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1 MINUTA COMENTADA DE PETIÇÃO INICIAL DA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca do Cabo de Santo Agostinho – PE.1 NOME DA AUTORA, sociedade anônima, inscrita no CNPJ sob o nº 00.000.000/0001 – 00, com sede na Rua 07, Quadra 12, Bloco J, Brasília – DF, através de seus representantes legais, por seus advogados infra-assinados, conforme instrumento procuratório anexo,2 com endereço na Rua 21, nº 22, no bairro da Boa Viagem, município do Recife, capital do Estado de Pernam- buco, local onde receberão as intimações que se fizerem necessárias, com fun- damento nos arts. 554 e ss. do CPC e nas disposições contidas na lei material, vem, por meio desta, propor. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE contra os invasores da área correspondente a 100 (cem) hectares, encra- vada na propriedade denominada ENGENHO MASSAUAPÉ, com exceção do Sr. JOÃO DA SILVA, do proprietário do BAR _____ e do proprietário do BAR ______, réus nas ações de reintegração de posse nºs 000.2007.000000 – 0, 000.2007.000000 – 0 e 000.2007.000000 – 0, respectivamente, em curso por esse MM. Juízo, a serem identificados e qualificados por ocasião do aperfeiço- amento da citação e do comparecimento dos réus em juízo,3 de acordo com 1 1º comentário doutrinário – competência: A ação possessória envolvendo bem imóvel deve ser proposta perante o foro de situação da coisa, de acordo com o § 2º do art. 47 do CPC, sendo hipótese de competência absoluta, inderrogável pela vontade das par- tes. O descumprimento da regra processual autoriza o magistrado a reconhecer a in- competência de ofício, remetendo os autos ao juízo competente. 2 2º comentário doutrinário – documentos obrigatórios: A procuração é documento es- sencial ao ajuizamento da ação possessória (bem assim, de toda e qualquer ação). O art. 104 permite que o autor proponha a ação sem juntar a procuração à petição ini- cial, em casos de urgência, comprometendo-se a juntá-la nos 15 dias seguintes, pror- rogáveis por mais 15, por despacho do magistrado. 3 3º comentário doutrinário – nome e qualificação dos réus: Embora a identificação (com a qualificação) dos réus seja um dos requisitos da petição inicial (inciso II do art. 319 do CPC), a doutrina e a jurisprudência permitem que a ação possessória seja ajui- zada contra réus identificados por apelidos, identificados de forma incompleta, iden- tificados apenas pelo prenome etc., sobretudo quando o esbulho ou a turbação é pra- ticado por várias pessoas, acompanhado de agressão, dificultando a identificação pelo autor. Nesse caso, o autor deve solicitar ao magistrado que incumba o oficial de justiça as razões de fato e de direito abaixo aduzidas: DOS FATOS 01. Para comprovar a sua legitimidade e o seu interesse no ajuizamento desta ação, a autora inicialmente se reporta a instrumentos contratuais cele- brados entre a EMPRESA ABC, DEF LTDA., GHI LTDA. (sucessora da DEF) e a JKL LTDA., de compreensão necessária, a fim de que esse MM. Juízo assimile a cadeia de transmissão que resultou a atribuição da posse da área disputada em seu favor. 02. Nesse passo, observamos que esta ação tem por objeto a pretensão de retomada de parte dos 100 (cem) hectares encravados na propriedade de- nominada ENGENHO MASSAUAPÉ, localizada no município do Cabo de Santo Agostinho, mais precisamente na praia de Verde Mar, atrás da extensão de terra na qual foi construído o hotel CONFORTO TOTAL. 03. A área em exame é de propriedade da empresa ABC, que, através de Instrumento Particular de Permissão de Uso de Bem Imóvel lavrado no dia 01.12.1989, a cedeu à empresa DEF LTDA., qualificada como permissionária no instrumento, pelo prazo de 99 (noventa e nove) anos, a contar da assina- tura do comentado contrato. 04. No instrumento de que cuidamos, as partes inseriram as seguintes disposições: “CLÁUSULA SEGUNDA – Declara inicialmente a DEF Ltda., por seu repre- sentante legal antes qualificado e no final assinado: 1) Que pretende im- plantar um Complexo Turístico, no imóvel de sua propriedade, caracteri- zado como sendo: um hotel de luxo, com aproximadamente 215 quartos, três restaurantes, um parque aquático, e condomínio de casas residenciais. Omissis. 