Prévia do material em texto
ESTATÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Olá! A estatística desempenha um papel fundamental na interpretação de artigos científicos, permitindo analisar e compreender os resultados apresentados. A sua aplicação adequada é essencial para extrair informações significativas e embasar conclusões confiáveis. Ao ler um artigo científico, é importante ter conhecimentos básicos de estatística para entender os métodos estatísticos utilizados na coleta e análise dos dados. Isso inclui a compreensão dos conceitos de população, amostra, variáveis, medidas descritivas e inferência estatística. Bons estudos! AULA 8 – INTERPRETAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS 8 INTERPRETAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS Os artigos científicos são fundamentais para a comprovação de hipóteses, abrangendo uma variedade de análises. Pesquisadores conduzem experimentos e submetem-nos à avaliação de uma banca, que valida as técnicas utilizadas, auxiliando na resolução de problemas de pesquisa (SILVA, 2017). Conforme Silva (2017), apesar do acesso a uma vasta quantidade de material disponível, nem sempre encontramos estudos relacionados ao nosso problema específico. No entanto, pesquisas anteriores podem servir como orientação para investigações em diferentes contextos, populações e problemas de pesquisa distintos. Observaremos no artigo “O sobrepeso e a obesidade não estão associados com a pressão arterial elevada em jovens praticantes de esportes”, de Coledam et al., (2017), exemplos de métodos e resultados necessários para artigos científicos: Métodos - Estudo transversal realizado na rede estadual de ensino da cidade de Londrina, no Paraná, durante os meses de abril a julho do ano de 2012. Conforme o Núcleo Regional de Ensino, a população de estudantes do 6.º ano do Ensino Fundamental ao 3.º ano do Ensino Médio era de 55.475. Participaram do estudo alunos com idade entre 10 e 17 anos. A amostragem do estudo foi realizada por meio do método probabilístico, utilizando dois conglomerados (escola e sala de aula), estratificado por região da cidade (norte, sul, leste, oeste e centro) e por sexo, realizado em dois estágios. No primeiro estágio, foi sorteada aleatoriamente uma escola de cada região. No segundo momento, foi avaliada a quantidade de alunos em cada escola, a fim de selecionar a proporção que a região representa. [...] Conforme Coledam et al. (2017), os métodos de inclusão para a participação no estudo constituíram em estar matriculado na rede estadual de ensino, nas escolas sorteadas; ter entre 10 e 17 anos; concordar participar de forma voluntária do estudo; assinar a autorização e o termo de consentimento livre e esclarecido. De outra forma, os critérios de eliminação foram estabelecidos para aqueles que possuíam algum problema físico, metabólico ou neurológico que obstruísse a realização dos sistemas do estudo. Antes de iniciar o levantamento de dados, obteve-se a permissão do Núcleo Regional de Ensino de Londrina e da direção das escolas sorteadas. Foram detalhados os objetivos e os procedimentos do estudo. Além disso, os responsáveis pelos jovens assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que abordava todos os sistemas, riscos e benefícios do estudo. O estudo foi aceito pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina, seguindo o protocolo 312/2011, conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Ao final do estudo, foi fornecido um relatório individual contendo os resultados para cada unidade escolar. Os procedimentos foram realizados na escola em que os alunos estavam matriculados. Na sala de aula, foram preenchidos questionários e realizadas medidas antropométricas e de pressão arterial. O levantamento de dados ocorreu em apenas um dia nas escolas frequentadas pelos participantes. Seis estudantes previamente treinados conduziram todos os procedimentos de forma padronizada, sob a supervisão do coordenador do estudo. Os resultados foram descritos usando periodicidades absoluta e relativa. A associação entre as variáveis foi examinada por meio do teste do qui-quadrado, sendo utilizado, quando necessário, o teste Exato de Fisher. Para estimar a razão de prevalência (RP) bruta e ajustada, assim como os intervalos de confiança de 95% da associação entre o estado nutricional e a pressão arterial elevada, foi utilizada a regressão de Poisson. Na análise ajustada, foram incluídas as variáveis independentes que apresentaram associação com um valor P < 0,20 na análise bivariada. Devido ao plano amostral complexo adotado no estudo e à análise conforme a prática esportiva, foram considerados os efeitos do delineamento (DEFF) e as análises foram realizadas levando em conta o estrato, a unidade amostral primária e o peso amostral, utilizando os comandos survey (svy) do software Stata 11.0 (COLEDAM et al.,2017). Ainda conforme Coledam et al. (2017), os resultados foram: Dos 965 jovens convidados a