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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/ SP LUZITÂNIA DALL’AGNOL UM ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS ACADÊMICAS BRASILEIRA SOBRE ETNOMATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA (DE 2006 A 2016) DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA SÃO PAULO 2019 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP LUZITÂNIA DALL’AGNOL ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS ACADÊMICAS BRASILEIRA SOBRE ETNOMATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES (DE 2006 A 2016) DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA SÃO PAULO 2019 Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Educação Matemática sob a orientação do Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud. LUZITÂNIA DALL’AGNOL ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS ACADÊMICAS BRASILEIRA SOBRE ETNOMATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES (DE 2006 A 2016) Tese apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC SP como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutora em Educação Matemática. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud (Orientador) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP Prof.ª Barbara Lutaif Bianchini Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP Prof. ª Cileda de Queiroz e Silva Coutinho Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP Prof. Dr. José Messildo Viana Nunes Instituição: Universidade Federal do Pará Prof. Dr. Rogério de Aguiar Instituição: Universidade do Estado de Santa Catarina Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução parcial desta Tese de Doutorado por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura _____________________________________ Data__________________________________________ E-mail_________________________________________ FICHA CATALOGRAFICA DEDICATÓRIA Dedico este trabalho especialmente ao meu orientador que não mediu esforços para me auxiliar, assim como, pelo ensinamento em todo o processo. A minha família que sempre esteve presente em todos os momentos de minha vida, pelo amor incondicional, apoio nas vitórias e dificuldades. Meu muito obrigada. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Nº 88887.162960/2018 - 00 E com o apoio da Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Nº 88887.162960/2018 - 00 And switch the support of Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP AGRADECIMENTOS Á Deus Agradeço o dom da vida, pelas oportunidades, discernimento nas decisões, saúde, sabedoria e persistência para superar as dificuldades e me manter firme nos meus propósitos e objetivos, mesmo nos momentos mais difíceis. Sem fé eu nada seria. Ao prof. Dr. Saddo Ag Almouloud, meu querido orientador e amigo, obrigada por todas as conversas, orientações e amizade. Meu profundo respeito e gratidão por ter me ouvido tantas vezes. Aos professores participantes da banca, prof. Dr. Rogério de Aguiar, Prof. Dr. José Messildo Viana Nunes, Profª Dra. Barbara Lutaif Bianchini, Profª Dra. Cileda de Queiroz e Silva Coutinho, pelas valiosas contribuições. Aos professores do Programa, com os quais tive a honra de conviver e compartilhar de seus conhecimentos. Aos professores, em especial, ao Professor Dr. Fumikazu Saito, Profª Dra. Barbara Lutaif Bianchini, Profª Dra. Cileda de Queiroz e Silva Coutinho, Profª Dra. Celina Aparecida Almeida Pereira Abar Profª Dra. Maria José Ferreira da Silva, os ensinamentos que recebi de vocês levo comigo, em minha vida profissional e pessoal. A professora Profª Dra. Cileda de Queiroz e Silva Coutinho, pelas orientações e sugestões. Ao Professor Dr. Milton Rosa, pelo material disponibilizado e sugestões. À minha família. Se aqui concluo essa etapa de minha vida foi porque vocês sempre estiveram comigo. O carinho, confiança, atenção, conselhos, mas acima de tudo o amor que recebi e recebo todos os dias é que permitiram estar aqui hoje. Meus agradecimentos em especial a meus pais Airton e Mercedes pelo incentivo, amparo e amor. Obrigada pelo exemplo de vida. Para minhas filhas, Daiane Cristina e Muriéli Luiza, que sempre estiveram ao meu lado me incentivando e dizendo “você vai conseguir”, se cheguei até aqui, devo a vocês minhas filhas. Amo vocês minhas princesas. Pelas minhas netas Giovanna e Maria Alice, que acalentam meu coração. Enfim, a todos meus familiares, que são minha base, meu porto seguro. Ao Instituto Federal do Acre (IFAC), por possibilitarem meu afastamento de minhas funções docentes para desenvolver esta pesquisa Ao Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS), por possibilitarem meu afastamento de minhas funções docentes para desenvolver esta pesquisa. A todas as pessoas que contribuíram, cada um a seu modo, para tornar este trabalho possível. Aos meus colegas, pelas trocas de experiências. Aos meus amigos, que compreenderam minha ausência neste período e o incentivo. Ao grupo de pesquisa PEA-MAT, por acrescentar conhecimento devido as discussões. Aos funcionários do Programa de Estudos de Pós-Graduação em Educação Matemática (PUC/SP), em especial, a Suzane Lima Freitas, pelas palavras carinhosas. Aos responsáveis pela Biblioteca, muito grata pelo atendimento. Pelo carinho e atendimento de Valdirene Peres do centro de cópias O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. O Senhor é o meu pastor O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia- me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam. Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre. (SALMO 23, 1- 6) RESUMO Nosso objetivo é estudar a contribuição da Etnomatemática na Formação de Professores por meio de um estado da arte de pesquisas brasileiras desenvolvida no período de 2006 a 2016. Para alcançar nosso objetivo, fizemos um mapeamento de pesquisas cujo foco é Etnomatemática e formação de professores de Matemática. O mapeamento realizado resultou em categorias e subcategorias, dentre ela: Formação Inicial de Professores; Etnomatemática e Formação Continuada de Professores de Matemática; Subcategorias: Professor de Matemática; Professor indígena; Documentários. Categoria: Etnomatemática e Formação de Professores que ensinam matemática. As pesquisas revelam que muitos professores em sua prática pedagógica inserem o Programa Etnomatemática como ferramenta metodológica, e reconhecem a importância de contextualizar o ensino da Matemática com saberes e fazeres socioculturais. Palavras-chave: Etnomatemática. Formação de Professor. Formação de Professores que ensinam matemática. Cultura. . ABSTRACT In order to address the contribution of Ethnomathematics to Teacher Training, this study reports an investigation of the state-of-the-art of Brazilian research developed from 2006 to 2016. To this end, investigations focusing both on Ethnomathematics and onthe training of Mathematics teachers were charted. A few categories emerged from the analysis of these studies, including: Initial Professional Education of Teachers; Ethnomathematics and Continuing Education of Mathematics Teachers (with subcategories Mathematics teacher; Indigenous teacher; Documentaries); and Ethnomathematics and Continuing Education of Teachers who Teach Mathematics. The studies revealed that many teachers include the Ethnomathematics Program in their pedagogical practice as a methodological tool and recognize the importance of contextualizing the teaching of Mathematics in combination with sociocultural knowledge and practices. Keywords: Ethnomathematics. Teacher Training. Teacher training that teaches Mathematics. Culture. LISTA DE TABELAS Tabela 1: Quantidade de Teses por Instituição de Ensino Superior de 2006 a 2016 ..... 76 Tabela 2: Quantidade de Dissertações por Instituição de Ensino Superior de 2006 a 2016 ............................................................................................................................................... 76 Tabela 3: Classificação das Teses e Dissertações por ano no período de 2006 a 2016 77 Tabela 4: Distribuição de Teses por Programas de Pós-Graduação no período de 2006 a 2016 ............................................................................................................................................ 79 Tabela 5: Distribuição de Dissertações por Programas de Pós-Graduação no período de 2006 a 2016 .................................................................................................................................. 80 Tabela 6: Subcategoria: Professores indígena de Matemática ........................................... 92 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Conceitos para contraste entre matemática acadêmica e matemática escolar ........... 41 Quadro 2: Retrospectiva teórica e conceitualização da Etnomatemática ..................................... 43 Quadro 3: Produções de Teses e Dissertações por Regiões e Estados ........................... 78 Quadro 4: Categorias e subcategoria das pesquisas ........................................................... 85 Quadro 5: Subcategoria: Professor de Matemática .............................................................. 86 Quadro 6: Subcategoria: Documentário ................................................................................ 108 Quadro 7: Subcategoria: Curso Magistério ........................................................................... 113 Quadro 8: Subcategoria: Recursos digitais .......................................................................... 