de programas e materiais pedagógicos”. Mesmo considerando que a universidade está sendo demandada para auxiliar nas reformaseducacionais para os outros níveis de ensino, ocorrem, no contexto universitário, uma série de barreiras, de ordem arquitetônica, de comunicação/informação, de transporte, de ajudas técnicas, de formação de professores, de ordem didático-pedagógica, curricular e atitudinal, que não demonstram condições básicas de acessibilidade no sentido de assegurar a permanência e o desempenho bem sucedido de pessoas com deficiência. A formação permanente dos professores universitários responsáveis pela capacitação dos professores dos cursos básicos é uma necessidade fundamental e que se encontra como recomendações dispersas, sem fundamentação legal que a consolide. Nesse sentido, os próprios professores universitários devem suprir essa lacuna buscando experiência prática e formação aprofundada, para terem condições de formar profissionais da educação que tenham noção real do campo com o qual estão lidando. 5. Avaliação Pedagógica na Educação Especial Estão ocorrendo mudanças muito rápidas na Educação Especial, acarretadas pelos movimentos pela inclusão escolar. Desse modo, é necessário que se reflita sobre o papel da escola e do professor para o atendimento ao aluno ingressante, levando em conta suas peculiaridades, para que a aprendizagem se concretize permitindo sua inclusão no mundo escolar. É a formação do professor no âmbito da Educação Especial que pode prepara-lo para enfrentar as demandas atuais, particularmente no que se refere ao currículo escolar e às práticas pedagógicas, nas quais a avaliação tem um papel determinante. Através de observações e experiências educacionais publicadas em pesquisas, podemos verificar que a prática tradicional da avaliação em sala de aula segue referenciais teóricos estáticos para verificar o aprendizado escolar e o desempenho dos alunos sobre determinado conteúdo. Ainda que se tenha avançado no que se refere à avaliação pedagógica, concretamente ainda vemos ser mais valorizado o produto do aprendizado escolar do que o processo pelo qual a aprendizagem ocorre de modo eficaz. Podemos perceber que o habitual processo avaliativo não tem atendido a demanda de estabelecer qual a forma de ensino mais adequada para os educandos com necessidades educacionais especiais, bem como avaliar o seu potencial de aprendizagem. A inadequação dos procedimentos diagnósticos, a falta de avaliação de aprendizagem e acompanhamentos adequados, perpetua uma grande quantidade de equívocos no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual. Na educação especial, os docentes devem utilizar diferentes critérios e instrumentos avaliativos para que os alunos não sejam prejudicados. Será por intermédio da avaliação que os docentes podem refletir sobre sua prática pedagógica, lançando mão de diversas estratégias que podem ser utilizadas para alcançar avanços significativos com os alunos. Faz parte desta reflexão uma avaliação da organização curricular, das condições do trabalho docente, das possibilidades de interação na relação pedagógica, dos processos avaliativos, entre outros fatores básicos na escola. No passado, e muitas vezes no presente ainda, efetuava-se a avaliação simplesmente para verificar se o aluno aprendeu, com uma escala classificatória para testar e medir seus acertos e erros. A ferramenta mais utilizada para avaliar era a prova, que distorcia os objetivos do ensino/aprendizagem e que servia para punir os alunos renitentes e retê-los na série, ocasionando medo entre os educandos e impedindo uma relação integral e construtiva entre docente e discente. Com os avanços da Pedagogia e da Psicologia, as mudanças postuladas na avaliação, comprovam a interação do aluno no processo de ensino/ aprendizagem, tornando-se um elo entre a sociedade, as escolas e os estudantes. Todos esses segmentos devem repensar a avaliação para que não se comprometa a qualidade do ensino e para que o educador não seja levado pelo autoritarismo e arbitrariedade, procurando mais difundir suas crenças ideológicas do que ensinar conteúdo prático e construtivo. O maior desafio no processo de avaliação ainda se encontra na classificação escalar dos alunos. Apesar de ocorrer um discurso superficial de que já são adotadas tendências inovadoras de avaliação, verifica-se na prática uma grande resistência da comunidade escolar em torno de formas diversificadas de avaliação para o aperfeiçoamento das técnicas e metodologias pedagógicas que estão sendo aplicadas. Os maiores obstáculos ocorrem no trabalho docente, em que são estabelecidas tarefas idênticas para todos os alunos, explicações generalizantes, atividades tediosas e pouco diversificadas. No discurso dos docentes, é comum encontrarmos angústia, desânimo, e a citação de obstáculos os mais diversos (muitos imaginários), para a execução de tarefas e atividades que favoreçam um aprendizado eficaz e engajado, com a utilização adequada dos espaços que ocorrem nas escolas, tais como pátios, jardins, piscina, biblioteca, laboratório de informática e outros. A avaliação, enquanto relação mútua, deve conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo estudante e pelo professor, como ação reflexiva que ocorre na sala de aula para que seja possível um saber aprimorado, enriquecido, carregado de significados e de compreensão. Esta forma de avaliação exige do professor uma relação epistemológica com o aluno, buscando uma reflexão aprofundada sobre os modos como ocorre a compreensão sobre o objeto de conhecimento. A educação se perfaz com flexibilidade e criatividade perante os conflitos e a solução dos mesmos, de modo que a avalição se baseie na realidade e a escola seja considerada um espaço para a transformação pessoal e o enriquecimento do saber. É de fundamental importância que o docente desafie e repense o conceito de “pedagógico”, saindo do cotidiano rotineiro e realizando um aprendizado prazeroso, para que seus os alunos adquiram segurança na aquisição do conhecimento, perdendo o medo de errar e ousando mais, aprendendo a trabalhar por tentativa e erro e formulação de experimentos adequados a seus objetivos. Não é eficaz manter o conhecimento em compartimentos estanques, pois quando os alunos desenvolvem sua competência na área cognitiva, suas possibilidades de inserção social aumentam consideravelmente, assim como as relações interpessoais que podem ser estabelecidas, modificando a maneira como veem a sim mesmos. O docente que está atento ao processo de ensino aprendizagem, não se importa em analisar se os alunos dominam ou não um assunto específico ou capacidade, mas sim, vai elaborar uma reflexão e análise sobre o que sabem, sobre o que se ensina, o que já foi aprendido e o que falta aprenderem. Adotando esta postura, os docentes passam a olhar não apenas o produto final da aprendizagem, mas passam a analisar os processos e a forma ocorrem, sendo humilde o suficiente para