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PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL AULA 1 ABERTURA O significado de comportamento Olá! Comportamento é um dos assuntos mais tratados no âmbito da Psicologia. Mesmo assim, sua definição não é simples nem está totalmente fechada. Dentre as abordagens psicológicas, certamente a que mais se dedicou a trabalhar o significado dessa palavra foi o behaviorismo (ou comportamentalismo), que começou a se desenvolver a partir das contribuições de Watson (1879-1958). Nesta aula, você vai estudar o significado de comportamento a partir da ótica behaviorista, aprenderá a distinguir o comportamento controlado por regras do comportamento modelado implicitamente e a explicar a modelagem do comportamento a partir do seguimento de regras e da mudança de estímulos. Bons estudos. REFERENCIAL TEÓRICO O tema comportamento humano desperta o interesse de inúmeros estudiosos, tendo muitas publicações e teorias a respeito. Há registros de estudos acerca do tema há pelo menos 100 anos. Uma das abordagens psicológicas que mais se dedica ao estudo e à compreensão do significado de comportamento é o behaviorismo. No capítulo "O significado do comportamento", que faz parte da obra Imagem pessoal, você vai estudar sobre o significado de comportamento a partir da visão dessa abordagem psicológica e vai aprender a distinguir o comportamento controlado por regras do comportamento modelado implicitamente e a explicar a modelagem do comportamento a partir do seguimento de regras e da mudanças de estímulos. Faça seu estudo e, ao final, você terá aprendido a: • Explicar o comportamento a partir do behaviorismo. • Distinguir o comportamento controlado por regras do comportamento modelado implicitamente. • Descrever a modelagem do comportamento a partir do seguimento de regras e das mudanças de estímulos. Boa leitura. O significado do comportamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar o comportamento a partir do behaviorismo. � Distinguir o comportamento controlado por regras do comporta- mento modelado implicitamente. � Descrever a modelagem do comportamento a partir do seguimento de regras e das mudanças de estímulos. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o significado de comportamento a partir do behaviorismo. A questão da definição de comportamento vem sendo discutida ao longo dos anos pela psicologia, sem que os estudiosos tenham chegado a um consenso. As abordagens da psicologia divergem sobre esse assunto, assim como ocorre com inúmeros conceitos. Nesse sentido, você estudará a visão do behaviorismo sobre o com- portamento, destinguirá o comportamento controlado por regras do comportamento modelado implicitamente e explicará a modelagem do comportamento a partir do seguimento de regras e das mudanças de estímulos. Comportamento sob a ótica do behaviorismo O termo behaviorismo vem do inglês behavior, que em português corresponde ao termo comportamento, sendo, por isso, a abordagem também conhecida como comportamentalismo. A ideia ou crença central do behaviorismo/com- portamentalismo é a de que é possível uma ciência que tenha como objeto de estudo o comportamento (BAUM, 2006). Há mais de 100 anos o conceito de comportamento é estudado (os registros apresentam estudos desde 1906), sendo que a complexidade de sua definição fica evidente quando se resgata a literatura. A primeira definição que se tem é a de que comportamento é aquilo que o organismo faz. Entretanto, essa definição parece não ser suficiente em muitos aspectos (CARRARA; ZILIO, 2013). Tendo em vista essa complexidade, para compreender e explicar o comportamento a partir do behaviorismo é necessário que se entenda o próprio behaviorismo e sua história. Sendo assim, é preciso apresentar um breve resgate histórico do behaviorismo, para conhecer o behaviorismo metodológico e radical e, a partir dessa compreensão, estudar a explicação acerca do comportamento sob a ótica do behaviorismo. Behaviorismo: um resgate histórico O behaviorismo surgiu no final do século passado com ideias que se opunham ao mentalismo vigente na época, dando maior ênfase a aspectos objetivos e observáveis dentro da psicologia (MATOS, 1995). Na compreensão menta- lista, entende-se que o objeto de estudo da psicologia é a consciência, já para o behaviorismo, entende-se que é o próprio comportamento (BAUM, 2006). Entende-se por mentalismo os enfoques psicológicos que consideram os comporta- mentos como resultantes de processos e/ou agentes internos ou de natureza distinta da conduta analisada. De acordo com a linha de pensamento mentalista, o indivíduo recebe informações e/ ou impressões do meio em que está e as processa internamente, essas vão para a mente (movimento instrospectivo) e