3) Que a DEF Ltda. necessitará usar a área de terra da ABC, indivi- dualizada na cláusula primeira deste instrumento, para instalação de equi- pamentos hoteleiros, esportivos e de lazer, inclusive chalés destinados a ve- raneio, como complementação indispensável à implantação do seu com- plexo turístico referido no item 1, desta cláusula segunda, de acordo com o seu projeto aprovado pela ABC.” “CLÁUSULA TERCEIRA – A ABC, possuindo, assim como efetivamente pos- sui, o imóvel acima individualizado na cláusula primeira, inteiramente livre e desembaraçado, por esta e melhor forma de direito, em caráter do encargo de identificar os réus no momento do cumprimento do mandado de cita- ção, diligenciando a prática dos atos relacionados nos §§ 1º a 3º do art. 554 do CPC. irrevogável e irretratável, outorga permissão à DEF, para que esta possa usá-la, para complementação do seu complexo turístico mencionado na Cláusula Segunda, supra, investindo-a na posse plena, mansa e pacífica do imóvel, a partir desta data.” “CLÁUSULA QUINTA – A DEF, diretamente ou através de empresa por ela contratada, se obriga a proceder à restauração, conservação e manutenção dos prédios públicos, equipamentos e monumentos históricos existentes no Parque Metropolitano Armando Holanda Cavalcanti, preservação das suas matas e do meio ambiente, como encargos da permissão, tudo de acordo com o projeto e plano de ação aprovados pela FUNDARPE, os quais, depois de ru- bricados pelas contratantes ficam fazendo parte integrante, vinculados e complementares deste instrumento, como se aqui estivessem, inteiramente transcritos, para todos os fins e efeitos de direito, não podendo ser alterados sem a prévia anuência da ABC, por escrito. Parágrafo primeiro – Além das obrigações previstas no caput desta cláusula, correrão por conta da DEF o pagamento das despesas com vigilância e de todos os impostos e taxas que incidam ou venham a incidir sobre o imóvel objeto da presente permissão de uso, e do Parque Metropolitano João de Deus, a partir desta data, mesmo que lançados e cobrados em nome da SUAPE.” “CLÁUSULA SEXTA – A DEF poderá ceder a terceiros o direito de uso do imóvel descrito na cláusula primeira, total ou parcialmente, desde que ex- pressamente autorizado por ABC. Parágrafo primeiro – Ocorrendo a cessão total dos direitos de uso previstos no caput, as obrigações relativas a todos os encargos de que trata a cláusula quinta e seu parágrafo primeiro serão transferidos para a adquirente, tudo devidamente acordado e autorizado pela ABC, por escrito.” 05. Após a celebração do contrato, na forma prevista na sua cláusula sexta, a GHI LTDA. (sucessora da DEF) cedeu à JKL LTDA. todos os direitos e obrigações pactuadas no instrumento originário, com a anuência da ABC, nos termos do Terceiro Termo Aditivo de Cessão, Sub-rogação de Direitos e de Rer- ratificação de Instrumento Particular de Permissão de Uso de Bem Imóvel cele- brado no dia 01.12.1992, de igual modo juntado a esta petição. 06. Finalizando a cadeia de transmissão, a IPOJUCA JKL LTDA., mais uma vez com a anuência expressa da ABC e por meio do Sétimo Termo Aditivo ao Instrumento Particular de Permissão de Uso de Bem Imóvel, cedeu todos os di- reitos e obrigações que envolvem os 100 (cem) hectares da área encravada na propriedade denominada Engenho MASSAUAPÉ (repita-se, localizada atrás do hotel CONFORTO TOTAL), desta feita à autora, que, desde então (março de 1998), sub-rogou nos direitos de possuidora da área identificada em linhas anteriores, com o mesmo objetivo previsto no instrumento primi- tivo, ou seja: Uso da área para instalação de equipamentos hoteleiros, esportivos e de la- zer, inclusive chalés destinados a veraneio, como complementação indis- pensávelao suporte ao complexo turístico que funciona na região há anos, beneficiando as pessoas da comunidade local, seja através do recolhimento, seja pelo fato de empregar funcionários que residem no entorno. 07. Numa equação de ônus e bônus, a peticionária foi investida não ape- nas no direito de usar a área anteriormente indicada, como também e em con- trapartida, na obrigação de assumir ações envolvendo o Parque Metropoli- tano João de Deus, importando o desembolso de no mínimo R$ 192.000,00 (cento e noventa e dois mil reais) por ano, ou R$ 16.000,00 (dezesseis mil re- ais) por mês, incluindo: – A participação ativa no Conselho Gestor do PMJD (Parque Metropoli- tano João de Deus). – A instalação e a manutenção do núcleo administrativo do PMJD, dis- ponibilizando mobiliário e equipamentos necessários ao seu bom fun- cionamento. – A instalação e a manutenção da equipe administrativa. – A instalação e a manutenção da equipe de vigilância. – A restauração, a conservação e a manutenção dos monumentos histó- ricos existentes no PMJD, a preservação das suas matas e do meio am- biente, respeitado o limite territorial do Parque. 