Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LITERATURA Editora Exato 5 AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS 1. PRIMEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA Primeira Geração romântica: os indianistas, ou nacionalistas. No período regencial, houve rebeliões de gran- de participação popular em oposição declarada aos antigos colonizadores. O povo brasileiro, embora constituído de diferentes etnias, buscava identidade como nação. Na Europa, o inglês Walter Scott, com “Iva- nhoé” e o português Alexandre Herculano, com “Eu- rico, o presbítero,” têm na idade feudo-clerical a trama de seus romances históricos. No Brasil, ao tempo da Idade Média, fizeram história as culturas indígenas. Assim, os cavaleiros, heróis e castelos eu- ropeus foram substituídos por aborígenes e matas tropicais. A primeira geração da poesia romântica i- dealizou o índio, por isso denomina-se, também, ge- ração indianista. Os caracteres românticos europeus, transplan- tados para o Brasil, fizeram surgir orgulho pela vari- ante brasileira da língua portuguesa. Com a poética romântica, nasceu o desejo de nacionalizar as artes, a literatura em especial, pretendendo que à indepen- dência política se seguisse a independência cultural. Destacam-se, nesta geração, dois poetas india- nistas: a) Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811 – 1882) teve o grande mérito de ser o introdu- tor do Romantismo no Brasil com a obra Suspiros poéticos e saudades, que possui traços de religiosida- de e têm em seu prefácio as características do Ro- mantismo. O poema indianista épico A confederação dos tamoios apresenta o caráter nacionalista e inicia uma polêmica com José de Alencar, relativa à visão de cada autor sobre o índio. b) Antônio Gonçalves Dias (1823 - 1864) con- solidou o Romantismo no Brasil. O poeta maranhen- se trabalhou todos os temas iniciais: o indianismo, a natureza pátria, a religiosidade, o sentimentalismo, o espírito de brasilidade. Considerava-se uma espécie de síntese do brasileiro, pois era filho de português e cafuza (*mistura de negro e índio). Didaticamente, sua obra pode ser dividida em: � Poesia lírica: nela, os textos possuem tra- ços de subjetivismo, marcados pela dor e pelo sofrimento de amores frustrados. Os poemas líricos mais famosos são. “Se mor- re de amor”, “Ainda uma vez - adeus!”, “Como, és tu?” e “Não me deixes”. � Poesia medieval: reúne uma série de poe- mas escritos em português arcaico, à moda dos trovadores medievais e estão sob o títu- lo de Sextilhas de Frei Antão. � Poesia nacionalista: ora exalta a pátria dis- tante, ora idealiza a figura do índio. Os chamados poemas saudosistas são marca- dos pelo exílio e desembocam numa exalta- ção da natureza brasileira. Na “Canção do Exílio”, o poeta nunca se refere ao elemen- to humano, mas apenas aos elementos natu- rais, pois a tendência era exaltar a nação recém-independente. Mas é no indianismo que o poeta consagra-se. Apesar de idealizado, o índio de Gonçalves Dias está mais próximo à realidade do que o índio enfocado por José de Alencar, por ter o primeiro profundo co- nhecimento sobre a tradição, os costumes e a língua dos nativos. Continua, entretanto, o índio dotado de sentimentos e atitudes artificiais europeizadas. Entre os poemas indianistas destacam-se “I-Juca Pirama”, “Marabá”, “O canto do piaga”, “Canção do Tamoi- o”, “Leito de folhas verdes”, além do poema épico inacabado “Os timbiras”. Também consta de sua obra um dicionário da língua tupi. Quanto aos aspectos formais, a poesia da pri- meira geração apresenta-se ainda atrelada a modelos anteriores. Gonçalves Dias, na “Canção do Exílio”, utiliza a redondilha maior e a rima oxítona marcada, obtendo, assim, ritmo e musicalidade. Em “I-Juca Pi- rama”, utilizam-se recursos da métrica e a redondilha menor. 