Prévia do material em texto
Resposta Endocrina e Metabolica ao Trauma / Hernias da Parede Abdominal R e s p o s t a E n d o c r i n a e Metabolica Ao Trauma: Introducao: O organismo frente ao trauma de qualquer origem se mobiliza totalmente para a produção de glicose, no intuito de ofertá-la para tecidos que a utilizem preferencialmente como energia. A ferida operatória ou traumática, as hemácias, os leucócitos recrutados para os sítios de lesão tecidual, o sistema nervoso central e a medula adrenal, são tecidos e células que utilizam a glicose como fonte energética primordial. Se o processo que levou à lesão tecidual é de pequena intensidade, a resposta endócrina e imunológica tende a ser temporária, e a restauração da homeostase metabólica e imune prontamente ocorre. Todavia, uma lesão grave, como observada em pacientes politraumatizados e em grandes queimados, pode desencadear uma resposta de tamanha intensidade que provoca deterioração dos processos reguladores do hospedeiro, além de impedir a recuperação das funções celulares e de órgãos. Na ausência de intervenção terapêutica adequada, essas alterações podem levar à falência orgânica múltipla e ao óbito. Embora a resposta biológica ao trauma tenha como princípio básico preservar o organismo, agressões intensas e graves desencadeiam uma resposta "maléfica", que pode levar o hospedeiro ao óbito. Composicao Corporal: O trauma, determinado tanto por uma cirurgia quanto por uma lesão grave (politrauma, queimaduras), e o jejum prolongado desencadeiam modificações no ambiente hormonal e levam também à produção de mediadores humorais. Essas alterações têm como um de seus objetivos a mobilização de substratos, a partir da "quebra" de proteínas e gorduras, para utilização como fonte de energia por diversas células. O tecido adiposo nos fornece uma reserva energética a partir da lipólise, que fornece ácidos graxos livres - principal fonte de energia utilizada pelo organismo durante o trauma - e o glicerol - utilizado no fígado como substrato para gliconeogênese. Além disso, as proteínas também podem gerar energia quando requeridas, mesmo que em menor quantidade, por meio da proteólise, gerando aminoácidos (AA) que servirão como substratos para gliconeogênese. Resposta Metabolica e Endocrina: Fase Adrenergica-Corticoide (Catabolica): Após o trauma, o corpo busca, através da ativação de vias catabólicas, disponibilizar todo o suprimento energético possível para manter a população de células inflamatórias e garantir o reparo tecidual necessário. A glicose é a primeira, e mais eficiente, linha energética e será a principal fonte energética pelas primeiras 12 a 24 horas, entretanto seus estoques são limitados e outras fontes energéticas são necessárias. Após o uso de todo glicogênio como substrato energético, as vias de gliconeogênese são ativadas. A quebra do tecido adiposo (lipólise) é uma alternativa. Apesar de não ser prioridade energética, a proteólise acontece em situações de estresse ou ausência de outras fontes energéticas. Além das calorias, a quebra de proteínas fornece aminoácidos fundamentais à gliconeogênese. Concomitante a isso, ocorre a liberação de hormônios para os processos descritos acima sucedam da melhor forma, dentre eles estão: De forma geral, na fase catabólica, encontramos um paciente que apresenta: • Febre; • Taquicardia; • Oligúria; • Hiperglicemia; • Redução da massa magra; • Amenorreia. Assim, podemos dizer que a fase catabólica tem início no momento do trauma e dura até o 3º ou 5º dia (variável, a depender da extensão do trauma). É o momento de intenso catabolismo. Todo o metabolismo está ativado para aumentar o aporte de nutrientes e tentar restabelecer a homeostase. Hormonio Funcao Cortisol e ACTH Efeito catabólico, ou seja, estimula a produção de nova glicose e libera nutrientes para cicatrização. Portanto, estimula a proteólise muscular e a lipólise. Se persistir por muito tempo, acaba tendo resposta maléfica Catecolaminas Liberadas através de alterações de volemia (fazendo vasoconstrição) e s ã o l i b e r a d a s n a g l â n d u l a suprarrenal. Assim, apresentam função de preservar volume intravascular, além do efeito catabólico, que só é adequado na presença de glicocorticoides. ADH (Hormônio Antidiurético) Librado baseado o balanço hídrico do pac ien te , es t imulando a reabsorção de água para manter a volemia (oligúria funcional). Além disso, faz vasoconstrição esplênica (direcionando