08. Em decorrência da existência de várias instituições direta ou indire- tamente interessadas na preservação do Parque (MINISTÉRIO PÚBLICO ES- TADUAL, ABC, MUNICÍPIO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, AGÊNCIA ________, FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAM- BUCO – FUNDARPE e AGÊNCIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS – CPRH), as deliberações relacionadas à política de manutenção do Parque só foram articuladas no dia 28 de julho de 2014, através da celebração de um TAC – TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA, elaborado por inicia- tiva do Ministério Público Estadual, como percebemos através da simples lei- tura da cópia anexa. 09. Com a efetiva assunção das obrigações que contraiu como contrapar- tida dos direitos relacionados ao exercício da posse sobre a área objeto desta ação possessória, a autora teve a posse efetivamente ratificada em seu favor, nos termos do ofício de nº 391/2014, assinado no dia 26.11.2014, subscrito pelo Diretor Presidente da empresa ABC, do qual extraímos o seguinte trecho: “Diante do exposto, ratifico a transmissão de posse, tendo em vista as razões aqui expostas.” 10. Embora imitida na posse por força de instrumentos contratuais, a pe- ticionária vem enfrentando dificuldades para exercitá-la de forma plena, di- ante das várias invasões ocorridas na área, incluindo pessoas que dela se uti- lizam para o plantio de coco, para a lavoura da cana-de-açúcar, a venda de bebidas e de alimentos em bares com estruturas improvisadas, ou que, sim- plesmente, cercaram pequenas extensões de terra com arame farpado, prepa- rando a edificação de benfeitorias, como se tal circunstância pudesse legiti- mar as posses em exame. 11. Expostos os fatos, a autora busca guarida desse representante do Po- der Judiciário, para afastar a prática citada em linhas anteriores, permitindo o uso pleno da área, para os fins indicados no instrumento primitivo, cele- brado entre a empresa ABC e a DEF, dizendo respeito ao apoio ao empreendi- mento hoteleiro instalado, proporcionando o emprego de pessoas, o uso raci- onal da terra e a paralisação das ações que comprometem a higidez do ecos- sistema, prejudicando não apenas a peticionária, como a coletividade de modo geral. DO DIREITO 12. Com as atenções voltadas para a análise do art. 561 do CPC, percebe- mos que ao autor da ação possessória cabe demonstrar:4 a) O exercício da posse em antecedência à turbação ou ao esbulho. b) A demonstração da consumação da turbação ou do esbulho. c) A data da sua ocorrência. d) A perda (esbulho) ou o molestamento no exercício da posse (turba- ção) após a prática do ato contrário ao direito. 13. Transpondo os requisitos legais para o caso concreto, iniciando pela posse, percebemos que esta foi transferida para a peticionária de forma 4 4º comentário doutrinário – fundamentação da ação possessória: Em qualquer moda- lidade de ação possessória (interdito proibitório, manutenção ou reintegração de posse), o autor deve comprovar o preenchimento dos requisitos relacionados no art. 561, entendidos como específicos, ao lado dos pressupostos de constituição e de de- senvolvimento válido e regular do processo. Além de o preenchimento dos requisitos comprovar o interesse e a legitimidade do autor, serve para fixar o procedimento, de- finindo se a ação tem curso pelo rito especial ou pelo comum, quando a posse do réu datar de mais de ano e dia (posse de força velha). legítima, em cadeia de sucessão que observou todas as cláusulas inseridas no contrato inicialmente celebrado entre a empresa ABC e a DEF. Não obstante a ratificação da posse tenha sido manifestada em novembro de 2014, é evidente que a posse de boa-fé é transmitida com as mesmas características, como dis- põe o art. 1.203 do CC.5 14. Assim, na pior das hipóteses, a posse que a peticionária exerce sobre a coisa em litígio data de 1998, quando, através de contratação legítima, assu- miu alguns poderes inerentes ao domínio, excetuada a possibilidade de alie- nar o bem, exclusiva do seu proprietário, assim qualificado no Cartório de Imóveis competente. 15. O esbulho foi praticado e continua a ocorrer desde novembro de 2014, quando, após a ratificação da transmissão da posse, a peticionária (atra- vés de funcionários) começou a transitar pela área, deparando com a resis- tência manifestada pelos invasores, impedindo o exercício pleno do jus possi- dendi. 