121 Quadro 9: Subcategoria: Professor de Matemática ............................................................ 129 Quadro 10: Subcategoria: Professores indígena ................................................................. 147 Quadro 11: Subcategoria: Documentário .............................................................................. 157 Quadro 12: Subcategoria: Formação Inicial de Professores que ensinam Matemática 170 Quadro 13: Subcategoria: Formação Continuada de Professores que ensinam matemática ................................................................................................................................. 173 LISTA DE ABREVIATURAS BNCC- Base Nacional Comum Curricular CAPES - Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior COMUT - Programa de Comutação Bibliográfica ENEM - Exame Nacional de Matemática EJA - Educação de Jovens e Adulto ISGEm - Grupo Internacional de Estudos em Etnomatemática LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC- Ministério da Educação MA - Mestrado Acadêmico MM - Matemática Moderna MMM - Movimento da Matemática Moderna SBEM - Sociedade Brasileira de Educação Matemática PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUC/SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais SBEM - Sociedade Brasileira de Educação Matemática UEMS – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul UNIBAN - Universidade Bandeirante de São Paulo USP - Universidade São Paulo UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. UNIAN - Universidade Anhanguera de São Paulo UFG - Universidade Federal de Goiás UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFPA - Universidade Federal do Pará UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UNEB - Universidade do Estado da Bahia UFF - Universidade Federal Fluminense UFPR - Universidade Federal do Paraná UEA - Universidade do Estado do Amazonas UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais UFS - Universidade Federal de Sergipe UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro UNIVATES - Universidade do Vale do Taquari UFSCar - Universidade Federal de São Carlos PNE - Plano Nacional de Educação SEDUC - Secretaria de Estado da Educação SME - Secretaria Municipal de Educação ISGEm - Grupo Internacional de Estudo da Etnomatemática SUMÁRIO CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO __________________________________ 19 1. Minha trajetória ________________________________________________ 19 2. Problemática de nossa pesquisa __________________________________ 22 3. Objetivos da pesquisa ____________________________________________ 24 3.1. Objetivo Geral ______________________________________________________ 24 3.2. Objetivos específicos ________________________________________________ 25 4. Estrutura da pesquisa ___________________________________________ 25 CAPÍTULO 2. ETNOMATEMÁTICA _____________________________ 27 CAPÍTULO 3 - ETNOMATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ____________________________________________________________ 49 CAPÍTULO 4 - METODOLOGIA PESQUISA ______________________ 63 1. Metodologia da pesquisa _________________________________________ 63 2. Metodologia do estado da arte ___________________________________ 67 3. Procedimentos metodológicos ___________________________________ 70 CAPÍTULO 5- ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS ACADÊMICAS SOBRE ETNOMATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES (2006 a 2016) _____________________________________________________ 75 1. Análise das pesquisas por Categorias _____________________________ 81 2. Categoria- Etnomatemática e Formação inicial de Professores_________ 86 2.1. Objetivos dessas pesquisas ________________________________________ 86 2.2. Abordagens metodológicas e principais referenciais teóricos ____________ 87 2.3. Questões das pesquisas ___________________________________________ 88 2.4. Contribuição das pesquisas ________________________________________ 89 3. Subcategoria Formação inicial de Professores indígena de Matemática _ 91 3.1. Objetivo das pesquisas ____________________________________________ 92 3.2. Principais aportes Teóricos e abordagem metodológica utilizadas nas pesquisas _____________________________________________________________ 93 3.3. Questões das pesquisas ___________________________________________ 97 3.4. Contribuições das pesquisas ______________________________________ 103 4. Subcategoria documentários. ___________________________________ 108 4.1. Objetivos das pesquisas __________________________________________ 108 4.2. Abordagens metodológicas e Principais referenciais teóricos ___________ 109 4.3. Contribuição das pesquisas _______________________________________ 111 5. Subcategoria: Curso Magistério _________________________________ 113 5.1. Objetivos das pesquisas _____________________________________________ 114 5.2. Abordagens metodológicas e Principais referenciaisteóricos _____________ 115 5.3. Questão das pesquisas ___________________________________________ 116 5.4. Contribuição das pesquisas _______________________________________ 117 6. Subcategoria: Recursos digitais _________________________________ 121 6.1. Objetivos das pesquisas _____________________________________________ 121 6.2. Abordagens metodológicas e Principais referenciais teóricos _____________ 122 6.3. Questão das pesquisas ___________________________________________ 123 6.4. Contribuição das pesquisas _______________________________________ 125 7. Categoria: Etnomatemática e Formação Continuada de Professores ___ 128 7.1. Subcategoria: Professor de Matemática ________________________________ 129 7.1.1. Objetivos das pesquisas _________________________________________ 129 7.1.2. Abordagens metodológicas e Principais referenciais teóricos __________ 131 7.1.3. Questões das pesquisas _______________________________________ 134 7.1.4. Contribuição das pesquisas ____________________________________ 138 7.2. Subcategoria: Professores indígena _________________________________ 147 7.2.1. Objetivo das pesquisas __________________________________________ 147 7.2.2. Principais aportes Teóricos e abordagem metodológica utilizadas nas pesquisas___________________________________________________________ 148 7.2.3. Questões das pesquisas _________________________________________ 149 7.2.4. Contribuições das pesquisas _____________________________________ 153 7.3. Categoria Etnomatemática e Formação continuada de Professores Subcategoria: Documentário _____________________________________________ 156 7.3.1. Objetivos das pesquisas _________________________________________ 157 7.3.2. Abordagens metodológicas e Principais referenciais teóricos __________ 158 7.3.3. Questão das pesquisas __________________________________________ 160 7.3.4. Contribuição das pesquisas ______________________________________ 165 8. Categoria. Etnomatemática e Formação de Professores _____________ 169 8.1. Subcategoria: Formação Inicial de Professores que ensinam matemática ___ 170 8.1.1. Objetivos das pesquisas _________________________________________ 170 8.1.2. Abordagens metodológicas e Principais referenciais teóricos __________ 170 8.1.3. Questão da pesquisa ____________________________________________ 171 8.1.4. Contribuição da pesquisa ________________________________________ 171 8.2. Subcategoria: Formação continuada de Professores que ensinam matemática _____________________________________________________________________ 173 8.2.1. Objetivos das pesquisas _________________________________________ 174 8.2.2. Abordagens metodológicas e Principais referenciais teóricos __________ 175 8.2.3. Questão das pesquisas __________________________________________ 177 8.2.4. Contribuição das pesquisas ______________________________________ 184 CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS ____________ 193 REFERÊNCIAS _____________________________________________ 197 APÊNDICES ________________________________________________ 207 FICHAMENTO DAS PESQUISAS SELECIONADAS _________________ 208 FICHAMENTO DAS TESES _________________________________________ 208 FICHAMENTO DAS DISSERTAÇÕES _________________________________ 223 19 CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO 1. Minha trajetória Ao iniciar minha carreira profissional como docente em 1985, trabalhei em escola multisseriadas1. Na época, observei que o componente curricular de Matemática era bem aceito pelos alunos, cujo único problema era saber a tabuada. Isso me reportava ao meu tempo de escola, que também tinha um gosto bem acentuado por este componente. Porém ao iniciar a 5ª série minhas notas e gosto pela Matemática que sempre tenham sido altos, descaíram. Apenas quando cheguei na 8ª série, hoje 9º ano, meu gosto retornou, pois sentia respeito e simpatia pelo meu professor, cuja habilitação era Letras Português. Não havia professores habilitados para a área em regiões do interior, cujo nome do distrito é Ipuaçú/SC, hoje município. Relato o acontecimento porque após iniciar meu Curso de Licenciatura em Matemática, em 1990, iniciou minhas experiencias como docente no Ensino Fundamental II, ou seja, de 5ª a 8ª séries, na mesma unidade escolar que frequentei até a 8ªsérie, Escola Estadual Pe. Antonio Vieira. Percebi que os alunos da 5ª série inicialmente tinham o gosto pela Matemática, porém também ia reduzindo com o passar do tempo. Isso me intrigava. Porém continuava a ensinar da mesma forma que fui ensinada, com muito rigor, compromisso