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ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO EDUCACIONAL ANA CRISTINA GIPIELA PIENTA Código Logístico 59834 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-65-5821-020-7 9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 2 0 7 Orientação e supervisão educacional Ana Cristina Gipiela Pienta IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Macrovector/In-Finity/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P669o Pienta, Ana Cristina Gipiela Orientação e supervisão educacional / Ana Cristina Gipiela Pienta. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 88 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-020-7 1. Supervisão escolar. 2. Orientação educacional. I. Título. CDD: 371.203 21-70384 CDU: 37.091.2 Ana Cristina Gipiela Pienta Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Educação Especial e Inclusiva pelo Centro Universitário Unifacear. Graduada em Pedagogia pela UFPR. Possui experiência como professora e pedagoga de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental na Rede Municipal de Ensino de Curitiba, na qual atua há 25 anos. Atua ainda como docente e pesquisadora em cursos de capacitação de professores e em cursos de graduação e pós-graduação. É professora universitária e também já atuou como coordenadora de cursos de graduação, nas modalidades presencial e a distância. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 9 1.1 Trajetória histórica da formação profissional em Pedagogia 9 1.2 Diretrizes curriculares dos cursos de Pedagogia 13 1.3 Orientação e supervisão como atribuições do pedagogo 17 2 Fundamentos e princípios da orientação educacional 23 2.1 O papel da orientação educacional 23 2.2 Abordagens da orientação educacional 27 2.3 Orientação educacional, profissional e vocacional 31 3 Fundamentos e princípios da supervisão escolar 37 3.1 O papel da supervisão escolar 37 3.2 Concepções e métodos da supervisão escolar 40 3.3 Rotinas escolares 44 4 Organização do trabalho pedagógico 52 4.1 A importância do trabalho pedagógico integrado e coletivo 52 4.2 Combatendo o fracasso escolar 56 4.3 O pedagogo como formador 62 5 Orientação e supervisão educacional na educação não formal 68 5.1 Panorama da educação não formal no Brasil 68 5.2 Orientação educacional na educação não formal 75 5.3 Educação não formal e a supervisão educacional 77 Gabarito 82 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Nesta obra, buscaremos contextualizar a orientação e a supervisão educacional como atribuições do pedagogo, proporcionando ao leitor a compreensão de que a atividade pedagógica é sistêmica, orgânica, o que impossibilita a fragmentação do trabalho pedagógico em cargos distintos, como orientador educacional ou supervisor pedagógico, da forma como ocorria tradicionalmente. Haver integração entre as funções não significa que supervisão e orientação deixaram de existir, mas que ambas são complementares e continuam sendo fundamentais para garantir a qualidade e a eficiência na gestão do trabalho pedagógico e por isso há a necessidade de aprofundarmos os estudos nesse campo. Para tanto, no primeiro capítulo trataremos da orientação e da supervisão no contexto educacional brasileiro, conhecendo as diferentes concepções que marcaram a formação em pedagogia em cada contexto histórico. Buscaremos apresentar como se constituiu historicamente a formação profissional em pedagogia no Brasil e, a partir disso, demonstrar a criação das habilitações, formando especialistas em educação, entre eles o orientador e o supervisor. Passando da fragmentação do trabalho em cargos e funções distintas, trataremos da atual organização do curso de pedagogia, na qual as diretrizes curriculares apontam para uma concepção da formação do pedagogo com caráter unitário, com atribuições de orientação e supervisão em sua prática. No segundo capítulo, teremos como foco os fundamentos e os princípios da orientação educacional, em que faremos a contextualização das ações orientadoras no contexto global do trabalho do pedagogo, assim como buscaremos subsidiar a prática de orientação educacional diante dos desafios educacionais atuais. Abordaremos as principais funções da orientação educacional, bem como seus métodos, suas técnicas APRESENTAÇÃOVídeo 8 Orientação e supervisão educacional e abordagens; trataremos também da função da orientação profissional e vocacional dos estudantes. Os fundamentos e princípios da supervisão escolar estudaremos no terceiro capítulo, mostrando que um dos objetivos da supervisão escolar é a qualidade do ensino por meio da interação constante entre a ação supervisora e os professores. Nesse contexto, serão apresentados os limites e as especificidades da supervisão escolar, assim como as concepções e métodos de supervisão escolar nas rotinas escolares. Na sequência, no quarto capítulo, ao tratarmos da organização do trabalho pedagógico, buscaremos enfatizar a importância do trabalho articulado entre orientação e supervisão escolar para um processo educacional de qualidade e a necessidade da articulação pedagógica no enfrentamento ao fracasso escolar. No mesmo viés, trataremos da importância do pedagogo como formador, responsável por promover e fomentar a formação continuada dos profissionais que atuam no espaço escolar. Considerando que o conceito de educação se ampliou, visto que os processos de ensino e aprendizagem não se restringem mais ao interior de instituições escolares formais, no quinto e último capítulo traremos à tona a discussão sobre as ações de orientação e supervisão educacional na educação não formal. O capítulo conduzirá à reflexão sobre a dimensão e a importância na educação não formal no Brasil e analisaremos a função da orientação e da supervisão educacional na organização do trabalho pedagógico da educação não formal. Bons estudos! Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 9 1 Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro A orientação educacional e a supervisão escolar ainda apare- cem em diferentes configurações dependendo da instituição, da região e, principalmente, da concepção pedagógica norteadora do trabalho. Neste capítulo, apresentaremos como ocorreu no Brasil a formação profissional em Pedagogia, além da criação das habili- tações, que têm como objetivo formar especialistas em educação, entre eles o orientador e o supervisor. Muitas dúvidas ainda pairam a respeito desse assunto, como: essas funções existem? Sendo pedagogo, posso exercê-las? Qual é a atual configuração do trabalho pedagógico? Para res- ponder a essas perguntas, estudaremos a trajetória histórica da formação e as diretrizes curriculares docurso de Pedagogia e compreenderemos qual é a dimensão atual da orientação educa- cional e da supervisão escolar. 1.1 Trajetória histórica da formação profissional em Pedagogia Vídeo Você sabe qual é a origem do curso de Pedagogia no Brasil? No período do Brasil Colônia (1500-1815), a educação era privilégio de poucos, e grande parte das famílias da corte portuguesa enviava seus filhos para estudar na Europa. Nesse período, as poucas escolas que existiam no país eram de responsabilidade da Igreja Católica, mais especificamente dos pa- dres jesuítas da Companhia de Jesus, e destinavam-se apenas aos filhos homens não primogênitos dos donos de terras. O objetivo dessas instituições, segundo Romanelli (2008, p. 33), era fornecer 10 Orientação e supervisão educacional uma “rudimentar educação escolar, a preparação para assumir a di- reção do clã, da família e dos negócios, no futuro”. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, surgiu a necessidade de reorganização da estrutura de ensino. Em um primeiro momento, seminaristas e padres recém-formados nos seminários jesuítas que ha- viam sido instalados no país assumiram as funções educacionais. No entanto, a expansão da escola elementar, ao final do período do Brasil Império, passou a exigir a formação de professores em nível médio para as funções pedagógicas, o que deu início à ideia de escola normal. Apesar disso, somente em 1835 foi criada a primeira escola normal no país. Localizada na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, foi também a primeira da América Latina e, de caráter público, a primeira de todo o continente americano. Porém, para ingressar nessa escola havia al- guns requisitos a serem cumpridos. O Decreto de Criação da Escola Normal de Niterói, em seu artigo 4º, especificava a quem era permitida a matrícula, ao descrever que, para “ser admitido à matrícula na Escola Normal, requer-se: ser Cidadão Brasileiro, maior de dezoito anos, com boa morigeração; e saber ler e escrever” (RIO DE JANEIRO, 1835). Ainda que configurada como instituição pública, o significado do termo boa morigeração traduz o caráter elitista e excludente da institui- ção, a qual considerava: a moderação no modo de viver (modo de viver conservador), a boa educação e os bons costumes. De 1835 até 1880 surgiram várias escolas normais no país, a maioria iniciativa de institui- ções privadas ligadas à Igreja, confirmando o caráter elitista. Até agora só tratamos da formação de professores e do curso da escola normal. Mas quando começou, de fato, o curso de Pedagogia? Por quase todo o século XIX, a