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Cardiopatias congênitas Cardiopatias congênitas é um grupo de anormalidades na estrutura do aparelho cardiocirculatório, secundária a uma alteração no desenvolvimento embrionário causando insuficiência circulatória e respiratória, o que pode comprometer a qualidade de vida do paciente. O coração do feto se forma nas primeiras 8 semanas de gestação. É a principal causa de morte (excetuando-se a prematuridade) no primeiro ano de vida. A mais comum é o defeito septal ventricular (DSV). Cerca de 90% dos casos têm etiologia desconhecida. São divididos em 2 subtipos: cianóticas e acianóticas É possível que pacientes com cardiopatias acianóticas se apresentem cianóticos dependendo da cardiopatia e dos sinais e sintomas, da mesma forma o inverso. Acianóticas Este tipo de cardiopatia provoca alterações que nem sempre provocam repercussões tão graves no funcionamento cardíaco, e a quantidade e intensidade dos sintomas depende das gravidade do defeito cardíaco, que vão desde ausência de sintomas, sintomas somente durante esforços, até a insuficiência cardíaca. Cianóticas É a mais grave. O defeito no coração pode afetar de forma significativa o fluxo sanguíneo e a capacidade de oxigenação do sangue, e, a depender da sua gravidade, pode provocar sintomas como palidez, coloração azul da pele, falta de ar, desmaios e, até, convulsões e morte. Tipos de cardiopatias acianóticas - Comunicação interatrial (CIA) - Comunicação interventricular (CIV) - Persistência do canal arterial (PCA) - Coarctação da aorta (CoAo) Muitas vezes a criança nasce com mais de uma cardiopatia congênita. Nas cardiopatias cianóticas, o fluxo que vai para a grande circulação, há uma grande parte desse fluxo que não passou pela pequena circulação (hematose), gerando uma mistura de sangue oxigenado e não oxigenado para a circulação do corpo. Devido a isso, a saturação do paciente é baixa. Tipos de cardiopatias cianóticas - Tetralogia de Fallot - Anomalia de Ebstein - Atresia pulmonar - Transposição de grandes artérias - Defeitos do septo atrioventricular (DSAV) Coração saudável Acianóticas CIA - Comunicação Interatrial No coração saudável: Embora batam juntos, os lados direito e esquerdo do coração não se comunicam. O átrio direito só se comunica com o ventrículo direito e o átrio esquerdo, só com o ventrículo esquerdo. Na CIA: Os dois átrios se comunicam. Com isso, o lado direito do coração (responsável por receber o sangue do corpo e mandá-lo para ser oxigenado no pulmão) acaba recebendo também o sangue já oxigenado que vem do lado esquerdo. Como consequência, as cavidades do lado direito vão aumentando. Não possui repercussão em termos de cianose, pois o coração leva sangue oxigenado para a grande circulação. CIV - Comunicação Interventricular Caracteriza-se por uma abertura ou orifício na parede (septo) que divide os ventrículos (câmaras que bombeiam o sangue) direito e esquerdo. Assim, permite a passagem do sangue de uma câmara a outra, quando este fluxo não deveria existir. Este sangue, já oxigenado, vai novamente para os pulmões e volta para o lado esquerdo. Assim, vai sobrecarregando o trabalho do coração a cada batimento. No coração, isto ocasiona um aumento de tamanho, especialmente do átrio e do ventrículo esquerdo. Nos pulmões, esta sobrecarga de sangue aumenta a pressão, o que pode lesionar permanentemente as paredes das artérias pulmonares com o passar do tempo. O pulmão faz duas vezes o mesmo trabalho. O sangue passa duas vezes pela pequena circulação. Ocorre a cardiomegalia. O fluxo de sangue geralmente ocorre da esquerda para a direita, tornando-se acianótica pois o sangue está totalmente ou quase totalmente oxigenado. Sintomas Geralmente assintomática, mas dependendo do tamanho do orifício esta pode apresentar: - Acianóticas - Dispnéia - Fadiga - ICC - Déficit pôndero-estatural; Tratamento CIV'S pequenas: Fecham-se sozinhas, não necessitando de intervenção cirúrgica, apenas acompanhamento. CIV's maiores: A correção cirúrgica é feita com o uso de um retalho (patch) de pericárdio (membrana que recobre o coração, usualmente de origem bovina), ou com materiais sintéticos, como Dacron ou PTFE. Esse retalho é suturado ao redor do orifício, fechando-o. Persistência do Canal Arterial Esse canal deve ser naturalmente fechado, porém nessa cardiopatia congênita isso não ocorre. Há mistura do sangue arterial com o venoso. Este canal existe naturalmente no feto para ligar o ventrículo direito do coração à aorta, para que o sangue siga em direção à placenta e receba oxigênio, mas deve se