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AULA 23 - JOELHO - MENISCOS Professora Nayra Rabelo 1. Diferenças de Gênero nas Lesões Intra-Articulares e Extra-Articulares Associadas ao Ligamento Cruzado Anterior (LCA) O estudo, intitulado "Gender Differences in Intra-articular and Extra-articular Injuries Associated with Acute Anterior Cruciate Ligament Ruptures" investigou as diferenças de gênero nas lesões intra-articulares e extra-articulares associadas a rupturas agudas do LCA. A pesquisa parte do fato bem conhecido de que as mulheres têm um risco relativo aumentado de duas a nove vezes de ruptura do LCA em comparação com os homens. No entanto, há pouca literatura disponível sobre as taxas de lesões intra-articulares e extra-articulares associadas a rupturas do LCA. Portanto, o objetivo do estudo é entender se há diferenças de gênero nessas lesões associadas. Para conduzir o estudo, os pesquisadores reuniram uma coorte de pacientes que foram submetidos à reconstrução do LCA (RLCA) em uma única instituição. Eles selecionaram pacientes que haviam realizado uma ressonância magnética (RM) dentro de 6 semanas após sofrerem a lesão e que haviam se machucado durante atividades esportivas. Os pacientes que já haviam passado por cirurgia no joelho afetado, incluindo revisões de RLCA, foram excluídos. Um radiologista especializado em ressonância magnética musculoesquelética, que não estava ciente do objetivo do estudo, relatou a incidência de lesões ligamentares, lágrimas meniscais, lesões condrais e contusões ósseas. Os pesquisadores então compararam as diferenças de gênero em relação à prevalência dessas lesões associadas, incluindo lesões no ligamento colateral medial e lateral, lágrimas meniscais medial e lateral, lesões condrais, contusões ósseas no côndilo femoral medial e lateral e contusões ósseas na superfície tibial medial e lateral. Os resultados do estudo indicaram que não houve diferenças de gênero significativas nas lesões intra-articulares e extra-articulares associadas a rupturas agudas do LCA. Isso significa que homens e mulheres apresentaram taxas semelhantes de lesões associadas, independentemente de serem lesões nos ligamentos colaterais, lágrimas meniscais, lesões condrais ou contusões ósseas. 2. Funções dos Meniscos WPS_1660134844 Ink Os meniscos são duas estruturas em forma de meia-lua localizadas dentro da articulação do joelho, entre os côndilos femorais e os platôs tibiais. Eles desempenham várias funções importantes na articulação do joelho, incluindo: Aumento da congruência: Uma das funções dos meniscos é aumentar a congruência entre os platôs tibiais e os côndilos femorais. Isso significa que eles ajudam a melhorar o ajuste ou o encaixe dessas superfícies ósseas, tornando a articulação mais estável e distribuindo melhor a carga sobre ela. Isso é importante para evitar o desgaste irregular da articulação e a formação de pontos de pressão que podem levar a lesões. Absorção de cargas: Os meniscos funcionam como amortecedores dentro da articulação do joelho. Eles absorvem parte do impacto durante as atividades de vida diária. Estabilidade no joelho: Os meniscos também desempenham um papel importante na estabilidade do joelho. Eles ajudam a manter as articulações tibiofemorais lateral e medial alinhadas adequadamente durante o movimento, prevenindo torções excessivas e deslocamentos. Lubrificação da articulação: Os meniscos também contribuem para a lubrificação da articulação do joelho, ajudando a manter uma camada fina de fluido sinovial que reduz o atrito entre as superfícies articulares. 3. Diferentes Tipos de Lesões Meniscais Lesões degenerativas: São aquelas que ocorrem devido ao desgaste progressivo do menisco ao longo da vida, principalmente em pessoas acima de 40 anos. Essas lesões são geralmente horizontais, com mínima capacidade de cicatrização, e podem causar dor, inchaço e limitação do movimento do joelho. As lesões degenerativas podem ser associadas à osteoartrite (OA). Lesões congênitas: São aquelas que estão presentes desde o nascimento, por uma alteração no desenvolvimento do menisco. O tipo mais comum é o menisco discóide, que é um menisco mais espesso e largo do que o normal, podendo ocupar toda a superfície articular. O menisco discóide pode ser assintomático ou causar dor, estalos e