2. POESIA 2ª GERAÇÃO - MAL DO SÉCULO O segundo momento da poesia romântica bra- sileira inspira-se em Byron e Musset. Lord Byron, nobre inglês e aventureiro, identificava-se com suas personagens; era boêmio, idealista, extravagante e rebelde; deixou obras impetuosas, de espírito satírico. Alfred de Musset, francês de gênio romântico, her- deiro imediato de futuro incerto (a França arrasada pela Revolução Francesa), pregava o ceticismo e cer- to ar de deboche. Características como: o individualismo, a sub- jetividade, o pessimismo, o ceticismo e temas como: o amor, a morte, a dúvida, o tédio, a tristeza, a angús- tia diante da vida norteavam os poetas brasileiros di- tos ultra-românticos ou byronianos, da segunda geração. Esse conjunto de comportamento ficou co- nhecido como “mal do século”, escritores jovens e- ram excessivamente boêmios e morriam cedo por tuberculose ou pelas conseqüências da bebida. Merecem destaque os seguintes poetas: a) Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852): foi responsável pelos contornos defini- Editora Exato 6 tivos do “mal do século”; tinha a obra influenciada por Lord Byron, de quem era leitor e tradutor, e por Musset, de quem herdou as características do “sple- en”- do inglês, baço, órgão ao qual era atribuído o es- tado melancólico ou depressivo, originando o sarcasmo, a ironia e a autodestruição. Suas poesias falam de um amor idealizado, irreal, povoado de donzelas ingênuas, virgens sonhadas, mulheres mis- teriosas que habitam sonhos adolescentes nunca ma- terializados. Daí, a frustração, a dor, o sofrimento acalmados pelas figuras da mãe e da irmã. A morte física foi presença marcante e dolorosa em sua vida: a morte prematura do irmão, de seus colegas de fa- culdade e a “dor no peito” que cedo o levaria. Tam- bém a morte, em sentido conotativo, como fuga, foi abordada por fruto de sensação de impotência diante das adversidades. Na poesia, destacam-se: “Lira dos vinte anos”: e “Poema do frade”; para o teatro, escreveu: “Macá- rio,” e, em prosa, “Noite na taverna”, livro de contos fantásticos narrados por jovens em uma taverna. Le- vados pelo delírio, provocado por excesso de bebida, os jovens contam histórias que giram em torno de in- cestos, bacanais, necrofilia, assassinatos hediondos, enfim, tudo ao gosto de Satan, já que a “moda” era o satanismo. b) Luís Nicolau Fagundes Varela (1841- 1875): influenciado por Byron, teve o pessimismo e a fuga reforçados pela morte do filho, golpe do qual nunca se recuperaria, entregando-se ao alcoolismo. Deste fato, surgiu o “Cântico do calvário”, do “Livro das sombras”. Sua religiosidade é notória e também a escravidão entra como tema de sua obra, assim como a natureza, escolhida para evasão. Produziu ainda: “Noturnas”, “Cantos religiosos”, “Diário de Lázaro”, “O estandarte auriverde”, “Cantos meridionais” e outros. c) Casimiro José Marques de Abreu (1839- 1860): apresenta o amor totalmente idealizado e o li- rismo saudosista. Em seus textos, há predomínio da simplicidade e da fluência; os versos, em seu poema mais famoso, “Meus oito anos”, caracterizam-se pelo aspecto direto, sem abstrações ou segundas intenções. Sua obra principal é “Primaveras”. A esta segunda geração pertenceram também Junqueira Freire (1832-1855), monge beneditino, que manifestava em seus textos a religiosidade, o pessi- mismo, o desejo de morrer, revelados em “Inspira- ções do Claustro”. Há, ainda, Laurindo Rabelo (1826-1864) e José Bonifácio, o moço (1827-1886). A produção literária desta geração apresenta-se des- vinculada de rígidos modelos quanto à métrica e à rima. São, portanto, predominantes os versos livres e brancos, a estrofação livre ou inexistente, simetria e paralelismo não recorrentes. 