e seguindo o livro didático. Durante o curso de graduação, conversei com um professor em busca de sugestões de metodologias para o aluno aprender a tabuada, pois já havia constatado que era um problema de todas as séries. Lembro-me da minha empolgação e vontade em mudar esse quadro. Minha surpresa foi a resposta que recebi “mande decorar”. Essas palavras, ainda sinto o impacto em minhas lembranças. Devido a experiência do professor, mesmo não me sentido 1 É uma forma de organização de ensino, o professor trabalha na mesma sala de aula. No meu caso de 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental I. 20 confortável, aceitei a sugestão. Não era um momento agradável em cobrar a tabuada decorada, assim meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ofertei oficina de Matemática para professores de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental I, construindo junto deles material concreto e apresentando a relação de alguns conteúdos matemáticos. No exercício de minha prática docente, agora também com Ensino Médio, continuava repassando conteúdo e formulário, acreditando que estava ensinando, pois eu era elogiada pela didática em sala de aula, jeito calmo e especial de ensinar Matemática. Foi quando, um aluno em especial, observei que ele se esforçava nas aulas, era compromissado, mas nas “provas” tirava notas baixas. Isso resultou em exame final do ano e segunda época. O aluno, assim como outros reprovaram. Enquanto docente me senti frustrada, e antes de anunciar o resultado refleti e procurei conhecer a vida do aluno em especial, fora do ambiente escolar. Para minha surpresa, esse aluno era filho único e gerenciava os negócios de seus pais. Assim, fiz uma análise em que o saber de alguns conteúdos especificamente iria mudar a vida daquele e de outros alunos. A partir daquele momento mudei minha prática docente, principalmente em “enxergar” o aluno como ser único e respeitar suas limitações, em que a nota cinco de um poderia corresponder ao dez do outro. Compreendi o quanto era urgente e necessário o conteúdo matemático estar relacionado com a experiência do aluno(a). Em 2001, iniciei como docente em Faculdades e Universidades, como contratada, concomitantemente continuava com o trabalho em escolas municipais e estaduais, como docente do Ensino Fundamental I, II, no Ensino Médio e Educação de jovens e Adultos. Neste mesmo período, participei, como docente, de oficinas de Matemática Aplicada. Toda esta trajetória me incentivou a buscar conhecimentos sobre aplicações da Matemática. Isso, permitiu um primeiro contato com os processos de seleção para o Programa de mestrado da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), onde em 2003 iniciei o curso de Mestrado em Modelagem Matemática. Minha pesquisa de mestrado foi Modelagem Matemática do Crescimento e dinâmica populacional de mexilhão, com orientação do Prof. Dr. Marat Rafikov, ansiava por aplicações da Matemática com o contexto social. 21 Em 2010, recebi um convite das Faculdades Integradas de Ariquemes (FIAR), em Rondônia, para coordenar o Curso de Licenciatura em Matemática e atuar como docente. Nessa ocasião, nasceu o interesse de aprofundaros estudos sobre Etnomatemática, que conheci pelas leituras em Educação Matemática. Assim, como orientadora de alguns Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), participei juntamente com alguns dos meus orientandos de uma viajem de estudo, descendo o Rio Madeira/RO, com a proposta investigativa direcionada para a Etnomatemática, visitando cidades ribeirinhas com objetivo em identificar como a Matemática estava presente no contexto da comunidade. Esse trabalho foi interrompido com minha aprovação no concurso para o Instituto Federal do Acre (IFAC), em 2012, para a cidade de Cruzeiro do Sul/AC. A realidade era outra, tive a necessidade de uma nova adaptação e conhecer as necessidades do novo espaço. Por intermédio de um colega, tive contato com professores que cursavam o Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, pela Universidade Federal do Acre (UFAC), Campus Universitário Floresta, pelo Programa PARFOR2, ofertado em período de recesso escolar aos professores. Essa experiência me possibilitou contato com diferentes vivências e experiências dos professores. Me comovia ouvir suas histórias, professores que moravam nas escolas, devido a distância de suas casas. A maioria, eram escolas multisseriadas3 e, para chegarem até ela, andavam pela floresta, ou barcos, ficavam isolados. Ouvindo tantos relatos, e conhecendo também professores indígenas e comunidades, meu interesse pela Etnomatemática fomentava. Assim, tive meu primeiro contato com o Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud, que além de professor era coordenador do Programa de Doutorado em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Este primeiro contato com o coordenador foi em janeiro de 2015, me apresentei e manifestei interesse em cursar o Programa, fui muito bem recebida, mas devido a distância de moradia que no momento era em Rio Branco/Acre, 2 PARFOR/UFAC -Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica/PARFOR, nos Municípios de Cruzeiro do Sul, Marechal Thaumaturgo, Feijó, Porto Walter, Tarauacá, Santa Rosa do Purus e Jordão e visam atender Curso de Pedagogia. 3 É uma forma de organização de ensino, o professor trabalha na mesma sala de aula, de 1ª a 5ª ano do Ensino Fundamental I. 22 precisei aguardar e passar por um edital de afastamento conseguindo assim até julho de 2015. Diante disso iniciei o curso de Doutorado em Educação Matemática no mês de agosto de 2015. Acredito que pelo fato de minha experiência profissional, acontecer em vários níveis de ensino, como: Maternal III, Pré-escolar, escola multisseriada, Ensino Fundamental II, Ensino Médio, Graduação e Pós-Graduação, nível especialização, coordenação e Direção, foram decisivos em meu interesse pelo Programa em Etnomatemática. Me deparei com dificuldades enquanto docente, no decorrer das práticas pedagógicas, assim como presenciei diversas experiências de professores, esse conjunto me dá a convicção do quanto se faz importante e necessário contextualizar a vivência dos alunos com o contexto escolar. Docente, escola, alunos, comunidade precisam olhar na mesma direção para a aprendizagem. O desejo em contribuir com outros professores, e compartilhar essas experiências, em direção ao tratamento com a Matemática foram fundamentais para essa pesquisa. Assim, surge a intenção de realizar uma investigação do tipo Estado da Arte a respeito de pesquisas que apresentam a Etnomatemática e Formação de Professores no Brasil. 2. Problemática de nossa pesquisa No presente capítulo será exposta a introdução desta tese na qual tecemos considerações sobre a Matemática, Educação Matemática e a Etnomatemática. Exibiremos os elementos que orientam nossa tese, como questão investigativa, objetivo geral, objetivos específicos e procedimentos metodológicos. As primeiras reflexões, ao aprofundar os estudos sobre a Etnomatemática e Formação de Professores, é procurar desmistificar que o professor é o detentor do saber, mas que juntamente com o aluno, escola e seu meio podem construir o conhecimento. Em consonância com Fiorentini (1995, p. 25), quando fala do grande valor da Etnomatemática “foi trazer uma nova visão de Matemática e de Educação Matemática [...], que passam a ser vistas como atividades humanas determinadas socioculturalmente pelo contexto em que são realizadas”. Assim, a Matemática tem sentido para uma comunidade se ela for relacionada com aquele contexto social. Ademais, segundo Fiorentini (1995), 23 Ou seja, o conhecimento matemático deixa de ser visto, como faziam as tendências formalistas, como um conhecimento pronto, acabado e isolado do mundo. Ao contrário, passa a ser visto como um saber prático, relativo, não-universal e dinâmico, produzido histórico- culturalmente nas diferentes práticas sociais, podendo aparecer sistematizado ou não. Esta forma cultural-antropológica de ver e conceber a Matemática e sua produção/divulgação, proporcionada pela Etnomatemática, trouxe também profundas transformações no modo de conceber e tratar a Educação Matemática. (FIORENTINI, 1995, p. 26 grifos do autor). Nesse contexto para a aprendizagem alcançar o êxito, o ensino deverá estar relacionado com o cotidiano do aluno, suas experiências, em sua forma simples, mas que tem um significado e compreensão para ele. Fiorentini (idem, p. 32) afirma que “O aluno aprende significativamente Matemática, quando consegue atribuir sentido e significado às ideias matemáticas[...], e, sobre elas, é capaz de pensar, estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar”. Entendemos que a aprendizagem se consolida num conjunto de conhecimentos compartilhados, assim a prática pedagógica precisa incorporar, se for relevante, o cotidiano do aluno, havendo uma troca de experiências entre professor e aluno em momentos compartilhados para a aprendizagem. Diante disso, o aluno vai processando as informações compartilhadas e reelabora de acordo com sua linguagem, passando da ação do ensino para a aprendizagem. Entretanto, cabe ao professor romper o paradigma tradicional para garantir a aprendizagem com o novo, fazendo da Etnomatemática como ferramenta metodológica nesse processo. Nesta perspectiva, significa que o professor precisa estar receptivo para sua evolução transformadora em sua ação pedagógica, aberto as mudanças, um novo sujeito. Todavia, para atuar de forma a modificar e possibilitar a construção do