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1 Os exames complementares são uma parte essencial da prática médica atual. Embora os exames laboratoriais representem apenas 2,3% dos custos anuais com assistência à saúde, são muito importantes na tomada de decisão clínica para médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde. Existem mais de 4.000 exames laboratoriais disponíveis para uso clínico e cerca de 500 são realizados com regularidade. A equipe que trabalha nos laboratórios de análises clínicas engloba patologistas, biomédicos, tecnólogos e técnicos de laboratório. Estes profissionais têm uma participação vital no sistema de saúde. O sistema de saúde depende cada vez mais de laboratórios de análises clínicas fidedignos, contudo, essas avaliações estão sujeitas a erros. As análises não são apenas a utilização de substâncias químicas e reagentes para determinar as concentrações de vários analitos para fins de diagnóstico clínico. Um problema comum é a interferência endógena e exógena. Estes fatores interferentes comprometem muito a interpretação apropriada dos resultados, e esta intromissão interfere na assistência prestada ao paciente e aumenta os custos da assistência de saúde. Seria muito ingênuo concluir que cada variável provoca sempre um efeito específico. Na verdade, o efeito depende da pessoa, da duração da exposição a cada variável e ao intervalo de tempo entre o estresse inicial, à coleta da amostra e ao grau de exposição. É crucial a conscientização de que muitos fatores que ocorrem fora do laboratório de análises clínicas, seja no paciente ou em torno dele, influenciam o resultado do exame antes de a amostra chegar ao laboratório ou até mesmo antes da coleta da amostra. Esses fatores podem ser minimizados quando o profissional de saúde faz uma boa anamnese e se existe uma boa comunicação dessas informações entre o profissional de saúde e o laboratório. PROVAS DE FUNÇÃO HEPÁTICA Principais exames utilizados • TGO (transaminase glutâmico-oxaloacética) ou AST (aspartato aminotranferase) • TGP (transaminase glutâmico-pirúvica) ou ALT (alanina aminotransferase) • GGT ou GAMA-GT (gamaglutamiltransferase) • FA ou fosfatase alcalina • Bilirrubina total e frações • Albumina • TP Transaminases ou Aminotransferases A atividade enzimática tem sido usada como indicadora de dano hepatocelular. A aspartato aminotransferase (AST ou TGO) está presente em vários órgãos além do fígado, incluindo coração e músculos, enquanto a alanina aminotransferase (ALT ou TGP) encontra-se basicamente no fígado. Oitenta por cento da AST dos hepatócitos é mitocondrial, enquanto a ALT é citoplasmática. Essa diferença tem auxiliado no diagnóstico e prognóstico de doenças hepáticas. Nos danos hepatocelulares leves, a forma predominante no soro é a citoplasmática; nas lesões graves, há liberação de enzima mitocondrial, elevando a relação AST/ALT. Essa relação costuma ser menor que 1 em pacientes com dano hepatocelular agudo. Mas é alta em doença alcoólica hepática, freqüentemente maior do que 1 na cirrose não-alcoólica. A elevação crônica dessas enzimas em pacientes assintomáticos pode ter várias causas, incluindo uso de álcool e medicamentos, hepatite viral crônica ou doença gordurosa não-alcoólica do fígado. Transaminase pirúvica – TGP É uma enzima intracelular, presente em grandes quantidades no fígado e no rim, e em pequenas quantidades na musculatura esquelética e no coração. INTERPRETAÇÃO DE EXAMES PROVAS DE FUNÇÃO HEPÁTICA Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 2 Como teste de função hepática, a ALT é mais sensível para detecção de danos do hepatócito do que para a obstrução biliar, considerada um excelente marcador hepatocelular. Encontram-se níveis elevados na hepatite infecciosa e tóxica, doença pancreática, mononucleose, cirrose, icterícia obstrutiva e carcinoma metastático. Em pacientes com infarto do miocárdio, a ALT geralmente está normal ou ligeiramente elevada. Entretanto, insuficiência cardíaca ou choque com necrose hepática concomitante pode fazer subir seus níveis. SINONÍMIA: Alanina aminotransferase (ALT). Valores de referência: Feminino: até 31U/L. Masculino: até 41U/L Transaminase