fechar logo após o nascimento. A sua persistência pode provocar dificuldades na oxigenação do sangue do recém-nascido. Ela é acianótica pois leva sangue oxigenado para o corpo. Manifestações clínicas - Assintomáticos ou mostra sinais de ICC; - Os pacientes com PCA apresentam risco de endocardite bacteriana e doença vascular pulmonar obstrutiva a partir do fluxo sanguíneo pulmonar excessivo crônico. Tratamento clínico Medicamentoso com uso de Indometacina - inibidor de prostaglandina. Utilizada como tratamento padrão para o fechamento da persistência do canal arterial (PCA), mas está associada à redução do fluxo sanguíneo para vários órgãos. Tratamento cirúrgico Divisão ou laqueadura cirúrgica do vaso persistente, através de uma toracotomia esquerda. Tratamento não cirúrgico Uso de molas (stend) para ocluir o PCA através de um cateterismo Em algumas cardiopatias, utiliza-se o prostin (prostaglandina) para fazer com que o canal arterial permaneça aberto. Se o paciente faz uso de prostin não devemos fazer altas doses de flushing, pois pode causar alterações na saturação (diminuída) e frequência cardíaca. Não tiramos o prostin para encaminhar o paciente para a cirurgia. Não é o caso da Persistência do Canal Arterial, pois o objetivo nesse caso é fechar esse canal, por isso utilizamos um inibidor de prostaglandinas. Coarctação da Aorta É semelhante a um esmagamento, ocorre a constrição do vaso, fazendo com que haja um menor fluxo de sangue do habitual. A coarctação simples geralmente é uma constrição distinta da área do istmo aórtico, às vezes associada à PCA, que se insere nela ou logo abaixo. A coarctação complexa: envolve hipoplasia tubular do arco aórtico, com ou sem estreitamento aórtico distinto e uma ou mais lesões cardíacas associadas. Em muitos casos, as crianças não possuem somente CO-A, é comum vir acompanhada de CIA/CIV. Manifestações clínicas A coarctação simples pode ser assintomática, porém alguns apresentarão ICC, frequentemente após o 1 mês de vida. A PA dos membros superiores será mais alta do que nos inferiores. A coarctação complexa apresenta ICC logo no período neonatal. Além das complicações descritas na coarctação simples, podem estar presentes a hipertensão arterial pulmonar. Paciente cardiopata deve SEMPRE ser aferida pressão arterial nos 4 membros, independente da cardiopatia. Na palpação, geralmente os membros superiores são mais "cheios" do que nos inferiores. Tratamento Iniciar o mais precocemente possível a infusão de Prostaglandina E¹ (ex: Alporstadil), pois atua na dilatação do canal, restaurando a perfusão sistêmica e melhorando as anormalidades metabólicas - deve ser mantido até o tratamento cirúrgico ser realizado. Suporte inotrópico ou com agentes adrenérgicos são necessários na grande maioria dos casos. Utiliza-se o Prostin, para manter o canal aberto até a cirurgia, podendo ser utilizado até 24-48 horas pós cirurgica. Cianóticas Transposição de grandes artérias A artéria pulmonar está no lugar da aorta e vice versa. É uma das lesões cardíacas congênitas mais comuns que se apresentam no período neonatal, e uma das causas mais frequentes de morte entre RNs com cardiopatia congênita não operada. Além disso, normalmente está associada a outras malformações cardíacas. Fisiologicamente as circulações sistêmicas e pulmonares estão dispostas em séries uma com a outra, mas na transposição completa estão em paralelo. Sintomas A grande maioria dos pacientes vão apresentarcianose acentuada, acompanhada de taquipnéia leve. Tratamento Nos pacientes diagnosticados ou com suspeita da TGA, infunde-se prostaglandina E¹ (Prostin) para abrir e manter o canal arterial prévio. Contudo, esta teria pode causar como efeito colateral períodos de apneia central e vasodilatação, exigindo a necessidade de suporte com ventilação mecânica, infusão de volume e às vezes agentes inotrópicos. (Isso em todas as cardiopatias que seja necessário o uso do prostin) O tratamento cirúrgico empregado depende dos demais efeitos cardíacos associados. Apnéia: diminuição da frequência cardíaca e saturação, duração maior de 20s. A criança fica inconsciente. Pausa respiratória: curta, não há diminuição de frequência cardíaca nem na saturação. Uso da cafeína na apneia: apneia pela prematuridade, utiliza-se cafeina pois auxilia a reduzir as incidências de apneia. Utiliza-se e vai diminuindo as doses até a criança não ter apneia. Defeito do Septo AtrioVentricular Comunicação inadequada entre o átrio e o ventrículo, dificultando a função cardíaca. Obrigatoriamente há uma Comunicação Interatrial (CIA) e uma Comunicação