conhecimento desse aluno que irá construir sua aprendizagem dentro do processo educacional, mediante situações novas, mas a partir de seus conhecimentos acumulados, mesmo não desenvolvidos totalmente, mas que entejam inseridos em situações em que suas experiências sejam postas e validadas de forma a compreender suas particularidades. Na Formação de professores precisa estar explícito que a Matemática não é exclusiva do ambiente escolar, mas que todas as culturas geram seu próprio conhecimento matemático, de acordo com seus costumes. Isso posto, pode-se dizer que que a Etnomatemática propõe um diálogo entre os saberes matemáticos formais e 24 não formais, possibilitando a contextualização do conhecimento matemático, convergindo as interligações de situações reais para o conhecimento escolar. É necessário que o professor compreenda que a aprendizagem não é estagnada, mas um processo contínuo, e na sala de aula se manifesta essa diversidade cultural, o que leva a contribuição da Etnomatemática no processo de ação no plano da imersão do conhecimento do aluno. Diante disso, que sugeriu a elaboração da pesquisa intitulada Estado da Arte sobre Etnomatemática e Formação de Professores (2006 a 2016). Para desenvolver a pesquisa, construímos um mapeamento teórico de teses e dissertações produzidas em programas de Pós-Graduação stricto sensu brasileiras no período de 2006 a 2016(inclusive),para responderem à questão dessa investigação. 1.1 Questão norteadora da pesquisa Tecemos a seguinte questão de pesquisa: Quais contribuições da Etnomatemática para a formação de professores podem ser reveladas em uma pesquisa do estado da arte de pesquisas produzidas no transcurso dos anos de 2006 a 2016? Compreendemos que inserir a Etnomatemática na Formação de Professores representa um desafio, mas acreditamos tratar-se de uma ferramenta que pode relacionar os aspectos culturais às diferentes maneiras de ensinar Matemática. As práticas pedagógicas demandam ser constantemente repensadas, e aprimoradas, uma vez que o docente ensina além dos conteúdos presentes nos componentes curriculares, ele ensina também valores em uma perspectiva da totalidade do mundo aos alunos. Para tanto, realizamos um mapeamento de teses de doutorado e dissertações de mestrado nos cursos de Pós-Graduação stricto sensu brasileiras, movidos pelo interesse de conhecermos o que foi construído nessas pesquisas no que diz respeito à contribuição da Etnomatemática para a Formação de Professores. 3. Objetivos da pesquisa 3.1. Objetivo Geral Nosso objetivo geral é estudar a contribuição da Etnomatemática na Formação de Professores por meio da construção de um estado da arte de pesquisas brasileiras desenvolvida no período de 2006 a 2016. 25 3.2. Objetivos específicos Esta pesquisa visa: • Discutir a produção acadêmica selecionada buscando responder quais aspectos do ensino da Matemática e quais os avanços obtidos no espaço de tempo que escolhemos, • Analisar a convergências e/ou divergências nos resultados das pesquisas analisadas em relação ao papel da Etnomatemática na formação de professor de matemática; • Observar a contribuição da Etnomatemática para a Formação de Professores no ensino da Matemática. 4. Estrutura da pesquisa Esta tese é composta de cinco capítulos cujo primeiro é este (Introdução). Iniciamos com um breve histórico profissional, justificando o interesse pelo Programa Etnomatemática. Além disso, discutimos os elementos que orientam nossa tese, como questão de pesquisa, objetivo geral, objetivos específicos. Nos capítulos que seguem, o termo Etnomatemática será escrita com letra inicial em maiúscula, exceto quando outros autores se reportarem ao tema, adotaremos também o mesmo para a expressão Formação de Professores. No segundo capítulo, abordamos o Programa Etnomatemática e apresentamos um breve histórico da Etnomatemática e de seus conceitos No terceiro capítulo, abordamos a Etnomatemática e Formação de Professores, tanto inicial quanto continuada. No contexto educacional, salientamos a contribuição do Programa de Etnomatemática para a Formação do Professor. No quarto capítulo, apresentamos a metodologia do estado da arte e os procedimentos metodológicos que orientam a investigação e as etapas desta pesquisa, os critérios de seleção das teses de Doutorado e dissertações de Mestrado, a estruturação do processo metodológico, que constituíram o corpus de análise. Apresentamos também, a proposta do Estado da Arte das pesquisas acadêmicas sobre Etnomatemática e Formação de Professores produzidas em programas de Pós-Graduação stricto sensu brasileiras no período de 2006 a 26 2016. Enfatizamos que a escolha do período pesquisado, não desmerece as pesquisas anteriores ou posteriores da pesquisa. No quinto capítulo, é explanado a busca pelas fontes da pesquisa, e o que motivou a escolha das investigações. As pesquisas foram selecionadas de acordo com as categorias e subcategorias. As abordagens investigativas nas pesquisas foram: a) Objetivo geral; b) Abordagens metodológicas e Principais referenciais teóricos; c) Questão da pesquisa; d) Contribuições da pesquisa. No sexto capítulo, apresentamos as considerações finais da pesquisa 27 CAPÍTULO 2. ETNOMATEMÁTICA Tecemos, neste capítulo, algumas reflexões sobre a origem do Programa Etnomatemática e seu percursor, assim como sua proposta para o ensino. Diante disso, destacamos alguns conceitos atribuídos por diferentes pesquisadores, porém todos emergiram no consenso de que Etnomatemática considera e valoriza a cultura de um povo e seu saber/fazer. Outro destaque nesse capítulo diz respeito à contribuição da Etnomatemática como ferramenta metodológica para relacionar a teoria e prática no processo da aprendizagem. O Programa Etnomatemática, assim chamado por Ubiratan D’Ambrosio, busca solucionar problemas envolvidos nas experiências dos alunos, relacionando-os com a Matemática, fazendo uso também, de sua história para entender o saber/fazer. Contando com experiências como professor pesquisador fora do país, em 1970, D’Ambrosio, recebeu um convite para orientar pesquisas em nível de Pós-Graduação em Matemática pura, na perspectiva interdisciplinar, em um programa de Pós-Graduação na República do Mali, intitulado “Centre Pédagogique Supéricur de Bamako” (D’Ambrosio, 1991, p.5). Essa experiência pode ter contribuído para o nascimento da Etnomatemática, a partir do pressuposto que a Matemática pode ser aplicada e aproveitada pelo povo. No início dos anos 70, D’Ambrosio, preocupado com o desenvolvimento da Matemática e com seu ensino, organizou um congresso com o tema “Matemática para países do 3º mundo” promovido pela Unesco em Sudão. Em1976 colocou em pauta no evento em Karlsruhe, na Alemanha, o qual, organizou e presidiu durante o Third International Congress of Mathematics Education 3(ICME-3), no qual se discutiu sobre Educação Matemática enquanto cultura e raízes de um povo. D’Ambrosio mencionou o termo Etnomatemática pela primeira vez em 1978 em Washington DC, nos Estados Unidos no Annual Meeting of the American Association for the Advancement of Science (GREEN, 1978). Todavia foi, somente em 1984, na Austrália, que D’Ambrosio (2002) instituiu oficialmente a Etnomatemática como Programa de pesquisa, durante a palestra de abertura no “Sociocultural Bases of Mathematics Education”. Assim, o “Movimento das Etnomatemáticas surgiu no Brasil, em 1975, a partir dos trabalhos de base etnoantropológica de 28 Ubiratan D`Ambrósio, estabelecendo relação entre a antropologia, sociedade e Matemática, sendo então o idealizador da expressão Etnomatemática. Os primeiros passos desta “nova Matemática” foram dados a conhecer à comunidade científica na V Conferência do Comité Interamericano de Educação Matemática, no ano de 1976 em Campinas. Em 1985, o movimento alargou suas fronteiras, internacionalizando-se com a fundação do Grupo de Estudo Internacional sobre Etnomatemática (ISGE)”4.. De acordo com D’Ambrosio (2004), o uso do termo Programa Etnomatemática teve explicação; A melhor explicação para adotar o Programa Etnomatemática como central para um enfoque mais abrangente aos estudos de história e filosofia está na própria construção do termo[...], o Programa Etnomatemática tem como referências categorias próprias de cada cultura, reconhecendo que é próprio da espécie humana a satisfação de pulsões de sobrevivência e transcendência, absolutamente integrados, como numa relação de simbiose. (D’AMBROSIO, 2004, p. 45) O Programa Etnomatemática busca entender, relatar, ensinar conhecimentos matemáticos, baseado em um conjunto de saberes relacionados com cada cultura. Assim, entendemos que Etnomatemática é a maneira de fazer uso da linguagem, costumes e práticas matemáticas que cada cultura faz de acordo com suas características e tradições, passando por gerações. Vale também ressaltar, que para D’Ambrosio (2005, p.23), “Um importante componente da etnomatemática é possibilitar uma visão crítica da realidade, utilizando instrumentos de natureza matemática”. Assim, a arte de lidar com a natureza inspira novos conhecimentos, amplia o saber cognitivo estabelecendo um diálogo com o saber aprendido por meiode estudos científicos. No decorrer da existência humana, de sua necessidade social e cultural, o conhecimento matemático pode ir se adequando de acordo com as necessidades de sobrevivência. Nessa visão, Ferreira (1997, p. 26-27) afirma que “a matemática é um componente cultural muito importante no desenvolvimento da inteligência do ser humano”. No decorrer de nossa pesquisa, observamos que