enxergar os seus acertos e erros na ação pedagógica. O educador não deve se colocar na posição autoritária e arrogante de quem se apresenta detentor de todo o saber; mas sim, ter a consciência de saber que não sabe tudo, sabendo que o analfabeto não é um homem fora da realidade, mas alguém que tem sua própria experiência de vida, sendo assim um portador de seu próprio saber. Deve-se levar em conta que em toda a aula ocorrerão reações diferentes, sendo o maior ou menor aproveitamento acarretado pelo modo como se lida com as reações dos alunos. A avaliação não pode ser enxergada como uma caçada aos erros dos alunos, mas sim como uma busca por excelência. Desse modo, é importante analisar de que modo o aluno é capaz de aprender, incentivando-o sobre o que realizou e encontrando os caminhos do seu desenvolvimento. Por esta abordagem, não é possível considerar apenas os produtos da aprendizagem, avaliados pelas habilidades e inabilidades demonstradas pelos alunos, mas também compreender as novas formas de ensinar que fazem parte de um crescimento contínuo e regrado.A avaliação deve ser um processo permanente, onde alunos podem aprender com alunos, pelo estímulo contínuo dos professores, fazendo com que se sintam capazes de aprender. O professor assume assim o papel de gestor do conhecimento, deixando de ser selecionador, sendo para isso necessárias três ações fundamentais na sala de aula: presença, versatilidade e competência. A avaliação deve ser a ferramenta constante para dar suporte ao processo educacional do aluno, bem como em seu processo de constituição de si mesmo como sujeito é esse suporte que não permite que o aluno desista perante suas dificuldades, e que veja no docente e na escola o apoio necessário para quebrar o círculo vicioso de fracasso e repetência. O professor deve sentir que seus alunos realmente aprenderam em todos os momentos, tendo claro o quanto evoluíram e o que eles realmente aprenderam, analisando se seus objetivos estão sendo atingidos. A evolução deve ser muito clara e transparente para que se possa continuar o trabalho satisfatoriamente. O aluno traz seus conhecimentos para a escola, e cabe ao docente conhecer o histórico de conhecimentos que os alunos já possuem, e não analisar apenas suas dificuldades. O que importa não é a avaliação das dificuldades, e sim das diferenças, pois estas podem enriquecer o aprendizado, contribuindo para o processo. As diferenças podem ser observadas nas habilidades e conhecimentos já adquiridos pelos alunos, analisando-se o que o educando realiza sozinho, determinando seu campo de desenvolvimento real. Esses conhecimentos devem pautar o ensino/aprendizagem, expandindo as oportunidades para o desenvolvimento. Neste processo, o docente deve se assumir como mediador e orientador do educando para a construção de seus processos mentais. Trata-se de um processo em constante transformação, que ocorre no cotidiano do educando. Nesse sentido, a escola e o docente enquanto mediador, tornam-se insubstituíveis para a emancipação possível das pessoas com deficiência intelectual, constituindo-se como processos de mediação para a a integração de novos modos de conhecimento. Nesta abordagem, um docente mediador e uma escola inclusiva cooperam a partir dos conhecimentos apropriados pelos alunos, conferindo um caráter significativo para suas ações pedagógicas. O professor, ao contrário de enumerar os problemas do aluno, deve buscar recursos e apoios para efetivar seu sucesso escolar, sem focar na deficiência, mas dando ênfase ao processo pedagógico e as formas, condições e situações de ensino/aprendizagem. A avaliação é uma ferramenta necessária e constante do trabalho docente, acompanhando continuamente o processo de ensino e aprendizagem. Os resultados obtidos no processo conjunto do professor e dos alunos, são relacionados com os objetivos propostos, com a finalidade de detectar progressos e dificuldades, reorientando o trabalho docente para as correções necessárias. Desse modo, a avaliação não se trata de um ato isolado, mas sim de um aspecto determinante para a ação educativa, propiciando a construção do conhecimento e redimensionando a prática pedagógica do professor, ao fornecer subsídios que possibilitam a observação realista de como ocorre o processo de ensino/aprendizagem. As mudanças de orientação determinadas pelas avaliações, devem ser discutidas coletivamente, através das avaliações realizadas durante as reuniões de estudo de caso, com a participação de professores e especialistas, no próprio ambiente escolar. Isso deve ocorrer preferencialmente como um processo continuo, conforme a demanda e necessidade dos docentes, com a finalidade de verificação dos avanços cognitivos, motores e sociais, como também das estratégias pedagógicas que estão sendo utilizadas no processo ensino/aprendizagem. Nestas reuniões devem ser feitos os encaminhamentos necessários, com o objetivo de construir alternativas para o melhor desenvolvimento dos educandos. Portanto, a avaliação deverá ser efetuada pela instituição de ensino por intermédio do estudo de caso, verificando-se as condições e as adequações possíveis e necessárias para que se atendam às necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência intelectual, no âmbito genérico da escola ou no contexto especifico de aprendizagem. Em um primeiro momento, o registro deve ser descritivo, com a apresentação de indicadores que possibilitem a reflexão escolar. Percebe-se assim, a importância da equipe para que o aluno com deficiência intelectual possa desenvolver todo o seu potencial na escola. Bibliografia e Literatura Complementar BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008. BRASIL. Resolução CNE/CP n. 1 de 18 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Nacionais para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_02.pdf.>. HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola a universidade. Porto Alegre: Educação & Realidade, 1995. LUCKESI, Cipriano C. A avaliação da aprendizagem escolar. 