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Intérprete 
de Libras
Cristiane Seimetz Rodrigues
Flávia Valente
In
té
rp
re
te
 d
e 
Li
br
as
Intérprete 
de Libras
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-1726-3
Código Logístico
22208
Intérprete 
de Libras
Cristiane Seimetz Rodrigues
Flávia Valente
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2011
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
© 2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e 
do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
R696i Rodrigues, Cristiane Seimetz; Valente, Flávia. / Intérprete de Libras. / Cristiane 
Seimetz Rodrigues; Flávia Valente. – Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2011.
232 p.
ISBN: 978-85-387-1726-3
1. Interpretação. 2. Libras. 3. Estudo da tradução. I. Título. 
CDD 419
Especialista em Educação Bilíngue para Surdos pelo Instituto Paranaense de 
Ensino – Maringá. Graduada em Letras Português/Inglês pelo Centro Universitá-
rio Campos de Andrade. Sua prática profissional envolve a formação continuada 
dos profissionais da educação de surdos da rede estadual de ensino do Paraná, a 
valorização da participação social dos surdos e a difusão da Língua Brasileira de 
Sinais(Libras).
Flávia Valente
Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC). Graduada em Letras Português/Inglês pela Universidade do Extremo Sul 
Catarinense. Atua como tutora de alunos surdos, orientando e revisando produ-
ções acadêmicas da graduação e pós-graduação, com ênfase nas áreas de Letras, 
Linguística, Tradução e Educação.
Cristiane Seimetz Rodrigues
Sumário
Panorama e perspectivas da tradução 
e interpretação em Libras ..................................................... 13
Considerações iniciais .............................................................................................................. 13
Uma distinção necessária e, por vezes, incômoda: tradutor X intérprete ........... 14
O surgimento da profissão no Brasil ................................................................................. 15
Perfil e competências do TILS .............................................................................................. 18
Código de ética ......................................................................................................................... 22
Formação profissional ............................................................................................................ 24
O fazer tradutório ..................................................................... 35
O que significa traduzir ............................................................................................................ 35
Tipos de tradução segundo Roman Jakobson ............................................................... 37
A polêmica da tradução literal versus tradução livre .................................................... 41
Tradução cultural ....................................................................................................................... 45
O fazer da interpretação ........................................................ 57
No que consiste interpretar ................................................................................................... 57
Interpretação simultânea e interpretação consecutiva .............................................. 60
A (in)visibilidade do intérprete ............................................................................................. 64
O domínio das línguas envolvidas 
no ato de tradução e interpretação ................................... 79
Diferença entre saber uma língua e conhecer sua estrutura ................................... 79
O domínio da estrutura linguística na tradução e interpretação ........................... 80
A questão da variação linguística e do neologismo em Libras ............................... 83
As implicações da modalidade de língua na tradução e interpretação ............... 86
Tradução acarreta o recorte de uma realidade............................................................... 90
Os diferentes gêneros discursivos a interpretar ..........101
O que é gênero discursivo ..................................................................................................101
Discursos da esfera cotidiana .............................................................................................109
Áreas de atuação ....................................................................119
Intérprete no contexto social ..............................................................................................119
Intérprete no contexto educacional .................................................................................123
Intérprete na Educação Especial, na Educação Básica regular 
e no Ensino Superior ..............................................................................................................125
Intérprete na área jurídica ....................................................................................................128
Intérprete religioso .................................................................................................................128
Práticas de tradução e interpretação em Libras ..........141
Estratégias para a interpretação simultânea .................................................................141
Uma ponte entre as teorias da tradução 
e a prática de interpretação ................................................163
Como as teorias da tradução se revelam na prática da interpretação .................163
Escrita de língua de sinais ...................................................183
Escrita de língua de sinais para quê?................................................................................183
Natureza e abrangência da escrita em língua de sinais ............................................185
Escrita de língua de sinais ....................................................................................................187
Algumas especificações sobre as 
combinações de configurações de dedos......................................................................193
SignWriting ................................................................................................................................196
Relação entre escrita de sinais, interpretação e tradução ........................................203
Contribuições do tradutor e intérprete 
no desenvolvimento da Libras ..........................................213
O papel dos tradutores no desenvolvimento das línguas nacionais ...................213
Apresentação
Ao longo desta disciplina, estudante, você terá a oportunidade de entrar em 
contato com as mais recentes produções acadêmicas sobre interpretação e tradu-
ção em Libras, bem como com teorias mais gerais sobre tradução e interpretação 
que podem ser aplicadas a essa língua. São apresentados e discutidos pontos teó-
ricos e práticos pertinentes à atuação do profissional de tradução e interpretação 
em Libras. A intenção, em cada aula, é levar não apenas ao conhecimento da área, 
mas também a uma reflexão sobre como o perfil desse profissional vem se mol-
dando e sobre os requisitos necessários para o exercício da atividade.
O seu material impresso está organizado em dez aulas, que contemplam con-
teúdo, atividades, texto complementar e dicas de estudo. Na primeira aula, você 
será introduzido ao mundo de atuação do Tradutor e Intérprete de Língua de 
Sinais (TILS). A visão apresentada é panorâmica, de forma a prepará-lo para os 
próximos conteúdos. As aulas 2 e 3 são dedicadas a distinguir a função do intér-
prete da do tradutor, não perdendo de vista o elo comum entre elas, a tradução. 
Em seguida, na aula 4, você encontrará umaexposição sobre os motivos – alguns 
óbvios, outros nem tanto – pelos quais ambas as línguas envolvidas no processo 
de tradução e interpretação devem ser dominadas pelo TILS. Seguindo a linha de 
proficiência e fluência linguística, a aula 5 apresenta as vantagens de pensar a tra-
dução e interpretação não apenas como textos, mas como gêneros discursivos. 
A aula 6 volta-se para a análise dos campos de atuação para o TILS, indicando as 
principais exigências e condições de trabalho.
Ao se deparar com as aulas 7 e 8, você, possivelmente, sentirá que tudo começa 
a fazer mais sentido em relação à prática diária do TILS. Isso porque essas aulas 
se dedicam a expor relatos de experiência profissional ou acadêmica sobre os 
desafios do trabalho diário desse profissional, apresentando algumas estratégias 
de enfrentamento e aliando a parte empírica da profissão a um aporte teórico, 
de forma que você possa fundamentar suas escolhas durante o ato interpretativo 
e/ou tradutório. No texto seguinte, lhe é dada a oportunidade de conhecer dois 
sistemas de escrita para as línguas de sinais, os quais poderão ser muito úteis 
não só para o exercício da sua profissão, mas também para o seu crescimento 
pessoal, à medida que um novo recurso de instrução chega ao seu conhecimen-
to. Finalmente, na aula 10, há um histórico sobre a atuação do TILS no Brasil e o 
importante papel que vem desempenhando, juntamente com surdos e outros 
interessados na área da surdez, para o enriquecimento e a padronização linguís-
tica da Libras.
Para um melhor aproveitamento do material disponibilizado, leia-o com aten-
ção, tome notas, procure estabelecer vínculos entre os conteúdos explorados a 
cada aula, reflita sobre como esses conteúdos se manifestam ou podem se ma-
nifestar na sua trajetória de formação; dedique ao texto complementar a mesma 
atenção dada ao texto da aula, afinal, ele é também parte da aula. Neste ponto, 
você pode estar certo de que dispõe de tudo o que necessita para tirar o máximo 
de proveito deste material, investindo, com isso, na excelência de sua formação 
profissional. Bom estudo!
As autoras.
13
O presente capítulo tem por objetivo expor informações, conheci-
mentos e reflexões referentes à área de tradução/interpretação da Língua 
Brasileira de Sinais (Libras), de forma a possibilitar ao leitor a apropriação 
dessa área/profissão ainda em formação e em franca expansão. Espera-se 
que ao final da leitura o interlocutor deste texto seja capaz de discernir 
entre as funções, responsabilidades, direitos, perfis, condições de trabalho 
e formação de tradutores e intérpretes de Libras, bem como tenha alcance 
dos rumos que ainda se delineiam para a área.
Considerações iniciais
A primeira coisa a se considerar no estudo da tradução e interpretação 
da Libras é que se trata de um campo ainda muito pouco explorado, por 
razões variadas, estando entre as principais: a Língua Brasileira de Sinais 
ter sido reconhecida apenas recentemente; tratar-se de uma língua des-
conhecida e usada por uma minoria; o fato de que a área dos Estudos da 
Tradução, na sua condição de campo disciplinar, é ainda muito nova. Por 
isso, ainda são escassos os estudos envolvendo a Libras, quanto mais a 
tradução/interpretação dessa língua. Mesmo em literatura estrangeira, a 
temática é ainda explorada de forma incipiente.
Dessa forma, o tema deste capítulo é explorado a partir de questões 
que se consideram essenciais na formação e atuação do tradutor e intér-
prete, questões estas exploradas nos últimos anos em documentos ofi-
cias, tal como a lei regulamentadora da profissão (a ser sancionada pelo 
presidente da República), e artigos científicos produzidos no Brasil e para 
a realidade do país. Nesse sentido, muito do apresentado aqui se trata de 
uma coletânea dos conhecimentos fundamentais e, ao mesmo tempo, bá-
sicos para o desempenho da função de tradutor e intérprete. Procurou-se 
privilegiar fontes relacionadas, seja na teoria ou na prática, à esfera da tra-
dução e interpretação em Libras. Contudo, devido à já citada “falta” de re-
ferências nesse campo, lançou-se mão também de textos sobre tradução 
e interpretação de línguas orais, estabelecendo comparações de modo a 
clarificar e enriquecer as discussões propostas.