grande parte das investigações sobre Etnomatemática trata de maneiras diferenciadas em trabalhar a Matemática envolvendo o contexto cultural. Nessa perspectiva, 4http://professorubiratandambrosio.blogspot.com.br/2014/02/para-uma-abordagem- multicultural-o.html Entrevista com Ubiratan D’Ambrosio. Acesso 14/05/2017. http://professorubiratandambrosio.blogspot.com.br/2014/02/para-uma-abordagem-multicultural-o.html http://professorubiratandambrosio.blogspot.com.br/2014/02/para-uma-abordagem-multicultural-o.html 29 Rosa e Orey (2005, p. 122) falam que “O Programa Etnomatemático é uma tentativa permeada pela busca dos mitos compartilhados que sejam matematicamente significativos5”. Para tanto, a Etnomatemática propõe possibilidades para o professor refletir o uso do contexto cultural e seus saberes em sala de aula para a aprendizagem em Matemática, valorizando o aluno enquanto sujeito. Ao se referir Etnomatemática como um Programa, D’Ambrosio (2005, p. 17), diz que “procuro evidenciar que não se trata de propor uma outra epistemologia, mas sim de entender a aventura da espécie humana na busca de conhecimento e na adoção de comportamentos”. Embora a Etnomatemática possa ser considerada um Programa, ela pode reforçar, e auxiliar, a educação científica, promovendo uma educação transcultural. Acerca disso, trata D’Ambrosio (2005, p. 9), “Além desse caráter antropólogo, a etnomatemática tem um indiscutível foco político. Para o autor, a Etnomatemática é embebida de ética, focalizada na recuperação da dignidade cultural do ser humano”. Trata-se de compreender a cultura como aliada ao conhecimento, que abrangem professores, escola e comunidade, pois entendemos que a Etnomatemática faz parte deste contexto social, sobretudo na experiência, comportamento e conhecimento produzido de cada sujeito que faça parte deste meio, para nosso entendimento, o conhecimento é indissociável da cultura. Assim, o conhecimento matemático relacionado com a Etnomatemática estabelece competências para a contextualização do saber, estimula a investigação e sua relação de conhecimento. Sendo assim, o Programa Etnomatemática pode contribuir como uma tendência metodológica para o ensino da Matemática, relacionando a vida do aluno com os conteúdos deste componente curricular, contribuindo para à aprendizagem. Desta forma, pode auxiliar o professor na valorização do conhecimento que o aluno possui quando chega ao banco escolar, contextualizando sua vivência e relacionando-a com os conteúdos e 5 Milton Rosa* e Daniel Clark OreyTendências atuais da etnomatemática como um programa: rumo à ação pedagógica. ZETETIKÉ – Cempem – FE – Unicamp – v.13 – n. 23 – jan./jun. 2005.p. 121-136. Acesso em 18/04/2018. 30 executando a ação pedagógica. Ainda para D’Ambrosio (1993, p. 9), “A Etnomatemática é então um programa de pesquisa visando entender o processo cognitivo nesse sentido e daí propor práticas educacionais”. Entendemos que o professor pode contar com a Etnomatemática como uma ferramenta metodológica para o ensino da Matemática, além disso, pode também promover um comparativo e conhecimento entre a cultura de cada aluno. Acerca disso, é fundamental o professor conhecer a cultura do aluno. Assim, concordamos com D’Ambrosio (2005, p. 32) que afirma que a “cultura é o conjunto de conhecimentos compartilhados e comportamentos compatibilizados”. Nessa perspectiva, a cultura inserida na Formação de Professores, se transforma em conhecimentos incorporados nos saberes pedagógicos que vão se articulando com o conhecimento científico e popular, propondo uma metodologia para o ensino. Nesse segmento, dialoga Charlot (2005, p. 134), definindo cultura como, “[...] conjunto de práticas, de representações, de comportamentos, referente a um grupo humano estruturado de acordo com certas lógicas de sentido e que apresenta uma certa estabilidade”. Cada sujeito tem o direito de ser respeitado pela sua cultura, seus mitos e saberes. Sendo assim, a Etnomatemática pode ser uma aliada no processo da Formação de Professores, pelo respeito a sua identidade, diferença cultural, partindo de uma dimensão universal para a dimensão da comunidade e suas especificidades. Para Borba (1993, p. 43), diz que “A Etnomatemática pode ser vista como um campo de conhecimento intrinsicamente ligado a grupos culturais e a seus interesses, sendo expressa por uma (etno) linguagem também ligada à cultura do grupo, a seus ethnos”. Entendemos que, pertencemos a um grupo social, com seus costumes e particularidades, mas ultrapassamos estes limites para viver em sociedade e construímos e nos adequamos a novos conhecimentos articulados. Conhecer a cultura de um povo, sua prática, com visão em suas dimensões culturais e sociais, sobretudo no ensino que tendem a valorizar o conhecimento da comunidade para a aprendizagem de Matemática, pode auxiliar o professor na aproximação com o sujeito que irá ensinar. Concordamos quando Geertz (2011, p. 4), diz que considera cultura “[...], não como uma ciência 31 experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado”. Nessa mesma perspectiva, o professor ocupa um campo de saber, que reside em suas experiências, que podem ser aliadas em duas dimensões, tanto em sua formação profissional, como pessoal. Por isso, é importante construir vínculos entre o professor, escola e comunidade e suas funções em comum para o ensino e a aprendizagem de matemática. Considerando a cultura nesse ambiente formativo, Morin (2011, p. 50-51), diz que, “A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, dos fazeres, das regras, das normas, das proibições, das estratégias, das crenças, das ideias, dos valores, dos mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo,[...]”. Diante disso, trataremos cultura como conceito que representa os saberes, regras, fazeres, mitos e valores de uma comunidade. Entendemos que cultura faz parte da história do sujeito em desenvolvimento, do trabalho que ele desenvolve junto de sua comunidade e que, cada cultura possui sua maneira própria de atuar no social, de fazer e de entender o mundo ao redor, assim como compreender um conjunto de saberes que poderá contribuir no processo da aprendizagem. Nesta perspectiva, Knijnik (2004; p. 22) enfatiza que “É nesse sentido que é possível compreender a relevância dada ao pensamento etnomatemático no que se refere à recuperação das histórias presentes e passadas dos diferentes grupos culturais”. Nesse diálogo, Borba (1988, p. 20) afirma que “A Etnomatemática, assim entendida, é a matemática praticada por grupos culturais, como sociedades tribais nacionais, grupos de trabalhos ou grupos de moradores”. Assim, concordamos com o autor que a Matemática pode ser expressa através de linguagens específicas, passando assim o conhecimento através de gerações. Acerca disso, pode ser diferenciada essa Matemática com a matemática chamada acadêmica, como diz Borba (Idem, p.20), “sob vários aspectos, inclusive pelo seu código de expressão e pelos fins, ela se mostra muitas vezes mais eficiente para o grupo cultural que a elabora do que a acadêmica”. Entendemos, que a Etnomatemática se preocupa com formas, metodologias diferenciadas de cada cultura e compreender o fazer aliada ema seu convívio. Essa compreensão, priorizaa identidade e características de sua cultura, desvinculada da Matemática acadêmica padronizada, mas sim, com uma nova 32 epistemologia. O principal objetivo da Etnomatemática para D’Ambrosio (2004, p.52) é “Fazer da Matemática uma disciplina que preserve a diversidade e elimine a desigualdade discriminatória é a proposta maior de uma Matemática Humanística”. Para a Etnomatemática, é possível construir essa conexão para associar o conhecimento e não ficar fragmentado. Rosa e Orey (2006, p. 20) afirmam que ”O programa etnomatemática é um campo de pesquisa que pode ser descrito como o estudo das ideias e das atividades matemáticas encontradas em contextos culturais específicos”. Acerca disso, a Etnomatemática pode contribuir com a educação, uma vez que a mesma compreende o valor dos saberes e fazeres de uma comunidade e sua prática, e acredita que os mesmos podem ser inseridos no ensino. Todo ser humano no decorrer de sua existência adquire características individuais, pela qual vai sendo desenvolvida a partir de ações exercidas diariamente por meio de sua necessidade e meio cultural. Vale ressaltar que, o conhecimento acadêmico não está sendo desprezado ou substituído pelo Programa Etnomatemática na aprendizagem como metodologia de ensino, pois, compreendemos que nem todo conteúdo matemático seja possível partir do contexto social do aluno ou do professor em formação, e mesmo assim tal conteúdo precisa ser abordado. Assim, D’Ambrosio (2005, p. 18) afirma que “Todo indivíduo vivo desenvolve conhecimento e tem um comportamento que reflete esse conhecimento, que por sua vez vai-se modificando em função dos resultados do comportamento”. Diante disso, acreditamos que o professor não tem como dissociar seus saberes do conhecimento profissional, mas de forma eficaz trabalhar com os dois saberes em sua prática educativa em prol do ensino. Para tanto, a Etnomatemática pode contribuir como uma proposta metodológica de ensino a ser utilizada pelo professor para apresentar algumas aplicabilidades da Matemática, com objetivo de aproveitar a realidade social do aluno estabelecendo uma relação entre a teoria e a prática. Diante disso, é pertinente observar a prática cultural de cada comunidade, ressaltando a Etnomatemática como parte integrada no dia-a-dia e sua história., assim como constatar que a Matemática está presente na prática de diferentes grupos sociais, dentro de sua história com suas particularidades. Entendemos 33 que inserir a Etnomatemática no currículo de Formação do Professor, significa lançar mão de mais uma ferramenta para auxiliar no ensino da Matemática, ampliando o interesse do aluno por este componente curricular, quando o professor for desempenhar sua prática. Isso não quer dizer que todo o conteúdo inserido neste componente curricular tenha sua relação com cada cultura, sua aplicabilidade, mas que na possibilidade em serem relacionados, que sejam apresentadas tais aplicações, considerando e respeitando as experiências do educando até o momento escolar. Concordamos com D’Ambrosio (2005, p. 41) quando diz que “Cada indivíduo carrega consigo raízes culturais, que vêm de sua casa, desde que nasce. Aprende dos pais, dos amigos, da vizinhança, da comunidade”. Assim, ao estabelecer um convívio com seu povo, sua cultura, o indivíduo estabelece padrões em seus hábitos, pelo qual, ao chegar à escola, não deverá abandonar todo este saber, mas que a escola possibilite fazer relações com o que o aluno já sabe e com o que irá conhecer de novo, possibilitando assim um aprimoramento do conhecimento. Isso justifica quando, D’Ambrosio (2005, p. 43), afirma que “[...]