3. POESIA 3ª GERAÇÃO – CONDOREIRA, OU HUGOANA Caracterizada pela poesia social e libertária, essa geração reflete as lutas internas da segunda me- tade do reinado de Dom Pedro II: principalmente, a favor dos movimentos abolicionista e republicano. Os escritores sofrem intensa influência de Victor Hu- go, poeta francês, daí o nome “hugoana”. O termo “condoreirismo” é conseqüência do símbolo de liber- dade refletido pelo condor, águia da cordilheira dos Andes que voa livree alto. Castro Alves, Tobias Bar- reto e Sousândrade são expoentes desta época. a) Antônio Frederico de Castro Alves (1847- 1871) condensa, em sua produção literária, as carac- terísticas principais do Romantismo, acrescidas da universalização, isto é, amplia os horizontes a novas tendências. A temática de sua obra envolve o amor, a mulher, a morte, o sonho, o “eu”, e também a Repú- blica, o abolicionismo, a igualdade, as lutas de clas- ses, os oprimidos. Quanto à forma, apresenta traços marcadamente românticos, como os exageros na me- táfora, comparações grandiosas, antíteses, hipérboles e apóstrofes. Distinguem-se, na sua obra, dois aspectos te- máticos importantes. A poesia lírico-amorosa evolui da idealização para a concretização das virgens so- nhadas pelos românticos da 2ª geração, o amor não é mais tão inatingível ou inacessível; a mulher é indi- vidualizada, de carne e osso, sensível e voluptuosa, não mais um “anjo de candura”. A poesia social sofre influência das mudanças internacionais: a Questão Coimbrã, em Portugal; o positivismo de Comte; o so- cialismo científico de Marx e Engels; o evolucionis- mo de Darwin, e das mudanças nacionais: a decadência da Monarquia; a luta abolicionista; a Guerra do Paraguai, o pensamento republicano. Espumas flutuantes e Hinos do Equador são coletâneas nascidas de amores vividos e não apenas sonhados. Os escravos reúnem os poemas abolicio- nistas de maior divulgação: “Vozes d’África” e “O navio negreiro”. Também publicou a peça Gonzaga ou A Revolução de Minas. b) Joaquim de Sousa Andrade (1833-1902) Sousândrade como ele próprio apelidou-se. Canta o nativo americano como herói sacrificado pelos con- quistadores. Seus escritos propunham uma crítica so- cial, revelando simpatia às lutas anticolonialistas, em tom de denúncia às contradições do capitalismo, lan- çou-se à problemática internacional, engajando-se nos grandes temas político-sociais da época. Harpas Selvagens, A casca da caneleira, Obras poéticas, entre outras, figuram como suas o- bras; a mais representativa delas é Guesa Errante, po- ema épico, de treze cantos, quatro deles inacabados. Nele, o autor narra uma lenda do povo Inca, em que um índio é predestinado a peregrinar, reproduzindo na terra a trajetória do deus-sol dos Incas, por isso, Editora Exato 7 aos quinze anos, deve ser sacrificado. Sua obra traz a contribuição de neologismos em que mistura línguas nativas ao inglês americano. Mais de meio século depois de criada, sua obra foi redescoberta pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, que escreveram Revisão de Sousândrade. Este fato vem a confirmar uma previsão do próprio Sousândrade, que comentou: “Ouvi dizer já por vezes que o Guesa Errante será lido cinqüenta anos depois; entristeci - decepção de quem escreve cinqüenta anos antes”. 4. PROSA URBANA Após a independência e em meio a tantos con- flitos sociais, houve a urbanização do Rio de Janeiro, transformado em Corte, criando, assim, uma socieda- de consumidora representada pela aristocracia rural, profissionais liberais, jovens estudantes, todos em busca de entretenimento. O jornalismo toma impulso e promove a divulgação em massa de folhetins em que se publicaram muitos dos romances românticos. A propósito, o romance foi a grande inovação deste período. Antes dele, já existia a narrativa, cuja mais rica representação era a epopéia, que tratava de um mundo heróico e sublime. Também havia a nove- la, que era uma série de episódios, quase sempre, a respeito dos grandes feitos dos cavaleiros. O