Interventricular (CIV). O paciente tende a ser mais sintomático na evolução natural da doença. É o defeito cardíaco mais comum em crianças com síndrome de DOWN. Tratamento Clínico - Acompanhamento clínico rigoroso - Medicamentos para controle dos sintomas. Cirúrgico - A cirurgia é obrigatória e consiste em reconstruir as valvas e fechar a CIA e a CIV. - Entre o 4º e 6º mês de vida Tetralogia de Fallot Impede o fluxo de sangue do coração para os pulmões, devido a uma combinação de 4 defeitos, caracterizados pelo estreitamento na válvula que permite a passagem de sangue para os pulmões, comunicação entre os ventrículos cardíacos, alteração no posicionamento da aorta e hipertrofia do ventrículo direito; A forma clássica inclui 4 defeitos: tetralogia de fallot 1) Defeito septo ventricular 2) Estenose pulmonar 3) Cavalgamento da aorta 4) Hipertrofia ventricular direita Manifestações clínicas - Cianose (tom de pele azulado), que pode ser leve ou grave; - Sopro cardíaco. Tratamento Cirúrgico: Antes dos 6 meses de vida, o defeito do septo ventricular é fechado, a passagem estreitada do ventrículo direito e a válvula pulmonar estreitada são alargadas e o ducto arterioso patente é fechado. Às vezes, um medicamento, como uma prostaglandina, para manter o duto arterioso aberto Anomalia de Ebstein É uma cardiopatia rara da válvula tricúspide, afetando apenas um em cada 10 mil bebês (meninos e meninas igualmente). Tem ampla gama de severidade, de leve a moderada a grave. Quando ocorre a Anomalia de Ebstein, a válvula tricúspide é malformada e fica posicionada em uma posição muito baixa, permitindo que o sangue escape para trás a partir do ventrículo para o átrio. É reconhecida pelo sopro sistólico, de tom grave e cianose que pode ser mínima ou intensa. À medida que a resistência vascular pulmonar do RN diminui, a cianose melhora. Porém, RNs com insuficiência valvar grave e hipoplasia pulmonar têm alta taxa de mortalidade. O tratamento geralmente consiste em medidas de apoio. Um shunt de Blalock Taussig pode ser necessário em RNs que permanecem intensamente cianóticos. Atresia Pulmonar É caracterizada por uma valva pulmonar completamente fechada ou tão rudimentar, que é como se ela não existisse e houvesse um músculo fechando a passagem de sangue do ventrículo direito para a artéria pulmonar. Ou seja, não vai sangue do lado direito do coração para os pulmões. Na atresia pulmonar, a valva pulmonar não se desenvolve de forma correta, o que a impede de abrir. Tratamento Cateterismo É de grande importância para avaliar o tamanho e distribuição das artérias pulmonares e das colaterais sistêmico-pulmonares. Cirurgia Geralmente é criado um canal mais resistente, chamado Blalock-Taussig. Ele consiste em um tubo de material cirúrgico que vai ligar a artéria subclávia (um grande vaso da aorta) até a artéria pulmonar. Sempre entender qual o basal de saturação da criança, se a criança já realizou cirurgia ou não. Geralmente a saturação da criança será baixa (aproximadamente 70% antes da cirurgia). A frequência cardíaca estará alterada também. Tipos de cirurgias cardíacas Cirurgia de Glenn Realização de uma conexão cavopulmonar superior, realizada entre os 4 aos 6 meses de idade. Antecede a cirurgia de Fontan. 90% dos pacientes que realizam essa cirurgia, realizam a cirurgia de Fontan na sequencia. A veia cava é ligada à artéria pulmonar. Tem como objetivo aumentar a saturação basal, sistêmica do paciente, ajudando a reduzir a sobrecarga do ventrículo direito, causando várias melhorias na fisiologia como a pressão sistêmica. Cirurgia de Fontan Implica no redirecionamento do fluxo sanguíneo da veia cava inferior diretamente para as artérias pulmonares. A veia cava é religada a artéria pulmonar. Cirurgia de Blalock-Taussig Também conhecido por shunt sistêmico-artéria pulmonar implica na inserção de um enxerto de tubo de Gore-Tex entre a artéria subclávia e uma artéria pulmonar. Cirurgia de Norwood A artéria pulmonar distal é suturada, a artéria pulmonar proximal e a aorta são anastomosadas, e o arco aórtico é reconstruído para possibilitar o fluxo sanguíneo sistêmico não obstruído . Também é realizada uma septostomia atrial para possibilitar a passagem facilitada da drenagem das veias pulmonares para o átrio direito, e um shunt sistêmico pulmonar é inserido para proporcionar o fluxo sanguíneo pulmonar. É uma cirurgia muito complexa e possui baixa taxa de sobrevivência, ou a criança falece durante a cirurgia ou logo após. Cuidados pre-operatórios Cuidados pós-operatórios
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