. Não se trata de ignorar nem rejeitar conhecimento e comportamento modernos. Mas, sim, aprimorá-los, incorporando a ele valores de humanidade, sintetizados numa ética de respeito, solidariedade e cooperação”. Esta perspectiva oferece ao professor a possibilidade de responder aos questionamentos dos alunos quando se referem à aplicabilidade da Matemática. Isso, vem ao encontro com a proposta da Etnomatemática que procura valorizar e relacionar a experiência de cada sujeito envolvido no processo de aprendizagem, estreitando os laços entre sua cultura e relacionando o conhecimento científico com o popular, promovendo uma conexão para tais conceitos matemáticos. O fato é que o aluno quer atribuir significado e compreender a relação deste conhecimento científico com sua vida, ou que se aproxime dela, de modo a superar a aprendizagem mecânica com imposição de que é preciso decorar e memorizar fórmulas, assim o professor poderá contar com a Etnomatemática como metodologia para propor essa relação. A Etnomatemática vem de encontro como uma ferramenta metodológica, que entende a aprendizagem como processo de assimilação do aprendido com a relação do que já se sabe, e reconhece que ambas necessitam focar na mesma 34 direção para a aprendizagem. A aplicabilidade da Matemática coaduna com o desenvolvimento de habilidades para suprir as necessidades do cotidiano e representa um novo campo de investigações, processo em que a Etnomatemática oferece sua contribuição, como afirma D’Ambrosio (2005, p. 22), “[...] É uma etnomatemática não apreendida nas escolas, mas no ambiente familiar, no ambiente dos brinquedos e de trabalho, recebida de amigos e colegas” A Proposta Etnomatemática enfatiza o conhecimento matemático praticado por grupos no seu cotidiano, relacionando o conhecimento prático ao científico, possibilitando transformação no processo do ensino da Matemática, assim como, a formação do indivíduo enquanto cidadão. Mendes (2004, p. 20), diz que, “O conhecimento cotidiano é implícito, intuitivo, surge costumeiramente das necessidades suscitadas no contexto sociocultural e desempenha um papel importante na organização do conhecimento escolar e científico”. É esta Matemática que está inserida de acordo com as necessidades culturais que a Etnomatemática procura destacar e relacionar com o conhecimento da Matemática formalizada. Com o surgimento da Etnomatemática, as práticas culturais de uma comunidade, passa a ser valorizada, superando aspectos metodológicos, evidenciando diferentes saberes e contextos. Assim, pode ser uma proposta educacional comprometida com grupos excluídos socialmente, sem ruptura epistemológica. Acerca disso, o conhecimento deixa de priorizar técnicas de memorização e fixação para a aprendizagem, e insere a contextualização da experiência do aluno, seu convívio e sua cultura. Para Carraher (2011, p. 27), “A matemática que um sujeito produz não é independente de seu pensamento enquanto ele a produz, mas pode vir a ser cristalizada e tornar-se parte de uma ciência, a matemática, ensinada na escola e aprendida dentro e fora da escola”. Nessa perspectiva, entendemos a Etnomatemática como um recurso metodológico para relacionar a Matemática formal e a Matemática informal. Vale ainda, explicitarmos sobre o termo formal e informal. Para Bicudo, Garnica (2003, p. 76, grifos do autor), “O termo “formal” participa, aí, claramente, por ser o trabalho com a Matemática escolar naturalmente envolto com sistematizações”. Nós entendemos que a Matemática formal trata de algo 35 formalizado por meio de livros didáticos, onde a resolução de problemas se faz, geralmente, apoiando-se em fórmulas convencionais. Nessa perspectiva, Carraher (2011, p. 28) diz que “A aprendizagem de matemática na sala de aula é um momento de interação entre a matemática organizada pela comunidade científica [...]”. Acerca disso, concordamos que, “O conhecimento formal ou educação matemática formal é aquela adquirida em instituições de ensino, no qual o professor se utiliza de materiais didáticos para ser o mediador entre o educando e a cultura6”. Já para o termo “informal”, o conhecimento do aluno pode ser considerado,como forma de relacionar conteúdos com a sua prática ou cultura. Para tanto, “Conhecimento matemático informal, ou educação matemática informal, é aquele que não é ensinado ou formalizado em sala de aula por meio de técnicas convencionais, mas sim adquirida por culturas familiares de diferentes etnias”7. Concordamos que, o conhecimento informal é uma forma de conhecimento que o povo, por meio de sua cultura objetiva perpetuar seus costumes para sua descendência por meio de sua identidade e padrões valorosos e não se fixam em fórmulas matemáticas convencionais. Em concordância com Alves (2010, p. 49), “[...] é possível trabalhar com o formal, mas trazer para a sala de aula o informal, já que numa mesma sala de aula, temos alunos com diferentes culturas[...]”. Acreditamos que as duas formas de educação, formal e não formal, se completam, pois, registros são necessários para eternizar experiências, vivências e hábitos. Para tanto, apresentar aos alunos a relação entre o conhecimento formal e o informal pode ser motivador para o ensino, destacando que ambos podem chegar a um denominador comum, embora possam tomar caminhos diferentes Como diz Foucault (2003, p. 12), “Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade[...]”. Entendemos que, uma complementando a outra é uma forma de valorizar o ensino de diferentes maneiras favorecendo a aprendizagem e inserindo práticas com abordagem pedagógica. Ambos conhecimentos são necessários, sua intencionalidade, a 6 Dall’Agnol e Soares. XII Encontro Nacional de Educação Matemática – ISSN 2178-034X. www.sbembrasil.org.br/enem2016/anais/pdf/6948_3020_ID.pdf. 10p 7 Idem. www.sbembrasil.org.br/enem2016/anais/pdf/6948_3020_ID.pdf http://www.sbembrasil.org.br/enem2016/anais/pdf/6948_3020_ID.pdf 36 empatia entre ambos que nos leva a perceber que suas características, seu movimento de expansão, seu significado permite refletir sobre a relação da escola com o contexto social. Portanto, a cultura de quem está aprendendo será valorizada, fazendo com que quem está aprendendo sinta-se respeitado, sem privilégio de apenas uma cultura ser levada em conta. Todavia, isso reforça a contribuição da Etnomatemática pelo fato de admitir diferentes interpretações com diferentes culturas e sua relação com o social, não perdendo o significado de resoluções de problemas baseada em regras gerais. A Etnomatemática, assim considerada como ramo, ou vertente da Educação Matemática, proporciona uma conexão ente cultura e educação, legitima a história de vida do aluno e suas práticas sociais, reforçando o conhecimento acadêmico de forma crítica, dentro de um contexto cultural próprio, articulando uma proposta pedagógica envolvendo o cotidiano, assim como envolvendo a proposta escolar, científica. É equivocado quando se pensa que a Etnomatemática trata apenas de saberes populares, produzidos por grupos sociais, já que ela procura considerar esses saberes populares para relacioná-los com a Matemática acadêmica, permitindo que esses conhecimentos se completem. Para D’Ambrosio (2005, p. 17), a “Etnomatemática é procurar entender o saber/fazer matemático ao longo da história, contextualizando em diferentes grupos de interesses, comunidades, povos e nações”. Compreendemos que a Etnomatemática considera seu campo de atuação quando conhecimentos matemáticos que não se restringem à sala de aula se estendem a todos os âmbitos da sociedade, vinculados a qualquer grupo social que a compõe. Alves (2010, p. 43), menciona que “[...]. Etnomatemática vai ao encontro com as metodologias diversificadas em que os professores podem desenvolver a sua prática utilizando um vasto campo de pesquisa e diversificar a sua atividade junto aos alunos [...]”. É importante esclarecer que a Etnomatemática não tenciona sobrepor ou substituir o conhecimento acadêmico, mas trabalhar a Matemática de forma universal em conjunto com o conhecimento e experiências dos alunos, estabelecendo relações entre estes conhecimentos. Schmitz (2004, p. 412) destaca que “A Etnomatemática questiona a universalidade da Matemática ensinada na escola, sem relações com o contexto social, cultural e político, procurando dar 37 visualidade à Matemática dos diferentes grupos socioculturais, [...]”