é lá que ocorrem os processos responsáveis pelas ações. Vale destacar ainda que os processos cognitivos, tão discutidos no campo da ciência psicológica, são originalmente uma forma de mentalismo. Fonte: Carrara e Zilio (2013) e Matos (1995). Essa nova compreensão do objeto de estudos da psicologia surgiu em meados de 1913, sendo principalmente desenvolvida por John Broadus Watson (1879-1958), conhecido como o fundador do behaviorismo e grande defensor da psicologia como ciência natural e aplicada. Ele é conhecido por O significado do comportamento2 ser o fundador do behaviorismo clássico ou, no termo mais utilizado no Brasil, behaviorismo metodológico, conforme você estudará na sequência (STRAPASSON, 2012). Tendo em vista esse momento histórico e as novas discussões dentro do campo da psicologia, enfatizando a questão do comportamento como foco de estudos e o destaque para os aspectos objetivos e observáveis dentro da ciência psicológica, retoma-se a questão central dessa discussão: o que é o comportamento a partir do behaviorismo? A explicação não é unânime, por isso é importante distinguir a compreensão de comportamento dentro do behaviorismo metodológico, ou clássico, que tem como principal estu- dioso o já mencionado Watson, da compreensão dentro do behaviorismo radical, que tem como principal autor Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) (BAUM, 2006). Behaviorismo metodológico O behaviorismo metodológico, versão inicial do behaviorismo, baseia-se na compreensão de realismo. Entende-se que o comportamento é resultado de uma causa real, exterior e separada do mundo interno ou subjetivo do sujeito. Esse behaviorismo, atualmente também conhecido como behaviorismo an- tigo, tem seu foco no método, já que acredita que o único caminho possível para a ciência do comportamento é através do mundo objetivo. Dessa forma, o behaviorismo metodológico lança mão de estratégias de coleta de dados concretas acerca de experiências externas. Ou seja, nessa metodologia há uma grande ênfase no mundo externo, por ser compartilhado com outras pessoas e, assim, passível de confirmação. Nesse sentido, o behaviorismo metodológico também ficou conhecido como “psicologia do outro”, justamente por essa característica da necessidade de confirmação, o que resultou em um foco no comportamento público, ou seja, no comportamento observável por outras pessoas (BAUM, 2006). O comportamento, para os estudiosos do behaviorismo metodológico, pode ser observado objetivamente. Ou seja, por definição, comportamento é o que é observável pelo outro (externamente), podendo ser contado e medido (MATOS, 1995). 3O significado do comportamento Devido a essa ênfase no que é observável, o behaviorismo metodológico foi se aproximando da fisiologia. Essa aproximação ocorreu pelo fato de que alguns comportamentos não podem ser observados de uma forma direta por outra pessoa, como, por exemplo, sentir sede. Nesses casos, os behavioristas metodológicos passaram a recorrer a indicadores fisiológicos para mensurar de forma concreta esse tipo de comportamento. Observa-se assim, que a compreensão de comportamento do behaviorismo metodológico, focado no observávelconcretamente, começa a apresentar algumas lacunas quando se fala em comportamentos que não são expressos de maneira concreta e obser- vável por outras pessoas, como ocorre ao sentir dor ou sede. Essas lacunas levantaram questionamentos e provocaram uma revisão das concepções desse modelo de estudo (MATOS, 1995). Na concepção do behaviorismo metodológico, quando se vê um homem correndo na rua se entende que o comportamento é o que está sendo observado. Nesse sentido, pode-se definir como comportamento a composição do movimento observado (como a movimentação dos músculos que estão sendo utilizados, de uma forma que pode ser observada e medida por outra pessoa). Sendo assim, conforme o behaviorismo metodológico, quanto mais detalhada for essa descrição, mais próximo se está do comportamento real. Note, entretanto, que nesse caso, as razões do comportamento do homem e o contexto em que está inserido não são tratados (BAUM, 2006). O behaviorismo foi se transformando a partir das discussões suscitadas com a identificação das lacunas, principalmente com as contribuições de Skinner, surgindo o que é conhecido atualmente como behaviorismo radical. Behaviorismo radical O behaviorismo radical, diferente do behaviorismo metodológico, que tinha como base o realismo, é embasado no pragmatismo. O pragmatismo contrasta com o realismo, visto que, a partir dessa compreensão, entende-se que a força da investigação cientifica, ou a validade de uma ciência, não está somente na busca pela verdade — ou busca pelo que é essencialmente real, visto que o O significado do comportamento4 