travamentos no joelho, principalmente em crianças e adolescentes. O menisco discóide pode se romper mais facilmente do que o menisco normal. Lesões traumáticas: São aquelas que ocorrem por um trauma direto ou indireto no joelho, como uma torção, uma queda ou um impacto. Essas lesões são mais frequentes em pessoas jovens e ativas, especialmente em esportes que envolvem mudanças rápidas de direção, como futebol, basquete e vôlei. O menisco mais comum de sofrer lesão é o menisco medial. As lesões traumáticas podem ser classificadas em diferentes padrões, de acordo com a direção da ruptura do menisco: Lesão longitudinal: é a ruptura do menisco no sentido do seu comprimento, podendo ser completa ou incompleta. Lesão radial: é a ruptura do menisco no sentido do seu raio, ou seja, da borda interna para a externa. Lesão em alça de balde: é a ruptura do menisco que forma um fragmento solto em forma de alça, que pode se mover dentro da articulação e bloquear o movimento do joelho. A lesão em alça de balde geralmente requer cirurgia para remover o fragmento ou suturar o menisco. Figura 1: diferentes tipos de lesões meniscais. 4. Quadro Clínico Lesões Meniscais O quadro clínico de um paciente com lesão meniscal depende do tipo, da localização e da extensão da lesão, bem como do tempo de evolução e da presença de outras lesões associadas. De modo geral, os sintomas mais comuns de uma lesão meniscal são: Dor localizada geralmente em interlinha articular; Derrame articular; Em alguns casos limitação de flexão e extensão de joelho; Bloqueio articular em lesões meniscais em alça de balde; Falseio. 5. Considerações Gerais Sobre o Tratamento de Lesões Meniscais O tratamento das lesões meniscais pode ser conservador ou cirúrgico, dependendo da gravidade, da localização e do tipo da lesão, bem como da idade, da atividade e da expectativa do paciente. Tratamento conservador: O tratamento conservador consiste em controle da dor e edema (gelo, compressão e eleva- ção), uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios e reabilitação fisioterapêutica. O tratamento conservador pode ser indicado para lesões pequenas (< 1 mm), incompletas, estáveis, assintomáticas ou degenerativas, que não comprometem a função do joelho . Tratamento cirúrgico: O tratamento cirúrgico consiste em remover total ou parcialmente o menisco lesionado (meniscectomia) ou em suturar o menisco rompido (sutura meniscal). O tratamento cirúrgico pode ser indicado para lesões grandes, completas, sintomáticas ou traumáticas, que causam instabilidade, bloqueio ou dor no joelho. Alguns pontos importantes sobre o tratamento cirúrgico são: O processo cirúrgico via artroscopia não é recomendado para lesão degenerativa do menisco, pois pode aumentar o risco de OA de joelho. A meniscectomia aumenta em 3.5 vezes a chance de evoluir com OA de joelho quando associada à RLCA. A meniscectomia pode reduzir a capacidade do menisco de amorte- cer e distribuir as cargas no joelho, sobrecarregando a cartilagem e favorecendo o seu desgaste. A sutura meniscal, que é uma técnica que utiliza fios ou âncoras para unir as bordas do menisco rompido, normalmente é realizada na zona do menisco que tem mais vascularização - zona mais periférica. A zona mais periférica do menisco é chamada de zona vermelha, por ter mais vasos sanguíneos, enquanto a zona mais central é chamada de zona branca, por ter menos vasos. A sutura meniscal, caso for associada à RLCA, é prioridade na reabilitação fisioterapêutica. Por exemplo, se um paciente foi submetido a cirurgia de RLCA juntamente com sutura meniscal, a reabilitaçãovai dar prioridade para a sutura meniscal pois temos que dar condições para essa sutura cicatrizar, evitando a descarga de peso precocemente e certos movimentos dependendo do local suturado. 