. Ainda acrescentamos que, a Etnomatemática não se encontra em moldes acadêmicos, insere-se, por outro lado, no ato de fazer de um povo. Para tanto, as soluções na resolução de problemas praticado por uma sociedade que envolvem a Matemática pode ser considerada como Etnomatemática. Assim Almouloud (2016, p. 127, grifos do autor) também, afirma que “Para construir situações- problema que, a priori, têm um potencial para atender às necessidades dos alunos em termos de aprendizagem, é importante que se busque respostas oriundas preferencialmente de pesquisas em Educação Matemática [...]”. Nessa perspectiva, também é importante que o aluno possa responder aos desafios, sem ficar preso apenas no ato de saber a resolução de problemas por meio de fórmulas matemáticas, mas desenvolver o raciocínio lógico e saber construir recursos significativos de resolução de problemas, favorecendo uma reflexão sobre sua aprendizagem. Estabelecer relações entre uma Matemática que é aprendida fora do contexto escolar juntamente com a Matemática dita formal, é contribuir de forma sensível e significativa para compreensão de conteúdos em um processo contínuo e transformador para a aprendizagem. Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 63) salientam que “É importante destacar que as situações de aprendizagem precisam estar centradas na construção de significados, na elaboração de estratégias e na resolução de problemas, [...]”. Contudo, o conhecimento sustentado por práticas culturais e seu contexto, tem um potencial para a consolidação da aprendizagem, visto que possibilita uma abordagem contextualizada e sua relação com a Matemática, buscando novas formas de saber. É importante, em algumas situações de ensino, que o professor promova uma aprendizagem conectada com a realidade de seu aluno, de modo que seu aluno possa observar a relação do conhecimento matemático e sua prática. Para a Etnomatemática, é imprescindível que exista a relação do conhecimento matemático com as experiências do aluno, isso faz com que ele sinta fazer parte do cenário do ensino e aprendizagem. De acordo com Mendes (2004, p. 21), “A matemática escolar deve valorizar o conhecimento cotidiano como base cognitiva para que os alunos possam aprofundar seu pensamento 38 matemático até organizá-lo como o conhecimento escolar”. Assim, criam-se oportunidades para o aluno construir seu conhecimento, o qual varia em diferentes formas conforme as necessidades e a cultura de cada região, a Etnomatemática não estabelece padrões nem tem epistemologia definida. Para Monteiro e Pompeu Junior (2001), o ensino da matemática numa abordagem Etnomatemática permite, no nosso entender, uma compreensão crítica da realidade, ou, mais do que isso, permite ao aluno optar pela forma de resolver suas questões na medida em que impõe o saber institucionalizado ao saber do senso comum, mas apenas os problematiza e compara, possibilitando a opção consciente de qual caminho se pretende seguir. A Etnomatemática define-se, assim, mais como uma postura a ser adotada do que um método propriamente dito, isto é, numa perspectiva pedagógica, tal proposta traz à luz alguns princípios básicos de uma proposta educacional voltada para a humanização, para a esperança de um mundo mais fraterno. Tais princípios são: o RESPEITO, a SOLIDARIEDADE e a COOPERAÇÃO. (MONTEIRO, POMPEU JUNIOR, 2001, p. 66, grifos do autor). Por mais específicos ou variados que sejam os conteúdos matemáticos, sempre há a possibilidade de incorporá-los ao meiosocial e promover debates em que os conhecimentos são comuns, e mesmo que as línguas faladas pelos grupos sociais sejam diferenciadas umas das outras, o conhecimento matemático adquirido por meio da cognição individual, ou em grupo, contribui para o relacionamento cultural entre as distintas comunidades. Pela dimensão epistemológica, a Etnomatemática observa a realidade de que o conhecimento é a essência do pensamento humano. D’Ambrosio (2005, p. 37) faz uma crítica referente à epistemologia pelo “fato de ela focalizar o conhecimento já estabelecido, de acordo com os paradigmas aceitos no tempo e no momento”. Como seres continuamente em evolução, novos conhecimentos nos acompanham no decorrer deste processo, pelo simples fato de lutarmos pela sobrevivência e não nos cabe julgamentos, nem organização em escalas ou grupos sociais para distinguir o saber acadêmico do saber não acadêmico, pois uma não sobrepõe a outra, ambas valorizam o saber. Para Monteiro, Pompeu Junior. (2001, p. 47), “Não se trata de sobrepor um tipo de saber ao outro, mas sim buscar as possibilidades de diálogos entre diferentes formas de interpretar a realidade”. Cada grupo social possui sua própria cultura, valoriza a dimensão de todo o saber mesmo que ela se assemelhe a outra, existirá para elas uma 39 maneira, uma característica particular e única em ser reconhecida socialmente, por meio dos costumes adquiridos em seu próprio meio de convivência. O relacionamento interpessoal e a troca de experiências entre grupos e pessoas auxiliam no despertar do pensamento matemático e na visualização de possíveis necessidades de mudanças, e evolução de saberes e fazeres de comunidades distintas. Para Allessandrini (2002, p. 169), “É no momento da ação educacional que se expressa a sabedoria do educador por meio da transformação de seu conhecimento em prática”. Desse modo, a renovação e a transformação acontecem de maneira contínua, porque em qualquer convívio social, informações são processadas e a renovação e a transformação acontecem de maneira contínua e natural, mantendo-se a compatibilidade cultural e a ligação com a Matemática, pautando-se em um ensino contextualizado, menos formal e adequado à realidade. Já que a cultura é o que vai permitir a vida em sociedade. Assim, a cultura de uma sociedade influência na aprendizagem do aluno em Matemática, pois cada povo tem seus modos de lidar com a Matemática. Entendemos que a aprendizagem acontece de forma diferente para cada sujeito ou grupo, respeitando seus limites e sua matriz cultural. Nesse sentido, a Matemática relaciona, valoriza o conhecimento do aluno na aprendizagem e tende a adquirir legitimidade no entendimento dele. Vergani (2007, p. 35) reforça essa ideia quando ressalta que “A Etnomatemática procura situar o pensamento da ciência in lócus, sobre o solo fecundo da experiência humana, onde a inteligência sensível se ergue para trabalhar o mundo”. Inserir a experiência humana no ensino é dar um novo significado para a aprendizagem e aproximá-la da sociedade, valorizando e considerando diferentes maneiras de lidar com o conhecimento. Considerando a cultura de um povo, seus modos e seus valores culturais, é fundamental que o aluno perceba a contextualização e relevância a relação entre a cultura e o saber acadêmico. De acordo com Parâmetros Curriculares Nacionais (2001, p. 20), “O significado da Matemática para o aluno resulta das conexões que ele estabelece entre ela e as demais disciplinas, entre ela e seu cotidiano e das conexões que ele estabelece entre os diferentes temas matemáticos”. Chamamos a atenção, quando a palavra “cotidiano” é 40 mencionada, pois o professor precisa atentar ao seu significado, pois para os Parâmetros curriculares nacionais (Idem, p. 25), “[...] refere-se a uma interpretação equivocada da ideia de “cotidiano”, ou seja, trabalha-se apenas com o que se supõe fazer parte do dia-a-dia do aluno”. Entendemos que nem todo conteúdo matemático faz parte da vida real do aluno naquele momento, mas se faz necessário esse conhecimento para posteridade. Portanto, o professor precisa ter um olhar crítico e responsável ao se deparar com tal situação, para evitar que essa postura empobreça os processos do ensino e da aprendizagem. Para tanto, é preciso considerar o ensino de Matemática de forma contextualizada, fazendo apelo a situações matemáticas e/ou extramatemáticas que têm potencial para o aluno construir um significado para o conceito matemático em jogo e para evitar, como afirma Fiorentini (2008, p. 45), que, “Os saberes e os processos de ensinar e aprender, tradicionalmente desenvolvidos pela escola, se tornaram cada vez mais obsoletos e desinteressantes para os alunos”. É necessário que exista uma aproximação entre os saberes do cotidiano com o escolar, a fim de que as práticas culturais possam ser valorizadas e integradas ao ensino de Matemática. Nesta perspectiva, a Etnomatemática proporciona aplicações de conceitos matemáticos e os relaciona com costumes de um povo. Para Dall ‘Agnol e Soares (2016, p. 2), “Essa dimensão de saberes pensados e executados permite que a matemática se distancie de sua rotina muitas vezes abstrata, para a mais plena aplicabilidade, tendo como princípio a relação com a Etnomatemática”. É acima de tudo uma perspectiva, algo a ser explorado, que surge da necessidade do homem em compreender os fenômenos que o cercam para interferir, ou não em seu processo de construção e a partir da necessidade em buscar respostas para situações de seu contexto social e cultural. Por meio da Etnomatemática, podemos obter informações novas, estimulando ideias inovadoras, oferecer informações em diferentes aspectos dos inicialmente previstos e, desenvolver habilidades a serem utilizadas em situações distintas e diárias que possam ocorrer. Para Monteiro, Pompeu Jr. (2001, p. 38), ensinar matemática deve “basear-se em propostas que valorizem o contexto sociocultural do educando, partindo de sua realidade, de indagações sobre ela, para a partir daí definir o conteúdo a ser trabalhado, bem como o 41 procedimento[...]”