Panorama e perspectivas da 
tradução e interpretação em Libras
Vídeo
14
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
Uma distinção necessária e, 
por vezes, incômoda: tradutor X intérprete 
Uma vez que a abordagem científica da tradução/interpretação em Libras é 
ainda inicial, pouco se tem tratado da diferença entre tradutor e intérprete. Em 
termos práticos, e mesmo nas rodas de conversa entre os profissionais dessa 
área, costuma-se associar a figura do tradutor à do intérprete, como se desem-
penhassem o mesmo trabalho. Não raro, são encontradas menções ao “tradutor- 
-intérprete” de Libras como a figura – observe bem que se fala de “a figura”, e 
não “as figuras” – responsável por verter em Língua Brasileira de Sinais a língua 
portuguesa (ou outro idioma) e vice-versa. No que diz respeito à tradução e in-
terpretação nas línguas orais, essa identificação, ou confusão, também existe:
“Os intérpretes existem desde a Antiguidade, assim como os tradutores, com quem são 
frequentemente confundidos; o tradutor trabalha com a palavra escrita, o intérprete com 
a palavra falada.” Assim começa o livreto da União Europeia (Commission of the European 
Communities, s/d) com informações para os candidatos a seus cursos de formação de 
intérpretes que atendem às necessidades da instituição, o maior empregador de tradutores e 
intérpretes do mundo. (PAGURA, 2003, p. 210)
O autor continua em seu esclarecimento de que, mesmo havendo o processo 
de tradução de um idioma ao outro na interpretação – tanto na simultânea, em 
que a língua-fonte vai sendo vertida para a língua-alvo em paralelo ao discur-
so proferido, ao “mesmo tempo”, quanto na consecutiva, na qual o intérprete 
escuta uma fala e, após a conclusão de um trecho significativo ou do discurso 
inteiro, assume a palavra e repete todo o discurso na língua-alvo –, a maioria 
dos estudiosos e praticantes das duas áreas reserva o uso das nomenclaturas 
citadas para duas atividades diferentes: o tradutor trabalha com texto escrito e 
o resultado de sua tradução é um “outro” escrito; o intérprete lida com a fala, e o 
resultado de seu trabalho é uma “outra” fala. Transpondo tal conceituação para 
a língua de sinais, deve-se assumir que o profissional responsável por transpor 
discursos falados para Libras, ou o contrário, é o intérprete. Já o que transpõe um 
discurso escrito para Libras é o tradutor.
Convém notar que a Libras, embora já possua um sistema gráfico de repre-
sentação, uma escrita, não costuma ser traduzida nessa modalidade, indepen-
dente de ser o texto de partida ou de chegada. Isso significa que a tradução 
envolvendo a Libras se dá, majoritariamente, no contexto de discursos escritos 
em outros idiomas (o português, por exemplo) sendo vertidos para a Libras si-
nalizada, equivalente à língua oral, e não para a escrita de sinais, modalidade 
equiparada à língua escrita. Observe-se que não se está falando de uma impos-
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
15
sibilidade de tradução de textos escritos para escrita de sinais, apenas se está 
registrando a rara observância dessa prática.
Estabelecida a necessária diferenciação entre tradutor e intérprete, resta 
tratar do incômodo que a mesma causa aos profissionais da área. Como dito 
anteriormente, não são raras as referências ao “Tradutor-Intérprete” de Língua 
de Sinais, identificado sob a sigla TILS. O uso desse termo tem ganhado um sig-
nificado desnecessário, tornando dúbio o que deveria ser claro: a distinção entre 
duas atividades interdependentes, relacionadas, mas de natureza diversa. Ao 
que parece, pois ainda não há um estudo sobre isso, considerando apenas o que 
a prática cotidiana e o convívio com os profissionaisrevela, muitos Intérpretes 
de Língua de Sinais (ILS) acreditam que, se lhes for usurpada a nomenclatura 
de “tradutor”, ficam diminuídas a complexidade, seriedade e mesmo a profissio-
nalização de sua atividade. Para muitos, não ser chamado de “tradutor” é uma 
forma de subalternização, como se interpretar fosse mais fácil do que traduzir. 
Possivelmente esse sentimento, crença, se justifique e derive do entendimen-
to pejorativo do termo “interpretar” quando empregado na atividade de tradu-
ção em Libras, já que é associado – não sem motivo, é verdade, mas de maneira 
apressada e equivocada – à faculdade de “compreender”, ou seja, elaborar para 
si um sentido e passar para o outro, seu cliente, um significado que é seu, e não 
do “autor” do discurso traduzido/interpretado, resultando numa fuga à tão alme-
jada fidelidade da mensagem, da qual se tratará mais à frente.
Todavia, será visto ao longo dessa discussão que ambas as atividades, tra-
dução e interpretação, são complexas em demasia, exigindo dos profissionais 
capacidades, características e conhecimentos que ora se entrecruzam e ora se 
distanciam. Também não é o intuito aqui proceder numa dicotomia entre os 
dois campos, como se o profissional tivesse de escolher na sua atuação entre 
um deles. Somente se quer propor uma reflexão para fundamentar uma escolha 
feita para este curso: a de que tradução e interpretação são áreas diferentes de 
atividade, pelas quais os profissionais podem transitar, sem, contudo, esquece-
rem das demandas exigidas por cada uma. Por isso, toda vez que se fizer menção 
ao TILS, ela deve ser lida como o tradutor e o intérprete.
O surgimento da profissão no Brasil 
De modo geral, tanto aqui como em outros países, a formação de tradutores 
e intérpretes de línguas de sinais está vinculada à prática de atividades volun-
tárias, que, com o decorrer do tempo e com o avanço das conquistas sociais do 
16
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
surdo, foram sendo valorizadas em sua condição de atividade trabalhista. Nesse 
sentido, a luta do surdo por espaços nas esferas sociais, como na educação, no 
trabalho, na saúde etc., e, principalmente, pelo reconhecimento de sua língua 
como língua de fato e da qual ele poderia se valer nos espaços sociais conquista-
dos, deflagrou a necessidade pelo Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais, uma 
vez que as instituições precisaram, por uma questão de acessibilidade, que uma 
ponte fosse estabelecida entre elas e o surdo.
No Brasil, as atividades voluntárias de tradução e interpretação de que se falou 
anteriormente foram notavelmente observadas no meio religioso a partir de 1980. 
Não é errado dizer que está aí, em nosso país e também em outros, o nascedouro 
da profissão de intérprete e tradutor de Libras. No âmbito religioso, a atividade 
de tradução e interpretação se inicia com base num objetivo final: evangelizar o 
surdo. Contudo, na busca de tal intento, era necessário ao intérprete formar-se a 
si mesmo, uma vez que, à época, não se contava com cursos profissionalizantes, 
tampouco com espaços onde a língua de sinais fosse ensinada. Dessa forma, a 
atividade de tradução e interpretação, a princípio, foi exercida principalmente por 
pessoas que tinham contato com algum parente, amigo ou cônjuge surdo. Nesse 
sentido, essas pessoas tiveram de aprender a língua de sinais em contato com o 
surdo e ir estabelecendo, ao longo desse contato e da prática, um conjunto de 
conhecimentos e estratégias – linguísticas, culturais, sociais, tradutológicas etc. –, 
o que lhes permitiu viver e exercer o papel de intérprete de Libras.
Ademais, conforme relato de Masutti e Santos (2008, p. 155), de forma a evitar 
o isolamento e a exclusão social do surdo, “instituições com fins religiosos, edu-
cativos, sociais e de ajuda em geral ofereciam diferentes serviços para a comu-
nidade surda”. Por meio das trocas efetuadas entre intérpretes e surdos, aqueles, 
passando a serem os representantes e interventores dos surdos, auxiliaram a 
comunidade surda em suas lutas sociais por melhores condições de trabalho, 
educação, reconhecimento linguístico e cultural, entre outras. O avanço das po-
líticas educacionais, linguísticas etc. voltadas à comunidade surda trouxe à tona 
a necessidade do reconhecimento e também de políticas que balizassem a nova 
profissão que se delineava. Cientes disso, muitos daqueles intérpretes que atua-
vam voluntariamente
se tornaram, ao longo dos anos, líderes da categoria e, atualmente, participam do cenário 
nacional enquanto articuladores do movimento em busca da profissionalização desse grupo, 
como membros e presidentes das associações de intérpretes de Língua de Sinais no país. 