conceito de real é até mesmo questionável, por sua compreensão perpassar sempre pelo filtro dos sentidos — mas também no que ela permite fazer na prática (pragmatismo, etimologicamente, tem a mesma origem da palavra prática). Sendo assim, com o pensamento pragmático, o behaviorismo radical entende a busca pela verdade como uma busca por uma potencial explicação de um fenômeno, considerando que qualquer verdade pode ser questionada e substituída por uma verdade mais próxima da realidade no futuro, e o que importa para a ciência não é a busca pelo que é mais real, e sim essa transição, esse desenvolvimento, pelo qual o conhecimento passa à medida em que vai transformando suas verdades (BAUM, 2006). Tendo como pano de fundo essa compreensão, Skinner defende que o que existe para o indivíduo (mesmo que exista apenas para ele, não podendo ser observado por outras pessoas) deve ser considerado quando se trata de comportamento. Essa é uma das primeiras e principais mudanças do behaviorismo metodológico para o radical: a compreensão de que o próprio homem pode servir como uma medida para todas as coisas. Assim, o impe- rativo de que um comportamento precisa ser algo externo e observável pelo social, característico, não se faz mais necessário no behaviorismo radical (MATOS, 1995). Entretanto, para não cair no subjetivismo (lembrando que o behaviorismo se opõe à concepção de mentalismo), é importante que se analise as evidências de que algo está ocorrendo. As evidências são encontradas na experiência de quem as descreve, principalmente quando se trata de comportamentos que não podem ser observados por outras pessoas. Sendo assim, mesmo eventos privados ou internos (como sentir fome ou dor) passam a figurar de maneira mais clara no campo da ciência do comportamento. O behaviorismo radical não faz distinção entre o mundo externo e interno, como ocorre no behaviorismo metodológico. O behaviorista radical explica o comportamento a partir da própria experiência, buscando termos descritivos que incluem, por exemplo, os fins (ou objetivos) de um comportamento e o contexto no qual ele ocorre (BAUM, 2006). Seguindo esse raciocínio, Lopes (2008) desenvolve uma proposta para a definição de comportamento no behaviorismo radical. Ele destaca que a definição de comportamento dentro dessa perspectiva à primeira vista parece desnecessária e até mesmo descabida, visto que todas as pessoas são conside- radas íntimas do comportamento (pelo menos do próprio). Entretanto, quando se pensa na definição de comportamento, percebe-se que a formulação de um conceito é muito mais complexa do que se pensa. 5O significado do comportamento Nesse sentido, Lopes (2008) define comportamento como a relação entre organismo e ambiente e que é encontrado na mesma medida no organismo e no ambiente, visto que se expressa justamente na relação entre ambos. Além disso, o autor destaca outra característica: o aspecto dinâmico. O comportamento não é uma relação estática que pode ser isolada e analisada, mas sim um fluxo interacional (também chamado de fluxo comportamental) entre organismo e ambiente, o que evidencia ainda mais sua complexidade. Comportamento é o que ocorre na relação entre organismo e ambiente. Sendo assim, não se pode falar de comportamento em si. Não há como se analisar ambiente sem pensar no modo como este interage com o organismo e vice-versa (CARRARA; ZILIO, 2013). Outro ponto discutido por Lopes (2008) é a questão das unidades de aná- lise do fluxo comportamental. Não se pode dividir o fluxo comportamental, entretanto, por razões de análise, é possível realizar recortes para aprofundar a discussão acerca do tema. As unidades de análise do comportamento são: � Evento comportamental: entendido como as respostas do organismo frente a eventos ambientais (estímulos). � Estado comportamental: diz respeito à probabilidade de que determi- nada resposta (evento comportamental) seja emitida por um organismo frente a determinada situação do ambiente (estímulo). � Processo comportamental: entendido como os processos de mudança que ocorrem no comportamento (como a aprendizagem, por exemplo). Essa unidade do fluxo comportamental evidencia seu caráter dinâmico. Como foi visto, a definição de comportamento a partir da perspectiva do behaviorismo não é algo simples e fechado. Pelo contrário, é uma definição complexa e em alguns casos até mesmo controversa. Ainda assim, acredita-se que as características apontadas descrevem aspectos essenciais desse conceito dentro da concepção behaviorista. Para dar continuidade a essa compreensão, a seguir você estudará dois tipos distintos de comportamento, o comportamento controlado por regras e o comportamento modelado implicitamente. O significado do comportamento6 Comportamento