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ser educacional gente criando o futuro PSICOLOGIA JURÍDICA ser educacional gente criando o futuro Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, inclu indo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instruciona l: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Gugl ielmi, Dan ise Grimm, Jaqueline Morais, La ís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha Ilustradores: Andersen Eloy, Luiz Meneghel, Vinicius Manzi Oliveira, Adriana Ferreira Serafim de. Psicologia jurídica / Ad riana Ferreira Serafim de Oliveira; Paulo Roberto de Souza Junior. -São Pau lo: Cengage, 2020. Bibliografia. ISBN 9786555582895 1. Psicologia. 2. Direito. 3. Psicologia Jurídica. 4. Souza Junior, Paulo Roberto de. Grupo Ser Educaciona l Rua Treze de Maio, 254 -Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: {81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com PALAVRADOGRUPOSEREDUCACIONA "É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus est udantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade." Janguiê Diniz ,, Autoria Adriana Ferreira Serafim de Oliveira Pós-doutorado em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutora em Educação pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), tem mestrado em Direitos Fundamentais pela Universidade Metodista de Piracicaba {Unimep-SP). É pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política (Fesp-SP) e bacharel em Direito pelo Instituto Toledo de Ensino {ITE_SP). Também é graduanda em Letras no Centro Universitário Claretiano (CUC). Paulo Roberto de Souza Junior Graduado em Direito pela Universidade Gama Fi lho (UGF-RJ), tem mestrado em Direito pela Universidade Estácio de Sá {Unesa-RJ) e é pós-graduando em Educação, Pol ítica e Sociedade na Faculdade de Educação de São Luís (FESL-MA) e também em Planejamento Educacional e Políticas Públicas na Unyleya. É membro do Comitê de Pareceristas da Revista de Direito da Cidade {QUALIS: Al) e da Revista Publicum e especialista em Pós-Graduação em Gênero e Sexual idades, Gestão da Saúde Pública, Gestão Hospitalar, Direito Constitucional, Direito Tributário e Direito da Cidade. Autor de obras jurídicas (TGE, Dir Adm. e Lei 8112/90), cap. de livro de Direito Tributário e artigos dentro da área do Direito Constitucional, Municipal e Tributário, políticas públicas, gênero e sexualidade, saúde no Brasil, movimentos sociais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS), diversidade sexual , conservadorismo e BNCC. Professor de Direito e Legislação na Faetec-RJ e da Seeduc-RJ. Tutor Cederj (Pólo Nova Iguaçu). Experiência em graduação e pós-graduação (especialização); acompanhamento de TCC; conteud ista - EAD {edição de livros, material escola r, videoaula, pa recerista sobre material elaborado - MEI/NFSe) e tutor. SUMÁRIO Prefácio ................................................................................................. . UNIDADE l - História da psicologia jurídica ................................................................................... 11 Introdução..... . ..... 12 1 Noções preliminares ...... 13 2 Panorama atual da Ps·1cologia Jurídica ...... . . .............. 17 3 A Psicologia Jurídica e os Direitos Humanos ......... 20 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 27 REFERÊNCIAS BIBI.IOGRÁFICAS ...................................................................................................... 28 UNIDADE 2 -Aspectos epistemológicos da psicologia jurídica e seus instrumentos de trabalho ..... 29 Introdução................ .................. . ..... 30 1 Noções preliminares .............................. 31 2 Conceitos, fundamentos, métodos e instrumentos de t rabalho da Psicolog·,a Jurídica 3 A Lei de Execuções Penais e os Direitos Humanos. ............. 34 ..39 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 45 REFERÊNCIAS BIBI.IOGRÁFICAS ...................................................................................................... 46 UNIDADE 3 -A contribuição da psicologia para o direito e a atuação do psicólogo nas diversas varas ..................................................................................................... 49 Introdução..... .................. .. 50 1 A Psicologia e o Dire·~o: Ps·1cologia Jurídica 2 Conceito e evolução da psicologia j urídica .. 3 A Psicologia Jurídica: surgimento e evolução 4 O psicólogo e sua atuação na Vara de Execução Penal e nos presídios 6 O psicólogo e sua atuação no Juizado da Infância e Juventude ... .... 51 .. 52 .. 55 .... 60 ...64 7 O psicólogo e sua atuação nas Varas do Trabalho ................................. 68 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 69 REFERÊNCIAS BIBI.IOGRÁFICAS ...................................................................................................... 70 ,, UNIDADE 4 • Atuação e responsabilidades do psicólogo jurídico nas varas de familia e da infância e juventude .............................................................................................................. 73 Introdução ............. 74 1 Atuação do psicólogo e o CNJ .... 75 2 Os documentos expedidos pelos psicológicos: Resolução do CFP nº 6, de 29 de março de 2019 ..... 76 3 O psicólogo jurid·,co e sua atuação dentro do direito de fam ilia .. 77 4 A psicologia jur ídica nas questões da criança e do adolescente ............................................... ........ 84 5 Sanções disciplinares, cri minais e civis na atuação do psicólogo ju rídico ......................................... 89 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... ........................... 94 PREFÁCIO O objetivo deste livro é tratar da conduta humana do ponto de vista do Direito e da Psicologia Jurídica. Você encontrará aqui os temas fundamentais para iniciar seus estudos nesta área fascinante que é a Psicologia Jurídica. Verá a história, aspectos epistemológicos, a contribuição dos psicólogos ao Direito e sua atuação e responsabilidades nas Varas, além de vários temas importantes para sua formação apresentados em quatrounidades, conforme indicado a seguir. A primeira unidade vai tratar da história da Psicologia Jurídica, onde serão vistos temas como a constituição e o histórico da área, seus primórdios e o panorama atual dessa ciência. Discutiremos ainda sobre o conceito de Psicologia Forense, as áreas de atuação da Psicologia Jurídica e a importância dos laudos e pareceres dos psicólogos jurídicos e forenses. Quais as medidas de segurança em hospitais apropriados para o tratamento de pessoas que cometeram crimes, mas não podem ser encarceradas, e a diferença dessas medidas para o cumprimento de penas em presídios? Abordaremos esses temas e também a maneira como o trabalho do psicólogo jurídico e forense pode incidir sobre as decisões judiciais. Na segunda unidade discutirá os aspectos epistemológicos da Psicologia Jurídica e seus instrumentos de trabalho, onde trataremos dos principais conceitos e instrumentos de trabalho para os psicólogos jurídicos, além dos fundamentos e os métodos da Psicologia Jurídica. Serão também discutidos casos que são apresentados aos psicólogos jurídicos para elaboração de pareceres. Na sequência, a unidade três, intitulada a contribuição da psicologia ao direito e a atuação do psicólogo nas varas, veremos a interação da psicologia jurídica com o direito, no sentido de executar saberes psicológicos no contexto da justiça. De que maneira os psicólogos jurídicos, dentro das equipes multidisciplinares, atuam nas demandas judiciais a fim de auxiliar os juízes? Serão questões discutidas nesta unidade também. A quarta unidade tratará da atuação e responsabilidades do psicólogo jurídico nas Varas de Família e da Infância e Juventude. Serão apresentados temas como a função do psicólogo dentro de uma demanda pré-processual ou processual, acompanhamento, entrevista, mediação (caso tenha condições) e parecer, dentro das questões de família e da infância e adolescência. Serão discutidas as implicações legais na atuação de um psicólogo jurídico e as possíveis sanções que ele pode sofrer. Aprenda com esta obra os temas imprescindíveis sobre Psicologia Jurídica, uma das vertentes importantes do estudo da Psicologia. Aproveite a leitura! Bons estudos! UNIDADE 1 História da psicologia jurídica Introdução Olá, Você está na unidade História da Psicologia Jurídica. Conheça aqui a constituição e o histórico da área da Psicologia Jurídica, seus primórdios e o panorama atual dessa ciência. Acompanhe o conceito de Psicologia Forense, as áreas de atuação da Psicologia Jurídica, a importância dos laudos e pareceres dos psicólogos jurídicos e forenses . Aprenda sobre as medidas de segurança em hospitais apropriados para o tratamento de pessoas que cometeram crimes mas que não podem ser encarceradas, e a diferença dessas medidas para o cumprimento de penas em presídios. Conheça também como o trabalho do psicólogo jurídico e forense pode incidir sobre as decisões judiciais. Bons estudos! 