romance do século XIX idealizava o mundo e a sociedade e assim a espelhava; respondia, na mai- oria das vezes, às exigências do público leitor da é- poca. Os enredos giravam em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de amenidades das zonas ru- rais, ou de imponentes selvagens, apresentando per- sonagens idealizados pela imaginação romântica com os quais o leitor se identificava, vivendo a realidade que lhes convinha. Cronologicamente, o primeiro romance brasi- leiro foi O filho do pescador, publicado em 1843, cu- jo autor é Teixeira e Sousa (1812-1881). Sua trama é confusa e há sentimentalismo exa- cerbado. Em 1844, publicou-se A moreninha, de Joa- quim Manuel de Macedo, e, pela aceitação obtida junto ao público, convencionou-se adotar esse ro- mance como o primeiro representativo da prosa bra- sileira. Feições gerais da prosa romântica: � História de amor ligado a casamento; � Pintura dos caracteres e costumes da socie- dade (normalmente a burguesia carioca); � Tensão dramática baseada no choque de classes sociais; � Tentativa de fusão da fantasia com a reali- dade; � Presença idealizada da mulher, quase sem- pre intocável e pura; � Tendência para o romance histórico. Vejamos alguns autores que se dedicaram à prosa urbana: a) Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882): foi o escritor da classe média carioca em oposição à aristocracia rural. Seus romances retrataram os cos- tumes da sociedade, suas festas e tradições, com cará- ter documental, estilo fluente e leve, em linguagem simples; as tramas envolviam intrigas de amor e mis- tério em final vitorioso e feliz, os personagens eram jovens estudantes idealizados, moçoilas casadoiras, ingênuas e puras. Além de A moreninha, destacam-se também O moço loiro, A luneta Mágica, Os dois a- mores, O cego, O forasteiro, O fantasma branco e ou- tros. b) Manuel Antônio de Almeida (1831-1861): abandona a visão da burguesia urbana para retratar o povo em toda a sua simplicidade. Publica as Memó- rias de um Sargento de Milícias, que é o documento da época de D. João VI no Brasil, em que surgiram as transformações da mentalidade colonial para a vida da Corte. Nesta obra, não há somente relato de cos- tumes, mas juízo de valor sobre eles, percebe-se do autor uma preocupação em datar e localizar os acon- tecimentos. O personagem principal pode ser encara- do como herói picaresco que foge ao padrão romântico de bom moço, já que é oriundo da classe popular. Por essas características, alguns estudiosos consideram-no pré-realista, mas apresenta aspectos marcantes do romantismo, como o estilo folhetinesco e a linguagem frouxa, por vezes descuidada, além do final feliz tipicamente romântico. c) José Martiniano de Alencar (1829-1877): aparece na literatura brasileira como o consolidador do romance. Sua obra retrata suas posições políticas e sociais; era conservador, monarquista, escravocrata, proprietário rural, nacionalista. Transparece, em seus livros, a tentativa de fazer um painel do Brasil, co- brindo-o de Norte a Sul, o litoral e o sertão, o presen- te e o passado, o urbano e o rural, numa linguagem “brasileira”. Por essa diversidade temática, pode-se dividir sua obra em cinco categorias: romances urba- nos ou de costumes, romances históricos; romances regionais; romances rurais; romances indianistas. Em seus romances urbanos, ou de costumes, além de retratar a sociedade carioca na época do rei- nado de D. Pedro II, Alencar aponta alguns aspectos negativos da vida urbana e dos costumes burgueses. As tramas giram em torno de intrigas de amor e desi- gualdade econômico-social entre os amantes, em que até pode-se encontrar certa crítica a respeito dos valo- res burgueses; porém a mensagem final é a mesma: o amor sempre triunfa e, de preferência, a felicidade vem associada ao poder econômico. São exemplos de romances urbanos, ou