o fluxo sanguíneo para órgãos principais) e apresenta efeito catabólico. Aldosterona Participa do balanço hídrico e de potássio. Também preserva o volume intravascular por meio da reabsorção de Na e H2O, mas em compensação estimula a excreção de K e H+, se exacerbado pode ser maléfico. Glucagon Estimula a gliconeogênese hepática Hormonio Insulina S u p r i m i d a p e l o g l u c a g o n , epinefrina e cortisol GH (Hormônio do Crescimento) Principal função é realizar lipólise FuncaoHormonio OBS: o balanço nitrogenado negativo, presente nessa fase, indica intensa proteólise devido ao estímulo hormonal catabólico para disponibilizar aminoácidos, que participam do reparo tecidual e da produção de glicose, sendo excretados as bases nitrogenadas através da ureia. Portanto, é a perda de base nitrogenada na urina, o paciente está perdendo massa magra, se exacerbado pode ser maléfico Fase Anabolica Precoce: Também chamada de fase de "retirada do glicocorticoide", a fase anabólica precoce tem como característica um declínio na excreção de nitrogênio, com balanço nitrogenado tendendo ao equilíbrio (balanço nitrogenado positivo). Observamos restauração do balanço de potássio, uma vez que este era inicialmente positivo (destruição tecidual), e depois tendia à negatividade no decorrer de horas a dias (efeito da aldosterona). A ação anabólica do IGF-1 começa a se fazer presente. A diminuição dos teores de ADH promove diurese de água retida. O paciente manifesta desejo de se alimentar, fenômeno que reflete uma redução dos níveis de TNF-α. Após um período variável, os pacientes entram em um balanço nitrogenado positivo, representado por síntese proteica e ganho de massa corporal magra (até 100 g/dia) e peso. Fase Anabolica Tardia: Ganho ponderal à custa, principalmente, de tecido adiposo (anabolismo lipídico), balanço nitrogenado normal e normalização das funções vitais. Pode durar meses a anos. Hernias da Parede Abdominal: Definicao: Hérnia é derivada da palavra latina para ruptura. Uma hérnia é definida como uma protusão anormal de um órgão ou tecido por defeito em suas paredes circundantes. As hérnias da parede abdominal ocorrem apenas em locais onde a aponeurose e a fáscia não são cobertas por músculo estriado. Esses locais incluem mais comumente as áreas inguinal, femoral e umbilical. O denominado colo ou orifício de uma hérnia é localizado na camada musculoaponeurótica mais interna, enquanto o saco herniário é revestido por peritônio e faz protusão no colo. A hérnia é redutível quando seus conteúdos podem ser reposicionados por entre a musculatura circundante, e é irredutível ou encarcerada quando não pode ser reduzida. Uma hérnia estrangulada tem suprimento sanguíneo comprometido para seus conteúdos, o que é uma complicação grave e potencialmente fatal. Nesses casos, se o paciente chega com < 6h de dor a hérnia deve ser reduzida, pois, provavelmente não tem isquemia. Entretanto, se o paciente chega com > 6h de dor deve-se operar, já que a chance de ter isquemia é maior. Uma hérnia externa faz protrusão através de todas as camadas da parede abdominal, enquanto uma hérnia interna é a protrusão do intestino através de um defeito na cavidade peritoneal. Hernias Inguinais: As hérnias inguinais são as mais frequentes na prática clínica. As hérnias inguinais, por sua vez, podem ser divididas quanto ao seu mecanismo de formação em indiretas, as mais comuns, e as diretas. Esta condição é mais frequente em homens, ocorrendomais do lado direito, fenômeno explicado pela atrofia mais tardia do conduto peritoneovaginal deste lado (ver adiante). As hérnias inguinais, assim como a hérnia femoral e a hérnia umbilical, têm sua prevalência aumentada com a idade. As hérnias indiretas são secundárias a alterações congênitas decorrentes do não fechamento do conduto peritoneovaginal (processus vaginalis), uma espécie de túnel criado pela descida do testículo (que vai empurrando o peritônio à sua frente) da cavidade abdominal em direção à bolsa escrotal. Normalmente esse conduto é obliterado totalmente, recebendo o nome de ligamento de Cloquet. O equivalente no sexo feminino ao conduto peritoneovaginal é o divertículo de Nuck, uma espécie de túnel criado também pela "descida" do ovário durante a embriogênese. Quando não há a obliteração do conduto após o nascimento, ou o fechamento é parcial, permanece uma comunicação entre a cavidade abdominal e o canal inguinal, permitindo não só o