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IEPSIS O papel da Terapia Ocupacional no atendimento da criança com TEA Atuação do Terapeuta Ocupacional nas atividades de Lazer e Brincar Brincar como um direito Teorias de Piaget, Vygotsky e psicanalítica Brincar e TO Brincar no TEA O brincar é um direito constitucional e vigora como lei desde 1990, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) Em seu Art. 16º, Inciso IV, esta lei nos diz que a criança tem direito a “brincar, praticar esportes e divertir-se”. Brincar como um direito O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil ressalta a importância do brincar, trazendo a relação do jogo com o desenvolvimento cognitivo, motor, social e afetivo das crianças. Consta em seu texto que um dos princípios que embasam a “qualidade das experiências oferecidas para o exercício da cidadania” é “o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil”. (BRASIL, 1998) Brincar como um direito Para compreender a visão piagetiana do brincar, em especial o brincar na faixa etária de 0 a 5 anos, é necessário levar em consideração os estágios de desenvolvimento que foram estabelecidos por Piaget No estágio sensório-motor (do nascimento aos 2 anos) a criança não possui a capacidade simbólica, ou seja, “não apresenta pensamento nem afetividade ligados a representações, que permitam evocar pessoas ou objetos na ausência deles" Piaget No estágio pré-operatório (2 a 7 anos) a criança já desenvolveu a capacidade simbólica, logo é capaz de reconhecer os símbolos em suas variadas formas, adquirindo certo grau de independência em relação aos estímulos captados pelos sentidos. Nessa fase, também, a criança começa a distinguir o significante (símbolo, imagem, representação), do significado (o objeto ou estrutura real). Piaget Dentre as demais características básicas, também pode-se destacar a conduta egocêntrica ou autocentrada. A criança vê o mundo a partir de sua própria perspectiva e não imagina que haja outros pontos Depois dos sete anos, torna-se capaz de cooperar. Neste período, a organização social passa a ser de grupos, ou seja, começa-se a formar grupos de amigos fixos. Na fase de nove anos ocorre uma evolução na afetividade, pois a cooperação entre os sujeitos passa a coordenar os pontos de vista em uma reciprocidade, com autonomia e coesão. Piaget Há maior interesse nos jogos e competições, apesar das crianças apresentarem dificuldades nos estabelecimentos das regras. Estes jogos são importantes para o desenvolvimento integral da criança, pois estimulam a socialização, o desenvolvimento moral e o intelectual. Vygotsky considera que o jogo é o meio básico do desenvolvimento cultural das crianças. Um conceito importante a ter em mente para a compreensão do trabalho de Vygotsky é “zona de desenvolvimento proximal”. Este conceito traz a ideia de uma distância entre aquilo que a criança consegue fazer por si só e aquilo que ela consegue executar com a ajuda de um outro indivíduo, e que, potencialmente, poderá aprender a fazer sozinha no futuro. Vygotsky Este conceito encerra em si a questão da ligação existente entre o desenvolvimento e a aprendizagem. O papel do brinquedo, no contexto da teoria de Vygotsky é servir de base para a satisfação de certas necessidades da criança, e estas necessidades vão evoluindo no decorrer do desenvolvimento. Para entendermos o desenvolvimento da criança, é necessário levar em conta as necessidades dela e os incentivos que são eficazes para coloca-las em ação. Vygotsky As contribuições de Vygotsky reforçam o sentimento de valorização da brincadeira e do brinquedo como ferramentas essenciais na formação da criança, sobretudo no aspecto sociocultural que tão De acordo com a teoria psicanalítica o brincar é um elemento de extrema importância para a constituição da subjetividade da criança. O brincar pode desenvolver processos psíquicos que a preparam para uma nova e mais elevada etapa do desenvolvimento. A atividade lúdica infantil, surge na idade pré-escolar, como meio de superar o impasse entre a necessidade de se relacionar ativamente com os objetos e limites impostos pela