(MASUTTI; SANTOS, 2008, p. 153)
O aparecimento de associações de intérpretes originou-se e, igualmente, re-
sultou de um movimento organizativo da categoria, muitas vezes em parceria 
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
17
com a comunidade surda, que, aos poucos, foi e vem ganhando fôlego em even-
tos tais como: o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais, realizado 
no Rio de Janeiro e organizado pela Federação Nacional de Educação e Integra-
ção dos Surdos (Feneis), em 1988, que propiciou, pela primeira vez, o intercâm-
bio entre alguns intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional 
intérprete; o II Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais, também 
organizado pela Feneis, realizado em 1992 no Rio de Janeiro, que possibilitou 
a troca de diferentes experiências entre os intérpretes do país, discussões e vo-
tação do regimento interno do Departamento Nacional de Intérpretes, funda-
do mediante a aprovação do mesmo; I Encontro Nordestino de Intérpretes de 
Libras, realizado em João Pessoa, em 1998; I Seminário de Intérpretes, realizado 
em São Paulo, em 2001; I e II Encontro de Intérpretes do estado de Santa Catari-
na, realizados em Florianópolis, respectivamente, no ano de 2004 e 2005.
Muito desse avanço organizacional foi possível graças ao estabelecimento, a 
partir dos anos 1990, de unidades de intérpretes e tradutores ligadas aos escri-
tórios regionais da Feneis. Em 2000, o contato entre os TILS de todo o Brasil foi 
facilitado pela disponibilização da página dos Intérpretes de Língua de Sinais 
(<www.interpretels.hpg.com.br>.) e pela abertura de um espaço para partici-
pação dos intérpretes através de uma lista de discussão via e-mail. Essa lista é 
aberta para todos os intérpretes interessados e pode ser acessada através da 
página dos intérpretes. Além disso, a Feneis, a partir de 2002, passou a sediar 
escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Brasília e 
Recife, além da matriz no Rio de Janeiro, permitindo que a luta pelos direitos do 
surdo e, em sua esteira, do intérprete, alcançasse realmente um patamar nacio-
nal, podendo articular movimentos em prol da educação, saúde, trabalho, direi-
to a intérprete etc. de maneira descentralizada, de forma a atingir outras áreas 
que não apenas o Rio de Janeiro.
No dia 24 de abril de 2002, foi homologada a Lei Federal 10.436 que reconhece 
a Língua Brasileira de Sinais como língua oficial das comunidades surdas brasi-
leiras, porém, sua regulamentação viria apenas três anos depois, com o Decreto 
5.626/2005. A partir de então, houve um avanço na aplicação das políticas linguís-
ticas em relação à Libras, fazendo com que ela alcançasse gradativamente um 
lugar próprio enquanto objeto de interesse científico, sendo estudada sob pers-
pectivas várias – antropológica, educacional, tradutológica, linguística, literária, 
entre outras. Portanto, essa lei e sua respectiva regulamentação representam um 
passo fundamental no processo de reconhecimento e formação do profissional 
Intérprete de Língua de Sinais no Brasil, bem como a abertura de várias oportuni-
dades no mercado de trabalho, que são respaldadas pela questão legal.
18
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
Até o anode 2010, ainda não se tem uma diretriz nacional sobre o perfil e 
as exigências para a formação profissional do TILS. O que há é um conjunto de 
princípios, baseado no código de ética da atividade, a ser seguido, sendo que 
cada estado estabelece a regulamentação da prática de tradução e interpreta-
ção. Esse quadro, contudo, está em via de ser alterado, já que foi aprovado, em 
julho de 2010, pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS), o projeto de 
lei que regulamenta a profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de 
Sinais (Libras), faltando somente a sanção do presidente da República, haja vista 
o caráter terminativo da decisão tomada pela CAS. Com a sanção presidencial, 
finalmente se poderá tratar da prática de tradução e interpretação como uma 
profissão de fato e de direito, o que levará, consequentemente, ao estabeleci-
mento de políticas públicas para a “nova” atividade, seja no tocante a melhorias 
nas condições de trabalho, seja no que tange à formação desse profissional. O 
referido projeto de lei, que tramitou no Senado como PLC 325/2009 (na Câmara, 
tramitou como Projeto de Lei 4.673/2004), entre outras coisas, estabelece como 
exigência para exercer a profissão uma das três formações:
 � curso superior de tradução e interpretação com habilitação em Libras (lín-
gua portuguesa);
 � nível médio, com formação em cursos (obtida até 22 de dezembro de 
2015) de educação profissional reconhecidos pelo sistema que os creden-
ciou, ou cursos de extensão universitária, ou cursos de formação continua- 
da, esses dois últimos promovidos por instituições de Ensino Superior e 
instituições credenciadas por Secretarias de Educação;
 � certificação de proficiência, sendo que a mesma será fornecida até o dia 
22 de dezembro de 2015 pela União, que, diretamente ou por intermédio 
de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência 
em Tradução e Interpretação de Libras – Língua Portuguesa.
Além disso, o projeto prevê a elaboração de uma norma específica que es-
tabelecerá a criação de Conselho Federal e Conselhos Regionais responsáveis 
pela aplicação da regulamentação da profissão, em especial da fiscalização do 
exercício profissional.
Perfil e competências do TILS 
Necessário dizer que embora se faça menção ao TILS aqui, a maior parte das 
asserções desta seção são feitas em torno do intérprete, uma vez que os mate-
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
19
riais de consulta disponíveis se remetem principalmente a ele. Ainda assim, será 
possível ao leitor vislumbrar os pontos em que tradução e interpretação se apro-
ximam e se distanciam. Esclarecido isso, o primeiro requisito para um candidato 
a TILS é o pleno domínio da Libras, bem como da sua própria língua materna, 
nesse caso, o português. Porém, só o domínio das línguas envolvidas no proces-
so de tradução não basta para que alguém atue como tradutor ou intérprete. 
Segundo aponta Quadros (2007, p. 29), também não se deve cair no mito de que 
professores de surdos ou filhos de pais surdos têm predisposição e/ou maior 
facilidade, tornando-se intérpretes mais bem preparados por conta disso.
O domínio da Libras, ser filho de surdos, ou professor de surdos, nada disso 
garante, por si só, que alguém possa ser intérprete. É preciso, na verdade, que 
haja uma conjunção de características que envolvem, além do conhecimento 
profundo da estrutura das línguas envolvidas e a responsabilidade de manter- 
-se fiel e neutro em relação ao objeto de interpretação, o conhecimento cultu-
ral suficiente da língua-alvo e da língua-fonte para fazer as devidas adaptações 
linguísticas de cunho idiomático e cultural. Aí, entrecruzam-se habilidades lin-
guísticas próprias e inferências que ocorrem durante o próprio ato interpretati-
vo, que levam intérpretes a usarem diferentes recursos para expressar os mais 
diversos significados, seja nas palavras, em nível lexical, ou nas frases, em nível 
sintático. Por tal razão, a abertura ao aprendizado contínuo, tanto em cursos 
de formação quanto em convívio com surdos, usuários da Libras e colegas de 
profissão, é imprescindível. As práticas de autoavaliação e de autocrítica e o 
feedback de seus clientes também são importantes componentes auxiliadores 
na excelência do desempenho da profissão.
Até agora se falou de questões relativas a escolhas lexicais e estrutura sintáti-
ca, no entanto, a ação do intérprete não se limita a isso. Há ainda a semântica e a 
pragmática, que são componentes naturais do discurso e certamente devem ser 
contemplados nessa atuação. Por exemplo, o falante tem intenções discursivas 
que são entendidas por seus ouvintes, por compartilharem o mesmo campo lin-
guístico; os surdos, porém, só percebem tais sutilezas se o intérprete utilizar-se 
de recursos para tanto. Isso implica em superar a dificuldade imposta pela mo-
dalidade da Libras. Sabendo que esta é uma língua de modalidade espaço-visual 
e a língua portuguesa de modalidade oral-auditiva, há uma incompatibilidade 
da estruturação gramatical, ou dizendo melhor, são sistemas organizados distin-
tamente. E isso se torna um complicador, conforme afirma Quadros (2007), pelo 
fato dos profissionais desconhecerem as particularidades da língua.
20
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
Ademais, a autora afirma que o intérprete ao intermediar um processo intera-
tivo deve ser responsável pela veracidade e fidelidade das informações. A ética é 
um ponto muito importante, mas apenas ela (como a própria autora, aliás, men-
ciona em outras passagens) não garante a fidelidade de interpretação em rela-
ção às intenções discursivas dos envolvidos no ato comunicativo. É preciso que 
o intérprete tenha excelente domínio da língua de partida, bem como da língua 
de chegada, que ele reconheça as diferentes intenções discursivas do indivíduo 
e tenha ainda a capacidade de perceber certas sutilezas semânticas e pragmáti-
cas na língua-fonte (a de partida) e saber como expressá-las na língua-alvo (a de 
chegada). Entretanto, a fidelidade, tão almejada, é difícil de alcançar, se pensada 
como sinônimo de exatidão, por isso cabe aqui uma citação acerca da questão 
da fidelidade em tradução que capta o que se julga pertinente pensar sobre a 
interpretação (guardadas as devidas diferenças):
Só se poderia falar em tradução literal se houvesse línguas bastante semelhantes para 
permitirem ao tradutor limitar-se a uma simples transposição de palavras ou expressões 
de uma para outra. Mas línguas assim não há, nem mesmo entre os idiomas cognatos. As 
inúmeras divergências estruturais existentes entre a língua do original e a tradução obrigam o 
tradutor a escolher, de cada vez, entre duas ou mais soluções, e em sua escolha ele é inspirado 
constantemente pelo espírito da língua para a qual traduz. (RÓNAI, 1987, p. 21)
Isso significa que, assim como na tradução, durante a interpretação não há 
uma única maneira de se dizer na língua-alvo o que foi dito na língua-fonte e 
isso leva ao fato de que não há apenas uma maneira ideal, boa, de interpretação, 
mas muitas. Então, cabe ao TILS construir “maneiras adequadas” de transmitir ao 
seu cliente as informações que a ele são dirigidas onde e com quem estiver – 
consultórios médicos, reuniões de trabalho, júri, conferências, sala de aula, entre 
outras possibilidades. Evidentemente, quão mais bem formado for o profissio-
nal, mais chances de sucesso terá na execução de sua tarefa. A formação municia 
o TILS, por meio de teorias e prática, a lidar com os desafios de sua atividade. No 
entanto, tal como em outras áreas do saber e do fazer, não existem fórmulas, 
ou receitas infalíveis, que possam ser seguidas e aplicadas indiscriminadamente. 