participar voluntariamente do estudo, 78% concordaram e completaram todos os procedimentos. As características dos participantes do estudo são apresentadas na Tabela 1. Na amostra total, a distribuição por sexo e faixa etária foi semelhante. A prevalência de sobrepeso foi de 14,5%, enquanto a de obesidade foi de 5,9%. Além disso, 17,5% dos participantes apresentaram pressão arterial elevada (PAE). Tabela 1. Características dos participantes do estudo de acordo com a prática esportiva no lazer (continua) (continuação) Tabela 1. Características dos participantes do estudo de acordo com a prática esportiva no lazer Fonte: Silva, 2017. Foram descobertas maiores frequências de participantes do sexo masculino, com idades entre 10 e 12 anos e com comportamento sedentário < 2h diárias nos praticantes de esportes (P < 0,001). A frequência de jovens com sobrepeso (14,2 vs. 14,7%), obesidade (6,5 vs. 4,5%) e pressão arterial elevada (18,4 vs.15,8%) foi semelhante entre as duas categorias (P > 0,05). Jovens praticantes e não praticantes de esportes também não ofereceram diferenças com relação à escolaridade paterna. A associação bivariada entre as variáveis independentes com a PAE na amostra total é apresentada na Tabela 2. O sexo feminino ofereceu associação negativa (RP = 0,55, 0,40–0,76) ao passo que as variáveis idade (RP = 1,46, 1,02– 2,10), sobrepeso (RP = 1,62, 1,03–2,56) e obesidade (RP = 1,91 1,11–3,28) se associaram positivamente com a PAE. Tabela 2. Associação bivariada entre as variáveis independentes do estudo com a pressão arterial elevada na amostra total Fonte: Silva, 2017. Na Tabela 3, são apresentadas as associações bivariadas entre as variáveis independentes do estudo com a PAE, segundo a prática esportiva. O sexo feminino apresentou associação negativa (RP = 0,47, 0,32–0,68), ao passo que o sobrepeso (RP = 1,92, 1,03–3,61) e a obesidade (RP = 2,22, 1,13–4,42) se integraram positivamente com a PAE nos jovens não praticantes de esportes. Nenhuma das variáveis estudadas apresentou associação significativa com a PAE nos jovens praticantes de esportes. Tabela 3. Associação bivariada entre as variáveis independentes do estudo com a pressão arterial elevada de acordo com a prática esportiva (Continua) Tabela 3. Associação bivariada entre as variáveis independentes do estudo com a pressão arterial elevada de acordo com a prática esportiva (Continuação) Fonte: Silva, 2017. Foram realizados testes de associação(qui-quadrado) entre as variáveis de perfil e a prática de atividade física. Verificou-se que apenas as variáveis sexo, idade e comportamento sedentário apresentaram um (valor p inferior a 0,001), indicando uma associação significativa. É importante destacar que a significância do teste é fundamental para avaliar se existe uma associação entre as variáveis analisadas. Quando o teste é significativo, quer dizer que rejeitamos a hipótese nula, que afirmava a ausência de associação entre as variáveis mencionadas e a prática de exercícios. Na Tabela 2, foram identificadas associações significativas entre as variáveis sexo e estado nutricional com a pressão arterial elevada, uma vez que o valor p para essas variáveis foi inferior a 0,05. Já na Tabela 3, observamos uma associação bivariada entre as variáveis e a prática de exercícios físicos e a pressão arterial elevada. Notamos que nenhuma das variáveis está associada à pressão arterial elevada entre os praticantes de atividade física. A presença de tabelas como essas é comum na maioria dos artigos científicos, e é essencial identificar o teste realizado e verificar sua significância. Ter conhecimento sobre esses testes nos permite compreender as hipóteses de pesquisa formuladas e concluir sobre a relevância estatística dos resultados. Com base no exposto, podemos concluir que a habilidade de tomar decisões acertadas é um diferencial para profissionais de todas as áreas. No entanto, não podemos mais depender de suposições ou basear nossas conclusões em eventos isolados. Os profissionais precisam utilizar ferramentas estatísticas para embasar suas decisões e comprovar suas hipóteses por meio de testes estatísticos. Na área da saúde, essa assertividade embasada em análises estatísticas é de extrema importância, especialmente na educação física e na área da saúde em geral, uma vez que lidam com seres humanos. O aumento da quantidade de pesquisas na área da saúde torna as análises estatísticas um parâmetro confiável para confrontar hipóteses de pesquisa (SILVA, 2017). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COLEDAM, D. H. C. O sobrepeso e a obesidade não estão associados com a pressão arterial elevada em jovens praticantes de esportes. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 12, p. 4051-4060, dez. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232017021204051&l ang=pt#aff1. Acesso em: 07 jun. 2023. SILVA, J. S. F. Bioestatística e sua aplicação em projetos de pesquisa em educação física. Porto Alegre, 2017.