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- -1 HISTÓRIA DA ÁFRICA DO SÉCULO XX A PARTILHA DO CONTINENTE AFRICANO - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1- Examinar os ditames da política neoimperialista; 2- Analisar os eventos que levaram à partilha do continente africano; 3- Avaliar os reais interesses na partilha desse continente. Se você atentar para o mapa político da África atual, vai observar que a demarcação de muitas fronteiras entre os países parece ter sido feita com régua e compasso. De fato o foi. Nos últimos anos do século XIX, depois de décadas realizando o mapeamento do continente africano, as nações europeias resolveram partilhar a possessão da África entre elas. Na época, o objetivo dessa partilha era não só iniciar a exploração desse continente como também levar a civilização para os africanos. Nesta aula, vamos analisar os antecedentes da partilha da África e suas motivações. O neoimperialismo A frase “Fardo do homem branco”, criada pelo poeta inglês (autor do livro Mogli, o meninoRudyard Kipling lobo), sintetiza os fundamentos da ideologia imperialista, que, na época, via a colonização da África como um dever a ser cumprido. De acordo com as principais nações capitalistas da época (as europeias e os Estados Unidos), cabia ao homem branco fazer com que povos de outras raças, sobretudo os africanos e os asiáticos, atingissem o modelo europeu /branco de civilização. Era o que os brancos acreditavam ser o auge do progresso e da evolução humana. Síntese do “Fardo do homem branco” disseminada nos Estados Unidos e na Europa A doutrina do darwinismo social foi o instrumento científico utilizado por essas nações “brancas”. Segundo essa (que aplicava da evolução das espécies, desenvolvida por Charles Darwin (1809-1882),doutrina os diferentes biótipos humanos existentes eram, na realidade, diferentes raças humanas, sendo a raça branca a mais desenvolvida entre todas. Por isso, cabia aos homens brancos fazerem com que as demais raças evoluíssem. A única forma de realizar esse feito era por meio da colonização. Embora se saiba que, (do ponto de vista biológico), não existem raças humanas, pois a humanidadeatualmente é uma só, do final do século XIX até meados do século XX, o uso das ciências para comprovar a falsa desigualdade - -3 existente entre os homens, promoveu o racismo científico, que não só justificou a colonização da África e da Ásia como também foi a justificativa utilizada pelos movimentos nazistas e fascistas.comprovar a falsa desigualdade existente entre os homens, promoveu o racismo científico, que não só justificou a colonização da África e da Ásia como também foi a justificativa utilizada pelos movimentos nazistas e fascistas. O caso do Canal de Suez A presença europeia com interesses genuinamente imperialistas já era uma realidade no continente africano desde a década de 1850. Um dos maiores exemplos dos planos das nações da Europa que se julgavam detentoras da civilização e do progresso foi a construção do Canal de Suez. Esse canal foi a realização de um desejo antigo (desde o Egito faraônico) de ligar o Mar Vermelho ao Mediterrâneo. Os estudos preparatórios começam com a ocupação do Egito por Napoleão, em 1832, mas as obras só foram iniciadas em 1859. Grosso modo, é possível dizer que o Canal de Suez foi idealizado por europeus, mais especificamente pelos franceses, mas quem realizou efetivamente a obra foram os milhares de egípcios recrutados para o serviço. O canal só ficou pronto dez anos depois, em 1869, em uma inauguração repleta de reis e de chefes de Estado de diferentes nacionalidades. É a partir desse momento que a Inglaterra passa a mostrar interesse crescente pela região. De forma escusa, cujas negociações são até hoje pouco conhecidas, os ingleses conseguiram comprar Ações Financeiras da Companhia do Canal de Suez. Sendo assim, o grande empreendimento deixava de ser nacional e passava para o controle da Inglaterra, que ainda conseguiu que o Egito fosse obrigado a pagar 5% sobre o valor das ações vendidas aos ingleses por um período de dezenove anos. Era o alvorecer da perda de soberania dos estados africanos e da consequente submissão econômica dessas mesmas sociedades. O estopim causado por Leopoldo II e a partilha da África Até a década de 1860, a presença de diferentes nações europeias no continente africano não causava questões diplomáticas na Europa. A situação começou a mudar entre as décadas de 1870 e 1880, período em que as condições para a partilha foram criadas. Um aspecto que acendeu ainda mais o interesse e a cobiça europeia pela África foi a descoberta casual de diamantes na atual África do Sul e, um pouco mais tarde, de ouro e de cobre ainda na parte meridional do continente. A descoberta de grandes reservas de minério em diferentes áreas do continente africano, bem como o conhecimento cada vez mais aprofundado - -4 da geografia da África (graças às expedições de exploração já estudadas), fez com que uma série de projetos de ocupação do território africano fosse desenvolvida pelas nações europeias. O objetivo era criar estruturas hidráulicas e férreas que viabilizassem a entrada efetiva dos europeus. Alguns projetos chegaram a ser extremamente audaciosos. A Inglaterra, por exemplo, elaborou um projeto de construção férrea que ligaria