Existem, sim, teorias que subsidiam a prática e práticas que alimentam a teoria, 
as quais, quando entrelaçadas, conforme se espera fazer ao longo deste curso, 
oferecem ao tradutor e intérprete a autonomia necessária para ir moldando sua 
atuação e criando suas próprias estratégiasde tradução e interpretação.
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
21
As exigências específicas à tradução 
e à interpretação da Libras
Ao intérprete da Libras cabe a responsabilidade de transmitir o que foi dito. 
Para tanto, não precisa manter a mesma forma gramatical apresentada na lín-
gua-fonte, mas deverá garantir que o conteúdo chegue aos surdos (que natu-
ralmente são os receptores dessa língua) na mesma proporção qualitativa que 
chega aos que ouvem o que é proferido. Porém, para realizar tal feito, o intérprete 
deve fazer escolhas lexicais adequadas, estruturar a língua-alvo respeitando sua 
organização gramatical, bem como desenvolver técnicas de recepção-emissão 
simultâneas, ou seja, sua agilidade em ouvir deve ser relevante para não perder 
informações mencionadas no discurso falado.
Além de assimilar o que ouve e fazer a acomodação em sua mente, o intér-
prete deve processar a informação, o que, nesse caso, significa julgar qual sina-
lização da Libras corresponde a dada sentença do português. É uma tomada de 
decisão que acontece rapidamente.
Os tradutores, por sua vez, dispõem de tempo suficiente à obtenção de um 
texto final técnica e linguisticamente correto. A atividade de interpretação, por 
outro lado, encontra-se associada a um forte componente de imprevisibilidade, 
o que obriga o intérprete a preocupar-se sobretudo com a mensagem essencial 
do discurso transposto, e não tanto com a sua transposição integral. Esse fator 
leva também a que esta profissão seja muito exigente do ponto de vista físico e 
mental, pois o intérprete necessita estar altamente concentrado e acompanhar 
o ritmo das falas, ouvindo e sinalizando ao mesmo tempo. Por envolver questões 
pertinentes à proficiência linguística, à cultura, à ética, ao emocional, à acuidade 
intelectual, à compreensão de texto e outros, é que a interpretação simultânea 
apresenta-se como um grande desafio a quem se dispõe a atuar como mediador 
entre os indivíduos da situação comunicativa.
Não menos complexa ou árdua é a tarefa do tradutor, entendido nesse mo-
mento como o que executa o ofício de transpor para Libras textos escritos. Claro 
que o contrário, a transposição da Libras para textos escritos, também é passível 
de ser realizado, mas, claro, numa proporção muito menor, já que a demanda 
por esse tipo de trabalho ainda é pequena.
22
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
Um estudo bastante interessante é o empreendido por Quadros e Souza 
(2008) quanto à prática de tradução de textos escritos em português para a 
Língua Brasileira de Sinais. Em sua pesquisa, os autores relatam o processo tra-
dutológico empregado na confecção dos materiais de ensino (DVDs e Ambien-
te Virtual) do curso Letras Libras ofertado pela Universidade Federal de Santa 
Catarina (UFSC) e seus polos. A leitura do relato interessa na medida em que é 
possível traçar a diferença da natureza da tarefa executada pelo tradutor e pelo 
intérprete. Destaque para a preparação prévia de que dispõe o tradutor, poden-
do se valer de recursos de consulta, avaliar a qualidade de sua tradução (gravada 
em DVD) e lapidá-la no confronto com o texto original, coisas impensáveis para 
o contexto da interpretação simultânea, em que o profissional precisa resolver 
seus “problemas” no ato. Aqui, como na interpretação, exige-se o domínio das 
técnicas arroladas nos parágrafos anteriores.
Código de ética 
Ética é o conjunto de princípios morais que se devem observar no exercí-
cio de uma profissão. O estabelecimento do conjunto a ser seguido por cada 
profissão é feito por aqueles que a exercem, de forma a respaldar sua prática e 
também orientá-la, assim como fornecer parâmetros para a formação daqueles 
que integrarão a categoria. Dessa forma é que se estabelece o código de ética 
de uma atividade profissional. Com a tradução e interpretação não é diferente. A 
existência do código justifica-se a partir do tipo de relação que o intérprete esta-
belece com as partes envolvidas na interação. O intérprete está para intermediar 
um processo interativo que envolve determinadas intenções conversacionais e 
discursivas. Nessas interações, o intérprete tem a responsabilidade pela veraci-
dade e fidelidade das informações. Assim, a ética deve estar na essência desse 
profissional e permear todas as suas decisões no momento de sua atuação. A 
seguir é transcrito o código de ética que é parte integrante do Regimento Inter-
no do Departamento Nacional de Intérpretes (Feneis):
(Registro dos Intérpretes para Surdos – em 28-29 de janeiro de 1965, Washington, EUA). 
Tradução do original Interpreting for Deaf People, Stephen (ed.) USA por Ricardo Sander. 
Adaptação dos Representantes dos Estados Brasileiros – Aprovado por ocasião do II Encontro 
Nacional de Intérpretes – Rio de Janeiro/RJ/Brasil – 1992.
Capítulo 1. Princípios fundamentais
Artigo 1.o São deveres fundamentais do intérprete:
1.º O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de 
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
23
equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidências, 
as quais foram confiadas a ele;
2.º O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, 
evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo;
3.º O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre 
transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar dos 
limites de sua função e não ir além de sua responsabilidade;
4.º O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em aceitar 
tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando necessário, 
especialmente em palestras técnicas;
5.º O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a 
dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício 
da função.
Capítulo 2. Relações com o contratante do serviço
6.° O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar serviços 
de interpretação, em situações onde fundos não são possíveis;
7.° Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de cada 
estado, aprovada pela Feneis.
Capítulo 3. Responsabilidade profissional
8.° O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou outras 
em seu favor;
9.º O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem como da 
Língua Portuguesa;
10.° Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de comunicação da 
pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é possível, e o intérprete, 
então, terá que parafrasear de modo claro o que está sendo dito à pessoa surda e o que ela 
está dizendo à autoridade;
11.º O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas envolvidas. 
Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para 
o entendimento;
12.° O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e 
fazer o melhor para atender às suas necessidades particulares.
Capítulo 4. Relações com os colegas
13.° Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete deve 
agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos conhecimentos de vida 
e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em interpretação e tradução.
Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre 
que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta 
de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo. (QUADROS, 
2007, p. 28)
24
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
Formaçãoprofissional 
Em virtude das novas exigências do mercado de trabalho, aliadas à difusão 
da Libras e ao crescente número de pessoas que conhecem e desejam utilizá-la 
profissionalmente, vê-se cada vez mais a especialização desta profissão. Desse 
modo, quem inicia uma carreira de tradutor e/ou de intérprete deverá contar 
com um mercado de trabalho exigente cujo acesso não é garantido pelo mero 
conhecimento da língua em questão. Deverá adquirir, por isso, técnicas espe-
cializadas em tradução e/ou interpretação e é essencial que invista em conheci-
mentos técnicos e conhecimentos gerais, através, por exemplo, de estágios, de 
contato com a comunidade surda em variados âmbitos e de um esforço cons-
tante na investigação e na autoformação.
Há vários níveis de formação de intérpretes para surdos no mundo. Desde 
o nível secundário ao nível de mestrado, podem-se encontrar pessoas especia-
lizando-se para se tornarem profissionais mais qualificados. Essa variação em 
níveis de qualificação reflete um desenvolvimento sociocultural da comunidade 
surda. A preocupação em formar intérpretes surge a partir da participação ativa 
da comunidade surda na comunidade em que está inserida. Além dos níveis de 
formação, começam a se delinear também as especialidades, ou áreas, de atu-
ação do TILS. Assim, além de uma formação mais geral, necessária a todo pro-
fissional, ainda há a possibilidade, transformada, sem dúvida, futuramente, em 
necessidade, de uma formação específica a cada esfera de atuação: educacional, 
jurídica, médica, empresarial-trabalhista, religiosa etc. Para o momento, aborda-
se, por meio do texto complementar, a formação do intérprete educacional, o 
qual é ainda o mais requisitado no mercado de trabalho atual.