controlado por regras e comportamento modelado implicitamente Conforme vimos, comportamento é o que ocorre na relação entre organismo e ambiente, podendo ser dividido em: evento comportamental, estado com- portamental e processo comportamental. Os comportamentos não são fixos nem estáticos, mas dinâmicos e ocorrendo em um fluxo comportamental. Existem diferentes tipos de comportamento, nesse escopo do capítulo você aprenderá a distinguir o comportamento controlado por regras do comporta- mento modelado implicitamente. De acordo com a perspectiva behaviorista, entende-se que há dois grandes tipos de comportamento: � comportamento respondente (não voluntário, ou reflexo); � comportamento operante (voluntário). Os comportamentos controlados por re- gras e modelados implicitamente são exemplos de comportamentos operantes. É importante entender que todo o comportamento operante, ou seja, todo comporta- mento voluntário, seja ele controlado por regras ou não, é modelado por contingências de reforço (estímulo que aumenta as chances de determinado comportamento ocorrer) ou contingências de punição (estímulos que diminuem as chances de determinado comportamento ocorrer). Sendo assim, quando se atua nas contingências, pode-se atuar no comportamento. Fonte: Baum (2006) e Mizukami (1986). Comportamento controlado por regras O comportamento controlado por regras começou a ser estudado com o intuito de investigar o que faz uma regra ser mais ou menos respeitada por um sujeito, ou seja, a partir do questionamento referente às variáveis relativas às regrasque faziam determinado comportamento ocorrer e ser mantido (PARACAMPO; ALBUQUERQUE, 2005). Para distinguir comportamento controlado por regras de comportamento modelado implicitamente, faz-se necessário a definição do que são regras dentro da compreensão behaviorista. Regras são estímulos antecedentes verbais (falados ou escritos) que podem descrever contingências, ou seja, que podem descrever: 1) o comportamento que deve ser emitido; 2) as condições nas 7O significado do comportamento quais esse comportamento deve ser emitido e 3) suas consequências prováveis. Assim, entende-se que as regras podem funcionar, da mesma forma como as contingências, restringindo a variação comportamental, estabelecendo com- portamentos novos e/ou alterando comportamentos já estabelecidos (BAUM, 2006; PARACAMPO; ALBUQUERQUE, 2005). A principal diferença entre os comportamentos controlados por regras e os comportamentos modelados por contingências é que no primeiro caso o con- trole se dá através da instrução (que pode ser entendida como a descrição das contingências), já no segundo caso o controle se dá através da contingência em si (BAUM, 2006; MATOS, 2001). Para ficar mais claro, veja o exemplo a seguir: Um comportamento controlado por regras necessita de um estímulo antecedente verbal. Considere o seguinte caso: Você está dirigindo em uma via e se depara com a placa dizendo: "Tráfego inter- rompido a 500 metros. Utilize o desvio". Nesse momento, você avalia e delibera sobre o seu comportamento, optando por pegar o desvio. A mensagem contida na instrução recebida (placa) pode ser entendida da seguinte forma: "Se você continuar por esta via, acontecerá isso ou aquilo; se você tomar uma via alternativa, acontecerá aquilo outro". Assim, observe que a placa estava descrevendo uma contingência e foi essa descrição que atuou no controle do seu comportamento em pegar o desvio. Fonte: Matos (2001). Em síntese, entende-se que, para ser considerado comportamento controlado por regras é necessário que haja um estímulo verbal antecedente. Ou seja, é necessário que haja uma instrução ou direcionamento explicito. Sendo assim, instruções, avisos, orientações, conselhos, ordens e leis, dentre outros, são exemplos de regras. As regras expressam a descrição de uma contingência, e é essa descrição (não a contingência em si) que atua na ocorrência do comporta- mento (ALBUQUERQUE; PARACAMPO, 2017; BAUM, 2006; MATOS, 2001). Comportamento modelado implicitamente O comportamento modelado implicitamente, também conhecido como com- portamento modelado por contingências, é operante influenciado ou mode- lado por consequências relativamente imediatas que o seguem. Esse tipo não O significado do comportamento8 depende da apresentação a uma regra, ou a descrição de uma contingência (como visto anteriormente), sua ocorrência é influenciada pelas relações de reforço e punição não-verbalizadas. Dessa forma, entende-se que esse tipo de comportamento não depende de outras pessoas, requer somente a interação da pessoa com o ambiente (AGUIAR; CHINELATO, 2014; BAUM, 2006). Comportamentos modelados implicitamente não necessitam de uma instrução ou direcionamento explícito, como ocorre com os comportamentos