6 ed. São Paulo: Cortez, 1997. Capítulo 2: Desafios Educacionais para a Docência Superior Sumário: Introdução 1. Formação Docente em Ambiente Educacional 2. Análise de Materiais Didáticos 3. A Docência na Contemporaneidade e as Tecnologias Educacionais 4. A Diversidade na Formação do Povo Brasileiro 5. A Inclusão como Desafio para a Docência Bibliografia Introdução A procura e, por consequência, a oferta de cursos de nível superior no país vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. Diante deste panorama surgiram diversas universidades e faculdades privadas no Brasil, assim como a criação de vários programas do governo, como a Reforma Universitária (REUNI) e o programa do Governo Federal de ampliação e consolidação das universidades federais em todo Brasil. Esta expansão não só aumentou substancialmente o número de vagas no Ensino Superior como aumentou de maneira significativa e consequente as áreas do conhecimento com o surgimento de novos cursos de graduação, extensão, especialização e pós-graduação. Ou seja, com o aumento da procura pela graduação do nível superior, a oferta de vagas nos cursos tem crescido de maneira significativa. Em resposta a este cenário, houve um aumento do número de vagas para a docência no Ensino Superior. Entretanto, com esta expansão surge uma questão: a de que tipo de professores estão formando estes novos profissionais. Esta questão é referente à qualidade da formação dos docentes de nível superior. Muitos cursos empregam professores formados em áreas específicas de cursos de bacharelado, entretanto, estes professores não necessariamente tiveram uma formação pedagógica e didática para atuarem de maneira satisfatória na sala de aula. Estes profissionais podem apresentar dificuldades ao exercerem à docência, comprometendo assim, a formação dos novos profissionais. Mesmo que estes docentes aprendam e ganhem experiência no decorrer da atuação na sala de aula, no início podem não exercer a profissão de maneira satisfatória. Diante desta situação de ampliação e crescimento da oferta e da demanda por cursos superiores no país, é de grande importância a preocupação de como está caminhando a docência nas instituições de ensino superior no país, já que, através do diagnóstico dos possíveis problemas e do panorama encontrado podem ser encontradas soluções para tais adversidades. Na lei educacional vigente, Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), a questão da formação dos docentes do nível superior está restrita apenas a um artigo: “Art. 66- A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”. Sendo assim, é possível observar que não há preocupação com a formação pedagógica em termos legais. Outro fator importante para aeducação do nível superior é que o professor deverá estar sempre em constante atualização de suas práticas e atento para as novas tecnologias educacionais que poderão oferecer meios para disponibilizar aos alunos uma aula mais dinâmica e prazerosa. Com as novas tecnologias o professor tem a oportunidade de mesclar e renovar as suas metodologias de ensino. Há uma variedade de tecnologias que podem ser introduzidas em sala de aula para otimizar o processo de ensino e aprendizagem. Ao se falar dos desafios da docência superior também deve ser mencionada a formação do povo brasileiro. É importante o docente considerar que essa é uma história que vem desde tempos muito antigos e com diversos personagens. Sabe-se que o povo brasileiro se caracteriza pela diversidade. Uma diversidade de cores, fisionomias, tradições e costumes que testemunham a multiplicidade cultural da população que ocupa esse vasto território. Sendo assim, o educador deve estar atento para a diversidade cultural que irá encontrar dentro da sala de aula, assim como a diversidade de demandas educacionais. Na atualidade há o fator da inclusão para todos, onde alunos com necessidades educacionais especiais devem estar incluídos no ambiente educacional comum, outro desafio que o docente precisa estar preparado e bem informado. Portanto, diante das questões da educação e docência no nível superior é necessário determinar uma série de fatores que possibilitem o acesso dos alunos a esse nível de ensino. O principal objetivo que se espera do ensino superior é que, além de formar pessoas responsáveis e satisfatoriamente qualificadas para o ambiente de trabalho, deve estar comprometido com às necessidades e diversidade de toda a sociedade, assim como dos alunos. 1. Formação Docente em Ambiente Educacional Os desafios sobre a maneira de ensinar seguem cada vez mais as necessidades e realidades vivenciadas pelo aluno, de acordo com sua comunidade, meio social e cultural, assim como as suas demandas educacionais. Entretanto, as atitudes e métodos do professor precisam também estar fundamentados em meios pedagógicos com maior amplitude, para não haver um aprisionamento do aluno em uma realidade limitada. Sendo assim, o exercício didático e metodológico que aplicado em sala de aula, é o que permitirá uma reflexão em relação a cada situação do processo de aprendizagem, partindo da realidade de que professor e aluno estão inseridos e extrapolando esse processo de aprendizagem para outras realidades e meios sociais, para que o aluno obtenha as diversas formas de vivência e habilidades disponíveis. As práticas e os desafios dos professores devem ser levados além de uma simples renovação pedagógica de novas formas de ensinar e aprender, abrangendo uma superação da visão instrumental didática, levando assim, a uma didática e uma metodologia fundamentais. Encontra-se à disposição do professor, uma grande quantidade de métodos e técnicas pedagógicas, cujos objetivos específicos possibilitam invariavelmente uma escolha criteriosa e eficaz, em favor do objetivo final desejado e assumido pelos alunos, bem como da natureza do assunto que estiver sendo abordado. Faz parte do papel do professor procurar as ferramentas adequadas para atrair a atenção e o interesse do aluno, buscando nele a vontade de aprender e buscar informações. Lançar mão dos equipamentos audiovisuais auxilia muito no processo de ensino e aprendizagem, entretanto, não é suficiente. O planejamento, a metodologia e o diálogo, são fundamentais para o sucesso da aula. O professor deve estar aberto a indagações, questionamentos e à curiosidade dos alunos. O professor deve ser aquele que ensina, respeita, e não um sujeito que apenas transfere o conhecimento aos estudantes. Sua dinâmica deve estar embasada também em fins pedagógicos de amplo alcance. A profissão de educador no ensino superior é uma atividade bastante complexa, que necessita de múltiplos conhecimentos, já que a atividade de educador, independentemente do nível de ensino que esteja, é uma ação humana. A formação dos educadores, não só pode, como deve acontecer também no ambiente educacional. Sendo assim, é necessário que os gestores trabalhem em conjunto com os coordenadores pedagógicos. Assim, eles poderão entender a importância do aprendizado dos educadores durante o processo de ensino. A formação no âmbito conceitual passa a ser fundamental, a fim de alicerçar e orientar as práticas docentes que irão ocorrer em situações pedagógicas distintas entre si. A formação no ambiente de ensino, portanto, oferece o momento de construção de significados que são compartilhados e possíveis de promover práticas educacionais construtivas e que oferecem sentido comunitário à formação do aluno. Nas instituições de ensino de hoje, tanto as públicas como as privadas, não encaixa mais a atuação do professor isolado que ensina individualmente. Na atualidade, as propostas de formação docente devem ter um sentido interdisciplinar de investigação e de procura de novas metodologias e tecnologias. Sendo assim, quanto mais o processo de formação for interdisciplinar, renovador, participativo e de responsabilidade compartilhada, menos individualista