Texto complementar
O intérprete educacional
(QUADROS, 2007, p. 55-59)
O intérprete educacional é aquele que atua como profissional Intérprete 
de Língua de Sinais na educação. É a área de interpretação mais requisita-
da atualmente. Na verdade, essa demanda também é observada em outros 
países:
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
25
Nos Estados Unidos, em 1989, estimava-se que 2 200 Intérpretes de Língua de Sinais 
estivessem atuando nos níveis da educação elementar e no ensino secundário. [...] 
Atualmente, mais de um terço dos graduados nos cursos de formação de intérpretes são 
empregados em escolas públicas. Mais da metade dos intérpretes estão atuando na área 
da educação. (STEWART et al. 1998)
Considerando a realidade brasileira na qual as escolas públicas e parti-
culares têm surdos matriculados em diferentes níveis de escolarização, seria 
impossível atender às exigências legais que determinam o acesso e a per-
manência do aluno na escola observando-se suas especificidades sem a pre-
sença de Intérpretes de Língua de Sinais. Assim, faz-se necessário investir na 
especialização do Intérprete de Língua de Sinais da área da educação.
O intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um 
perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como 
entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. No entanto, as competências e 
responsabilidades desses profissionais não são tão fáceis de serem determi-
nadas. Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em função 
do tipo de intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas 
vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o 
papel do professor. Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, 
comentam e travam discussões em relação aos tópicos abordados com o 
intérprete, e não com o professor. O próprio professor delega ao intérprete 
a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em 
aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor consulta o intérprete a respeito 
do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele a pessoa mais indicada 
a dar um parecer a respeito. O intérprete, por sua vez, se assumir todos os 
papéis delegados por parte dos professores e alunos, acaba sendo sobrecar-
regado e, também, acaba por confundir o seu papel dentro do processo edu-
cacional, um papel que está sendo constituído. Vale ressaltar que se o intér-
prete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais difícil torna-se 
a sua tarefa. As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que 
aquele que está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas 
aquele que está intermediando a relação entre o professor e ela.
Diante dessas dificuldades, algumas experiências têm levado à criação 
de um código de ética específico para Intérpretes de Língua de Sinais que 
atuam na educação. Em alguns casos, ao Intérprete de Língua de Sinais é per-
mitido oferecer feedback do processo de ensino-aprendizagem ao professor, 
por exemplo. Se essa possibilidade existe, poder-se-ia prever que o intérprete 
assumiria a função de tutoria mediante a supervisão do professor, o que em 
26
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
outras circunstâncias de interpretação não seria permitido. No entanto, isso 
poderia gerar muitos problemas... Os intérpretes-tutores deveriam estar pre-
parados para trabalharem com as diferentes áreas do ensino. Se a eles fossem 
atribuídas as responsabilidades com o ensino, eles deveriam ser professores, 
além de serem intérpretes. E se estiverem assumindo a função de professo-
res, por que estariam sendo contratados como intérpretes? Considerando 
tais questões, poder-se-ia determinar que o intérprete assumirá somente a 
função de intérprete, que em si já se basta, e caso seja requerido um professor 
que domine língua de sinais, que este seja contratado como tal.
Conforme apresentado em <www.deafmall.net/deaflinx/.edcoe.html>. 
(2002), nos Estados Unidos já houve tal discussão e foi determinado ser an-
tiético exigir que o intérprete assuma funções que não sejam específicas da 
sua atuação enquanto intérpretes, tais como:
 � tutorar os alunos (em qualquer circunstância);
 � apresentar informações a respeito do desenvolvimento dos alunos;
 � acompanhar os alunos;
 � disciplinar os alunos;
 � realizar atividades gerais extraclasse.
Em <www.deafmall.net/deaflinx/useterp2.html>. (2002), apresentam-se 
alguns elementos sobre o Intérprete de Língua de Sinais em sala de aula que 
devem ser considerados:
 � Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade 
absoluta.
 � Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se 
neutros e garantirem o direito dos alunos de manter as informações 
confidenciais.
 � Os intérpretes têm o direito de serem auxiliados pelo professor através 
da revisão e preparação das aulas que garantam a qualidade da sua 
atuação durante as aulas.
 � As aulas devem prever intervalos que garantam ao intérprete descan-
sar, pois isso garantirá uma melhor performance e evitará problemas 
de saúde para o intérprete.
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
27
 � Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos ele-
mentos que garantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam 
das aulas visualmente e precisam de tempo para olhar para o intér-
prete, olhar para as anotações no quadro, olhar para os materiais que 
o professor estiver utilizando em aula. Também, deve ser resolvido 
como serão feitas as anotações referentes ao conteúdo, uma vez que 
o aluno surdo manterá sua atenção na aula e não disporá de tempo 
para realizá-las. Outro aspecto importante é a garantia da participa-
ção do aluno surdo no desenvolvimento da aula através de perguntas 
e respostas que exigem tempo dos colegas e professores para que a 
interação se dê. A questão da iluminação também deve sempre ser 
considerada, uma vez que sessões de vídeo e o uso de retroprojetor 
podem ser recursos utilizados em sala de aula.
Ainda se podem levantar outros problemas que surgem em relação aos in-
térpretes em sala de aula. Por exemplo, o fato dos intérpretes interagirem com 
os professores pode levara um problema ético, pois é natural travar comentá-
rios a respeito dos alunos durante os intervalos. O código de ética prevê que o 
intérprete seja discreto e mantenha sigilo, não faça comentários, não compar-
tilhe informações que foram travadas durante sua atuação. Assim, o código 
de ética dessa especialidade deveria também prever que ao intérprete fosse 
permitido apenas fazer comentários específicos relacionados à linguagem da 
criança, à interpretação em si e ao processo de interpretação, quando estes 
forem pertinentes para o processo de ensino-aprendizagem.
Outro aspecto a ser considerado na atuação do intérprete em sala de aula 
é o nível educacional. O Intérprete de Língua de Sinais poderá estar atuan-
do na educação infantil, na educação fundamental, no ensino médio, no nível 
universitário e no nível de pós-graduação. Obviamente que em cada nível de-
ve-se considerar diferentes fatores. Nos níveis mais iniciais, o intérprete estará 
diante de crianças. Há uma série de implicações geradas a partir disso. Crianças 
têm dificuldades em compreender a função do intérprete puramente como 
uma pessoa mediadora da relação entre o professor e o aluno. A criança surda 
tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No caso, o intér-
prete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve ter 
afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado, o adolescente e o adulto 
lidam melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intér-
prete passa a necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais 
28
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
aprofundados para poder realizar a interpretação compatíveis com o grau de 
exigência dos níveis cada vez mais adiantados da escolarização.
De modo geral, aos Intérpretes de Língua de Sinais da área da educação é 
recomendado redirecionar os questionamentos dos alunos ao professor, pois 
dessa forma o intérprete caracteriza o seu papel na intermediação, mesmo 
quando esse papel é alargado. Nesse sentido, o professor também precisa 
passar pelo processo de aprendizagem de ter no grupo um contexto diferen-
ciado com a presença de alunos surdos e de Intérpretes de Língua de Sinais. 
A adequação da estrutura física da sala de aula, a disposição das pessoas em 
sala de aula, a adequação da forma de exposição por parte do professor são 
exemplos de aspectos a serem reconsiderados em sala de aula.
Cabe apresentar uma outra questão, há vários professores que também 
são Intérpretes de Língua de Sinais. O próprio MEC está procurando formar 
professores enquanto intérpretes. Isso acontece, pois alguns professores 
acabam assumindo a função de intérprete por terem um bom domínio da 
língua de sinais. Nesse caso, esse profissional tem duas profissões: a de pro-
fessor e a de Intérprete de Língua de Sinais. A proposta do MEC em formar in-
térpretes selecionando professores da rede regular de ensino objetiva abrir 
esse campo de atuação dentro das escolas. Assim, o “professor-intérprete” 
deve ser o profissional cuja carreira é a do magistério e cuja atuação na rede 
de ensino pode efetivar-se com dupla função:
1. Em um turno, exercer a função de docente, regente de uma turma seja 
em classe comum, em classe especial, em sala de recursos, ou em es-
cola especial (nesse caso, não atua como intérprete).
2. Em outro turno, exercer a função de intérprete em contexto de sala de 
aula, onde há outro professor regente.
Dicas de estudo
Despertar do Silêncio, de Shirley Villalva, Editora Arara Azul.
Esse livro retrata a trajetória de vida de uma surda parcial que procura en-
tender o mundo à sua volta, significá-lo por meio de uma língua, mas a questão 
que se coloca à autora é que língua empregar em tal significação, uma vez que, 
durante muito tempo, a Libras nada comunicava aos que estavam ao seu redor, 
nem a ela própria. O relato da autora permite a reflexão sobre como a tradução 
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
29
e interpretação de uma língua dependem, em certa medida, da maneira como o 
mundo é visto, apreendido, recortado.
A Intérprete (2005), dirigido por Sydney Pollack. 
O filme apresenta o drama de uma intérprete das Nações Unidas, Silvia 
Broome, que ouve, por acaso, uma ameaça de morte a um chefe de estado afri-
cano, planejada para acontecer na Assembleia Geral das Nações Unidas. A con-
versa é ouvida num raro dialeto que poucas pessoas, além de Silvia, nascida na 
África, podem entender. A abordagem do filme permite refletir sobre os limites 
da atuação do intérprete, as implicações éticas, bem como apresenta um pouco 
da rotina de trabalho desse profissional.