modelados por regras. Muitas vezes, o sujeito não consegue explicar ou falar sobre como realizar um comportamento modelado implicitamente, justamente por não ter essa característica verbal (BAUM, 2006). Os comportamentos modelados implicitamente geralmente são os que precisam de treino, prática, para serem aperfeiçoados. Muitas vezes iniciam como um comportamento controlado por regras (por terem uma instrução inicial) mas, posteriormente, vão sendo modelados de forma implícita. Por isso, é difícil identificar os que sejam modelados unicamente de forma implícita. Entende-se que esse tipo está relacionado a um conhecimento operacional, ou seja, está no campo do “como” se faz (BAUM, 2006). Para entender melhor, veja o exemplo a seguir: Um exemplo do comportamento modelado implicitamente é o comportamento de andar de bicicleta. Em muitos casos, a pessoa que vai aprender a andar de bicicleta recebe uma orien- tação verbal inicial. Porém, para que ela consiga de fato andar de bicicleta, é necessário que ela pratique, treine, vá aperfeiçoando as técnicas durante o próprio movimento. No momento do treino, relações não verbais entre o movimento do corpo e o objetivo de andar de bicicleta vão modelando o comportamento de forma implícita, até que a forma esteja correta e aquela habilidade aprendida. Devido a essa característica não verbal, muitas vezes, quando solicitada, a pessoa não sabe explicar como faz o movimento, ela simplesmente sabe fazer (BAUM, 2006). 9O significado do comportamento Como foi visto no exemplo, comportamentos modelados implicitamente são ligados a um conhecimento operacional que necessita de prática e treino e vão sendo aprendidos a partir de uma relação não verbal, apenas entre o sujeito e o ambiente. É nessa relação que o comportamento vai sendo de- senvolvido. Para seguir na compreensão do significado de comportamento no behaviorismo, no item seguinte você estudará especificamente sobre a modelagem de comportamento, tanto a partir do seguimento de regras, quanto das mudanças de estímulos. A modelagem do comportamento É um processo semelhante ao utilizado por um escultor que molda (por isso o termo) uma massa de argila. O escultor vai puxando a argila para um lado, para o outro, pressionando-a, até que ela adquirir a forma desejada. O processo de modelagem ocorre de maneira análoga ao de esculpir, sendo que, neste, o comportamento é moldado pelos reforços e punições (BAUM, 2006). � Reforços atuam na modelagem aumentando as chances de que determinado comportamento ocorra. Comportamentos mais bem-sucedidos tendem a ser reforçados e, por isso, tendem a ocorrer com maior frequência. � Punições, por sua vez, atuam de maneira contrária. Quanto mais um comportamento é punido, menos ele tende a ocorrer. Essa relação entre efeitos e comportamentos é um dos princípios da aprendizagem e é conhecida como lei do efeito. Os resultados da lei do efeito são frequentemente entendidos como modelagem (BAUM, 2006). A modelagem de comportamentos a partir do seguimento de regras ocorre por meio da descrição de contingências ou consequências que surgem. Quando as consequências são positivas e os comportamentos bem-sucedidos, a ten- dência é que eles voltem a ocorrer (PARACAMPO; ALBUQUERQUE, 2005). Há outro aspecto importante quando se trata da modelagem de comporta- mentos de seguir regras. Este passa por um outro nível, além ser controlado pela descrição das contingencias, também é controlado de forma generalizada. Isso ocorre porque desde muito cedo as pessoas são expostas a regras e, quando O significado do comportamento10 as respeitam, são reforçadas por isso. A pessoa aprende que seguir regras (de forma generalizada) é positivo. Existem, inclusive, jogos e brincadeiras para que crianças aprendam o comportamento de seguir regras de forma geral, como é o caso de “Faça o que o mestre mandar”, entre outras. Nesse sentido, é visto que o comportamento de seguir regras é bastante reforçado na sociedade, fazendo com que, acredita-se, seja possível o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos mais complexos. A partir do seguimento de regras de maneira generalizada é possível fazer com que as pessoas se engajem em comportamentos a partir de uma instrução verbal, não necessitando da contingência imediata como modeladora do comportamento específico que se busca desenvolver. Isso ocorre, por exemplo, com práticas complexas como a construção de um avião ou o desenvolvimento de uma operação matemática (BAUM, 2006). Lembre-se que quando falamos em regras, estamos utilizando a concepção que o behaviorismo tem desse conceito. São considerados regras os estímulos verbais antecedentes, como orientações, instruções, entre outros. Fonte: Baum(2006). Por fim, para tratar da modelagem a