16. Embora a autora pudesse propor uma única ação possessória contra todos os invasores (abrangendo os 100 hectares), decidiu ajuizar ações em separado, para facilitar a retomada dos bens, dirigindo esta postulação à área que vem sendo utilizada pelos demais invasores, não abrangendo as áreas ocupadas pelo proprietário do BAR _____, do BAR ____ e pelo Sr. José da Silva, réus dos processos informados em linhas anteriores. Em outro dizer, esta de- manda se qualifica como pretensão residual, perseguindo a desocupação do restante da área que compõe os 100 hectares, situada atrás do empreendi- mento hoteleiro que funciona sob a bandeira CONFORTO TOTAL. 17. A área ocupada pelos réus está perfeitamente delimitada na planta que acompanha esta petição, não se apresentando com edificações de porte, facilitando as indenizações e a consequente desocupação. 18. Para evitar a discussão a respeito do direito (ou não) dos réus de se- rem indenizados pelas benfeitorias que edificaram, a autora antecipa que se compromete a efetuar o pagamento dos valores correspondentes, após levan- tamento a ser procedido por auxiliar nomeado por esse ínclito Juízo, salien- tando que tal conduta não representa a aquiescência em relação à forma e às características das ocupações. 19. Considerando a ciência de todos (constatação a que chegamos por aplicação de uma máxima de experiência) de que a área é de propriedade da empresa ABC, é evidente que a ocupação se revela com traços de má-fé, o que 5 “Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.” (em tese) acarretaria consequências negativas em relação aos possuidores, na forma disposta nos arts. 1.216 e 1.218 do CC, com a seguinte redação: “Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da pro- dução e custeio.” “Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teria dado, estando ela na posse do reivindicante.” 20. Como destacado em linhas anteriores, a peticionária se reserva no direito de não discutir as características das posses nesta ação, sem afastar a possibilidade de fazê-lo em eventuais ações que venham a envolver as mes- mas partes, já que a característicada posse, neste momento, só é importante para definir o direito dos réus de serem indenizados pelas benfeitorias. 21. Nesse aspecto, repita-se, apenas para encurtar o caminho do debate processual, a peticionária se compromete a efetuar o pagamento das indeni- zações, como se a posse estivesse sendo exercitada de boa-fé, solicitando a concessão da tutela provisória, permitindo a apuração imediata dos valores das benfeitorias, após identificação a ser procedida pelo auxiliar que vier a ser nomeado por esse M.M. Juízo, providência seguida do depósito da quantia e da autorização para imissão na posse. 22. As fotografias anexas nos fornecem uma noção do que foi construído (supostamente) pelos réus na área disputada, evidenciando que não estamos diante de edificações de porte, facilitando o pagamento e a remoção do que pu- der ser retirado pelos réus, como espécie de benfeitorias voluptuárias. DA TUTELA PROVISÓRIA6 23. Conforme é do conhecimento desse MM. Juízo, o ajuizamento da ação possessória de força nova credencia o autor no direito de obter liminar, a fim de que seja imitido na posse do bem no início do processo, para tanto, exi- gindo a lei que faça a prova da data da ocorrência da turbação ou do esbulho, 6 5º comentário doutrinário – requisitos exigidos para a concessão da tutela provisória: Doutrina e jurisprudência garantem a concessão da tutela provisória na ação posses- sória de força velha. Para tanto, o autor deve comprovar o preenchimento dos requi- sitos relacionados no art. 300 do CPC (probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo). demonstrando que o exercício da posse pelo réu data de menos de ano e dia. 24. A peticionária não pretende ingressar nessa discussão. Mais uma vez, apenas para facilitar o curso da ação, a autora considera (nesta ação) que os réus se encontram na posse do bem há mais de ano e dia, renunciando ao direito de obter a liminar initio litis, submetendo-se ao preenchimento de requisitos mais hígidos, se comparados aos reclamados para a concessão da liminar. 25. Com as atenções voltadas para a análise dos requisitos dispostos no art. 300 do CPC, percebemos que a concessão da tutela provisória de urgência antecipada está condicionada ao preenchimento de dois requisitos, quais se- jam: a) Probabilidade do direito. b) Perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. 