formação de professores para a es- cola fundamental, a escola complementar (superior ao grupo escolar e inferior ao curso normal) e a escola normal no Brasil ficou concentrada nos cursos normais de nível médio. No início do século XX, no ano de 1901, as instituições privadas de ensino já estabelecidas no país institucionalizaram cursos supe- riores voltados à formação de professores. Nesse período, algumas faculdades já existiam, mas privilegiavam a formação em Direito, Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 11 Medicina e Engenharia, o que trouxe à tona a necessidade de criação de institutos superiores de educação. Em 1931 foi decretado pelo governo provisório, por meio da refor- ma do ensino secundário, que, para o exercício do magistério, tanto no ensino secundário quanto no normal, o professor deveria ser licen- ciado em nível superior. Entretanto, apenas em 1939 a determinação foi efetivamente organizada. Tratava-se de um curso de apenas dois anos para formar o professor primário e de três anos para formar o professor secundário, que era realizado após o ensino secundário, com o objetivo de “dotar o profissional de conhecimentos funda- mentais básicos de cunho geral e especializá-lo para ser professor” (BRZEZINSKI, 2020, p. 37). Nascia, assim, o embrião do curso de Peda- gogia, já com um indício de cisões e fragmentação na formação. O Estatuto das Universidades Brasileiras, de 1931, estipulava a obriga- toriedade de “pelo menos três dos seguintes institutos do ensino supe- rior: Faculdade de Direito, Faculdade de Medicina, Escola de Engenharia e Faculdade de Educação, Ciências e Letras” (BRASIL, 1931). Ainda que de maneira tímida, é nesse contexto que começam a surgir faculdades de educação dentro das universidades com a oferta do curso de Pedagogia. Até a década de 1960 o curso de Pedagogia ficou organizado no modelo conhecido como 3 + 1, sendo três anos de disciplinas de funda- mentos (bacharelado) e mais um ano de didática (licenciatura). O início da década de 1960 foi marcado pela formação de técnicos para atender ao apelo desenvolvimentista do Brasil. Nesse contexto, em 1962 cai o modelo 3 + 1 e são criados dois cursos, sendo fixado o currículo mínimo de Pedagogia, com sete matérias para o bacharela- do: Psicologia da Educação, Sociologia (geral e da educação), História da Educação, Filosofia da Educação, Administração Escolar e mais duas que seriam definidas pela própria instituição. O curso de licenciatura era composto de disciplinas de formação pedagógica com o objetivo de formar o professor da escola normal, sendo obrigatórias as disciplinas de Psicologia da Educação (adolescência e aprendizagem) e elementos de Administração Escolar, de Didática e de Prática de Ensino. Em 1968 a Reforma Universitária, por meio da Lei n. 5.540, ali- nhada aos princípios da ideologia de ordem e tecnocracia do gover- no militar, declarou seu objetivo de formar técnicos denominados especialistas em educação. Nas palavras de Brzezinski (2020, p. 66): 12 Orientação e supervisão educacional “a educação foi declarada instrumento de aceleração do desenvolvi- mento econômico e do progresso social”. No Parecer n. 252/1969 ficou definido que o curso de Pedagogia tinha como objetivo formar professores em nível superior para o en- sino de “2º grau”, sobre as disciplinas gerais ou técnicas, bem como especialistas destinados ao trabalho de planejamento, supervisão, administração e orientação no âmbito de escolas e sistemas escolares. A duração mínima era de 2.200 horas, distribuídas em no mínimo três e no máximo sete anos letivos. A estrutura curricular era composta de duas partes, sendo a primei- ra comum, constituída de disciplinas de: Sociologia Geral, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, História da Educação, Filosofia da Educação e Didática. A segunda parte, diversificada e propriamen- te profissionalizante, correspondia às habilitações, ficando a cargo do acadêmico escolher entre: Magistério (das disciplinas pedagógicas do 2º grau), Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção Escolar. O modelo curricular implantado correspondia ao viés tecnicista do pe- ríodo e refletia na formação de professores e especialistas, fragmentando as tarefas dos profissionais na escola do mesmo modo que nas fábricas, em consonância direta com a divisão do trabalho nas sociedades capita- listas. A Reforma Universitária durante o governo militar aprofundou ain- da mais a indefinição da identidade do curso de Pedagogia ao reforçar a fragmentação na formação do pedagogo. Ainda por interferência do governo autoritário, que embora insistisse na formação de “especialistas”, os cursos de Pedagogia assumiram um caráter mais prático, com pouco incentivo à pesquisa e à produção de conhecimentos científicos. Segundo Brzezinski (2020, p. 43), “o professor assim formado passava a dominar métodos e técnicas adequados à práti- ca docente, mas não se aprofundava em estudos da pedagogia como área do saber, isto é, não buscava a teoria elaborada por meio da pesquisa, como se fosse possível separar o indissociável: teoria e prática”. Ou seja, especialistas formados sobre um alicerce pouco sólido. Após o período de redemocratização no Brasil, na década de 1980, se- guido da assembleia constituinte, que culminou na Constituição Federal de 1988, os profissionais da educaçãobrasileira retomam a discussão a respeito da identidade do curso e do profissional da pedagogia, escre- vendo novos rumos. Percebemos que historicamente a orientação educacional e a su- pervisão escolar aparecem como funções distintas no trabalho pedagógico. Ainda aprofundare- mos essa reflexão e trataremos da perspectiva atual. Atenção O tecnicismo é uma tendência pedagógica que influenciou o ensino no Brasil, em especial na década de 1970. Defende uma prática pedagógica altamente controlada e pro- gramada em detalhes. O foco do ensino está na aplicação de técnicas e manuais. Atenção Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 13 1.2 Diretrizes curriculares dos cursos de Pedagogia Vídeo Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, conhecida como a constituição cidadã, pois ampliou as liberdades civis, os di- reitos e as garantias individuais, a década de 1990 foi marcada por muitas discussões, com a finalidade de propor novas diretrizes e le- gislações em diversas áreas que substituíssem aquelas oriundas do governo militar, adequando-se à nova realidade de um país novamen- te democrático. No campo educacional, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n. 9.394/1996 veio para “marcar o ritmo” da educação, em concordância com os princípios e as concepções da Constituição. Em dezembro de 1997, após um ano da aprovação da nova LDB, a Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC) publicou um edital solicitando às instituições de ensino superior (IES) de todo o país que enviassem propostas para serem analisadas no proces- so de elaboração das diretrizes curriculares dos cursos de graduação. Depois foi a vez da Sesu/MEC, por meio do Edital n. 4/1997, iniciar o processo de mudança curricular, solicitando às IES o envio de pro- postas para a elaboração das diretrizes curriculares dos cursos de graduação, em especial dos cursos de Pedagogia. Essas mudanças cur- riculares fazem parte de uma ampla, longa e discutida reforma para a organização dos cursos de graduação e a formação dos profissionais de educação no Brasil. As reflexões e as propostas elaboradas pelas diversas IES do país todo foram fundamentais para superar uma normativa contida no tex- to da LDB, que podia reforçar e fragmentar ainda mais a formação dos educadores, criando institutos superiores de educação (artigo 63), nos quais, por meio do curso Normal Superior, formariam-se os professores de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. O curso de Pedagogia teria como finalidade formar exclusivamente os “especialis- tas”, aqui compreendidos os diretores de escola, os orientadores edu- cacionais, os supervisores escolares e os inspetores de ensino. Ou seja, isso manteria a histórica dicotomia entre bacharelado e licenciatura, conforme corrobora o artigo 64 da LDB: 14 Orientação e supervisão educacional Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orienta- ção educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a crité- rio da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL, 1996) Nesse processo estiveram em declarada disputa distintas concepções relacionadas à identidade do pedagogo e da organização do curso. Associações de formação de professores, como a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope), apontavam a necessidade de superar as históricas dicotomias entre a teoria e a prática, o ensino e a pesquisa, o conteúdo específico e o conteúdo pedagógico na formação e na prática dos educadores, o que deu mais força ao princípio da “docência como base da formação profissional de todos aqueles que se dedicam ao estudo do trabalho pedagógico” (ANFOPE, 1998, p. 10). Atenção O pressuposto defendido por pesquisadores e professores era simples: como é possível formar um “especialista em educação”, com domínio teórico e prático de concepções, métodos, estratégias, técnicas e tudo o mais que compõe o processo de ensino