de costumes, de José de Alen- car: Cinco minutos, A viuvinha, Sonhos d’ouro, En- carnação e os três perfis de mulher: Lucíola, Diva e Editora Exato 8 Senhora. Romances Indianistas: O guarani, Iracema e Ubirajara. Romances Regionalistas: O sertanejo e O gaú- cho. Romances Rurais: “Til” e O tronco do Ipê. 5. PROSA REGIONALISTA E INDIANISTA O romance brasileiro do século XIX também ex- plorou a temática regionalista e indianista. Abai- xo, citamos alguns autores dedicados ao romance regionalista e voltamos a José de Alencar que ex- plorou,além do regionalismo, o indianismo. a) Joaquim da Silva Bernardo Guimarães (1825-1884): participou do grupo “mal do século” a que pertencia Álvares de Azevedo, mas, depois, reti- rou-se para o interior e produziu obras enfocando a natureza e os conflitos sociais. Seus personagens esti- lizados representam a própria temática de seus livros; eram eles o sertanejo, o mestiço, o garimpeiro, o pa- dre do interior, o estudante de seminário, o índio e a escrava, todos contextualizados na região de que pro- vinham. São suas obras: A escrava Isaura, O garim- peiro, O seminarista, O ermitão de Munquém, Maurício e Jupira. b) João Franklin da Silveira Távora (1842- 1888) retratou figuras típicas do nordeste, como o vaqueiro, o matuto, o cangaceiro, seu modo de vida, sua psicologia e a paisagem em que se inseriam. Tem sua importância confirmada por criar o romance re- gionalista nordestino, em busca de uma literatura na- cional com feitos heróicos, tradição e poesia próprios. Seus títulos são: O cabeleira, Lourenço, O matuto e Um casamento no Arrabalde (novela). c) Alfred d’Escragnolle Taunay - Visconde de Taunay (1843-1899) foi militar, participou da Guerra do Paraguai. Com Inocência, marca o limite entre Romantismo e Realismo, pois, apesar de sua concepção do amor ser romântica, percebe-se, já, a profundidade psicológica e proximidade com o real em suas descrições; a heroína sofre por amor e morre, sem concretizá-lo, o que destoa dos finais românticos tradicionais, desta feita, alguns estudiosos julgam-no pré-realista. Também escreveu: Manuscrito de uma mulher, Ouro sobre azul, A mocidade de Trajans, Amélia Smith. Como já ressalvamos, analisaremos as outras categorias do romance de José de Alencar, além do romance urbano ou de costumes. As obras regionalistas de Alencar: O sertanejo e O gaúcho mostram o relacionamento entre o ho- mem e o meio físico. Na paisagem nordestina, nota- se o autor mais desenvolto e próximo ao real, conhe- cedor da região e do homem. Já na região sul, há ide- alização e falhas na descrição do ambiente, fruto do desconhecimento. A sua tentativa de fazer um “pai- nel” do Brasil não o desvia da idealização dos perso- nagens, que são moldados sob o conceito do “bom selvagem”. A categoria dos romances rurais não dispensa o caráter regionalista, mas são obras voltadas para o meio rural, ambientadas em fazendas do interior de São Paulo e norte do Rio de Janeiro. Til e O tronco do Ipê encaixam-se nesta classificação. Mas foram os romances indianistas que trouxe- ram maior popularidade a Alencar: O guarani, Irace- ma e Ubirajara. Neles, o autor defende a troca de favores entre o nativo e o europeu colonizador: o primeiro oferecia a natureza virgem, o solo esplêndi- do, o segundo, a cultura. Da soma desses fatores, re- sultaria o Brasil independente, novo povo, fruto da convivência entre colonizadores e colonizados. Po- rém, nesta relação, Alencar deixa transparecer as re- lações medievais entre o branco e o índio, respectivamente, senhor e vassalo. Além do indianismo, que reflete o nacionalis- mo e a exaltação da natureza pátria, há a preocupação histórica, pois percebe-se a pesquisa do autor em do- cumentos quinhentistas e sobre costumes e lendas in- dígenas. Os personagens indígenas são idealizados, como nos romances europeus: Peri é civilizado, tido