26. Em relação ao primeiro requisito, observamos que a autora produz prova pré-constituída, revelando sua condição de possuidora, de forma legí- tima, evidenciada por instrumentos contratuais datados de quase vinte anos, em respeito ao princípio de continuidade do caráter da posse. Nesse passo, apoiamo-nos em lição doutrinária para demonstrar a legitimidade da posse transferida por força de contrato inter vivos: “Qualquer que seja a natureza da posse, originária ou derivada, examina-se a origem. Entende-se que a posse pode ser obtida por qualquer forma lícita. Pressupõe justa causa, justo título, a abertura da herança na posse dos her- deiros (aquisição causa mortis) e o contrato (inter vivos) na posse do adqui- rente. Na maioria das vezes, teremos um negócio jurídico. Aplicam-se as re- gras que regem os negócios jurídicos em geral e sua respectiva doutrina (arts. 104 a 114; antigo, arts. 81 a 85). Devem ser examinados os requisitos de existência, validade e eficácia do negócio jurídico. Sempre há que se ava- liar se a situação fática de aquisição é permitida pelo ordenamento” (VE- NOSA, Silvio de Salvo. Código Civil Comentado. Direito das coisas. Posse. Di- reitos reais. Propriedade. São Paulo: Atlas, 2003. p. 73). 27. A regularidade das transferências é inquestionável, tendo origem na vontade da empresa titular do domínio, passando por cadeia que sempre con- tou com a anuência da ABC Ltda., de forma expressa, através de assinaturas firmadas em documentos idôneos. 28. Quanto ao perigo de dano, o requisito em exame pode ser fracionado em três partes: a) Na verificação de que a permissão de uso concedida à peticionária é onerosa, exigindo aporte de recursos vultosos, para preservação do Parque João de Deus, resultando o desembolso de no mínimo R$ 192.000,00 (cento e noventa e dois mil reais) por ano. Assim, a per- manência dos réus na posse dos bens impõe prejuízo considerável à autora, que se mantém na obrigação de realizar investimentos para a manutenção do Parque, não usufruindo a contraprestação correspon- dente. b) Na verificação de que a área (como um todo) vem sendo utilizada sem qualquer planejamento, com prejuízo ao meio ambiente, qualificado como direito de todos (direito difuso), na forma disposta no art. 225 da CF.7 c) Na verificação de que a peticionária desenvolveu projeto para ser exe- cutado na área, conforme documentação anexa, o que foi obstado pela permanência dos réus no bem, não permitindo que seja utilizado para os fins previstos no instrumento primitivo (instalação de equipamen- tos hoteleiros, esportivos e de lazer, inclusive chalés destinados a ve- raneio, como complementação indispensável do complexo turístico que ocupa parte da Praia de Suape, como é do conhecimento público). 29. A tutela provisória perseguida desdobra a prática dos seguintes atos: a) A nomeação de avaliador da confiança desse ínclito Juízo, com a in- cumbência de comparecer ao local e de proceder ao levantamento das benfeitorias existentes na área ocupada pelos réus, relacionando-as e quantificando os seus valores. b) A autorização para a efetivação do depósito da importância corres- pondente ao valor das benfeitorias, a ser apurado pelo auxiliar do ju- ízo. c) A proibição, dirigida aos réus, de modificarem os fatos e os elementos do processo, não mais podendo edificar benfeitorias na área. d) A expedição do mandado de imissão na posse, após o depósito do va- lor correspondente às benfeitorias, juntamente com o cumprimento do mandado de citação, se necessário com o auxílio da força policial, com a expressa autorização para que a peticionária seja imitida na posse do bem, ficando os réus proibidos de retornar à coisa, sob pena do pagamento de uma multa diária, pelo descumprimento da 7 “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pú- blico e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” obrigação de não fazer (art. 536 e parágrafos do CPC), arbitrada se- gundo o prudente arbítrio desse M.M. Juízo. DA NECESSIDADE DE IDENTIFICAÇÃO DOS RÉUS 30. Sobretudo em ações possessórias, diante da resistência física do réu de permitir a aproximação do autor do bem em disputa, este se vê em dificul- dades para identificar e qualificar o promovido, situação que merece tutela da doutrina e da jurisprudência, através da autorização para a propositura da ação contra réus incertos e não sabidos, com a pretensão de que sejam iden- tificados no início do processo, após o aperfeiçoamento da citação. 