oxalacética – TGO Enzima encontrada no miocárdio, fígado, musculatura esquelética, rim e cérebro, a dosagem de seus níveis auxilia no diagnóstico de doenças cardíacas, hepáticas e musculares. No infarto do miocárdio, sua atividade eleva- se nas primeiras 12 horas, atingindo um pico em 24 horas retornando ao normal por volta do quinto dia. Pequenas elevações são observadas durante a gravidez. Aumenta de forma significativa na necrose hepática, anemias hemolíticas, pancreatite aguda, cirrose hepática, hepatites, icterícia obstrutiva, mononucleose, hipotireoidismo, trauma e infarto cerebral, dermatomiosites, queimaduras severas, distrofias musculares, lesões da musculatura esquelética, cateterismo e angioplastia cardíaca. Inúmeras drogas comumente usadas podem elevar os níveis de AST (isoniazida, eritromicina, progesterona, esteróides anabólicos etc.), o que a torna útil na monitoração de terapias com substâncias hepatotóxicas. SINONÍMIA: Aspartato aminotransferase (AST). Valores de referência: Feminino: até 32 U/L. Masculino: até 38 U/L. Não esperar grandes aumentos de transaminase na cirrose, em virtude do parênquima destruído, logo, tem-se menor síntese das transaminases, logo pouca reserva para se elevar em caso de destruição celular! Desidrogenase láctica A desidrogenase láctica (LDH) pertence a uma classe de enzimas que catalisam reações de oxirredução e são amplamente distribuídas em todos os tecidos humanos. A LDH é uma enzima tetramérica, com pequenas diferenças dependendo de sua origem. Os mamíferos possuem basicamente duas cadeias protéicas que compõem a LDH: o tipo M (ou A) e o tipo H (ou B), que formam cinco isoenzimas, dependendo da combinação entre elas: H4, MH3, M2H, M3H e M4. De acordo com sua mobilidade eletroforética (do ânodo para o cátodo), essas isoenzimas são denominadas LDH1, LDH2, LDH3, LDH4 e LDH5, respectivamente. A LDH tem localização citoplasmática e seu aumento sérico ocorre após lise celular. As isoenzimas da LDH existem em diferentes proporções nos diferentes tecidos. No músculo cardíaco, rim e eritrócitos, predominam a LDH1 e a LDH2, enquanto as isoenzimas LDH4 e a LDH5 são as formas dominantes no fígado e no músculo esquelético. Já que as concentrações da LDH dentro das células são cerca de 500 vezes maiores do que no soro, qualquer aumento na atividade da LDH no sangue sugere lesão tissular, e a fração isoenzimática predominante identifica o órgão de origem. Após lesão aguda do miocárdio, as atividades séricas da CK e da CK-MB elevam-se antes do aumento da LDH. Presente no miocárdio, a LDH1 freqüentemente acompanha a atividade da LDH total, elevando-se entre oito e 12 horas após o início da dor precordial e atingindo seu pico entre 24 a 72 horas. Como a LDH e suas isoenzimas estão presentes em todos os tecidos, na suspeita de IAM torna-se necessário o diagnóstico diferencial com outras patologias ocasionadas por injúria tecidual, como infarto renal agudo, infarto mesentérico, neoplasias, hemólise aguda, hipotireoidismo, pancreatite e pneumonia, entre outras. 3 Observada em lesões hepatocelulares de modo geral (menos expressiva do que TGO e TGP). Útil na diferenciação entre hepatite aguda viral e lesão causada por isquemia ou paracetamol. Bilirrubinas séricas A bilirrubina é o produto da quebra da hemoglobina. Depois de formada pelo sistema reticuloendotelial, ela circula no sangue sob a forma não-conjugada ligada à albumina. Esta fração da bilirrubina chega aos sinusóides hepáticos, nos quais, após conjugação com ácido glicurônico, se transforma em bilirrubina conjugada. A fração conjugada é hidrossolúvel, com afinidadepor tecidos elásticos, e desta forma pode ser eliminada pelo rim. A bilirrubina conjugada é também excretada pelos canalículos hepáticos no intestino delgado. Parte dela é desconjugada no intestino e transformada em estercobilinogênio pela flora bacteriana, com eliminação pelas fezes. Entretanto, o estercobilinogênio pode também participar do ciclo entero-hepático, ou ainda escapar da captação hepática e ser excretado pelo rim como urobilinogênio. Níveis elevados de bilirrubina sérica total, geralmente acima de 2,5mg/dL, causam icterícia clínica, caracterizada