como super-herói de romances europeus medievais de cavalaria; Iracema é o símbolo do primeiro nativo em contato com o branco colonizador e dela nasce o primeiro brasileiro fruto desse amor, de acordo com a lenda do surgimento do Ceará. Ubirajara é o índio em seu estado mais puro e idealizado. ESTUDO DIRIGIDO 1 Leia o texto para responder aos itens. Soneto Perdoa-me, visão dos meus amores. Se a ti ergui meus olhos suspirando!.. Se eu pensava num beijo desmaiando Gozar contigo a estação das flores! De minhas faces os mortais palores. Minha febre noturna delirando. Meus ais, meus tristes ais vão revelando Que peno e morro de amorosas dores.. Morro, morro por ti! na minha aurora A dor do coração, a dor mais forte. A dor de um desengano me devora. Sem que última esperança me conforte. Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora Morte no coração, nos olhos morte! a) Podemos afirmar que, nesse soneto, reconhe- cemos duas constantes da obra de Álvares de Azevedo: a idealização da mulher, sempre ina- cessível ao poeta, e a angústia da morte. Editora Exato 9 Transcreva passagens do texto que justifiquem essa afirmação. __________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ b) Que passagem do texto especifica a causa da morte do poeta? ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ c) Em uma das estrofes, ocorre uma figura de es- tilo chamada antítese que consiste na aproxi- mação de idéias contrárias com o objetivo de destacar essa oposição ou contraste. Transcre- va essa passagem. ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ d) Por que esse soneto pode ser considerado um exemplo da tendência ultra-romântica? __________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ EXERCÍCIOS 1 Leia as seguintes afirmações e julgue os itens: 1111 A segunda geração romântica cultivou uma poesia acentuadamente sentimental e egocên- trica. 2222 O livro Primeiros Cantos, de Gonçalves Dias, é considerado o marco inicial do Romantismo brasileiro. 3333 O Romantismo surgiu inicialmente na Alema- nha e na Inglaterra por volta de 1836. 4444 Álvares de Azevedo e Junqueira Freire são po- etas ultra-românticos. 5555 O Indianismo é a única linha temática que foi bastante explorada por todas as gerações ro- mânticas. 2 Entre as alternativas a seguir, marque a que me- lhor define o tipo de humor explorado pelo poeta na estrofe aqui transcrita. “Coração, por que tremes? Vejo a morte, Ali vem lazarenta e desdentada... Que noiva! ... E devo então dormir com ela? Se ela ao menos dormisse mascarada!” a) humor negro, cético, em que zomba de sua própria dor. b) sátira, com o propósito de reformar determina- da situação. c) humor colérico, aplicado com o intuito de iro- nizar, castigar. d) espírito de troça, pilhéria para divertir e provo- car riso nos leitores. e) oposição entre o racional e o irracional, a pon- to de deturpar as formas naturais. 3 (CESUPA) O assunto desta questão é o Roman- tismo em terras brasileiras. Leia as alternativas com atenção e assinale a correta: Gonçalves Dias e Castro Alves viveram, respec- tivamente, a experiência romântica, nas fases in- dianista e condoreira. O primeiro, envolvido por um sentimento apaixonado, amou o Brasil e a na- tureza de sua terra. O segundo lutou pelas causas sociais que lhe pareceram mais justas e, em al- guns momentos, aproximou-se da estética parna- siana. Os dois, contudo, igualam-se no instante em que abrem o coração e deixam a emoção falar mais alto. Mesmo que Gonçalves dias tenha, nes- se aspecto, sonhado situações que Castro Alves colocou em prática. a) O comentário sobre os dois poetas é absoluta- mente correto e não há reparos de caráter lite- rário a serem feitos. b) No que diz respeito a Castro Alves está tudo certo. O problema é que as afirmativas sobre Gonçalves Dias são incorretas. c) Sobre Castro Alves, há imprecisões, que dei- xam de existir quando o assunto é Gonçalves Dias. d) O texto é impreciso e ambíguo, não deixando ao leitor possibilidade de exercer juízo crítico. e) O texto comete dois erros graves: o primeiro, quando afirma que ambosforam românticos: o segundo, quando afirma que Castro Alves teria se aproximado do Parnasianismo. 