ele será, possibilitando a diluição de funções centralizadoras e a expansão do conhecimento. O processo de ensino deve formar alunos competentes e capazes de compreender o sentido das informações, assim como do que não foi dito, indo mais além, identificando as intenções e ideias por trás da mensagem, as mensagens entre linhas, os conceitos abstratos, expressos nas diferentes formas de texto que se propagam através da cultura e da sociedade moderna, virtual e globalizada. Daí a necessidade de o docente buscar um processo pedagógico mais amplo. O processo de ensino e aprendizagem do mundo globalizado deve envolver todos os produtos e linguagens presentes no universo virtual da mídia. Neste contexto, o educador não só deve estar integrado e atualizado nas tecnologias presentes, mas também deve lançar mão delas. A educação, assim compreendida, é um processo interdisciplinar e sociocultural muito vasto, que exige do educador competências de comunicação em diversas linguagens como a textual, a visual, a audiovisual, a corporal, entre outras. O mundo globalizado implica em uma profusão de mensagens e diversidades, e para conduzir e formar o aluno capaz de decifrar essa multiplicidade de informação é necessário que o educador esteja em uma constante formação e atualização de suas metodologias e troca de informações entre toda a equipe pedagógica. Segundo algumas teorias, o grau de motivação pode ser considerado uma característica pessoal. No, entanto, as teorias cognitivas consideram que a motivação é fruto de interações sociais e comportamentais, podendo assim, sofrer interferência e ser modificada. No âmbito prático das aulas, os professores podem, assim, desempenhar um papel de redirecionadores e incentivadores dos fatores que conduzem ao aprendizado motivado. As pessoas precisam de motivação para realizar as atividades com prazer, sendo isto o que as move em direção a seus objetivos. Portanto, a mobilização de esforços e estratégias traz a consequência de um aprendizado prazeroso e mais eficiente. 2. Análise de Materiais Didáticos O material didático a ser aplicado, é um fator que auxiliará o professor na reflexão em relação a cada situação do processo de aprendizagem, partindo da realidade em que professor e aluno estão inseridos e extrapolando esse processo de aprendizagem para outras realidades e meios sociais, para que o aluno obtenha as diversas formas de vivência e habilidades disponíveis. Material didático é um termo que pode ter vários significados e que contém várias facetas, materialidades, finalidades assim como linguagens. O material didático pode apresentar diversos objetivos pedagógicos e ideológicos, e pode ter inúmeras maneiras e jeitos de utilizações e conveniências. Sendo assim, trata-se de um conjunto de ferramentas criadas ou adaptadas para situações de ensino e aprendizadodentro e fora da sala de aula. Os materiais didáticos como suporte de informação, correspondem a um discurso produzido, tendo a função de comunicar e transmitir as informações das disciplinas escolares. Estes suportes informativos são elaborados e destinados para apoiarem o processo de ensino e aprendizagem, com linguagem e discurso especificamente pedagógico. A extensão, formatação e construção técnica do recurso, devem respeitar as expressividades pedagógicas, sendo assim, devem levar em conta a linguagem e idade dos estudantes. O educador, ao analisar o material didático a ser utilizado em determinada aula e tendo criatividade, encontrará um vasto material a sua disposição, como: livros didáticos, dicionários, lupas, microscópio, vídeos, celulares, dvd ́s, programas de computadores, dentre outros. São muitos os materiais que podem ser utilizados para fins didáticos dentro do espaço escolar. Da câmera fotográfica ao atlas passando pela semente no algodão, ou seja, todo discurso trazido ou elaborado pelo educador com o intuito de comunicar o conteúdo das disciplinas, fazem parte da gama dos suportes de informação. Eles se caracterizam pela sua intenção de transmissão de informações e veículos da formação do conhecimento. As práticas e os desafios dos professores devem ser levados além de uma simples renovação pedagógica de novas formas de ensinar e aprender, alcançando com isso uma superação da visão instrumental didática, levando assim, a uma aula com uma didática fundamental e eficiente. 3. A Docência na Contemporaneidade e as Tecnologias Educacionais A humanidade se encontra na era da informação, onde já não é mais difícil se obter informações para serem transformadas em conhecimento, onde a comunicação globalizada se faz presente. Neste contexto, é impossível a educação não passar a conviver e se adequar às novas tecnologias educacionais. As teorias traduzem a fundo as mudanças na percepção do mundo globalizado, influenciadas pelo desenvolvimento das tecnologias da comunicação e do relacionamento automático da informação. Sendo assim, quando é proposta uma revisão dos fenômenos comunicativos através de um olhar complexo, é possível notar que a comunicação vai consideravelmente além da relação funcional entre o emissor, a mensagem e o receptor. Trata-se de um contexto relacional entendido por inter-relações e interdependências. Sendo assim, além da transmissão da informação encontrar-se na atualidade um complexo processo de significação e compartilhamento dos sentidos, com dinâmicas e ressonâncias que mudam de acordo com as sistemáticas de comunicação presentes e que afetam diretamente o campo da educação. É possível que ainda diversas dúvidas estejam presentes, sobre as ferramentas conceituais que auxiliam na compreensão dos sistemas de comunicação que estão conectados, ou ainda, sobre como essa proposta interage com outros campos do conhecimento e a maneira de destaca-la em estudos teóricos e empíricos. No entanto, a ideia não é executar uma fórmula que busque resultados de problemas, mas sim, que indique possíveis caminhos para a educação com base em um campo crescente da tecnologia, da comunicação e da informação. Desde as últimas décadas, a sociedade contemporânea vem passando por profundas transformações ocasionadas principalmente pela revolução das tecnologias de informação e comunicação (TICs) que, além de influenciar a vida cotidiana dos indivíduos, influenciou também a construção e a socialização do conhecimento, a valorização do processo de aprendizagem, assim como a formação de profissionais competentes e cidadãos. Antes destas transformações na área da comunicação o conhecimento, organizado e consolidado nas Universidades, se encontrava ao alcance dos alunos através das bibliotecas e das aulas magistrais dos professores. As informações eram adquiridas e reproduzidas através das práticas pedagógicas. Nos dias atuais o conhecimento, embora se encontre ainda, em grande parte, nas bibliotecas e produções acadêmicas das universidades, hoje as fontes de produção dos conhecimentos se multiplicaram por diversos espaços e ambientes, como