pela cor amarelada da pele e mucosas. O método mais amplamente difundido para dosagem de bilirrubina total utiliza um reagente “diazo”, que produz uma reação colorida, que pode ser medida espectrofotometricamente. A bilirrubina conjugada reage diretamente com o “diazo”, sendo por isso denominada bilirrubina “direta”. Por necessitar de um catalisador para auxiliar na reação, a bilirrubina não-conjugada é chamada “indireta”. Nos quadros de hiperbilirrubinemia, a investigação diagnóstica deve considerar se predomina a fração conjugada ou a não-conjugada. A bilirrubina total pode estar elevada em várias patologias, sendo as mais comuns as hepatopatopatias e as hemoglobinopatias. Os valores de bilirrubina total em recém-nascidos variam com o tempo e com o estado de maturidade. Mesmo em recém-natos a termo há uma elevação fisiológica nas primeiras 48 horas de vida, seguida por uma queda desses níveis entre o 3° e 5° dias. Recém-nascidos podem ter hiperbilirrubinemia devido à icterícia fisiológica, deficiência de G6PD, reabsorção de hematomas, infecções congênitas (toxoplasmose, sífilis, citomegalovírus, rubéola), anemias hemolíticas e por patologias menos freqüentes, como galactosemia e hipotireoidismo congênito. 4 ICTERÍCIA A icterícia refere-se a coloração amarelada do tegumento, das escleras e dos tecidos mais profundos, associada a condições caracterizadas pela excreção aumentada de pigmentos biliares, cujos níveis estão aumentados no plasma Fisiologia A bilirrubina sérica acumula-se quando sua produção a partir do heme excede seu metabolismo e sua excreção. Ocorre desequilíbrio entre a produção e a depuração da bilirrubina sérica, em consequência da liberação excessiva de bilirrubina na corrente sanguínea, ou devido a processos fisiológicos que comprometem a captação hepática, o metabolismo e a excreção desse metabólito. A icterícia torna-se clinicamente detectável quando o nível sérico de bilirrubina ultrapassa 2,0 a 2,5 mg/dl. Como a elastina apresenta alta afinidade pela bilirrubina, e o tecido da esclera é rico em elastina, a icterícia da esclera normalmente constitui um sinal mais sensível do que a icterícia generalizada. Fosfatase alcalina É uma enzima com ótima atividade in vitro, em pH próximo de 10, presente em muitos tecidos, particularmente no epitélio intestinal, túbulo renal, osteoblastos, fígado e placenta. A forma presente no soro de adultos normais origina-se principalmente no fígado e no esqueleto e é acentuadamente dependente da idade. Sua função precisa no metabolismo ainda não está de todo compreendida; parece estar associada ao transporte lipídico no intestino e a processos de calcificação óssea. Sua dosagem é de interesse na investigação de doenças hepatobiliares e ósseas, associadas à hiperatividade osteoblástica. Observam-se níveis elevados de fosfatase 5 alcalina na doença de Paget; e mulheres no terceiro trimestre de gravidez podem apresentar aumentos em torno de duas a três vezes do intervalo normal, devido à adicional fração placentária. Na osteomalacia, pode-se encontrar aumentos moderados, que diminuem lentamente em resposta à terapia por vitamina D. Visto elevar-se em metástases ósseas e do fígado, esta enzima pode funcionar como marcador tumoral. Quando expostas a altas temperaturas, a resposta de suas frações pode ser mais um auxílio na identificação de suas isoenzimas. Isoenzimas da fosfatase alcalina: São isoformas com considerável heterogeneidade inter e intratecidual, mas raramente encontram-se mais do que duas ou três formas no soro sangüíneo. Provenientes de diversos tecidos, apresentam características de acordo com a forma específica presente no fígado, nos ossos, no intestino e na placenta. Assim, pelo estudo pode-se conhecer a origem da elevação. Também podem ser encontradas outras isoenzimas patológicas, como Regan e Nagao, que aparecem em processos neoplásicos. Pacientes dos grupos sangüíneo O ou B, secretores Lewis positivo, podem apresentar elevação da fração intestinal. As formas predominantes normalmente encontradas no soro são isoformas hepática e óssea. A fosfatase alcalina total e óssea acompanham a velocidade de crescimento da estatura da criança e dos