4 Tomadas em conjunto, as obras de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves de- monstram que, no Brasil, a poesia romântica a) pouco deveu às literaturas estrangeiras, conso- lidando de forma homogênea a inclinação sen- timental e o anseio nacionalista dos escritores da época. b) repercutiu, com efeitos locais, diferentes valo- res e tonalidades da literatura européia: a dig- nidade do homem natural, a exacerbação das paixões e a crença em lutas libertárias. c) constituiu um painel de estilos diversificados, cada um dos poetas criando livremente sua lin- guagem, mas preocupados todos com a afirma- ção dos ideais abolicionistas e republicanos. Editora Exato 10 d) refletiu as tendências ao intimismo e à morbi- dez de alguns poetas europeus, evitando ocu- par-se com temas sociais e históricos, tidos como prosaicos. e) cultuou, sobretudo, o satanismo, inspirado no poeta inglês Byron, e a memória nostálgica das civilizações da Antigüidade clássica, represen- tadas por suas ruínas. 5 Com relação ao Romantismo e seus autores, jul- gue os itens: 1111 O índio, presente na literatura romântica, não é um ser idealizado. 2222 “Lira dos vinte Anos” reúne grande parte da melhor poesia lírica de Casimiro de Abreu. 3333 “Harpas Selvagens” nos mostra expressivos momentos da poesia indianista de Gonçalves Dias. 4444 Os poetas do ultra-romantismo desenvolveram várias características, exceto a obsessão pela morte. 5555 Álvares de Azevedo encarna a melhor poesia ultra-romântica exercitada no Brasil. 6666 “Senhora” e “Lucíola” são obras em que José de Alencar estudou os chamados “perfis femi- ninos”. 7777 Servindo-se do romance histórico, José de A- lencar recriou, literariamente, alguns fatos de relevância nacional. 8888 Castro Alves faz da poesia um grito de protes- to ou de reivindicação. 6 (UFPR) Qual das informações sobre José de A- lencar é correta? a) Alencar inaugurou a ficção brasileira com a publicação de sua obra Cinco Minutos. b) Alencar foi um cronista que soube conciliar um romantismo exacerbado com certas reminis- cências do Arcadismo, manifestas, principal- mente, na linguagem clássica. c) Alencar, apesar de todo o idealismo romântico, conseguiu, nas obras Lucíola e Senhora, captar e denunciar certos aspectos profundos, recal- cados da realidade social e individual, onde podemos detectar um pré-realismo ainda inse- guro. d) A obra de Alencar, objetivando atingir a Histó- ria do Brasil e a síntese de suas origens, volta- se exclusivamente para assuntos indígenas e regionalistas, sem incursões pelo romance ur- bano. e) O indianismo de José de Alencar baseou-se em dados reais e pesquisa antropológica, apresen- tando, por isso, uma imagem do índio brasilei- ro sem deformações ou idealismo. 7 (FATEC) Assinale a alternativa INCORRETA. a) O que se conhece como condoreirismo é poe- sia de vertente social, defendendo ideais em favor de fatos históricos como a Proclamação da República, a industrialização e abolição da escravatura, entre outros. b) “Metamos o martelo nas teorias, nas poéticas e nos sistemas. Abaixo este velho reboco que mascara a fachada da arte! Nada de regras nem de modelos!” (Victor Hugo). As palavras do poeta caracterizam a postura romântica de rompimento dos princípios e regras clássicas no nível estético, principalmente. c) O sertanismo representa, no quadro do movi- mento romântico, a mais alta expressão da bra- silidade, abolindo o artificialismo das personagens e do próprio conteúdo romântico. d) Destacado como responsável pela ampliação da faixa de público no período romântico, o romance incorporou ao universo literário situ- ações e personagens até então distanciadas desse universo. e) “Verdes mares bravios da minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes de carnaúba.” O parágrafo inicial de Iracema, de José de A- lencar, mostra uma atitude romântica marcante nesse romance; a valorização do elemento na- cional, do colorido local. 