o Cairo à Cidade do Cabo, cortando, longitudinalmente, todo o continente africano. Embora a presença europeia se fizesse sentir cada vez mais forte em algumas regiões da África, o estopim para a partilha da África foram os desejos expansionistas do rei belga Leopoldo II. Durante vinte anos, o monarca da Bélgica fez grandes investimentos, até mesmo pessoais, no intuito de possuir uma colônia tropical. Quando as expedições de Henry Stanley localizaram a bacia do rio Congo, uma das maiores do continente, Leopoldo II parecia ter encontrado seu grande sonho. Em 1876, o rei belga reuniu uma conferência internacional de geografia em seu palácio, em Bruxelas. Desse encontro criou-se a Associação Internacional Africana, cujo objetivo era levar a civilização para a única parte do globo ainda não penetrada. Como presidente dessa associação, Leopoldo tinha acesso a uma quantidade privilegiada de informações sobre o continente. O Estado Livre do Congo Extremamente perspicaz e aproveitando-se do conhecimento adquirido pelas expedições europeias na África, Leopoldo II constitui, em 1877, o . Em tese, esse Estado era propriedade privada do rei,Estado Livre do Congo não tendo nenhum vínculo direto com a Bélgica. Sendo assim, o rei Leopoldo poderia explorar aquilo que lhe aprouvesse. A criação desse Estado surpreendeu e acirrou os ânimos das demais nações europeias, mesmo porque ele representava o controle do acesso à Bacia do Congo, que pertencia ao rei belga. Embora o Estado Livre do Congo tenha permanecido com Leopoldo II até 1904, para evitar possíveis embates (até mesmo bélicos), o rei teve de negociar com as demais nações da Europa o uso das redes fluviais da região. As aspirações coloniais de Leopoldo II foram rapidamente compartilhadas por outros países europeus que iniciaram uma verdadeira corrida para a África, como veremos a seguir. Outros países europeus na corrida pela partilha da África Alemanha, França e Inglaterra intensificaram o contato com lideranças autóctones dos territórios que pretendiam dominar. Em 1881, Túnis foi declarada protetorado francês; no ano seguinte, Inglaterra e França se uniram para subjugar o Egito. - -5 Em meio a esse processo, o chanceler alemão Otto Von Bismarck convocou os representantes das grandes potências da época para uma (ocorreu entre dezembro de 1884 e abril de 1885) em Berlim.conferência O objetivo inicial desse era controlar as pretensões expansionistas europeias na África Ocidental,encontro sobretudo as de Leopoldo II, mas não foi exatamente o que aconteceu. A Conferência de Berlim desnudou os interesses imperialistas da Europa, processo que se deu à revelia das múltiplas nações e etniasafricanas que passaram a ser colonizadas. Além de legitimarem o poderio do monarca belga na Bacia do Congo, os representantes reconheceram possessões alemãs na África “tropical” e autorizaram a ocupação colonial em todo o território africano. Empresas europeias (muitas das quais utilizando o capital dos Estados Unidos) aproveitaram o ímpeto imperialista de suas nações e passaram a exercer monopólios comerciais tão eficientes quanto ou mais eficientes que os tratados de proteção acordados entre diplomatas europeus e diferentes lideranças africanas. Além dos interesses políticos e econômicos que por si só já eram argumentos suficientes para a colonização europeia da África, os diferentes países da Europa ainda acreditavam estar fazendo um bem a todo o continente africano, pois o neocolonialismo era a única forma de levar a civilização aos africanos. Assim como ocorrera quatrocentos anos antes, quando o papa Nicolau V permitiu a escravização de africanos, os europeus utilizavam a crença no “Fardo do homem branco”, entendida como a superioridade dos europeus brancos e cristãos, para dominar outros povos. A divisão do continente africano A fim de assegurar que a ocupação do continente africano não causaria grandes conflitos entre os países europeus, o primeiro-ministro britânico, Lorde Salisbury, utilizou, em 1891, seu vasto conhecimento sobre a geografia da África para fazer uma divisão equilibrada do continente entre as metrópoles. De maneira geral: à França coube a África Ocidental; à Inglaterra, a África Oriental; à Itália, a região nordeste do continente; e a Portugal, a África Centro-Ocidental. Veja, abaixo, como ficou toda a partilha. - -6 Concluindo... Em relação aos dois últimos postulados apresentados podemos dizer que um plano fica definido por 3 pontos não colineares ou por 1 reta e 1 ponto fora dela. Mais do que separar, a partilha da África juntou diferentes grupos africanos, muitas vezes rivais, em um mesmo todo político, fato que trouxe consequências graves durante o processo de independência dessas colônias. O que vem na próxima aula •As múltiplas resistências africanas à partilha; •A trajetória de alguns dos maiores líderes dos movimentos de resistência; •Até que ponto tais movimentos tiveram êxito. - -7 CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Analisou a presença cada vez mais forte dos países europeus na África; • Examinou os interesses coloniais que passaram a ditar a atuação das nações da Europa na África; • Relacionou como esses interesses coloniais levaram à partilha efetiva do continente africano. • • •
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