e aprendizagem, retirando da formação os saberes próprios da docência? Ou seja, é necessário aprender a ser um bom professor para se tornar um bom especialista/pedagogo. wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck No debate a respeito da identidade do curso de Pedagogia e da sua finalidade profissionalizante, a conclusão foi de que formar o profissional da educação para atuar no ensino, na organização e gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e na produção e difusão https://www.shutterstock.com/pt/g/4774344sean Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 15 do conhecimento, em diversas áreas da educação, é ao mesmo tempo uma licenciatura – formação de professores – e um bacharelado – for- mação de educadores e cientistas da educação (ANFOPE, 1998). Sendo assim, a formação do pedagogo deve contemplar, “integrada- mente à docência, a participação da gestão e avaliação de sistemas e insti- tuições de ensino em geral, a elaboração, a execução, o acompanhamento de programas e atividades educativas” (BRASIL, 2005, p. 6), caminhando no sentido da superação da dicotomia entre licenciatura e bacharelado. Por fim, após quase uma década de estudos, proposições e discussões, é publicada a Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006, instituin- do as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, na modalidade licenciatura. De acordo com as Diretrizes: Art. 4º. O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à for- mação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: I – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação; II – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não escolares; III – produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não escolares. (BRASIL, 2006) As antigas habilitações foram extintas pela Resolução CNE/CP n. 1/2006 (supervisão escolar, orientação educacional, inspeção de ensino, adminis- tração escolar, entre outras), e o Curso de Pedagogia assumiu a função de formar integradamente ao conjunto das funções a ele atribuídas. O curso passa a ter como carga horária mínima 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico (diferente das 2.800 horas do modelo anterior). Des- sas, fica regulamentado o seguinte: pelo menos 2.800 horas devem ser destinadas a aulas, seminários, pesquisas e atividades práticas; o estágio supervisionado, voltado preferencialmente à docência na educação in- fantil e anos iniciais do ensino fundamental, deverá ocupar 300 horas da matriz curricular; e no mínimo 100 horas serão reservadas a atividades de aprofundamento em áreas de interesses específicos dos acadêmicos. 16 Orientação e supervisão educacional As Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia, no seu artigo 8º, inciso I, apontam a docência como base da formação, definindo que as “atividades de natureza predominantemente teórica que farão a intro- dução e o aprofundamento de estudos” (BRASIL, 2006) devem propor- cionar fundamentos para a prática pedagógica, além de, ainda coforme o inciso II do mesmo artigo, “II - práticas de docência e gestão educacio- nal que ensejem aos licenciandos a observação e acompanhamento, a participação no planejamento, na execução e na avaliação de aprendi- zagens, do ensino ou de projetos pedagógicos, tanto em escolas como em outros ambientes educativos”(BRASIL, 2006). O curso de Pedagogia deve ser organizado em três grandes núcleos, ficando a estrutura curricular assim delineada: 1. Núcleo de estudos básicos: responsável por articular e estabelecer a relação entre teoria e prática, englobando os aspectos: a) histórico e sociocultural – fundamentos filosóficos, históricos, políticos, econômicos, sociológicos, psicológicos e antropológicos que influenciam os processos educacionais; b) da educação básica – conteúdos curriculares da educação básica, conhecimentos didáticos, estudo dos processos de organização do trabalho pedagógico e estudo das relações entre educação e trabalho; c) do exercício profissional em âmbitos escolares e não escolares – realização da devida articulação entre saber acadêmico, pesquisa e prática educativa. 2. Núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos: diz respeito especificamente à formação do pedagogo para diferentes demandas sociais e em diversas situações institucionais (escolares, comunitárias, assistenciais, empresariais e outras), assim como na avaliação e na produção de materiais e recursos didáticos, novas tecnologias etc. 3. Núcleo de estudos integradores: esses estudos podem ser realizados por meio de monitorias e estágios, programas de iniciação científica, estudos complementares, cursos em áreas afins, integração em cursos sequenciais correlatos à área e participação em eventos científicos do campo da educação, proporcionando enriquecimento curricular. Nessa perspectiva, a formação se aproxima do que Candau (1997, p. 47) traduz como um enfoque multidimensional, com o científico, o polí- Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 17 tico e o afetivo devendo estar intimamente articulados tanto entre si quan- to com o pedagógico. Desse modo, conforme afirma a autora, “propõe-se trabalhá-los de modo articulado, procurando-se as implicações de uns em relação aos outros, construindo-se, assim, uma visão unitária e multidi- mensional do processo de formação de profissionais da educação”. 1.3 Orientação e supervisão como atribuições do pedagogo Vídeo Os fatos descritos nas seções anteriores têm como pano de fundo as discussões e as reflexões que colaboraram para a construção da concepção do trabalho pedagógico multidimen- sional, o qual compreende a ação pedagógica como um proces- so sistêmico e orgânico, que só foi alcançado após as reformas realizadas na década de 1990, em resposta à tendência de frag- mentação das atividades pedagógicas nos períodos anteriores. A fragmentação no fazer pedagógico, em especial no traba- lho do pedagogo, tem suas raízes nos sistemas de produção que surgiram ainda no período da Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX). Trata-se de estratégias utilizadas na gestão produtiva que racionalizam a produção industrial, de modo a organizar a produ- ção e otimizar a eficiência e a produtividade. Os principias sistemas utilizados no mercado produtivo que influenciaram outras esferas foram o fordismo e o taylorismo 1 . Ambos têm como premissa a divisão de tarefas e o aumento da produtividade em decorrência da realização de tarefas repetiti- vas. Carvalho (2018, p. 2) esclarece que: com a industrialização, o processo produtivo adquiriu uma nova estrutura. Ao empregar a ciência no processo de tra- balho, alienando-a do trabalhador, a divisão das tarefas, especialmente entre planejamento e execução, inaugurou a dissociação entre o trabalho intelectual e o manual. Essa complexificação do trabalho deu origem à figura do ge- rente e à organização racional dos processos produtivos, conforme se pode observar na definição de Braverman (1987, p. 103) sobre a administração científica taylorista: “todo possível trabalho cerebral deve ser banido da oficina e centrado no departamento de planejamento ou proje- to”. Para se obter o aumento da produção e do lucro, o Fordismo e taylorismo são sistemas produtivos que tiveram origem no modelo de organi- zação do trabalho da indústria automobilística, que sistematizou o trabalho mecanizado, inserindo a esteira de montagem. 1 18 Orientação e supervisão educacional trabalho é potencializado por meio de um rígido controle do pro- cesso produtivo (racionalização). Dessa forma, as tarefas são ainda mais fragmentadas. hu m ph er y/ Sh ut te rs to ck A imagem retrata uma esteira de produção característica da linha de produção fordista. Tarefas repetitivas, divisão de tarefas e alienação do trabalho (em que o trabalhador não tem consciência do processo inteiro de produção) deixam a produção mais rápida e otimizam os resultados. Figura 1 Trabalhadores em linha de produção de fábrica na China Sob essa influência, além da fragmentação do trabalho pedagógico em cargos e funções, os orientadores educacionais e supervisores es- colares assumiam a figura do “gerente”. Figura 2 Exemplo de sala de aula tradicional ar ch id ea ph ot o/ Sh ut te rs to ck Repare no vidro na porta da sala de aula. Esse pequeno detalhe tinha como função, nessa perspectiva apresentada, possibilitar que o trabalho docente fosse “supervisionado”, para verificar se a execução das tarefas estaria ocorrendo dentro do que foi planejado. https://www.shutterstock.com/pt/g/humphery https://www.shutterstock.com/pt/g/archideaphoto Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 19 O professor competente, nesse viés, correspondia a um bom exe- cutor de tarefas, que respeitava e submetia-se à posição que lhe era imposta no interior da organização do trabalho na escola. Aos espe- cialistas, na lógica da racionalização, caberia orientar e supervisionar a execução das tarefas. Mas a escola não é fábrica e a finalidade do trabalho pedagógico não é gerar um produto material, comercial. É preciso destacar que o trabalho do pedagogo é voltado à gestão da educação, que se constitui de um compromisso político coletivo de tomada de decisão sobre as formações intelectual e moral dos seres humanos. Assim como as