partir da mudança de estímulos, veremos as situações em que o sujeito sabe o resultado que busca (o resultado bem-sucedido, que atua como um reforçador), mas não sabe o comportamento a ser executado. Para ilustrar, pense na atividade de um arquiteto, que necessita a cada novo projeto buscar um novo comportamento. Quando o arquiteto projeta onde fica melhor colocar um banheiro, um móvel, uma janela. Percebe-se que os comportamentos a serem emitidos são obscuros, por serem específicos para cada novo caso, porém o resultado a ser encontrado é claro: um projeto que funcione e atenda às necessidades de quem contratou o serviço. Quando o arquiteto está projetando, ele vai desenvolvendo diversos esboços e, à me- dida que os desenvolve, vai avaliando o que funciona e o que não funciona e essas informações são consideradas na confecção do esboço seguinte, até a conclusão do projeto. Ou seja, os esboços servem como estímulos, pois um esboço influencia o próximo a ser desenvolvido, modelando o comportamento de projetar do arquiteto (BAUM, 2006). 11O significado do comportamento Para ficar mais claro, analise esse tipo de modelagem em comparação com a modelagem a partir do seguimento de regras. Quando se trata de regras, estão sendo tratados comportamentos que são modelados por estímulos verbais prévios, ou seja, há uma orientação prévia sobre qual comportamento deve ser emitido. Quando se fala em comportamentos modelados a partir da mudança de estímulos, fala-se de situações em que comportamentos específicos ou originais são solicitados. Nesses casos, utilizam-se estímulos que vão se alterando à medida em que a pessoa emite respostas, ou seja, o resultado da resposta anterior modela a seguinte. Mesmo sendo comportamentos novos, eles não são aleatórios, visto que modelados por estímulos que mudam à medida em que a pessoa emite novas respostas (BAUM, 2006). Como foi visto, o tema comportamento, sob a ótica do behaviorismo, é bastante complexo. Neste capítulo você estudou sobre o conceito de com- portamento, a partir de um resgate histórico da compreensão do termo dentro do behaviorismo, viu as diferenças entre comportamento controlado por regras e comportamento modelado implicitamente e, por fim, estudou sobre a modelagem dos comportamentos, entendendo como funcionam os comportamento modelados a partir do seguimento de regras e a partir da mudança de estímulos. AGUIAR, J. C. de; CHINELATO, J. M. T. Interpretação do Direito e comportamento humano. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 51, n. 203, p. 111-125, jul./set. 2014. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/handle/id/507409>. Acesso em: 19 out. 2018. ALBUQUERQUE, L. C. de; PARACAMPO, C. C. P. Seleção do comportamento por jus- tificativas constituintes de regras. Trends in Psychology, Ribeiro Preto, v. 25, n. 4, p. 2005-2023, dez. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tpsy/v25n4/2358- 1883-tpsy-25-04-2005.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018. BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. CARRARA, K.; ZILIO, D. O comportamento diante do paradigma behaviorista radical. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, Belém, v. 9, n. 1, p. 1-18, 2013. Disponível em: <https://periodicos.ufpa.br/index.php/rebac/article/view/2129/2432>. Acesso em: 18 out. 2018. O significado do comportamento12 LOPES, C. E. Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, Curitiba, v. 10, n. 1, p. 1-13, fev. 2008. Disponível em: <http://usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC/article/view/206>. Acesso em: 18 out. 2018. MATOS, M. A. Behaviorismo metodológico e behaviorismo radical. In: RANGÉ, B. (Org.). Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa, prática, aplicações e problemas. 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O foco principal de estudos dos behavioristas é o comportamento operante e, dentro desse tipo de comportamento, destaca-se o comportamento controlado por regras e o comportamento modelado implicitamente (BAUM, 2009, MIZUKAMI, 1986). Dentre as diferenças desses dois tipos de comportamento, a principal é que o primeiro é controlado por um estímulo verbal antecedente, característica que não aparece no comportamento modelado implicitamente. Dê um exemplo de cada um dos tipos de comportamento acima descritos. PESQUISA Experimenter https://www.youtube.com/watch?v=NtoDZ5C3FeU O comportamento controlado por regras pode facilitar muito a aprendizagem. Porém, há alguns aspectos importantes a serem avaliados nessa generalização. Para refletir sobre isso, assista ao filme Experimenter (2015), que retrata o famoso experimento de Stanley Milgram na Universidade de Yale, na década de 60. N
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