órgãos e institutos de pesquisas que não se encontram vinculados à universidade. No mundo contemporâneo e informatizado o conhecimento é adquirido por outras fontes de informação, graças aos computadores e a internet. O acesso a todas as informações se encontra disponível às pessoas de maneira imediata, em tempo real, colocando as pessoas, inclusive, em contato direto com os próprios pesquisadores e autores de toda a produção de informação. O professor não precisa mais ter a pretensão de dominar todo o conhecimento de sua área e transmiti-lo, de maneira organizada e resumidamente, para os estudantes. Estes por sua vez, por meio dos aparelhos e recursos eletrônicos podem, por si só, acessar as informações. Aliás, os alunos são bombardeados incessantemente por uma diversidade de informações, mesmo por aquelas que se referem à sua futura profissão, e isto independe da mediação do professor. Em muitos casos, as informações são desconhecidas pelo próprio docente, e isto é definitivamente natural. Diante deste contexto o docente muitas vezes se pergunta como deve dar conta de estar atualizado com todas as informações existentes e como repassá-las para os estudantes. Como poderá ajudar o estudante a acessar a internet e dela extrair de maneira seletiva as informações que realmente sejam relevantes e, por fim, o que deve ensinar ou o que o estudante necessita saber para aprender e se formar um profissional de competência. A representação do educador como expert em uma determinada área do conhecimento, em que precisaria resumir sinteticamente para o aluno o volume máximo de informações que ele precisa saber, já não é mais o papel de professor. O processo de aprendizado na contemporaneidade ocupou a centralidade do processo de ensino. O que significa que se antes o foco estava no ato de ensinar, compreendido como transmissão de informações e conteúdo das disciplinas aos estudantes, na atualidade o foco se encontra na valorização do processo da aprendizagem. A Declaração Mundial a respeito da Educação Superior no Século XXI, Visão e Ação da UNESCO (1998), destaca como função do Ensino Superior a formação de indivíduos altamente qualificadas e cidadãos responsáveis, assim como o incentivo constante à aprendizagem, para promoção, geração e difusão da informação através das pesquisas, para a contribuição na proteção e consolidação de valores atuais. Destaca ainda a função ética, a necessidade de o Ensino Superior intensificar a cooperação com o mundo do trabalho e refletir sobre as necessidades da sociedade. Esta declaração apresenta uma concepção complexa e atual do processo de aprendizagem do Ensino Superior. Toda conjuntura de aprendizado pode ser analisada através de três componentes básicos: • Os resultados da aprendizagem, também chamado conteúdo, que consistem no que se aprende, ou o que se transforma em consequência da aprendizagem; • Os processos da aprendizagem, ou como as mudanças são realizadas; • As condições de aprendizagem, ou o modo de prática que ocorre para acionar os processos de aprendizagem. Os resultados principais da aprendizagem são essencialmente quatro: • Aprendizagem de fatos e comportamentos; • Aprendizagem social; • Aprendizagem verbal e conceitual; • Aprendizagem de procedimentos. Na contemporaneidade o conceito de aprendizagem é muito mais complexo, abrangente e profundo do que apenas a sua identificação com um desenvolvimento do aspecto cognitivo dos indivíduos. A aprendizagem é um processo de crescimento e desenvolvimento do indivíduo na sua totalidade, enquadrado minimamente também em quatro grandes áreas: • A área do conhecimento; • A área do afetivo-emocional; • A área de habilidades humanas e profissionais; • A área de atitudes ou valores. O estudante universitário em um curso de graduação torna-se o foco deste processo que ultrapassa os tempos e espaços escolares. O processo de aprendizadoé um movimento contínuo na vida dos indivíduos e que está sempre demandando atualização e crescimento. É um processo que deve ser elaborado pelos estudantes e docentes em atitudes de parceria e colaboração. A sociedade da informação que a humanidade está experenciando, é uma sociedade de aprendizagem. Uma sociedade que está assumindo o processo de aprendizado com o significado de desenvolvimento do ser humano e da sociedade nos aspetos éticos, educacionais, culturais, políticos, econômicos, de direitos individuais e de responsabilidades sociais, ou seja, da própria cidadania, razão pela qual se assume uma aprendizagem por toda a vida, para além dos ambientes de ensino e que está presente durante toda a existência do indivíduo, para que este possa desenvolvê-la em sua totalidade. Para o educador ensinar na sociedade da informação, e para ela, ele deve se relacionar com uma aprendizagem cognitiva sofisticada, com um repertório crescente e instável de práticas e metodologias de ensino orientadas por pesquisas, aprendizagem e acompanhamento profissional contínuo, o qual é realizado através do trabalho coletivo, do desenvolvimento e utilização da inteligência coletiva e através da consciência de uma profissão que deve valorizar a solução de problemas e a confiança profissional, que deve saber lidar com a mudança e se comprometer com a melhoria permanente. Os docentes, na era da informação, estão se deparando com a necessidade de promover uma aprendizagem cognitiva mais profunda, estão tendo a necessidade de aprender a ensinar através de metodologias pelas quais não foram ensinados, assim como estão tendo que se comprometer com uma aprendizagem profissional contínua, a trabalhar e aprender em equipes multidisciplinares, a desenvolver e elaborar através de convenções coletivas. As carreiras profissionais se apresentavam até a pouco tempo com um perfil bem definido do profissional, com um currículo onde as disciplinas se responsabilizavam pelo conteúdo exigido. Tal conteúdo, por sua vez, era aliado às práticas profissionais e estágios realizados que garantiam a formação profissional, e a ação docente era repetidamente em cima das mesmas atividades. Nos dias de hoje, são outras as demandas que a sociedade apresenta às profissões, assim como, novos perfis profissionais são exigidos. Trata-se de competências que vão além daquelas tradicionais da profissão, para abarcarem outras exigências como a liderança, a criatividade, a pesquisa para a solução de problemas, abertura para a diversidade, proatividade, trabalho em equipe multidisciplinar, trabalho coletivo em elaboração e execução de projetos. Enfim, esta mudança drástica no ensino atual pede ao educador a reflexão constante sobre os desafios para a ação docente no ensino superior brasileiro na contemporaneidade. 