13 1 NOÇÕES PRELIMINARES A origem etimológica da palavra Psicologia está na noção de alma. Deriva do grego: psyché (alma)+ logos (razão). O filósofo Aristóteles (384 a.e - 322 a. C.), na Grécia, na Idade Antiga, foi considerado o autor do primeiro estudo de Psicologia intitulado "Livro da Alma". Desse modo, a Psicologia tem suas raízes na Filosofia, pois a natureza humana era estudada mediante a especulação, a intuição e a generalização. Caminhando na linha do tempo, um fato histórico marcou o nascimento da Psicologia Científica. Wilhelm Wundt {1832-1920) propôs o Primeiro Laboratório de Psicologia Experimental em 1875, na Universidade de Leipzig, na Alemanha. A Psicologia Jurídica é uma área da psicologia conectada com a área do Direito, relacionada à aplicação do seu conhecimento e prática da Psicologia no âmbito do Poder Judiciário. Desse modo, o termo Psicologia Forense pode ser usado para se referir à prática psicológica no sistema jurídico. A principal função do psicólogo jurídico é auxiliar em questões relacionadas à saúde mental dos envolvidos em um processo judicial. Esse auxílio, por meio de laudos, pode ocorrer em estudos sociais dos crimes praticados pelo agente, quanto à personalidade de uma pessoa, em um caso que envolva crianças e ou adolescentes, entre outros. 1.1 A Constituição e o histórico da área da Psicologia Jurídica Na Antiguidade, de acordo com Fiorelli (2010), buscavam-se respostas para o que vem a ser o fenômeno delitivo. Na Grécia, o delinquente era expulso do clã por ser considerado um ser anormal. No século 111, o entendimento quanto à delinquência era de que as pessoas que não cumpriam as regras sociais estavam influenciadas pelo demônio. Mais adiante no tempo, o homem passou a ser visto como condutor de sua vida e, nessa fase, iniciou-se a busca pela humanização da pena (FIORELI, 2010, p. 322). A história da Psicologia Jurídica está na atuação do psicólogo no sistema prisional, uma forma punitiva realizada antes da introdução do que se conhece por Estado nas sociedades. As punições eram aplicadas no século XVIII com penas privativas de liberdade (MATTOS, 2013). A mesma autora entende que a Psicologia Jurídica não tem início demarcado, mas em 1868 a Psicologia surgiu auxiliando a justiça com a publicação do livro "Psychologie Naturelle", de autoria do médico francês Prosper Despine {1812-1892), onde o autor apresentou estudos de casos de criminosos daquela época. Os casos foram divididos em grupos de acordo com o motivo do crime, observando as particularidades psicológicas. 14 Mattos (2013) e Jesus (2001) citam a obra de Rossi, "Psicologia Coletiva", a qual mostra a ideia de que o Direito surgiu a partir da consciência coletiva dos povos. No final do século XIX, surgiram algumas reflexões sobre o Direito e sua função na vida social, partindo-se da Psicologia e de ciências próximas; por exemplo, a obra de Fichte (1796), "Fundamentos do Direito Natural", são formuladas as relações do Direito com o Estado. Em 1893, Durkheim lança o conceito de anomia e Mead, filósofo americano (1863-1931), publica em 1917 "The psychology of punitive justice". No século XX, surgiram outros trabalhos literários relacionando o Estado, a sociedade e a legislação (MATTOS, 2013; JESUS, 2001). FIQUE DE OLHO Anomia é um conceito de cunhado pelo sociólogo francês Émile Durkheim. Esse conceito significa a ausência ou desintegração das normas sociais, que descreve patologias sociais da sociedade ocidental moderna, racionalista e individualista (DURKHEIM, 1893). No ano de 1835, apareceu pela primeira vez o termo Psicologia Judicial na publicação do "Manual Sistemático de Psicologia Judicial". Nessa obra, destacou-se a importância da Antropologia e da Psicologia auxiliando a atividade judicial corretamente. Para Jesus (2001), a necessidade do juiz de direito compreender os conceitos psicológicos está evidenciada com os estudos do jurista alemão Zitelmann (1852-1923). Percebam que filósofos, sociólogos, juristas, enfim, pensadores, foram formando a construção da conexão do Direito com a Psicologia, e esse fator se deu principalmente entre os crimes e as análises do comportamento dos criminosos. É importante ressaltar que os sujeitos cometem irregularidades desde o início da sociedade. A forma de lidar com esses erros e os indivíduos quase não mudou. Vivemos em uma crise de ilegalidade popular, pois o preconceito se encarrega de rotular acontecimentos e colocá-los em determinado espaço e tempo. (FIORELLI, 2010, p. 245). O mesmo autor se refere ao pensador francês Michel Foucault (1926-1984), que apontava o desequilíbrio da aplicação das penas para as diferentes formas de infração, observando que a justiça parece, em sua aplicação, mais eficaz no que se refere às penas para as pessoas menos favorecidas economicamente. Essa percepção viciosa possibilita que naturalmente sejam percebidos comportamentos indicadores de delitosque se ajustam às crenças arraigadas quanto à pobreza (FIORELLI, 2010, p. 246). Nesse sentido, o papel do psicólogo jurídico é muito importante nessa área de atuação, especialmente por trazer uma visão humanizada e multifacetada do sujeito, primando pela saúde mental, bem-estar e recuperação do indivíduo. Figura 1- Cérebro humano sob investigação Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2020 15 #ParaCegoVer: A imagem mostra um homem com o braço estendido; sobre sua mão, flutua uma representação gráfica do cérebro humano. Atualmente, a psicologia jurídica brasileira está presente em várias frentes: temos psicólogos jurídicos atuantes nas delegacias, penitenciárias, fóruns, em casos derivados de crimes ou não, tais como os casos da vara da infância e juventude e da vara da família. Lembrando que nesse campo temos a junção da Psicologia com o Direito, geralmente da Psicologia Jurídica com o Direito Penal ou Cível. Na primeira metade do século XX, o trabalho da Psicologia foi pautado sob a ótica positivista com a aplicação de testes psicológicos. Na Alemanha e na França, psicólogos desenvolveram trabalhos empíricos sobre o testemunho e a participação nos processos judiciais, mais precisamente quanto aos estudos acerca dos interrogatórios, dos delitos, da verificação de falsos testemunhos, da simulação de amnésias e dos testemunhos de crianças. Esses trabalhos ascenderam a Psicologia quanto ao testemunho e ao auxílio ao Direito. Os psicólogos iniciaram a prática da psicologia jurídica no Brasil por volta da década de 1960 com a prestação voluntária de serviços na área criminal, tendo em vista a avaliação de pessoas em situação prisional e de adolescentes infratores. A partir da promulgação da Lei de Execução Penal, Lei n• 7.210/84, o psicólogo passou a receber reconhecimento pela instituição penitenciária. Em 1979, essa atuação foi estendida também para a área civil, atuando voluntariamente e de modo informal junto às famílias em vulnerabilidade econômico-social no estado de São Paulo. 16 No ano 2000, a Psicologia Jurídica foi reconhecida oficialmente como especialidade do psicólogo pelo Conselho Federal de Psicologia - CFP, através da Resolução CFP nº 014/00. As especialidades reconhecidas nessa resolução em seu artigo 32 são as enumeradas abaixo. • Psicologia Escolar • Educacional • Psicologia Organizacional e do Trabalho • Psicologia de Trânsito • Psicologia Jurídica • Psicologia do Esporte • Psicologia Hospitalar • Psicologia Clínica • Psicopedagogia • Psicomotricidade Estudantes! Observem que outras especialidades da Psicologia foram reconhecidas nessa resolução, e a Psicologia Jurídica foi uma delas. A Psicologia Jurídica exerce uma complementaridade ao Direito, pois como ciência autônoma, produz conhecimento relacionado ao conhecimento produzido pelo Direito, formando uma intersecção de objetos de estudo e conhecimento comum. Assim, há uma interação entre Psicologia e Direito e um diálogo com outras áreas, tais como: Sociologia, Criminologia, História, entre outros. A Psicologia Jurídica atua também no Direito do Trabalho. O psicólogo pode atuar como perito em processos trabalhistas com relação às condições de trabalho e como elas reverberam na saúde mental do indivíduo. Por exemplo: ambientes insalubres; ambientes expostos a excessivo barulho; assédio moral no trabalho, entre outros. Ainda, o psicólogo jurídico pode atuar quanto à vitimologia e à psicologia do testemunho. Veja suas definições clicando abaixo. • Vitimologia A vitimologia busca traçar o perfil da vítima para avaliar seu comportamento e personalidade. 17 • Psicologia A psicologia do testemunho se refere à avaliação da veracidade dos depoimentos das partes envolvidas no processo, tais como: vítimas, testemunhas e dos suspeitos. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2 PANORAMA ATUAL DA PSICOLOGIA JURÍDICA Estudamos o termo Psicologia Jurídica e o senso comum atribui o psicólogo na atuação forense quando há crime. E isso está correto, entretanto, não apenas para tratar de casos referentes aos crimes, como também cíveis e outros. Aqui, adentramos o campo da Psicologia Forense, o psicólogo jurídico que atua junto ao Poder Judiciário, que incide em todos os tribunais e suas competências em razão da matéria. A Psicologia Forense é uma área de saber que articula a psicologia à atuação jurídica nos tribunais. É importante nesse segmento profissional ter conhecimento técnico em ambas às disciplinas para elaborar laudos e pareceres que são utilizados para tomadas de decisões judiciais. Ao lançar um olhar sobre a análise do comportamento sobre a Psicologia Forense, temos que a inspiração para a criação da área teve como base a Psiquiatria Forense. Essa área adveio da Medicina Legal. No Brasil, a sistematização da Psicologia Forense aconteceu somente em 2001, quando uma resolução relacionada à especialização em Psicologia Jurídica foi aprovada no Conselho Federal de Psicologia (USP, 2017). Os psicólogos forenses são analistas do comportamento humano, porque, ao atuarem nessa área, consideram os fatores do contexto social no qual as pessoas envolvidas estão inseridas, tendo em vista que a Psicologia Forense faz intersecção com qualquer área do sistema legal, e não apenas com o Direito Penal. Interessante notar que a Psicologia Forense tem sustentação na 18 pesquisa e na ciência. Assim, a linguagem científica é do cotidiano dos psicólogos forenses, os quais também utilizam a linguagem do senso comum. A universidade em questão, em seu artigo de 2017, também elencou as possibilidades de atuação do psicólogo forense, as quais estão enumeradas abaixo com relação à Psicologia. • Psicologia do crime Psicologia do Crime se refere aos processos comportamentais do adulto e jovem infrator, e tem o objetivo de descrever como um comportamento é adquirido, aprendido, evocado, mantido e modificado pelas consequências. Examina-se e avalia-se a prevenção, a intervenção e suas estratégias direcionadas a reduzir o comportamento criminoso e o transtorno da personalidade antissocial. • Avaliação forense A avaliação forense é o cerne da Psicologia Forense, porque é calcada nos maiores instrumentos da psicologia: a entrevista e a observação. É importante que sejam identificados e descritos os padrões comportamentais e determinada a responsabilidade do indivíduo sobre seus atos. • Psicologia aplicada ao Sistema Correcional e a Programas de Prevenção Os programas de prevenção deveriam servir para solucionar os problemas da delinquência e do crime, desde que fosse possível modificar de pronto o ambiente no qual o sujeito está inserido. Políticas públicas tendem a trabalhar com a identificação precoce e a prevenção de comportamentos antissociais. Caso os psicólogos conseguissem atuar nas variáveis que estão relacionadas à criminalidade, a prevenção seria efetiva. • Psicologia aplicada à polícia A Psicologia Forense tem esse desdobramento, no qual é possível trabalhar com identificação de estresse, resiliência, perfil de grupos de elite etc. Nesse caso, compreende-se que a maioria dos policiais é honesta, diferentemente do que é veiculado na mídia. Na verdade, as notícias veiculadas são negativas porque saltam aos olhos apenas as ações da polícia contra a sociedade. Nessa Psicologia, verificou-se um número expressivo de policiais com transtorno de estresse pós- traumático, distúrbios da ansiedade pelos atendimentos de crimes que fazem cotidiana mente e pelos baixos salários que recebem mensalmente (USP, 2017). 2.1 Local de atendimento dos psicólogos forenses Os psicólogos forenses atendem junto aos presídios, aos centros de socioeducação, delegacias, comunidades terapêuticas, clínicas-escolas e clínicas particulares, laboratórios, 19 programas de liberdade assistida, abrigos, organizações não governamentais. Por seu trabalho de elaborarlaudos e pareceres, é possível que o psicólogo seja chamado para testemunhar, falar sobre o andamento da terapia da criança abrigada, por exemplo, não podendo se negar a dar essas informações, porque o cliente do psicólogo forense é o Poder Judiciário, mesmo que uma criança assistida, por exemplo, seja sua paciente. Portanto, esse psicólogo pode atuar como perito, elaborando laudos da saúde mental de envolvidos em ações penais, bem como trabalhar como mediador em processos de conciliação cíveis. Exemplos: elaboração de laudo de suspeito de crime; atendimento de menores e seus pais e/ou representantes legais para determinação de guarda por motivo de divórcio. Atenção! As prováveis áreas que o psicólogo jurídico na área forense irá atuar quando dos processos judicia is são: • Violência doméstica. • Alienação parental. • Mediação. • Comportamento antissocial. • Questões de guarda. • Adolescentes em conflito com a lei. • Violência sexual. • Assédio moral. • Crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional. • Encarcerados. • Entre outros. Prestem atenção, estudantes! A elaboração de laudos e pareceres desses psicólogos é de extrema importância, porque influencia na decisão judicial que leva um indivíduo à prisão ou a uma instituição hospitalar própria para cumprimento de medida de segurança. Assim, é válido ressaltar que: 1 A medida de segurança é aplicada aos que praticaram crime e, por serem portadores de doenças mentais, não podem ser considerados responsáveis pelos seus atos, portanto, devem 20 ser tratados e não punidos. 2 A medida de segurança não é pena. É um tratamento a que deve ser submetido o autor de crime com o fim de curá-lo ou, se for o caso de doença mental incurável, a buscar por torná-lo apto a conviver em sociedade sem cometer crimes. 3 O tratamento é feito em hospital de custódia, nos casos em que é necessária internação do paciente, ou ambulatorial, com a apresentação da pessoa durante o dia em local próprio para o atendimento. O presídio não pode ser considerado estabelecimento adequado para tratar esse doente (MATTOS, 2013). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3 A PSICOLOGIA JURÍDICA E os DIREITOS HUMANOS Os direitos das pessoas surgiram nas sociedades de acordo com as necessidades de cada época, assim, as pessoas lutam pela efetivação dos seus direitos conforme a demanda social. O primeiro registro de documento que garantia direitos às pessoas é o código de Hamurabi, do ano de 1694. Toda sociedade clama pelos direitos que entendem necessários, por isso, o Direito é uma construção social, haja vista cada Estado possuir o seu direito interno (FIORELLI, 2010). As leis e normas de uma sociedade servem para disciplinar as relações de identidade, cidadania e o respeito às diversidades existentes. A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou em 10 de dezembro de 1948 a Declaração dos Direitos Humanos, que dispõe sobre os direitos humanos que constituem em direitos básicos e liberdades fundamentais pertencentes a todos os seres humanos (ONU, 1948). 21 As aplicações de pena receberam também a inspiração dos direitos humanos e, em 1984, no Brasil foi publicada a Lei de Execução Penal (LEP), que além de prever a individualização da pena dos indivíduos, previu a readaptação desses à sociedade, reconhecendo os direitos humanos e garantindo assistência médica, jurídica educacional, social, religiosa e material (BRASIL, 1984). Para esse cumprimento de pena e a progressão de regime, será necessária a intervenção da Psicologia, por meio do atendimento desses indivíduos pelos psicólogos forenses que serão os responsáveis pela elaboração de laudos e pareceres que analisem o comportamento dos sentenciados. Esses laudos e pareceres serão juntados ao processo judicial que estará então tramitando pela Vara das Execuções Penais, para que o juiz de direito decida pela progressão ou não do regime de cumprimento de pena. O Conselho Federal de Psicologia (2008) entende que a proposta principal do sistema penal de ressocializar e reintegrar, punir e intimidar apresenta-se como uma alternativa fracassada, pois a pena é cumprida de maneira incongruente, tendo em vista as condições existentes nos estabelecimentos prisionais. Os principais problemas apontados são os listados abaixo. Clique e veja. 1 Superlotações carcerárias. 2 Violências exercidas entre os próprios detentos. 3 Abusos de autoridades que estão relacionados aos maus tratos e às torturas. 4 A soma dos problemas descritos demonstra a inexistência de garantia aos direitos humanos dentro do cárcere (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008). O mesmo Conselho entende ainda que a lei também não é cumprida quando as estatísticas demonstram que o perfil dos indivíduos apenados é na maioria de desfavorecidos economicamente, com pouca ou nenhuma escolaridade, e do sexo masculino. As penitenciárias no Brasil buscam o foco na ressocialização, resgatando o direito de cidadão dos indivíduos apenados, visando colocar a Lei de Execuções Penais em prática. Desse modo, o trabalho do psicólogo jurídico está voltado para o fim de ressocializar esses indivíduos, ressignificando suas vidas. O mesmo Conselho entende ainda que a lei também não é cumprida quando as estatísticas demonstram que o perfil dos indivíduos apenados é na maioria de desfavorecidos economicamente, com pouca ou nenhuma escolaridade, e do sexo masculino. As penitenciárias no Brasil buscam o foco na ressocialização, resgatando o direito de cidadão dos indivíduos apenados, visando colocar a Lei de Execuções Penais em prática. Desse modo, o trabalho do psicólogo jurídico está voltado para o fim de ressocializar esses indivíduos, 22 ressignificando suas vidas. 