aparecimento de hérnia inguinal indireta, mas também de outras condições como hidrocele do cordão e hidrocele comunicante. As hérnias diretas não são resultado de alterações congênitas, e sim adquiridas. Têm na sua gênese um enfraquecimento da musculatura da parede posterior do canal inguinal. A hérnia direta ocorre no triângulo de Hesselbach, segmento mais frágil da fascia transversalis, principalmente por ser região menos protegida pelo revestimento musculoaponeurótico. Na avaliação dos pacientes com hérnia inguinal, a história e o exame clínico ainda se impõe como os principais instrumento para o diagnóstico desta condição, sendo incomum à utilização de exames complementares. Em casos de dúvida diagnóstica ou em situações que necessitem de um diagnóstico diferencial, o primeiro exame de imagem a ser solicitado deve ser a ultrassonografia; caso persista a incerteza, a ressonância nuclear magnética é superior à tomografia computadorizada... As queixas mais frequentes de pacientes com hérnia são sensação de peso ou dor mal definida na região inguinal associada aos esforços. A dor pode estar acompanhada da presença de abaulamento na região inguinal. O abaulamento pode retornar espontaneamente para a cavidade abdominal ou não, o que geralmente é acompanhado de dor intensa. Assim podemos definir algumas situações clínicas que têm implicação direta na terapêutica a se adotar: 1. Hérnia redutível: é aquela que é reduzida, ou seja, o saco herniário retorna à cavidade abdominal, espontaneamente ou através de manobra manual (manobra de Taxe); 2. Hérnia encarcerada: é aquela em que não é possível a redução manual do saco herniário e, por isso, dita irredutível; 3. Hérnia estrangulada: ocorre quando o encarceramento leva ao comprometimento vascular, com o paciente apresentando dor intensa, acompanhada de sinais flogísticos na região inguinal. O encarceramento e o estrangulamento podem levar à obstrução intestinal quando uma víscera de delgado faz parte do conteúdo do saco herniário. O exame físico deve ser realizado inicialmente com o paciente em pé. Durante o exame, devemos observar a presença de abaulamento na região inguinal em repouso e durante a manobra de Valsalva, que pode acentuar uma tumoração preexistente. Nos casos de hérnias indiretas volumosas, o saco herniário pode insinuar-se para dentro da bolsa escrotal, o que define as hérnias inguinoescrotais. A seguir, realizamos manobras na tentativa de determinar pelo exame físico se a hérnia é direta ou indireta. O examinador introduz o dedo no anel inguinal externo que é palpado através da bolsa escrotal; introduzimos o dedo indicador na porção mais inferior da bolsa escrotal e invaginamos o saco herniário para o interior do canal inguinal, até encontrarmos o orifício inguinal externo. Solicitamos então que o paciente realize manobra de Valsalva. Caso seja palpada protusão que vem de encontro ao nosso dedo, estamos frente a uma hérnia indireta. Caso a protusão seja sentida na polpa digital, a partir do assoalho do canal inguinal, a suspeita é de hérnia direta. A palpação com oclusão do anel inguinal interno, na sua topografia cutânea, combinada com manobras de aumento da pressão abdominal, também diferenciam a hérnia inguinal direta da indireta – a manobra de Landivar. O aparecimento da hérnia com a manobra caracteriza a hérnia direta, enquanto o não aparecimento caracteriza a hérnia indireta. Hernias Femorais: Uma hérnia femoral ocorre pelo canal femoral, que é limitado superiormente pelo trato iliopúbico, infeiormente pelo ligamento de Cooper, lateralmente pela veia femoral e medialmente pela junção do trato iliopúbico e do ligamento de Cooper (ligamento lacunal). Uma hérnia femoral produz uma tumoração ou protuberância abaixo do ligamento inguinal. Às vezes, algumas hérnias femorais se apresentarão sobre o canal inguinal. Nessa situação, o saco herniário femoral ainda existe inferiormente ao ligamento inguinal através do canal femoral, mas ascende em uma direção cefálica. Uma hérnia femoral pode ser tratada usando-se o reparo do ligamento de Cooper, uma abordagem pré-peritoneal, ou uma abordagem laparoscópica. Os elementos essenciais do reparo da hérnia femoral incluem dissecção e a redução do saco herniário e obliteração do defeito no canal femoral, ou por aproximação do trato iliopúbico ao ligamento de Cooper ou por colocação de uma prótese de tela para obliterar o defeito. Hernias Umbilicais: A hérnia umbilical