. Nesse contexto, a Etnomatemática estuda a relação da Matemática com os aspectos culturais de um povo, com relação a fazeres presentes dentro de uma cultura, que não fica restrita apenas ao ambiente escolar. Entendemos que é importante relacionar questões relativas à vivência dos alunos em seu contexto cultural para dar motivação e significado ao conhecimento matemático ensinado e aprendido. Diante do exposto, estamos também indo ao encontro das competências gerais da educação básica da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)8, que define as principais aprendizagens que o aluno deve adquirir na educação básica, sendo uma de suas competências a valorização da experiência cultural; Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL, 2018, p. 09). Nesse direcionamento, a cultura, e dentro desta, a linguagem e os valores sociais, podem influenciar no desenvolvimento do conhecimento matemático, uma vez que é considerada muito importante no processo do desenvolvimento. Para D’Ambrosio (2012, p. 80), “[...], o conhecimento fragmentado dificilmente poderá dar a seus detentores a capacidade de reconhecer e enfrentar problemas quanto situações novas que emergem em um mundo complexo”. Concordamos com o autor, pois, uma vez que o aluno possa relacionar o conhecendo novo com algo que lhe é familiar, assim como relacionar a Matemática com os diferentes componentes curriculares, a aprendizagem passa a promover um sentido para o entendimentodele Nos anos 70 e 80, segundo Gerdes (2012), cresceram propostas para contrastar à matemática acadêmica e a matemática escolar. Apresentamos no quadro 1 algumas dessas propostas. Quadro 1: Conceitos para contraste entre matemática acadêmica e matemática escolar 8 Base Nacional Comum Curricular (BNCC)- Documento homologado pela Portaria n° 1.570, publicada no D.O.U. de 21/12/2017, Seção 1, Pág. 146. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp- content/uploads/2018/04/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site.pdf. Acesso 16 dez. 2018. 42 1973 - Zaslavsky sociomatemática de África: as aplicações da matemática na vida dos povos africanos e, inversamente, a influência que instituições africanas exerceram e ainda exercem sobre a evolução da matemática; 1982 - D’Ambrosio - matemática espontânea: para poder sobreviver, todo o ser humano e cada grupo cultural desenvolve espontaneamente determinados métodos matemáticos; 1982- Posner- matemática informal: matemática que se transmite e se aprende fora do sistema de educação formal; 1982- Carraher e. o., Kane, 1987- matemática oral: em todas as culturas humanas há conhecimentos matemáticos que oralmente são transmitidos de uma geração à seguinte; 1982 – Gerdes - matemática oprimida: nas sociedades de classe (por exemplo, nos países do ‘Terceiro Mundo’ na época da ocupação colonial) existem elementos matemáticos na vida diária das massas populares, que não são reconhecidos como matemática pela ideologia dominante; 1982, 1985 Gerdes - matemática escondida ou congelada: embora, provavelmente, a maioria dos conhecimentos matemáticos dos povos outrora colonizados se tenham perdido, pode-se reconstruir ou ‘descongelar’ o pensamento matemático, que se encontra ‘escondido’ ou ‘congelado’ em técnicas antigas, tais como, por exemplo, na cestaria; 1986 - Mellin-Olsen - matemática popular / do povo: a matemática (embora muitas vezes não reconhecida como tal) desenvolvida na vida laboral de cada um dos povos pode servir como ponto de partida para o ensino da matemática; 1973 - Zaslavsky - sociomatemática de África: as aplicações da matemática na vida dos povos africanos e, inversamente, a influência que instituições africanas exerceram e ainda exercem sobre a evolução da matemática; 1982 - D’Ambrosio - matemática espontânea: para poder sobreviver, todo o ser humano e cada grupo cultural desenvolve espontaneamente determinados métodos matemáticos; 1982- Posner - matemática informal: matemática que se transmite e se aprende fora do sistema de educação formal; 1982 - Carraher e. o., 1982; Kane, 1987- matemática oral: em todas as culturas humanas há conhecimentos matemáticos que oralmente são transmitidos de uma geração à seguinte; 1982 – Gerdes - matemática oprimida: nas sociedades de classe (por exemplo, nos países do ‘Terceiro Mundo’ na época da ocupação colonial) existem elementos matemáticos na vida diária das massas populares, que não são reconhecidos como matemática pela ideologia dominante; 1982, 1985 Gerdes - matemática escondida ou congelada: embora, provavelmente, a maioria dos conhecimentos matemáticos dos povos outrora colonizados se tenham perdido, pode-se reconstruir ou ‘descongelar’ o pensamento matemático, que se encontra ‘escondido’ ou ‘congelado’ em técnicas antigas, tais como, por exemplo, na cestaria; 1986 - Mellin-Olsen - matemática popular / do povo: a matemática (embora muitas vezes não reconhecida como tal) desenvolvida na vida laboral de cada um dos povos pode servir como ponto de partida para o ensino da matemática. Fonte: GERDES, Paulus. Etnomatemática Cultura, Matemática, Educação. Colectânea de textos 1979-1991 Essas propostas estariam relacionadas em uma tendência que foi se espalhando em outros países, chegando em um consenso, de acordo com Gerdes (2012, p. 48), “[..] sob o denominador comum’ mais geral de etnomatemática. Este processo foi acelerado, em 1985, pela criação do Grupo Internacional de Estudo da Etnomatemática [ISGEm]”. Embora a Etnomatemática possua múltiplas interpretações, destacamos algumas abordagens do termo Etnomatemática por diferentes autores, de acordo com as informações de George (2011) baseada em Ferreira (2004) e 43 Esquincalha (2003), que delineiam uma retrospectiva teórica do nascimento e conceitualização da Etnomatemática (Quadro 2). Quadro 2: Retrospectiva teórica e conceitualização da Etnomatemática 1973 – Cláudia Zalavski designou de Sociomatemática a matemática dos povos africanos. 1976 – Segundo Bello (1996), Ubiratan D'Ambrosio usou o termo Etnomatemática no III Congresso Internacional de Educação Matemática, ICME -3, em Karlsruhe, Alemanha; 1977 – Ubiratan D'Ambrosio usou o termo Etnomatemática em um simpósio, realizado em Washington, DC, promovido pela American Association for the Advancement of Science; 1982 – Ubiratan D'Ambrosio designou de Matemática Espontânea a matemática desenvolvida por povos na luta pela sobrevivência; 1982 – Posner denominou de Matemática Informal a matemática transmitida e aprendida em espaços informais 1982 – Caraher e Schliemann chamaram de Matemática Oral na sua obra “Na vida dez, na escola zero”, quando pesquisaram meninos que eram vendedores ambulantes nas ruas de Recife 1982 – Sebastiani Ferreira iniciou as pesquisas sobre etnoconhecimentos na disciplina de Matemática e Sociedade que lecionava na UNICAMP; 1982 – Paulus Gerdes designou de Matemática Oprimida a matemática desenvolvida nos países subdesenvolvidos com sistema opressor 1984 – No Quinto Congresso de Educação Matemática, na Austrália, surgiram temas como “Matemática e Sociedade”, “Matemática para todos”, entre outros. Neste sentido, Ubiratan D'Ambrosio apresentou sua teorização e suas pesquisas; 1985 – Ubiratan D'Ambrosio usou o termo Etnomatemática na obra “Etnomathematics and its Place in the History of Mathematics”. Segundo este autor, ele teria utilizado o termo na década de 70, na Reunião Anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência, porém não foi publicado; 1985 – Gerdes chamou de Matemática Escondida ou Congelada a matemática produzida pelos moçambicanos nos desenhos e na confecção das cestarias; 1986 – Mellin-Olsen designou de Matemática Popular a matemática produzida no cotidiano e que poderia ser utilizada no ensino acadêmico 1986 – Sebastiani Ferreira utilizou Matemática Codificada para designar o saber fazer matemático; 1986 – Criação do Grupo Internacional de Estudo em Etnomatemática (IGSEm) com pesquisadores educacionais de todo o mundo que coadunavam a ideia de utilizar o pensamento etnomatemático em sala de aula; 1986 – Definição de etnomatemática como “caminhos que grupos particulares específicos encontraram para classificar, ordenar, contar e medir” 1986 – Marcia Ascher, matemática, e seu marido Robert Ascher, antropólogo, definiram etnomatemática como a matemática de povos não letrados; 1987 – Gerdes, Caraher e Harris chamaram de Matemática Não-Estandartizada a matemática produzida fora dos espaços acadêmicos; 1988 – Marcelo Borba designou de Etnomatemática a matemática desenvolvida por grupos culturais; 1989 – Alan Bischop, ao escrever sobre a Etnomatemática afirmou que é um conceito, ainda, sem definição e que existem duas vertentes: a de D'Ambrosio e a do casal Ascher; 1991 – Sebastiani Ferreira baseou-se nas ideias de Thomas Kuhn; de que a ciência nasce, passa por revoluções até a sua ruptura; para definir que a Etnomatemática poderia ser classificada como um acento, movimento e, até mesmo, uma filosofia, o que a caracterizava como um paradigma; 44 1991 – Paulus Gerdes afirmou que, a Etnomatemática estava inserida na Matemática, Etnologia e Didática da Matemática; 1993 – Sebastiani Ferreira designou os etnoconhecimentos de Matemática Materna fazendo uma associação com a Língua Materna; 1993 – Gelsa Knijnik definiu a abordagem Etnomatemática
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