3.1. O trabalho do psicólogo jurídico junto aos estabelecimentos prisionais O trabalho do psicólogo jurídico junto às penitenciárias se conecta com a área dos Direitos Humanos ao combater as formas de exclusões existentes no sistema prisional, contribuindo para que a sociedade reflita sobre a violação desses direitos. A importância do trabalho do psicólogo dentro do sistema prisional visa resguardar a subjetividade do indivíduo e o combate às violações dos direitos humanos. A Psicologia desenvolve um trabalho amplo dentro das penitenciárias. O psicólogo participa das Comissões Técnicas de Classificação e trabalha junto aos presos, suas famílias, a comunidade e os profissionais que atuam dentro da instituição prisional. A intervenção do psicólogo dentro do sistema prisional está ligada à atuação que busca promover mudanças satisfatórias em relação às pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade e no sistema como um todo. Conforme a Resolução do CFP 012/2011, para todas as práticas realizadas dentro do âmbito do sistema prisional, o psicólogo deverá visar ao cumprimento dos direitos humanos das pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade, procurando construir a cidadania e a reinserção na vida social (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2011). A Lei de Execução Penal (LEP) fundou as Comissões Técnicas de Classificação (CTCs), formadas por uma equipe especializada, orientada pelo diretor e composta por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, devendo existir em cada estabelecimento (BRASIL, 1984). Conforme o artigo 9º dessa lei, cada membro da comissão deve contribuir com seu saber, visando a um plano de individualização da pena do indivíduo que está encarcerado para que se tenha um tratamento penal adequado, podendo entrevistar pessoas, requisitar informações a qualquer estabelecimento privado ou repartições, além de proceder a exames ou outras diligências que se fizerem necessárias. O artigo 62 da mesma lei informa que a CTC poderá elaborar o exame criminológico, com a finalidade de estabelecer um programa individualizado da pena privativa de liberdade adequadoao indivíduo que está no sistema prisional. O Conselho Federal de Psicologia entende que não cabe aos psicólogos efetuarem qualquer tipo de parecer sobre a periculosidade das pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade e sua irresponsabilidade penal. O Conselho entende ainda que "desnaturalizar, ouvir, incluir, respeitar as diferenças, promover a liberdade" são missões do psicólogo, mas "classificar, 23 disciplinar, julgar, punir" não são missões para o psicólogo (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010, p, 55), O mesmo Conselho, na Resolução 09/2010 regulamentou no artigo 42 que, de acordo com a Lei n2 10792/2003, é vedado ao psicólogo atuante em prisões realizar exame criminológico e participar de ações e/ou decisões que envolvam a prática de caráter punitivo e também disciplinar. Mediante conflitos existentes entre Poder Judiciário e CFP, foi elaborada a Resolução n2 12/2011, que disciplina a atuação do psicólogo no sistema prisional. Assim, de acordo com a Resolução 12, de 2011, do Conselho Federal de Psicologia, no que se refere à elaboração de documentos escritos por psicólogos com finalidade de auxiliar alguma decisão judicial na execução das penas, não poderá ser realizada por profissionais psicólogos que atuem como profissionais de referência para "o acompanhamento da pessoa em cumprimento da pena ou medida de segurança, em quaisquer modalidades como atenção psicossocial, atenção à saúde integral, projetos de reinserção social, entre outros" (art. 42). Quanto aos encaminhamentos prestados pelo psicólogo jurídico no sistema prisional, seguem os critérios a seguir. 1 Se o preso é analfabeto, o mesmo é dirigido à alfabetização. 2 Caso não tenha profissão, irá para um curso profissionalizante. 3 Caso tenha transtorno mental, irá para a avaliação psiquiátrica pelo sistema único de saúde. 4 Caso tenha alguma doença, passará por avaliação médica especializada. 5 Caso tenha histórico de abuso de drogas, poderá ser incluído em grupos específicos da Psicologia, entre outros. Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o psicólogo deve prestar atenção nas práticas realizadas dentro das comissões, opinando nas pautas debatidas sempre de acordo com o Código de Ética Profissional, evidenciando os instrumentos nacionais e internacionais de direitos humanos, incentivando debates sobre "saúde, educação e programas de reintegração social". A atenção individualizada ao encarcerado se refere a todo atendimento "psicológico, psicoterapêutico, diálogo, acolhimento, acompanhamento, orientação, psicoterapia breve, psicoterapia de apoio e atendimento ambulatorial, os quais podem ser acrescidos de outros atendimentos" (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009, p. 19). Conforme o Conselho Federal de Psicologia (2009), os atendimentos individuais podem ser solicitados não só pelo próprio apenado como também pelos funcionários da instituição 24 prisional ou até mesmo pelos familiares, pois esses atendimentos objetivam compreender os encarcerados, avaliar sua saúde mental, dar acolhimento, escutar suas demandas, promovendo saúde e defendendo os direitos humanos. Nesse caso, podem também ser realizados plantões psicológicos. Essas intervenções são realizadas de forma individual, visando a atendimentos de emergência, e objetivam o acolhimento ao indivíduo que está cumprindo pena. O atendimento psicológico, em geral, é valorizado pelos presos, pois os mesmos passam a enxergar nos atendimentos um espaço que oferece a eles uma reflexão sobre sua atuação como indivíduo, fato que está oculto enquanto pessoas encarceradas, como também um momento de privacidade, impossível de ocorrer no âmbito das prisões. Os trabalhos realizados em grupo são, geralmente, uma oportunidade de oferecer aos sentenciados algum tipo de intervenção, pelo grande número pacientes e de poucos profissionais da área atuando, podendo possibilitar aos presos um espaço único de convivência onde troquem experiências. Esses grupos podem surtir efeitos internos e, com isso, pode ser transformada a forma como eles se relacionam com a sociedade. Os grupos dentro das instituições prisionais podem servir para várias finalidades, dependendo das demandas apresentadas pelas pessoas que estão em cumprimento de pena (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009). Os psicólogos que trabalham dentro do sistema prisional podem também atuar juntamente aos familiares dos indivíduos encarcerados. Essa intervenção pode ser por meio de entrevistas, que geralmente têm objetivo de se obter uma melhor compreensão do caso de cada indivíduo atendido e do encarcerado. Os psicólogos jurídicos oferecem, nesse caso, o trabalho de acolhimento e escuta, pois muitas vezes os familiares não aceitam a situação, como também podem ser realizados atendimentos para compartilhar informações sobre o preso (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009). No mesmo sentido que o Conselho Federal de Psicologia, a Lei de Execução Penal de 1984 já previa em seus artigos 25, 26 e 27 a assistência aos egressos do sistema prisional, orientando e apoiando na reintegração à vida social. É dever dos profissionais capacitados colaborarem para que o egresso consiga ser empregado e são considerados egressos todos os indivíduos liberados do sistema prisional até um ano após esse fato, e os que são liberados condicionais e estão no período de prova (BRASIL, 1984). Conforme o Conselho Federal de Psicologia (2008), não se vê o cumprimento da lei em todo o Brasil, uma vez que muitos egressos não possuem nem a passagem de ônibus quando retornam à sociedade e deveriam ser auxiliados com alimentação e abrigo quando deixam o sistema prisional e, posteriormente, na busca pelo emprego. É necessário e urgente que o Brasil viabilize a construção de um programa nacional de apoio aos egressos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008). 25 O objetivo de um programa para atender a população egressa no Brasil deve focar em primeiro plano na promoção da reintegração do egresso à sociedade e, posteriormente, na diminuição da reincidência. A forma mais eficaz disso acontecer é colaborar para que o egresso gere sua própria renda de forma legal, facilitando a reintegração dele no contexto da família e da sociedade. O mesmo Conselho entende que o trabalho com os egressos apresenta desafios, pois existem preconceitos para serem vencidos, tanto da comunidade como dos familiares, dificultando a reabilitação social, além da grande falta de políticas públicas nessa área. Contudo, muitos são os caminhos desenvolvidos para lidar com esse desafio da reintegração dos egressos na sociedade, tais como os listados abaixo. • A resolução das lacunas inerentes à baixa escolaridade. • A falta de documentação. A conscientização e responsabilização da comunidade como um todo para a ressocialização dos egressos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009). Conforme o mesmo Conselho, no Brasil não se acredita na readaptação das pessoas que passaram pelo sistema prisional. Desse modo, o papel da Psicologia Jurídica vai além dos atendimentos para elaboração de pareceres e laudos sobre o comportamento dos presos, no caso do sistema prisional, mas também uma concatenação de valores para o trabalho com os direitos humanos. FIQUE DE OLHO Os psicólogos jurídicos que atuam nos tribunais, chamados psicólogos forenses, participam de mediações e conciliações. Atualmente, há uma nova aplicação nas conciliações judiciárias de conflitos familiares, determinada de constelações familiares. O termo "Direito Sistêmico", o qual atua com as constelações familiares, é a denominação criada pelo juiz de direito Dr. Sarni Storchi para denominar a aplicação desse método no judiciário, idealizado por Bert Hellinger. Para saber mais, você deve ler o texto de Storchi (2017), citado nas referências. • _. 