realidade Teoria Psicanalítica A criança simboliza seus desejos, fantasias, experiências prazerosas ou não, por intermédio do brincar. Nessa atividade, a criança não só reproduz, mas se emancipa das situações imediato-concretas e age de maneira imaginativa, assimilando suas vivências, ao mesmo tempo em que as retoma de forma criativa. A brincadeira tem base no vivido, mas não se constitui em simples reiteração da realidade conhecida. Teoria Psicanalítica No brincar, a criança usa objetos substitutivos, encena, dramatiza situações e personagens, ressignificando essa realidade. Suas ações adquirem uma função representativa e não funcional ou concreta, contribuindo para a elevação dos processos mentais na infância Teoria Psicanalítica Dessa perspectiva, o componente imaginativo da brincadeira infantil tem natureza e origem social, pois a criança reelabora as formas humanas de agir com objetos e de interagir com outros a partir de suas condições concretas de vida, porém criando novas realidades. Ademais, ao brincar, ela se envolve em regras de comportamento e valores sociais, com os quais muitas vezes não conseguiria operar fora dessa atividade. O brincar livre da criança permite mostrar como esta interage e atua no mundo, assim, quando brinca, revela a maneira como usa os objetos, como organiza o seu corpo no espaço e tempo, mostrando ao terapeuta marcos significativos para a identificação do seu desenvolvimento. O brincar é a ocupação que se mostra como própria da infância, sendo objeto de pesquisa, intervenção e assistência na Terapia Ocupacional. Ocupações Atividades de Vida Diária (AVD) Atividade Instrumental de vida Diária (AIVD) Gestão da Saúde Brincar LazerDescanso e Sono Educação Trabalho Participação Social O brincar na Terapia Ocupacional O brincar se evidencia como marca da infância, é a ocupação da criança. O brincar é compreendido como uma ocupação relevante e de extrema importância para a vida de qualquer individuo. É um domínio importante da prática clínica, sendo um processo natural da vida da criança, inerente à natureza humana. O brincar na Terapia Ocupacional Segundo a AOTA, brincar é qualquer atividade espontânea e organizada que ofereça satisfação, entretenimento, diversão e alegria. Dentro do brincar temos: • Brincar exploratório • Participação no brincar O brincar na Terapia Ocupacional Brincar exploratório Identificar atividades lúdicas apropriadas, incluindo brincar exploratório, a prática de brincar, o brincar intencional, jogos com regras, brincar construtivo e o brincar simbólico. O brincar na Terapia Ocupacional Participação no brincar Participar no brincar; manter um equilíbrio entre brincar e as outras ocupações; e obter, utilizar e manter brinquedos, equipamentos e utensílios apropriadamente. O brincar na Terapia Ocupacional O brincar pode ser utilizado de 3 formas: • Finalidade de motivar a participação da criança durante a terapia, e nesse sentido, conquistar a criança e se permitir interagir com o espaço, os brinquedos e o ambiente. O brincar na Terapia Ocupacional • Pode ser utilizado como um recurso para o desenvolvimento de habilidades, tendo o brincar vinculado a algum método de tratamento. • O brincar se dá como fim em si mesmo, oportunizando a experimentação do prazer, da espontaneidade e da criatividade. O brincar na Terapia Ocupacional O brincar autônomo, livre e sem regras é muito utilizado em processos de avaliação. A criança faz uso das brincadeiras de modo livre, sem as interrupçõesdo terapeuta, se tornam um importante instrumento para aqueles profissionais que querem inferir sobre o desenvolvimento da criança por meio da observação da atividade do brincar. O brincar na Terapia Ocupacional O brincar livre permite mostrar como a criança interage a atua no mundo, assim, quando ela brinca, revela a maneira como usa objetos, como organiza o seu corpo no espaço e tempo, mostrando ao terapeuta marcos significativos para a identificação do seu desenvolvimento. O brincar na Terapia Ocupacional Há a possibilidade também de utilizar o brincar para averiguar em que fase a criança se encontra em seu desenvolvimento e determinar o nível