6. Reabilitação Fisioterapêutica Pós-Operatório Meniscectomia Fase I: Pós-operatório imediato (primeira semana): Os objetivos dessa fase são reduzir o edema, minimizar a dor, restaurar a amplitude de movimento (ADM) do joelho e reestabelecer a ativação do quadríceps. Descarga de peso é liberada conforme o tolerado (com ou sem dispositivo auxiliar). As intervenções para reduzir a dor e o edema incluem PRICE (gelo, compressão e elevação), exercícios metabólicos de tornozelo e eletroterapia (TENS). Ativação do quadríceps com eletroestimulação caso haja necessidade. Ganho de ADM total para extensão e flexão de joelho. Exercícios resistidos para abdutores, adutores, flexores, extensores e rotadores laterais de quadris. Exercícios resistidos para tríceps sural Fase II: Pós-operatório intermediário (segunda a terceira semana): Os objetivos dessa fase são alcançar uma ADM completa e indolor do joelho, restaurar a força e a resistência muscular e iniciar o treinamento sensório-motor. Controle da dor e do edema (PRICE e eletroterapia). Progressão nos exercícios resistidos para o quadríceps. Exercícios resistidos para complexo posterolateral, adutores e flexores de quadril. Exercícios resistidos para isquiotibiais e tríceps sural. Exercícios funcionais (agachamento, step up, step down, leg press, etc.). ADM do joelho completa tanto para flexão quanto para extensão. Treino sensório-motor bipodal. Exercícios aeróbicos (bicicleta e caminhada) Fase III: Pós-operatório tardio (quarta a oitava semana): Os objetivos dessa fase são melhorar a função do joelho, aumentar a força e a resistência muscular, aprimorar o controle neuromuscular, restaurar o nível pré-lesão e preparar o retorno às atividades esportivas. Progressão nos exercícios resistidos globais de membros inferiores. Progressão dos exercícios funcionais (agachamento, step up, step down, leg press, etc.). Treino sensório-motor em apoio unipodal. Treinos pliométricos (saltos bipodais, saltos unipodais, saltos com rotações, etc.) Exercícios aeróbicos (corrida); Exercícios específicos do esporte. O critério para retornar ao esporte é ter uma ADM de joelho completa e indolor, ausência de dor e edema, força muscular simétrica, bom controle neuromuscular e confiança para realizar as atividades desejadas. 7. Reabilitação Fisioterapêutica Pós-Operatório Sutura Meniscal Fase I: Pós-operatório imediato (0 - 2 semanas após a cirurgia): Os objetivos dessa fase são proteger a sutura, reduzir o edema, minimizar a dor, restaurar a mobilidade patelar, restaurar a extensão completa e flexão de joelho até 60 graus Nessa fase o paciente deve evitar a descarga de peso do membro inferior operado. O paciente deve utilizar imobilizador (brace) em extensão completa de joelho. As intervenções para reduzir a dor e o edema incluem PRICE, eletroterapia (TENS) e exercícios metabólicos de tornozelo. Exercícios de ativação do quadríceps com eletroestimulação caso haja necessidade. Exercícios resistidos para abdutores, adutores, flexores, extensores e rotadores laterais de quadris. Exercícios resistidos para tríceps sural em cadeia cinética aberta (CCA) Fase II: Pós-operatório intermediário (3 - 6 semanas após a cirurgia): Os objetivos dessa fase são alcançar uma ADM indolor do joelho, restaurar a força e a resistência muscular e iniciar o treinamento sensório-motor. Utilização de imobilizador (brace) em extensão. O paciente deve continuar a controlar a dor e o edema, progredir nos exercícios resistidos globais, com ênfase no quadríceps, realizar exercícios de resistência muscular e treinar o equilíbrio em apoio bipodal. O paciente deve progredir para descarga de peso parcial com uma muleta e em sequência descarga de peso total conforme for passando as semanas.. Fase III: Pós-operatório tardio (7 - 12 semanas após a cirurgia): Os objetivos dessa fase são melhorar a função do joelho, aumentar a força e a resistência muscular, aprimorar o controle neuromuscular e preparar o retorno às atividades funcionais. O paciente deve progredir nos exercícios resistidos globais, realizar exercícios funcionais como agachamento, step-up, step-down, leg-press, realizar exercícios proprioceptivos em apoio unipodal, iniciar exercícios de corrida e saltos e realizar exercícios específicos da atividade. O paciente deve progredir para descarga de peso total sem muletas. O paciente deve evitar rotações com o pé apoiado no solo e saltos Fase IV: Retorno irrestrito à atividade (4 - 12 mês): Os objetivos dessa fase são restaurar o nível pré-lesão de atividade física, prevenir novas lesões e manter a saúde do joelho. O paciente deve continuar a realizar exercícios de fortalecimento, resistência, propriocepção, corrida, saltos (a partir do sexto mês) e gestos funcionais, respeitando a progressão de carga e intensidade.
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