8 (CEAP) “Ela embebeu os olhos do seu amigo e lânguida reclinou a loura fronte. O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face. Fez-se no semblante da virgem um ninho de cas- tos rubores e lânguidos sorrisos: os lábios abriram como as asas púrpuras de um beijo saltando o vôo. A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fu- gia... E sumiu-se no horizonte...” O Guarani – José de Alencar Qual das afirmações seguintes não encontra cor- respondência no trecho final do romance “O Gua- rani”, acima transcrito? a) “Extinto pelo dilúvio (a tempestade) o passado dos dois jovens (Peri e Cecília), superam-se as relações de vassalagem que havia entre ambos. Bem como se superam as diferenças sociais e culturais”. b) No final do romance, o amor de Peri por Cecí- lia permanece vassalo, fraterno, platônico. c) A bela união amorosa entre Peri e Cecília, su- gerida por Alencar, simboliza a origem da raça brasileira. d) A rica adjetivação, a comparação, a metáfora e a prosopopéia são traços estilísticos da prosa alencarina, presentes no texto. Editora Exato 11 e) O heroísmo do índio Peri salvando Cecília re- flete, no romance, a teoria do “bom selvagem”. 9 (UFAL) Assinale C ou E: 1111 Dos mais ricos, esse período literário floresceu no século das Luzes, impulsionado pelos sen- timentos nativistas e pela indignação dos brasi- leiros contra o domínio português. 2222 A prova maior de que a literatura desse perío- do foi marcada pelo forte sentimento naciona- lista é a obra daquele grande escritor, na qual os temas indianistas e regionalistas alternam-se com os retratos urbanos, tudo configurando um projeto estético a serviço da representação de nossas múltiplas realidades. 3333 Gonçalves Dias e seu indianismo; Álvares de Azevedo e seu intimismo; Castro Alves e seu abolicionismo: eis, pela ordem de aparição, as três poesias representativas do esforço máximo dos poetas do período em explorar as ricas ver- tentes da arte romântica. 4444 Esses novos escritores serão, na sua obra, me- nos atormentados que seus antecessores barro- cos; sem perder a impregnação religiosa nem o respeito à monarquia, vão-se preocupar com assuntos mais imediatos e concretos, como a prática da virtude civil, a busca da harmonia social pela obediência às leis da natureza, a procura da felicidade na terra. 5555 Os traços de relevo dessa escola literária são o gosto da descrição nítida, as concepções tradi- cionalistas sobre metro, ritmo e rima e, no fun- do, o ideal de impessoalidade que compartilhavam com os realistas do tempo. GABARITO Estudo Dirigido a) Espera-se que os alunos percebam que a mu- lher é descrita como uma “visão”, como um ser superior a quem o poeta “ergue” os olhos sus- pirando. E o poeta morre “de amorosas dores” porque não consegue realizar o desejo expres- so na primeira estrofe: “Se eu pensava num beijo desmaiando / Gozar contigo a estação das flores!”. b) A morte provocada por um desengano amoro- so aparece claramente expressa no verso: “Que peno e morro de amorosas dores...” e em toda a terceira estrofe. c) “Eu – que outrora vivia! – eu sinto agora / Morte no coração, nos olhos morte!”. d) Porque nele transparece a poesia emotiva e sentimental, típica dessa tendência, com o poe- ta fechado em seu mundo interior, lamentando a impossibilidade de realização amorosa. Exercícios 1 C, E, E, C, E 2 E/D/B/C/A 3 A 4 B 5 E, E, C, E, C, C, E, C 6 C 7 C 8 B 9 E, C, C, C, E
Compartilhar