adolescentes. Tem pico máximo entre os seis meses e um ano, e posteriormente na adolescência. Gama-glutamil-transpeptidase ou Gama-glutamil- transferase – γGT (GGT) É uma enzima originada principalmente do sistema hepatobiliar, com a função de transferir o ácido glutâmico através das membranas celulares. Eleva-se em especial nas colestases intra ou extra-hepáticas. Nas neoplasias hepáticas primárias ou nas alterações do parênquima hepático por metástases, a γGT encontra-se freqüentemente alta. O uso agudo ou crônico de álcool também pode ser diagnosticado pela dosagem desta enzima hepática, que se eleva em pelo menos duas vezes o seu valor de referência após a ingesta. A liberação da γGT no soro reflete o efeito tóxico do álcool e de outras drogas na estrutura microssomal nas células hepáticas. Anticonvulsivantes, como fenitoína, fenobarbital e ácido valpróico, induzem seu aumento sérico. Sua elevação sérica sugere efeito tóxico do álcool e drogas (deve-se afastar as outras causas de elevação!) • Eleva-se em neoplasias primárias ou metastáticas. Valores de referência: 8 a 41 U/L (♀) e 12 a 73 U/L (♂). Albumina sérica Sua dosagem serve para avaliação do status nutricional, síntese hepática e perda renal do paciente. Índices abaixo de 1,5 g/dL são considerados alarmantes. E manifestações de edema aparecem com níveis séricos entre 2g/dL e 2,5g/dL. Os valores decrescem gradativamente com a idade. 6 Tempo e Atividade da Protrombina O tempo está prolongado nas deficiências de fatores VII, V, X, II (protrombina) e I e na presença de alguns tipos de anticoagulantes circulantes; em pacientes com doença hepática grave, em condições que alterem a absorção, síntese e o metabolismo da vitamina K; e em pacientes com hipofibrinogenemia. Como havia uma importante variação de resultados nos tempos de protrombina entre os laboratórios, pelo uso de reagentes e equipamentos de diversas origens e tecnologias, a Organização Mundial de Saúde, o Comitê Internacional de Trombose e Hemostasia e o Comitê Internacional para Padronização em Hemostasia recomendaram a utilização do ISI (International Sensibility Index) e a conversão dos resultados obtidos em INR (International Normalized Ratio). O INR (International Normalized Ratio) corresponde ao valor proporcional entre o TP do paciente e o do padrão em relação ao ISI. O ISI (International Sensibility Index) é o valor fornecido pelo fabricante da tromboplastina, resultante da adaptação de seu material em relação a um padrão internacional e aos diferentes equipamentos utilizados. O ISI permite, portanto, obter tromboplastinas padronizadas, através da conversão em relação a um único padrão internacional, independentemente da origem de fornecimento e do equipamento utilizado. O resultado do tempo de protrombina expresso sob a forma do INR (International Normalized Ratio), usa o ISI, fornece uma padronização e possibilita melhor correlação de resultados entre laboratórios e melhor controle da terapia com anticoagulantes orais. INDICAÇÕES:Triagem de defeitos da coagulação. Acompanhamento do uso de anticoagulantes orais (dicumarínicos) e de pacientes com hepatite e/ou cirrose. 7 8 Fibrinogênio É uma glicoproteína presente no plasma e sintetizada no fígado, formada por três diferentes pares de cadeias polipeptídicas, ligadas por pontes dissulfeto, que, sob a ação da trombina, formam fibrinopeptídeos A e B. Tem 9 vida média de três a cinco dias. Condições que podem aumentar sua concentração plasmática: – Doenças inflamatórias agudas ou crônicas; – Síndrome nefrótica; – Doenças hepáticas/cirrose; – Gravidez ou estrogenoterapia; – Coagulação intravascular compensada. Condições que podem diminuir sua concentração plasmática: – Coagulação intravascular aguda ou descompensada; – Doença hepática avançada; – Terapia com L-asparaginase; – Terapia com agentes fibrinolíticos (estreptoquinase, uroquinase e ativadores de plasminogênio tissular). Na disfibrinogenemia congênita, os indivíduos afetados podem ser assintomáticos ou apresentar episódios esporádicos de sangramento. A deficiência adquirida pode ocorrer em associação com doença hepática ou renal.
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