26 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 27 () Nesta unidade, você teve a oportunidadede: • conhecer a Psicologia Jurídica; • compreender a Psicologia Jurídica e a conexão com as áreas do Direito; • aprender sobre a Psicologia Forense; • estudar sobre o trabalho dos psicólogos jurídicos e forenses; • entender o papel do psicólogo no sistema carcerário. BRASIL. Lei de Execução Penal, de 11 de julho de 1984. 1984. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/I7210.htm. Acesso em: 06 mai. 2020. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n.2 014/2000, de 20 de dezembro de 2000. 2000. Disponível em: http://www.ufrgs.br/e-psico/etica/temas_atuais/especialis- tas-resolucao-cfp-14-00.html. Acesso em: 06 mai. 2020. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. A prática profissional dos (as) psicólogos (as) no Sistema Prisional. Brasília: CFP, 2009. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n2 002/11, de 02 de fevereiro de 2011. Prorroga a suspensão dos efeitos da Resolução CFP n2 009/2010. Brasília: CFP, 2011. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n2 012/11, de 25 de maio de 2011. Re- gulamenta a atuação da (o) psicólogo no âmbito do sistema prisional. Brasília: CFP, 2011. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n2 019/10, de 29 de junho de 2010. Sus- pende os efeitos da Resolução CFP n2009/2010, que regulamenta a atuação do psicólogo no sistema prisional, pelo prazo de seis meses. Brasília: CFP, 2010. DURKHEIM, É. Da Divisão do Trabalho Social, 1893. Traduzido por Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1999. FIORELLI, J. O. Psicologia Jurídica. São Paulo: Atlas, 2010. JESUS, F. Psicologia Aplicada à Justiça. Goiânia: AB, 2001. MATTOS, A. E. de. A atuação do psicólogo jurídico no sistema prisional. Psicologia Jurídi- ca, 2013. Disponível em: https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-juridica/a-atua- cao-do-psicologo-juridico-no-sistema-prisional. Acesso em: 07 mai. 2020. ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: https://nacoesu- nidas.org/direitoshumanos/declaracao/. Acesso em: 02 mai. 2020. STORCH, S. Por que aprender Direito Sistêmico? Direito Sistêmico, 2017. Disponível em: https://direitosistemico.wordpress.com/2017/04/10/. Acesso em: 05 mai. 2020. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Psicologia Forense e a atuação do psicólogo. Portal de Divulgação Científica do Instituto de Psicologia da USP. São Paulo: USP, 2017. Disponível em: https://sites.usp.br/psicousp/psicologia-forense-e-atuacao-psicologo/. Acesso em: 04 mai. 2020. UNIDADE 2 Aspectos epistemológicos da psico- logia jurídica e seus instrumentos de trabalho Introdução Olá, Você está na unidade Aspectos epistemológicos da Psicologia Jurídica e seus instrumentos de trabalho. Conheça aqui os aspectos epistemológicos da disciplina Psicologia Jurídica, principais conceitos e instrumentos de trabalho para os psicólogos juríd icos, como também os fundamentos e os métodos da Psicologia Jurídica. Aprenda sobre os casos que são apresentados aos psicólogos jurídicos para elaboração de pareceres .. Bons estudos! 31 1 NOÇÕES PRELIMINARES Para iniciar, vamos relembrar que a Psicologia Jurídica é uma área da Psicologia ligada ao Direito. São duas áreas diversas que se interligam. A Psicologia Jurídica está relacionada à aplicação do seu conhecimento e da prática da Psicologia no âmbito do Poder Judiciário. Psicologia Forense é um termo usado para se referir à prática psicológica no contexto forense, referente à Psicologia Jurídica. Uma das principais funções do psicólogo jurídico no contexto forense, chamado de psicólogo forense, é auxiliar em questões relacionadas à saúde mental dos envolvidos em um processo judicial. Essa função auxiliar da Justiça se dá por meio de pareceres e laudos relativos a estudos sociais de crimes, análises de personalidades, atuação em Varas da Infância e Juventude, atuação em Varas da Família, entre outros. 1.1 Aspectos epistemológicos da Psicologia Jurídica Nesta seção, iremos procurar responder o que é Psicologia Jurídica e investigaremos seus aspectos epistemológicos. Nesse ponto, vamos relembrar o que significa Psicologia nas palavras de Trindade (2004). Para esse autor, a Psicologia, na contemporaneidade, pode ser definida como o estudo científico do comportamento e dos processos mentais das pessoas em geral. Esse comportamento, em derradeira instância, consiste na caracterização das condutas do ser humano, como falar, caminhar, ler, redigir, nadar, entre tantos outros. Os processos mentais se caracterizam como experiências internas, a saber: sentimentos, lembranças, afetos, desejos e sonhos. Conforme Santos e Pohlenz (2012), a Psicologia Jurídica é uma área da Psicologia que converge com o Direito e faz com que o Poder Judiciário considere os aspectos psicológicos dos sujeitos envolvidos. Para os autores, a Psicologia Jurídica é o específico campo de relações entre as esferas jurídicas e da Psicologia, quanto aos aspectos epistêmicos, explicativos e de pesquisa; ainda, atua em relação à aplicação, à avaliação e ao tratamento de vítimas, testemunhas, infratores, enfim, partes envolvidas no processo judicial (SANTOS; POHLENZ, 2012, p. 12). Revisando o que é Psicologia Jurídica temos que a Ciência da Psicologia é uma apenas, entretanto, divide-se em outros ramos. Um deles é a Psicologia Jurídica, que consiste no estudo do comportamento humano e dos grupos de pessoas em ambientes regulados juridicamente pela criação do espaço interdisciplinar entre Direito e Psicologia, inaugurando um novo estatuto epistemológico. 32 E você, estudante, sabe o que quer dizer epistemologia? Epistemologia (do grego, epistéme, "ciência",+ -o-+ -log(o)- + ia), segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, trata-se de um estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas, que visa determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivo delas (FERREIRA, 1986). Clique abaixo e obtenha mais informações. O objeto epistêmico da Psicologia era a análise da experiência consciente nos seus componentes basilares e a determinação dos princípios pelos quais esses elementos formaram a experiência. O psicólogo era o profissional que atuava em escolas, pesquisas e atendimentos sobre comportamentos, buscando ajustar os distúrbios de personalidade. Ao longo do tempo, as aplicações da Psicologia cresceram e atualmente ela está presente em muitos segmentos da atividade humana. Vale ressaltar que, segundo Santos e Pohlenz {2012), o médico, filósofo e psicólogo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920) inaugurou a escola psíquica denominada de estruturalismo, pois visava à compreensão dos fenômenos mentais pela decomposição dos estados de consciência causados pelo ambiente. Posteriormente, o psicólogo estadunidense John Broadus Watson (1878-1958) propôs novo objeto de estudo para a Psicologia: o comportamento estritamente observável, e descartou os estudos sobre os fenômenos mentais, sensações, imagens ou ideias; o autor norte-americano considerava que o comportamento do homem fornecia os dados sobre ele. Aqui, temos o behaviorismo clássico, também chamado watsoniano, aquele que abandonou os processos mentais no estudo da Psicologia (SANTOS; POHLENZ, 2012). Notem que, para a Psicologia Jurídica, além do comportamento, os processos mentais e o meio em que está inserida a pessoa que está sendo analisada são importantes, e na cronologia histórica o objeto de estudo da Psicologia foi mudando de acordo com quem a estava estudando e dando e recebendo publicidade e credibilidade por seus estudos. Aqui, no contexto da América do Sul, o argentino José Bleger {1922-1972) ensina que essa ciência abrange todas as manifestações do ser humano. É fato que o tratamento psicológico deve ser integral, pois em qualquer reação do homem há inter-relações, por sua própria natureza indivisível. Na junção de todas as manifestações do ser humano, denomina-se a psicologia humana de ciência do comportamentoe da experiência. Notem que Bleger denomina o objeto de estudo da Psicologia Jurídica. A Psicologia Jurídica é importante ao Direito e ao Poder Judiciário, pois, para se chegar à justiça, a junção do Direito e da Psicologia é uma boa aliada, já ambas as áreas compartilham o mesmo objeto de estudo, ou seja, o ser humano. 33 Portanto, a Psicologia Jurídica se trata de uma ciência auxiliar do Direito e não questiona o Direito, mantendo-se afastada da questão dos fundamentos e da essência do Direito, pois não pensa o Direito, atendo-se às normas. A partir da Lei 13.105, de 16 de março de 2015, podemos identificar a inserção de outros profissionais, além dos operadores do Direito, nos processos de mediação e conciliação, conforme a seguir: Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços estão compreendidos para a solução consensual da controvérs·,a, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação. Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar (BRASIL, 2015). Para tanto, os psicólogos jurídicos utilizam a perícia psicológica, que permite incluir no processo judicial informações que são desconhecidas pelo juiz de direito, tendo em vista que ultrapassam seu conhecimento técnico-jurídico. A perícia psicológica serve como meio de prova para o Direito Processual, permitindo que o perito se valha de documentos ou depoimentos de testemunhas, por exemplo (RIBEIRO; ACÁCIO, 2018): Art. 465 - O juiz nomeará pe rito especializado no objeto da perícia e ficará de imediato o prazo para a entrega do laudo. Art. 473 - [ ... ] §3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solic'1tando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instru ir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da períc·,a (BRASIL, 2015). O trabalho dos psicólogos jurídicos objetiva escutar para além dos fatos, considerando também a mediação de conflitos familiares, pois é uma das alternativas que objetiva a promoção do olhar para o outro. A Psicologia nesse contexto, principalmente no que se refere à redução do sofrimento relacionado aos processos, auxilia na ação de maneira assertiva sobre o conflito. A necessidade de auxílio de profissionais de outras áreas para o Direito justifica-se porque há vários componentes psicológicos que rondam a realidade jurídica, pois a maioria das questões envolve problemas emocionais (RIBEIRO, ACÁCIO, 2018). 34 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2 CONCEITOS, FUNDAMENTOS, MÉTODOS E INSTRUMENTOS DE TRABALHO DA PSICOLOGIA JURÍDICA Nesta seção, vamos falar sobre os principais conceitos e instrumentos de trabalho na área da Psicologia Jurídica. Para falar sobre os instrumentos de trabalho da Psicologia Jurídica, iniciamos com a Psicologia Forense, que é uma área em particular da Psicologia Jurídica; diz respe ito às decisões e aos trabalhos que ocorrem no âmbito dos tribunais e dos julgamentos. A Psicologia Jurídica é emergente área de especialidade da Psicologia, comparada às áreas tradicionais, como a Psicologia Escolar, a Psicologia Organizacional e a Psicologia Clínica. É da especialidade forense a interface com o Direito, resultando encontros e desencontros epistemológicos e conceituais que permeiam a atuação do psicólogo jurídico. Os setores da Psicologia Jurídica são os tradicionais, como a atuação em fóruns e prisões, e inovações como a mediação e a autópsia psíquica, uma avaliação retrospectiva mediante informações de terce iros (FRANÇA, 2004). A Psicologia Jurídica estuda, trata e assessora várias etapas da atividade jurídica, incluindo às vítimas, os infratores e os profissionais do Direito, pois alcança diversos setores e os tradicionais são os Fóruns e as prisões. Atualmente, alcançam também as inovadoras práticas da mediação. a) Psicologia Jurídica e o menor. b) Psicologia Jurídica e o Direito de Família. 35 c) Psicologia Jurídica e o Direito Civil. d) Psicologia Jurídica e o Direito do Trabalho. e) Psicologia Jurídica e o Direito Penal. f) Psicologia Judicial ou do Testemunho. g) Psicologia Penitenciária. h) Psicologia Policial. i) Psicologia Jurídica: prática e instrumentos. França {2004) informa que a perícia produz conhecimento sobre o comportamento do indivíduo analisado. Esse fenômeno é resultado da própria expectativa do campo jurídico, que visa à compreensão do todo do indivíduo por meio do estudo do particular, seu comportamento. A mesma autora informa que outras teorias psicológicas positivas buscam compreender o indivíduo pelo estudo apenas do particular, isolando-o do contexto no qual está inserido. Nessas teorias, a concepção de homem é positivista, entretanto, a autora considera que a Psicologia Jurídica deva adotar outra concepção de homem. Valendo-se dessas teorias e da prática (a análise do paciente), há um grande desafio para os psicólogos jurídicos e peritos, pois produzem conhecimento levando em consideração os aspectos sócio-históricos, os aspectos da personalidade e os aspectos biológicos que constituem o indivíduo. A autora entende que essa dinâmica constitui um grande desafio. As avaliações psicológicas e as perícias são importantes, mas podem ser repensadas, porque realizar perícia é apenas uma das possibilidades de atuação do psicólogo jurídico, o qual pode atuar fazendo orientações e acompanhamentos, contribuindo para as políticas preventivas, estudando os efeitos do jurídico sobre a subjetividade do indivíduo, entre outras atividades (FRANÇA, 2004). No entendimento de França {2004), a Psicologia Jurídica é uma ciência nova que não teve tempo de apresentar teorias acabadas e definitivas. Isso possibilita a diversidade de objetos, tais como os enumerados abaixo. • O comportamento. • O inconsciente. • A personalidade. 36 • A identidade, entre outros. A definição encontrada para unificar os diversos objetos de estudo da Psicologia em geral se baseou na subjetividade, que é a síntese singular e individual que cada um de nós vai construindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural. Trata-se de uma síntese que identifica o ser humano, que iguala e demonstra elementos que o constituem e são experienciados no campo comum da objetividade social. Para a Psicologia Jurídica, esses objetos de estudo respondem e vão além, pois incluem o estudo do comportamento. A autora arremete informando que a Psicologia Jurídica enfoca também as determinações das práticas jurídicas sobre a subjetividade, não apenas o comportamento do indivíduo para explicá-lo de acordo com a necessidade jurídica. Como exemplo, citou sua experiência como psicóloga de um programa de assistência aos egressos do sistema penitenciário, onde no cotidiano testemunhava as consequências do encarceramento, o que ia além dos comportamentos adquiridos na prisão, mas aliava-se a uma nova forma de pensar e sentir. Os encarcerados passavam a ter marcas impregnadas em sua subjetividade, as quais determinavam a forma de suas existências. Para França (2004), a Psicologia Jurídica deve responder às perguntas e às demandas do Poder Judiciário, contudo, o que não pode ocorrer é a sua estagnação nesse tipo de relação, pois deve transcender as solicitações jurídicas, repensando seu ponto de vista psicológico, questionando-se sobre a correspondência entre prática submetida e conhecimento submetido, uma se traduzindo no outro. FIQUE DE OLHO A Psicologia Jurídica é uma área nova e inovadora que contribui para os Direitos Humanos e está emquestionamento à medida que estudiosos se debruçam sobre a mesma. Quanto ao trabalho do psicólogo jurídico, este tem em sua profissão a missão de emitir opiniões técnicas que visam estabelecer um elo terapêutico de vítimas e dos infratores com os profissionais que atuam no campo jurídico. Estudiosos da Psicologia Jurídica entendem que a psicologia judicial brasileira necessita crescer na quantidade e qualidade dos profissionais atuantes, com a intensificação da produção e publicação de conhecimento, pois o maior número de pesquisas encontradas dá conta da área da Psiquiatria Forense. Ainda, o psicólogo jurídico deixou de ser apenas um perito encarregado de investigações de cunho técnico e passou a atuar em outras esferas judiciais, o que possibilitou a humanização 37 da área. Quanto a essa transformação, ainda há necessidade de se construir uma relação mais consistente entre as áreas forenses citadas e o lugar do psicólogo na instituição judiciária. Para que aconteça a emissão de opiniões técnicas, o psicólogo busca compreender as razões pelas quais o juiz de direito determinou a intervenção desse profissional. • Testagem Para a realização das avaliações citadas usa-se, entre outros, o processo de testagem, uma atividade do psicólogo nas investigações com o indivíduo para a verificação da confiabilidade, da validade dos instrumentos e do modelo teórico utilizado com a finalidade de analisar se respondem ao objetivo do procedimento. • Entrevista Outro instrumento comumente utilizado é a entrevista, pois através dela consegue-se obter informações relevantes sobre a história de vida do indivíduo, e esses dados são importantes no entendimento das motivações que o levaram a praticar determinado ato, crime, ou não. Algumas particularidades são encontradas na prática psicológica pericial, a saber: a ausência da queixa clínica, havendo apenas dúvidas do magistrado, e o fato do objeto de estudo envolver questões jurídico-psicológicas e questões sociais. Essa parceria entre Psicologia e Direito partilha de componentes: • psicológicos (cognitivos, intelectuais e de personalidade); • sociais (capacidade de adesão às normas e aos limites sociais, capacidade de adaptação social, grupo étnico, grupo social e fatores de risco); • jurídicos (grau de periculosidade, grau de responsabilidade e enquadramento em progra- mas de reeducação). Trata-se de uma área que extrapola os horizontes da ciência psicológica quando incorpora os componentes sociais e jurídicos ao caso específico. É importante tratar do que diz respeito