de habilidade da criança. O brincar na Terapia Ocupacional A intervenção da terapia ocupacional proporciona do desenvolvimento de estímulos e alcance de habilidades, assim como organização do comportamento e formação de vínculo. O brincar na Terapia Ocupacional Observamos, de modo geral, que nas crianças com TEA o brincar ocorre de maneira distinta das demais crianças. Crianças com TEA tem sua participação em brincadeiras e atividades de lazer diminuídas por apresentarem prejuízos nas áreas da práxis imitativa, ideação e participação em brincadeiras próprias da sua faixa etária. O brincar no TEA Em crianças com Transtorno do Espectro Autismo, evidenciamos um prejuízo na capacidade simbólica e, consequentemente, uma grande dificuldade no desenvolvimento de atividades lúdica, resultando em um brincar estereotipado, sem variações e sem criatividade. O brincar no TEA Outra manifestação clássica do TEA é a padronização do comportamento. O autista tende a realizar atividades repetidas e estereotipadas, o que gera o desenvolvimento de rituais ou rotinas dos quais a criança tem muita dificuldade de se desvincular. Não raramente os pacientes exibem uma fixação em objetos ou em um repertório de interesses muito restritos, envolvendo datas, itinerários e estereotipias motoras. O brincar no TEA O desenvolvimento precário da capacidade simbólica da criança autista contribui para o aparecimento de sintomas, como por exemplo o atraso no desenvolvimento da linguagem, o uso idiossincrático dos brinquedos e uma grande dificuldade no contato interpessoal. O brincar no TEA Ao propor estratégias de intervenção que ofereçam às crianças que apresentam estes sintomas dentro do espectro do autismo possibilidades de uma melhor expressão simbólica, tem boa repercussão, tanto em seu desenvolvimento emocional, quanto no cognitivo. O brincar no TEA Na criança típica, o processo do brincar ocorre de forma natural, em que adultos e parceiros interagem com ela, que logo aprende a agir com objetos de forma lúdica e a compartilhar a atividade. Já nas crianças autistas esse processo não é tão simples, pode ser longo e trazer grandes frustrações a pais, familiares e educadores, que acabam desacreditando da viabilidade e importância dessa área tão propícia ao desenvolvimento. O brincar no TEA Assim como as ações da criança são percebidas como movimento e manipulação sem sentido, a mãe e as pessoas próximas vão deixando de significá-las. Como resultado, persiste um brincar limitado e empobrecido, já que possíveis transformações não são incentivadas. Então, instala-se um círculo vicioso. O brincar no TEA Referências • MARTINS, A.D.F.; GOES, M.C.R. Um estudo sobre o brincar de crianças autistas na perspectiva histórico-cultural. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 17, Número 1, Janeiro/Junho de 2013: 25-34. • SOBRAL, S.S.; RIBEIRO, S.I.S. A importância do brincar na educação infantil – a perspectiva de Piaget,Vygotsky e Kishimoto. Anais do VI Congresso Nacional de Educação. Fortaleza,2019. • SOUZA, Dinara (org). Terapia Ocupacional e sua representatividade no Transtorno do Espectro do Autismo: teoria e prática. Ribeirão Preto, SP: BookToy, 2022. • SOUZA, N.M.;WECHSLER, A.M.Reflexões sobre a teoria piagetiana: o estágio operatório concreto. Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade, Bebedouro-SP, 1 (1): 134-150, 2014 • SPODE, Georgia Debiasi. Perfil Epidemiológico de pacientes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista. 2019. 62 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Medicina. Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS), Passo Fundo, RS, 2019.• American Occupational Therapy Association, A. (2015). Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio & processo - 3ª ed. traduzida. Revista De Terapia Ocupacional Da Universidade De São Paulo, 26(esp), 1-49. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26iespp1-49 • AOTA. Occupational therapy practice. Framework: domain & process. 2nd. The American Journal Occupational Therapy. v. 63, n. 6. 625-683, nov/dec, 2008. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26iespp1-49