Atividades
1. Você viu ao longo do texto que existe no Brasil um código de ética que estabe-
lece os princípios de conduta para a atividade. E quanto ao que o código não 
prevê diretamente? Afinal, é impossível prever todas as situações inusitadas 
pelas quais um intérprete pode passar. Como agir em relação a isso? Abster-se 
quando não há uma conduta clara e específica recomendada?
30
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
2. Discorra sobre os motivos pelos quais apenas o domínio da Libras e da lín-
gua portuguesa não garante que alguém possa atuar como intérprete e/ou 
tradutor dessas línguas.
3. Fundamentando-se nas discussões estabelecidas ao longo da aula a respei-
to da atuação do tradutor e do intérprete, é possível dizer que interpretar e 
traduzir são atividades de natureza diversa, embora relacionadas entre si? 
Justifique sua resposta.
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
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Referências
BRASIL. Projeto de Lei 4.673-C de 2004. Regulamenta a profissão de Tradutor 
e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Disponível em: <wwwlegis.
senado.gov.br/mate-pdf/72153.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2010.
MAGALHÃES, Ewandro Junior. Sua Majestade, o Intérprete: o fascinante mundo 
da tradução simultânea. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
MASUTTI, Mara Lúcia; SANTOS, Silvana Aguiar. Intérpretes de Língua de Sinais: 
uma política em construção. In: QUADROS, Ronice Müller de (Org.). Estudos 
Surdos III. Petrópolis: Arara Azul, 2008.
PAGURA, Reynaldo. A interpretação de conferências: interfaces com a tradução es-
crita e implicações para a formação de intérpretes e tradutores. DELTA [on-line], 
2003, v. 19, n. spe, p. 209-236. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-44502003000300013>. Acesso em: 14 jul. 2010.
QUADROS, Ronice Müller de. O Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de 
Sinais e Língua Portuguesa. 2. ed. Secretaria de Educação Especial; Brasília: 
MEC; SEESP, 2007.
QUADROS, Ronice Müller de; SOUZA, Saulo Xavier de. Aspectos da tradução/en-
cenação na Língua de Sinais Brasileira para um ambiente virtual de ensino: prá-
ticas tradutórias do curso de Letras Libras. In: QUADROS, Ronice Müller de (Org.). 
Estudos Surdos III. Petrópolis: Arara Azul, 2008.
RÓNAI, P. Escola de Tradutores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1987.
SILVA, Lídia da; RODRIGUES, Cristiane Seimetz. Marcas aspectuais na interpreta-
ção simultânea do português para a Língua de Sinais Brasileira (Libras). Revista 
Eletras [on-line], Curitiba, v. 20, jul. 2010. Disponível em: <www.ctp.br/eletras/
textos/Artigo_livre_20.2_Marcos_aspectuais_na_interpretação_simultanea_
do_portugues_SILVA_RODRIGUES.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2010.
Gabarito
1. Na sua condição de conjunto, o código de ética tenta alcançar, por meio 
de princípios gerais, situações mais específicas do cotidiano do TILS. Entre-
tanto, por se tratarem de princípios, os preceitos estabelecidos no código 
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Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
de ética funcionam como um norte a seguir mesmo quando algumas situ-
ações não são contempladas diretamente por ele. Nessa hora, vale o bom 
senso de cada um, e ter em mente que, na condição de uma profissão com 
suas responsabilidades, a não observância de certas condutas pode resul-tar em prejuízos não apenas para o cliente, mas também para si.
2. Apenas o domínio das línguas envolvidas no ato tradutológico não pos-
sibilita a alguém ser um TILS, pois há muito mais exigências que preci-
sam ser satisfeitas e que compõem o perfil do profissional. Nesse sentido, 
para o indivíduo tornar-se um tradutor e intérprete ele precisa apresen-
tar características tais como responsabilidade de manter-se fiel e neutro 
em relação ao objeto de interpretação, o conhecimento cultural sufi-
ciente da língua-alvo e da língua-fonte para fazer as devidas adaptações 
linguísticas de cunho idiomático e cultural, investir em formação, estar 
aberto a aprendizados, manter o convívio com surdos, procurar feedback 
do trabalho realizado, empenhar-se em desenvolver suas próprias estra-
tégias de tradução, ter boa audição, pensamento rápido para julgar as 
escolhas lexicais, sintáticas, semânticas e pragmáticas mais adequadas à 
mensagem pretendida por aquele que a produziu etc.
3. Resposta mínima deve contemplar o reconhecimento de que são de fato 
duas tarefas diferentes, com exigências e características de atuação di-
versas, mas que se entrecruzam na medida em que consistem em verter 
um conteúdo de uma língua-fonte para uma língua-alvo, sendo que as 
habilidades exigidas na tradução podem estar presentes na interpreta-
ção e vice-versa.
Panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras
33
35
Neste capítulo a intenção é adentrar no mundo da tradução, definir o 
termo “traduzir” enquanto conceito fundamental que atravessa o ato in-
terpretativo. A proposta é de aprofundamento no que seja a atividade de 
traduzir, os meios de executá-la, daí a apresentação de tipos de tradução, 
as implicações e limites de tal tarefa, as quais têm a ver com a questão da 
fidelidade. Esta, muitas vezes, buscada através da tradução cultural. Será 
discutido, nesse sentido, que, embora toda proposta de tradução lide com 
a cultura em que o texto do original foi produzido, existe uma vertente 
teórica a defender uma tradução que não apenas considere a cultura, mas 
que traduza de forma cultural, lançando uma ponte entre culturas diferen-
tes, mais do que meramente entre línguas diferentes.
O que significa traduzir
A palavra traduzir apresenta diferentes conceituações. Segundo o di-
cionário Aurélio (1986, p. 2.745), etimologicamente, significa “conduzir 
além”, “transferir”. Todavia, hoje em dia, também abrange sentidos como 
“transpor, trasladar de uma língua para outra”, “revelar, explicar, manifes-
tar, explanar”, “representar, simbolizar”. Como se pode depreender das 
acepções apresentadas, traduzir designa, especificamente, uma operação 
de transferência linguística e, de modo mais geral, qualquer operação de 
transferência entre códigos ou, inclusive, dentro de códigos. Isso implica 
que a atividade de tradução pode assumir naturezas diversas de acordo 
com o que se está transferindo. Deriva daí a possibilidade de diferentes 
tipos de tradução, como se verá posteriormente. Antes, porém, além das 
acepções dadas pelo dicionário, úteis, é verdade, é preciso considerar o 
que estudiosos e teóricos da tradução têm a discutir sobre as definições 
comumente atribuídas à palavra traduzir.
Paulo Rónai, em A Tradução Vivida, avalia que:
Ao definirem “tradução”, os dicionários escamoteiam prudentemente esse aspecto e 
limitam-se a dizer que “traduzir é passar para outra língua”. A comparação mais óbvia 
é fornecida pela etimologia: em latim, traducere é levar alguém pela mão para o outro 
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O fazer tradutório
lado, para outro lugar. O sujeito desse verbo é o tradutor, o objeto direto, o autor do original a 
quem o tradutor introduz num ambiente novo [...] Mas a imagem pode ser entendida também 
de outra maneira, considerando-se que é ao leitor que o tradutor pega pela mão para levá-lo 
para outro meio linguístico que não o seu. (RÓNAI, 1976, p. 3-4)
Do excerto acima, é possível entender que a tradução pode adotar pelo menos 
dois movimentos, duas direções. De um lado, o original a ser traduzido é levado, 
conduzido até o leitor em sua língua de chegada, adaptando-se, para tanto, os 
“costumes”, características do original ao novo meio linguístico. Esse processo, 
não raro, leva a esquecer que a tradução se trata de um original vindo de uma 
realidade distante, fundamentalmente diferente. Nesse caso, tem-se o que Rónai 
(1976) chama de “tradução naturalizadora”. De outro lado, há o que o autor de-
nomina de “tradução identificadora”. Movimento no qual o leitor (público-alvo 
da tradução) é conduzido para o país da obra que lê, entrando em contato com 
as peculiaridades dela, o que acentua sua origem distante, estrangeira.
A visão adotada por Rónai (1976) é reforçada por Bassnett (2003, p. 9), para 
quem a tradução não é somente a transferência de textos de uma língua para 
outra, mas um processo de negociação entre textos e entre culturas, um pro-
cesso em que ocorrem todos os tipos de transações mediadas pela figura do 
tradutor. Com isso, percebe-se que há muito mais por trás das acepções dadas à 
palavra traduzir, posto que não se trata apenas de “trasladar”, como se esse pro-
cesso fosse automático, ou facilmente exequível. Há muitas implicações no ato 
de traduzir, bem como há diferentes maneiras de fazê-lo e também variedades 
de tradução. Fala-se em variedades de tradução, já que ela se verifica não apenas 
entre línguas – embora essa seja a mais lembrada e aceita em relação ao que, 
geralmente, no senso comum, se entende ser tradução –, mas também em dife-
rentes sistemas semióticos. Por sistemas semióticos, entende-se a articulação de 
uma dada mensagem por meio de signos verbais e não verbais, com os diversos 
sistemas de sinais, de linguagem e suas relações.