habilitações que fragmentavam a formação deixaram de existir no curso de Pedagogia, é nessa perspectiva que a divisão das tarefas na gestão do trabalho pedagógico precisa ser repensada. Nas pa- lavras de Kuenzer (2016, p. 65): não é mais possível compreender um administrador como gestor das atividades-meio, que mais tem parecido um gestor de condomí- nio à cata de recursos financeiros para dar conta das necessidades mínimas da escola e de formas de baratear os custos da educa- ção; tampouco imaginar um supervisor especializado em currículo que não esteja profundamente sintonizado com as mudanças no mundo de trabalho e com a gestão do trabalho pedagógico, ou um orientador especializado em dificuldades de aprendizagem, identi- dades, trabalho, sem que tudo isto esteja organicamente referido à totalidade do trabalho pedagógico. Precisamos destacar, entretanto, que em uma perspectiva de gestão pedagógica as atividades de orientação educacional e supervisão escolar deixam apenas de existir como funções distintas e paralelas e passam a ser atribuições de um mesmo profissional, isso porque a atividade-fim, que é a formação do estudante, não acontece de maneira compartimenta- da. Por exemplo: as dificuldades de aprendizagem de um aluno específico exigem reflexões sobre as estratégias de ensino e a metodologia utilizada, ou seja, situações que seriam tratadas por profissionais diferentes, nem sempre de maneira articulada, fazem parte de um mesmo contexto e pre- cisam de soluções e intervenções integradas. Na atual organização escolar, segundo Urbanetz e Silva (2013, p. 57): o pedagogo passou a ser o organizador do processo educativo, superando a dicotomização entre atender crianças (orientador educacional) ou atender professores (supervisor escolar). É ele O filme Tempos Modernos retrata a vida urbana nos Estados Unidos da América da década de 1930. Por meio da rotina de um trabalhador vivido por Chaplin, apresenta os modos de produção industrial com basena divisão e na especializa- ção do trabalho na linha de montagem. Direção: Charlie Chaplin. EUA: Mutual Film Corporation,1936. Filme 20 Orientação e supervisão educacional quem, de maneira bem flexível, vai dando conta desse processo, articulando as relações humanas dentro da escola. Figura 3 Orientação e supervisão como cargos distintos Br ov ko S er hi i/S hu tte rs to ck Orientação Supervisão wa np at so rn /S hu tte rs to ck Figura 4 Supervisão e orientação como atribuições do pedagogo Equipe pedagógica https://www.shutterstock.com/pt/g/BrovkoSerhii https://www.shutterstock.com/pt/g/wanpatsorn Orientação e supervisão no contexto educacional brasileiro 21 A tarefa de reorganizar o trabalho pedagógico tendo a supervisão e a orientação como atribuições do pedagogo, e não como “cargos” dis- tintos, compõe uma compreensão mais ampla da função da escola, do currículo e dos profissionais envolvidos. A contribuição da professora Naura Syria Carapeto Ferreira é fundamental para fomentar essa reflexão a respeito das responsabilidades e do compromisso profissional do pedagogo. Trata-se de trabalhar criticamente conteúdos científicos, que são conteúdos de vida. [...] Nisto consiste o “ofício” dos especialistas em educação e não mais o de retornar às formas ultrapassadas e divisio- nistas de entender a educação [...]; uma concepção de mundo que mergulha os profissionais nos estreitos funis das funções [...]. Como profissionais/pedagogos que são, perdem, com essa concepção ilusória – e por isso equivocada – a perspectiva de totalidade do fenômeno educativo, com toda sua riqueza de conteúdo e de possibilidades. É na superação dessa visão parcial que os profissionais da educação assumem papel de protagonistas na sociedade globalizada [...], na função de criar cultura e aprendizagens não apenas intelectuais e/ou técnicas, mas também afetivas, éticas, sociais e políticas, a fim de possibilitar a todos os seres humanos um saber crítico. (FERREIRA, 2016, p. 24) Para refletir Portanto, cabe ao pedagogo compreender e assumir as tarefas que envolvem toda a organização do processo educativo, nas quais suas atribuições como supervisor e orientador constituem o fazer pedagógico orgânico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas lembranças escolares, muitos de nós temos as figuras do orien- tador educacional e do supervisor escolar como pessoas de autoridade dentro da escola, com cargos e funções distintas e bem definidas. En- tretanto, precisamos destacar e compreender que essa configuração do trabalho pedagógico fragmenta algo único: o processo de ensino e apren- dizagem, que é composto de dimensões diversas, mas que precisa ser abordado de maneira sistêmica. A trajetória dos profissionais de pedagogia no Brasil mostra as diferen- tes concepções que marcaram cada período, sempre influenciadas por contextos sociais, econômicos e políticos mais amplos. O momento atual é voltado a compreender a multidimensionalidade da ação pedagógica e do trabalho do pedagogo. Ainda podemos nos per- guntar se a orientação e a supervisão deixaram de existir, mas a resposta é muito clara: não. Trata-se de atribuições que continuam fazendo parte do trabalho de maneira integrada, por isso a importância de o profissional conheçer e dominar cada um desses segmentos que compõem seu tra- balho na articulação das ações pedagógicas e na formação de pessoas. 22 Orientação e supervisão educacional ATIVIDADES 1. De que forma a expulsão dos padres jesuítas em 1759 influenciou a formação de professores no Brasil? 2. Qual é a importância de um “especialista em educação” ter a docência como base de sua formação? 3. O fordismo e o taylorismo marcaram um período do sistema de produção capitalista com seus pressupostos que organizavam a produção industrial e otimizavam a eficiência e a produtividade. Explique de que forma a escola sofreu interferências desses modelos produtivos. REFERÊNCIAS ANFOPE. Proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de formação dos profissionais da educação. Campinas: Unicamp, 1998. BRASIL. Decreto n. 19.851, de 11 de abril de 1931. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 15 abr. 1931. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto- 19851-11-abril-1931-505837-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 18 mar. 2021. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 18 mar. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP 5/2005. Brasília, DF: Ministério da Educação, 13 dez. 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ cne/arquivos/pdf/pcp05_05.pdf. Acesso em: 18 mar. 2021. BRASIL. 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Considerando essa finalidade do trabalho pedagógico, sua relevância e sua amplitude, fica clara a abrangência do traba- lho e as múltiplas tarefasa ele relacionadas. Nesse contexto de ação integrada, a orientação educacional é uma das atribuições do trabalho pedagógico. Neste capítulo contextualizaremos as ações orientadoras do trabalho do pedagogo a nível global, assim como buscaremos subsidiar a prática de orientação educacional diante dos desafios educacionais atuais. 2.1 O papel da orientação educacional Vídeo De acordo com o artigo 1º do Decreto n. 72.846, de 26 de setem- bro de 1973, o objeto da orientação educacional é “prestar assistência ao educando, individualmente ou em grupo”, tendo em vista o seu “desenvolvimento integral” e o “preparo para o exercício profissional” (BRASIL, 1973). Atualmente, a orientação educacional deixou de ser uma função, um cargo, para atuar com a supervisão escolar e outras tantas atribuições do pedagogo no contexto da ação pedagógica inte- grada. Diante dessa perspectiva, sai de cena o orientador educacional e entra a ação orientadora. As ações pedagógicas de orientação têm como objetivo fomentar a aprendizagem dos estudantes e efetivar sua real inclusão no ambiente 24 Orientação e supervisão educacional da escola, assim como nas relações sociais e na construção de perten- cimento à comunidade escolar. Isso tudo passa pela compreensão e valorização da diversidade em seu contexto mais amplo, no qual se inserem as pluralidades social, cultural, étnica e de gênero e todas as possíveis diferenças, que expressam as singularidades humanas, em favor da inclusão e da emancipação social de todos. Nas palavras de Rangel (2015, p. 90-91), “estar próximo do aluno e acompanhá-lo em sua escolaridade constituem princípios e processos essenciais da função orientadora”. Além disso, “o conhecimento do alu- no inclui o seu contexto de família, de vida fora da escola, de situações que favorecem ou dificultam seu aproveitamento escolar”. Estar próximo do aluno significa conhecer e buscar o aluno real, con- creto, historicamente situado, assim como identificar o seu contexto de vida fora da escola, que é imprescindível para que essa realidade possa ser interpretada e problematizada com os estudantes, de modo a identificar fatores que geram problemas, conflitos ou dificuldades e os auxiliar na superação. Grinspun (2011, p. 102) afirma que a “orientação traz o universo socio- cultural do aluno para dentro da escola”, e essa inserção da realidade deve também influenciar o currículo escolar, fazendo com que ela se aproxime do planejamento didático-pedagógico. Isso contribui