4. A Diversidade na Formação do Povo Brasileiro A mestiçagem marcou indelevelmente toda a cultura brasileira, mesmo para os não mestiços. Os hábitos e costumes do povo brasileiro possuem influência de negros, índios e europeus, além de muitos outros povos e etnias. Na religião, o catolicismo (primeira religião trazida pelos europeus) e posteriormente o evangelismo (também trazido por europeus) começaram a aderir a práticas e costumes dos povos negros e indígenas, muitas vezes modificados, como por exemplo: o “Bolinho de Jesus” como versão evangélica do Acarajé, ou o hábito católico de dar doces para as crianças no dia de São Cosme e São Damião. Pode-se mencionar também a ocorrência de religiões mestiças, com forte sincretismo entre práticas religiosas brancas, negras e indígenas: a Umbanda, a Jurema Sagrada, o Santo Daime. Há também uma ampla variedade de músicas provenientes de diversos povos, igualmente apreciadas pelas diversas etnias. O samba, o pagode, a bossa nova, o sertanejo, o forró, uma multiplicidade de ritmos legitimamente brasileiros, que se formaram através das influências dos nossos povos formadores. Não se pode definir a formação do povo brasileiro por uma palavra ou teoria, visto tratar-se de um processo histórico pleno de contradições e conflitos, que constituíram um povo e uma nação de características marcantes e diversificada. Sempre consideramos o Brasil como o país da diversidade cultural, que devido à mistura de raças, deu origem a um povo livre de qualquer preconceito, diferença e desigualdade. Existe a crença geral de que o Brasil tem um povo pacífico, generoso, alegre e sensual, ainda que sofredor. No imaginário popular, trata-se de um país sem preconceitos e acolhedor, com pluralidade econômica e cultural, sendo que no conceito popular o que falta ao país é “modernização”. É muito comum se escutar o discurso de que os males do país se relacionam com a colonização portuguesa, à presença dos negros ou dos índios e aos governos ruins e desonestos, traidores do povo e da pátria. Porém, o povo brasileiro surge da confluência, do entrechoque e do caldeamento dos portugueses com índios silvícolas e com negros africanos, uns e outros subjugados como escravos. Ou seja, o povo brasileiro ocorre por um caldeamento dos povos responsáveis por sua formação. A primeira marcante mistura aconteceu quando as populações indígenas que aqui residiam antes da ocupação dos portugueses, ao entrarem em contato com os colonizadores ibéricos, deram origem à primeira geração de mestiços. Os recém-chegados tiveram as índias por companheiras, tomando, como era costume na época, tantas quantas pudessem, produzindo assim mais mamelucos. Os jesuítas, preocupados com a imoralidade, pediram auxílio à Portugal. Solicitaram mulheres de todo tipo, até mesmo meretrizes, almejando evitar pecados e aumentar a população ao serviço de Deus. Queriam, acima de tudo, as órfãs do Reino, que poderiam se casar aqui, com os homens bons e ricos. Em virtude do plantio da cana de açúcar e da demanda por mão de obra, uma imensa quantidade de africanos foi exilada de suas terras para viverem na condição de escravos. Este fato é imensamente significativo na formação do Brasil. Os negros africanos foram trazidos com brutalidade a um lugar até então desconhecido, longe de suas referências culturais e familiares, pois era comum que os traficantes negreiros separassem os parentes. Portanto, os negros tiveram que recriar aqui sua matriz cultural. Muitos não suportavam o sofrimento causado pelo exílio, recorrendo ao suicídio, à violência e aos quilombos para se verem livres da exploração, elaborando uma cultura à parte da ordem colonial. Outros procuravam formas de comprar sua própria liberdade ou, mesmo na condição de escravos, conquistavam funções ou relacionamentos que lhes permitiam uma vida com maiores possibilidades e dignidade. Só por um imenso esforço contínuo, o negro escravo foi reconstruindo sua potência cultural através do convívio com africanos de diversas origens e com a “gente da terra”, que o introduziria a um conjunto de novas compreensões mais amplo e mais satisfatório. Essa mistura de povos não se limitou ao contato entre o português e o nativo, estendendo-se aos negros, visto que a exploração sexual dos senhores sobre as suas escravas, vistas como propriedades, era usual, resultando em mestiços, que na época colonial eram considerados inclassificáveis. Ao longo do tempo, o reconhecimento dessa nova gente mestiça acabou sendo limitado pela cor da pele, pela renda e pela distinção dos grupos sociais. Lentamente, a agricultura foi sendo substituída pela modernização industrial capitalista. A força subjugada do trabalho escravo deu espaço para a entrada de outros povos: italianos, alemães, poloneses, japoneses, eslavos e muitos outros. Não suportando os abalos causados pelas teorias revolucionárias e os avanços do capitalismo em seus próprios países, buscaram novas oportunidades no Brasil. Deste modo, auxiliaram na exploração de novas terras e realizaram as primeiras jornadas de trabalho na indústria fabril. Cada um desses povos que aqui aportaram, deixou sua colaboração com a formação desse “novo mundo”. Dialetos, comidas, costumes, entremúltiplas contribuições culturais, podem ser vistas ainda hoje. Assim, a sociedade e a cultura brasileira podem ser consideradas como variações da tradição civilizatória europeia ocidental, enriquecida com a cultura herdada dos índios e dos negros africanos e posteriormente adicionada de contribuições culturais de outros povos que aqui aportaram. O Brasil é um país que possui uma formação relacionada à mistura de raças, em que cristãos-novos, índios e negros tiveram grande importância, influenciando fortemente na formação cultural do país. A cultura do Brasil assenta sobre raízes “marranas”, indígenas e africanas. Ainda assim, a sociedade ainda se mostra relutante em assumir essa mistura cultural, preservando atitudes e pensamentos discriminatórios e preconceituosos, com o intuito de um delirante “embranquecimento”. No entanto, é incontestável a ocorrência de uma mudança na sociedade, onde Cultura e Educação aparecem em lugar de destaque. A valorização da cultura, através da educação, surge como um espaço privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais, nos quais os jovens podem buscar uma identidade, determinando a ampliação da autoestima, aproximando o estudante dos elementos da cultura alicerçados nas matrizes culturais caldeadas no Brasil, exercendo a criatividade, sentindo-se seguros com a possibilidade de se tornarem criadores ativos, contra todas as limitações de um contexto social que nega a uma parte significativa de sua população as condições dignas de sobrevivência. O mundo cultural promove um valor próprio, como exercício das potencialidades do povo brasileiro. A ação pedagógica necessita assumir o diálogo construtivo com todos os envolvidos no processo educacional, tornando a sala de aula um local privilegiado de reflexão crítica sobre os diversos problemas existentes no mundo atual, como as práticas discriminatórias e preconceituosas em relação a determinadas etnias, que ocorrem no cotidiano do povo brasileiro. Como ação afirmativa, a lei 11.645/08 que propõe