Dessa forma, pode-se dizer que também se trata de tradução, por exemplo, 
uma obra literária adaptada ao formato cinematográfico, em que há uma “trans-
ferência” entre sistemas semióticos diferentes, bem como o mesmo se aplica a 
filmes/séries que ganham o formato de histórias em quadrinhos ou obras lite-
rárias, ou ainda, mais modernamente, jogos eletrônicos que são transformados 
em filmes ou desenhos animados – como exemplo deste último tem-se o Super 
Mario Bros.: Peach-Hime Kyushutsu Dai Sakusen!, o primeiro longa-metragem ba-
seado em um jogo de videogame. A seguir, será visto que esse tipo de tradução 
foi uma das contempladas por Roman Jakobson.
O fazer tradutório
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Tipos de tradução segundo Roman Jakobson
Nesta seção, o intuito é tratar dos diferentes tipos de tradução a partir da di-
visão proposta por Roman Jakobson (1896-1982), para quem existem três tipos 
de tradução:
 � A tradução intralingual, ou reformulação, consiste na interpretação dos 
signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.
 � A tradução interlingual, ou tradução propriamente dita, consiste na inter-
pretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua.
 � A tradução intersemiótica, ou transmutação, consiste na interpretação dos 
signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais.
A tradução intralingual, atente para a prefixação da palavra – intra, significa 
dentro, nesse caso, dentro da língua – envolve uma única língua. Desse modo, 
não há uma língua-fonte diferente de uma língua-alvo para a qual o texto deverá 
ser vertido. Grosso modo, esse tipo de tradução pode ser entendido como uma 
paráfrase, uma explicação em palavras diferentes – consideradas sinônimas –, 
sobre algo dito ou escrito. Um exemplo prático disso tem relação com uma ati-
tude muito difundida no cotidiano das pessoas. Ao se depararem com situações 
em que não entendem o que lhes foi dito, muitas pessoas não se furtam à brin-
cadeira, sempre com fundo de verdade, de disparar um “traduza, por favor”.
Nas palavras de Jakobson (1975, p. 65), “a tradução intralingual de uma pala-
vra utiliza outra palavra, mais ou menos sinônima, ou recorre a um circunlóquio. 
Entretanto, via de regra, quem diz sinonímia não diz equivalênciacompleta [...]”. 
Ao dizer que a sinonímia não leva à equivalência completa, o autor pretende 
chamar a atenção para o fato de que não existem, qualquer que seja a língua, 
sinônimos perfeitos, haja vista que cada palavra da língua detém associações 
e conotações únicas, são valoradas diferentemente pelos usuários do idioma. 
Nesse sentido, por exemplo, “pássaro” não corresponde completamente a “ave”, a 
depender do contexto elas não são intercambiáveis. Da mesma forma, problema 
parecido se verifica no par “objetivo X intenção”, em que a palavra “intenção” se 
apresenta na língua de forma mais carregada de intencionalidade, não substi-
tuindo bem a palavra “objetivo” em muitos contextos.
A tradução intralingual também ocorre quando um texto do passado, como 
a “Carta de Pero Vaz de Caminha”, é lido por um leitor dos dias atuais, pois há a 
necessidade de buscar equivalências, dentro da mesma língua, para o que foi 
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O fazer tradutório
dito numa outra época. Ou ainda, quando se trata de um texto contemporâneo 
ao leitor, mas complexo, em que as palavras são usadas fora de seu significado 
usual, tal qual o poema de João Cabral de Mello Neto “Educação pela Pedra”. 
Sobre essa segunda possibilidade, o leitor se vê diante de uma tarefa que pode 
ser descrita da seguinte maneira:
[...] ao vazarmos em palavras um conteúdo que em nosso pensamento existia apenas em 
estado de nebulosa, fenômeno constante em todos os momentos conscientes da vida, estamos 
também traduzindo, mas praticamos a tradução intralingual, operação esta que tem as próprias 
dificuldades e cujo resultado muitas vezes nos deixa insatisfeitos. (RÓNAI, 1976, p. 1)
A verdade é que existem muitos exemplos de tradução intralingual, os quais 
evidenciam o seu uso cotidiano nas mais diversas situações, seja na conversa 
entre um adolescente e um idoso, entre pessoas de um mesmo país, mas de 
regiões ou classes sociais diferentes. Muito disso se deve ao fato de que não há 
como usar as mesmas palavras ou regras gramaticais para expressar a mesma 
coisa. Cada pessoa, ao se expressar, tem à disposição pelo menos duas fontes de 
recursos linguísticos, a língua usada em seu país e compartilhada por todos e a 
sua “própria língua”, que lhe é única, cujas características mesclam as experiên-
cias culturais, sociais, psíquicas e linguísticas vividas pelo indivíduo ao longo de 
sua vida. Experiências estas que influenciam também a compreensão e interpre-
tação atribuída ao mundo, ao que ouve, ao que lê e vê, determinando, assim, o 
resultado daquela tentativa de “explicar em outras palavras” sobre a qual se falou 
no início desta explanação. Isso significa, então, que compreensão e interpretação 
são, portanto, palavras-chave no fenômeno da tradução intralingual.
Quando há a transposição da mensagem de uma língua para outra, carac-
teriza-se a tradução interlingual – observe o prefixo inter, que remete à noção 
de “relação”, “entre” –, tipo mais facilmente reconhecido no senso comum como 
tradução. Jakobson acredita que:
[...] no nível da tradução interlingual, não há comumente equivalência completa entre as 
unidades de código, ao passo que as mensagens podem servir como interpretações adequadas 
das unidades de código ou mensagens estrangeiras [...]. Mais frequentemente, entretanto, ao 
traduzir de uma língua para outra, substituem-se mensagens em uma das línguas, não por 
unidades de códigos separadas, mas por mensagens inteiras de outra língua. Tal tradução é 
uma forma de discurso indireto: o tradutor recodifica e transmite uma mensagem recebida 
de outra fonte. Assim, a tradução envolve duas mensagens equivalentes em dois códigos 
diferentes. (JAKOBSON, 1975, p. 65) 
Como se vê, a tradução interlingual pode ser considerada um fato de bilinguis-
mo, pois envolve o domínio de duas línguas diferentes. O fenômeno compreendi-
do nesse tipo de tradução muitas vezes não tem reconhecida a importância que 
merece. Considerando que todo e qualquer texto, independentemente da língua, 
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pode sofrer a tradução interlingual, tem-se à disposição um recurso riquíssimo 
para se ter acesso ao conhecimento produzido por outras culturas, conhecimen-
to essencial para o desenvolvimento das sociedades, tanto na esfera científica 
quanto na econômica, bem como na religiosa ou médica, entre tantas outras. O 
mundo ocidental, da forma como é conhecido, existe graças aos trabalhos de tra-
dução do grego para o latim e daí para outras línguas. Sem sombra de dúvida, a 
tradução lança uma ponte entre culturas diferentes e permite que a cultura-leitora 
da cultura-fonte se aproprie de certas características, torne “seu” o que é do outro, 
mas não numa espécie de cópia, e sim numa troca, negociação, reformulação.
Não apenas no passado a tradução entre línguas foi de suma importância, 
ainda hoje o é, e talvez mais, tendo em vista o mundo globalizado em que vive-
mos, com o diferencial de que o papel da tradução no desenvolvimento dessa 
“aldeia global” vem, cada vez mais, sendo sentido como crucial. Isso graças, em 
parte, à expansão da internet, pois agora existem on-line milhões de documen-
tos em quase todas as línguas e uma boa parte dessa enorme massa textual é, de 
uma ou outra forma, tradução. No Brasil, por exemplo, calcula-se que a tradução 
interlingual representa cerca de 60 a 80% dos textos publicados e que 75% do 
saber científico e tecnológico provém das traduções, alimentando vários setores 
da vida nacional. Sem a tradução, muitos setores simplesmente não funciona-
riam, como, por exemplo, o de softwares, medicamentos, automobilístico etc.
A verdade, no entanto, é que, nesse tipo de tradução, a transposição literária 
sempre concentrou a atenção dos escritores e críticos. No Ocidente, comple-
mentando o dito acima, os primeiros grandes pensadores da tradução foram 
romanos, e não por acaso, já que a civilização romana é, em grande parte, o 
produto de um projeto consciente de tradução e adaptação da civilização 
grega antiga. Assim, encontram-se em Cícero (106-43 a.C.) e Horácio (65-8 
a.C.) os primeiros escritores a estabelecer a distinção entre “tradução literal” e 
“tradução do sentido”, distinção que salta naturalmente aos olhos de qualquer 
observador do fenômeno tradutório. Para ambos, preocupados em criar uma 
cultura romana, não se deve traduzir palavra por palavra, mas o sentido; no 
caso o sentido textualizado pelos gregos deveria, para eles, receber uma co-
loração romana. Trata-se do “apropriar-se, tornar seu o que é do outro” citado 
anteriormente. Cícero e Horácio, conforme relata Bassnett (2003), entendem a 
tradução dentro do contexto alargado das duas funções principais do poeta: o 
dever humano universal de adquirir e disseminar a sabedoria, e a arte especial 
de fazer e dar forma ao poema. A posição deles sobre tradução teve grande 
influência em gerações posteriores de tradutores.