para a discussão de objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação que tenham como ponto de partida a realidade, o contexto, tendo em vista a transformação da es- cola e da sociedade por meio de um planejamento participativo, voltado para uma concepção crítica, a qual se constitui em um trabalho coletivo, democrático, e oferece alternativas reais de ação. Dessa forma, com base na ação orientadora realizada pelo pedagogo com os professores, a escola pode avançar em conteúdos que possibili- tam ir além dos conhecimentos programados – e às vezes impessoais – nos documentos oficiais para atingir um currículo comprometido com a construção do sujeito/estudante e a formação de sua cidadania. Por meio dessa aproximação com o aluno real/concreto, a função orientadora do pedagogo também tem como objetivo instrumentalizar o professor para que compreenda melhor como se dá o processo de ensino-aprendizagem no contexto da democratização da escola e do conhecimento, em uma perspectiva inclusiva de educação para todos. Segundo Garcia (1986, p. 18-19): Fundamentos e princípios da orientação educacional 25 uma das funções específicas do orientador educacional é a socia- lização do saber sobre o aluno, na medida em que a ele cabe tra- zer a realidade do aluno para o currículo. O saber sobre o aluno concreto, confrontado com as teorias do desenvolvimento e de aprendizagem, vai possibilitando a criação coletiva de uma teoria mais adequada ao aluno brasileiro e a construção de uma prática pedagógica que atenda melhor o aluno real. Figura 1 Ação orientadora fiz ke s/ Sh ut te rs to ck An to n_ Iv an ov /S hu tte rs to ck On eL in eS to ck .c om /S hu tte rs to ck Di et m ar T em ps /S hu tte rs to ck be lu sh i/S hu tte rs to ck A ação orientadora atua para garantir o direito de educação a todos. https://www.shutterstock.com/pt/g/fizkes https://www.shutterstock.com/pt/g/siempreverde22 https://www.shutterstock.com/pt/g/toonstyle https://www.shutterstock.com/pt/g/dietmartemps https://www.shutterstock.com/pt/g/belushi 26 Orientação e supervisão educacional Alcançar a prática pedagógica que atenda a todos e a cada um é resultado de processos de investigação, análise e diagnóstico das difi- culdades no processo de ensino-aprendizagem. Cabe ao pedagogo, em sua tarefa orientadora, definir com os professores as estratégias para efetuar a aproximação da realidade do aluno, bem como conhecer suas necessidades, a fim de planejar e redimensionar a prática pedagógica, os recursos utilizados e a organização dos ambientes de aprendiza- gem, com vistas à otimização da aprendizagem. Pimenta (1985, p. 161) defende que para isso é preciso “verificar de que maneira a experiência do aluno é incorporada aos novos conteúdos propostos e se tem avan- çado para além dela”. Outro importante aspecto da ação orientadora do pedagogo é a dimensão política, ou seja, a atuação como articulador e mediador diante das diferentes expectativas dos variados segmentos que com- põem a comunidade escolar, assimilando-as e buscando agregá-las à definição das concepções que norteiam as ações da escola. Esse processo ocorre principalmente com a participação da orientação educacional na construção do projeto político-pedagógico (PPP) da escola, fazendo desse documento uma colaboração de parceria co- letiva, no qual o pedagogo, em sua tarefa de orientação, questio- nará, discutirá e buscará as soluções viáveis para um problema e conectadas com a realidade existente. Ainda na dimensão política, a orientação educacional participa das decisões a serem tomadas na escola, sempre à luz da proximidade dos estudantes e de suas necessidades. Para Grinspun (2011, p. 190), de- vemos considerar que “o certo e o errado do aluno nem sempre é o certo e errado do professor e da escola, mas, antes de tudo, eu tenho que discutir o que é certo e errado”. Nesse contexto, cabe ao pedagogo incorporar às pautas de discussão com a equipe gestora e toda a comu- nidade escolar as tensões, os conflitos, as contradições e as estratégias de norma, controle e disciplina, de modo que o funcionamento da es- cola seja compatível com os princípios, as concepções e as característi- cas da comunidade atendida. Em outras palavras, é a tarefa (nada simples) de encontrar a justa medida entre as normas de organização e funcionamento da institui- ção e as necessidades e expectativas do alunado, buscando uma escola inclusiva e adequada à realidade. A construção do PPP é a primeira ação para nortear e organizar o tra- balho da escola. Trata-se de um documento coletivo que tem a função de coordenar a ação educativa, de modo que ela atinja o seu objetivo político-pedagógico. Para saber mais do PPP, seus princípios e sua importância, acesse o link a seguir. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/docman/ dezembro-2010-pdf/7179-4-4- rojeto-politicopedagogico-escola- ilma-passos/file. Acesso em: 22 mar. 2021. Saiba mais http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7179-4-4-rojeto-politicopedagogico-escola-ilma-passos/file http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7179-4-4-rojeto-politicopedagogico-escola-ilma-passos/file http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7179-4-4-rojeto-politicopedagogico-escola-ilma-passos/file http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7179-4-4-rojeto-politicopedagogico-escola-ilma-passos/file http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7179-4-4-rojeto-politicopedagogico-escola-ilma-passos/fileFundamentos e princípios da orientação educacional 27 Isso ocorre porque, de acordo com Grinspun (2011, p. 176, grifos do original), “a Orientação não tem mais como preocupação prioritária os alunos problemas, hoje ela tenta ajudar na solução dos problemas dos alunos e de toda comunidade escolar, numa perspectiva de melhor compreensão do sujeito e de suas relações dentro e fora da Escola”. É papel da orientação educacional ouvir as vozes dos alunos e cons- truir essa cultura nas instituições escolares, dando espaço de fala a eles, inclusive como exercício de formação para a cidadania, que garan- te ao estudante a consciência crítica de seu papel na sociedade como partícipe (que considera a existência do outro) da transformação de um mundo mais justo e mais humano. No espaço escolar todos os profissionais são responsáveis pelos es- tudantes, por seus problemas, suas expectativas e suas necessidades, mas é o pedagogo que exerce as funções de revelar, analisar, refletir, ajudar e colaborar, mediando as relações. O estudante é um sujeito que possui afetividade, emoção e sen- timento, e a escola não pode desconsiderar todos esses aspectos. Dessa forma, conduzir o aluno na sua formação, do melhor modo possível, engloba questões acadêmicas, cognitivas, além do sensível, do estético e do emocional. 2.2 Abordagens da orientação educacional Vídeo A escola é um espaço de relações entre alunos, professores, conhe- cimento, funcionários, famílias e comunidade, e é no cerne dessas re- lações que as ações de orientação educacional ocorrem, atuando nos aspectos sociais, políticos e culturais. São várias as abordagens de atuação da orientação educacional diante dos diferentes segmentos da escola: alunos, professores, fun- cionários, direção, pais e comunidade. Com os alunos, cabe estimular sua participação na prática pedagógica e desenvolver sua capacidade crítica, tornando-os aptos a se posicionar, fazer escolhas e assumir a responsabilidade por elas, formular críticas e saber fundamentá-las. Também é válido oportunizar aos estudantes a participação no pla- nejamento, na execução e na avaliação do trabalho pedagógico, de modo que tenham condições de perceber a força do trabalho coletivo planejado. Ainda nessa perspectiva, por meio das ações orientadoras 28 Orientação e supervisão educacional o pedagogo pode estimular grupos de trabalho dos estudantes, como a organização de grêmios e diretórios estudantis e de ações organiza- das com compromisso social. Por meio de todas essas experiências, o profissional da orientação educacional trabalha com vistas ao desen- volvimento pessoal do estudante, relacionando-o à sua participação na realidade social. Em sua atuação, a orientação educacional também tem a atribuição de estar próxima às crianças, aos adolescentes e aos jovens para atuar em situações como as descritas a seguir: • Bullying, identificando e percebendo situações que nem sempre são desveladas e atuando junto a agressores e vítimas. • Problemas familiares (separação dos pais, conflitos familiares, problemas financeiros, entre outros) que possam gerar descon- fortos e consequências negativas. • Doenças graves ou mortes na família. • Questões sensíveis ligadas à identidade de gênero na escola. • Respeito e aceitação à diversidade, ao “diferente”. • Inclusão de estudantes com deficiência. • Estudantes com altas habilidades. • Avaliação e encaminhamento de estudantes com dificuldades de aprendizagem para atendimentos especializados. • Alunos em situação de risco e vulnerabilidade social. • Orientação na organização de hábitos de estudo. Na prática Al ej an dr oC ar ni ce ro /S hu tte rs to ck O bullying é um tema que merece atenção constante de toda a equipe escolar, especialmente do pedagogo, objetivando a definição