a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e indígena em toda a Educação Básica, é somente uma das alternativas a favor do reconhecimento dessa “mistura racial”. Ainda assim, após longo tempo transcorrido do sancionamento da lei, ainda ocorrem muitos obstáculos para sua efetivação. Deste modo, para que seja criada uma sociedade consciente e reflexiva, é necessário partir da Cultura e da Educação, reconhecendo as raízes do povo brasileiro, pois, só assim será possível valoriza-las. 5. A Inclusão como Desafio para a Docência Ainda pode ser constatada uma grande dificuldade entre os docentes quando o assunto é Educação Inclusiva. Há falta de informação quanto aos procedimentos que devem ser feitos quando há, em sala de aula, alunos portadores de necessidades educacionais especiais. Entretanto, mais do que a aprendizagem em si, é preciso que o docente foque na qualidade de ensino que será oferecida aos alunos portadores de necessidades educacionais especiais. Portanto, é necessário um plano de ensino que respeite a capacidade individual de cada aluno e que proponha atividades diversificadas para todos, e principalmente, considere o conhecimento prévio que cada aluno traz para a sala de aula. Neuroeducação e Bioética Neuroeducação é um campo interdisciplinar da educação, que combina a neurociência, a psicologia e a educação para decifrar processos cognitivos e emocionais que possibilitem melhores métodos de ensino e de currículos. O foco da neuroeducação é compreender os mecanismos cerebrais implícitos à aprendizagem, e como eles podem melhorar as práticas e os métodos de ensino, facilitando assim a inclusão de todos alunos. As ferramentas tecnológicas da medicina apresentam um papel fundamental nessa tarefa, por meio de recursos como a ressonância magnética funcional e o eletroencefalograma. A contribuição oferecida pela neuroeducação pode ser uma ferramenta fundamental para decifrar e conhecer as capacidades e limitações dos alunos, considerando não apenas as habilidades cognitivas e comportamentais, mas também os fatores biológicos. Essa área da educação pode ser uma ferramenta para identificar e explicar as razões pelas quais alguns estudantes não conseguem aprender satisfatoriamente, além de auxiliar na formulação de metodologias pedagógicas capazes de superar as dificuldades destes alunos. O direcionamento oferecido pela neuroeducação ressalta a inadequação dos currículos e seus métodos tradicionais de ensino, que apenas objetivam nivelar os alunos num mesmo padrão de aprendizado. Esta padronização representa o risco de piorar ainda mais as condições, de déficit de aprendizagem, dos estudantes com dificuldade de assimilar as informações oferecidas pelo docente. O mau comportamento e a indisciplina em sala de aula podem ser agravados pela sobrecarga de informação, muitas vezes desinteressantes, de que muitos métodos pedagógicos lançam mão. Estes métodos não consideram as limitações da capacidade cognitiva de alguns alunos e sua variabilidade interindividual. A ciência vem aos poucos considerando a necessidade de uma mudança nos métodos e paradigmas educacionais. No entanto a adoção de estratégias e métodos preconizados pela neuroeducação ainda são pouco viáveis na realidade da educação no país. O alto custo das tecnologias e da própria adaptação das instituições à proposta são o impedimento para a adoção de tais métodos. A Bioética, por sua vez, tem por finalidade buscar benefícios que garantam a integridade do ser humano, dentro de uma atitude aprimorada de respeito à consciência e à integridade individual, o que possibilita que cada membro da sociedade tenha condições necessárias não apenas para sobreviver, mas também para realizar seus projetos de vida compatíveis com os demais projetos semelhantes. O respeito às particularidades do aluno é uma das características marcantes das novas metodologias de educação. No Ensino inclusivo a formulação de abordagens individualizadas se configura no principal vetor para o desenvolvimento do aprendizado de cada aluno em particular. A orientação de filosofias educacionais como essas apresentam pontos de conexão com outros campos científicos formando um campo interdisciplinar. A neurociência é um destes pontos. Os Desafios da Formação Docente para Altas Habilidades/Superdotação As pessoas com Altas Habilidades e Superdotação (AH/SD) têm sido objeto de estudo desde a antiguidade, encontrando-se registros sobre esses indivíduos na Grécia, Roma, China, assim como no Egito. Apesar de na antiguidade os indivíduos que se destacavam terem sido valorizados, ainda há nos dias atuais resistências por parte da escola em reconhecê-los. Atualmente, quando uma pessoa vai se referir a alunos com necessidades educacionais especiais, costuma automaticamente pensar em estudantes portadores de deficiência ou alguma condição debilitante, esquecendo, portanto, a abrangência do termo necessidade educacional especial. Mesmo com a atenção à formação continuada, seja ela na especialização ou na capacitação dos docentes, ainda podem ser encontrados diversos pontos para reflexão a respeito do modo mais apropriado destas formações. Existem ações formativas direcionadas para a educação especial para todos, principalmente para o atendimento às pessoas com deficiências e transtornos, mas bem pouco para altas habilidades/superdotação, não obstante a legislação e as políticas direcionadas para o tema preverem investimento também em cursos para atender a este tema. O termo: necessidades educacionais especiais, engloba as deficiências físicas e psíquicas, até porque, muitas vezes é essencial atender as necessidades do estudante deficiente para que consiga exercer seu papel como aluno, pela acessibilidade através de rampas para cadeirantes, uso de Libras para alunos surdos, equipamento e metodologia especializados para cegos, por exemplo. Mas é necessário lembrar-se também, das outras necessidades especiais que podem ocorrer durante o processo de aprendizagem, comoas dos estudantes superdotados. É preciso considerar que o professor pode contribuir tanto para o sucesso quanto para o fracasso dos alunos com AH/SD. O fracasso, em muitos casos, é por carência de conhecimento sobre o tema, e o sucesso se dá quando educadores apresentam um mínimo de conhecimento sobre altas habilidades/superdotação, o que pode determinar ações que estimulam a capacidade e criatividade dos alunos superdotados. A AH/SD, se refere aos estudantes que possuem uma facilidade acima da média em certas matérias, podendo se dar pelas mais variadas formas no indivíduo, e podendo estar presente em qualquer espectro de atividades, seja na música, dança, matemática, esportes, literatura, entre outros. A origem da superdotação e a facilidade do aprendizado de certas matérias por pessoas especificas, ainda não foram completamente compreendidas pela ciência, mas estima-se que ocorram devido a um conjunto de elementos, principalmente biológicos e sociais. É