o Conselho Federal de Psicologia sobre o trabalho do psicólogo jurídico. O artigo 12 do CFP (2014) informa que são deveres fundamentais do psicólogo: b) Assumir responsabi lidades profissionais somente por atividades para as qua·1s esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente; f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu obj etivo profissional; g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos, 38 transm·1tindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário; h) Orientar a quem de d"ireito sobre os encaminhamentos apropr"1ados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho; O artigo 2º do Conselho informa que ao psicólogo é vedado: g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-cientifica; k) Ser pe rito, avaliador ou parecer"1sta em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser real"izado ou a fide lidade aos resultados da avaliação; o artigo 92 do mesmo Conselho informa que é dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações a que tenha acesso no exercício profissional, e o artigo 10 dá conta de que nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no artigo 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo. O parágrafo único informa que, em caso de quebra do sigilo previsto no caput do artigo 10, o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias. O artigo 11 informa que, quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar informações, considerando o previsto no Código do CFP (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2014). Perceba que, à primeira vista, a intersecção da Psicologia e Direito parece estranha, porque aparentemente são áreas díspares, entretanto, observando o objeto de estudo, o ser humano, ambas são complementares no sentido da Psicologia auxiliar o Direito em suas demandas jurídicas, proporcionando a humanização da área por exemplo, do Direito Penal, que cuida de crimes e penas. 39 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3 A LEI DE EXECUÇÕES PENAIS E OS DIREITOS HUMANOS A Lei de Execução Penal (LEP) brasileira, teoricamente, é considerada uma das mais avançadas do mundo por desenvolver medidas que restabeleçam e contribuam para a reintegração do infrator ao convívio social, o que é extremamente significativo para o meio (MONTEIRO, 2016). A ressocialização possui um papel notório para os infratores, possibilitando, em tese, que eles não reincidam. Essa lei oferece uma série de garantias e assistências ao preso. Quando essas garantias são devidamente aplicadas, tanto a sociedade quanto os encarcerados têm muito a ganhar com essa contribuição legislativa (BRASIL, 1984). Os preceitos dos Direitos Humanos estão presentes nessa legislação, e podemos verificar que os casos concretos que interseccionam Psicologia e Direito buscam a aplicação dos direitos e garantias fundamentais. Correlacionando os funda mentas, métodos e instrumentas da Psicologia Jurídica, explana mos sobre casos concretos da atuação de psicólogos na esfera forense que retratam a busca pelo resguardo dos direitos e garantias fundamentais dispostos pelos Direitos Humanos e expressos na Lei de Execução Penal e de Alienação Parental, destacando que muitos outros exemplos são factíveis. 40 Figura 1 - Psicólogo Jurídico em entrevista Fonte: BlurryMe, Shutterstock, 2020 #ParaCegoVer: A imagem é um plano fechado de duas pessoas conversando. O rosto delas não está aparente; uma delas gesticula e a outra é o Psicólogo Jurídico no papel da escuta em entrevista. 3.1 Casos concretos da Psicologia Jurídica Olá estudantes, agora vamos explanar sobre a Psicologia Jurídica e os Direitos Humanos em relação aos encarcerados. Conforme Monteiro (2016), as origens que desencadeiam o surgimento da pena são remotas, desde o princípio da vida do homem em sociedade. Infelizmente, mesmo a pena possuindo correlações antigas, o sistema prisional brasileiro não é considerado um instrumento satisfatório de recuperação, embora tenha uma boa legislação a respeito, a Lei de Execução Penal. As condições ineficientes do sistema prisional brasileiro não proporcionam circunstâncias ressocializadoras adequadas para os infratores. No Brasil, poucos são os programas que visam à não reincidência. Isso demonstra que esse cenário necessita ser modificado. Nesse sentido, podemos estudar sobre algumas ações conforme a narrada pela Associação Brasileira de Psicologia Jurídica. A Associação Brasileira de Psicologia Jurídica (ABPJ) publicou em 2019,junto com a UNICE UMA do Maranhão, um material sobre pesquisas de trabalhos de psicólogos jurídicos. O narrado nesse vídeo dá conta de uma pesquisa feita por esses profissionais no Maranhão no sistema prisional. A literatura sobreo sistema prisional brasileiro apresenta graves inadequações em relação à garantia de direitos humanos, previstos em lei. Especificamente em relação à educação e 41 qualificação profissional, a realidade mostra-se deficiente, pois não são incrementadas as políticas públicas devidas dentro dos presídios. FIQUE DE OLHO A realidade prisional brasileira é de superlotação, nível de instrução e classe social baixos e desrespeito aos direitos humanos, uma vez que não são oferecidos os direitos básicos de sobrevivência e educação, conforme assegura a Lei de Execução Pena 1. O método apaqueano (método APAC) surge em contraposição ao ocorrido no sistema prisional tradicional, como uma alternativa no cumprimento de pena que se baseia na valorização humana e tem o trabalho no seu tripé, além da família e da religião. Esse método pensa em recursos que viabilizam a reintegração social de apenados, o que recai sobre mais proteção para a sociedade, visto que a reincidência carcerária é minimizada. O método APACvisa à qualificação profissional dentro das prisões interferindo nesse processo, tendo em vista que a promoção de educação para o indivíduo contribui para a viabilização de oportunidades de trabalho. A pesquisa foi realizada na APAC de São Luís - MA. A qualificação profissional e o trabalho fazem parte da metodologia criada pelo advogado brasileiro Mário Ottoboni como um dos elementos do tripé; ele propõe que esse componente deva ter objetivos diferentes em cada regime prisional, como a laborterapia, promoção de qualificação profissional e utilização do trabalho como gerador de renda. Ao assegurar os direitos humanos aos apenados, o método oferece alternativas, dentre elas o trabalho, para a promoção da reintegração social e minimização da reincidência carcerária. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2016) demonstram uma população prisional no Brasil entre condenados em regime fechado de 249.537, para 171.078 vagas, apresentando uma relação de 1,5 presos por vaga. Já no regime semiaberto, a população de apenados é de 101.346 para 67.677 vagas, com a mesma proporção de presos por vagas. O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN, 2014) aponta que o Brasil é o quarto país do mundo com maior população prisional, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Rússia. É instituído pela LEP também que os presos devem ter seus direitos humanos básicos assegurados, como o direito de acesso à alimentação, vestimenta, chamamento pelo nome, contato com o mundo exterior, dentre outros, que na prática acabam não sendo garantidos, encontrando-se apenas uma realidade de descaso e desrespeito ao preso. 42 A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) configura-se em um método alternativo de cumprimento da pena, através de uma proposta mais humanizada que objetiva oferecer possibilidades de recuperação e reintegração para o apenado. A APAC é uma entidade civil de direito privado, sem fins lucrativos, com patrimônio e personalidade jurídica própria e tempo de duração indeterminado. A metodologia apaqueana, por ter sido desenvolvida por membros da comunidade católica, apresenta ainda um viés religioso. Importante ressaltar que, na APAC, o preso - denominado neste contexto de "recuperando" - é responsável pela sua recuperação, onde segue a estrita disciplina, prezando pelo respeito, pela ordem e pelo trabalho. Entendendo trabalho como um empenho que envolve esforço intelectual e corporal, conceitua-se esse componente como algo que se trata de uma ação realizada com um objetivo delineado, que envolve diversas concessões de sentidos e significados e exige uma dedicação para alcançá-lo. Essa dedicação, empenhada para construir o trabalho e alcançar o resultado esperado, envolve fatores como os enumerados abaixo. • Intenção. • Motivação. • Liberdade. • Invenção. • Natureza. O trabalho é tido no método APAC como um elemento essencial para a recuperação do apenado, uma vez que o trabalho incentiva a construção de um foco a ser alcançado com a realização de estratégias e se relaciona com o sistema prisional (TJDFT, 2014). Outro caso concreto em que a Psicologia Jurídica atua é com relação ao Direito Civil, discutindo a Psicologia no setor judiciário da vara de família em casos de alienação parental, demonstrando a importância do psicólogo jurídico. Tem-se em vista que há o respaldo jurídico do Novo Código Processual Civil sobre a prática da equipe multiprofissional na qual o psicólogo está inserido, pois o maior interesse nesses casos é o bem-estar