de ações de orientação e mediação. Mas como abordá-lo? Fechar os olhos, ignorar e achar que é apenas uma brincadeira entre colegas não é uma opção! No link a seguir, você poderá conhecer três projetos que tratam do bullying com leveza e humor e ainda oferecem cartilhas aos alunos, pais e professores. Esse material pode servir de subsídio para uma ação de orientação educa- cional nos espaços escolares. Disponível em: https://porvir.org/3-projetos-tratam- bullying-leveza-humor/. Acesso em: 22 mar. 2021. https://porvir.org/3-projetos-tratam-bullying-leveza-humor/ https://porvir.org/3-projetos-tratam-bullying-leveza-humor/ Fundamentos e princípios da orientação educacional 29 Com os professores, uma importante atuação da orientação edu- cacional é na formação continuada. As discussões e os estudos or- ganizados com frequência no interior da escola, seja em momentos pontuais da formação, seja em reuniões pedagógicas, seja em si- tuações informais de diálogo e acompanhamento do trabalho, po- dem colaborar para a construção da identidade e da autonomia do docente. Orientação vem do latim oriens, particípio presente do verbo oriri, levantar-se, ter a sua origem (origo) de...; esta raiz etimo- lógica é muito sugestiva: diz respeito tanto ao começo quanto aos princípios (no sentido de fundamentos), buscar a origem é procurar a gênese e o caminho, ajudar o viajante a encontrar a direção [...]. O orientador, até pelo lugar institucional que ocupa, pode ajudar o professor nesta construção, nesta busca de identi- dade profissional. (VASCONCELLOS, 2007, p. 76) Cabe também ao profissional realizar a mediação entre o estudan- te, sua família e sua realidade e os professores e sua prática. Ao rela- tar aos docentes, de maneira ética e profissional, informações obtidas por meio do contato com as famílias e com os próprios estudantes, caracterizando-os e desvelando sua realidade, é possível estabelecer a aproximação dos professores e de sua prática por meio de um planeja- mento voltado ao estudante real. Com a direção, cabe ao pedagogo participar da organização das turmas, definindo critérios para sua composição e para a escolha de professores para cada uma delas. Além disso, deve contribuir na defi- nição de horários, no estabelecimento de estratégias para organização dos momentos de lanche, no recreio, na entrada e saída dos estudan- tes e na oferta e organização de atividades complementares, revendo a questão do espaço-tempo dos estudantes na escola. Ou seja, deve atuar em parceria com a equipe de gestores/direção em todas as de- mandas necessárias para a organização do trabalho pedagógico. Ainda em parceria com a direção, a orientação educacional deve buscar estratégias de atuação para trabalhar a autoestima, a iden- tidade profissional e as atribuições dos funcionários de diferentes segmentos da escola, reforçando sua importância em um contexto de trabalho coletivo, no qual a atuação de todos é fundamental para o bom funcionamento da instituição. 30 Orientação e supervisão educacional Uma importante função da orientação educacional é atuar na aproximação das famílias – pais e responsáveis – e da instituição escolar. Por meio do acolhimento e da escuta sensível, essas famí- lias criam vínculo, cumplicidade e parceria com a escola para, então, estabelecer ações conjuntas, voltadas ao estudante. Por sua vez, as famílias devem conceber a escola como um espa- ço no qual podem ter confiança para buscar apoio nas incertezas e dificuldades da formação integral de seus filhos, configurando-se, assim, como um ambiente de orientação e aconselhamento. Essa participação deve ocorrer tanto ao se fazerem presentes nas discussões e nos contextos de tomada de decisão referentes ao PPP quanto no planejamento institucional em sua totalidade. A escola, no que lhe diz respeito, deve se envolver com as famí- lias e a comunidade, resgatando suas realidades social, cultural e econômica como meio de contribuir para a adequação curricular, colaborando com uma educação voltada às necessidades, com vis- tas à transformação. Cabe ainda ao pedagogo atuar junto ao processo de inclusão, em conjunto com famílias,estudantes e órgãos competentes, para ga- rantir o acesso à aprendizagem no que se refere aos recursos físicos (adequações estruturais, arquitetônicas, de mobiliário), materiais (recursos pedagógicos) e humanos (tutores de acompanhamento in- dividual, intérpretes, professores e serviços especializados). É fundamental ainda estabelecer vínculos com a família para co- nhecer melhor o estudante de inclusão, suas necessidades e suas características e criar estratégias envolvendo toda a comunidade es- colar para fomentar e incentivar o processo de inclusão. De maneira geral, cabe à orientação educacional tratar da educa- ção como uma prática social, contribuindo, por meio de todas as suas abordagens, para a construção do sujeito sócio-histórico-cultural. Desse modo, fazemos com que o espaço vivido na escola seja, para estudantes, profissionais e comunidade em geral, um locus de aquisição de conheci- mentos e experiências que focam a formação e a promoção da cidadania. Fundamentos e princípios da orientação educacional 31 2.3 Orientação educacional, profissional e vocacional Vídeo A natureza da ação orientadora é marcada pela atuação no acom- panhamento do processo de formação dos educandos e na análise de todos os condicionantes que podem interferir, positiva ou negativa- mente, nessa trajetória. Entre as diversas frentes de ação, uma das atribuições da orienta- ção educacional é auxiliar o estudante em seu processo de aquisição de conhecimento, ou seja, em como estudar. Para Lück (2013), essa tarefa orientadora já foi marcada por um período em que o profissional realizava atendimentos individuais e sessões de orientação com base em levantamentos de dados realiza- dos por meio de testes padronizados e sondagem de aptidões. Nas concepções tradicionais de educação, a orientação educacional tinha como objetivo ajustar o aluno à escola, à família e à sociedade. A prática de aconselhamento também era comum à rotina da orientação educacional em casos relacionados à indisciplina. A prática frequente é do aluno ser encaminhado à orientação educacional com a expectativa implícita de que o mesmo seja modificado, corrigido. A suposição implícita é de que no aluno está a causa do problema. Tal procedimento não reconhece que, muitas vezes, comportamentos inadequados do educan- do são causados, dentre outros, por disfunções ambientais como, por exemplo, currículo e programas inadequados às suas necessidades e condições individuais, regulamentos inflexíveis, ou insensibilidade de professores e adultos em geral à individua- lidade do educando. (LÜCK, 2013, p. 24-25) Já nas concepções progressistas, a orientação educacional vê a rea- lidade social em permanente transformação e compreende que sua função não é ajustar o educando, e sim realizar a mediação entre indi- víduo e sociedade, colaborando para a aquisição do saber, que é uma construção histórica e social da atividade humana. Mais do que técnicas de estudo, nessa perspectiva, a orientação educacional pode auxiliar o educando na construção de uma postura diante do conhecimento, formando hábitos, fortalecendo a iniciativa 32 Orientação e supervisão educacional de busca constante e valorizando o saber adquirido como um bem, um benefício, uma conquista pessoal e social. Grinspun (2011, p. 190) alerta para o fato de a educação ser um ato contínuo e permanente na vida dos indivíduos, não apenas circunscri- to ao espaço escolar e ao saber acadêmico. Desse modo, o papel da orientação educacional não deve ter como objetivo formar “bons alu- nos”, mas sim um novo sujeito para o mundo, “procurando entender a própria vida, mas sendo capaz de coletivamente procurar uma vida melhor para todos”. Sobre essa compreensão, a autora sugere que as ações de orien- tação educacional possam se desenvolver por meio de atividades que estimulem e criem no estudante o hábito de perguntar, pesquisar e criar, o que é denominado de estratégia de PPC. Perguntar, isto é, fazer com que o aluno realize muitas perguntas, provocando-o, instigando-o a pensar, como forma permanente de buscar o saber e nele ampliar os seus conhecimentos. Pes- quisar, isto é, procurar respostas e alternativas ao trabalho de- senvolvido, e, nesse sentido do conhecimento, ensejar, também, o melhor conhecimento de suas possibilidades e necessidades. Criar, isto é, oferecer ao aluno condições para que ele possa criar alternativas e estratégias de melhor adquirir o conhecimento e melhores meios de conquistar e realizar suas propostas de vida. (GRINSPUN, 2011, p. 190-191) Vale lembrar que, para desenvolver as habilidades de PPC nos edu- candos, todo o trabalho escolar, em especial a prática pedagógica dos professores, precisa ser mobilizado, incorporando ações que incenti- vem a formação do sujeito nessa perspectiva. Daí a importância de a ação orientadora atuar em todo o processo de ensino-aprendizagem, não se limitando apenas à dimensão do aluno. A orientação profissional é outra atribuição do pedagogo em sua ação orientadora. Essa tarefa já foi chamada de orientação vocacional, compreendida como “o processo pelo qual se ajuda a uma pessoa a escolher uma ocupação, a