necessário que a instituição de ensino garanta, para o aluno com AH/SD, o direito a uma educação especializada, dependendo de suas necessidades, pois o fato de o aluno possuir uma facilidade em relação à média pode acarretar em um retardo do seu potencial de aprendizagem, visto que o estudante se vê forçado a acompanhar o resto da sala, podendo desenvolver desinteresse pelos estudos. Curiosamente, é possível se encontrar pessoas geniais que apresentam transtornos ou algum aspecto particular psicológico, e pessoas geniais com as dinâmicas psicológicas similares à maioria e boa habilidades sociais. Assim, o professor deve cumprir com o dever de educador, de fornecer um ambiente pedagógico que permita aos estudantes desenvolverem suas habilidades no potencial máximo, cuidando das dinâmicas sociais relacionadas com o desenvolvimento intelectual e humano. O tema educação especial se encontra presente na formação inicial ou na continuada de docentes, através de especialização, cursos de extensão, cursos avulsos ou mesmo cursos oferecidos pela própria Secretaria de Educação. No entanto, pesquisas indicam que, em torno de cinquenta por cento dos cursos de formação de educadores não há trabalhos envolvendo AH/SD. Perante os fatos, a formação docente não deve se situar apenas na graduação, mas ser desenvolvida durante toda a vida profissional, principalmente para os educadores que irão atuar com alunos que apresentam indícios de altas habilidades/superdotação. É preciso, portanto, conhecimento sobre esta área da educação especial, seja em nível de capacitação ou especialização. Tendo em mente o que determina a Resolução nº 1/2006, referente à formação de docentes do curso de pedagogia, Artigo 4º, inciso X, os educadores são orientados a ter consciência da diversidade, do respeito às diferenças ambientais, étnico raciais, de gêneros, classes sociais, religiões, e outras. Esta legislação aponta que o docente precisa se conscientizar de que os estudantes constituem um grupo heterogêneo. Analisar a heterogeneidade presente em uma sala de aula alerta o educador para a necessidade de sua formação continuada nas diversas áreas de conhecimento. É de extrema importância a circulação de informações em todos os centros educacionais, informações estas que orientem o profissional a refletir a respeito de suas práticas. O profissional deve receber treinamento na área para poder formular situações adequadas que estimulem as altas habilidades do estudante que as apresenta. Um educador que não possa desenvolver estas situações de estímulo, estará limitado a direcionar e limitar o desenvolvimento e o entendimento do aluno em questão. O docente pode não apresentar uma formação específica, mas deve, contudo, obter um estudo mais aprofundado que o ajude a lidar com esta realidade. O processo de intermediação social, acontece entre o homem e o mundo material e com outros indivíduos na sociedade. No ambiente de ensino, essa mediação adquire um caráter intencional, quando objetiva o desenvolvimento do estudante. Por meio de uma ação intencional, o docente intermedia a relação entre o estudante e a informação. Vygotsky ao abordar o assunto sobre o desenvolvimento e o aprendizado, se referiu à zona de desenvolvimento proximal, reconhecendo dois níveis de desenvolvimento: o desenvolvimento real, definido por processos já estabelecidos, e o potencial, caracterizado por processos que estão em formação, passíveis de serem ativados através do auxílio do educador ou de outro aluno. Desta forma, o professor passa a ser o principal mediador do desenvolvimento das potencialidades do estudante. No ambiente de aprendizado, situações são mediadas por didáticas que auxiliam o intercâmbio entre os alunos e destes com o educador. Tanto o docente como os alunos participam deste processo, construindo as estratégias que mais viabilizem a solução de problemas. Situação que necessariamente implica em aquisições de aprendizagens para ambos, professor e aluno. É necessário que o educador atue com mais flexibilidade na sua prática, possibilitando que o conteúdo tome rumos diferenciados pela influência dos alunos em sala de aula. O docente precisa entender que um aluno que demande uma flexibilização na prática do professor também poderá ser um motivador em sala de aula, o que o aproximará dos outros estudantes. O profissional precisa estar em constante atitude de pesquisa junto com este estudante, podendo ser o motivador para o desenvolvimento das suas habilidades. Entre outros aspectos, os professores que trabalham com estes alunos precisam ser tranquilos, sempre levar em conta as diversidades, serem encorajadores, estarem dispostos a articular estratégias de ensino, a dinamizar as situações para que o aluno consiga progredir, serem bons observadores, serem criativos, apresentarem um olhar sensível e gostarem de desafios. Para o professor poder atuar junto a alunos que apresentam indícios de altas habilidades/superdotação, ele não precisa apresentar AH/SD ele mesmo, porém, necessita dispor de determinada postura e atitude quanto ao processo a ser trabalhado com o aluno, o que deverá proporcionar seu melhor desenvolvimento. Perante os desafios, é possível reconhecer que não há ensino sem pesquisa e não pode haver pesquisa sem ensino. Este circuito leva o educador a estar, enquanto ensina, numa busca contínua, procurando constantemente respostas para os desafios de se ensinar para uma realidade diversa. O ensinar é uma constante busca, uma constante indagação. A pesquisa leva o sujeito a constatar e, constatando, pode melhor intervir. A pesquisa permite o conhecimento da novidade. A reflexão sobre a prática de ensino, sobre a formação e, sobretudo, sobre professores pesquisadores é essencial, já que é através da pesquisa, um processo inerente ao educador, que será possível atingir níveis de excelência na tarefa de ensinar e aprender. A legislação estabelece, para os professores que trabalham com alunos com necessidades educacionais especiais, apenas a formação para a atuação na área da educação básica. Novas adequações legais foram se mostrando necessárias para a garantia do direito ao atendimento a esses alunos. A LDB nº 9.394/96, no art. 58, em seu caput, apresenta a educação especial como modalidade de educação escolar, tanto para alunos com deficiência, como alunos com transtornos globais do desenvolvimento, assim como com altas habilidades/superdotação. Ao lado da definição dos alunos que demandam educação especial, o art. 59 discorre sobre os direitos que esses estudantes têm, assegurados pelos sistemas de ensino. Entre tais direitos, está a formação dos docentes que trabalharão com estes alunos. O inciso III deste mesmo artigo apresenta o trecho a seguir: “professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns”. Perante as dificuldades encontradas quanto à formação de educadores para esta área da educação especial, a Secretaria
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