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O fazer tradutório
Outra posição em relação ao ato de traduzir que marcou a história da tradu-
ção e o fazer tradutório foi a empreitada de tradução da Bíblia. Se a preocupação 
de Cícero e Horácio era o texto de chegada para o enriquecimento da língua e 
da literatura latina, com a tradução da Bíblia, a preocupação do tradutor se volta 
para o texto de partida, posto que o desejado era “espalhar a palavra de Deus”, 
evangelizar, e, para tanto, estar o mais próximo possível da palavra divina. Por 
isso, as religiões, especialmente as religiões de tipo universalista, sempre traba-
lharam com a tradução, elemento-chave para sua expansão entre os diferentes 
povos. Entre elas, talvez a que mais se dedicou às questões de tradução foi o 
cristianismo. De fato, a tradução da Bíblia constitui um dos mais ricos capítulos 
da história da tradução e também deu sua contribuição à discussão da oposição 
entre tradução literal e tradução livre. Como exemplo disso, pode-se mencionar 
São Jerônimo, que, ao traduzir o Novo Testamento, diz ter optado por traduzir 
o sentido, e não palavra por palavra. A propósito, essa questãode traduzir de 
forma literal ou livre atravessa a história da tradução, sendo tratada, por vezes, 
sob nomenclaturas diferentes, com avanços teóricos e práticos, mas que guar-
dam, essencialmente, relação com esses primeiros conceitos formulados. Por tal 
razão, não se poderá deixar de discutir neste capítulo sobre o tema, bem como 
sobre a fidelidade da tradução e a tradução cultural, as quais estão interligadas 
àqueles conceitos de verter um texto livremente ou de forma literal. Contudo, 
antes, ainda há que se discutir a tradução intersemiótica.
Ela pode ser definida, segundo Jakobson, como a transmutação de uma obra 
de um sistema de signos a outro. A forma mais corriqueira se dá entre um siste-
ma verbal e um não verbal, como acontece com a passagem de um romance ou 
conto ao cinema, vídeo e história em quadrinhos; de poemas para ilustrações 
de livros; com a passagem de textos em geral para anúncios publicitários. No 
entanto, ela pode acontecer também entre dois sistemas não verbais, como por 
exemplo, entre música e dança e música e pintura. Sobre esse tipo de tradução, 
Rónai a estabelece como:
[...] aquela a que nos entregamos ao procurarmos interpretar o significado de uma expressão 
fisionômica, um gesto, um ato simbólico mesmo desacompanhado de palavras. É em virtude 
dessa tradução que uma pessoa se ofende quando outra não lhe aperta a mão estendida ou 
se sente à vontade quando lhe indicam uma cadeira ou lhe oferecem um cafezinho. (RÓNAI, 
1976, p. 2)
A semiótica, para Jakobson, está no centro da discussão sobre a tradução, 
pois esta é uma forma de interpretação de signos. A procura por equivalentes 
também acontece na tradução intersemiótica, assim como na tradução intra 
e interlingual, ou seja, trata-se da busca, em um determinado sistema semió-
tico, de elementos cuja função se assemelhe à de elementos de outro sistema 
O fazer tradutório
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de signos. Entretanto, esse procedimento ainda leva em conta a existência de 
um sentido no texto, que deve ser transportado/traduzido para um outro texto/
sistema, isto é, se for considerado que o sentido esteja subjacente ao texto, pro-
venha de sua estrutura. Na tradução intersemiótica, mas também nos demais 
tipos de tradução discutidos anteriormente, não é possível traduzir tudo. Por 
isso, desde o início, numa tradução intersemiótica, é preciso traçar uma estra-
tégia de tradução para determinar quais são os componentes mais característi-
cos do texto a ser traduzido entre dois códigos diferentes, pois quando um dos 
textos de uma tradução não é verbal, a seleção entre as partes que se traduzem 
e as que se sacrificam é muito mais evidente. Nesse sentido, toda tradução – os 
três tipos de que se falou – irá sempre oferecer algo além ou aquém do texto 
fonte, sendo que o sucesso da tradução, alcançar a mensagem pretendida, não 
depende apenas da criatividade ou da habilidade do tradutor, mas, antes, das 
decisões tomadas por ele, seja sacrificando algo, ou encontrando a todo custo 
um equivalente. Nesse ponto, há o embate entre tradução literal e tradução livre, 
que leva à questão da fidelidade.
A polêmica da tradução literal 
versus tradução livre
O problema da tradução livre face à tradução literal se coloca de forma mais 
contundente e visível na tradução interlingual. Segundo Rónai, em Escola de Tra-
dutores, é um equívoco pensar que qualquer tradução que não seja literal seja 
livre e que apenas a primeira se constituiria como uma tradução fiel. Na verdade, 
como se verá adiante, o conceito de fidelidade em tradução não é algo fácil de 
alcançar e tampouco de delimitar. Mesmo assim, é comum encontrar menção de 
autores a dizer que não existe apenas uma possibilidade de tradução para um 
texto e, consequentemente, que não é possível ser completamente “fiel” porque 
na tradução nunca se diz a mesma coisa, mas quase a mesma.
Na seção anterior, ao abordar a tradução interlingual se falou sobre a tradu-
ção literal, em que o tradutor prioriza o texto de partida, procurando ficar o mais 
próximo possível do original, e também da tradução livre, em que a preocupação 
recai sobre o texto de chegada, de forma que seja acessível ao seu público-alvo, 
priorizando-se a tradução do sentido. Essa discussão pode ser vista e tomada 
também a partir dos conceitos de correspondência formal e equivalência dinâ-
mica empregados por Gabel e Wheeler quando da discussão sobre a tradução 
literária da Bíblia – convém notar que a prática de tradução da Bíblia, mesmo nos 
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O fazer tradutório
dias atuais, ainda tem muito a contribuir com a área dos Estudos da Tradução. De 
acordo com os autores, na correspondência formal a ênfase recai na forma do 
original e na equivalência dinâmica, sobre a capacidade do leitor de entender a 
realidade. Nenhuma dessas duas práticas é boa ou ruim em si mesma, pois, ao se 
dar início ao processo de tradução, os tradutores devem decidir se favorecem as 
exigências da forma ou as necessidades do leitor. Mas essa decisão não é nada 
fácil, como se pode depreender do excerto abaixo:
Podem os tradutores ir longe demais numa ou noutra direção? Sem dúvida. Na direção da 
correspondência formal, eles podem chegar a produzir um texto mais hebraico ou grego do 
que inglês. Na direção da equivalência dinâmica, podem gerar um texto mais simples e fácil 
para os leitores modernos do que o original foi para seus primeiros leitores. Neste último caso, 
a preocupação dos tradutores com as limitadas capacidades de seus leitores pode levá-los 
a interpretar em vez de traduzir o texto. Há uma tênue linha a separar o que é deixar claro o 
sentido do original e o que é interpretá-lo – e os tradutores devem ter cuidado para não cruzá- 
-la. (GABEL; WHEELER, 2003, p. 220)
Os autores tratam da tradução dos originais da Bíblia, no hebraico e no grego, 
para o inglês e chamam a atenção para o fato de que uma tradução literal/cor-
respondência formal pode resultar num texto distante demais da língua-alvo por 
vezes ao ponto da incompreensão, e que o excesso na outra direção, tradução 
livre/equivalência dinâmica, pode levar à produção de um texto muito diverso, 
sem as peculiaridades do original, em que, por querer ajudar o seu leitor, o tradu-
tor acaba empobrecendo o texto do original. Ao dizer que há de se ter cuidado 
para não interpretar o texto, os autores se referem a essa ânsia por “tornar tragá-
vel, palatável” certos originais, fazendo com que eles percam – no caso da lite-
ratura – o que os torna únicos. A intenção dos autores, de forma alguma, é fazer 
crer que não haja interpretação no ato da tradução, mas interpretação entendida 
como leitura, como compreensão do original. Sob tal perspectiva, é útil refletir 
sobre o que Gabel e Wheeler defendem para a tradução de textos literários:
Uma das coisas mais importantes de uma passagem é saber, se ela for poética, que ela o 
é: estamos preparados para compreender uma passagem que consideramos poética de 
um modo diferente daquele pelo qual compreendemos uma passagem que consideramos 
prosa. Por isso, é importante que as traduções de poesia ao menos pareçam poesia, mesmo 
que muitos efeitos poéticos do original não possam ser representados na tradução. (GABEL; 
WHEELER, 2003 p. 217, grifo nosso)
Após essas reflexões, alguns de vocês podem estar construindo o entendi-
mento de que o ideal, na tradução, é ficar no meio termo entre tradução lite-
ral/correspondência formal e tradução livre/equivalência dinâmica, posição por 
meio da qual se alcançaria a tão perseguida “fidelidade”. Será? Para saber, impor-
ta discutir o que deve ser entendido por “ser fiel ao original”.
O fazer tradutório
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A questão da fidelidade da tradução
A “fidelidade” é comumente usada como categoria avaliativa da qualidade 
dos trabalhos de tradução e interpretação. Contudo, poucos pensam sobre o 
que significa a fidelidade, qual sua acepção. Ser fiel é ser igual? É procurar a exati-
dão? Existe algo que possa ser chamado de “padrão de fidelidade” a ser alcança-
do? São perguntas como essas

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