preparar-se para ela, ingressar e progredir nela” (CRITES, 1974, p. 35). Tradicionalmente, eram realizados testes psicológicos que procuravam identificar as aptidões dos estudantes, especialmente os de ensino médio, com relação às diferentes áreas do trabalho, os chamados testes vocacionais. Fundamentos e princípios da orientação educacional 33 Os testes vocacionais fazem parte de programas de orientação profissional desenvolvidos por psicólogos com o objetivo de proporcionar reflexão e autoconhecimento, pois levam “o sujeito a se conhecer, no sentido de possi- bilitar uma escolha mais lúcida, madura, ajustada e de acordo com as habi- lidades de cada indivíduo” (AMBIEL; NORONHA, 2006, p. 1). St un ni ng Ar t/ Sh ut te rs to ck Vale frisar que os resultados desses testes não podem ser tomados como um fim ou uma resposta definitiva que determina o futuro profissional do indivíduo. Podem ser considerados como um indicador de caminhos profissionais, uma orientação para auxiliar nas escolhas. A orientação profissional merece destaque e atenção especialmen- te dos pedagogos que atuam com jovens alunos. Para Vasconcellos (2007, p. 78), esse: é um dos campos clássicos de atuação do orientador e uma frente da maior importância, sobretudo nos conturbados dias correntes: os jovens estão profundamente desorientados, não compreendendo o que está acontecendo com eles, com a escola e sua relação com a sociedade; muitos começam a perceber que o diploma já não é garantia de “lugar ao sol”, como parecia ser até alguns anos atrás; outros tantos se angustiam ao verem o terreno minado que é o mercado de trabalho, com tanta compe- tição e hiperindividualismo. Nessa perspectiva, cabe à escola, sob a orientação do pedagogo, aprofundar a sistematização dos diversos campos profissionais e criar estratégias que possibilitem aos estudantes (e não apenas aos de en- https://www.shutterstock.com/g/Stunnin+art 34 Orientação e supervisão educacional sino médio) o autoconhecimento para fundamentar suas escolhas. Rangel (2015, p. 70) afirma que a escola básica, ao oferecer estudos de várias áreas do conhecimento e possibilitar que os alunos transitem nelas por meio da vivência de conteúdos, proporciona um acervo de cultura geral, que também acrescenta a oportunidade de reconhecer, nessas áreas, motivações, competências, habilidades e tendências que sinalizam interesses por determinadas profissões. A autora ainda colabora com a indicação de ações específicas para a orientação educacional no viés da orientação profissional para o trabalho ao declarar que: a Orientação Educacional poderá, nesse nível, fazer um levan- tamento das profissões, das suas configurações atuais e de novas alternativas emergentes, que acompanham os avanços da ciência, da tecnologia e das novas demandasdo mercado. [...] Acrescentam-se, ainda, os levantamentos e informações da Orientação Educacional, as universidades, sua localização, seus cursos, com especial atenção às que se encontram no Estado, na região, mas sem perder de vista universidades e cursos ofe- recidos em outros estados, de modo que se ofereça um pano- rama, o mais completo possível, de possibilidades de escolhas e de acesso de espaços de formação acadêmica. O mesmo se aplica ao levantamento de cursos de nível técnico, que atendem a demandas atuais de trabalho. Apresentam-se, desse modo, à Orientação Educacional e aos alunos, um âmbito abrangente de informações, de estudos e de diálogo, que serão favorecidos por várias iniciativas e projetos da Orientação Educacional, a exem- plo de trazer à escola profissionais de diversas áreas para ex- porem não só suas experiências, como suas escolhas de vida, podendo-se considerar a iniciativa de organizar visitas a locais onde os alunos possam observar condições, processos, ambien- tes de trabalho. (RANGEL, 2015, p. 69-70) Entretanto, vale ressaltar que a orientação educacional para o trabalho vai além das informações a respeito de campos e áreas profissionais. Precisamos ir além e discutir os desafios, as contradições e os abusos do modo de produção capitalista. Necessitamos abordar a dimensão do trabalho como um conjunto significativo de valores hu- manos, sociais, políticos e éticos, assim como sua importância e seu significado nos projetos de vida, na perspectiva da realização pessoal e, sobretudo, no direito à cidadania. Fundamentos e princípios da orientação educacional 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao ocupar um importante espaço na ação pedagógica integrada, a orientação educacional colabora para a formação dos indivíduos, con- siderando sua realidade e seu contexto, ou seja, trazendo ao espaço escolar, ao currículo e ao planejamento aspectos sociais, políticos e cul- turais, assim como outras características de acordo com cada cenário. A orientação educacional não é a única responsável por se ocupar dos problemas referentes aos alunos. Toda a comunidade escolar é corresponsável, mas cabe ao pedagogo, em sua ação orientadora, as funções de desvelar, analisar e refletir, colaborando com estratégias de ações coletivas e o estabelecimento do vínculo com a família e as questões de trabalho e cidadania. ATIVIDADES 1. Explique a seguinte afirmação: a orientação traz o universo sociocultural do aluno para dentro da escola. 2. Leia o relato a seguir: Rafael tem 12 anos, está matriculado no 4º ano do ensino fundamental e tem laudo de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ele está em processo de alfabetização, reconhecendo algumas letras, especialmente as de seu nome. É tímido, mas muito sorridente e simpático. Tem dificuldade para se comunicar oralmente e pouca autonomia para desenvolver atividades de alimentação, higiene pessoal e uso do banheiro. A família não reconhece a necessidade de Rafael realizar atendimentos especializados, como fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicopedagogia e psicologia. De que maneira a orientação educacional deve atuar diante dessa situação? 3. O que significa a estratégia de PPC? REFERÊNCIAS AMBIEL, R. A. M.; NORONHA, A. P. P. Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 75-84, jan./jun. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf. Acesso em: 22 mar. 2021. BRASIL. Decreto n. 72.846, de 26 de setembro de 1973. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 set. 1973. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/ decreto-72846-26-setembro-1973-421356-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 22 mar. 2021. CRITES, J. O. Psicologia vocacional. Buenos Aires: Paidós, 1974. Vídeo https://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-72846-26-setembro-1973-421356-publicacaooriginal-1-pe.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-72846-26-setembro-1973-421356-publicacaooriginal-1-pe.html 36 Orientação e supervisão educacional GARCIA, R. L. O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores educacionais. São Paulo: Edições Loyola, 1986. GRINSPUN, M. P. S. Z. A orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011. LÜCK, H. Ação integrada: administração, supervisão e orientação educacional. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. PIMENTA, S. G. Uma proposta de atuação do orientador educacional na escola pública. 1985. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. RANGEL, M. Orientação educacional e suas ações no contexto atual da escola. Petrópolis: Vozes, 2015. VASCONCELLOS, C. dos. S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 8. ed. São Paulo: Libertad, 2007. Fundamentos e princípios da supervisão escolar 37 3 Fundamentos e princípios da supervisão escolar A supervisão escolar pedagógica, assim como a orientação educacional, é constituída de um trabalho polivalente do pedago- go nos espaços educativos. Trata-se de uma das atribuições do profissional da pedagogia, voltada ao ensino e à aprendizagem. Um dos objetivos da supervisão escolar é possibilitar a qualidade do ensino por meio da interação constante entre a ação supervisora e os professores, derivando dessa interação as princi- pais atribuições da função. Este capítulo aborda os limites e as especificidades da su- pervisão escolar e visa subsidiar o conhecimento a respeito da constituição da função supervisora, do seu papel no campo edu- cacional, das suas concepções e dos seus métodos de supervi- são nas rotinas escolares. 