pode ser definida como a persistência do anel umbilical sem o fechamento de sua camada aponeurótica após o nascimento. Caracteriza-se por uma protrusão anormal do peritônio contendo tecido gorduroso pré-peritoneal (comum) e omento. Raramente encontramos alças intestinais no conteúdo do saco herniário. Na infância, é um defeito congênito verdadeiro, sendo muito mais comum em crianças afrodescendentes. Nesses casos, existe uma tendência ao fechamento espontâneo por volta dos quatro a seis anos de idade em cerca de 80% dos pacientes. As complicações são infrequentes. Muitos cirurgiões aguardam o fechamento espontâneo do anel herniário até os quatro a cinco anos; caso o anel não feche após essa idade, geralmente a cirurgia é realizada. A exceção a essa regra inclui grandes defeitos (> 1,5 cm) – já que dificilmente fecham de forma espontânea – e presença de derivação ventriculoperitoneal. Em crianças que apresentam concomitância de hérnia inguinal e umbilical (15% dos casos), estas devem ser corrigidas em um mesmo procedimento cirúrgico, sob anestesia geral. No adulto, a hérnia umbilical é mais frequentemente secundária a um defeito adquirido, decorrente de aumentos de pressão intra-abdominal, como observado na obesidade, gravidez e ascite. Eventualmente, a hérnia umbilical em adultos pode ser resultado de hérnia congênita não diagnosticada previamente. Embora os doentes tenham um risco cirúrgico elevado, o reparo das hérnias umbilicais na presença de cirrose e ascite é recomendado. Em pacientes assintomáticos, a cirurgia é realizada no momento do transplante hepático, em um mesmo tempo. Todavia, na presença de erosão da pele (afinamento) sobre o saco herniário e extravasamento de fluido pela cicatriz umbilical – sinais que denotam ruptura iminente –, o reparo herniário é indicado de forma mais imediata. Outra indicação clássica de cirurgia, desta vez emergencial, é a presença de estrangulamento ou encarceramento. Em casos de anel umbilical < 1 cm, a técnica cirúrgica mais utilizada é a redução da hérnia com fechamento simples do anel herniário em sentido transverso, com ou sem reforço com tela; hérnias entre 1 e 4 cm devem ser reparadas com tela, por técnica aberta ou laparoscópica Nos casos de anel umbilical de 4 e 10 cm está recomendado o uso de tela também com o acesso sendo laparoscópico. Hernias Epigastricas: As hérnias epigástricas são 2 a 3x mais comuns em homens. Estas hérnias estão localizadas entre o processo xifoide e cicatriz umbilical e são geralmentedentro de 5 a 6 cm do umbigo. Como as hérnias umbilicais, as hérnias epigástricas são mais comuns em indivíduos com uma única decussação aponeurótica. Os defeitos são pequenos e, em geral, produzem dor fora de proporção para seu tamanho, devido a encarceramento de gordura pré-peritoneal. O reparo geralmente consiste na excisão do tecido pré-peritoneal encarcerado e fechamento simples do defeito fascial, semelhante ao das hérnias umbilicais. Os defeitos pequenos podem ser reparados sob anestesia local. Raramente, esses defeitos podem ser de grande tamanho e conter omento ou outra víscera intra-abdominal e podem exigir reparos com tela. Aconselha-se o reparo das hérnias epigástricas porque o defeito é pequeno e a gordura que herniou da cavidade peritoneal é difícil de reduzir. Hernias Incisionais: As hérnias incisionais ocorrem como resultado de tensão excessiva e cicatrização inadequada de uma incisão prévia, que em geral se associa a infecção do acesso cirúrgico. Essas hérnias aumentam de volume ao longo do tempo, provocando dor, obstrução intestinal, encarceramento e estrangulamento. O tratamento cirúrgico das hérnias incisionais pode ser quando o defeito é pequeno (≤ 2 a 3cm de diâmetro e há tecido viável adjacente, ou em casos que a hérnia resulta de um erro técnico na operação inicial, como uma falha da sutura. Defeitos maiores (>2-3cm de diâmetro) têm uma elevada taxa de recidiva se fechados primariamente e devem ser reparadas com prótese. Referencias Bibliograficas: • TOWNSEND JR, C. M. Sabiston Tratado de Cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna – 2 vols. 20ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019 • SAAD JR, R. e Cols - Tratado de Cirurgia do CBC – 3ª edição – 2022 • SanarFlix - Cirurgia Geral (Bases do Dia a Dia da Medicina) - SuperMaterial: Resposta Metabólica e Nutrição na Cirurgia • Apostila Cirurgia Vol 3 - MedCurso 2022 • Apostila Cirurgia Vol 2 - MedCurso 2022