31. Nesse passo, preciso o ensinamento da doutrina: “Se o autor menciona que houve esbulho de sua posse por uma pessoa, ou pessoas, determináveis, ainda que não se dê a qualificação e o nome com- pleto, a inicial não poderá ser indeferida. A sentença se dará entre o autor e essas pessoas determináveis, nada havendo de anormal nestas circunstân- cias” (NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 9. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 989). 32. Pelo fato de a identificação dos réus não ser conhecida da peticioná- ria, repita-se, pela dificuldade (mesmo impossibilidade) de se aproximar do bem, esta requer que a citação seja aperfeiçoada na forma disposta no § 1º do art. 554, resultando na citação pessoal dos réus que forem encontrados no local e por edital dos demais. DO PEDIDO 33. Posta a questão nesses termos, demonstrada a legitimidade e o interesse daautora no ajuizamento da ação, esta requer se digne Vossa Excelência a: a) Conceder a tutela provisória, para imiti-la na posse do bem, após a efe- tivação do depósito do valor correspondente às benfeitorias realiza- das pelos réus, evitando a consumação de prejuízos irreparáveis, o que representaria manifesta injustiça processual, legitimando o exer- cício de posse contra legem. b) Determinar o aperfeiçoamento da citação dos réus, e de suas esposas, se casados forem,8 pessoalmente e por edital, para que contestem a 8 6º comentário doutrinário – litisconsórcio passivo necessário: A citação dos cônjuges dos réus deve ser aperfeiçoada (como pressuposto de constituição do processo) ação, sob pena de revelia. c) Determinar que se proceda à intimação do Exmo. Sr. Representante do Ministério Público para que informe se tem interesse em participar do processo.9 d) Determinar o aperfeiçoamento da intimação da empresa ABC, com sede na Rodovia PE-80, Km 30, município de Ipojuca, Estado de Per- nambuco, na condição de proprietária do bem, para que, querendo, atue como terceira interessada. e) Ao final, JULGAR PROCEDENTE a ação, em todos os seus termos e atos, ratificando o preenchimento dos requisitos relacionados no art. 561 do CPC, consolidando a posse em favor da autora, providência acom- panhada da condenação dos réus ao pagamento das custas processu- ais e dos honorários advocatícios. 34. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, tais como a juntada de novos documentos, a ouvida de testemu- nhas, a realização de perícia e a tomada do depoimento pessoal dos réus, sob pena de confesso.10 35. Dá à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais), para efeitos fiscais, com- prometendo-se a efetuar o recolhimento de custas complementares, calcula- das sobre o valor das benfeitorias, quando apurado pelo auxiliar do juízo.11 exclusivamente quando a turbação ou o esbulho for praticado por ambos os cônjuges (§ 2º do art. 73 do CPC), sendo hipótese de litisconsórcio necessário, cuja não forma- ção resulta na extinção do processo sem a resolução do mérito, na forma disposta no parágrafo único do art. 115. 9 7º comentário doutrinário – participação do Ministério Público: O inciso III do art. 178 estabelece que o Ministério Público deve ser intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nos processos que envolvam litígios cole- tivos pela posse de terra rural ou urbana. 10 8º comentário doutrinário – momentos da prova: Partindo da premissa de que a prova apresenta quatro momentos (propositura, admissão, produção e valoração), anota- mos que o primeiro deles coincide com a apresentação da petição inicial, exigindo do autor que informe a sua intenção de produzir provas posteriormente, observando o inciso I do art. 373 do CPC. As provas são produzidas no curso do processo, sobretudo na audiência de instrução e julgamento, com destaque para o depoimento das partes e a ouvida de testemunhas. 11 9º comentário doutrinário – valor da causa: A fixação do valor da causa é controver- tida nas ações possessórias, parte da doutrina defendendo a tese de que o autor deve observar as regras relacionadas às ações de domínio. Em linhas anteriores, Nestes termos, pede deferimento. Recife, 8 de janeiro de 2017. Assinatura do advogado Número da OAB divergimos desse entendimento, considerando que a ação possessória é ação fundada em direito pessoal, não em direito real.
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