3.1 O papel da supervisão escolar Vídeo No Brasil a supervisão escolar ganhou força na década de 1970, no cenário político-econômico do governo militar, período em que a pedagogia tecnicista ditava as regras no interior das escolas. Nesse contexto, o supervisor tinha a função de controlar e verificar se as técnicas e as instruções de ensino estavam sendo corretamente exe- cutadas, acreditando que um ensino de qualidade resultaria desse mecanismo, de acordo com os parâmetros vigentes para o sistema daquele período. Em paralelo ao movimento de redemocratização do país, os professores e as escolas também conquistaram mais autonomia, e a su- pervisão assumiu outro enfoque. Segundo Alarcão (2001, p. 12): 38 Orientação e supervisão educacional ao superpoder orientador e controlador contrapõe-se uma concepção mais pedagógica da supervisão concebida como uma coconstrução, com os professores, do trabalho diário de todos na escola. O supervisor passa assim a fazer parte inte- grante do coletivo dos professores, e a supervisão realiza-se em trabalho de grupo. m el ita s/ Sh ut te rs to ck A supervisão pedagógica tem a função de ser um trabalho de parce- ria com o professor no âmbito da ação didática e curricular, na reflexão sobre o planejamento, na definição de metodologias, no acompanha- mento de projetos de investigação-ação e na avaliação e no acompa- nhamento do desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. Conforme Rangel (1997, p. 151): confirmam-se, então, a ideia e o princípio de que o supervisor não é um “técnico” encarregado da eficiência do trabalho e, muito menos, um “controlador” de “produção”, sua função e seu papel assumem uma posição social e politicamente maior, de líder, de coordenador, que estimula o grupo à compreensão – contextua- lizada e crítica – de suas ações e, também, de seus direitos. Nessa perspectiva, a ação supervisora acompanha todas as eta- pas do processo de ensino e aprendizagem, e ainda que em algum momento perceba inconsistências ou equívocos no trabalho docente realizado, ou até mesmo resistência na adesão a alguma diretriz ou orientação, cabe ao pedagogo, em sua atividade de supervisão, esti- mular a reflexão desses profissionaisno sentido de autoavaliação e construção coletiva do trabalho. Fundamentos e princípios da supervisão escolar 39 Além das funções de coordenar e organizar com os professores as atividades didáticas e curriculares, o pedagogo, em sua ação superviso- ra, também tem o papel de promover e estimular oportunidades de es- tudo e formação continuada dos profissionais da escola. Sh ic ke nm ag e/ Sh ut te rs to ck A formação continuada realizada no interior da escola direcio- na mais precisamente o processo de formação às expectativas dos sujeitos a quem se destina, dando protagonismo ao professor, sem fazer dele um mero receptor de informações. Muitos estudos defen- dem a importância de conceder aos professores o poder de tomar nas mãos sua própria formação. Nesse contexto, cabe à supervisão, por meio de sua parceria e caminhada do lado do professor, avaliar e identificar as necessidades de formação do corpo docente, o que não significa descomprometer os sistemas, e sim propiciar que os princi- pais interessados sejam ouvidos. Indo além do acompanhamento institucional pontual referente ao pla- nejamento, à avaliação e ao fazer pedagógico, de forma presente e “vigi- lante”, o compromisso da ação supervisora: https://www.shutterstock.com/pt/g/kaidevil 40 Orientação e supervisão educacional é a garantia de qualidade da formação humana que se processa nas instituições escolares, no sistema educacional brasileiro, na atual conjuntura mundial. Não se esgota no saber fazer bem e no saber o que ensinar, mas no trabalho articulador e orgâni- co entre a verdadeira qualidade do trabalho pedagógico e seus compromissos humanizadores. (FERREIRA, 2001, p. 92) Alarcão (1998) refere-se a esse tipo de formação continuada como um processo permanente no tempo, ajustado às necessidades dos res- pectivos atores e constituído de saberes e da pessoalidade na interação com seus pares. Essa prática reforça a função formadora do pedagogo, estimulando oportunidades de formação continuada que se mostram cada vez mais profícuas, as quais têm a escola como lócus e valorizam o conhecimento do professor, tomando-o como ponto de partida. 3.2 Concepções e métodos da supervisão escolar Vídeo A forma como se realiza a ação supervisora na escola é determinada de maneira direta pelas concepções da própria instituição, por isso se trata de uma atividade sociopolítica. Em escolas que se fundamentam em tendências mais tradicionais, com a transmissão de conteúdos como o centro do processo de ensino e aprendizagem, a supervisão pedagógica tem a função de coordenar e verificar pontualmente o cumprimento do programa de ensino, o progresso do uso contínuo dos materiais didáticos (livros e apostilas), a realização de provas e outros instrumentos avaliativos e todas as de- mais etapas de ensino que foram previamente definidas pela institui- ção e que, de acordo com essa concepção, dependem da sua precisa execução para alcançar os resultados de aprendizagem esperados. Nas instituições fundamentadas em concepções mais progressistas, a supervisão escolar pedagógica constrói suas ações com base no traba- lho em equipe e na supervisão partilhada com o grupo de professores, por meio dos quais promove ações e decisões participativas referentes ao planejamento, à metodologia, à avaliação e aos demais aspectos do processo de ensino e aprendizagem. Medina (1997) descreve algumas características da metodologia e dos objetivos de trabalho da supervisão pedagógica de acordo com di- ferentes concepções, denominando-as tradicional e renovada. Assim, na pedagogia tradicional e na renovada, a supervisão escolar constitui-se da seguinte forma: Fundamentos e princípios da supervisão escolar 41 Quadro 1 Características da pedagogia tradicional e da renovada Pedagogia tradicional Pedagogia renovada Busca a harmonia do grupo da escola. Busca estabelecer relações de trabalho, explicitando con- tradições, reconhecendo e trabalhando conflitos sempre que necessário. Trabalha com o conceito de igualdade, ignorando e mas- carando a realidade. Reconhece e respeita as diferenças. Tem a mesma “leitura” para todas as escolas. Considera a singularidade de cada escola. Enfatiza procedimentos linearizados de execução de tarefas. Valoriza a produção do professor no movimento de en- sinar e aprender. É uma facilitadora, “resolvedora” de problemas. Problematiza as situações do cotidiano para avançar no trabalho. Encara o conhecimento como um dado absoluto a ser transmitido. Encara o conhecimento como um dado relativo. Avalia que novas estratégias pedagógicas são modismos. Vê nas novas estratégias pedagógicas a possibilidade de renovar a escola. Apresenta um comportamento de neutralidade. Posiciona-se com clareza e objetividade. Fonte: Medina, 1997 p. 27-28 Apesar das diferenças apresentadas, o objetivo não é avaliar qual é a melhor forma de organização escolar ou julgar qual é a concepção pedagógica mais adequada. O que precisa ficar esclarecido é que cabe ao pedagogo, em sua ação supervisora, alinhar as ações peda- gógicas do cotidiano da escola ao projeto político-pedagógico (PPP) da instituição, no qual as concepções e as escolhas que fundamentam o trabalho institucional estão delineadas. A supervisão escolar pedagógica pode atuar como coordenadora e orientadora das ações docentes, determinando a maneira como o trabalho deve ser realizado. Entretanto, as formas de trabalho que se mostram mais profícuas e produtivas são aquelas em que o pedagogo utiliza sua experiência como professor regente de classe (que normal- mente já aconteceu), na qual vivenciou as experiências que o docente está experimentando, para desencadear um trabalho com o objetivo de compreender o desempenho do professor, identificar suas dificul- dades e potencialidades e definir estratégias de ação com base nesse diagnóstico. Segundo Medina (1997, p. 30), “para compreender o tra- balho do professor, o supervisor levanta interrogações, faz afirmações, confronta ideias, tentando com o professor descobrir a melhor manei- ra de ensinar, aprender e educar uma determinada classe de alunos”. 42 Orientação e supervisão educacional A supervisão pedagógica partilhada baseia-se na compreensão de que o professor e o pedagogo são trabalhadores da escola, profissionais que, embora atuem em instâncias diferenciadas de uma mesma ins- tituição de ensino, são parceiros no processo de ensinar, aprender e educar. A supervisão pedagógica não faz consultoria ou assessoria, é um trabalho de envolvimento e comprometimento. Erros e acertos, vi- tórias e dificuldades são compartilhadas e tornam-se responsabilida- des de ambos os profissionais. Ra wp ixe l.c om /S hu tte rs to ck A parceria é político-pedagógica, em que a supervisão pedagógi- ca traz o contexto, a comunidade na qual a escola está inserida, para suscitar provocações, reflexões, discussões e debates, a fim de desorga- nizar e reorganizar os saberes, os conhecimentos e as ações docentes voltadas à realidade concreta, estimulando os professores a construir o conhecimento sócio-histórico-cultural, que compreende sua origem e suas finalidades humana, social e política. O pedagogo não é superior ao professor. Sua função é contribuir para um desempenho docente mais qualificado. De acordo com Medina (1997, p. 31, grifo do original), ele: abdica de exercer poder e controle sobre o trabalho do professor e assume uma posição de problematizador do desempenho do- cente [...] significa assumir com o professor uma atitude de inda- gar, comparar, responder, opinar, duvidar, questionar, apreciar e desnudar situações de ensino em geral e, em especial, da classe regida pelo professor. https://www.shutterstock.com/pt/g/Rawpixel Fundamentos e princípios da supervisão escolar 43 Essa visão assume como subsídio a abordagem dialógica, que en- fatiza o papel da linguagem no diálogo comunicativo e que contribui para a construção e o aperfeiçoamento humano e profissional, em que
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