da criança e do adolescente, vítimas do contexto narrado no processo judicial. Entre os artigos que regem o Estatuto da Criança e do Adolescente, destaca-se aqui o artigo 42 e 52, que se refere ao dever da família no desenvolvimento da criança e sua proteção de qualquer tipo de violência: Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, 43 com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primaz'1a de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferênc·,a na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públ'1cos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude (BRASIL, 1990). o art. 52 da lei sobre Alienação Parental informa sobre o trabalho da psicologia na parte jurídica, tendo em vista que discorre que o juiz de direito, ao tomar conhecimento da prática de alienação, determinará a perícia psicológica ou biopsicossocial, indicando os métodos utilizados para chegar a tal conclusão e o prazo para que o perito ou a equipe multidisciplinar entregue o laudo e ou parecer (RIBEIRO; ACÁCIO, 2018). Art. 50 Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. § lo O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológ'ica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. § 22 A perícia será realizada por profissional ou equ·,pe multid isc·1plinar hab'ilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental. § 32 O perito ou equipe multid isciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada. (BRASIL, 2010). O psicólogo jurídico, tomando conhecimento desse processo e das características de cada genitor, seja ele o alienador ou não, tomará como base para seu trabalho primeiramente a observação do discurso dos envolvidos e comportamentos adotados pelos pais da criança e ou adolescente. Podemos citar alguns exemplos que configuram alienação parental, segundo os ensinamentos de Ribeiro e Acácio (2018). • Se recusar a passar chamadas telefônicas aos filhos. • Desvalorizar e insultar o outro genitor na presença dos filhos. • Impedir o outro genitor de exercer seu direito de visita. • Tomar decisões importantes a respeito dos filhos sem consultar o outro genitor. 44 • Ameaçar ou punir os filhos caso se comuniquem com o outro genitor de qualquer manei-ra. • Culpar o outro genitor pelo mau comportamento dos filhos, entre outros. Assim, o trabalho do psicólogo jurídico passou a ser fundamental, já que ele faz parte da equipe multidisciplinar que pode ser solicitada pelo juiz de direito do processo de averiguação da existência ou não da alienação parental, destacando a atuação profissional do psicólogo na perícia psicológica e nos instrumentos complementares (RIBEIRO; ACÁCIO, 2008). FIQUE DE OLHO Enfatizamos aqui a importância dos laudos periciais. O juiz de direito da Vara da Infância e da Juventude do DF (VIJ) negou por meio de liminar o pedido de guarda provisória de duas crianças que se encontram abrigadas em virtude de agressões físicas e sexuais praticadas pelo pai delas. O pedido de guarda foi feito pela tia da criança, que é irmã do agressor. A decisão do juiz de direito de 1~ instância foi mantida pela 1~ Turma Cível do TJDFT. Na decisão de 1~ instância, o magistrado esclareceu que não é recomendável que os menores estejam com a tia, tendo em vista que os laudos psicológicos não atestam sua capacidade para oferecer proteção integral aos infantes, como amparo físico, emocional e educacional, situação agravada pelo fato de ela residir no mesmo lote do agressor (TJDFT, 2014). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: () 45 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • aprender sobre os aspectos epistemológicos da Psicologia Jurídica; • compreender os principais conceitos e instrumentos de trabalho na área da Psicolo- gia Jurídica; • conhecer os fundamentos e métodos da Psicologia Jurídica; • estudar sobre o trabalho dos psicólogos jurídicos e forenses quanto à Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) em São Luís do Maranhão, entre outros; • acompanhar exemplos da atividade do psicólogo jurídico. BRASIL. Lei nQ 13.105, de 16 de março de 2015. Diário Oficial da União, Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/ _ato2015-2018/2015/lei/l13105. htm. Acesso em: 10 mai. 2020. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Brasília, 1990. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 11 mai. 2020. BRASIL. Lei de Execução Penal, de 11 de julho de 1984. Diário Oficial da União, Brasília, 1984. Disponível em: http:/ /www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 14 mai. 2020. BRASIL. Lei 12.318, de 26 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, 2010. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/ _ato2007-2010/2010/lei/I12318. htm. Acesso em: 14 mai. 2020. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n.Q 014/2000, de 20 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.ufrgs.br/e-psico/etica/temas_ atua is/ especialistas- resol ucao-cfp-14-00. html. Acesso em: 06 mai. 2020. BRASIL. Código de ética profissional do Psicólogo. Brasília: CFP, 2014. FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronte ira, 1986. FIORELLI, J. O. Psicologia Jurídica. São Paulo: Atlas, 2010. FRANÇA, F. Reflexões sobre a psicologia jurídica e seu panorama no Brasil. Psicologia: Teoria e Prática, v. 6, n. 1, p. 73-80, 2004. Disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/ pdf/ptp/v6nl/v6nla06.pdf. Acesso em: 09 mai. 2020. JESUS, F. Psicologia Aplicada à Justiça. Goiânia: AB, 2001. MONTEIRO, B. C. de S. A Lei de Execução Penal e seu caráter ressocializador. Âmbito Jurídico, 2016. Disponível em: https://ambitojurid ico.com.br/edicoes/revista-153/a-lei- de-execucao-penal-e-o-seu-carater-ressocializador/. Acesso em: 14 mai. 2020. RIBEIRO, C. M. da S.; ACÁCIO, K. H. P. Alienação parental e o novo código de processo civil: atuação do psicólogo. Ciências Humanas e Sociais, v. 4, n. 3, 2018. SANTOS, A. M. dos; POHLENZ, M. Psicologia Jurídica: análise epistemológica. Periódicos UNIARP, 2012. 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UNIDADE 3 A contribuição da psicologia para o direito e a atuação do psicólogo nas diversas varas Introdução Olá, Você está na unidade A contribuição da psicologia para o direito e a atuação do psicólogo nas varas. Conheça aqui a psicologia jurídica, que corresponde à área da psicologia que interage com o direito, no sentido de executar saberes psicológicos no contexto da justiça. Assim, os psicólogos jurídicos, dentro das equipes multidisciplinares, atuam nas demandas judiciais em auxílio aos juízes. Veja ao longo da unidade que esse auxílio é realizado através de laudos, pareceres e diagnósticos que servirão de base para que o(a) juiz(a) tenha como avaliar as questões comportamentais pautadas dentro do processo que está em curso, por exemplo. Sua atuação será nas Varas de Família, Infância e Juventude, Criminal, entre outras. Bons estudos! 51 1 A PSICOLOGIA E O DIREITO: PSICOLOGIA JURÍDICA Os atores jurídicos deverão entender e conhecer as questões comportamentais na percepção da realidade social, assim, a ligação entre o Direito e a Psicologia é de suma importância. Nesse diálogo entre o Direito e a Psicologia, uma área será influenciada pela outra, já que ambos trabalham com o comportamento humano. Esse comportamento que é vivenciado pela psicologia deverá ser regulado pelo Direito, dirimindo condutas e conflitos. O indivíduo passa a receber a influência de vários fatores que interferem e contribuem para mudanças em seu comportamento. Esses fatores podem ser: • Exógenos Ligados ao ambiente e a cultura. • Endógenos Aqueles relacionados ao conteúdo físico e psiquismo do indivíduo, como valores, esquemas de pensamento, características da personalidade, entre outros. O comportamento humano é o resultado da interação complexa desses fatores. No entanto, nenhum deles pode ser indicado como determinante exclusivo da alteração do comportamento (FIORELLI, 2008, p. 140). Notamos que esses comportamentos poderão ser alvos de conflitos, necessitando assim de uma intervenção para conciliar ou indicar punição a estes. Tal intervenção poderá ocorrer via judicial, onde estará o psicólogo jurídico para auxiliar o juiz em suas decisões. 1.1 Psicologia jurídica ou psicologia forense? O termo "forense" nos remete a todas as atividades nos foros e tribunais, e a Psicologia Forense foi uma área dedicada aos estudos dos comportamentos criminais. Aos poucos, ganhou novo olhar, a fim de entender o ser humano como o centro de estudo. Todavia, a evolução entre o Direito e a Psicologia faz nascer a Psicologia Jurídica, desenvolvida por psicólogos no meados peritos e/ou assistentes técnicos, com fina I idade de analisar os confl itos comportamentais. A psicologia jurídica é uma ramificação da Psicologia que estuda o comportamento humano com base nas normas legais e institucionais que o regulam. Tem como função humanizar o 52 exercício do Direito através de sua atuação nas demandas comportamentais. Fatima França (2004) apresenta o conceito de psicologia jurídica em alguns países para, ao final, mencionar o mais adotado no Brasil: Psicologia Jurídica é uma das denominações para nomear essa área da Psicologia
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